Post on 14-Mar-2016
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Revelando a ‘Geração Z’ Eles são práticos, imediatistas, não conhecem a vida antes da internet, redes
sociais, smartphones, notebooks.
Por Gabriela Olmos Duarte
Carolina* ganhou o primeiro celular aos 7 anos de idade. Bruno* tem
um computador só para ele. Felipe* assiste TV enquanto navega na
internet. “Esta geração já nasceu tecnológica. Aprendem quase que
instintivamente sobre o assunto e consomem novidades o tempo todo.
Gostam de rapidez, são exigentes, inquietos e adeptos da vida
sustentável”, é o que afirma a psicóloga Silvia Barros.
Eles estão entre 8 e 14 anos, conhecidos como pré-adolescentes, são
os representantes da chamada Geração Z. Buscam todas suas dúvidas no
Google. Entendem muito mais de tecnologia do que seus pais e deixam a
impressão de que nasceram com um chip embutido no cérebro. Um grupo
que têm uma crescente participação no mundo social e econômico.
Definidos por um comportamento consumista, influenciado pela mídia, que
contribui para suas atitudes cotidianas. “O meio (mídia e relações
interpessoais) tem uma forte influência no comportamento de qualquer ser
humano (...) e está solicitando, no comportamento das crianças, que elas
aprendam rapidamente sem que tenham a maturidade para discernir. E
então, elas querem comprar, comprar e comprar. É o chamado ter para
ser”, diz Maria Aparecida B. Fermiano, pedagoga e economista.
A psicóloga Silvia Barros acredita que a falta dos pais dentro de casa,
por necessidades profissionais, e a entrada dos computadores para
substituí-los, pode ser uma das causas responsáveis pelo comportamento
dos pré-adolescentes do mundo de hoje. Além disso, ela complementa
dizendo que essa culpa pode ser também atribuída à “falta de orientação
religiosa e de modelos positivos, juntamente com a crise de autoridade
(que veio após a geração dos anos 60 – onde era proibido proibir, que
criaram pais que queriam ser amigos dos filhos e não conseguiam
estabelecer regras e limites fazendo com que esses, buscassem modelos
fora da família)”.
Possivelmente os novos amigos dessa geração serão encontrados no
Orkut, Facebook ou Twitter. Concebidos em uma era digital, democrática e
de ruptura da família tradicional. Nascidos entre meados dos anos 90 até o
início dessa década, “essa geração já veio com joystick, controle remoto,
iPod, e celular nas mãos”, confirma a psicóloga. “Eu levei suspensão na
escola e estou há três meses de castigo. O meu castigo é TV e computador,
não posso chegar nem perto”, assegura Felipe, que aos 13 anos de idade
nunca praticou nenhum esporte e gasta todo o seu tempo livre em frente
ao computador, televisão e vídeo-game. “Quando estou muito entediado
(do castigo) eu vou brincar na rua com os meus amigos, e eu só posso
fazer isso agora porque a gente mudou para um condomínio”, reitera o
garoto, afirmando que anteriormente não tinha esse hábito, pois não podia
brincar na rua. E é quando Bruno completa: “Eu também mudei a pouco
tempo para um condomínio e minha mãe, disse que agora, fica mais
tranqüila quando fico sozinho em casa”. O estudante de 12 anos afirma
passar a maior parte do tempo com o irmão mais velho (16) ou até mesmo
sozinho, afinal, os pais são divorciados e a mãe trabalha o dia todo.
A pedagoga e economista Maria Aparecida B. Fermiano defendeu
recentemente na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sua tese
de doutorado, “Pré - adolescentes (tweens) - desde a perspectiva da teoria
piagetiana à da psicologia econômica”, destinando 500 páginas de sua
pesquisa para compreender o perfil dessas crianças. Em quatro anos ela
entrevistou 423 pré – adolescentes de três escolas de municípios da
Região Metropolitana de Campinas: Sumaré, Nova Odessa e Americana.
