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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA FÍSICA
RODOLFO ALVES DA LUZ
Geomorfologia da Planície Fluvial do Rio Pinheiros entre
os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim, São
Paulo (SP).
São Paulo 2010
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA FÍSICA
Geomorfologia da Planície Fluvial do Rio Pinheiros entre
os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim, São
Paulo (SP).
RODOLFO ALVES DA LUZ
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Física, do Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Geografia Física. Orientadora: Profa. Dra. Cleide Rodrigues
São Paulo 2010
II
Aos meus pais Renato e Maria
Creusa, pelo carinho, amor e
educação que me ofereceram e
ainda oferecem
III
Agradecimentos
À Professora Cleide Rodrigues pela seriedade, orientação, ensinamentos e, principalmente, pela amizade.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Física pela bolsa de estudos.
Aos funcionários da secretária de pós-graduação pela atenção prestada.
Às professoras Sidneide Manfredini e Lylian Coltrinari pelas contribuições preciosas no exame de qualificação.
À Professora Rosely Pachedo Dias Ferreira pela amizade e por ser uma das maiores responsáveis pela minha formação acadêmica.
À Maria Isabel Torres da Fundação Energia e Saneamento pelo pronto atendimento quando da aquisição das fotografias aéreas.
Ao geólogo Hugo Rocha do Metrô de São Paulo pela disponibilização das sondagens geológicas.
À Documento Antropologia e Arqueologia S/S Ltda. por tornar possível o acesso às escavações do Metrô.
Às dezenas de operários do Metrô que ajudaram nas escavações dos perfis verticais.
Ao Laerte (Enc. Administrativo) e ao “Zezão” (mestre de obras) por liberar o acesso a obra e as sondagens geológicas da Rua Diogo Moreira.
Aos Engenheiros Paulo Magro e Eduardo da Construtora São José por liberar o acesso a obra e as sondagens geológicas da Rua Seridó
Ao Luiz Franco, Alexandre Daffre, Tulius Nery e William Santos, grandes amigos que ajudaram nos trabalhos de campo.
Ao geógrafo Marcos Pinheiros pela atenção e pronto atendimento no Laboratório de Pedologia.
À Deborah Carvalho por tirar dúvidas a respeito de dados históricos do rio Pinheiros.
À Neide Farran pela compreensão e amizade.
Ao Sandro, Ana e seus funcionários pelo auxílio na impressão e formatação.
Aos meus familiares em Osasco, São Paulo, Curitiba e Aquidauana, por mostrarem que juntos a vida é mais divertida.
À minha esposa e grande companheira Marta, elemento vital na transformação de meus sonhos em realidade.
IV
Geomorfologia da Planície Fluvial Meândrica do Rio Pinheiros entre os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim, São Paulo (SP).
Resumo:
Na presente pesquisa investiga-se a geomorfologia da planície fluvial do rio
Pinheiros entre os bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim, na cidade
de São Paulo. Para tal, propõe-se uma carta geomorfológica de detalhe deste
setor da planície na escala de 1:20.000, confeccionada a partir de pesquisa
arquivística prévia e, principalmente, de fotografias aéreas e de mapas antigos.
A análise da carta e a sua correlação com informações sedimentológicas e
estratigráficas encontradas, principalmente, em recentes relatórios de
engenharia para a construção do Metrô de São Paulo, permitem a
caracterização do sistema fluvial deste setor do rio Pinheiros, bem como de
parte da morfodinâmica atuante no sistema antes da perturbação antrópica
de alto impacto decorrente da urbanização que ali se instalou a partir da
década de 1930.
A pesquisa permitiu também a interpretação de uma provável sequência de
eventos geomorfológicos atuantes no setor estudado durante o Pleistoceno
Superior e o Holoceno. Parâmetros morfométricos tais como índice de
sinuosidade de canais e paleocanais e largura da planície no trecho estudado
evidenciaram aspectos da influência da estrutura geológica em sua evolução.
O reconhecimento de sistemas geomorfológicos em seu estágio pré-
perturbação antrópica é essencial para a compreensão dos processos atuais,
principalmente em meios intensamente modificados como as áreas urbanas.
A pesquisa apresenta então este tipo de reconhecimento, colaborando assim
na compreensão dos processos antecedentes às grandes rupturas que se
instalam no sistema a partir das ações antrópicas na superfície.
Palavras-chave: Geomorfologia Fluvial; Cartografia Geomorfológica;
Geomorfologia de São Paulo; Rio Pinheiros; Sistemas Meândricos.
V
Abstract:
This research investigates the geomorphology of part of Pinheiros River fluvial
plain in São Paulo city. This study main result is a detailed geomorphologic
map - 1:20,000 - that used ancient aerial photographs and maps obtained
from formal archival surveys. The descriptions of floodplain units were
associated to stratigraphic and sedimentologic data obtained from recent
engineering projects reports of São Paulo underground (such as subway).
This association allows the understanding of part of Pinheiros River fluvial
system and morphodynamic before urbanization.
The research also allowed offering a sequence of geomorphological events
related to the floodplain and channel systems over the Holocene.
Morphometric parameters, such as width and sinuosity index of channels and
paleo-channels of floodplain meandering system, appear as an evidence of
the structural influence in geomorphological evolution of this system.
The recognition of geomorphologic systems in pre-disturbance stage is essential
for understanding the current processes, mainly in environments greatly modified
by human actions, such as urban areas. This research presents this kind of
recognition and contributes to the understanding of processes in the system
before human actions in the surface.
Key-words: Fluvial Geomorphology; Geomorphologic Mapping;
Geomorphology of São Paulo; Pinheiros River; Meandering Systems.
VI
Sumário
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................1
1.1. JUSTIFICATIVAS, OBJETIVOS, E ESCOLHA DA ÁREA DE
ESTUDO......................................................................................................2
2. CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO REGIONAL............6
2.1. GEOLOGIA..................................................................................6
2.1.1. Sedimentos da planície fluvial do rio Pinheiros.........................11
2.2. GEOMORFOLOGIA..................................................................14
3. METODOLOGIA...................................................................................20
3.1. REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO.........................20
3.1.1. Mapeamento geomorfológico....................................................21
3.1.2. Geomorfologia fluvial.................................................................22
3.1.3. Sistemas meândricos................................................................24
3.2. PROCEDIMENTOS...................................................................31
3.2.1. Levantamento dos dados..........................................................31
3.2.1.1. Dados cartográficos......................................................31
3.2.1.2. Dados sobre os materiais superficiais..........................35
3.2.2. Sistematização de Dados..........................................................39
3.2.3. Análises e Correlações..............................................................40
4. RESULTADOS.....................................................................................42
4.1. NÍVEL DESCRITIVO E ANALÍTICO..........................................42
4.1.1. Formas: unidades morfológicas identificadas............................42
4.1.2. Materiais correlacionados as formas.........................................46
Figura 30: Fonte: Ab’Saber (1958)
VII
4.1.2.1. Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã...........46
4.1.2.2. Outros locais investigados............................................63
4.1.1.1. 4.2. INTERPRETAÇÕES
GEOMORFOLÓGICAS...........................72
4.2.1. Carta Geomorfológica de Detalhe da Planície Fluvial
do Rio Pinheiros entre os Bairros de Pinheiros,
Butantã e Cidade Jardim............................................72
4.2.2. Aspectos morfogenéticos da planície fluvial..............84
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS.................................................................89
6. BIBLIOGRAFIA...................................................................................91
7. ANEXOS
VIII
Lista de Figuras
Figura 1 – Localização da área de estudo........................................................5
Figura 2 – Rift Continental do Sudeste Brasileiro. Fonte: Riccomini et al. (2004)................................................................................................................6
Figura 3 – Compartimentação tectônica do embasamento pré-cambriano no entorno da Bacia Sedimentar de São Paulo com destaque para a área de estudo. Fonte: Hasui & Sadowski (1976)..........................................................7
Figura 4 – Mapa Geológico da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê......................8
Figura 5 – Estratigrafia do segmento central do RCSB, que inclui a Bacia de São Paulo. Fonte: Riccomini et al. (2004)......................................................10
Figura 6 – Correlação entre a sedimentação quaternária no Município de São Paulo, idades, paleoclimas e paleovegetação segundo Takiya (1997)..........13
Figura 7 – Mapa geomorfológico da Região Metropolitana de São Paulo. Adaptado de Batista (2003) e Rodrigues (2006)............................................15
Figura 8 – Perfil geológico da Linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo e compartimentos geomorfológicos...................................................................15
Figura 9 – Mapa geomorfológico de Ab’Saber (1957) com a localização da área de estudo e da Linha 4 do Metrô (conforme perfil geológico da figura 8)...........16
Figura 20 – Padrões de canal e sistemas deposicionais associados. Modificado de Miall (1996)........................................................................................................24
Figura 11 – Migração lateral em sistemas meândricos e faciologia resultante. A) Diagrama representando a construção progressiva de uma planície de inundação, modificado de Knighton (1998). B) Modelo faciológico de deposição de rios meandrantes, modificado de Walker (1983)......................25
Figura 12 – Croqui esquemático de uma planície fluvial com os subsistemas e formas associadas..........................................................................................25
Figura 13 – Bloco diagrama mostrando os principais elementos morfológicos dos sistemas meândricos. Modificado de Walker (1983)...............................26
Figura 14 – Tipos de abandonos de canal em sistemas meândricos. Modificado de Christofoletti (1981).................................................................27
Figura 15 – Sedimentação de uma barra de acresção. Formação de uma zona de separação adjacente à margem convexa e deposição de finos. Modificado de Nanson (1980).........................................................................27
Figura 16 – Principais parâmetros geométricos de um canal meândrico. Modificado de Christofoletti (1974) e Mangelsdorf et al. (1990).....................28
Figura 17 – Experimentos de laboratório que mostram a influência da estrutura geológica (tectônica e litologia) em canais meândricos.....................................30
IX
Figura 18 – Mapa-índice das fotografias aéreas utilizadas............................34
Figura 19 – Locais das sondagens geológicas utilizadas e perfis verticais observados.....................................................................................................38
Figura 20 – Unidades morfológicas da área...................................................43
Figura 21 – Aspectos geométricos do canal do rio Pinheiros e meandros abandonados..................................................................................................44
Figura 22 – Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã..........................47
Figura 23 – Perfil Vertical FL..........................................................................51
Figura 24 – Perfil Vertical FA..........................................................................55
Figura 25 – Formação Itaquaquecetuba no Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros.........................................................................................................61
Figura 26 – Rua Diogo Moreira. Perfil típico...................................................65
Figura 27 – Rua Diogo Moreira. Perfil Vertical DM.........................................66
Figura 28 (legenda) – Chave de interpretação das sondagens geológicas da Rua Seridó......................................................................................................68
Figura 28 – Sondagens geológicas da Rua Seridó........................................69
Figura 29 – Perfil Vertical SE..........................................................................70
Figura 30 - Carta Geomorfológica da Planície Fluvial do Rio Pinheiros entre os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim.........................................75
Figura 31 – Croquis esquemáticos da mudança de sinuosidade em parte do canal do rio Pinheiros ocorrida no Quaternário..............................................86
X
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Índice de sinuosidade e largura do canal a montante e a jusante do setor de estreitamento da planície de inundação do rio Pinheiros............42
Tabela 2 - Continuação da legenda da Carta Geomorfológica da Planície Fluvial do Rio Pinheiros entre os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim.............................................................................................................76
Tabela 3 – Índice de sinuosidade e largura do canal fluvial ativo do rio Pinheiros e do paleocanal a montante do ponto de estreitamento da planície de inundação..................................................................................................86
Tabela 4 – Índice de sinuosidade e largura do canal fluvial ativo do rio Pinheiros a jusante e a montante do ponto de estreitamento da planície de inundação.......................................................................................................86
Lista de Quadros
Quadro 1: Fotografias aéreas utilizadas.........................................................32
Lista de Pranchas de Fotografias
Prancha 1: Perfil Vertical FL...........................................................................52
Prancha 2: Perfil Vertical FA...........................................................................56
Prancha 3: Rua Diogo Moreira.......................................................................64
Prancha 4: Perfil Vertical SE...........................................................................71
Prancha 5: Planície fluvial do rio Pinheiros.....................................................77
Prancha 6: Aspectos de algumas unidades morfológicas..............................78
1
1. INTRODUÇÃO
Parte da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) assenta-se sobre a bacia
hidrográfica do rio Pinheiros. O trecho inferior desta bacia hidrográfica
caracteriza-se por uma ocupação urbana densa que tem modificado
drasticamente as características fluviais deste rio desde o início do século XX.
O antigo canal fluvial meândrico do rio Pinheiros hoje encontra-se retificado e
sua antiga planície de inundação está sob, em média, 2 metros de aterros,
desde o início da década de 1940 (CARVALHO, 2006).
Desta maneira que a planície fluvial do Pinheiros tornou-se parte da malha
urbana da cidade, configurando-se atualmente como um espaço de redes de
serviços urbanos, sendo um importante eixo de circulação da cidade, com
ferrovias, vias expressas, redes de esgoto, redes elétricas, etc. (SEABRA,
1987; OSEKI, 2000).
Estudos ambientais em áreas intensamente modificadas por ações antrópicas,
como os de áreas urbanas, demandam o reconhecimento das condições
ambientais representativas de estágios anteriores às mudanças antropogênicas,
ou do reconhecimento de sistemas análogos bem preservados, para que os
parâmetros representativos dos processos antecedentes às grandes rupturas
sejam obtidos (RODRIGUES, 1997b, p. 142).
Isso se faz necessário para que a gênese dos novos balanços e dos tipos de
processos que se instalam a partir das ações antrópicas na superfície sejam
compreendidos. Em Geomorfologia, esse reconhecimento realiza-se pela
caracterização dos sistemas geomorfológicos em seu estágio pré-perturbação,
que é, fundamentalmente, o momento histórico de predomínio das condições
ambientais anteriores à apropriação pelas sociedades industriais (TRICART,
1977, p. 17; TOY & HADLEY, 1982, p. 4; RODRIGUES, 2004, p. 93-95).
A caracterização geomorfológica representativa do estágio pré-perturbação é a
base dos estudos de geomorfologia antropogênica, ramo da Geomorfologia
que compreende a atividade humana não apenas como um fator modificador
do ambiente, mas sim como um agente central do sistema, ou seja, um efetivo
2
agente geomorfológico (NIR, 1983; VERSTAPPEN, 1983; GREGORY, 1985;
RODRIGUES, 1997a; HOOKE, 2000; DÁVID & SZABÓ, 2008).
A presente pesquisa apresenta a reconstituição espacial de parte da planície
fluvial do rio Pinheiros no seu estágio pré-perturbação, realizada através da
sistematização gráfica e cartográfica de sua morfologia original e dos materiais
que a compunham ou que ainda a compõem. Dessa forma, foram abordados
os três elementos da geomorfologia pura de acordo com a concepção de Hart
(1986): 1) nível descritivo da morfologia a partir da cartografia retrospectiva e
fotografias aéreas antigas; 2) nível descritivo dos materiais (originais e
antrópicos) a partir da revisão da literatura, da utilização de sondagens
geológicas, de levantamentos de campo e de análises de laboratório; 3) nível
analítico-interpretativo dos processos a partir da articulação entre os dois níveis
anteriores.
1.1. JUSTIFICATIVAS, ESCOLHA DA ÁREA DE ESTUDO E
OBJETIVOS
Os depósitos fluviais podem servir como arquivos de eventos ocorridos em
toda bacia hidrográfica, sendo considerados componentes fundamentais dos
registros geológicos e geomorfológicos (CHRISTOFOLETTI, 1974, p. 52;
RICCOMINI et al., 2000, p. 192). A despeito disso, é interessante observar que,
ao longo de sua história, a pesquisa geomorfológica tem se dedicado mais aos
processos erosivos do que aos deposicionais (HART, 1986, p.96). Há também
uma significativa escassez de estudos de geomorfologia fluvial em países
tropicais e úmidos (MIALL, 1982, p. 10; LATRUBESSE et al., 2005, p. 277) e,
principalmente, brasileiros e em ambientes urbanos.
É também neste âmbito de relativa carência científica que a presente pesquisa
coloca-se e justifica-se. Tratando-se especificamente do rio Pinheiros, este
estudo presta também contribuições inéditas a respeito do conhecimento da
História Natural da região onde se situa a metrópole paulista.
Segundo Ab’Saber (1978, p. 18), o rio Pinheiros foi, provavelmente, o rio mais
transformado por ação antrópica dentre os rios de ordem superior da cidade de
3
São Paulo e, talvez, de todo o mundo tropical devido aos diversos projetos de
aproveitamento hidro-energético que nele ocorreram.
Apesar das dificuldades intrínsecas aos estudos que visam reconstituir o meio
físico de áreas bastante modificadas por ações antrópicas, as áreas
densamente urbanizadas apresentam a vantagem de possuírem dados
geomorfológicos relevantes a respeito de seus materiais. Assim, além de
arquivos históricos, de material iconográfico, dentre outros, existem sondagens
geológicas, escavações e investigações técnicas e ambientais geradas pelas
obras ali ocorridas (edifícios, túneis, metrô, etc.). Ambos fornecem dados que
permitem a interpretação geomorfológica, uma vez que seja transposta a
linguagem técnica-operacional da Engenharia.
