Post on 12-Nov-2018
FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO
III SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP
ENTRE A CIDADE E AS REDES: O ESPAÇO HÍBRIDO DA AÇÃO POLÍTICA
NO URBANO.
Aluno: Kayê Martinez - kayemrtnz89@gmail.com
Orientadora: Sonia Nussenzweig Hotimsky - sonianhotimsky@uol.com.br
Resumo
Visando refletir sobre novas formas de organização política, buscamos
compreender como estariam relacionados o uso das tecnologias de informação e
comunicação nos processos de articulação e mobilização política; sobretudo o uso que
os cidadãos mais jovens fazem destas ferramentas. Desta forma, conduzimos um
trabalho de campo que acompanhou as atividades do coletivo Movimento Passe Livre
São Paulo em seu trabalho regional em São Mateus através de observação
participante, entrevistas informais, acompanhamento de suas atividades “on-line” (site
oficial, páginas no Facebook, e-mails, etc.). No interior deste recorte pudemos
observar: 1) O coletivo em si enquanto organização política; 2) As pessoas que
aderem à causa, mas que não são, necessariamente, militantes; 3) O uso das
tecnologias de informação e comunicação no processo das atividades. Estes fatores
operam em um modelo no qual a organização em torno de uma pauta ocorre
simultaneamente entre um ambiente que é virtual, proporcionado pelas TIC’s,
representado como um espaço de maior autonomia se comparado com as mídias
tradicionais de informação, assim como um meio mais veloz de propagar estas
informações, e o espaço urbano da cidade, palco onde a política ocorre. É da sinergia
entre estes dois ambientes que se configura o espaço que estamos nos referindo
como híbrido. O potencial de transformação que repousa neste tipo de movimentação
está em sua capacidade de interferir no fluxo habitual da cidade e oferecer, mesmo
que de maneira efêmera, uma experiência política que se abre quando uma situação
não ordinária ocorre.
Palavras-chave: Antropologia urbana, Internet, novas tecnologias, participação
política.
Introdução
Com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) em
todo o mundo nas últimas décadas, podemos constatar a presença permanente destas
ferramentas em praticamente todos os segmentos da sociedade (processo decorrente
do barateamento nos custos da produção destas tecnologias). Assim como ocorre,
igualmente, com os serviços de internet banda larga.
Mesmo que ainda distante da realidade de muitos brasileiros (devido aos
custos e falta de instrução para utilização destes recursos), o acesso à internet no país
experimentou crescimento bastante notável nestes últimos anos que não deve ser
desconsiderado ou visto com ingênuo entusiasmo - ainda existe muito para se avançar
no sentido de garantir que o acesso à banda larga seja garantido como direito.
O acesso à informação representa, hoje, direito tão essencial quanto os outros
para o desenvolvimento e avanço da democracia, em nosso entendimento. Isto por
que representa certo nível de emancipação frente à informação distribuída
majoritariamente através dos canais tradicionais da grande mídia (publicando
informações sob o pretexto do jornalismo imparcial, mas submetido a interesses
específicos). O acesso às fontes alternativas de informação significa que o indivíduo
esteja capacitado a formar sua própria opinião, através de um maior acesso a outras
narrativas que fujam do discurso geral, generalizante. Isto só para dar um exemplo
que consideramos como fundamental ao processo do que chamamos por
amadurecimento da democracia (existem outros pontos interessantes de análise que
repousam sobre o tema – assim como outros pontos de vista -, mas que não
trataremos aqui por reconhecer nossa falta de aprofundamento em tais questões e
também como uma forma de restringir aqui, deliberadamente, este debate ao ponto do
acesso a canais alternativos de informação).
Para demonstrar os avanços ocorridos no acesso a estas tecnologias nos
últimos anos, recorremos a uma pesquisa realizada no ano de 2011. De acordo com o
PNAD (Pesquisa nacional por amostra de domicílios), divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase metade da população brasileira
com 10 anos ou mais de idade (46,5%) acessava a internet em 2011. O índice é mais
do que o dobro do percentual registrado em 2005, quando aproximadamente 21% da
população havia acessado a internet nos últimos três meses por computador ou
notebook. No mesmo período, a população nessa faixa etária cresceu 9,7%1.
Em outra pesquisa, realizada pelo instituto FGV em parceria com a Telefonica
no ano de 2012, podemos constatar a relação direta entre a exclusão digital e a
exclusão social e econômica, tornando a questão da inclusão digital mais complexa do
1O relatório completo pode ser acessado em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000001296230512201323401624212
7.pdf>
que simplesmente aumentar os pontos de acesso gratuito à internet (por exemplo,
através de programas como o Telecentros, programa da prefeitura existente na cidade
de São Paulo, que consiste em espaços espalhados pela cidade que funcionam como
lan-houses gratuitas para a população). Trata-se de uma questão social mais profunda
que merece a atenção das políticas públicas. Segundo a pesquisa, a chance de
acesso da classe AB é 11,8 vezes superior à da classe E, e 4,5 vezes à da classe C.
As regiões mais pobres registram a maior quantidade de lan houses e o menor acesso
à banda larga. As metrópoles apresentam 50% mais chances de acesso à web do que
as demais áreas urbanas. Na área rural, o valor para o acesso à rede é 4,5 vezes
maior devido à dificuldade de oferta de infraestrutura em áreas de população
dispersa2. A idade também é fator relevante para o resultado geral da pesquisa, pois a
maioria da população que acessa a internet é composta por jovens e adolescentes. A
partir dos dados, o Mapa da Inclusão Social 2012 aponta uma necessidade de o
Estado massificar o acesso à banda larga, visto que as concessionárias de telefonia
não têm interesse em levar o serviço ao interior do Brasil. O crescimento acelerado da
banda larga tem ocorrido, sobretudo, em municípios com maior potencial econômico.
Tratando-se de uma juventude urbana que reside em uma grande metrópole
como São Paulo, onde a presente pesquisa foi conduzida, não representa novidade
alguma que o uso destas tecnologias já está profundamente arraigado no modo como
estes cidadãos interagem entre si, se informam e se organizam, seja politicamente ou
para diversos outros fins.
Em um artigo de Severine Macedo, secretária nacional da juventude, publicado
no Le Monde Diplomatique Brasil (2014), foram divulgados alguns dados
interessantes, resultantes da pesquisa Agenda Juventude Brasil, realizada por esta
secretaria. Entre eles, chamamos a atenção para alguns números que parecem
confirmar a relação existente entre a presença incisiva das novas tecnologias de
informação e comunicação e o modo de organização política. Se os jovens estão,
cada vez mais, vivendo e se relacionando em rede, através da internet, o resultado de
sua organização política irá refletir este fato:
Computador e internet são usados por 75% dos jovens e 89%
têm celulares. Para se informar sobre o que acontece no Brasil
e no mundo, 83% usam a televisão aberta, 56% a internet, 23%
os jornais impressos, 21% as rádios comerciais e 17% a TV
paga. Enquanto a TV aberta é o meio de informação mais
acessado por 91% dos jovens de baixa renda, a internet figura
em primeiro lugar entre os mais ricos (73%). (MACEDO, 2014,
p. 8)
2 Para mais detalhes sobre a pesquisa, acessar o Mapa da Inclusão Digital (2012) em
<http://www.cps.fgv.br/cps/telefonica/>
E, também:
Para mudar as coisas no Brasil, “a participação e mobilização
nas ruas e ações diretas” é a opção mais mencionada pelos
jovens (45%). Em seguida vêm a “atuação em associações ou
coletivos que se organizam por alguma causa” (44%), a
“atuação em conselhos, conferências, audiências públicas ou
outros canais de participação deste tipo” (35%), a “atuação pela
internet” (34%) e a “atuação em partidos políticos” (30%).
