Geracao Z

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Revelando a ‘Geração Z’ Eles são práticos, imediatistas, não conhecem a vida antes da internet, redes sociais, smartphones, notebooks. Por Gabriela Olmos Duarte Carolina* ganhou o primeiro celular aos 7 anos de idade. Bruno* tem um computador só para ele. Felipe* assiste TV enquanto navega na internet. “Esta geração já nasceu tecnológica. Aprendem quase que instintivamente sobre o assunto e consomem novidades o tempo todo. Gostam de rapidez, são exigentes, inquietos e adeptos da vida sustentável”, é o que afirma a psicóloga Silvia Barros. Eles estão entre 8 e 14 anos, conhecidos como pré-adolescentes, são os representantes da chamada Geração Z. Buscam todas suas dúvidas no Google. Entendem muito mais de tecnologia do que seus pais e deixam a impressão de que nasceram com um chip embutido no cérebro. Um grupo que têm uma crescente participação no mundo social e econômico. Definidos por um comportamento consumista, influenciado pela mídia, que contribui para suas atitudes cotidianas. “O meio (mídia e relações interpessoais) tem uma forte influência no comportamento de qualquer ser humano (...) e está solicitando, no comportamento das crianças, que elas aprendam rapidamente sem que tenham a maturidade para discernir. E então, elas querem comprar, comprar e comprar. É o chamado ter para ser”, diz Maria Aparecida B. Fermiano, pedagoga e economista. A psicóloga Silvia Barros acredita que a falta dos pais dentro de casa, por necessidades profissionais, e a entrada dos computadores para substituí-los, pode ser uma das causas responsáveis pelo comportamento dos pré-adolescentes do mundo de hoje. Além disso, ela complementa dizendo que essa culpa pode ser também atribuída à “falta de orientação religiosa e de modelos positivos, juntamente com a crise de autoridade (que veio após a geração dos anos 60 – onde era proibido proibir, que

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Reportagem sobre a Geracao Z. Escrita por Gabriela Olmos Duarte para a disciplina Jornalismo Multimidia IV da Facamp. (2010)

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Revelando a ‘Geração Z’ Eles são práticos, imediatistas, não conhecem a vida antes da internet, redes

sociais, smartphones, notebooks.

Por Gabriela Olmos Duarte

Carolina* ganhou o primeiro celular aos 7 anos de idade. Bruno* tem

um computador só para ele. Felipe* assiste TV enquanto navega na

internet. “Esta geração já nasceu tecnológica. Aprendem quase que

instintivamente sobre o assunto e consomem novidades o tempo todo.

Gostam de rapidez, são exigentes, inquietos e adeptos da vida

sustentável”, é o que afirma a psicóloga Silvia Barros.

Eles estão entre 8 e 14 anos, conhecidos como pré-adolescentes, são

os representantes da chamada Geração Z. Buscam todas suas dúvidas no

Google. Entendem muito mais de tecnologia do que seus pais e deixam a

impressão de que nasceram com um chip embutido no cérebro. Um grupo

que têm uma crescente participação no mundo social e econômico.

Definidos por um comportamento consumista, influenciado pela mídia, que

contribui para suas atitudes cotidianas. “O meio (mídia e relações

interpessoais) tem uma forte influência no comportamento de qualquer ser

humano (...) e está solicitando, no comportamento das crianças, que elas

aprendam rapidamente sem que tenham a maturidade para discernir. E

então, elas querem comprar, comprar e comprar. É o chamado ter para

ser”, diz Maria Aparecida B. Fermiano, pedagoga e economista.

A psicóloga Silvia Barros acredita que a falta dos pais dentro de casa,

por necessidades profissionais, e a entrada dos computadores para

substituí-los, pode ser uma das causas responsáveis pelo comportamento

dos pré-adolescentes do mundo de hoje. Além disso, ela complementa

dizendo que essa culpa pode ser também atribuída à “falta de orientação

religiosa e de modelos positivos, juntamente com a crise de autoridade

(que veio após a geração dos anos 60 – onde era proibido proibir, que

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criaram pais que queriam ser amigos dos filhos e não conseguiam

estabelecer regras e limites fazendo com que esses, buscassem modelos

fora da família)”.