O acesso a sondagens geológicas executadas pela Companhia do
Metropolitano de São Paulo (METRÔ) para a construção da futura Linha 4 –
Amarela orientou a delimitação da área de estudo. Esta linha, cruzando
transversalmente a planície fluvial do rio Pinheiros nas proximidades da atual
ponte Eusébio Matoso, gerou em seu projeto, sondagens relevantes para as
interpretações pretendidas.
A partir da localização do eixo da linha do Metrô, delimitou-se aleatoriamente
uma área de 2 km a montante e a jusante, para que as informações fornecidas
pelas sondagens permitissem extrapolações espaciais em escala de detalhe.
Esta delimitação coincidiu aproximadamente com a planície fluvial do rio
Pinheiros entre a atual ponte Cidade Jardim (ou ponte Eng. Roberto R.
Zuccolo) à montante, e a ponte da Cidade Universitária, à jusante. Assim,
definiu-se o recorte espacial da pesquisa, que é a planície fluvial do rio
Pinheiros entre os bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim (Figura 1).
O objetivo principal do estudo foi descrever, caracterizar e mapear a
morfologia pré-perturbação e os materiais da planície fluvial, para que, a
partir da articulação entre estes dois níveis, fosse possível a
interpretação dos processos geomorfológicos atuantes no sistema antes
das intervenções antrópicas de alto impacto. Estas análises foram feitas por
meio de representações gráficas e cartográficas de detalhe.
4
De acordo com Tricart (1977), quando comparados ao sistema vertente, os
sistemas fluviais são aqueles que apresentam maior sensibilidade às
mudanças de curta duração. Sendo assim, os processos geomorfológicos
responsáveis pelas formas e pelos materiais da planície fluvial do rio Pinheiros
em seu estágio pré-perturbação ocorreram em sua maioria no final do período
Quaternário, testemunhando possíveis eventos ambientais locais e regionais
deste período. O recorte temporal da pesquisa envolveu então o Quaternário,
principalmente o Pleistoceno Superior e o Holoceno, até as ações antrópicas
de alto impacto, ocorridas a partir do início do século XX.
5
Figura 3 – Localização da área de estudo
6
Figura 2 – Rift Continental do Sudeste Brasileiro. Fonte: Riccomini et al. (2004).
2. CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO REGIONAL
2.1. GEOLOGIA
A estrutura geológica da fachada atlântica do Sudeste do Brasil compreende
terrenos do Cinturão de Dobramentos Ribeira (HASUI et al., 1975), compostos
por gnaisses, migmatitos e rochas metamórficas de baixo a médio grau, com
diversas suítes granitóides intrusivas e centenas de intrusões de rochas
alcalinas. Estas rochas estão seccionadas por zonas de cisalhamento de caráter
dextral orientadas segundo E-NE a E-W, ativas até o final do Ciclo Brasiliano
(Cambro-Ordoviciano) (SADOWSKI, 1991 apud RICCOMINI et al., 1992, p. 22).
Reativações normais dessas antigas zonas de cisalhamento durante o Terciário
(Eoceno-Oligoceno) seriam responsáveis pela origem do Rift Continental do
Sudeste do Brasil (RCSB), feição tectônica de idade cenozóica que engloba
nove embaciamentos alojados em uma estreita faixa alongada e deprimida entre
os Estados do Paraná e Rio de Janeiro (RICCOMINI et al., 1992, p. 22).
Dentre essas bacias está a Bacia de São Paulo que, segundo Riccomini et al.
(2004, p. 393-405), se originou após a fragmentação de uma calha tectônica
durante o Eoceno e o Mioceno (55 – 5,32 m.a.). Este evento também foi
responsável pela individualização das outras bacias sedimentares da porção
central do RCSB (Taubaté, Resende e Volta Redonda) (Figura 2).
7
A área de estudo localiza-se na borda oeste da Bacia de São Paulo. Esta bacia
corresponde a uma depressão em blocos com cotas mais baixas situadas ao
longo da borda norte, onde ocorrem falhas normais reativadas ao longo das
zonas de cisalhamento de Taxaquara e Jaguari (HASUI & CARNEIRO, 1980, p.
11; TAKIYA, 1997, p. 4; RICCOMINI at al., 2004, p. 392).
O embasamento pré-cambriano da Bacia de São Paulo é compartimentado em
blocos justapostos limitados por grandes zonas de falhamento transcorrente
(HASUI & SADOWSKI, 1976). As principais falhas que delimitam esses blocos
são as de Taxaquara, Caucaia, Jaguari, Buquira e Alto da Fartura. Segundo
Hasui & Carneiro (1980, p. 11) os blocos estariam adernados, com
afundamentos em direção ao centro da bacia, como resultado das reativações
cenozóicas das antigas zonas de cisalhamento.
Na planície fluvial do rio Pinheiros no setor estudado há dois destes blocos,
que são delimitados pela Falha de Caucaia (Figura 3): 1) Bloco Cotia ao norte,
com afundamento na sua extremidade leste e; 2) Bloco Juquitiba ao sul, com
afundamento de sua porção norte. No entanto, Hasui & Carneiro (op. cit., p. 11)
observam que a subsidência do Bloco Cotia apresentou uma menor amplitude
do que o do Bloco Juquitiba.
Figura 3 – Compartimentação tectônica do embasamento pré-cambriano no entorno da Bacia Sedimentar de São Paulo com destaque para a área de estudo. Fonte: Hasui & Sadowski (1976).
8
Figura 4 – Mapa Geológico da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê 8
9
Litologicamente, Coutinho (1972) considera as áreas desses dois blocos como
sendo do Complexo Cristalino, porém, distingue as faixas gnáissicas e
graníticas na zona de cisalhamento entre as falhas de Taxaquara e de Caucaia
(Bloco Cotia) do restante do complexo, onde predominam os micaxistos.
Segundo Coutinho (1980 e 1984) a Falha de Caucaia estaria localizada um
pouco a jusante da área de estudo, mas um eixo de zona de falha atravessa a
região central da área de estudo1 (Figuras 4). Esta eixo de zona de falha e a
Falha de Caucaia delimitam os blocos de Cotia e Juquitiba, determinando a
configuração tectônica da planície fluvial do rio Pinheiros na área de estudo.
Portanto, a área de estudo é representativa da zona de contato entre o bloco
de Cotia, de menor subsidência e composto por gnaisses, com o bloco de
Juquitiba, de maior subsidência e composto predominantemente por
micaxistos.
A Bacia de São Paulo é preenchida por sedimentos cenozóicos que
apresentam falhas pós-sedimentares relacionadas a soerguimentos e
abatimentos locais do substrato durante o Terciário. As unidades paleógenas
desses depósitos são encerradas no Grupo Taubaté, onde são reconhecidas
as seguintes formações (RICCOMINI et al., 2004., p. 392) (Figura 5):
- Formação Resende: depósitos basais e laterais do Grupo Taubaté
(Paleógeno) relacionados a um sistema de leques aluviais associado a
planícies aluviais de rios entrelaçados. Nas porções proximais dos leques
predominam conglomerados de matriz lamítica a arenosa, e nas porções
medianas e distais predominam os lamitos e lamitos arenosos maciços;
- Formação Tremembé: depósitos lacustres oligocênicos resultantes da
migração lateral do sistema de leques aluviais da Formação Resende. Ocorre
na forma de camadas tabulares de argilitos maciços verdes intercalados com
argilitos cinza-escuro a preto, ricos em matéria orgânica.
1 Este eixo de zona de falha é denominado de “faixa de cisalhamento” no Mapa Geológico do Atlas
Ambiental do Município de São Paulo (PMSP-SVMA-SEMPLA, 2002).
10
- Formação São Paulo: depósitos do topo do Grupo Taubaté (Oligoceno
Superior) relacionados a um sistema fluvial meandrante. As principais litologias
correspondem aos ambientes típicos desse tipo de sistema fluvial. Arenitos
grossos, conglomeráticos, com estratificações cruzadas e base erosiva
representantes de depósitos de canal; siltitos e argilitos laminados depositados
em meandros abandonados; arenitos médios a grossos resultantes de
depósitos de rompimento de diques; sedimentos finos, rítmicos e laminados de
planície de inundação.
Figura 5 – Estratigrafia do segmento central do RCSB, que inclui a Bacia de São Paulo. Fonte: Riccomini et al. (2004).
p – Leques
aluviais
proximais;
m-d – leques
aluviais
medianos a
distais
associados a
planície aluvial
de rios
entrelaçados;
t – depósitos de
tálus;
c – depósitos
coluviais;
ca – depósitos
colúvio-
aluviais.
Figura
compilada de
Riccomini et al.
(2004, p. 396).
11
2.1.1. Sedimentos da planície fluvial do rio Pinheiros
Uma primeira diferenciação entre os materiais sedimentares que compõem a
planície fluvial do rio Pinheiros foi feita por Junqueira (1969), que separou
grandes pacotes arenosos com estruturas cruzadas inferiores dos sedimentos
mais finos do topo. Naquele momento esse pacote inferior foi interpretado
como depósitos de canais entrelaçados realizados sob climas semi-áridos,
sendo então denominado de “aluviões antigos dos rios Pinheiros e Tietê”
devido à sua ocorrência generalizada em todas as planícies dos grandes rios
paulistanos.
Estes depósitos arenosos foram então datados por Carbono 14 em torno de
40.000 a 44.000 A.P. admitindo-se idade máxima de 50.000 A.P. (BIGARELLA,
1971; SUGUIO, 1971), portanto, Pleistoceno Superior. Inicialmente foram
considerados de clima úmido com forte influência tectônica, porém, em seguida
admitiu-se o clima semi-árido (SUGUIO,1980, p. 29).
Posteriormente, estes depósitos definiram uma unidade estratigráfica,
formalizados como Formação Itaquaquecetuba (COIMBRA et al., 1983, p. 254),
definida como depósitos típicos de sedimentação fluvial anastomosada (braided)
oriundo basicamente das rochas metamórficas do embasamento pré-cambriano
em condições de curto transporte. A partir de datações paleomagnéticas que
indicaram idades em torno de 730.000 A.P., Melo et al. (1985) reposicionaram
a Formação Itaquaquecetuba no Eoceno Superior.
Porém, informações mais recentes têm posicionado a Formação
Itaquaquecetuba no Mioceno Inferior (ARAI & YAMAMOTO, 1995, p. 84)
(Figura 5), sendo esta interpretada como representante de um sistema fluvial
entrelaçado “que ocorre assentado diretamente sobre rochas do embasamento
pré-cambriano, sem que tenha sido verificada a sua relação com unidades
sedimentares paleógenas anteriores” (RICCOMINI et al., 2004, p. 401).
A Formação Itaquaquecetuba ocorre, principalmente, abaixo da cota altimétrica
de 710 metros sob os sedimentos aluviais dos principais rios paulistanos
(MELO et al., 1989, p. 5; TAKIYA, 1997, p. 45). Na planície fluvial do rio
Pinheiros, dados de uma sondagem próxima à atual raia olímpica da Cidade
12
Universitária, no extremo norte da área de estudo, indicaram mais de 40 metros
de espessura para esta formação (TAKIYA 1991 apud TAKIYA, 1997, p. 46).
Em sua constituição litológica predominam arenitos grossos arcoseanos, mal a
medianamente selecionados com estratificações cruzadas tabulares e
acanaladas. Estes estratos podem conter níveis argilo-siltosos ricos em matéria
orgânica e níveis de conglomerados com seixos de quartzo e quartzito bem
arredondados (TAKIYA, 1997, p. 45)
Riccomini et al. (1992, p.31) retomam a idéia de climas úmidos vigentes
durante a deposição da Formação Itaquaquecetuba. Estudos palinológicos já
indicavam espécies de climas úmidos associadas aos seus sedimentos, como
tem sido apresentado por Fittipaldi & Simões (1989) e Fittipaldi (2002).
Acima da Formação Itaquaquecetuba estão os depósitos quaternários
relacionados ao estágio pré-perturbação de sedimentação do rio Pinheiros. São
predominantemente sedimentos mais finos e menos espessos do que os da
Formação Itaquaquecetuba e apresentam contato frequentemente erosivo com
esta formação (MELO et al., 1985, p. 177; ALMEIDA et al., 1984). Segundo
Riccomini et al. (op. cit., p. 32) os sedimentos fluviais quaternários dos rios
paulistanos raramente ultrapassam os 10 metros.
Almeida et al. (1984), Melo et al. (1985) e Melo et al. (1987) caracterizaram
estes depósitos como apresentando camadas turfosas no topo que podem
alcançar até pouco mais de 1 metro de espessura, sobre camadas de areias
finas à médias por vezes com areias grossas a conglomeráticas, sempre tendo
como camada basal cascalhos. Takiya (1997, p. 84) salienta que essa sequência
de granodecrescência ascendente encontra-se comumente interrompida, o que
denotaria diversos ciclos de sedimentação deste sistema fluvial quaternário.
Takya (op. cit.) sugere duas fases principais de desenvolvimento de rios
meandrantes para os depósitos aluviais quaternários de São Paulo,
correlacionando-os à prováveis paleoclimas e paleovegetações vigentes
(Figura 6). A primeira seria contemporânea ao último glacial (Würn) no intervalo
de 32.480 +/- 330 anos A.P. a 18.940 +/- 110 anos A. P., e a segunda teria se
iniciado provavelmente na passagem Pleistoceno/Holoceno até o estágio pré-
13
perturbação das planícies fluviais paulistanas. A mesma autora identifica ainda
que a partir de 6.000 anos A. P. teria se iniciado uma fase de sedimentação
orgânica intensa.
Estudos nos sedimentos quaternários dos rios paulistanos indicam a ausência de
falhamentos afetando estes depósitos (ALMEIDA et al., 1984, p. 1803; TAKIYA,
1997, 108).
Figura 6 – Correlação entre a sedimentação quaternária no Município de São Paulo, idades, paleoclimas e paleovegetação segundo Takiya (1997).
A revisão da literatura a respeito do conhecimento sobre a geologia das
planícies fluviais dos rios paulistanos mostra que estudos voltados
especificamente às camadas mais superficiais da planície são os mais
recentes, e foram realizados com maior detalhamento na planície do rio Tietê,
faltando ainda um conhecimento mais detalhado na planície fluvial do rio
Pinheiros. As características das formações sedimentares aqui revisitadas são
retomadas adiante para a área de estudo.
14
2.2. GEOMORFOLOGIA
A Figura 7 (Mapa Geomorfológico da RMSP) apresenta os dois grandes
compartimentos do relevo da RMSP que condicionaram o modelado da região:
os terrenos do embasamento pré-cambriano e os terrenos da Bacia de São
Paulo (RODRIGUES, 2006).
Embasamento pré-cambriano
Terrenos pertencentes à unidade morfoestrutural do Cinturão Orogênico do
Atlântico e à unidade morfoescultural do Planalto Atlântico (ALMEIDA, 1964;
ROSS & MOROZ, 1997). Na RMSP o Planalto Atlântico é subdividido em:
Planalto Paulistano, que ocorre na maior parte da região; Serra da Cantareira,
ao norte; Serraria de São Roque, a oeste; Serra do Mar e de Paranapiacaba,
ao sul e; Planalto de Paraibuna a leste.
Estes planaltos e serras abrigam morros com vertentes de média a alta
declividade e de topos convexos, serras alongadas, e pequenas planícies
fluviais isoladas.
Bacia de São Paulo
Terrenos pertencentes à unidade morfoestrutural das Bacias Sedimentares
Cenozóicas e à unidade morfoescultural do Planalto de São Paulo (ROSS &
MOROZ, op. cit.). Correspondem ao compartimento central da RMSP, sobre o
qual a cidade de São Paulo teve seu núcleo inicial.
Abrigam colinas com vertentes de baixas declividades e topos aplanados e
amplas planícies fluviais dos principais rios paulistanos (AB’SABER, 1957;
ALMEIDA, op. cit.). Entre os topos regionais e os fundos de vale destes rios
ocorrem patamares escalonados, que correspondem ao modelado típico da
porção central da Bacia de São Paulo. Esta compartimentação geomorfológica é
apresentada por Ab’Saber (op. cit.) (Figuras 8 e 9).
15
Figura 8 – Perfil geológico da Linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo e compartimentos geomorfológicos.
Figura 7 – Mapa geomorfológico da Região Metropolitana de São Paulo. Adaptado de Batista (2003) e Rodrigues (2006).
16
Figura 9 – Mapa geomorfológico de Ab’Saber (1957) com a localização da área de estudo e da Linha 4 do Metrô (conforme perfil geológico da figura 8).
A bacia hidrográfica do rio Pinheiros localiza-se no centro-sul da RMSP, sobre os
dois compartimentos do relevo descritos.
Seus formadores têm origem nos contrafortes da Serra do Mar, e seguem
preferencialmente na direção L-O enquanto atravessam os terrenos do
embasamento pré-cambriano. Próximo à Bacia Sedimentar de São Paulo
mudam sua direção para SE-NO, até a região de Santo Amaro, onde os rios
Grande e Guarapiranga unem-se e formam o Pinheiros. Neste local há outra
mudança de direção, o rio inflecte cerca de 90º até a região de Cidade Jardim,
onde ele retoma novamente a direção SE-NO até a confluência com o rio Tietê.