(Idem, p. 9)
Cabe ressaltar que esta pesquisa foi realizada em abril e maio de 2013, isto é,
antes das manifestações de junho.
Antes de prosseguir, vale lembrar que o Movimento Passe Livre (objeto de
trabalho desta pesquisa etnográfica) não é uma organização que se orienta muito para
a internet. Quando questionados sobre o assunto, os militantes parecem demonstrar
certa indiferença. Seu objetivo real é o trabalho feito a partir de demandas locais
(trabalhos regionais realizados em bairros periféricos da cidade) e na ação direta,
sempre em torno de pautas concretas, por vezes em conjunto com outros movimentos
sociais. O coletivo luta por um transporte público que seja reconhecido como um
direito (como educação, lazer, saúde etc), e, portanto entendem que deva ser um
serviço gratuito e gerido não pela iniciativa privada, mas pela população e os
trabalhadores. Segundo os próprios integrantes, em sua carta de princípios3, “o MPL
não tem fim em si mesmo, deve ser um meio para a construção de uma outra
sociedade. Da mesma forma, a luta pela Tarifa Zero não tem um fim em si mesma. Ela
é o instrumento inicial de debate sobre a transformação da atual concepção de
transporte coletivo urbano, rechaçando a concepção mercadológica de transporte e
abrindo a luta por um transporte público, gratuito e de qualidade, como direito para o
conjunto da sociedade; por um transporte coletivo fora da iniciativa privada, sob
controle público (dos trabalhadores e usuários)”.
Diferente dos partidos tradicionais de esquerda, o MPL não busca conduzir a
massa por um suposto caminho que levará a emancipação da classe trabalhadora.
Como bem afirma Pablo Ortellado (2013), o MPL integra um tipo de movimento que
frequentemente valoriza mais o processo do que o resultado:
[...] É o meio pelo qual atuam, a horizontalidade, a democracia
direta, assim como a criatividade das suas ações, que dão a
eles sabor e sentido. As lutas são ao mesmo tempo
experiências vivas de uma democracia comunitária e espaço
de auto expressão contracultural. Algumas vezes, essa
dimensão processual é sobrevalorizada e mesmo contraposta
3 Divulgada no site oficial do movimento. Disponível em: <
http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/>
aos resultados práticos da ação política. (ORTELLADO, 2013,
p.227)
Configurando assim uma organização política que reconhece e busca apoiar as
lutas espontâneas e outros movimentos sociais (aqueles que se reconhecem
partilhando de uma mesma ideologia libertária e que se pretende transformadora do
status quo, como as questões da desigualdade social, especulação imobiliária, direito
à cidade, repressão policial entre outros), por entenderem as pessoas como células de
poder.
Estas características do movimento refletem-se na identidade das
manifestações do MPL. Estas têm um número reduzido de bandeiras (mas não
excluem partidos); não existe a figura de um líder que fala através de um megafone,
por exemplo, pois a liderança no interior do movimento é distribuída, não se
“cristalizando” na figura de um indivíduo apenas. Isto é, existe uma rotatividade dos
postos de liderança no interior do grupo: alguns militantes são escolhidos para serem
porta-vozes do coletivo para a imprensa, outros para recolherem assinaturas para um
abaixo-assinado que busca implementar a tarifa zero, de acordo com o perfil dos
indivíduos. Ao invés desta figura que fala através do megafone, é utilizado o recurso
do jogral, no qual uma pessoa ou um conjunto pequeno toma a frente de um discurso
dizendo-o em voz alta e pausadamente para que o restante dos manifestantes repitam
as frases - se com elas concordarem.
O recurso à teatralidade também constitui característica essencial das
manifestações organizadas pelo coletivo. Um exemplo disto é o ritual da queima da
catraca. Ele ocorre ao menos uma vez em cada manifestação do MPL, em geral no
momento de encerramento dos atos. Este ritual consiste em dispor de uma ou mais
catracas (às vezes uma catraca real, outras feita de papelão) em meio à manifestação,
abre-se espaço em torno delas, e então é ateado fogo sobre estes objetos enquanto
os manifestantes observam as chamas; quando o fogo diminui é comum que alguns
manifestantes pulem as catracas ainda em chamas, em alusão ao costume de pular a
fogueira em festas de São João. A estética das chamas, ateadas nas catracas,
significam um ataque direto a este objeto que é considerado pelo coletivo seu principal
alvo (é quase uma contemplação observá-las queimando); assim, ludicamente se
exclui este elemento de restrição do pleno usufruto da cidade e da cidadania ao
manter uma tarifa para a locomoção e ao acesso aos equipamentos públicos – é como
se as catracas existissem para além dos ônibus, metrô e trem, mas estivessem
espalhadas por localidades da cidade na medida em que seu acesso está restrito
devido aos valores tarifários do transporte público, anulando o direito à cidade em seu
sentido mais amplo.
Entendemos que ha uma preocupação deste coletivo em manter a identidade
do movimento fiel à sua proposta de luta pelo transporte público e gratuito, buscando
evitar que seja desvirtuada – ou pior, cooptada. Ao mesmo tempo, o uso das redes
digitais é hoje resultado de uma tendência histórica, fazendo parte da vida da maioria
destes jovens. Sua utilização, mesmo que não seja central, acaba refletindo no modo
de organizar-se e agir politicamente.
Método e técnicas de pesquisa
Um pouco antes do início desta pesquisa ser apresentada em forma de projeto,
ainda no início de 2013, se evidenciou a necessidade de um maior aprofundamento
das questões envolvidas para além da pesquisa bibliográfica. A questão central partiu
da seguinte premissa: As TIC’s estão influenciando novas formas de organização
política. Buscamos refletir sobre como estariam relacionados o uso das TIC’s,
enquanto instrumentos de luta política e de uma sociabilidade mediada pela interface
gráfica4 da internet, e uma maneira de organiza-se horizontalmente, em grupos de
lideranças difusas, que se distanciam dos canais institucionais tradicionais.
Desta forma, ficou estipulado, com auxílio da orientação, que a metodologia
mais adequada para a proposta seria a realização de uma etnografia com um grupo já
estruturado e atuante; no caso, o Movimento Passe Livre São Paulo. Tendo
apresentado o projeto no início do mês de junho, antes do que ficou conhecida por
“jornadas de junho”, a pesquisa foi realizada entre setembro de 2013 e junho de 2014.