Duas escolas de ensino privado e uma pública. Através de questionários,
respondidos por eles, a pesquisadora encontrou nas respostas uma clara
relação entre o marketing e o comportamento desses adolescentes. “A
criança tem dificuldade de entender as intenções de uma propaganda. Ela
sabe que a propaganda serve para vender um produto mas, ela ainda tem
a dificuldade de entender as entrelinhas dessa uma propaganda, que é a
criação do desejo”, afirma Fermiano completando que os dados de sua
tese comprovam essa vulnerabilidade presente na sociedade atual. Para a
pesquisadora, “essa vulnerabilidade se encontra tanto do lado de uma
mídia que vê nessas crianças um potencial muito grande de compra - pois
ganham dinheiro dos pais - como pelos pais, que também estão confusos
com isso”. Para completar, ela comenta a tese de uma amiga que prova
exatamente “que os pais de hoje não sabem o que fazer para educar os
seus filhos”.
O que é perceptível sobre esse assunto, o que os educadores e
estudiosos querem expor, é a ligação que há entre essa geração, o
consumo e a tecnologia. De acordo com a pesquisa de Maria Aparecida B.
Fermiano, não importa a classe social, a Geração Z é definida em maior
parte por esses dois fatores, mas, assegura que esses não são os únicos
capazes de construir a personalidade dessas crianças. “Os pais estão
muito ausentes e, para compensar essa ausência, eles acabam dando o
que a criança quer, inclusive por estarem nessa mesma “onda” do
comprar”. A pesquisadora completa dizendo que nem a família e nem a
escola estão sendo um “contra ponto” de reflexão para a criança. “Quando
a criança quer muito consumir “coisas” é porque tem um buraco aí, e é na
afetividade. Isso precisa ser preenchido não com “coisas”. A escola precisa
trabalhar com projetos em que a criança se sinta útil, afinal, ela fica muito
tempo sentada em uma carteira escolar só ouvindo e não é estimulada a
questionar”. Fermiano acredita que as crianças estão cansadas de ouvir,
elas sentem necessidade de agir e, que de uma maneira geral, nesse
ponto, o marketing tem uma abertura muito grande, pois o pai da a
criança lhe dá dinheiro e ela mesma compra aquilo que é de seu interesse.
Um outro fator, que também favorece para a formação desse pré
adolescente de hoje, é a vida em espaços fechados, assunto já citado por
aqui. Bruno, Carolina e Felipe são crianças de classe média alta e vivem
hoje em condomínios. Para Silvia Barros “o aumento da violência nas
cidades traz maior reclusão às famílias e faz com que a diversão seja jogar
no computador e conversar com os amigos através de uma tela”. Portanto,
é possível enxergar aqui, uma ligação entre a violência e a tecnologia,
trazendo a violência da atualidade como um fator que também ajuda na
determinação da personalidade desses pré – adolescentes.
Todas essas crianças, de classes A até E, querem as mesmas coisas.
De acordo com Fermiano, “todos eles ganham dinheiro, gastam dinheiro, e
têm as mesmas expectativas. Os jovens das classes A, B e às vezes até C,
têm evidentemente uma condição de vida melhor. Essa condição os ajuda
a ter melhores estratégias para situações que envolvem dinheiro”, a
pesquisadora também ressalta que os jovens de classe social mais baixa
sofrem muito mais. “Nem sempre eles têm acesso a todos os bens que
gostariam e, ao não ter esse acesso, eles serão excluídos do grupo. Isso é
o caminho para a violência, delinqüência, e para o bulling”. Portanto, é
possível enxergar que essas crianças possuem comportamentos
homogêneos mas, a condição social, de acordo com Fermiano, “é gritante
nas conseqüências para as crianças mais pobres” e isso pode ser apontado
como um grande problema da sociedade brasileira atual. O acesso a
tecnologia e o consumo se contrapõem às condições de vida da maioria
dos pré – adolescentes do país. Portanto, se esses são fatores
determinantes da personalidade dessa geração, isso pode vir a gerar
revoltas em um país de maioria pobre, afinal, essa maioria não pode “ter
para ser”.