Esta configuração da rede hidrográfica, com frequentes mudanças de direção,
reflete as características tectônicas regionais e os compartimentos
geomorfológicos associados, como pode ser visto em Ab’Saber (1957, p. 69-78),
Almeida (1958, p. 155) e Santos (1958, p. 51),que mostram como a existência
17
da Bacia Sedimentar de São Paulo influi diretamente na hidrografia regional,
pois, ao adentrar nela os rios normalmente alteram a sua direção.
Além disso, inflexões na direção do rio Pinheiros onde já é formada sua ampla
planície fluvial, entre Santo Amaro e sua confluência com o rio Tietê, podem
refletir possíveis influências da estrutura geológica na configuração desta
planície.
É em Ab’Saber (1957) que o relevo da planície fluvial do rio Pinheiros na área
de estudo no estágio pré-perturbação é descrito de forma detalhada. O autor
identifica os seguintes compartimentos geomorfológicos (Figuras 8 e 9):
Baixos terraços fluviais
Nível localizado em altitudes entre 724 e 740 metros compondo a maior parte
do terreno da planície na margem direita do rio. Na margem esquerda estes
terraços ocorrem de forma mais restrita, já em contato com os sopés das
colinas e morros dissecados sustentados pelo o embasamento pré-cambriano.
O limite superior dos baixos terraços fluviais é na maior parte das vezes com os
terraços de nível intermediário, mas pode ser também com as altas colinas e
espigões secundários, ambos sobre os sedimentos terciários da Bacia de São
Paulo.
O limite inferior se dá com a planície de inundação, seja em forma de rebordos
com terminação em rampas suaves, seja em “rebordos com terminação em
pequenos taludes” (AB’SABER, op. cit., p. 141). Porém, após o aterramento da
planície de inundação este limite se altera, pois os aterros são, em geral,
nivelados em cotas próximas as dos baixos terraços, como é mostrado no
mapeamento de Petrone (1963).
Dessa maneira, o nível topográfico dos baixos terraços fluviais hoje avança em
direção ao canal do Pinheiros através de aterros, reduzindo assim a área da
planície de inundação original e formando um “nível de terraços antrópicos”
(AB’SABER, 1978, p. 18). Estes aterros formam os depósitos tecnogênicos que
estão situados no topo da coluna estratigráfica de São Paulo e região
(PELOGGIA, 1997).
18
Ab’Saber (1953, p. 98-103 e 1957, p. 139-140) considera que a formação
desses baixos terraços fluviais teria ocorrido no Pleistoceno e Almeida (1958,
p. 164) afirma que dificilmente eles foram formados pelo rebaixamento do nível
do mar provocado por mudanças climáticas relacionadas ao último máximo
glacial (Würn).
O fato de parte da malha urbana da cidade e das grandes ferrovias terem se
instalado preferencialmente nestes terraços tem dificultado as pesquisas de sua
morfologia e estrutura desde a década de 1950 (AB’SABER, 1957, p. 141).
Planície de Inundação
Segundo Ab’Saber (op. cit.) a planície de inundação do rio Pinheiros no estágio
pré-perturbação localizava-se entre as cotas de 719 e 724 metros e estaria
subdividida em duas:
a - Planície de inundação sujeita apenas às grandes cheias (entre 722 e
724 metros). São alongadas e descontínuas faixas de terrenos aluviais
mais enxutos e correspondem a diques marginais ou apresentam “a
aparência de rasos terraços desprovidos de quaisquer taludes”
(AB’SABER, op. cit., p. 148), decaindo em rampa quase imperceptível
em direção às;
b - Planícies de inundação sujeitas a inundações anuais (entre 719 e
721 metros).
As principais morfologias que ocorreriam nestas planícies fluviais são citadas por
Ab’Saber (op. cit., p. 150) e Bigarella (1971, p. 3-4), são elas: diques marginais,
baixadas laterais (aqui entendidas como as bacias de inundação, ou
“backswamps”), lagoas de meandros abandonados e feixes de restinga fluvial
ribeirinhas (aqui entendidos como cordões marginais convexos). Entretanto, não
há estudos que caracterizaram e mapearam estas feições geomorfológicas.
A revisão da literatura a respeito do conhecimento sobre a Geomorfologia das
planícies fluviais dos rios paulistanos mostra que estas planícies foram objeto de
estudo em pesquisas de escala de semi-detalhe, no qual o intuito principal era o
19
de compreender a compartimentação geomorfológica da cidade de São Paulo
(AB’SABER, 1957) ou do bairro de Pinheiros (PETRONE, 1963).
Estes estudos identificaram diferentes níveis de terraços e de planícies de
inundação (várzeas). Referências a algumas unidades morfológicas da planície de
inundação foram realizadas (diques, backswamps, meandros abandonados,
etc.), porém, sem a espacialização destas unidades em cartas de detalhe.
Segundo Ab’Saber (op. cit., p. 141), o desenvolvimento da área urbanizada
sobre a planície fluvial do rio Pinheiros ocasiona uma verdadeira camuflagem
da geomorfologia do sítio original. Porém, a aplicação da metodologia aqui
proposta, que teve como objetivo caracterizar os estágios pré-perturbação dos
sistemas geomorfológicos da área possibilitou este tipo de análise
(RODRIGUES, 2004 e 2005).
20
3. METODOLOGIA
3.1. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
A Geomorfologia tem como objeto de estudo as formas de relevo terrestre
(CHRISTOFOLETTI, 1974, p. 1; MARQUES, 1994, p. 23), porém, a forma por
si só, faz da Geomorfologia uma ciência de caráter meramente descritivo. Para
ir além da descrição, a explicação das formas passa então pelo entendimento
dos processos (HART, 1986, p. 88).
Soma-se a esses dois elementos (forma e processo) o estudo dos materiais
que “cobrem a face da terra” (WHALLEY, 1990, p. 111), considerados como
tudo aquilo que constitui a camada mais superficial da crosta terrestre,
sustentando as formas que identificamos na paisagem (WHALLEY 1976;
DACKOMBE & GARDINER, 1983; VERSTAPPEN, 1983; HART, 1986). Estes
são também designados como materiais superficiais, que podem conter ou não
materiais pedológicos, sedimentos inconsolidados, rochas e materiais
tecnogênicos.
Dessa maneira, o estudo da forma da superfície passa pelo entendimento dos
processos responsáveis por ela e pela observação das propriedades dos
materiais que a compõem.
Essa dependência teórica entre estes três elementos que permeia os estudos
geomorfológicos já indica a preocupação com as relações dinâmicas entre
diferentes variáveis como paradigma norteador da pesquisa. É dentro desse
contexto que a abordagem sistêmica se mostra apropriada para o
desenvolvimento da mesma, pois permite o entendimento dos fenômenos
naturais de forma integrada (TRICART, 1977, p. 19; RODRIGUES, 2001a).
O reconhecimento dos fenômenos geomorfológicos é realizado, muitas vezes,
pela sua espacialização, que é representada por mapas. Nos mapas
geomorfológicos são demarcadas principalmente as formas do terreno, porém,
faz-se necessário também demarcar os materiais superficiais, os processos
(morfodinâmica) e a cronologia das formas (morfogênese) (COLTRINARI,
1984; HART, 1986, p. 183).
21
O nível interpretativo da pesquisa foi alcançado a partir das correlações
espaciais de alguns parâmetros dos três níveis da investigação geomorfológica
(formas, materiais e processos). Esses parâmetros são representados no mapa
geomorfológico e serão apresentados a seguir.
3.1.1. Mapeamento Geomorfológico
O mapa geomorfológico torna-se um dos principais instrumentos de análise da
pesquisa geomorfológica quando concebido nos moldes das “Cartas
Geomorfológicas de Detalhe” conforme Tricart (1965) e Coltrinari, (1982 e
1984). Estas, “são cartas temáticas que fornecem uma descrição completa de
todos os elementos do relevo e do modelado da região a que se referem”
(COLTRINARI, 1984, p. 96). Assim, o mapa não se configura como uma
tradução gráfica de uma análise geomorfológica, mas sim como a base desta
análise, onde são compreendidas as relações espaciais por meio dos
compartimentos geográficos identificados. Isso faz com que este tipo de carta
tenha um valor analítico intrínseco constituindo o objetivo da investigação
geomorfológica, confundindo-se, inclusive, com seu próprio objeto de estudo, já
que auxilia no entendimento genético, dinâmico e espacial das formas da
superfície (TRICART, op. cit., p. 183-184; RODRIGUES, 1997a, p. 88).
As cartas geomorfológicas de detalhe devem conter informações a respeito da:
- Morfometria (dimensões da forma e dos materiais superficiais);
- Morfografia (forma real de cada feição da superfície terrestre);
- Morfodinâmica (processos responsáveis pela configuração atual da
paisagem) e;
- Cronologia das formas (fase morfogenética da forma).
Porém, nem sempre estes níveis de informações são satisfatoriamente
alcançados devido à carência de estudos de geomorfologia tropical
(COLTRINARI, 1982, p. 60).
O grau de padronização e o grau de uniformização das unidades de
mapeamento dependem da escala espacial da área mapeada. No caso da
22
Geomorfologia, a escala define a categoria de fenômenos que será mapeada
em primeiro plano, se aqueles relativos ao relevo ou aqueles relativos ao
modelado, que direcionam a confecção dos mapas geomorfológicos conforme
a escala (TRICART, 1965; COLTRINARI, 1982, p. 55):
- Cartas geomorfológicas de pequena escala (1:500.000 e menores)
utilizadas para a cartografação dos conjuntos de relevo de dimensões
quilométricas, onde os aspectos estruturais são mais representativos e;
- Cartas de detalhe (1:5.000 a 1:25.000) e semi-detalhe (1:50.000 e
1:100.000) utilizadas para a cartografação do modelado.
Esta sistematização direciona o mapeamento geomorfológico aplicado na
pesquisa, que trata de uma carta de detalhe na escala de 1:20.000 que
apresenta as formas da planície fluvial do rio Pinheiros no estágio pré-
perturbação antrópica, bem como os materiais superficiais e os processos
geomorfológicos associados a essas formas.
3.1.2. Geomorfologia Fluvial
Sendo esta pesquisa direcionada a sistemas geomorfológicos fluviais, como
planícies de inundação, canais, terraços, etc. torna-se necessário apresentar
os principais conceitos e parâmetros desse ramo da investigação
geomorfológica e que são aqui utilizados.
A Geomorfologia Fluvial interessa-se pelos processos, formas e materiais
relacionados ao escoamento dos rios, englobando assim estudos dos cursos
de água e das bacias hidrográficas (CHRISTOFOLETTI, 1974, p. 52; CUNHA,
1994, p. 211).
Miall (1978, p. 11), enumera os seguintes tópicos como essenciais nos estudos
sedimentológicos e geomorfológicos relacionados aos ambientes fluviais:
- Geomorfologia fluvial descritiva: trata das características físicas dos
sistemas fluviais, sua evolução e variação da nascente até a foz;
23
- Geomorfologia fluvial quantitativa: estudos sobre a geometria hidráulica
(largura, profundidade, declividade, descarga, sinuosidade e carga
sedimentar);
- Estudos de transporte de sedimentos: taxa de transporte e mudanças
texturais a jusante;
- Estudos sobre as formas do leito: profundidade de canal, velocidade de
fluxo e tamanho da partícula;
- Estudos faciológicos: reconhecimento dos vários componentes
litológicos de um depósito fluvial, propiciando a generalização em forma
de modelos faciológicos e;
- Estudos paleohidráulicos: tratam das relações quantitativas entre os
parâmetros hidráulicos de um rio e seus depósitos mais preservados.
Através da reconstrução paleohidrológica é possível identificar os tipos de
canais que criaram os depósitos analisados (RICHARDS, 1985, p. 5).
Considerando essa sistematização, a presente pesquisa está vinculada
principalmente ao tema dos estudos de geomorfologia fluvial descritiva, mas
insere-se também em parte dos estudos de geomorfologia fluvial quantitativa, de
estudos paleohidráulicos e de estudos faciológicos.
A classificação de padrões de drenagem, bastante enraizada na literatura
geomorfológica, foi apresentada por Leopold et al. (1964, p. 281-332) e
separou os rios em três tipos básicos de canais: retilíneo, meândrico e
entrelaçado (braided). Há também o padrão anastomosado (anastomosing),
que é semelhante ao entrelaçado, porém com margens estáveis e predomínio
de carga em suspensão (MORISAWA, op. cit., p. 91; KNIGHTON, 1998, p.
207). Knighton (op. cit., p. 207) destaca que, apesar da variedade dos padrões
agora conhecidos, a original subdivisão permanece relevante devido a sua
associação com o conceito continuum introduzido por Leopold et al. (op. cit.).
Tendo em vista a grande variedade de classificações de canais e sistemas
fluviais existentes, Stevaux (1993, p. 32) afirma que as dificuldades de
aplicação destas diversas sistematizações fizeram com que restassem, na
24
prática, a divisão apenas entre os sistemas meândricos, entrelaçados e,
mais recentemente, os anastomosados. Desde então, estes tipos de canais
e sistemas deposicionais associados foram os que mais mereceram atenção
dos pesquisadores, demonstrando que há uma evidente correlação entre a
morfologia fluvial (forma) e os sedimentos que a compõem (materiais) que,
por sua vez, resultam dos processos que atuam, ou que já atuaram, no
sistema (Figura 10).
3.1.3. Sistemas Meândricos
O rio Pinheiros em seu estágio pré-perturbação era meandrante, de forma que
se faz necessário apresentar alguns conceitos-chave relativos aos sistemas
fluviais meândricos a fim de se ter clareza quando da apresentação dos
resultados da pesquisa.
A maior parte dos sedimentos depositados neste tipo de sistema é oriunda da
migração lateral do canal fluvial (Figura 11A) e o depósito resultante tem como
característica básica a granodecrescência ascendente (Figura 11B). Dessa
Figura 40 – Padrões de canal e sistemas deposicionais associados. Modificado de Miall (1996).
25
Figura 11 – Migração lateral em sistemas meândricos e faciologia resultante. A) Diagrama representando a construção progressiva de uma planície de inundação, modificado de Knighton (1998). B) Modelo faciológico de deposição de rios meandrantes, modificado de Walker (1983).
forma, cada pacote que representa a granodecrescência ascendente pode ser
considerado como um ciclo de deposição meândrico, resultado da migração
lateral do canal e subsequente formação da planície de inundação, até que o
canal retorna a este ponto e dá início a um novo ciclo de deposição (nos casos
onde a planície de inundação passa por um processo de acumulação vertical).
O mapeamento geomorfológico da planície fluvial do rio Pinheiros tem como
base os três subsistemas fluviais típicos de um sistema meândrico, conforme
Leopold et al. (1964, p. 317), Tricart (1966), Christofoletti (1974 e 1981) e
Bridge (2003) (Figuras 12 e 13):
Figura 12 – Croqui esquemático de uma planície fluvial com os subsistemas e formas associadas. Org.: Rodolfo Luz.
Ciclo
26
Figura 13 – Bloco diagrama mostrando os principais elementos morfológicos dos sistemas meândricos. Modificado de Walker (1983).
Subsistema do canal fluvial2
Corresponde ao leito menor da planície, zona que contem os caudais habituais
do rio. É onde ocorre a vazão de margens plenas (vazão que preenche o leito
menor do canal fluvial, acima da qual ocorrerá o transbordamento para a
planície de inundação). Apresenta as seguintes unidades morfológicas:
- Canal ativo: que em sistemas meândricos possuem uma seção
transversal assimétrica em seus trechos curvos, com uma margem
côncava e profunda onde o fluxo é mais rápido e uma margem convexa
e rasa onde o fluxo é mais lento.
- Meandros ou canais abandonados (oxbow): que representa os trechos
abandonados das curvas meândricas que, ao serem separados do canal
ativo do rio, passam a sofrer processos de colmatação. O grau de
colmatação destes meandros pode representar a escala evolutiva dos
abandonos (SANTANA, 2008, p. 45) que pode ocorrer de três maneiras
(Figura 14): 1) pelo encurtamento do meandro; 2) pela separação do
meandro em função do corte do pedúnculo (cutoff) e; 3) pelo
2 Optou-se por utilizar o termo “canal fluvial” para diferenciá-lo da terminologia “canal”, que muitas
vezes se refere a canais artificializados, como é o caso do canal do Pinheiros, conforme terminologia
adotada pela Empresa Metropolitana de Águas e Energia S. A. (EMAE) (fonte: www.emae.sp.gov.br/
canais.htm).
27
deslocamento súbito de uma parte ou conjunto do canal meândrico
(avulsão) (CHRISTOFOLETTI, 1981, p. 233).