Esta fez uso das técnicas de observação participante de atos e manifestações, bem
como reuniões de um trabalho sendo realizado em um bairro popular, entrevistas
informais, o acompanhamento dos múltiplos usos das TICs pelo coletivo; e, o uso de
fontes secundárias, inclusive artigos, livros, e material de imprensa sobre as
manifestações de junho e o MPL de modo geral.
Da bibliografia consultada e utilizada destacamos, nesta seção, como modelo
metodológico, um artigo de John Postill (2012), antropólogo especializado no estudo
de mídias digitais, no qual este autor expõe os resultados de duas pesquisas
etnográficas efetuadas na Malásia e na Espanha, respectivamente. Postill advoga em
favor da antropologia no estudo de processos políticos envolvendo o uso de mídias
digitais, pois esta oferece a este nascente campo de estudos um rico léxico político,
que inclui a análise processual, comparações a posteriori e observação participante
assim como outras ferramentas da etnografia clássica para o estudo do que denomina
“política digital”- que se traduz em processos políticos mediados digitalmente.
4 O sistema operacional Windows seria uma interface gráfica, por exemplo, que se utiliza da estética das
“janelas” que permite ao usuário interagir com o sistema sem que seja necessário que ele domine a
linguagem binária numérica da qual o computador opera os comandos e processos. Neste sentido, a
interface gráfica e também física dos navegadores e servidores da rede mundial de computadores
proporciona um instrumento mediador interativo de sociabilidade entre os indivíduos conectados a essa
rede. De um lado temos as práticas de sociabilidade face-a-face, que são mantidas ao modo “tradicional”,
de outro, está presente esta especificidade da sociabilidade em termos virtuais (DORNELLES, 2004).
Postill alerta que não se deve estabelecer uma dicotomia entre as
comunidades e as redes quando o pesquisador se propõe a estudar mídias digitais em
contextos locais. Isso poderia representar uma armadilha e comprometer o trabalho,
pois efetivamente as comunidades não estão sendo impactadas por forças externas e
desconhecidas, que seriam as redes da internet. Antes, segundo Postill, devemos nos
focar na análise do “campo dos assuntos residenciais”. Este termo foi empregado para
denominar as práticas e relações sociais cotidianas que estariam estreitamente
ligadas às tecnologias digitais, como por exemplo, e-mail, portais, fóruns on-line, blogs
e telefones móveis. Em suas próprias palavras, a armadilha:
[...] consiste em reduzir a pluralidade e as formações dos fluxos
sociais e políticos, que invariavelmente são encontrados em
localidades contemporâneas (ex.: grupos de pares, cortes,
associações, gangues, clãs, seitas, mesquitas, facções,
famílias, comitês de ação, grupos de e-mail, grupos de
Facebook, tendências de Twitter), em uma dicotomia simplista
entre comunidade vs. rede. Isto tem sua origem na ideia
errônea de que nossas “comunidades locais” estão sendo
impactadas por uma sociedade em rede global e pela “rede das
redes” conhecida por Internet. (POSTILL, 2012, p.170)
Tal perspectiva, histórico-processual dos fatos, é influenciada, sobretudo pelos
estudos colaborativos realizados pela Escola de Manchester (Gluckman, Turner,
Epstein e outros) durante as décadas de 60 e 70, cuja abordagem conceitual marcou
uma ruptura no campo da antropologia com o paradigma estrutural-funcionalista
vigente na época. Menos rígido que o estrutural-funcionalismo, este modelo de análise
voltou-se para as dinâmicas próprias que são encontradas em campo, e que poderiam
ser facilmente perdidas caso o pesquisador levasse consigo a priori seus modelos
estruturais de análise, por vezes exteriores ao objeto em si.
No contexto da presente pesquisa, e buscando aplicar modelo semelhante ao
exposto acima, detivemo-nos sobre três principais elementos de análise, a saber: a) O
MPL SP em sua atuação enquanto organização política atuando como “mediador”
entre demandas locais e o Estado. Privilegiamos na pesquisa de campo, uma de suas
frentes de trabalho regional realizado no bairro de São Mateus. Porém, também
tivemos a oportunidade de acompanhar algumas manifestações realizadas no centro
de São Paulo. Procuramos descrever e analisar o modo de organização do MPL,
assim como as características que marcam sua identidade. Como entendem a cidade
e buscam agir sobre ela? Quais seus “rituais”; sua ideologia e suas formas de
organização política?; b) As pessoas que contribuem com a causa, mas que não são
militantes do movimento. Podemos utilizar o termo “atores do movimento” (movement
actors) (MAECKELBERGH, 2009), deixando o termo “militante” apenas para os casos
que pode ter-se certeza, pois, existem pessoas que não se identificam como
“militantes” ou “ativistas” por estas palavras trazerem consigo uma conotação de uma
categoria privilegiada, quase como algo que remete a “profissionais”. Além disso, o
termo ‘atores do movimento’ é mais inclusivo por contemplar os atores envolvidos nos
processos, seja um envolvimento temporário ou mais duradouro. Esta categoria, mais
flexível, é essencial para apreender as formas de organização do tipo da qual estamos
interessados; por último, c) Apropriação das tecnologias da informação e comunicação
como instrumentos de articulação e mobilização política, sobretudo a internet para a
comunicação, divulgação, criação e modificação de conteúdo. Incluímos que entre as
TICs apropriadas por nossos sujeitos estão: plataformas como o Facebook, Youtube, e
listas de e-mail.
Observamos o campo dos “assuntos residenciais” no contexto do bairro de São
Mateus, onde o MPL-SP se articulara com moradores e professores locais para
fomentar uma luta pelo retorno de algumas linhas de ônibus que foram cortadas na
região e articular um trabalho regional neste local. Após isto, a análise que fizemos
recaiu para além do bairro e se deteve em uma manifestação que ocorreu no centro
da cidade, em uma reunião aberta entre a população, o MPL-SP e o secretário de
transportes, Jilmar Tatto.
Participação política – O canal organizacional
Existem três grandes vias ou tipos de canais de participação política , segundo
Lúcia Avelar (2004, p.225): 1) o canal eleitoral, que abrange todo o tipo de participação
eleitoral ou partidária, conforme as regras constitucionais do sistema eleitoral de cada
país; 2) os canais corporativos, que são instâncias intermediárias de organização de
categorias e associações de classe para defender seus interesses no âmbito fechado
dos governos e do sistema estatal; 3) o canal organizacional, que consiste em formas
não institucionalizadas de organização coletiva como os movimentos sociais,
subculturas políticas etc.
O Movimento Passe Livre enquanto movimento social se localiza e atua no
terceiro canal; a participação por este tipo de canal:
Abrange as atividades que se dão no espaço não
institucionalizado da política. Um exemplo é o dos movimentos
sociais, que se articulam para objetivos de médio e longo
prazos, com períodos de maior envolvimento e visibilidade,
dependendo da agenda da organização. Seus membros são
chamados de militantes que se unem em redes de relações
informais, compartilhando crenças que, no geral, contestam os
valores correntes de uma sociedade, lutando para superá-los,
porque são restritivos, inferiores, ao justificar uma estrutura
social que marginaliza grande parte da sociedade. A eficácia
dos movimentos depende da densidade da rede social
produzida, o que depende do esforço de cooperação dos seus
membros e da identificação com os interesses comuns.
