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Portugus Mdulo 10
Os Lusadas e Mensagem Relao Intertextual Semelhanas e Diferenas Prof. Sandra Valentim
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Ficha 7
Quatro sculos separam Luis de Cames de Fernando Pessoa; o
primeiro viveu na poca do Renascimento, o segundo na poca do
Modernismo.
No entanto aproximam-nos a genialidade potica e a conceo de duas obras de carter
nacionalista, marcos importantes na literatura portuguesa.
A Mensagem entrelaa-se, atravs de um complexo processo intertextual, com Os Lusadas, que
por sua vez so j um reflexo intertextual da Eneida e da Odisseia.
Estabelece-se um dilogo que perpassa mltiplos tempos histricos. Pessoa transforma-se num
arquiteto que edifica uma obra nova, com modernidade, mas tambm com a herana da
memria.
O tema do mar essncia da alma portuguesa - surge, em ambos, como o meio atravs do qual
emerge (se eleva) o heri portugus no 1 caso pela descoberta de novas terras, no 2 caso
prende-se com a conquista simblica do absoluto.
Os dois autores relembram grandiosos feitos portugueses com vista cosntruo de um novo
Imprio: o poeta renascentista divulga um imprio terreno e material a conquista do Norte de
frica; o poeta da modernidade adivinha um imprio espiritual e cultural o Quinto Imprio.
Quer nOs Lusadas quer na Mensagem existem muitos heris histricos, mas na obra camoniana
so sobretudo narrados factos reais dos lusitanos, na obra de Pessoa h uma viso mtica da
Histria e dos heris a ela associados.
Cames invoca o rei D. Sebastio em carne e osso, dedicando-lhe o seu poema, exaltando-o e
incitando-o a novas empresas (empreendimentos); Pessoa transforma o rei Desejado em mito,
profetizando um imprio espiritual e cultural, o imprio da lngua potuguesa
O projeto da Mensagem o de superar o carter obsessivo e nacional dOs Lusadas no
imaginrio mtico-potico nacional.
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Portugus Mdulo 10
Os Lusadas e Mensagem Relao Intertextual Semelhanas e Diferenas Prof. Sandra Valentim
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Ficha 7
Os Lusadas conquistaram o ttulo de evangelho nacional e foram elevados categoria de
smbolo nacional. A Mensagem logo no seu ttulo aponta para um novo evangelho, num sentido
mstico, ideia de misso e de vocao universal. O prprio ttulo indicia uma revelao, uma
iniciao.
Em Cames memria e esperana esto no mesmo plano. Em Pessoa, o objeto da esperana
transferiu-se para o sonho, da a diferente conceo de herosmo.
Pessoa identifica-se com os heris da Mensagem ou neles se desdobra num processo lrico-
dramtico. O amor da ptria converte-se numa atitude metafsica, definvel pela deceo do real,
por uma loucura consciente. Revivendo a f no Quinto Imprio, Pessoa reinventou um razo de
ser, um destino para fugir a um quotidiano absurdo.
O assunto da Mensagem a essncia de Portugal e a sua misso por cumprir; Portugal reduzido
a um pensamento que descarna e transforma em fantasmas as personagens da histria nacional.
Poetas da ausncia1 Do que foi ou do que poder vir a ser Intervalo multissecular
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1 Expresso de Jacinto Prado Coelho
Portugus Mdulo 10
Os Lusadas e Mensagem Relao Intertextual Semelhanas e Diferenas Prof. Sandra Valentim
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Ficha 7
SEMELHANAS
Os Lusadas Mensagem
Poema sobre Portugal
Conceo da Histria enquanto demanda mstica
D. Sebastio, ser eleito, enviado por Deus ao mundo, para difundir a f de Cristo
Os heris concretizam a vontade divina
Conceito abstrato de Ptria
Apresentao dos heris da Histria de forma fragmentria2
Exaltao3 pica da ao humana no domnio dos mares
Superao dos limites humanos pelos heris portugueses
Superioridade dos navegadores lusos sobre os nautas4 da Antiguidade
Glria marcada pelo sofrimento e lgrimas
Sacrifcio voluntrio em nome de uma causa patritica
Estrutura rigorosamente arquitetada
Evocao do passado (memria) para projetar, idealizar o futuro (apelo, incentivo)
DIFERENAS
Os elementos estruturantes das obras (forma e contedo) so marcados pela diferena de quatro
sculos que separam os autores.