Possivelmente os novos amigos dessa geração serão encontrados no

Orkut, Facebook ou Twitter. Concebidos em uma era digital, democrática e

de ruptura da família tradicional. Nascidos entre meados dos anos 90 até o

início dessa década, “essa geração já veio com joystick, controle remoto,

iPod, e celular nas mãos”, confirma a psicóloga. “Eu levei suspensão na

escola e estou há três meses de castigo. O meu castigo é TV e computador,

não posso chegar nem perto”, assegura Felipe, que aos 13 anos de idade

nunca praticou nenhum esporte e gasta todo o seu tempo livre em frente

ao computador, televisão e vídeo-game. “Quando estou muito entediado

(do castigo) eu vou brincar na rua com os meus amigos, e eu só posso

fazer isso agora porque a gente mudou para um condomínio”, reitera o

garoto, afirmando que anteriormente não tinha esse hábito, pois não podia

brincar na rua. E é quando Bruno completa: “Eu também mudei a pouco

tempo para um condomínio e minha mãe, disse que agora, fica mais

tranqüila quando fico sozinho em casa”. O estudante de 12 anos afirma

passar a maior parte do tempo com o irmão mais velho (16) ou até mesmo

sozinho, afinal, os pais são divorciados e a mãe trabalha o dia todo.

A pedagoga e economista Maria Aparecida B. Fermiano defendeu

recentemente na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sua tese

de doutorado, “Pré - adolescentes (tweens) - desde a perspectiva da teoria

piagetiana à da psicologia econômica”, destinando 500 páginas de sua

pesquisa para compreender o perfil dessas crianças. Em quatro anos ela

entrevistou 423 pré – adolescentes de três escolas de municípios da

Região Metropolitana de Campinas: Sumaré, Nova Odessa e Americana.

Duas escolas de ensino privado e uma pública. Através de questionários,

respondidos por eles, a pesquisadora encontrou nas respostas uma clara

relação entre o marketing e o comportamento desses adolescentes. “A

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criança tem dificuldade de entender as intenções de uma propaganda. Ela

sabe que a propaganda serve para vender um produto mas, ela ainda tem

a dificuldade de entender as entrelinhas dessa uma propaganda, que é a

criação do desejo”, afirma Fermiano completando que os dados de sua

tese comprovam essa vulnerabilidade presente na sociedade atual. Para a

pesquisadora, “essa vulnerabilidade se encontra tanto do lado de uma

mídia que vê nessas crianças um potencial muito grande de compra - pois

ganham dinheiro dos pais - como pelos pais, que também estão confusos

com isso”. Para completar, ela comenta a tese de uma amiga que prova

exatamente “que os pais de hoje não sabem o que fazer para educar os

seus filhos”.

O que é perceptível sobre esse assunto, o que os educadores e

estudiosos querem expor, é a ligação que há entre essa geração, o

consumo e a tecnologia. De acordo com a pesquisa de Maria Aparecida B.

Fermiano, não importa a classe social, a Geração Z é definida em maior

parte por esses dois fatores, mas, assegura que esses não são os únicos

capazes de construir a personalidade dessas crianças. “Os pais estão

muito ausentes e, para compensar essa ausência, eles acabam dando o

que a criança quer, inclusive por estarem nessa mesma “onda” do

comprar”. A pesquisadora completa dizendo que nem a família e nem a

escola estão sendo um “contra ponto” de reflexão para a criança. “Quando

a criança quer muito consumir “coisas” é porque tem um buraco aí, e é na

afetividade. Isso precisa ser preenchido não com “coisas”. A escola precisa

trabalhar com projetos em que a criança se sinta útil, afinal, ela fica muito

tempo sentada em uma carteira escolar só ouvindo e não é estimulada a

questionar”. Fermiano acredita que as crianças estão cansadas de ouvir,

elas sentem necessidade de agir e, que de uma maneira geral, nesse

ponto, o marketing tem uma abertura muito grande, pois o pai da a

criança lhe dá dinheiro e ela mesma compra aquilo que é de seu interesse.

Um outro fator, que também favorece para a formação desse pré

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adolescente de hoje, é a vida em espaços fechados, assunto já citado por

aqui. Bruno, Carolina e Felipe são crianças de classe média alta e vivem

hoje em condomínios. Para Silvia Barros “o aumento da violência nas

cidades traz maior reclusão às famílias e faz com que a diversão seja jogar

no computador e conversar com os amigos através de uma tela”. Portanto,

é possível enxergar aqui, uma ligação entre a violência e a tecnologia,

trazendo a violência da atualidade como um fator que também ajuda na

determinação da personalidade desses pré – adolescentes.

Todas essas crianças, de classes A até E, querem as mesmas coisas.