(AVELAR, 2004, p.226)
A origem do Movimento Passe Livre remonta ao ano de 2003, em Salvador,
quando milhares de pessoas ocuparam as ruas por mais de três semanas para barrar
o aumento da tarifa de ônibus na capital baiana em um episódio que ficou conhecido
por “revolta do busu”, mas é somente em 2005, no Fórum Social Mundial de Porto
Alegre, que o movimento foi fundado e constituído da forma como vigora até hoje
(POMAR, 2013).
Atualmente o MPL-SP segue ativo em algumas frentes de trabalho, chamados
de trabalhos regionais, que consistem em articular com a população local de bairros
da periferia da cidade de São Paulo atividades que visam dar visibilidade e fazer
pressão frente ao Estado para que demandas relacionadas ao transporte público, mas
que não se limitam apenas a esta questão, como veremos adiante, sejam
atendidas/melhoradas/modificadas.
Trabalho regional em um bairro da periferia de São Paulo
Em um momento inicial do trabalho regional realizado pelo MPL no bairro de
São Mateus, zona leste da capital, aproximei-me desta atividade quando participei
pela primeira vez de uma reunião aberta no mês de outubro de 2013, inaugurando o
trabalho de campo. Existem trabalhos que se iniciaram há mais tempo em outras
regiões da cidade, mas naquele momento estavam visando uma maior participação na
zona leste. As reuniões com os moradores da região fazem parte das atividades
regionais e representam um momento onde um grupo de militantes, escolhidos entre
os integrantes do coletivo, geralmente consultando previamente a agenda pessoal de
cada um, se encontram e debatem algumas questões sobre transporte público com os
habitantes locais, e estes expõe suas demandas, dificuldades e opiniões sobre o que
pode ser feito em termos de mobilizações e que contatos poderiam ser interessantes
de serem realizados para tais finalidades.
A reunião, divulgada com antecedência de uma semana através de uma
página no Facebook intitulada de “Luta pelo transporte em São Mateus”, contava com
uma frase utilizada de slogan na descrição do evento, sintetizando a proposta deste
tipo de trabalho: “Reunião aberta do Mov. Passe Livre
Venha discutir os problemas de transporte do bairro!” (Disponível em:
<https://www.facebook.com/events/182733565248246/?ref_dashboard_filter=calendar
>) ocorreu em uma praça em frente ao Terminal São Mateus, no dia 12/10/2013.
Neste dia, fizemos uma divisão das pessoas ali presentes em 3 grupos, cada grupo
com um tema, com o objetivo de criar um texto de coautoria sobre cada tema. Ao todo,
haviam 15 pessoas presentes, sendo 10 pessoas interessadas e 5 militantes do MPL.
Fiquei com o tema “Lotação” (situação do excesso de passageiros no transporte
público), formando um grupo com outras 3 pessoas e um militante do MPL. Para tanto,
um ativista do MPL anotou os e-mails de cada pessoa ali presente e foi enviado um e-
mail com cópia para todas as pessoas para a manutenção dos contatos, para
combinar a data da próxima reunião e a realização da atividade dos textos, que seriam
utilizados futuramente. Porém, logo nos dias que se seguiram esta atividade teve de
ser cancelada, pois dali duas semanas, no dia 26 de outubro, já estava marcado o “Ato
por TARIFA ZERO na semana do transporte público” 5, o que exigiu da organização
interna dos militantes um foco maior para este evento.
No mesmo dia que ocorreu o ato por tarifa zero, 26 de outubro, foram
anunciadas as mudanças que foram feitas em pelo menos 80 linhas de ônibus na zona
leste de São Paulo6. Estas mudanças significaram diversas linhas cortadas, sob a
alegação que a criação de novos terminais de ônibus, melhoraria a qualidade dos
serviços prestados e um menor tempo de espera nos pontos e terminais de ônibus. Na
região de São Mateus foram cortadas 43 linhas de ônibus, sendo que algumas delas
constituíam importantes trechos no itinerário entre estes bairros e o centro da cidade.
Na realidade, o que foi vivenciado por milhares de cidadãos paulistanos foi uma
situação caótica de desorganização e falta de informação em relação aos novos
itinerários. A SPTRANS e a prefeitura de São Paulo não consultaram previamente a
população sobre qualquer possibilidade de estudar quais linhas poderiam afetar mais
ou menos o cotidiano da população antes de programar e implementar estas
mudanças.
Houve duas manifestações em São Mateus após os cortes que não contaram
com o envolvimento do MPL. O MPL apoiou e fez a chamada à população para uma
terceira manifestação; o “3º ato contra o corte de linhas em São Mateus” aconteceu
em 07/11/13. Como de costume, um militante ficava com a atribuição de criar um
evento no Facebook com a data e horário dos atos que iriam ocorrer, através da
página “Luta pelo transporte em São Mateus”
(<https://www.facebook.com/lutatransportesaomateus?ref=profile>), como forma de
divulgar ao maior número possível de pessoas7.
O espaço que é proporcionado pelo evento no Facebook, isto é, a interface
gráfica mais a conexão à rede, permite às pessoas uma interação virtual, através da
5 “Todos os anos, celebramos a semana do dia 26 de outubro como uma ocasião de luta. Essa data é
importante porque remonta às mobilizações e conquistas da Revolta da Catraca de 2004, em
Florianópolis, uma das lutas que deu origem ao Movimento Passe Livre. É preciso manter viva a memória
para sempre lembrar que nossa luta não começou agora - e que só vai terminar com o fim de todas as
catracas”(recorte.MPL,2013)disponível em:
<https://www.facebook.com/events/1397777973788282/?ref=2&ref_dashboard_filter=calendar> 6 Notícia sobre as mudanças na imprensa, publicada na época: <<http://g1.globo.com/sao-
paulo/noticia/2013/10/veja-mudancas-nas-linhas-de-onibus-na-zona-leste-de-sp.html> Acessado em:
30/10/13 7 Endereço para o evento criado no Facebook, com as informações do 3º ato contra o corte de linhas:
<https://www.facebook.com/events/617606711631577>).
possibilidade de postarem no mural da página referente ao evento suas opiniões,
suscitando debates. Também é comum que postem links de outros materiais que
possam estar relacionados direta e indiretamente com o tema central, incluindo
vídeos, notícias e também eventos de outras manifestações de outros coletivos e
movimentos sociais. Abaixo, um exemplo de como se dá este tipo de interação via
interface gráfica mais a conexão em rede: um indivíduo publicou no mural do evento
criado no Facebook um breve relato da reunião que ocorreu dias antes do “3º ato
contra o corte de linhas...” entre alguns moradores, militantes do MPL e funcionários
da SPTRANS. A publicação foi feita um dia antes do ato.