Os pré-adolescentes vivem em um ambiente confuso em que não se
sabe mais o que se deve ou não fazer, como fazer e ainda, distinguir o bom
do mau, o certo do errado. O fato de viverem em uma sociedade, que
também é confusa, faz com que não tenham para quem recorrer e isso
influencia na maneira como lidam com o (des)respeito às autoridades. “Eu
não gosto de dormir cedo, mas às 9:30 da noite meus pais me mandam
dormir”, afirma Carolina (13), e Felipe completa “É eu também, e minha
mãe faz a mesma coisa, mas, depois que ela dorme, eu levanto e vou
assistir televisão. Eu gosto de dormir meia noite” . E então as risadas
tomam conta do ambiente e os três pré – adolescentes parecem estar
“falando a mesma língua” pois, os outros dois afirmam fazer o mesmo que
Felipe. Bruno diz que raramente almoça com a família, os pais são
separados e a mãe trabalha o dia todo e, quando o faz, diz não se sentir
bem: “Eu acho muito chato. Minha mãe nunca me deixa levantar da mesa
antes que todos terminem de comer, então, a gente sempre briga, porque
eu levanto mesmo assim”. Para Maria Aparecida B. Fermiano, os pré -
adolescentes de hoje mandam na casa e “a autoridade desaparece! Nós
vivemos uma crise de valores. E não é o bater que vai fazer com que a
criança respeite. Para educar meu filho eu preciso dar o exemplo”, diz a
pesquisadora.
Esses pré – adolescentes possuem características diferentes das que
possuíam as gerações anteriores. Não se sabe ao certo o que contribuiu
para que essas mudanças ocorressem e o porquê da tecnologia tomar
conta - juntamente com o incentivo ao consumo (ambos incentivando
comportamentos). São crianças, mas já estão antenadas com as
tendências da moda, solicitam novos acessórios a seus pais a toda hora. É
uma geração que se mostra apressada e determinada.
As Gerações que marcaram épocas TRADICIONAIS (até 1945) >>> É a geração que enfrentou uma grande guerra e passou pela Grande Depressão. Com os países arrasados, precisaram reconstruir o mundo e sobreviver. São práticos, dedicados, gostam de hierarquias rígidas, ficam bastante tempo na mesma empresa e sacrificam-se para alcançar seus objetivos.
BABY-BOOMERS (1946 a 1964) >>> São os filhos do pós-guerra, que romperam padrões e lutaram pela paz. Já não conheceram o mundo destruído e, mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na boa educação dos filhos. Têm relações de amor e ódio com os superiores, são focados e preferem agir em consenso com os outros.
GERAÇÃO X (1965 a 1977) >>> Nesse período, as condições materiais do planeta permitem pensar em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação já podem tentar equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaram crises violentas, como a do desemprego na década de 80, também se tornaram céticos e superprotetores.
GERAÇÃO Y (1978 a meados dos anos 90) >>> Com o mundo relativamente estável, eles cresceram em uma década de valorização intensa da infância, com internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores. Ganharam auto-estima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido em longo prazo. Sabem trabalhar em rede e lidam com autoridades como se eles fossem um colega de turma.
Geração Z (meados dos anos 90 a 2002) >>> Clientes preferenciais do marketing e da mídia, eles gastam tempo exagerado diante da televisão, levam vida sedentária, constroem novas significações para o mundo globalizado, têm dinheiro e gastam cada vez mais para suprir necessidades desnecessárias, permanecem muito tempo sozinhos em casa, têm fácil acesso à tecnologia - independentemente da classe social.
Dados da tabela por: Jornal da Unicamp e Revista Galileu.
* Para preservar a identidade dos menores entrevistados os nomes, usados nessa matéria, foram alterados por fictícios.