- Barras de acresção lateral (point bars): ambiente de deposição nas
margens convexas dos canais ativos, compostas por sedimentos
grosseiros (principalmente areais) depositados numa primeira etapa de
sedimentação recobertos por sedimentos mais finos depositados numa
segunda etapa de evolução por correntes secundárias (NANSON, 1980,
p. 24) (Figura 15);
Subsistema da planície de inundação
Corresponde ao leito maior, que é regularmente ocupado pelas cheias. A vazão
de margens plenas demarca a descontinuidade entre este subsistema e o do
canal fluvial. Em sua maior parte, é formada por sedimentos grossos advindos
da movimentação lateral do canal fluvial, cobertos por sedimentos finos
advindos da carga suspensa das águas de cheia (MACKIN, 1937 apud
LEOPOLD et al., 1964, p. 323). Apresenta as seguintes unidades morfológicas:
Figura 14 – Tipos de abandonos de canal em sistemas meândricos. Modificado de Christofoletti (1981).
Figura 15 – Sedimentação de uma barra de acresção. Formação de uma zona de separação adjacente à margem convexa e deposição de finos. Modificado de Nanson (1980).
28
- Cordões marginais convexos ou arco meândrico (meander scrolls ou
ridge-swale): saliências e depressões nas margens convexa das curvas
meândricas formados à medida que o canal fluvial migra lateralmente
em direção a margem côncava, devido à acresção lateral;
- Diques marginais (levee): cristas ou saliências formadas acima da
superfície da planície de inundação e adjacentes ao canal fluvial,
geralmente contendo material de maior granulometria depositado
durante as fases de transbordamento;
- Bacias de inundação (backswamp ou floodbasin): terrenos baixos
localizados entre os diques marginais e os terraços ou vertentes onde
predominam depósitos de sedimentos finos;
- Depósitos de rompimento de dique (crevasse splay): depósitos formados
durante as cheias a partir do rompimento dos diques marginais.
Subsistema dos terraços fluviais
Constituem planos horizontais ou subhorizontais topograficamente mais altos
que a planície de inundação, onde as águas de inundação raramente
alcançam. Pode ser definido como antigas planícies de inundação que foram
abandonadas, sendo composto então pelos materiais sedimentares típicos
destas planícies (LEOPOLD et al., 1964, p. 459).
Fundamentalmente, a formação de terraços ocorre por dois tipos de controles,
que podem atuar de maneira individual ou conjunta (RICHARDS, 1985, p. 275):
1) mudanças no nível de base relativo3; 2) variações na vazão e na carga
sedimentar imposta pela bacia hidrográfica. Estes controles podem ser
resultados tanto de mudanças climáticas quanto de alterações tectônicas, e
geram sequências evolutivas que possibilitam arranjos diversos entre os
terraços (CHRISTOFOLETTI, 1981, p 255-258).
3 Nível de base , no caso dos rios, é considerado o nível máximo onde um canal pode ser efetivamente
erosivo, controlando toda dinâmica erosiva e sedimentar que ocorre a montante deste nível, ou seja, o
ponto limite abaixo do qual a erosão das águas correntes não pode trabalhar (GUERRA, 1980, p. 303;
GOUDIE, 2006, p. 62; OSTERKAMP, 2008, p. 8).
29
O mapeamento destas unidades morfológicas de cada subsistema fluvial
meândrico gera informações que podem ser aproveitadas por estudos de
geomorfologia fluvial quantitativa como, por exemplo, os parâmetros
geométricos dos canais meândricos (Figura 16).
Figura 16 – Principais parâmetros geométricos de um canal meândrico. Modificado de Christofoletti (1974) e Mangelsdorf et al. (1990).
Uma das aplicações possíveis deste tipo de parâmetro, e que foi explorada na
presente pesquisa, é a que se utiliza dos aspectos geométricos de meandros
abandonados para interpretações cronológicas e paleoambientais
(CHRISTOFOLETTI, 1974, p. 73).
Dentre estes parâmetros foi utilizado na pesquisa a largura do canal (w) e o
índice de sinuosidade (Is), que é a relação entre o comprimento do canal e o
comprimento do eixo do vale (Equação 1).
Is = (1)
Tendo em vista que: 1) a sinuosidade do canal pode ser reflexo tanto do tipo de
carga sedimentar (SCHUMM, 1963) quanto de movimentos tectônicos e
controles litológicos, e que; 2) a área de estudo possui um contexto tectônico
regional importante; entende-se que a tectônica pode ser um elemento
explicativo na interpretação morfogenética da planície fluvial meândrica do rio
Pinheiros quando baseada em diferenças entre os parâmetros geométricos de
canais ativos e abandonados.
Estudos experimentais de laboratório realizados com o objetivo de verificar a
influência de movimentações tectônicas lentas, ou de ocorrências de litologias
mais resistentes dentro de uma planície fluvial meândrica indicam algumas
30
tendências de transformações no sistema, como pode ser visto em Ouchi
(1985) e Shumm et al. (2002) (Figura 17).
Figura 17 – Experimentos de laboratório que mostram a influência da estrutura geológica (tectônica e litologia) em canais meândricos.
31
3.2. PROCEDIMENTOS
As etapas da pesquisa podem ser visualizadas no fluxograma abaixo, e foram
divididas em levantamento dos dados, sistematização e análise:
3.2.1. Levantamento dos dados
3.2.1.1. Dados cartográficos
A escala adotada (1:20.000), além de enquadrar-se no objetivo do estudo, foi
condizente ao material aerofotográfico existente e consultado. A principal fonte
cartográfica utilizada para os mapeamentos foram as plantas elaboradas pela
32
empresa SARA BRASIL S/A (1930) na escala de 1:20.000, onde foi obtida a
base cartográfica da região antes da retificação do canal fluvial e do
aterramento da planície de inundação do rio Pinheiros. Essas plantas foram
adquiridas no Laboratório de Aerofogeografia e Sensoriamento Remoto
(LASERE) do Departamento de Geografia (FFLCH-USP).
Mapeamentos realizados pelo Governo do Estado de São Paulo através da
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA) nas escalas de
1:2.000, 1:10.000 e 1:25.000, das décadas de 1970 e 1980 e que formam parte
do Sistema Cartográfico Metropolitano foram consultados quando houve
necessidade de um maior detalhamento. Apesar desses mapeamentos serem
relativos a momentos de pós-perturbação eles auxiliaram na resolução de
dúvidas em setores localizados da área. Estas cartas foram adquiridas na
mapoteca do Departamento de Geografia (FFLCH-USP) e nos acervos da
Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A (EMPLASA).
Para a produção da carta geomorfológica de detalhe foram utilizadas aerofotos
em escalas de 1:5.000, 1:12.500 e 1:25.000, obtidas em arquivos históricos
sistematizados pelas pesquisas arquivísticas de Rodrigues (2001b) e Carvalho
(2006) e adquiridas na Fundação Energia e Saneamento. O Quadro 1 e a
Figura 18 apresentam estas aerofotos.
Data Levantamento Escala Faixa / Região Nº das
fotografias Fonte
1933 Serviço 62. 1:5.000 Rio Pinheiros e bairros adjacentes.
35785 a 35787 e 35794 a 35810.
Fundação Energia e Saneamento
1938 Serviço 58. 1:5.000 Região da Praça Panamericana.
142, 143, 145, 146 e 188
Fundação Energia e Saneamento
1949 Serviço 62. 1:12.500 Rio Pinheiros e bairros adjacentes.
06 a 20, 31, 38, 59 e 60
Fundação Energia e Saneamento
1953/54 Cidade de São Paulo
1:25.000 Faixas 3, 4 e 5 55, 68, 70, 95.
Arquivo de Fotografias Aéreas do Dep. de Geografia da USP (AFA-USP)
Quadro 1: Fotografias aéreas utilizadas.
33
Por se tratar de um mapeamento restrito ao sistema fluvial, foram buscadas
referências aos elementos fluviais em legendas dos seguintes estudos:
Savigear (1965), Tricart (1965), Coutard et al. (1978), Dackombe & Gardiner
(1983), Hart (1986), Lima (1990) e Estaiano (2007).
Entretanto, devido à escala adotada, o maior detalhamento da morfologia fluvial
e de sua representação foi orientado pelo estudo de Santana (2008), do qual foi
baseada a maior parte da legenda utilizada. Além disto, este estudo também
orientou algumas das interpretações morfogenéticas aqui apresentadas, pois ele
é voltado à representação cartográfica da hidrodinâmica das inundações por tipo
de evento e, realiza correlações espaciais entre os materiais pedológicos e
sedimentológicos de um setor de uma planície fluvial meândrica do rio Ribeira de
Iguape.
A restituição morfológica foi feita com estereoscópios de bolso e de espelho
sobre as aerofotos. O principal levantamento utilizado foi o de 1933, por ser o
de maior escala e o mais antigo, onde a morfologia pré-perturbação é mais
evidente, além de apresentar sobreposição adequada para a montagem de
pares estereoscópicos. As aerofotos restantes foram utilizadas apenas para
resolução de dúvidas localizadas e para a restituição morfológica de unidades
maiores, como os terraços.
Trabalhos de campo foram realizados para aferir e sistematizar as informações
obtidas pela fotointerpretação. Devido ao caráter retrospectivo do mapeamento a
maior parte da morfologia da área encontra-se significativamente modificada em
relação àquela observada nas fotografias de 1933 e 1938. Portanto, os trabalhos
possibilitaram apenas a identificação de limites e morfologias dos terraços fluviais,
pois os elementos que ocorriam na planície de inundação e no canal do rio já se
encontram modificados e aterrados. Nesta etapa foi possível verificar, mesmo que
em caráter incipiente, o grau de modificação antrópica ocorrido na planície fluvial.
34
Figura 18 – Mapa-índice das fotografias aéreas utilizadas
35
3.2.1.2. Dados sobre os materiais superficiais
A análise dos materiais superficiais foi realizada tendo como base Suguio
(1973 e 2003); Lemos & Santos (1982); Miall (1982 e 1996); Walker (1983) e;
Whalley (1990).
A descrição das propriedades básicas dos materiais superficiais é considerada
o ponto de partida para a explicação do processo geomorfológico (WHALLEY,
op. cit., p. 112). Porém, a qualidade e validade destas descrições dependem da
quantidade e distribuição espacial das amostras, além dos procedimentos
utilizados para a sua obtenção.
As principais fontes de informação utilizadas na análise dos materiais
superficiais foram as sondagens geológicas executadas por obras de
engenharia, que foram complementadas por alguns levantamentos de campo
em escavações de obras atuais.
Aqui, faz-se necessário o esclarecimento dos problemas e das potencialidades
do uso de informações das sondagens geológicas em estudos
geomorfológicos. Tendo em vista que o grau de detalhamento necessário para
a caracterização dos materiais superficiais em pesquisas geomorfológicas é
diferente do apresentado pelas sondagens geológicas, existem algumas
deficiências intrínsecas ao próprio procedimento técnico. Essas deficiências
são decorrentes das diferenças entre as escalas de análise e entre as
terminologias de cada um dos tipos de investigação:
- A primeira deficiência é com relação à representatividade espacial da
informação, já que os furos de sondagem utilizados possuem em média
apenas 5 cm de diâmetro, fazendo com que a extrapolação lateral
destes dados tenha um elevado grau de generalização;
- Há também um elevado grau de generalização nas próprias descrições
das amostras o que não permite um maior detalhamento dos materiais
superficiais na escala de detalhe exigida pela pesquisa geomorfológica.
Além disso, a terminologia utilizada na descrição das texturas dos
sedimentos é pouco comum em investigações geomorfológicas.
36
O uso de sondagens geológicas em pesquisas de geomorfologia fluvial é
criticamente analisado por Houben (2007) que afirma que:
“...a reconstituição da arquitetura fluvial por pontos de sondagem é
um processo interativo feito por dedução. A evidência granulométrica
(mudanças verticais e laterais no tamanho dos sedimentos e
tendências apresentadas pelos limites entre corpos sedimentares) é
contra balanceada pelas propriedades petrográficas, pela geometria
presumida das litofácies e pelo espaçamento entre os elementos
arquitetônicos derivados da matriz faciológica investigada” (Houben,
2007, p. 101, tradução nossa).
Ainda segundo este autor, a interpretação morfogenética de fácies
sedimentares em ambientes fluviais passa pela classificação de discretos
corpos sedimentares tridimensionais que se diferenciam pela textura, estrutura,
geometria e localização, cada um desses corpos seria um elemento
arquitetônico fluvial (Miall, 1978 e 1996). As sondagens geológicas permitem a
identificação apenas da textura e localização. Além disso, o fato das
sondagens utilizarem a textura do material como principal atributo de definição
de limites pode gerar o equívoco de se agrupar na mesma camada
estratigráfica diferentes fácies que são similares apenas na textura.
Porém, apesar dessas deficiências, as mudanças texturais e a geometria
(bidimensional) dos corpos sedimentares podem ser consideradas a partir da
análise das sondagens, ao menos em estudos em escala de semi-detalhe
(HOUBEN, 2007, p. 98).
O acesso a obras de engenharia civil onde ocorriam escavações possibilitou a
realização de trabalhos de campo em perfis verticais representativos, que
tiveram como objetivo a descrição a partir de observações visuais, fotografias e
análises texturais táteis e a coleta de amostra para análises de laboratório.
Para as descrições diretas e coleta de amostras em campo utilizou-se das
seguintes ferramentas: trena (5 e 10m); faca de pedólogo; martelo geológico;
bússola; pá; enxadão; escadas; máquina fotográfica; sacos para coleta de
amostra e; mapas de base para consulta.
37
As análises de laboratório se limitaram aos aspectos texturais. Para tal, utilizou-
se do protocolo do LABOPED (Anexo 1) e da seguinte escala granulométrica:
Escala utilizada na análise granulométrica. Adaptação das escalas de Wentworth e do Departamento de agricultura dos Estados Unidos – USDA.
Cascalho
Areia
Silte Argila Areia muito grossa
Areia grossa
Areia média
Areia fina
Areia muito fina
4,00 2,00 1,0 0,5 0,25 0,125 0,05 0,002mm
Pedregulho Areia Grossa Areia média
Areia fina Silte Argila
Terminologia utilizada na descrição textural das sondagens geológicas
Devido às diferentes terminologias utilizadas para classificar os materiais
superficiais, foi necessário adaptar a terminologia utilizada na descrição textural
das sondagens geológicas do Metrô com a terminologia que é mais apropriada
para investigações geomorfológicas, como mostra a escala acima.
Além da terminologia específica dos sedimentos, adaptou-se também a
terminologia relativa às características do embasamento pré-cambriano. Tendo
em vista que na Engenharia o termo “solo” refere-se aos materiais da crosta
terrestre que não oferece resistência intransponível à escavação mecânica,
independente de se tratar de sedimentos ou solos pedogenéticos (VARGAS,1977,
p. 3-4), aquilo que é chamado de “solo residual” e “saprolito” do embasamento
pré-cambriano nas sondagens do Metrô, é aqui interpretado como “rocha muito
intemperizada” e “rocha medianamente intemperizada”, respectivamente.
As observações dos perfis verticais em campo e as análises de laboratório
permitiram um maior refinamento das informações das sondagens geológicas
do Metrô. Os locais das sondagens geológicas utilizadas e dos perfis verticais
observados são apresentados na Figura 19.
Os principais materiais superficiais pesquisados, seja por sondagens
geológicas ou por observação de campo e análises de laboratório, foram os
sedimentos fluviais do Pleistoceno Superior e Holoceno. Os principais
parâmetros sedimentológicos utilizados foram os granulométricos e
estratigráficos, possibilitando a compreensão da disposição geral interna dos
corpos sedimentares e externa em relação à superfície e ao embasamento
geológico (arquitetura fluvial).
(Tamanho do grão)
Seixo
38
Figura 19 – Locais das sondagens geológicas utilizadas e perfis verticais observados.
Por meio desse instrumental, a análise dos materiais superficiais também
permitiu a compreensão de parte da estrutura geológica da planície, para além
dos sedimentos mais superficiais. A partir da disposição e constituição do
embasamento da planície fluvial foram identificadas, falhas geológicas e,
principalmente, a disposição litológica do embasamento pré-cambriano,
auxiliando na interpretação geomorfológica.
Parâmetros pedológicos também são importantes na interpretação da história da
planície fluvial, como pode ser visto, por exemplo, no conceito de “pedofácies”
apresentado por Kraus & Bown (1986). Porém, eles foram pouco utilizados devido
à falta de amostras em campo e à abordagem superficial que eles recebem nas
39
sondagens geológicas. Somente análises incipientes e advindas da textura e dos
teores de matéria orgânica puderam ser abordadas do ponto de vista pedológico.
Desta maneira, foram obtidas as principais características granulométricas, a
geometria aproximada e o posicionamento estratigráfico dos corpos sedimentares.
Além disso, algumas unidades morfológicas tiveram seus materiais descritos e
algumas características pedológicas puderam ser identificadas.
3.2.2. Sistematização de Dados
A sistematização dos dados da carta geomorfológica de detalhe foi realizada
através da restituição morfológica, vetorização dos overlays obtidos sobre a
base cartográfica, sistematização da legenda, aferições de campo e edição
final. Desta maneira, foi alcançado o principal objetivo da confecção da carta,
que é o de ser um produto essencial das análises sobre o meio físico da área,
reconstituindo assim as características geomorfológicas da região antes da
perturbação antrópica.
A base cartográfica foi georreferenciada e vetorizada no software aplicado a
Sistemas de Informação Geográfica (SIG) denominado ArcView versão 9.3. A
vetorização compreendeu as curvas de nível, a hidrografia e o sistema viário.