Interface básica (curtir, comentar e compartilhar) do sistema da rede social Facebook, que
permite a interação entre seus usuários (este recorte é referente ao mural do evento do 3º Ato
pelo retorno das linhas em São Mateus).
Ainda se tratando da mesma página de evento referente ao ato ocorrido no dia
07/11/13, destacamos outro exemplo de interação entre os usuários da rede: Um
vídeo amador gravado por uma garota, no qual ela mesma se filmava e expunha sua
experiência com os cortes8. Indignada, a garota pretendia que outras pessoas em
semelhante situação tomassem posição frente aos ajustes arbitrários das empresas de
transporte e da prefeitura de São Paulo (o vídeo foi postado na seção de comentários
da página do evento criado pelo “Luta do transporte em São Mateus” pela própria
pessoa que o gravou, recebendo como resposta comentários de apoio e aprovação de
pessoas que se sensibilizaram ou se viam na mesma situação). Além dela, um rapaz,
por iniciativa própria, buscou se articular com o MPL para realizar este ato em São
Mateus. No mural do evento ele expressa, através de um pequeno texto em formato
de imagem, algumas de suas opiniões:
“Recentemente participei dos protestos pela revogação do aumento da
passagem de ônibus. Nunca tinha ido a um protesto, pois tinha medo, preguiça e
sempre acreditei que protestar não daria em nada. Até que um dia eu vi um monte de
gente indo às ruas mesmo com a polícia recebendo ordens para descer o cacete até
quando a manifestação estava pacífica e com parte da mídia partidária chamando de
vândalos e baderneiros aqueles que lutavam por algo que beneficiaria a mim também.
A vergonha de permanecer de braços cruzados começou a se unir a um bom senso
que surgia dentro de mim. Decisão tomada!”.9
Há de se ressaltar que este recurso de criação de evento no Facebook,
bastante comum aos usuários da rede, funciona sobremaneira como forma de
divulgação devido ao seu caráter viral. Isto é, ele se espalha facilmente através dos
convites, da sugestão entre os usuários, como forma de divulgar também fora da rede,
copiando o link do endereço do evento e sugerindo que as pessoas acessem “para
mais informações”. Isto pode acabar levando mais pessoas ao evento em simples
consequência ao maior número de pessoas informadas a respeito através da
divulgação, mas não garante que isto aconteça. Por exemplo, é comum que o número
de pessoas “confirmadas” (que selecionaram na página do evento uma confirmação
de que estarão presentes no local, no dia e na hora do evento) seja maior que a
quantidade de pessoas que se encontra no evento de fato. Ao mesmo tempo, cabe
ressaltar que a página de um evento é um espaço de divulgação que proporciona
debates e continua fomentando a criação de outros eventos, pois esta permanece
online mesmo após o evento ter ocorrido. A página de um evento acaba funcionando
como um histórico; mas pertence ao Facebook o poder de apagar ou não este tipo de
conteúdo, não sendo possível saber até quando essas páginas ficarão à disposição.
8 O vídeo pode ser visto no Youtube através do endereço: <
http://www.youtube.com/watch?v=R89TcGcHr2E>. 9 O texto inteiro faz parte de um arquivo em imagem postado no mural do evento “3º Ato contra o corte
de linhas em São Mateus”: <
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10152317440214045&set=gm.621886747870240&type=1&t
heater>
No dia do ato de 7 de novembro, apenas cerca de 30 a 40 pessoas
participaram, embora 10 mil foram convidados via Facebook, e 556 pessoas
“confirmaram”10 a participação., A manifestação partiu do Terminal São Mateus e
caminhou até uma importante avenida da região. O ato seguiu pela via pública,
reduzindo a velocidade do trânsito da via, onde carros e motos desviavam como
podiam das pessoas que seguiam atrás de uma grande faixa preta com letras brancas
"contra o corte de linhas”. Funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET) estavam presentes. Um pouco antes de a manifestação sair em caminhada,
militantes do MPL conversavam a respeito do trajeto que seria percorrido com estes
funcionários.
Após estes três atos, uma linha de ônibus voltou a operar em 23/11/13: a
407E/10 Jardim Santo André – Metrô Carrão. Esta linha não operava na região de São
Mateus, mas no Jd. Santo André, também na zona leste da capital. Porém, o sucesso
obtido nesta luta fomentou de modo positivo o trabalho efetuado pela articulação entre
militantes do MPL e moradores locais, ou “atores do movimento” em São Mateus em
prol da reativação da linha 3354-10 Jd.Colonial – Pq. Dom Pedro II, linha antes
responsável por ligar diretamente o bairro ao centro da cidade. A volta desta linha
tornou-se um dos principais objetivos da frente do trabalho regional em São Mateus a
partir de então.
No final de 2013 estas reuniões abertas pararam de acontecer e foram
retomadas novamente no início deste ano. No dia 22/02/14 aconteceu novamente uma
reunião com um pequeno grupo de 10 pessoas, ao todo, envolvidas no trabalho de
São Mateus; entre estes “atores do movimento” se incluem jovens estudantes, alguns
professores de história e sociologia que lecionam em escolas da região, e uma
senhora moradora do bairro. Esta reunião11 foi mais divulgada que as anteriores que
ocorreram durante o ano de 2013. Uma semana antes da data marcada para ocorrer a
reunião houve bastante divulgação através do Facebook, com publicações de imagens
e textos.
A página “Luta pelo transporte em São Mateus” divulga os eventos que são
criados pelo MPL SP visando esta região, mas também é utilizada como meio de
divulgar vídeos, textos e outros links em geral. Foram publicadas – com maior
frequência durante o ano de 2013 - imagens de teor político e, algumas vezes, de
humor como recurso de contestação do modo como está organizado o modelo de
transporte público atual. Uma ilustração de um ônibus lotado de gado com os dizeres
“dia após dia, tratados feito animais” foi uma delas, seguido de, na seção de
10
Este fato gera debates entre os próprios usuários, no mural de comentários, que frequentemente
questionam qual seria então a intenção das pessoas que confirmam presença no evento se não pretender ir
de fato. As pessoas associam a confirmação de presença virtual com o apoio que elas sentem com a causa
em questão. Também fazem isto como forma de divulgar o evento para seus contatos pessoais (redes de
relacionamentos pessoais). Ainda assim, esta questão continua sendo bastante debatida. 11
Disponível em: <https://www.facebook.com/events/1443753105861743/?ref=ts&fref=ts>.
comentários, um comentário da própria página com o link do evento que continha
informações sobre a reunião a ser realizada no dia 22 de fevereiro. Esta maior
divulgação se refletiu no número de confirmações na página do evento, que chegou a
marcar 65 confirmações, o dobro da média que costumava ocorre nos eventos criados
pelo "Luta do transporte em São Mateus" para divulgar as reuniões abertas.