Os Lusadas Mensagem
Dinamismo: a viagem, a aventura, o perigo.
A ao, a inteligncia, o concreto, o conhecimento do Imprio no apogeu e na decadncia, a possibilidade de ter esperana.
O poeta dirige-se a D. Sebastio, que era uma realidade viva, e desafia o rei a realizar novos feitos que deem matria a uma nova epopeia.
A memria e a esperana situam-se no mesmo plano.
Conceo de herosmo: concretizao de feitos picos pelos humanos.
Estatismo: o sonho, o indefinido.
O abstrato, a sensibilidade, a utopia, a falta de razes para ter esperana, o sebastianismo.
D. Sebastio uma entidade que vive na memria saudosa do poeta, uma sombra, um mito.
A esperana utopia, s existe no sonho.
Conceo de herosmo: de carter mental, conceptual. O autor identifica-se com os heris e, atravs deles, revela-se num processo lrico-dramtico. Os heris so smbolos de um olhar
2 sem unidade
3 louvor
4 navegador, navegante, marinheiro 3
Portugus Mdulo 10
Os Lusadas e Mensagem Relao Intertextual Semelhanas e Diferenas Prof. Sandra Valentim
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Ficha 7
Amor Ptria: enaltecimento e imortalizao da Histria de Portugal e dos heris portugueses, atravs de um poema pico, trabalho rduo e longo.
Linguagem pica, estilo grandiloquente
Epopeia clssica pela forma e pelo contedo.
Narrao da viagem de Vasco da Gama,da luta dos deuses, da Histria de Portugal em
alternncias, discurso encaixado, analepses e prolepses.
Assunto: os Portugueses e os feitos concretos cumpridos. 0 poeta canta a saga lusa na conquista dos mares.
Os heris agem norteados pela F de Cristo,
dando a conhecer novos mundos ao mundo. A misso de Vasco da Gama foi coroada de xito, dela derivou o Imprio Portugus do Oriente; outra misso poder ser realizada pelo rei D.
Sebastio: difuso do Cristianismo e conquistas no Norte de frica.
Epopeia de dimenso hurnanista-renascentista: acesso ao conhecimento dos segredos da Natureza pelo Homem.
visionrio, as figuras so espectros, resultado do trabalho do pensamento.
Amor Ptria: atitude metafsica, procura incessante do que no existe. Expresso de f no Quinto lmprio, evaso angustiada da vivncia absurda.
Linguagem pico-lrica, estilo lapidar.
Mega-poema constitudo por quarenta e quatro poemas breves, agrupados em trs partes principais (1, 2, 3, sendo a 1 e a 3
subdivididas). De carter ocultista, a sua natureza predominantemente de ndole interpretativa, com reduzida narrao.
Assunto: a essncia da Ptria e a misso que esta dever cumprir.
Os heris, numa atitude contemplativa e
enigmtica, buscam o infinito: a ndia tecida de sonhos. A misso terrena de Portugal foi cumprida por vontade divina; outra, de ndole ocultista, aventura espiritual e cultural, est
ainda por cumprir, a supremacia do Quinto Imprio.
Poema pico-lrico-simblico-mtico, projeto de ideal de fraternidade universal: utopia5. Elogio da loucura, do sonho; evaso do real, valorizao do imaginrio.
MARIA VlTALINA LEAL DE MATOS, A Vivncia do Tempo em Fernando Pessoa, Editorial Verbo
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5 projeo de um futuro ideal