ESTUDO EXPERIMENTAL DE PISOTEIO EM · PDF fileproposto por Cole & Bayfield (1993) para matas...

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1Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu - MG

ESTUDO EXPERIMENTAL DE PISOTEIO EM FRAGMENTOS DEMATA ATLÂNTICA: AS SINÚSIAS VEGETAIS COMO

INDICADORES DE RESPOSTAS

M.F. Roncero-Siles;S. Aragaki; M. Sugiyama; M. D. Bitencourt

INTRODUÇÃO

A ecologia da recreação preocupa-se com osimpactos da visitação publica sobre os diferentesrecursos naturais. Sobre a vegetação,especificamente, as atividades recreativas podemcausar destruição da sua cobertura, diminuição dadiversidade de espécies, deslocamento e rearranjona estrutura da comunidade e redução daprodutividade (Hammitt & Cole, 1998).

Com o intuito de subsidiar o manejo da visitação eajudar na conservação de áreas naturais, énecessário analisar a resposta da vegetação àsdiferentes intensidades de pisoteio, bem como avulnerabilidade relativa de diferentes espécies ecomunidades de plantas (Cole & Bayfield, 1993).Em florestas pluviais tropicais, este tipo deinformações ainda é escasso (Boucher et al., 1991).Além disso, considerando que a resposta à visitaçãovaria de um lugar para outro dependendo dasdiferenças entre os tipos vegetacionais e dascaracterísticas ambientais, os esforços devem serdirigidos na busca de indicadores adequados dessesimpactos.

Uma abordagem adequada é a experimental, naqual são aplicados níveis controlados de intensidadede pisoteio em áreas não perturbadas pelasatividades recreativas, possibilitando que os efeitosda intensidade de uso sejam isolados de outrasvariáveis envolvidas (Cole, 1995a). Numerososestudos experimentais mostram que a resistênciade uma dada comunidade vegetal frente aosimpactos está fortemente relacionada com suacomposição de formas de vida e/ou de crescimento(Cole, 1995a; Cole, 1995b; Sun & Liddle, 1993a;Sun; Liddle, 1993b; Talora et al. 2006).

Com tudo isso, no presente trabalho buscou-seelaborar e testar um sistema de classificação emtipos morfo-funcionais considerando ascaracterísticas: formas de vida, formas decrescimento, porte ou hábito e ciclo de vida, querefletem diferenças morfológicas, tanto das partes

aéreas como subterrâneas. Além disso,consideraram-se diferenças nas respostasobservadas em campo.

OBJETIVO

Os objetivos foram: 1) adaptar o protocolo padrãoproposto por Cole & Bayfield (1993) para mataspluviais tropicais e 2) verificar a validade daclassificação em tipos morfo-funcionais e se estespodem ser utilizados como indicadores.

ÁREAS DE ESTUDO

As áreas de estudo são fragmentos de FlorestaPluvial Tropical Atlântica, pertencentes a trêsUnidades de Conservação (UCs), do Estado de SãoPaulo: o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga(PEFI) situado no município de São Paulo, o ParqueNatural Municipal Nascentes de Paranapiacaba(Parque das Nascentes) e a Reserva Biológica doAlto da Serra de Paranapiacaba, ambos situadosem Santo André.

MÉTODOS

O desenho experimental baseou-se no métodoproposto por Cole & Bayfield (1993). Foramestabelecidas quatro transeções de 4,1 x 3m emcada UC, procurando o máximo de homogeneidadedas condições ambientais. Cada uma foi divida emlinhas de 0,5m de largura, separadas por áreas-tampão de 0,4m de largura. Foram aplicadosaleatoriamente quatro tratamentos de intensidadesde pisoteio (25, 75, 200 e 500 passadas) e mais umalinha controle, sem tratamento.

Para evitar o efeito da sazonalidade, os tratamentosforam feitos em uma mesma estação, em junho de2005 e de 2006. Para estudar a resistência dosdiferentes tipos, os dados foram coletadosimediatamente antes e após duas semanas dopisoteio. Os dados coletados foram: a diversidade eporcentagem de tipos morfo-funcionais;

2Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu - MG

porcentagem de cobertura vegetal total eporcentagem de solo exposto (estimadasvisualmente).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as análises de cobertura, só foramconsideradas as plantas vasculares do componenteherbáceo, de até 1m de altura. A classificação detipos morfo-funcionais resultante foi: 1) árvoresdicotiledôneas e arbustos, de até 0,5m de altura, esuas plântulas; 2) árvores dicotiledôneas e arbustosentre 0,5m e 1m de altura; 3) adultos ou plântulasde Arecaceae (palmeiras) de até 0,5m; 4) adultosou plântulas de Arecaceae entre 0,5m e 1m; 5)herbáceas de Marantaceae, ervas de porte ereto,rizomatosas, entouceiradas, perenes, com várioscaules aéreos, e que se multiplicamvegetativamente, pelos rizomas ou por estolões; 6)herbáceas de Commelinaceae, de porte ereto,não-rizomatosas, caule de consistência suculenta,perenes e que se multiplicam por sementes; 7)herbáceas de Bromeliaceae, terrestres, eretas,rizomatosas, perenes e se multiplicam porsementes e pelos brotamentos do rizoma; 8)herbáceas de Cactaceae, epifíticas, suculentas,com caules pendentes e se multiplicam porsementes e estaquia (em florestas úmidas, asespécies de Rhipsalis estão entre as epífitas maiscomuns); 9) herbáceas de Orchidiaceae, epifíticas,não suculentas e se multiplicam por sementes eestaquias;10) Araceae, ervas, frequëntementeescandentes, epífitas, hemiepífitas (comoPhilodrendron) ou terrestres (como Anthurium) eque ocupam ambientes pobres em substrato, comofendas de rochas e troncos de árvores; 11) herbáceasde Bambusoideae (Poaceae - Gramineae), são osbambus, ervas rizomatosas, bastante ramificadas,eretas e perenes, podem apresentar floraçãoperiódica anual ou ciclos muito longos; 12)Cyperaceae, ervas eretas, geralmenterizomatosas, encontradas principalmente em áreasabertas e alagáveis ; 13) trepadeiras herbáceas deoutras famílias; e 14) Pteridofitas, herbáceasterrestres rizomatosas.

Para as medidas de diversidade foramacrescentadas à lista novas categorias de tiposmorfo-funcionais, pela proteção frente ao pisoteioque podem oferecer aos indivíduos do componenteherbáceo. Foram: árvores dicotiledôneas e arbustoscom mais de 1m de altura; adultos de Arecaceae(palmeiras) com mais de 1m de altura; trepadeiraslenhosas (as lianas ou cipós), considerandopresença/ausência.

O numero total de tipos morfo-funcionaisencontrado foi diferente para cada UC: seis, no caso

do PEFI; 11, no Parque das Nascentes; e 13 naReserva . De todos eles, unicamente cinco foramcomuns nas três áreas de estudo. Apesar dessasdiferenças, que evidenciam comunidades vegetaisdistintas, os resultados preliminares mostraramque houve diminuição na diversidade dos tipos como pisoteio. Em relação à cobertura, observou-se quequanto maior a intensidade do pisoteio maior é aperda de cobertura vegetal total em todas as áreas.

CONCLUSÃO

O desenho experimental mostrou-se adequado paraeste ecossistema e a classificação em tipos morfo-funcionais satisfatória para os objetivos desejados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Boucher, D.H. et al. Recovery of trailside vegetationfrom trampling in a Tropical Rain Forest.Environmental Management, v. 15, p.257-262,1991.

Cole, D.N. Experimental trampling of vegetationI: relationship betweem trampling intensity andvegetation response. Journal of AppliedEcology, v. 32, p. 203-214, 1995a.

Cole, D.N. Experimental trampling of vegetationII: predictors of resistance and resilience.Journal of Applied Ecology, v. 32, p. 215-224,1995b.

Cole, D.N.; Bayfield, N.G. Recreational tramplingof vegetation: standard experimental procedures.Biological Conservation, v. 63, p. 209-215,1993.

Hammitt, W.E.; Cole, D.N. Wildland recreation:ecology and management. 2. ed. New York: J.Wiley, 1998.

Sun, D.; Liddle, M.J. A survey of trampling effectson vegetation and soil in eight tropical andsubtropical sites. EnvironmentalManagement, v. 17, p.497-510, 1993a.

Sun, D.; Liddle, M.J. Plant morphologicalcharacteristics and resistance to simulatedtrampling. Environmental Management, v.17, p.511-521, 1993b.

Talora, D.C.; Magro, T.C.; Schilling, A.C.Trampling Impacts on Coastal Sand DuneVegetation in Southeastern Brazil. In: Siegrist,D., Clivaz, C., Hunziker, M. & Iten, S. (eds.).

Exploring the Nature of Management.Proceedings of the Third InternationalConference on Monitoring and Managementof Visitor Flows in Recreational and

3Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007, Caxambu - MG

Protected Areas. Rapperswil: University ofApplied, p. 117-122, 2006.