Comum nas redes sociais, este tipo de montagem12 se utiliza de humor, com
doses de ironia, como forma de fomentar debates em torno de temas específicos e
atuais; devido ao seu potencial viral, de fácil elaboração - exigindo apenas recursos
básicos de edição de imagens para unir frases a fotografias digitalizadas ou outro tipo
de imagem -, são bastante conhecidos por usuários de redes sociais por se
espalharem rapidamente pelo feed de notícias. Abaixo, uma imagem que ilustra bem o
uso deste tipo de recurso: através do Google Mapas (sistema gratuito de busca de
posicionamento global por satélite – GPS) elaborou-se uma visualização das áreas
afetadas pelo corte da linha 3354-10 como uma forma de demonstrar o tamanho do
impacto do corte de uma linha de ônibus na vida das pessoas que dependem deste
tipo de serviço.
Imagem publicada na página do “Luta pelo transporte em São Mateus” em 18/03/14 para divulgar um
evento criado da próxima reunião aberta.
12
Trata-se de uma mistura simples de uma imagem com alguma frase. Geralmente, será apenas engraçado
para quem estiver habituado com esta linguagem e minimante informado do debate do qual está sendo
referenciado. É comum que se façam estas montagens logo após os acontecimentos, versando sempre
sobre os temas mais atuais.
Na reunião, que ocorreu em um dos bancos da praça, foi realizado um
levantamento de quais ações seriam necessárias e de como fazê-las para atingir o
objetivo de "trazer" de volta a linha de ônibus Jd. Colonial – Pq. Dom Pedro II (3354-
10), que passava pela mesma avenida onde estávamos (Av. Maria Cursi) e era uma
ligação direta do bairro ao centro. No início, um morador do bairro que também é
militante e a senhora moradora expuseram ao grupo a experiência que tiveram na
reunião com a SPTRANS. Os dois, mais outros dois moradores, que não estavam
presentes na reunião naquele momento, estiveram com uma equipe que os recebeu
para tratar do corte da linha 3354-10. Quanto ao retorno da linha, a equipe da
SPTRANS lhes disse que seria impossível, e que estariam realizando estudos para
possíveis soluções ao problema dos moradores do Jd. Colonial dentro de um prazo de
30 dias. Uma alternativa que a SPTRANS deu como resposta foi a possibilidade de
fazer um desvio de outra linha que não é muito utilizada , segundo os moradores, para
fazer o trajeto da Av. Maria Cursi até a Av. Mateo Bei, muito importante na região.
Durante aproximadamente quarenta minutos foram levantadas e discutidas
algumas ideias para o estabelecimento das diretrizes para as futuras ações. Uma
questão que surgiu logo no início foi a de “enviar” uma resposta de insatisfação por
parte dos moradores antes da data de 30/05/14 estabelecida pela SPTRANS para
demonstrar que não estão estariam esperando passivamente pela resposta. Esta ideia
foi colocada por um militante do MPL. Com isso em mente, foram estipuladas duas
principais ações: 1)Ato em frente à subprefeitura de São Mateus, parando a Avenida
Ragueb Chohfi, via pública importante da região; 2)Ato em frente à Secretaria de
Transportes em conjunto com os outros bairros que também estão sofrendo as
consequências dos cortes de linhas (Vila Gomes, Campo Limpo, Cidade Tiradentes
entre outros) - o primeiro ato ocorreu no dia 30/05/214 e o segundo acabou não
acontecendo. Além disto, também foi levantada uma ideia de se aproximar dos
cobradores e condutores de ônibus para sondá-los sobre o que eles pensam sobre os
cortes e o sistema de transporte, visando, talvez, uma possível parceira entre estas
pessoas e o MPL-SP nesta causa de São Mateus. Esta foi uma ideia considerada
delicada e difícil de ser realizada devido ao vínculo empregatício destas pessoas, que
poderiam temer a demissão como resposta à suas posições. Porém, acharam que
poderia ser interessante de se tentar, pois a insatisfação com as longas horas de
trabalho é um fato. Após a reunião, o grupo manteve o contato através de uma lista de
e-mails com aproximadamente 15 pessoas no Gmail. Esta lista permitiu a todos
aqueles que estavam inclusos nela visualizarem as mensagens trocadas pelas
pessoas do grupo. Isso possibilitou que as questões centrais, estabelecidas em
reunião presencial, continuassem sendo debatidas e administradas enquanto a
próxima reunião presencial não acontecia. Desta forma, manteve-se a articulação e a
comunicação entre as pessoas do grupo. Este tipo de trabalho regional ocorre sempre
baseado na divisão de tarefas entre os militantes, que buscam sempre administrar
suas agendas pessoais e suas redes de relações conforme as diretrizes e os objetivos
estabelecidos para todo o grupo.
Na reunião seguinte já não havia mais o caráter de debate aberto com os
moradores, mas de um encontro deste grupo que estava realizando o trabalho em São
Mateus com o intuito de dar continuidade ao que fora estipulado. Não houve
divulgação de evento, a data e o horário foram marcados via e-mail, sendo
desmarcadas duas vezes antes por conta da indisponibilidade de pessoas que seriam
centrais ao trabalho, sobretudo moradores do bairro que são militantes por serem os
responsáveis pela rede de relações locais. Um consenso mínimo sempre é buscado
em relação às datas, diretrizes e divisão das tarefas.
Tendo estabelecido a data e a confirmação dos militantes, moradores e não
moradores do bairro, a reunião ocorreu com 7 pessoas presentes, duas das quais
eram moradores do bairro. A reunião teve como foco a dinâmica em torno das
atividades que seriam realizadas em escolas públicas da região. Foram levantadas a
possibilidade de fazer atividades em 4 escolas, mas havia a possibilidade real em
iniciar o trabalho naquele momento em apenas uma delas, pois havia um contato na
escola estadual Sapopemba (um morador da região e militante que integrava o grupo
lecionava aulas de História nesta escola). Além da questão das atividades na escola
Sapopemba também foi discutido e melhor elaborado a ideia de realização de um ato
na região, já previsto para ocorrer desde a reunião anterior. Questões como rota de
percurso, data e horário foram levantadas para a realização do ato que fora pensado
para ocorrer em frente à subprefeitura de São Mateus no dia 30/05/14. Ficou
deliberado também que se criassem e-mails do RiseUp para as pessoas do grupo
(RiseUp é uma plataforma de mensagens que funciona como uma conta de e-mail,
com a diferença de que seus dados pessoais estão garantido contra espionagem ou
sejam “vendidos” para empresas (como ocorre com os serviços tradicionais como o
Gmail). Criado por militantes que garantem o total anonimato e a certeza de que não
irão utilizar os dados para outros fins que não sejam os que estão declarados, esta
plataforma é utilizada por outros militantes de diversos movimentos sociais engajados
em causas sociais libertárias e se mantem através de doações). Para criar um email
deste é necessário que se receba um convite de alguém que já esteja dentro da rede
ou através do envio de algumas informações a respeito de que movimento social a
pessoa faz parte, a cidade onde mora etc. Vale ressaltar que neste período estava
havendo uma forte pressão por parte da polícia para levar militantes do MPL SP a
depor em um inquérito. Tal medida foi entendida pelo coletivo como uma forma, ilegal,
de mapear e guardar informações a respeito dos militantes do MPL e uma tentativa de
criminalizar os movimentos sociais de um modo geral.
