FOTONOVELA - Virgínia

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Prefácio à edição digital Virgínia foi um dos muitos trabalhos realizados por um

grupo de amigos criativos no início dos anos 1980. Ninguém

ali tinha muita responsabilidade, nem família para

sustentar, muito pelo contrário: a gente ainda era

parcialmente sustentado pelos nossos pais. Eu, pessoalmente

tinha uns 27 anos e graças ao apoio e parceria desses

amigos artistas estava vivendo uma fase de grande produção

cultural. E a gente ainda organizava, modéstia à parte, as

melhores festas da cidade

Na editora Três essa gangue de escritores, cineastas,

desenhistas e músicos encontrou o apoio total de uma dupla

de editores: Leonel Prata e Ana Torregros. Graças aos dois,

eu escrevi matérias jornalísticas, folhetins policiais,

quadrinhos para revistas editadas por Leonel e Ana. Faltava

uma boa fotonovela.

O roteiro foi escrito por mim e pelo meu parceiro Lu Gomes.

A história tinha que ser erótica sem ser pornográfica.

Seguimos o caminho da menina-inocente-vítima-de-

malfeitores-tarado. Haviam duas influências diretas nesse

argumento. Uma era a série em quadrinhos Paulette, de

Georges Pichard e Wolinski. A outra era o filme Candy

escrito por Buck Henry e dirigido por Christian Marquand em

1968. (Filme por sua vez inspirado no clássico Candide, de

Voltaire).

À revista seria destinada, é claro, a leitores de pouca

sofisticação cultural. Pronta a revistinha, o dono da

editora criticou sua “falta de erotismo”. Pois nós, que

realizamos Virgínia, sempre tivemos o maior orgulho de

nosso trabalho. Pode não ter sido tão “erótico”, mas poucas

fotonovelas brasileiras tiveram tanto cuidado na sua

criação e na produção.

A maior parte da responsabilidade pelo bom trabalho caiu em

duas pessoas. Uma delas foi o diretor Flávio Del Carlo, o

cineasta premiado em Gramado e conhecido especialmente

pelos seus curtas em animação. Del Carlo garantiu a cada

página de Virgínia um grande capricho visual. Sempre me

impressionou a cena da página 45 (os casais fugindo na lua

cheia) pelo trabalho que deu. Naquele tempo não havia

computador nem Photoshop. Era tudo analógico e precário,

feito na mão. O outro responsável pela foi Lu Gomes, não só

co-autor do roteiro como diagramador, diretor de arte da

fotonovela e letrista dos balõezinhos.

O produtor Pedro Vieira garantiu tudo o que era necessário

incluindo a convocação de atrizes para personagens

secundários, como Maristela Moreno. Outro destaque vai para

o elenco. Não me lembro exatamente como a protagonista

Danielle Ferrite foi escolhida, e nunca mais tivemos

notícias dela - a não ser alguns registros de participação

em filmes eróticos brasileiros. Danielle tinha o jeito

certo para o papel – o ar de inocência, o corpo discreto de

ninfeta. Foi muito profissional durante todo o trabalho.

Ainda no elenco: Inácio Zatz é ao mesmo tempo artista

plástico, cineasta e musico e faz tudo isso muito bem. Em

Virgínia fez seu papel favorito, o de um cafajeste chamado

Rodolfo Real, um picareta “descobridor de talentos”.

Adilson Nunes, o “doutor Epaminondas Gegê”, alguns anos

depois mudou-se para Paris onde virou locutor da Radio

France International. Flávio de Souza é outro casting

perfeito, como o chofer e herói Jaime Francisco. Flávio se

tornou dramatugo e roteirista das TVs Cultura e Globo. Eu

também realizei um velho sonho ao assumir o papel do

corcunda Boris, o repugnante auxiliar do doutor

Epaminondas. Sempre gostei de filmes baratos de terror.

Boris tem muito a ver com Igor do filme Jovem Frankenstein.

Uma nota importante: esta é uma edição digital “fac-

símile”. Ela reflete a precariedade da edição impressa pela

editora Três. Não passou por nenhum grande processo de

correção gráfica. Um dia, quem sabe, teremos uma versão

“remasterizada” de Virgínia.

Aqui vão algumas notas específicas sobre cada página.

Encare como os “extras” de um DVD:

4

Virginia lê uma revista Homem. O anúncio à esquerda foi

escrito por mim e pelo Lu Gomes e desenhado por ele. O

endereço da suposta “Academia Real” é na verdade o de nossa

“república” na época, no bairro do Sumaré, São Paulo. Até

hoje guardo o original. À direita está meu folhetim

policial O Caso do Lobisomem Libidinoso, estrelado pelo

detetive Castro.

7

O ônibus foi cedido pela Samar Turismo e o motorista é

real. O passageiro ao lado de Virginia em participação

especial é Lu Gomes, o co-roteirista e diretor de arte.

8

Este sobrado decadente que passa por pensão fica (ou

ficava!) no bairro do Bexiga.

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No quadrinho do meio, dando uma olhada para Virgínia e

vestindo uma camiseta do Zappa Clube está Flávio Del Carlo,

o diretor da fotonovela em momento Hitchcock.

14

Inácio Zatz mostra seus belos óculos Elvis-fim-de-carreira.

Ao fundo é possível ver um diploma da Fundação Armando

Álvares Penteado, onde a maioria de nós de formou. Acima do

ombro esquerdo de Inácio está uma foto de outra fotonovela

produzida por nós que nunca foi terminada, “Jô Jonas”.

21 e 22

A cena foi fotografada num dos corredores da editora Três.

Tirando Adilson Nunes (como o professor Epaminondas) todos

os outros “fãs” de Virgínia são funcionários da editora.

30 a 33 e 42/43

O quarto de Virginia foi fotografado no apartamento dos

pais do diretor Flávio Del Carlo, Thiers e Neide, na

avenida Nove de Julho.

35

O “excitador cósmico” entre as pernas de Virginia foi

criado por Flávio Del Carlo com papelão, papel celofane e

outros materiais muito básicos.

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Essa externa demorou horas para ser realizada. A equipe de

produção “tomou conta” de uma vila em Higienópolis, perto

da FAAP. Demorou muito para que a lua cheia estivesse livre

de nuvens.

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Apesar do “fim”, a idéia era realizar o segundo capítulo no

Rio de Janeiro. A gente não tinha nenhuma idéia do que

aconteceria, mas basicamente Virgínia tentaria (com ajuda

de Jaime Francisco) uma chance na rede Globo. E o

professor Epaminondas continuaria na sua caça com ajuda de

Boris. Mas o fracasso do lançamento da revista acabou com a

chance de continuação.

Dagomir Marquezi

São Paulo

28/4/2011 18:00:12

A fotinho da equipe inclui da esquerda para a direita:

Dagomir Marquezi, Mara Abreu (namorada do diretor e colaboradora),

Betinha (produtora, não creditada), Flávio Del Carlo (diretor), Neneco

(maquiador), um elemento não identificado, Adilson Nunes, Françoise

(mulher de Adilson e colaboradora), Inácio Zatz e Lu Gomes.

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Edição Digital:

Dagomir Marquezi

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