O uso de base cartográfica e de fotografias aéreas antigas geram alguns problemas
em relação à qualidade cartográfica dos produtos obtidos, pois este material
histórico possui distorções oriundas da tecnologia utilizada na época de obtenção,
das intempéries do tempo e dos processos de escaneamento pelos quais eles
passaram para possibilitar o trabalho em meio digital (SILVA, 2005, p. 71-75).
Soma-se a isso a distorção intrínseca das fotografias aéreas em relação às
bases cartográficas. O processo de correção destas distorções é denominado
ortorretificação, e implica no conhecimento de componentes e parâmetros da
fotografia que não são passíveis de identificação nas aerofotos antigas aqui
utilizadas (OKEKE, 2006).
Sendo assim, optou-se por executar um georreferenciamento visual a partir de
elementos comuns às fotografias e à base cartográfica, como hidrografia e,
principalmente, sistema viário.
40
A sistematização dos dados das sondagens geológicas do Metrô, das
observações de campo e das análises de laboratório possibilitou a descrição e
análise dos materiais superficiais da planície fluvial do rio Pinheiros no setor
estudado. Os principais atributos utilizados nesta análise foram a distribuição, o
posicionamento, a profundidade, a espessura, a cor e a granulometria, o que
permitiu a identificação de níveis orgânicos, argilosos, arenosos, de cascalhos e
de seixos.
Todas estas informações, obtidas por meio de diferentes técnicas e
documentos, foram articuladas para que os produtos gráficos e cartográficos
finais fossem produzidos.
3.2.3. Análises e Correlações
A análise geomorfológica da planície fluvial do rio Pinheiros foi realizada
levando-se em consideração os preceitos da Geomorfologia Fluvial,
especificamente os dos “sistemas meândricos”, com base teórico-metodológica
fornecida, principalmente, pelos seguintes manuais e estudos: Leopold et al.
(1964); Christofoletti (1974 e 1981); Morisawa (1985); Richards (1985); Suguio
& Bigarella (1990); Cunha (1994); Bridge (2003) e; Knighton (1998).
Para tal, foram articuladas as informações dos seguintes níveis descritivos:
- Nível descritivo da macromorfologia dos materiais superficiais:
Identificados no perfil transversal da planície no centro da área de
estudo e que foi obtido a partir da compilação dos dados das sondagens
geológicas do Metrô. Isto possibilitou a distinção de pacotes
sedimentares na planície em sua distribuição geométrica bidimensional.
Este local foi denominado Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-
Butantã;
- Nível descritivo dos materiais superficiais: A partir de análises de
sondagens geológicas diversas e de observações diretas em perfis
verticais expostos em escavações de obras de Engenharia Civil, onde
foram realizadas. Dois locais foram alvo deste tipo de observação: Rua
Diogo Moreira e Rua Seridó;
41
- Nível descritivo das formas, oriundo do levantamento das unidades
morfológicas, realizado a partir da fotointerpretação da planície fluvial do
rio Pinheiros.
O nível interpretativo da pesquisa foi alcançado a partir das correlações
espaciais dos parâmetros da investigação geomorfológica destes níveis
descritivos. Essa correlação possibilitou a identificação de processos
geomorfológicos, o que tornou possível:
- a identificação da morfodinâmica das unidades morfológicas fluviais em
seus aspectos erosivos/deposicionais, pedogênicos e hidrodinâmicos;
- a identificação de uma provável sequência de eventos geomorfológicos
atuantes no setor estudado durante o Pleistoceno Superior e o
Holoceno.
42
4. RESULTADOS
4.1. NÍVEL DESCRITIVO E ANALÍTICO
4.1.1. Formas: unidades morfológicas identificadas
As formas identificadas na planície fluvial do rio Pinheiros na área estudada
foram sistematizadas em unidades morfológicas conforme o subsistema a que
pertencem, de acordo com a estrutura de legenda de Santana (2008) e das
sistematizações de Tricart (1965 e 1966), Christofoletti (1974 e 1981); Coutard
et al. (1978), Dackombe & Gardiner (1983), Hart (1986), Lima (1990) e
Estaiano (2007) (Figura 20).
Nessa etapa da pesquisa os limites laterais da área de estudo foram
redefinidos, já que somente a fotointerpretação torna possível diferenciar os
terrenos do sistema fluvial dos terrenos do sistema vertente, demarcados por
descontinuidades côncavas, seja angular (ruptura), seja curva (mudança)
(SAVIGEAR, 1965, p. 515). Na margem esquerda há rupturas perceptíveis que
demarcam o limite entre a planície fluvial e os morros sobre rochas pré-
cambrianas. Já na margem direita há mudanças no contato com os terraços de
nível intermediário e rupturas no contato com as altas colinas (AB’SABER,
1957), ambos sobre os sedimentos terciários.
Em seus aspectos gerais, percebe-se uma particularidade no limite entre o
subsistema da planície de inundação e dos terraços fluviais. Há uma nítida
redução da extensão lateral da planície de inundação na região central do mapa,
assinalando um setor de estreitamento dessa planície em relação aos terraços
fluviais. A planície de inundação que apresenta uma extensão lateral média de
1400 metros é reduzida neste setor para cerca de 190 metros.
A Figura 21 e a Tabela 1 apresentam as medidas da largura média do canal e
do índice de sinuosidade do rio Pinheiros em seus trechos a montante e a
jusante deste setor de estreitamento da planície de inundação.
Tabela 2 – Índice de sinuosidade e largura do canal a montante e a jusante do setor de estreitamento da planície de inundação do rio Pinheiros.
Largura média (metros) Índice de sinuosidade (Is)
Trecho montante 25,23 2,05
Trecho jusante 28,06 1,73
Total 26,64 1,91
43
Figura 20 – Unidades morfológicas da área.
44
A seguir são apresentadas as unidades morfológicas identificadas pelo
mapeamento em cada subsistema fluvial meândrico:
Subsistema dos terraços
Os terraços fluviais possuem limites bem marcados com a planície de
inundação e correspondem aos “baixos terraços fluviais” de Ab’Saber (1957) ou
ao “baixo terraço” de Petrone (1963). No trecho mapeado esses terraços
estariam originalmente em cotas topográficas acima de 724 metros, e são de
ocorrência contínua e extensa na margem direita, enquanto que na esquerda
são descontínuos e de menor expressão espacial.
Figura 21 – Aspectos geométricos do canal do rio Pinheiros e meandros abandonados.
45
Subsistema da planície de inundação
A planície de inundação atinge cotas topográficas entre 720 e 722 metros e foi
subdividida em:
- Diques marginais – definidos principalmente pelos seus aspectos
tridimensionais visualizados em estereoscopia, onde se configuram
como elevações ao longo das margens do canal fluvial ativo ou
abandonado.
- Cordões marginais – se apresentam como alinhamentos subparalelos as
margens dos canais onde a vegetação tem um maior porte arbóreo. Foram
subdivididos conforme a sua localização em: 1) cordões sub-atuais, que
são testemunhos de processos de migração lateral do canal fluvial ativo do
rio Pinheiros e; 2) cordões remanescentes, que testemunham processos
mais antigos ocorridos quando os canais abandonados eram ativos.
- Backswamps (Planície de inundação isolada) - Terrenos isolados mais
baixos que os do entorno, apresentando maior umidade devido à
proximidade do lençol freático e com vegetação rasteira e de pequeno
porte.
O restante da planície de inundação foi compartimentada em dois níveis
altimétricos. O Nível 2 se trata de pequenas elevações que não apresentam
rupturas com o Nível 1, apenas uma mudança muito suave e, algumas vezes,
de difícil delimitação. Em alguns locais o nível 2 se configura como uma rampa
suave entre o nível 1 e os terraços fluviais, principalmente na margem direita
do rio. Ab’Saber (1957, p.148) indica a existência destes diferentes níveis
(planície de inundação sujeita a inundações anuais para o nível 1, e planície de
inundação sujeita apenas às grandes cheias para o nível 2).
Algumas elevações isoladas próximas a altitude do nível 2 foram classificadas
como “elevações indiferenciadas” por não terem continuidade lateral expressiva.
Subsistema do canal
- Barras laterais – localizam-se nas margens do canal fluvial ativo e foram
classificadas como: 1) secas, onde as águas do canal não as cobrem,
46
formando praias e apresentando cores bem claras, próximas ao branco e; 2)
úmidas, onde as águas as cobrem, porém é possível verificar que o canal é
bastante raso.
Os cordões marginais presentes na planície de inundação são antiga barras
laterais.
- Meandros abandonados – foram subdivididos de acordo com o grau de
colmatagem, identificado na fotografia aérea através da umidade do meandro.
Cores claras indicam terrenos secos e já colmatados, enquanto as cores
escuras indicam setores úmidos e em processo de colmatação.
O local onde os meandros abandonados são mais expressivos, chegando a
formar um paleocanal com 2,83 km de extensão, está à montante do setor de
estreitamento da planície de inundação, na porção sul da carta na margem
esquerda do rio Pinheiros. Este paleocanal tem em média 20 metros de largura
e 3,20 de índice de sinuosidade (Is) (Figura 21).
A partir dos meandros abandonados foi possível delimitar o cinturão de
meandros, que corresponde a área na qual o rio deslocou-se lateralmente e
que se localiza totalmente no nível 1 da planície de inundação.
4.1.2. Materiais correlacionados as formas
Os materiais superficiais aqui descritos se dividem entre os do eixo da Linha 4
– Amarela do Metrô, denominado “Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-
Butantã” e os de outros dois locais onde foi possível o acesso às escavações
que ali ocorriam, Rua Diogo Moreira e Rua Seridó (Figura 22).
4.1.2.1. Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã
Optou-se por esta denominação devido ao fato deste perfil localizar-se entre
esses dois bairros paulistanos. Trata-se de uma seção aproximadamente
transversal da planície fluvial com pouco mais de 2,9 km de extensão
elaborada a partir da compilação e análise de informações de sondagens
geológicas realizadas pelo Metrô de São Paulo (Anexo 2) e da correlação deste
perfil com as unidades morfológicas anteriormente descritas (Figura 22).
47
48
Pode-se visualizar no Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã a
estrutura superficial e sub-superficial de parte da planície fluvial do rio
Pinheiros, englobando os materiais dos três subsistemas: canal fluvial, planície
de inundação e terraços. As transições e descontinuidades entre os pacotes
sedimentares são representadas de forma bidimensional, apresentando parte
da arquitetura fluvial da planície (MIALL, 1978 e 1996).
Na descrição que segue, as distâncias consideradas têm como base a leitura
do Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã no sentido NE-SO, ou seja,
da região próxima a Rua Matheus Grou no bairro de Pinheiros em direção a Av.
Dr. Vital Brasil, já no Butantã. Este ponto inicial é aqui denominado de “Ponto
0”. Entre o Ponto 0 e o fim do perfil são percorridos cerca de 2900 metros.
Subsistema dos terraços fluviais
É o subsistema de maior expressão no perfil. Na margem direita do canal fluvial
ele é mais extenso (cerca de 2 km de extensão) e possui altitude média de
pouco mais de 730 metros. Na margem esquerda ele é menor, com pouco mais
de 200 metros de extensão e altitude média de 725 metros.
Ambas as margens apresentam terraços em rampas, com declividades em
torno de 0,66% no topo que aumentam progressivamente em direção a planície
de inundação, chegando a 3% de declividade nas bordas dos terraços.
1) Terraço fluvial da margem direita
De acordo com o perfil construído, nos setores mais distantes do canal fluvial e
da planície de inundação os terraços fluviais da margem direita não
apresentam sedimentos quaternários de forma contínua e expressiva, estando
a maior parte dos depósitos tecnogênicos assentada diretamente sobre os
sedimentos de idade terciária da Formação Resende. A ocorrência de
sedimentos quaternários é restrita, e está associada aos locais onde pequenos
afluentes cortam o Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã, como é o
caso da região entre as ruas Matheus Grou e Mourato Coelho, pouco abaixo de
740 metros de altitude.
49
Os sedimentos quaternários ganham continuidade a cerca de 1100 metros do
Ponto 0, em local próximo a Av. Brig. Faria Lima, ainda sobre a Formação
Resende. Porém, nota-se também a maior proximidade do embasamento pré-
cambriano, que, neste ponto, está numa profundidade de 15 metros (na forma
de rocha intemperizada).
A partir deste local a Formação Resende vai progressivamente tornando-se
menos espessa até cerca de 1360 metros de distância do Ponto 0, onde os
sedimentos quaternários já estão assentados diretamente sobre o
embasamento pré-cambriano intemperizado. Daí em diante não há mais
registros da Formação Resende no Perfil Pinheiros-Butantã, estando a camada
de rocha sã do embasamento pré-cambriano a uma cota média de 710 metros
(cerca de 20 metros abaixo da superfície do terraço).
Os sedimentos quaternários ocorrem de forma mais contínua a partir de 1100
metros do Ponto 0, e possuem, em média, 5 metros de profundidade.
Primeiramente, apresentam-se em camadas de sedimentos finos com matéria
orgânica (classificada pelas sondagens do Metrô como “argila siltosa com
matéria orgânica disseminada”) sobre uma camada arenosa e sem matéria
orgânica (classificada pelas sondagens como “areia fina e média argilosa”).
A camada do topo, ainda com predomínio dos finos, registra a presença de
areias a cerca de 1430 metros do Ponto 0 até cerca de 1550 metros de
distância, quando ela se espessa e atinge o embasamento cristalino em
substituição da camada mais arenosa inferior.
Após este ponto a declividade na superfície aumenta de 0,66% para 1%, e a
camada arenosa inferior torna a aparecer. A camada superior continua a
apresentar matéria orgânica e textura mais fina que a inferior, porém, com
registro de “pedregulhos” (cascalhos e seixos). A cerca de 1720 metros do ponto
0, a camada superior de sedimentos mais finos desaparece, restando somente a
camada arenosa da base, que ocorre até cerca de 1860 metros de distância.
Neste ponto não há mais registros de sedimentos quaternários e as rochas
intemperizadas do embasamento pré-cambriano alcançam a superfície,
50
justamente quando esta aumenta sua declividade para 3%, já no limite entre o
terraço fluvial da margem direita do rio Pinheiros e a planície de inundação.
Neste terraço fluvial foram realizados levantamentos de campo em dois pontos,
um na Av. Faria Lima, denominado “Perfil Vertical FL” e outro na Rua Ferreira
de Araújo, denominado “Perfil Vertical FA”.
O Perfil Vertical FL é apresentado na Figura 23 e Prancha 1.
No Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã ele localiza-se a cerca de
1240 metros de distância do Ponto 0. Neste local, as sondagens do Metrô
indicam para o Quaternário a seguinte disposição: depósitos tecnogênicos até
cerca de 1,5 metros de profundidade; camada superior argilo-siltosa entre 1,5 e
3,5 metros e; camada arenosa entre 3,5 e 5,5 metros.
Aumentando a escala de observação através do Perfil Vertical FL, detalhamos
então esta composição estratigráfica.
Verificou-se por meio da caracterização táctil-visual que os depósitos
tecnogênicos são compostos por piso, asfalto e camadas alaranjadas e
avermelhadas de aterros contemporâneos as obras de construção da avenida.
A camada superior argilo-siltosa com matéria orgânica que consta no Perfil
Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã é subdividida em: uma fina camada
argilosa e negra sobre; sedimentos argilosos cinza-escuro sobre; sedimentos
areno-argilosos cinza sobre; areno-argilosos cinza-claro.
A camada arenosa inferior é representada por sedimentos arenosos sobre uma
camada de cascalhos e seixos, ambos em tonalidades claras. Portanto, aquilo
que é chamado de “areias finas a médias argilosas” pelas sondagens do Metrô
aparece no Perfil Vertical FL como areias sobre cascalhos e seixos.
Este perfil vertical nos mostra claramente que, abaixo dos depósitos
tecnogênicos há um aumento gradual das frações granulométricas em direção
a base, acompanhado de uma diminuição no teor de matéria orgânica
representada também pela diminuição gradual das tonalidades escuras.
51
Fig
ura
23
– P
erf
il V
ert
ical F
L.
52
Prancha 1: Perfil Vertical FL.
Vista geral da escavação do Metrô com destaque para o contato entre os depósitos tecnogênicos e os sedimentos fluviais. Este local era atravessado pela Av. Faria Lima antes da obra.
Detalhe do contato entra a camada de seixos da base e a camada arenosa superior sobrejacente.
Detalhe dos seixos in situ.
Diferentes profundidades de impacto nos materiais pré-perturbação evidenciadas pelo contato entre os depósitos tecnogênicos e os sedimentos fluviais. À esquerda, onde era a Av. Faria Lima, a espessura dos depósitos tecnogênicos é maior, ao contrário da direita, onde se localizava o calçamento e as edificações do bairro.
Foto: Rodolfo Luz (Mar/2006)
Foto: Rodolfo Luz (Mar/2006)
Foto: Rodolfo Luz (Mar/2006)
Foto: Rodolfo Luz (Mar/2006)
53
O Perfil Vertical FA é apresentado na figura 26 e Prancha 2.
No Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã ele se localiza a cerca de
1770 metros de distância do Ponto 0, onde as sondagens do Metrô indicam
que os depósitos tecnogênicos atingem cerca de 1 metro de profundidade, e a
camada de sedimentos quaternários é representada somente pela camada de
areia fina a média argilosa até cerca de 4,1 metros.
O Perfil Vertical FA detalha a estratigrafia deste ponto. Nele vemos que o
depósito tecnogênico é composto apenas por uma fina camada de piso de uma
residência com pouco mais de 14 centímetros, diferentemente do 1 metro de
espessura apresentado pelas sondagens do Metrô. A camada de sedimentos
arenosos quaternários (“areia fina a média argilosa”) é representada por várias
camadas que com grande variação de cores e textura.
Além da camada tecnogênica (camada 1), foram identificadas por
caracterização táctil-visual e análise granulométrica mais 9 camadas no Perfil
Vertical FA, sendo:
- De 0,14 a 1,30 m: Duas camadas superiores arenosas (mais de 70%
de areia), com predomínio das areias finas e médias, cores escuras,
raízes e relativo aumento nos teores de argila, que aumenta de 13% na
camada superior para 18% na inferior. Estas camadas apresentam
características típicas de horizontes onde atuam processos pedológicos,
como fracas estruturas em blocos, matéria orgânica e provável
ocorrência de processos de acumulação por iluviação de argila. Na
camada mais superior foram encontrados fragmentos antrópicos como
acrílico e cerâmica.
- De 1,30 a 2,20 m: Quatro camadas intermediárias brunas e
acinzentadas e com granulometria bastante variada, como pode ser visto
na mudança abrupta que há entre os valores de areias e cascalhos a
cerca de 1,60 m de profundidade (aumento de 20 % nas areias e
diminuição de 35% de cascalhos). As camadas inferiores, apesar de
apresentarem cores semelhantes as das duas superiores, têm a
granulometria diferente, apresentando o aumento gradual nos valores de
54
cascalhos (de 33 para 37%) e uma diminuição nos de argila e silte (de 14
para 10%). Os valores de areia são semelhantes (em torno de 52%).
- De 2,20 a 2,60 m: Três camadas inferiores com baixos teores de silte e
argila e predomínio de areias grossas e cascalhos. As duas camadas
superiores são mais amareladas do que a inferior, que já se apresenta
bastante clara, indicando um ambiente redutor devido a presença de
água do lençol freático.
Portanto, parece que as camadas pedológicas superiores do Perfil Vertical FA
foram consideradas como depósitos tecnogênicos pelas sondagens do Metrô
(Figura 24). Abaixo destas, o Perfil Vertical FA apresenta camadas
intermediárias de tonalidades brunas e cinzas sobre as camadas amarelas e
claras da base. Do ponto de vista granulométrico, as camadas abaixo das
pedológicas não apresentam continuidade, ocorrendo algumas mudanças
abruptas entre as texturas de camadas adjacentes.
No geral, as 7 camadas inferiores do Perfil Vertical FA apresentam predomínio
de cascalhos e areias grossas e, assim como no caso do Perfil Vertical FL,
compreendem a camada de “areia fina e média argilosa” nas sondagens do
Metrô.
55
Fig
ura
24 –
Perf
il V
ert
ical F
A.
56
Prancha 2: Perfil Vertical FA.
Vista geral do perfil. Notar a diferenciação entre as cores: Camadas escuras superiores, brunas intermediárias e claras inferiores.
Pequenas raízes nas camadas orgânicas superiores.
Cascalhos da camada mais superior. Notar fragmentos antrópicos (acrílico e cerâmica).
cerâmica
acrílico
Foto: Rodolfo Luz (Fev/2010)
Foto: Luiz Franco (Mai/2005)
Foto: Luiz Franco (Mai/2005)
57
Terraço fluvial da margem esquerda
A cerca de 2700 metros de distância do Ponto 0 do Perfil Morfo-sedimentológico
Pinheiros-Butantã ocorre o limite entre a planície de inundação e o terraço fluvial
da margem esquerda. Assim como no caso da margem direita, neste limite
também há afloramento do embasamento pré-cambriano intemperizado.
Os sedimentos quaternários ocorrem a cerca de 2720 metros Ponto 0, abaixo
de depósitos tecnogênicos que possuem 3 metros de espessura em média.
Estes sedimentos quaternários são diferenciados em duas camadas pelas
sondagens do Metrô: 1) areia fina e média argilosa superior, com cerca de 4
metros de espessura sobre; 2) areia média e grossa argilosa com pedregulhos,
com cerca de 3 metros de espessura.
No limite entre o terraço e o sistema vertente a rocha sã do embasamento pré-
cambriano aproxima-se da superfície, ultrapassando a cota de 720 metros, a
apenas 5 metros de profundidade.
Assim como na margem direita, as texturas mais grosseiras também ocorrem
na porção inferior do pacote sedimentar quaternário. Porém, os sedimentos da
margem esquerda são, no geral, mais grosseiros do que os da direita, e não
apresentam matéria orgânica.
Aspectos gerais da correlação entre os terraços fluviais e os materiais
superficiais
Foram utilizados dois diferentes levantamentos para a análise do nível descritivo
dos materiais superficiais dos terraços do Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-
Butantã. A leitura integrada entre os dados oriundos ora de sondagens geológicas,
ora de levantamentos de perfis verticais em campo e laboratório, além de permitir
algumas considerações a respeito destes materiais superficiais, permite também a
análise das diferenças entre os dados obtidos por cada levantamento.
Os perfis verticais de campo (FL e FA) indicam que a camada descrita nas
sondagens do Metrô como “areia fina e média argilosa” apresentariam, na
realidade, predomínio de areias grossas e cascalhos. Isso é mais evidente nos
setores mais inferiores, onde essas sondagens indicam a presença de
“pedregulhos”. Esta diferença mostra as deficiências do uso das sondagens
58
para análises interpretações morfogenéticas, como atentado anteriormente e
demonstrado por Houben (2007).
Mesmo assim, ao analisar essas informações conjuntamente numa escala de
menor detalhe, pode-se considerar que este setor do subsistema dos terraços
fluviais do rio Pinheiros apresenta as seguintes características:
- Terraços relativamente mais amplos e mais altos na margem direita do
rio do que na esquerda;
- Na margem direita, pouca representatividade dos sedimentos
quaternários nas regiões mais distantes da planície de inundação e do
canal, e predomínio dos materiais superficiais identificados como
sedimentos da Formação Resende;
- Nestas regiões mais distantes da planície de inundação e do canal as
ocorrências de sedimentos quaternários estão associadas a canais
fluviais afluentes do rio Pinheiros e que atravessam os terraços, como é
o caso da região entre as ruas Matheus Grou e Mourato Coelho.
- No geral, sedimentos quaternários preferencialmente sobre as rochas
intemperizadas do embasamento pré-cambriano (solo residual). Na
margem direita os sedimentos quaternários atingem em média 4 metros
de espessura, e na esquerda são mais espessos, atingindo até 7 metros
de espessura.
- No geral, os materiais superficiais identificados como sedimentos
quaternários apresentam uma tendência de diminuição da quantidade de
areias e cascalhos em direção à superfície, acompanhado de um
aumento no teor de matéria orgânica. Esta granodecrescência
ascendente é clara no Perfil Vertical FL, corroborando com a
interpretação de gênese fluvial desses níveis;
- Ausência significativa de sedimentos quaternários nos limites entre os
terraços fluviais e a planície de inundação. Nestes locais há o
afloramento do embasamento pré-cambriano. Isso permite a proposição
de que estes terraços fluviais sejam classificados como “terraços
59
rochosos” (strath terraces), conforme Christofoletti (1981, p 255-258) e
Goudie (2006, p. 1041), mesmo não apresentando todas as
características que comumente estão associadas a este tipo de terraço.
- Depósitos tecnogênicos menos espessos na margem direita (média de
1 metro) do que na esquerda (média de 3 metros).
Subsistema da planície de inundação
Localiza-se entre as distâncias de 2000 e 2700 metros do Ponto 0, sendo
intercalado por unidades morfológicas do canal fluvial. Na margem direita do canal
ativo alcança a altitude de 722 metros, enquanto que na margem esquerda se
mantém próximo a altitude de 720 metros. A camada de rocha sã do
embasamento mantém a cota média de 710 metros, porém se eleva em alguns
locais, alcançando a cota de 716 metros onde está o canal retificado do Pinheiros.
O mapa morfológico indica um pequeno trecho do nível altimétrico 2 da planície
de inundação entre 2450 e 2500 metros, porém nenhuma distinção entre os
materiais superficiais é apresentada pelas sondagens do Metrô entre este nível
e o restante da planície de inundação que está no nível 1.
Os depósitos tecnogênicos possuem de 1 a 2 metros de profundidade em
média. A cerca de 2060 metros de distância do Ponto 0 há um depósito
tecnogênico de 6 metros de espessura, formando uma elevação de cerca de 5
metros na superfície.
Sedimentos quaternários são registrados na maior parte da planície de inundação,
com uma espessura média de 4 metros. Somente a cerca de 2590 metros do
Ponto 0, nas proximidades da Av. Valdemar Ferreira, é que eles não ocorrem.
A maior parte dos sedimentos quaternários são descritos como “areia fina e
média argilosa” pelas sondagens do Metrô, porém podem se tratar de
sedimentos mais grosseiros, onde predominam areias grossas e cascalhos,
como visto nos perfis verticais “FL e “FA”.
Apenas um local da planície de inundação apresenta camadas diferentes. Este
local está no limite da planície de inundação com o terraço fluvial da margem
direita (2000 metros do Ponto 0, altura da Rua Gilberto Sabino) e registra a
60
ocorrência de sedimentos mais finos, caracterizados como argilas siltosas ou
arenosas com matéria orgânica. Inclusive, a camada mais fina de todas se localiza
na base do Quaternário, abaixo da camada arenosa e em contato direto com o
embasamento pré-cambriano, ao contrário do que foi visto nos terraços fluviais,
onde não há registros da ocorrência de sedimentos finos em camadas inferiores.
A interpretação geomorfológica destes sedimentos finos isolados dentro da
planície de inundação ficou comprometida pela falta de informações
morfológicas seguras do local, já que ele se encontra numa zona não recoberta
pelo principal aerolevantamento utilizado (1933).
Subsistema do canal fluvial
Ocorre dentro da planície de inundação em duas unidades morfológicas:
1) Canal fluvial ativo
Entre 2110 e 2210 metros do Ponto 0, correspondendo ao local onde há os
registros mais profundos de sedimentos quaternários no perfil, que atingem a
cota de 713 metros.
Os depósitos tecnogênicos possuem de 1,5 a 2,5 metros de profundidade e os
sedimentos quaternários registrados correspondem a camada mais típica do
perfil, que é a de “areia fina e média argilosa” que, provavelmente, apresenta
sedimentos mais grosseiros como visto nos perfis verticais “FL” e “FA”.
O que mais chama a atenção neste trecho é o retorno das formações terciárias
entre os depósitos quaternários e o embasamento pré-cambriano. Neste local
foi identificado um pacote de sedimentos terciários com cerca de 14 metros de
espessura e que atinge a cota de 702 metros (20 metros abaixo da superfície).
As sondagens do Metrô associam estes sedimentos à Formação Resende,
porém, algumas características fazem com que ela seja associada à Formação
Itaquaquecetuba (RICCOMINI et al., 2004, p. 401-402), como segue:
- ocorrência espacial diretamente relacionada ao canal ativo do rio
Pinheiros em sua fase pré-perturbação;
- ocorrência sobre as rochas sãs do embasamento cristalino;
61
- nenhuma relação estratigráfica com as unidades paleógenas anteriores
(Formação Resende e Formação São Paulo).
É importante ressaltar nestes sedimentos terciários aqui interpretados como
fazendo parte da Formação Itaquaquecetuba, a forma de canal identificada pelas
sondagens do Metrô (Figura 25). Isto indica que provavelmente houve neste setor
uma ação de incisão fluvial sobre as rochas do embasamento pré-cambriano, que
resultou nos depósitos fluviais terciários da Formação Itaquaquecetuba, e que
foram posteriormente recobertos pelos sedimentos fluviais quaternários do rio
Pinheiros.
Figura 25 – Formação Itaquaquecetuba no Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã.
62
Meandros abandonados
Ocorrem em dois locais, entre 2240 e 2270 metros e entre 2340 e 2400 metros
de distância do Ponto 0. No primeiro local não há registros válidos sobre os
materiais superficiais, pois ele já havia sido escavado durante a retificação e
instalação canal do Pinheiros.
Resta apenas o registro do segundo local, onde a superfície de contato entre
os depósitos tecnogênicos e os sedimentos quaternários sofre um
rebaixamento de aproximadamente 1 metro em relação à planície de
inundação. Isto demonstra que este meandro abandonado provavelmente era
cerca de 1 metro mais baixo do que a planície de inundação antes do
aterramento (depósitos tecnogênicos).
Os sedimentos quaternários registrados são os mais grosseiros de todo perfil,
descritos pelas sondagens do Metrô como “pedregulhos com areia média a
grossa”. Este pode ser um indicativo dos materiais superficiais que ocorrem
nos meandros abandonados da planície fluvial, porém, a falta de mais
amostras não permite este tipo de generalização.
Dentro de um sistema fluvial espera-se que as cotas topográficas mais baixas
sejam as do canal fluvial. No caso de uma área urbanizada, a superfície pré-
perturbação seria representada pelo limite entre Tecnógeno e Quaternário.
Porém, na região do canal fluvial ativo não foi possível identificar este
rebaixamento como no caso do meandro abandonado. Propuseram-se neste
estudo alguns motivos para este resultado conflitante:
- A superfície aparentemente mais baixa do meandro abandonado seria
resultado de intervenções antrópicas anteriores à deposição
tecnogênica. Estas intervenções (mineração, por exemplo) teriam
retirado os sedimentos quaternários superiores que, teoricamente,
deveriam ser mais finos e orgânicos no topo do meandro abandonado;
- A remobilização dos sedimentos pela mineração neste trecho da
planície fluvial onde estaria o canal ativo no estagio pré-perturbação,
teria alterado a disposição dos sedimentos quaternários a tal ponto, que
não permitisse a realização de uma associação direta entre materiais e
63
formas nesta escala de detalhe a partir de dados oriundos apenas de
sondagens geológicas.
4.1.2.2. Outros locais investigados
Em outros dois locais da planície fluvial no setor estudado foi possível
investigar os seus materiais superficiais através de sondagens geológicas
(Anexo 3) e levantamentos de campo, gerando alguns dados de caráter
pontual. Estes locais não estão localizados no Perfil Morfo-sedimentológico
Pinheiros-Butantã e estão plotados na Figura 19.
Rua Diogo Moreira (DM)
Localiza-se no bairro de Pinheiros e, segundo o mapa morfológico, num terraço
fluvial, ainda que numa zona de contato com a planície de inundação e próximo
a um canal afluente do rio Pinheiros (inferido pela forma côncava à montante
das curvas de nível). Seus materiais superficiais são apresentados nas Figuras
26 e 27 e na Prancha 3, configurando uma pequena amostra dos materiais
deste tipo de contato (terraço fluvial / planície de inundação).
Os sedimentos quaternários possuem em média 4 metros de profundidade, e
estão sobre sedimentos terciários, provavelmente da Formação Resende, que
atingem entre 13 e 16 metros de profundidade.
A figura 27 apresenta um perfil de 20 metros de extensão e pouco mais de 2
metros de profundidade (Perfil Vertical DM), paralelo ao canal fluvial afluente
do rio Pinheiros. Em seus aspectos gerais, este perfil mostra no topo uma
camada argilo-arenosa, preta e com matéria orgânica de cerca de 30 cm em
média, mas que tende a se tornar menos espessa em direção à planície de
inundação. Na base do perfil há uma camada argilosa com seixos e cascalhos
esparsos, com aumento das areias em profundidade.
Entre essas duas camadas há uma diferenciação. Na porção NE há uma
transição gradual representada por uma camada areno-argilosa bruno-
acinzentada. Ainda nesta porção, destaca-se uma feição irregular bruna e
areno-argilosa com lentes de seixos e cascalhos que chega a quase 180 cm de
profundidade.
64
Na porção SO, há uma extensa camada de cascalhos e seixos de espessura
variada, mas que tende a se espessar em direção a planície de inundação,
atingindo 80 cm de espessura. Esta camada pode representar os depósitos de
canal do afluente do rio Pinheiros que atravessava esta área, numa zona de
contato da base do terraço fluvial e a planície de inundação.
Esta zona de contato entre duas unidades geomorfológicas poderia demarcar
uma diminuição significativa e abrupta no gradiente deste canal, o que pode ter
influenciado numa possível tendência dele depositar a sua carga mais
grosseira neste local, por causa da perda de competência de seu fluxo que ali
ocorreria devido à diminuição do gradiente.
Prancha 3: Rua Diogo Moreira.
Destaque do depósito de areias com lentes de cascalhos.
Detalhe da camada de seixos e cascalhos insitu.
Seixos e cascalhos após peneiragem e lavagem.