Na semana seguinte à reunião, as atividades ficaram concentradas no trabalho
a ser realizado na escola estadual Sapopemba. Nesta escola o contato e a realização
das atividades foram possíveis através do D, militante e morador do bairro, também
professor de História do ensino fundamental e médio nesta escola. Ele conversou
previamente com a diretoria da escola e arranjou um espaço para o MPL SP conversar
com os alunos do ensino médio durante o período das aulas de Sociologia do
professor R, amigo de D que estava ministrando aulas sobre movimentos sociais
naquela semana. R obviamente simpatizava com o MPL e, por isso, cedeu o espaço
de suas aulas para a realização destas atividades. Estabelecemos os dias e o período
(manhã ou noite) nos quais cada um iria comparecer, formando alguns grupos de no
mínimo duas pessoas. Comprometi-me em comparecer em uma sexta-feira no período
da manhã.
Este tipo de atividade na Escola Sapopemba representa bem o modo de
trabalhar do MPL, que consiste em conversar abertamente com os alunos, sem a
pretensão de conduzi-los, mas buscando fomentar o desejo de mudança destes
jovens. Foi este tipo de trabalho que levou aos primeiros atos de junho de 2013,
quando se tratava exclusivamente da pauta da redução da tarifa. Neste dia, 7/5/14,
compareci na escola para auxiliar um militante que estava sozinho conduzindo a
atividade.
Questões como o preço da passagem, a qualidade dos serviços, a
superlotação etc. são muito bem conhecidas por essa parcela da população, não
precisando entrar em maiores detalhes, muito menos se esforçar para que seja
reconhecida a exploração que ocorre. Porém, questões mais técnicas, como é o caso
das peculiaridades deste modelo atual do transporte, que é considerado público, e
está organizado por empresas que seguem a lógica do lucro, como operam e como
são favorecidas por alguns políticos não é muito simples e não são todas as pessoas
que o entendem. Este tipo de atividade busca também a conscientização e reflexão
em torno de temas como o direito ao Lazer, à Saúde e à Educação. Abria-se um
espaço para os alunos falarem dos equipamentos e locais da cidade que ofereciam
acesso a estes direitos – logo apareciam coisas como: Parques, cinema, pistas de
skate, shopping, casa do namorado (a), emprego, comércio, hospital, boteco, etc. Com
tudo isto escrito em uma parte da lousa da sala de aula, se indagava aos alunos se o
direito à cidade existia, de fato, isto é, se o acesso a estes equipamentos de lazer,
saúde e educação por eles mencionados eram garantidos a todos ou se eram restritos
e limitados pela disponibilidade de linhas de ônibus específicas e pelo preço das
tarifas, que muitos brasileiros não podem pagar. Durante o período de uma aula
fizemos esta atividade dinâmica com todas as turmas que teriam aula com o professor
R naquele dia. Ao final sempre se deixava o endereço da página oficial do MPL-SP no
Facebook e o “Luta pelo Transporte em São Mates” na lousa, assim como a data e o
horário do próximo ato que iria ocorrer na frente da subprefeitura de São Mateus no
dia 30/05/14.
Canal alternativo: debate a céu aberto com o Secretário
No dia 20/02/14, paralelamente ao trabalho regional em São Mateus, ocorreu
um evento na região central de SP organizado pelo MPL SP. Em resposta a um
pronunciamento do Secretário de Transportes, em entrevista à imprensa, afirmando
que se dispunha a debater com o movimento sobre o corte de linhas e o modelo de
organização do transporte, na hora em que quisessem, sem problemas13, o MPL
organizou um ato. O debate foi então marcado sob as condições definidas pelo MPL
SP.
Com algumas semanas de antecedência foi publicado e divulgado, através do
perfil oficial do MPL São Paulo no Facebook, um evento contendo a data e o local
agendados para o debate com o Secretário. No mural do evento podia-se ler uma
chamada a todos àqueles interessados – por estarem sendo diretamente afetados
pelos cortes ou não: “A linha de ônibus que você pegava foi cortada? Alguém
consultou os passageiros antes? Você sabe o motivo? Quem ganha com os cortes de
linhas? Venha ao debate e faça essas perguntas e todas as outras que você quer
saber diretamente com Secretário de Transportes, que diz estar aberto para explicar”
14.
O MPL-SP chamou algumas pessoas a participarem do debate. Estas pessoas
foram diretamente afetadas pelos cortes e, algumas delas, tiveram a chance de falar
ao microfone, que estava aberto para ser usado mediante uma lista de nomes que
obedecia uma regra para organizar o tempo.
Realizado em frente à prefeitura, o debate ocorreu a céu aberto, sendo
montadas cadeiras de plástico e um sistema de som improvisado. Compareceram
militantes do MPL, “atores do movimento” de diferentes bairros populares cujas linhas
haviam sido cortadas, transeuntes curiosos, a imprensa e o Secretário de Transportes,
Jilmar Tatto.
A experiência, ao mesmo tempo em que abriu espaço para algumas
manifestações espontâneas, foi claramente planejada segundo certa estratégia.
Buscando promover um espaço aberto de debate, o MPL organizou a ocasião para
que atores que dificilmente se encontrariam de outra maneira pudessem dialogar.
Diálogo que não ocorreu em uma igualdade de forças, já que o Secretário dispõe de
muito mais poder político. A simbologia da ocasião, no entanto, é bastante poderosa:
13
Declaração feita por Jilmar Tatto para o portal de notícias R7. Disponível em:
<http://noticias.r7.com/sao-paulo/secretario-de-haddad-nega-favorecimento-aos-empresarios-e-critica-
mpl-estao-enganados-08112013> Acessado em: 25/01/14
14
Disponível em: <https://www.facebook.com/events/489572097820669>
fora do prédio da prefeitura, o Secretário de transportes se encontrava sentado em
uma cadeira de plástico, junto com uma aglomeração de pessoas que se agitavam em
volta. Algumas gritavam alto pela volta de algumas linhas - “volta azulzinho!”, por
exemplo, se referindo a um ônibus de cor azul que fora retirado de circulação e depois
voltou no bairro de Vila Gomes.
O Secretário buscava, de forma bem humorada, sair da melhor maneira
possível da situação e chegou até a prometer o congelamento dos cortes e a devida
divulgação destes se viessem a acontecer novamente. No mais, muita coisa ficou em
aberto e o argumento utilizado foi o de existir um plano para implementação de um
sistema estrutural de transporte público paulistano e 150 quilômetros de faixas
exclusivas para ônibus, que estavam sendo implementados na época.
No final do debate, uma militante do MPL entregou ao Secretário uma catraca
dourada, representando um troféu, o “2ºTroféu Catraca”, pelos serviços prestados aos
empresários do transporte. Estes elementos teatrais fazem parte da maneira lúdica
com que o MPL busca questionar a política de transportes e a explicitar os interesses
que ela realmente atende. O ritual de pular uma catraca, presente em todas as
manifestações do coletivo, fechou o evento.
