GEERTZ, C. O Impacto de Cultura Sobre o Conceito de Homem

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GEERTZ, C. O Impacto de Cultura Sobre o Conceito de Homem

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  • O IMPCTO DO CONCEITO DE CULTURA SOBRE O CONCEITO DE HOMEM

    GEERTZ

    I

    A ascenso da ideia cientfica de cultura significava a derrubada da perspectiva iluminista de

    homem. Essa perspectiva apreendia o homem na concepo das cincias naturais, onde ele

    seria governado por leis, como as leia de Newton apreendem o funcionamento do universo, e

    da mesma forma dotado de regularidade e imutabilidade. Assim, o homem em meio a sua

    cultura estava apenas disfarado, e para apreend-lo devamos buscar o que h por traz de

    seus costumes. Indo mais a fundo, as variveis que compem o homem e seu meio, so

    insignificantes ao definir-se sua natureza, so acrscimos que obscurecem o verdadeiro

    homem.

    Na contramo, a antropologia moderna tem a convico de que esse homem independente de

    seu meio e convvio um homem imaginrio, no havendo homem no modificado e

    composto por costumes particulares. Traar uma diviso entre o que natural e o que

    varivel no homem leva a uma m interpretao do que ele de fato . Adotar a ideia de que

    essas variveis no so apenas uma mscara onde o homem atua adotar tambm a ideia de

    que a diversidade est na essncia do homem.

    II

    Na busca de localizar o homem por traz da cultura levou a concepo estratigrfica da

    relao entre fatores biolgicos, sociais, psicolgicos e culturais na vida humana. A anlise

    desses nveis nos permitiria encontrar o que h de varivel, que estaria entre os nveis e

    poderiam ser retirados, e naturalmente se apreenderia a importncia do nvel cultural, que o

    distinto no homem. Para o estudo dessa proposta de anlise era necessrio ento encontrar

    aspectos universais nas culturas e relaciona-los com os nveis.

    Essa proposta s permanece vlida diante da ideia de que (1) os universais propostos sejam

    substanciais e no categorias vazias; (2) que eles sejam associados a um dos nveis, e no a

    uma realidade subjacente; e (3) que esses aspectos sejam essenciais na definio de

    humanidade em detrimento dos aspectos circunstanciais presentes em cada cultura de

    maneira independente.

    Refutaes que invalidam a ideia

    (1) A ideia de que os conceitos de religio, casamento e propriedade por exemplo, fora

    do contexto circunstancial de cada cultura perde-se no vazio, pois justamente l que habita a

    fora que gera tal aspecto naquele meio. Se apreendemos esse conceito de maneira universal

    desconsideramos o circunstancial. Trata-se de evadir os conceitos.

    (2/3) difcil reunir novamente esses aspectos separados em nveis. A anlise nesses modos

    busca ajustar uma necessidade como geradora da resposta, que o aspecto cultural

    categorizado. Ou seja, o mtodo olhar as exigncias humanas e tentar mostrar que esses

    aspecto universais so modelados por uma exigncia. Porm, entre os fatos e as suposies

  • no h nenhuma integrao terica, mas apenas uma correlao. Dessa forma, no h como

    interligar entre si fatores culturais de fatores no-culturais, so nveis paralelos.

    A questo de esse denominador comum de fato o que h de essencial para de definir o

    homem permanece em aberto.

    III

    Geertz propem que superemos a ideia estratigrfica e partamos para uma ideia de anlise

    unitria. Ele propem a ideia de vermos a cultura no como um conjunto formas de

    comportamento, mas como um conjunto de mecanismos de controle (planos, receitas, regras

    e instituies) para governar o comportamento, pois o homem depende desses mecanismos.

    O homem nasce com o equipamento natural para viver milhares de espcies de vidas, mas

    termina por viver uma espcie.

    A perspectiva da cultura como mecanismo de controle inicia-se como o pressuposto de que

    o pensamento humanos basicamente tanto social como pblico. O ato de pensar consiste em

    um trfego dos smbolos significantes, e esses smbolos nos so dados, fruto do nosso convvio

    e de nossas experincias.

    O homem necessita de fontes simblicas para encontrar um apoio no mundo, o que lhe inato

    so formas de responder ao meio com respostas amplamente gerais. Sem padres culturais

    para governar-se o homem viveria um caos sem sentido de respostas a estmulos, sem

    nenhuma forma. Com isso temos que a cultura essencial ao homem, para tornar possvel e

    ordenada sua existncia humana.

    O desenvolvimento cultural do homem no se deu, como se pensava, aps o desenvolvimento

    fsico desse homem, de forma estratificada. O desenvolvimento do homem cultural foi

    acompanhado por grandes mudanas genticas, em uma sequencia longa, complexa e

    ordenada. Esse desenvolvimento exerceu um papel crucial na presso seletiva para o Homo,

    de forma a possibilitar sua evoluo. O padro cultura que se desenvolveu criou

    anatomicamente o homem. Isso sugere ento no existir uma natureza humana independente

    da cultura, mas criada em funo dela.

    Para obter a informao adicional necessria no sentido de agir, fomos forados a depender

    cada vez mais de fontes culturais o fundo acumulado de smbolos significantes. Tais smbolos

    so seus pr-requisitos. Entre o que sabemos de forma inata e o que devemos saber h um

    vcuo preenchido pela cultura, que repassada e nos dada. Sendo essa fronteira entre o que

    nos inato e cultural, de difcil distino. Grande parte de nossos comportamentos so, na

    verdade, a mistura dos dois.