Foto: Rodolfo Luz (Jan/2009)
Foto: Rodolfo Luz (Jan/2009)
Foto: Rodolfo Luz (Fev/2010)
65
Fig
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26
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66
Fig
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67
Rua Seridó
Este outro local investigado está totalmente inserido na planície de inundação,
especificamente entre o canal ativo do rio Pinheiros e um meandro
abandonado no bairro de Cidade Jardim. Seus materiais superficiais são
apresentados nas sondagens geológicas da Figura 28, no perfil vertical da
Figura 29 e nas fotos da Prancha 4.
Os sedimentos quaternários possuem em média 5 metros de espessura e
estão assentados diretamente sobre o embasamento pré-cambriano, seja a
rocha sã seja a rocha intemperizada. Embora haja variações locais, as
sondagens geológicas mostram uma configuração estratigráfica geral da área,
onde é nítida a ocorrência de sedimentos finos no topo (argila, silte e areias
finas), sedimentos médios nas porções intermediárias (areias médias e
grossas) e sedimentos grosseiros na base (cascalhos e seixos).
Aproximando a escala de observação, o levantamento de campo e a análise
das sondagens permitiram a identificação de alguns aspectos dos materiais
superficiais desta porção da planície de inundação do rio Pinheiros:
- As duas sondagens geológicas localizadas sobre um meandro
abandonado são as que apresentam as maiores espessuras de
depósitos tecnogênicos, cerca de 4,5 metros, e não apresentam
camadas arenosas intermediárias. Além disso, são as duas únicas
sondagens onde é destacada a presença de raízes nas camadas finas
superiores. Isto mostra que estes meandros abandonados
possivelmente estariam em terrenos mais baixos do que os da planície
de inundação devido a maior espessura dos aterros e em processo de
colmatação devido a presença de finos, raízes e matéria orgânica.
- A única sondagem localizada onde seria o canal ativo do rio Pinheiros
(SM2) também não apresenta as camadas arenosas intermediárias, além
disso, ela mostra o contato entre os sedimentos quaternários e o
embasamento pré-cambriano no nível altimétrico mais inferior entre todas as
sondagens, cerca de 2,62 metros abaixo da média das outras sondagens.
68
- Em uma pequena área da planície de inundação há uma camada de
sedimentos finos com matéria orgânica abaixo da camada de sedimentos
grosseiros e acima da rocha intemperizada do embasamento. Esta
estratigrafia é representada pelo Perfil Vertical SE (Figura 29). Nele
vemos que a tendência geral de aumento na quantidade de sedimentos
grosseiros em profundidade é interrompida por esta camada orgânica de
cerca de 30 cm de espessura, denotando um momento de sedimentação
de finos (carga em suspensão) anterior ao evento que resultou na
deposição dos cascalhos e seixos que são frequentes na base da
estratigrafia quaternária da planície fluvial do rio Pinheiros.
Figura 28 (legenda) – Chave de interpretação das sondagens geológicas da Rua Seridó.
69
Figura 28 – Sondagens geológicas da Rua Seridó.
70
Fig
ura
29 –
Perf
il V
ert
ical S
E.
71
Prancha 4: Perfil Vertical SE.
Contato entre a camada “e” e a camada “f”.
e
f
Camada orgânica entre os seixos e cascalhos fluviais e o embasamento pré-cambriano.
Detalhe da camada orgânica entre os seixos e cascalhos fluviais e o embasamento pré-cambriano.
72
4.2. INTERPRETAÇÕES GEOMORFOLÓGICAS
4.2.1 Carta Geomorfológica de Detalhe da Planície Fluvial do Rio
Pinheiros entre os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade
Jardim.
Considerações Gerais
O mapeamento revelou que as cotas das curvas de bases cartográficas não
são boas referências para delimitação destas unidades, a exemplo do que foi
realizado em cartas geotécnicas ou noutros mapeamentos. Por exemplo, a
curva de nível de cota de 725 metros que, em determinados mapeamentos
anteriores delimitaria o topo dos terraços fluviais nem sempre coincide com o
limite identificado na fotointerpretação.
Num ponto específico, próximo a casa bandeirista do Butantã4, a base
cartográfica apresenta meandros abandonados acima da cota de 725 metros. A
fotointerpretação indica que, na realidade, esses meandros estão no mesmo
nível altimétrico de todos os outros, ou seja, na planície de inundação. Portanto,
o uso do material fornecido pelo levantamento do SARA BRASIL S/A (1930)
para efeito de produção de conhecimento da geomorfologia original, deve se
feito com cuidado, principalmente em estudos de maior detalhe.
Devido à diversidade de fotografias aéreas utilizadas, a carta morfológica
apresenta diferentes níveis de detalhamento. As áreas hachuradas indicam
justamente os locais não abrangidos pelas fotografias de 1933, ou seja, locais
onde não foi possível detalhar a morfologia da planície fluvial (conforme capítulos
3.2.1. e 3.2.2.).
Apesar de ser centrada na morfografia, a carta morfológica também apresenta
elementos dos outros três níveis da representação cartográfica geomorfológica
(COLTRINARI, 1982): a morfometria é um pouco comprometida por causa de
deficiências na base cartográfica e no georreferenciamento das fotografias
aéreas; a morfodinâmica é apresentada principalmente em forma de texto, e
não de símbolos cartográficos; como não há datações absolutas a cronologia é
4 A casa bandeirista do Butantã é uma edificação do século XVIII que ainda permanece no local,
tornando-se um importante ponto de referência espacial para o presente estudo.
73
relativa, por exemplo, o canal fluvial ativo é mais recente que os meandros
abandonados; os cordões marginais sub-atuais são mais recentes do que os
remanescentes; a planície de inundação de nível 1 é mais recente que a de
nível 2 que, por sua vez, é mais recente que os terraços fluviais.
A Carta Geomorfológica de Detalhe
A Carta Geomorfológica de Detalhe da Planície Fluvial do Rio Pinheiros entre
os Bairros de Pinheiros, Butantã e Cidade Jardim é apresentada na Figura 30,
e sua legenda na Tabela 2.
A área mapeada compreendeu cerca de 11 km² da planície fluvial do rio
Pinheiros e de parte de seus afluentes, sendo o rio Pirajussara o de maior
expressão neste trecho. Nos terrenos relacionados aos processos do sistema
vertente foi utilizada a classificação proposta por Ab’Saber (1957).
A planície fluvial é mais extensa na margem direita, onde há uma mudança em
forma de rampa com os terraços de nível intermediário. Somente no extremo
norte da planície é que o limite é mais abrupto, formando uma ruptura com as
altas colinas e espigões secundários. Ambos os compartimentos estão situados
sobre os sedimentos terciários da Bacia de São Paulo.
Já na margem esquerda ocorre uma ruptura clara entre a planície fluvial e os
morros sustentados pelas rochas do embasamento pré-cambriano, sendo
interrompido somente quando a planície fluvial do rio Pirajussara se confunde
com a do rio Pinheiros.
A carta, originada principalmente de dados de 1933, também apresenta locais
onde a ação antrópica de alto impacto já se fazia presente na região e já alterava
a morfologia pré-perturbação da planície fluvial. Destacam-se nestas ações as
cavas de mineração de areia, freqüentes nas margens dos canais e na planície de
inundação, e os aterros das estradas que a atravessavam.
Dentro da análise geomorfológica proposta, a carta de detalhe e o perfil morfo-
sedimentológico foram as principais fontes de dados do nível descritivo das
formas no estágio pré-perturbação, principalmente numa área já bastante
74
alterada pela urbanização, o que impossibilita a visualização da maioria destas
formas em campo.
As informações a respeito dos materiais superficiais foram inferidas a partir da
revisão bibliográfica ou definidas a partir do levantamento de campo e análises
de laboratório. A correlação entre formas e materiais superficiais permitiu a
análise interpretativa dos processos, o que possibilitou caracterizar cada
unidade morfológica identificada (Pranchas 5 e 6):
Subsistema dos terraços:
Os terraços fluviais estão acima de 724 metros de altitude, são contínuos e
extensos na margem direita, e descontínuos e pouco extensos na esquerda.
Nas áreas recobertas pelo aerolevantamento de 1933 foi possível identificar a
morfologia dos limites entre os terraços fluviais e a planície de inundação.
Foram então caracterizadas descontinuidades côncavas ou convexas, e
detalhada a morfologia em planta desses limites, indicando as tendências de
escoamento dos fluxos de água que correm por estes terrenos: fluxos
concentradores no caso dos limites côncavos e; fluxos dispersores no caso dos
convexos.
Próximo ao ponto de estreitamento da planície de inundação há um eixo de zona
de falha (EMPLASA, 1984) (denominada de faixa de cisalhamento em
mapeamento da PMSP-SVMA-SEMPLA, 2002) que atravessa transversalmente
a planície fluvial do rio Pinheiros no sentido SO-NE. Segundo Hasui e Sadowski
(1976) e Hasui & Carneiro (1980), esta região vincula-se a Falha de Caucaia, e
delimita blocos adernados em direção ao centro da Bacia Sedimentar de São
Paulo. O bloco de Cotia apresenta menor subsidência e está a jusante, enquanto
o bloco Juquitiba, de maior subsidência, está a montante.
A jusante, sobre o bloco Cotia, há terraços isolados dentro da planície de
inundação em ambas as margens. Onde verificou-se que o nível desses terraços
corresponde a um afloramento do embasamento rochoso optou-se por classificá-
lo como “terraço estrutural” (caso do terraço da margem esquerda, Prancha 6),
porém, o terraço da margem direita também pode ter este tipo influência, o que
poderá ser verificado em estudos futuros.
75
76
77
Prancha 5: Planície fluvial do rio Pinheiros.
Sul da área de estudo em 1937. Destaque para algumas das unidades morfológicas identificadas. Fonte Ab’Saber (1958).
Jockey Club de São Paulo, exatamente na região do paleocanal de alta sinuosidade. Notar morros sobre embasamento pré-cambriano a direita. Fonte: (http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jockey_Club_de_S%C3%A3o_ Paulo.jpg).
78
Prancha 6: Aspectos de algumas unidades morfológicas.
Casa bandeirista.
Limite entre a planície de inundação e o terraço onde está a casa bandeirista.
Limite entre a planície de inundação e o terraço fluvial na região de Pinheiros. Final da Rua Cardeal Arcoverde.
Afloramento rochoso em terraço estrutural. Av. Alvarenga.
79
Tendo em vista os resultados apresentados para o Perfil Morfo-
sedimentólogico Pinheiros-Butantã, os setores mais distantes dos terraços
fluviais da margem direita possivelmente não apresentam sedimentos
quaternários, estando assentados diretamente sobre a Formação Resende.
Nestes setores, estes sedimentos que seriam os testemunhos de processos
fluviais, ou nunca foram ali depositados ou foram erodidos.
Onde há sedimentos quaternários, eles formam juntamente com os solos e os
depósitos tecnogênicos os 5 primeiros metros do topo da estratigrafia dos
terraços fluviais (em média). Normalmente se assentam sobre o embasamento
pré-cambriano intemperizado, mas podem ocorrer também sobre a Formação
Resende.
No geral, os sedimentos quaternários apresentam texturas mais grosseiras na
base e mais finas no topo, onde já ocorrem processos pedológicos. Nos locais
mais próximos ao limite dos terraços com a planície de inundação, onde a
declividade passa de 0,66% para 1%, as camadas de texturas finas do topo
dão lugar as mais grosseiras da base, até que, quando a declividade aumenta
para 3%, os sedimentos quaternários dão lugar ao embasamento pré-
cambriano intemperizado.
O afloramento do embasamento nas bordas dos terraços, em seu contato com
a planície de inundação, é uma das características dos “terraços rochosos”
(strath terraces) (CHRISTOFOLETTI, 1981, p 255-258; GOUDIE, 2006, p.
1041). Isto indica que, ao menos para o setor do Perfil Morfo-sedimentológico
Pinheiros-Butantã, a morfogênese desses terraços está associada a uma
incisão do canal do rio Pinheiros que ultrapassou os sedimentos fluviais
previamente depositados e atingiu o embasamento pré-cambriano, onde foi
originada a planície de inundação meândrica atual.
Aparentemente, as camadas de sedimentos quaternários grosseiros da base
dos terraços possuem uma maior variedade textural interna do que as finas do
topo. Enquanto as camadas da base apresentam mudanças texturais abruptas
entre camadas adjacentes, as camadas do topo apresentam variações
texturais mais graduais.
80
Esses conjuntos sedimentares são resultados de diferentes processos
morfodinâmicos. Na base eles refletem um ambiente instável onde processos
erosivos e deposicionais associados a canais fluviais e a planície de inundação
se faziam presente. O topo condiz com um ambiente mais estável, onde
provavelmente, no estágio pré-perturbação, predominavam processos
pedológicos sobre sedimentos que se tornaram bem drenados após o
abandono da antiga planície de inundação.
Subsistema da planície de inundação:
- Diques marginais – Ocorrem principalmente nas margens côncavas dos
canais e, no geral, estão associados aos terrenos mais secos e com vegetação
de maior porte do que a do entorno.
Por serem mais enxutos são os terrenos próximos ao canal mais propícios à
ocupação antrópica. Nos diques marginais há vias e edificações, sendo que
alguns já se encontravam bastante modificados, confundindo-se, as vezes,
com aterros, principalmente nos setores próximos as áreas de mineração.
De acordo com a literatura os diques marginais geralmente contêm materiais
de maior granulometria depositados durante as fases de transbordamento,
quando os sedimentos mais grosseiros são depositados nestes setores mais
próximos do canal fluvial devido à perda de competência do fluxo de água, que
passa do canal para a planície de inundação.
A morfodinâmica nos diques marginais é caracterizada por processos
sedimentares durante as fases de transbordamento do canal fluvial. Por ser um
terreno relativamente mais bem drenado do que os da planície de inundação
devido a sua maior altitude, incipientes processos pedológicos ocorrem quando
estão a salvo das cheias, propiciando inclusive o desenvolvimento de
vegetação arbórea de maior porte do que o do entorno.
- Cordões marginais. São antigas barras laterais que estão sendo
progressivamente abandonadas pelo canal, tendo então morfogênese
diretamente relacionada aos processos de acresção lateral. Quanto mais longe
do canal mais estável se torna o cordão marginal, possibilitando inclusive o
desenvolvimento de vegetação e incipiente desenvolvimento pedológico.
81
Os cordões marginais sub-atuais são testemunhos de processos de migração
lateral do canal fluvial ativo do rio Pinheiros, enquanto que os cordões marginais
remanescentes testemunham processos mais antigos, ocorridos em canais
fluviais que foram abandonados.
- Backswamps (planície de inundação isolada). Trata-se de terrenos que não
são limítrofes ao canal fluvial ativo e que apresentam altitudes ligeiramente
mais baixas do que as do restante da planície de inundação.
Na literatura revisada verificou-se que esta unidade morfológica é freqüente
nos setores da planície de inundação que são mais próximos aos terraços
fluviais ou ao sistema vertente, porém, não foi possível verificar se este padrão
de ocorrência se faz presente na área estudada devido ao baixo grau de
detalhamento do mapeamento nestes setores (áreas hachuradas não
recobertas pelo aerolevantamento de 1933).
A morfodinâmica característica desses terrenos se dá pela deposição de
sedimentos finos acumulados por decantação pelas águas que são represadas
após as inundações, onde ocorre acúmulo de matéria orgânica e provável
gleização por conta da drenagem deficiente. São consideradas áreas onde há
um amortecimento das vazões de pico em um sistema fluvial meândrico,
devido ao fato de estocar/armazenar parte do excedente de água fornecido por
estas vazões (SANTANA, 2008, p. 206).
- Planície de inundação de nível 1. É a unidade da planície de inundação de
maior extensão, onde estão localizados os meandros abandonados, diques e
cordões marginais.
Os materiais superficiais apresentados pelo Perfil Morfo-sedimentológico
Pinheiros-Butantã e pelos perfis da Rua Seridó mostram uma grande variedade
granulométrica entre os sedimentos quaternários desta unidade, com
predomínio de areias grossas e médias sobre níveis basais de cascalhos e
seixos. As espessuras desses depósitos são semelhantes as dos terraços
fluviais (4 a 7 metros).
A literatura indica que uma planície de inundação de um sistema fluvial meândrico
possui morfogênese vinculada à movimentação lateral do canal fluvial, que
82
deposita sedimentos grossos advindos dessa movimentação e que são
posteriormente recobertos por sedimentos finos, advindos da carga suspensa das
águas de cheia. A tendência geral de granodecrescência ascendente dos
materiais observados na Rua Seridó condiz com este tipo de explicação.
Estes terrenos são mal drenados e suportam incipientes processos pedológicos
de gleização.
- Planície de inundação de nível 2. São pequenas elevações que não
apresentam descontinuidades abruptas com o nível 1, mas sim uma transição
muito suave e, algumas vezes, de difícil delimitação.
Em alguns locais o nível 2 se configura como uma rampa suave entre o nível 1
e os terraços fluviais, principalmente na margem direita do rio.
Devido as suas semelhanças com o nível 1 e a falta de informações sobre os
seus materiais, foi considerado para o nível 2 da planície de inundação os
materiais e processos semelhantes aos do nível 1, pois, a princípio, a divisão
destes níveis é apenas de caráter morfológico.