Considerações finais
O MPL SP, como grupo intermediador/canal de diálogo entre população e
poder público, busca operar através de uma forma horizontal, onde podemos
contemplar um modo de fazer política que se situa fora do âmbito institucional
tradicional. Sendo assim, a maneira de interferir no espaço urbano através da ação
direta mais a forma distribuída da liderança, ou seja, o modo de entender que os
indivíduos são células de poder e que podem e devem reivindicar seu direito à cidade,
fruto de seu próprio trabalho, apresentou uma forma de articulação política que se
distancia da maneira de atuar dos partidos políticos tradicionais. A filiação, neste caso,
requer tão somente um sério engajamento do indivíduo em atuar de forma a incorporar
as mudanças que acredita ser necessárias à sociedade e tomar para si a
responsabilidade desta mudança.
Um encontro casual entre diferentes agentes não pressupõe, necessariamente,
uma conotação política - isto ocorre cotidianamente no espaço urbano de uma grande
metrópole como São Paulo. O encontro torna-se político por razão de seu contexto,
que ocorre somente quando uma situação extraordinária desvela-se, como no caso
que vivenciamos no debate com o Secretário de Transportes junto com distintos atores
em uma configuração improvável, extraordinária. As formas habituais de relacionar-se
na e com a cidade são formas conservadoras deste sistema de coisas, no qual apenas
reproduzem-se os mecanismos de dominação e repressão dos desejos. Uma
manifestação no interior deste sistema deve acionar uma ruptura no fluxo habitual das
relações e, então, ocorre um momento político. Segundo Michel Agier (2011):
Criações artísticas ou ações políticas podem, de maneira
efêmera, pôr em relação indivíduos diferentes – e não apenas
os anônimos da multidão. Todos à procura de conexões e de
associações que procuram existir contra o vazio de sentido e
de relações que espreitam, como uma ameaça, qualquer
habitante das cidades. A partir de encontros ritualizados,
localizados, essas situações e as pessoas que são
mobilizadas fazem, por conseguinte, viver a cidade a longo
prazo ao mesmo tempo que fazem aparecer as comunidades
de movimento. (AGIER, 2011, p. 174)
Neste sentido, se levarmos ainda em conta o espaço de trocas
comunicacionais que ocorre no ambiente essencialmente virtual da internet, temos
fluxos ainda mais fluídos e descentralizados – mas não menos reais. Se na rotina
diária, onde o que impera é o tempo das relações de trabalho, o espaço
comunicacional dinâmico e aberto da internet representa um ambiente onde estas
conexões podem ser restabelecidas, criadas, ou então fortalecidas. Além disto, o
espaço virtual oferece um canal alternativo e, portanto mais autônomo em relação aos
meios da grande imprensa. A conectividade das redes permite também que seja
possível o engajamento em frentes simultâneas.
O que se configura a partir desta sinergia entre os dois ambientes, urbano e
virtual, é denominado por Castells (2012) de espaço híbrido. Segundo o autor
Esse híbrido de cibernética e espaço urbano constitui um
terceiro espaço, a que dou o nome de espaço da autonomia,
porque só se pode garantir autonomia pela capacidade de se
organizar no espaço livre das redes de comunicação; mas, ao
mesmo tempo, ela pode ser exercida como força
transformadora, desafiando a ordem institucional disciplinar, ao
reclamar o espaço da cidade para seus cidadãos. Autonomia
sem desafio torna-se retirada. Desafio sem uma base
permanente para a autonomia no espaço dos fluxos equivale a
um ativismo interrompido. O espaço da autonomia é a nova
forma espacial dos movimentos sociais em rede. (CASTELLS,
2013, p.16-17)
Em se tratando de uma juventude urbana que vive em uma grande metrópole
como São Paulo, são vivenciadas situações extenuantes de um modo de vida cada
vez menos voltado para o indivíduo e mais para a especulação imobiliária, o capital
financeiro e uma urbanização mais interessada em tornar a cidade vitrine para
negócios do que proporcionar condições mínimas de vida digna através de políticas
públicas. Sendo assim, com um sistema representativo desacreditado, resta mobilizar-
se com aqueles que se sentem da mesma maneira na experiência urbana. Dominando
o uso das novas TIC’s, estes indivíduos se apropriam delas como instrumentos de luta
política, ao mesmo tempo em que seguem inovando antigas formas de organização na
medida em que estas lutas vão se desenrolando.
Eunice Durham (2004) em uma reflexão sobre os movimentos sociais que
surgiam na década de 80 na cidade de São Paulo aponta para que se atente à
questão da consolidação de um sentimento de comunidade que repousa na vivência
de uma mesma carência. Este termo não é o mais adequado para ser utilizado em um
contexto atual, pois, não se trata mais de carências – como no caso de falta de
saneamento básico nas regiões da periferia da cidade em que estavam sendo
conduzidos os estudos na época -, mas de insatisfações que a experiência urbana
impõe a milhares de pessoas, negando-lhes o direito ao transporte público, e, por
conseguinte, o acesso a outros direitos sociais. Isso não invalida o conceito da
constituição de um sentimento de igualdade ou comunidade que repousa em uma
negatividade em comum. A experiência deste sentimento é bastante poderosa durante
o tempo em que persiste e pode ser transformadora.
É importante investigar, então, esse processo de criação
interna de igualdade (mítica?) que se consubstancia na
categoria comunidade, termo que permeia todo discurso
produzido pelos movimentos sociais. Podemos dizer que a
construção dessa igualdade se dá por meio de uma
negatividade específica. Vimos que os movimentos se
articulam pela formação de uma carência coletiva. Os
indivíduos mais diversos tornam-se iguais na medida em que
sofrem a mesma carência. A igualdade da carência recobre a
heterogeneidade das positividades (dos bens, das
capacidades, do trabalho, dos recursos culturais). No
movimento, diante da mesma carência, todos se tornam iguais
e vivem a experiência da comunidade. Os movimentos sociais
se constituem, portanto, como um lugar privilegiado onde a
noção abstrata da igualdade pode ser referida a uma
experiência de vida. (DURHAM, 2004, p. 289-290).
Portanto, o que está em jogo nada mais é do que a continuação das lutas dos
movimentos sociais, que sempre foram os produtores de novos valores e objetivos em
torno dos quais as instituições da sociedade se transformaram a fim de representar
esses valores criando novas normas para organizar a vida social (CASTELLS, 2013).
Se estas novas formas ainda não se consolidaram em instituições, que
entendemos ser o caso deste momento em que nos encontramos, é de suma
importância que se continue a luta não apenas no âmbito virtual, mas se utilizando
destas ferramentas para o debate e articulação política, assim como as manifestações
de ação direta no espaço urbano, pois como bem aponta Castells,
Uma vez que o espaço público institucional – o espaço
constitucionalmente designado para a deliberação – está
ocupado pelos interesses das elites dominantes e suas redes,
os movimentos sociais precisam abrir um novo espaço público
que não se limite à internet, mas se torne visível nos lugares
da vida social. É por isso que ocupam o espaço urbano e os
prédios simbólicos. (CASTELLS, 2013, p.14)
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