De acordo com Fermiano, “todos eles ganham dinheiro, gastam dinheiro, e

têm as mesmas expectativas. Os jovens das classes A, B e às vezes até C,

têm evidentemente uma condição de vida melhor. Essa condição os ajuda

a ter melhores estratégias para situações que envolvem dinheiro”, a

pesquisadora também ressalta que os jovens de classe social mais baixa

sofrem muito mais. “Nem sempre eles têm acesso a todos os bens que

gostariam e, ao não ter esse acesso, eles serão excluídos do grupo. Isso é

o caminho para a violência, delinqüência, e para o bulling”. Portanto, é

possível enxergar que essas crianças possuem comportamentos

homogêneos mas, a condição social, de acordo com Fermiano, “é gritante

nas conseqüências para as crianças mais pobres” e isso pode ser apontado

como um grande problema da sociedade brasileira atual. O acesso a

tecnologia e o consumo se contrapõem às condições de vida da maioria

dos pré – adolescentes do país. Portanto, se esses são fatores

determinantes da personalidade dessa geração, isso pode vir a gerar

revoltas em um país de maioria pobre, afinal, essa maioria não pode “ter

para ser”.

Os pré-adolescentes vivem em um ambiente confuso em que não se

sabe mais o que se deve ou não fazer, como fazer e ainda, distinguir o bom

do mau, o certo do errado. O fato de viverem em uma sociedade, que

também é confusa, faz com que não tenham para quem recorrer e isso

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influencia na maneira como lidam com o (des)respeito às autoridades. “Eu

não gosto de dormir cedo, mas às 9:30 da noite meus pais me mandam

dormir”, afirma Carolina (13), e Felipe completa “É eu também, e minha

mãe faz a mesma coisa, mas, depois que ela dorme, eu levanto e vou

assistir televisão. Eu gosto de dormir meia noite” . E então as risadas

tomam conta do ambiente e os três pré – adolescentes parecem estar

“falando a mesma língua” pois, os outros dois afirmam fazer o mesmo que

Felipe. Bruno diz que raramente almoça com a família, os pais são

separados e a mãe trabalha o dia todo e, quando o faz, diz não se sentir

bem: “Eu acho muito chato. Minha mãe nunca me deixa levantar da mesa

antes que todos terminem de comer, então, a gente sempre briga, porque

eu levanto mesmo assim”. Para Maria Aparecida B. Fermiano, os pré -

adolescentes de hoje mandam na casa e “a autoridade desaparece! Nós

vivemos uma crise de valores. E não é o bater que vai fazer com que a

criança respeite. Para educar meu filho eu preciso dar o exemplo”, diz a

pesquisadora.

Esses pré – adolescentes possuem características diferentes das que

possuíam as gerações anteriores. Não se sabe ao certo o que contribuiu

para que essas mudanças ocorressem e o porquê da tecnologia tomar

conta - juntamente com o incentivo ao consumo (ambos incentivando

comportamentos). São crianças, mas já estão antenadas com as

tendências da moda, solicitam novos acessórios a seus pais a toda hora. É

uma geração que se mostra apressada e determinada.

As Gerações que marcaram épocas TRADICIONAIS (até 1945) >>> É a geração que enfrentou uma grande guerra e passou pela Grande Depressão. Com os países arrasados, precisaram reconstruir o mundo e sobreviver. São práticos, dedicados, gostam de hierarquias rígidas, ficam bastante tempo na mesma empresa e sacrificam-se para alcançar seus objetivos.

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BABY-BOOMERS (1946 a 1964) >>> São os filhos do pós-guerra, que romperam padrões e lutaram pela paz. Já não conheceram o mundo destruído e, mais otimistas, puderam pensar em valores pessoais e na boa educação dos filhos. Têm relações de amor e ódio com os superiores, são focados e preferem agir em consenso com os outros.

GERAÇÃO X (1965 a 1977) >>> Nesse período, as condições materiais do planeta permitem pensar em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação já podem tentar equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaram crises violentas, como a do desemprego na década de 80, também se tornaram céticos e superprotetores.

GERAÇÃO Y (1978 a meados dos anos 90) >>> Com o mundo relativamente estável, eles cresceram em uma década de valorização intensa da infância, com internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores. Ganharam auto-estima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido em longo prazo. Sabem trabalhar em rede e lidam com autoridades como se eles fossem um colega de turma.

Geração Z (meados dos anos 90 a 2002) >>> Clientes preferenciais do marketing e da mídia, eles gastam tempo exagerado diante da televisão, levam vida sedentária, constroem novas significações para o mundo globalizado, têm dinheiro e gastam cada vez mais para suprir necessidades desnecessárias, permanecem muito tempo sozinhos em casa, têm fácil acesso à tecnologia - independentemente da classe social.

Dados da tabela por: Jornal da Unicamp e Revista Galileu.

* Para preservar a identidade dos menores entrevistados os nomes, usados nessa matéria, foram alterados por fictícios.