Porém, devido a sua posição topográfica, o nível 2 da planície de inundação
apresentaria terrenos mais bem drenados que os do nível 1, com uma menor
importância dos processos deposicionais por conta da menor freqüência das
cheias.
É no nível 2 que se encontravam as edificações e vias da planície de
inundação na década de 1930, provavelmente por serem esses terrenos mais
enxutos e, consequentemente, mais propícios a ocupação antrópica.
- Elevações indiferenciadas. São elevações isoladas e de morfologia singular
próximas a altitude da planície de inundação de nível 2.
Ocorrem a jusante do ponto de estreitamento da planície de inundação
associada a um eixo de zona de falha vinculado a Falha de Caucaia. Nesta
região também ocorrem terraços estruturais ou de provável influência
estrutural, o que indica que estas elevações podem ter morfogênese
condicionada pela estrutura geológica do embasamento da planície fluvial.
83
Subsistema do canal:
- Barras laterais. Tratam-se das barras de acresção lateral (point-bars), onde é
possível perceber a sedimentação ativa do rio. São mais freqüentes na
margem convexa do canal e correspondem as morfologias mais baixas do
canal fluvial, com altitudes próximas à do próprio canal.
Sua morfogênese é vinculada aos fluxos de alta competência do canal fluvial,
que depositam sedimentos grosseiros através dos processos fluviais mais
típicos de um sistema meândrico, que é a erosão na margem côncava e
posterior deposição na convexa.
As barras laterais classificadas como secas são as que no momento da tomada
das fotografias aéreas estavam num estágio de “abandono” pelo canal fluvial,
ou seja, menos submetidas as ações morfodinâmicas do canal fluvial ativo do
que as barras úmidas, que se localizam praticamente dentro do canal.
- Meandros abandonados. Atingem altitudes um pouco menores que a planície
de inundação de Nível 1.
A estratigrafia típica deste tipo de feição apresenta sedimentos grosseiros na
base, testemunhos dos processos morfodinâmicos de quando o canal era ativo,
recobertos por sedimentos finos com altos teores de matéria orgânica
depositados em águas de inundação represadas após o abandono do canal.
Duas sondagens geológicas na região da Rua Seridó apresentaram este tipo
de estratigrafia, tendo a camada de finos com matéria orgânica do topo de 1 a
1,5 metros de espessura e a de sedimentos grosseiros da base de 1,3 a 2,1
metros.
No Perfil Morfo-sedimentológico Pinheiros-Butantã um local associado a um
meandro abandonado apresentou apenas os sedimentos grosseiros da base
com cerca de 3 metros de espessura. A falta dos sedimentos finos pode estar
associada: 1) ao baixo grau de detalhamento da fonte de dados original
(sondagens geológicas do Metrô) que pode não ter detectado camadas pouco
espessas do topo ou; 2) às intervenções antrópicas anteriores ao aterramento
84
que modificaram as características dos materiais na superfície do meandro
abandonado.
Os depósitos tecnogênicos são bastante espessos. Nas sondagens da Rua
Seridó eles possuem entre 4,5 e 4,8 metros, enquanto que no Perfil Morfo-
Sedimentológico Pinheiros-Butantã atingem 3 metros. Em ambos os casos os
sedimentos grosseiros da base estão assentados diretamente sobre o
embasamento pré-cambriano.
Os principais processos morfogenéticos dos meandros abandonados da área
de estudo são cutoff e avulsão. Um evento de avulsão parece ter sido
responsável pelo abandono de um canal com 2,83 km de extensão a montante
do ponto de estreitamento da planície de inundação, na porção sul da carta na
margem esquerda do rio Pinheiros.
Os meandros abandonados situados sob as áreas hachuradas foram inferidos
a partir das indicações das plantas do SARA BRASIL S/A.
4.2.2. Aspectos morfogenéticos da planície fluvial
A análise geomorfológica da planície fluvial do rio Pinheiros na área estudada
mostra que há um estreitamento da planície de inundação diretamente
associado a um eixo de zona de falha vinculado a Falha de Caucaia, que
delimita um bloco de menor subsidência a jusante (bloco Cotia), de um bloco
de maior subsidência a montante (bloco Juquitiba) (HASUI E SADOWSKI,
1976; HASUI & CARNEIRO, 1980).
No trecho a jusante desse eixo de zona de falha, sobre o bloco de menor
subsidência (Cotia), há um terraço comprovadamente estrutural e elevações
indiferenciadas e terraços isoladas que podem estar refletindo em suas
morfologias aspectos estruturais desta configuração geológica regional.
Este contato entre dois blocos com diferentes amplitudes de subsidência, que
coincide com o local onde ocorre o estreitamento da planície de inundação,
demarca um ponto onde a planície fluvial do rio Pinheiros na área estudada
pode ser subdividida em dois compartimentos:
85
1 - À montante deste ponto a planície de inundação é ampla e tem as
suas unidades mais típicas bem desenvolvidas e de fácil reconhecimento,
como os meandros abandonados, os cordões marginais e as
backswamps. Além disso, não apresenta terraços estruturais e outras
elevações isoladas. Os mapas geológicos da área não indicam
afloramentos do embasamento pré-cambriano neste compartimento, além
disso, a descrição dos materiais da Rua Seridó, apesar de não amostrar
satisfatoriamente todo o compartimento, não indica nenhum ponto onde o
embasamento pré-cambriano se aproxima da superfície, estando este
sempre abaixo dos 5 metros de profundidade.
2 - À jusante a planície de inundação é truncada por terraços e elevações
isoladas de provável influência estrutural. Além disso, diminui a
quantidade das unidades típicas de uma planície de inundação, que
ocorrem confinadas entre essas elevações. A estrutura geológica também
é outra, pois o mapa geológico apresenta uma maior quantidade de falhas
no entorno e, como também foi visto no Perfil Morfo-Sedimentológico
Pinheiros-Butantã, locais de afloramento do embasamento pré-cambriano.
Estas morfologias com possíveis vínculos morfogenéticos relacionados à
estrutura geológica indicam que a maior proximidade do embasamento pré-
cambriano nos terrenos sobre o bloco Cotia, podem estar impondo uma maior
restrição ao desenvolvimento de processos fluviais.
Portanto, a estrutura geológica relacionada ao contato entre os blocos Cotia e
Juquitiba pode ter influenciado no nível de base local, modificando a configuração
morfológica da planície fluvial a montante, principalmente no que se refere ao
subsistema do canal, que é o mais dinâmico dentro de um sistema fluvial.
Desta forma, foram identificadas algumas diferenças morfológicas entre o canal
fluvial ativo do rio Pinheiros e um paleocanal abandonado a montante do ponto
de estreitamento da planície de inundação. Estas diferenças foram
quantificadas através da geometria de cada canal, mais especificamente, da
largura e do índice de sinuosidade (Tabela 3) (Figura 21).
86
Tabela 3 – Índice de sinuosidade e largura do canal fluvial ativo do rio Pinheiros e do paleocanal a montante do ponto de estreitamento da planície de inundação.
Largura média (metros) Índice de sinuosidade (Is)
Canal ativo 25,23 2,05
Paleocanal 20,00 3,20
Diferença - 35,93% + 26,15%
O próprio canal fluvial ativo é um pouco menos largo e mais sinuoso a montante
do ponto de estreitamento (Tabela 4) (Figura 21).
Tabela 4 – Índice de sinuosidade e largura do canal fluvial ativo do rio Pinheiros a jusante e a montante do ponto de estreitamento da planície de inundação.
Canal fluvial ativo Largura média (metros) Índice de sinuosidade (Is)
À jusante 28,06 1,73
Á montante 25,23 2,05
Os maiores índices de sinuosidade do setor de montante, tanto do paleocanal
como do canal ativo, quando comparados ao setor de jusante, revelam
provavelmente, mudança de declividade do perfil longitudinal e na carga
sedimentar do canal. Estas mudanças podem ser decorrentes tanto de
alterações no aporte sedimentar da bacia hidrográfica quanto de imposições de
caráter estrutural (OUCHI, 1985; SCHUMM, 1963; SHUMM et al., 2002), ou,
ainda, devido aos dois tipos de eventos agindo em conjunto.
A carta geomorfológica mostra que, em algum momento do Pleistoceno
Superior ou do Holoceno, o canal do rio Pinheiros apresentou menores larguras
e maiores sinuosidades a montante do ponto de estreitamento da planície de
inundação aqui identificado (Figura 31).
Figura 31 – Croquis esquemáticos da mudança de sinuosidade em parte do canal do rio Pinheiros ocorrida no Quaternário.
87
Este estudo aponta para a interpretação de que estas discrepâncias
morfológicas refletem condicionamentos estruturais, principalmente de caráter
litológico do embasamento subjacente e por vezes aflorante, pois este ponto de
estreitamento da planície de inundação está numa zona de contato entre
blocos delimitados por falhas tectônicas, e que sofreram adernamentos com
diferentes graus de subsidência.
Pequenas diferenças morfológicas no próprio canal fluvial ativo (Tabela 4)
podem ser reflexos destes condicionantes estruturais.
Outro indicativo morfogenético que o estudo mostra é a respeito dos materiais
superficiais que compõem a planície fluvial. A espessura média de sedimentos
quaternários fluviais é de 5 metros e a sua composição estratigráfica mais
típica é a seguinte: sedimentos finos no topo (areias finas, silte e argila), areias
médias a grossas nas porções intermediárias e seixos e cascalhos na base.
Santos (1958) e Carvalho (2006) apresentam a profundidade média do rio Tietê
na região de São Paulo em seu estágio pré-perturbação, que é de 2 a 3
metros. O rio Pinheiros devia apresentar medidas semelhantes, pois, além de
ser um afluente do Tietê possui o mesmo sistema fluvial (sistema meândrico).
Portanto, devido a profundidade dos depósitos de cascalhos e seixos, que
ocorre geralmente abaixo dos 3 metros de profundidade, estes sedimentos não
podem ter sido depositados pelo sistema fluvial que o rio Pinheiros apresentava
no momento pré-perturbação. Provavelmente, em muitos pontos o leito do rio
poderia ser o próprio nível de cascalhos e seixos.
Sendo assim, os sedimentos grosseiros da base da planície de inundação do
rio Pinheiros evidenciam um momento onde o canal fluvial possuía maior
competência de fluxo, um canal que provavelmente não era meândrico, pois
esse sistema fluvial é associado a canais com carga em suspensão e
dissolvida, e não a canais com cargas de leito (como é o caso dos cascalhos e
seixos).
88
Este momento teria sido anterior ao estágio pré-perturbação. A bibliografia nos
mostra que o sistema fluvial associado a este tipo de carga é o entrelaçado,
que pode ter sido então o sistema responsável pelo depósito dos cascalhos e
seixos comuns na base estratigráfica da planície de inundação do rio Pinheiros.
Em algum momento do Pleistoceno Superior ou do próprio Holoceno este
sistema se transformou, tornando-se meândrico, demarcando o início da
formação da planície de inundação atual até a perturbação antrópica. Ao que
tudo indica, essa mudança está na faixa das dezenas de milhares de anos.
A granodecrescência ascendente, apresentada pelos sedimentos da planície
de inundação do rio Pinheiros, é uma das características básicas do modelo
faciológico de sedimentação em ambientes fluviais meândricos, e é resultado
da migração lateral do canal e evidencia um ciclo de deposição fluvial
meândrica do rio Pinheiros (WALKER, 1983; MIALL, 1996; KNIGHTON, 1998).
Os processos morfogenéticos da planície de inundação meândrica no estágio
pré-perturbação podem ter sido responsáveis pela granodecrescência
ascendente identificada. Sobre a camada de cascalhos e seixos depositados
pelo sistema fluvial da fase anterior teria ocorrido a deposição uma fina camada
de cascalhos e areias grossas transportadas no leito do canal meândrico.
Sobre esta camada ocorrem os sedimentos arenosos que podem ser
testemunhos de barras de meandro (acresção lateral). No topo ocorrem as
areias finas, siltes e argilas, depositadas por acresção vertical.
Por fim, a configuração escalonada dos terraços fluviais pode ser um indicativo
morfogenético de que, ao longo do tempo, o sistema fluvial apresentou uma
maior tendência ao entalhamento do canal (CHRISTOFOLETTI, 1981, p. 255).
A planície de inundação de nível 2 pode se tratar de um estágio mais recente
de entalhamento, e se tornaria um terraço caso essa tendência não tivesse
sido interrompida pelos agentes geomorfológicos antropogênicos.
Estas são possibilidades indicadas pela pesquisa, porém, mais dados são
necessários para aprofundar o conhecimento morfogenético da planície fluvial
do rio Pinheiros, como por exemplo, datações absolutas.
89
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos considerar que o principal objetivo da presente pesquisa foi atingido,
uma vez que a descrição, a caracterização e o mapeamento da morfologia pré-
perturbação e dos materiais da planície fluvial, tornou possível a interpretação
de processos geomorfológicos atuantes no sistema antes das intervenções
antrópicas de alto impacto.
A análise geomorfológica de parte da planície fluvial do rio Pinheiros permitiu a
identificação de uma provável sequência de eventos geomorfológicos atuantes
no setor estudado durante o Pleistoceno Superior e o Holoceno. Alterações na
geometria do canal e na configuração geral dos sedimentos fluviais foram os
principais elementos utilizados na identificação dessas mudanças.
Aspectos relacionados à estrutura geológica regional também foram
identificados. Este tipo de influência estrutural na planície fluvial do rio
Pinheiros parece ocorrer regionalmente, e pode estar refletida nas inflexões do
canal nas proximidades de Santo Amaro e da Cidade Jardim.
A pesquisa mostrou também que as sondagens geológicas devem ser
utilizadas cuidadosamente em análises geomorfológicas, não tendo se
mostrado apropriadas para estudos de detalhe. Isso, somado a pouca
quantidade de amostras dos materiais superficiais da planície fluvial que foram
analisadas, ainda não permite que as afirmações morfogenéticas aqui
realizadas sejam categóricas, ao menos aquelas que são centradas na análise
dos materiais.
As interpretações morfodinâmicas e morfogenéticas aqui realizadas poderão
contribuir para o prosseguimento dos estudos e para a análise de novos
registros sobre os materiais superficiais da planície. Estes registros também
poderão subsidiar a complementação da descrição dos materiais que
compõem cada unidade morfológica.
O entendimento da arquitetura fluvial da planície aponta os locais onde há
descontinuidades verticais e laterais entre os pacotes sedimentares, auxiliando
na revisão dos conhecimentos prévios sobre a estrutura geológica e as
protuberâncias cristalinas basais da planície do Pinheiros. As características e
90
contatos dos depósitos tecnogênicos, dos sedimentos quaternários, dos
sedimentos terciários e do embasamento pré-cambriano e seus diferentes
graus de intemperismo, podem ter implicações geotécnicas significativas, como
por exemplo, no caso do colapso do poço da Estação Pinheiros do Metrô
ocorrido em janeiro de 2007 (AB’SABER, 2007, p. 98).
Um estudo de geomorfologia fluvial como este pode subsidiar análises
paleogeográficas direcionadas à interpretação de registros de mudanças
ambientais em sistemas naturais, e se configura com a base para a realização
deste tipo de análise em sistemas antrópicos. O entendimento do sistema
geomorfológico da planície fluvial do rio Pinheiros em seu estágio pré-
perturbação gerou resultados e produtos que poderão ser utilizados no
planejamento físico-territorial regional, tendo em vista as constantes e drásticas
modificações que nela ocorreram e que ainda ocorrem (VERSTAPPEN, 1983;
GREGORY, 2002).
Desde a década de 1940 o rio Pinheiros e sua várzea não são mais partes
integrantes do cotidiano paulistano (AB’SABER, 1957, p. 153; SANTOS, 1958,
p. 46). A retificação do canal e posterior uso da planície de inundação como um
espaço de circulação de mercadorias da cidade fez com que ele não se
constitua mais como um local de vivência e moradia para a maioria da
população que reside ou trabalha nas proximidades (OSEKI, 2000, p. 172), “os
habitantes já não dão conta de sua existência” e o rio só é percebido quando
ocorrem as enchentes (SEABRA, 1987, p. 66). Logicamente que o retorno às
condições ambientais antigas é impossível. Porém, ainda é possível o rio
tornar-se novamente parte do cotidiano dos paulistanos de forma positiva.
91
6. BIBLIOGRAFIA
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Fil. Sedes Sapientiae da PUC de São Paulo, 1952-1953, São Paulo, 1953. p.
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CPRM: http://mapoteca.cprm.gov.br/programas/template.php (em 21/01/2010)
IBGE: ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/topograficos/topo1000/vetor/ (em
21/01/2010)
Sites consultados para outras informações:
EMAE: http://www.emae.sp.gov.br/canais.htm (em 08/01/2010)
105
Baseado em Camargo et al. (1986), Santos et al. (1995) e Kiehl (1979). Fonte: Material didático do curso de Estágio Supervisionado em Análise de Solos (FLG – 593. DG/FFLCH/USP).
Procedimentos seguidos no trabalho
106
ANEXO 2
Amostra das sondagens geológicas fornecidas pelo Metrô.
107
ANEXO 3
Amostra de sondagens da Rua Diogo Moreira
108
ANEXO 3
Amostra de sondagens da Rua Seridó