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Ana Carolina de Oliveira Teixeira Thalita Regina Uzai de Queiroz
ESTUDO DA RELAÇÃO DE VENDAS DE ANTI-INFLAMATÓRIOS APÓS O CONTROLE DE DISPENSAÇÃO DE ANTIMICROBIANOS
PELA ANVISA
Londrina 2012
Ana Carolina de Oliveira Teixeira Thalita Regina Uzai de Queiroz
ESTUDO DA RELAÇÃO DE VENDAS DE ANTI-INFLAMATÓRIOS APÓS O CONTROLE DE DISPENSAÇÃO DE ANTIMICROBIANOS
PELA ANVISA
Monografia apresentada ao curso de Especialização em Farmacologia do Centro Universitário Filadélfia como um dos requisitos à obtenção do título de Especialista em Farmacologia. Orientadora Profa. Dra. Lenita Brunetto Bruniera
Co-orientadora Profa. Fabiane Yuri Yamacita
Londrina 2012
Dedicamos esta monografia aos nossos pais,
irmãos e professores que pacientemente nos
auxiliaram, incentivaram e nos apoiaram do
início ao fim dessa caminhada. A vocês todo o
nosso amor e admiração.
“Muitas das falhas da vida acontecem quando as pessoas não percebem o quão perto estão quando desistem.”
(Thomas Edison)
QUEIROZ, Thalita R. Uzai; TEIXEIRA, Ana C. Oliveira. Estudo da relação de vendas de anti-inflamatórios após o controle de dispensação de antimicrobianos pela ANVISA. 2012. 45 páginas. Monografia de Especialização em Farmacologia - Centro Universitário Filadélfia, Londrina, 2012.
RESUMO
A publicação da RDC 20/2011 pela ANVISA limitou a aquisição de antimicrobianos pela população, deixando em evidência o possível aumento do uso de anti-inflamatórios. Os AINEs são amplamente prescritos em todo o mundo, mesmo possuindo um histórico de grave toxicidade e reações adversas. Esta pesquisa teve como objetivo analisar a relação de vendas de antibióticos e anti-inflamatórios antes e após a implantação da RDC 20/2011, em uma farmácia de dispensação em Londrina-PR, verificando assim se houve aumento nas vendas de anti-inflamatórios. Foi realizada a coleta de dados sobre a venda de medicamentos anti-inflamatórios e antimicrobianos nos períodos de julho, agosto e setembro dos anos de 2009, 2010 e 2011 e feita à análise estatística quantitativa dos mesmos através da coleta de dados de 4.848 vendas de anti-inflamatórios e antibióticos no período estudado. Destas 1.354 correspondem a vendas de antibióticos e 3.494 de anti-inflamatórios. Foi verificada diminuição na venda de antibióticos após a implantação da RDC 20/2011 no período estipulado. Nesta pesquisa a venda de anti-inflamatórios não apresentou aumento de vendas entre os anos estudados, mostrando que neste estabelecimento a RDC cumpriu o seu propósito.
Palavras chaves: Antibióticos/Antimicrobianos. Anti-inflamatórios/AINEs. Reações Adversas. Automedicação.
QUEIROZ, Thalita R. Uzai; TEIXEIRA, Ana C. Oliveira. Study of the sales relation of anti-inflammatory and antimicrobial drugs after the ANVISA´s control of acquisition. 45 páginas. Monografia de Especialização em Farmacologia - Centro Universitário Filadélfia, Londrina, 2012.
ABSTRACT
The RDC 20/2011 publication by ANVISA has limited the acquisition of antimicrobial drugs by the population, leading to a probable increase in nonsteroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) intake. The NSAIDs are worldwide prescribed drugs, even having a historical of acute toxicity and adverse effects. This research aimed to analyze the sales relation of antimicrobial and anti-inflammatory drugs before and after the implantation of RDC 20/2011, in a drugstore in Londrina-PR, verifying a possible increase in anti-inflammatory drugs sales. Data were collected from 4.848 sales of anti-inflammatory and antimicrobial drugs during the period of July, August and September in 2009, 2010 and 2011, following data statistical analysis. Among the sales, 1.354 were antimicrobial drugs and 3.494 were anti-inflammatory. A decrease in antimicrobial drug sales was observed after the establishment of RDC 20/2011 in the studied period. On this research, an increase on anti-inflammatory drugs sales was not observed within the studied period, showing that the RDC accomplished its purpose in this drugstore. Key-words: Antimicrobial/Anti-inflammatory drugs; Anti-inflammatory/NSAIDs; Adverse reactions; Self-medication.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Total de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período de
Realização do Estudo .............................................................................................. 26
Gráfico 2 – Gráfico Qui-Quadrado e Correlação (Person e Spearman) .................. 27
Gráfico 3 – Frequência de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período de
estudo ...................................................................................................................... 27
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Frequência de Vendas de Antibióticos e Anti-inflamatórios Antes e
Depois da Vigência da RDC ..................................................................................... 28
Quadro 2 – Quadro de Visualização da Queda na Venda de Antibióticos .............. 29
Quadro 3 – Quadro de Visualização do Não Aumento nas Vendas de Anti-
inflamatórios ............................................................................................................. 30
Quadro 4 – Quadro de Excessões .......................................................................... 31
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIA - Asma Intolerante à Aspirina
AINEs - Anti-inflamatórios Não Esteroidais
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BVS - Biblioteca Virtual de Saúde
COX - Ciclo-oxigenase
RDC - Resolução da Diretoria do Colegiado
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
SUS - Sistema Único de Saúde.
UK - United Kingdom
UKTSSA - United Kingdom Transplant Special Support
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 OBJETIVO ............................................................................................................. 14
3 FUNDAMENTAÇÃO ............................................................................................. 15
3.1 ANTI-INFLAMATÓRIOS ............................................................................................ 15
3.2 ANTIBIÓTICOS ....................................................................................................... 19
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 23
4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 23
4.2 COLETA DE DADOS ............................................................................................... 23
4.3 ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................ 23
4.4 PADRONIZAÇÃO DE DADOS .................................................................................... 19
4.5 ORGANIZAÇÃO DE DADOS ...................................................................................... 23
4.6 DELINEAMENTO DO ESTUDO .................................................................................. 19
4.7 REVISÃO E DIGITAÇÃO ........................................................................................... 23
5 RELTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 26
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 32
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 34
APÊNDICES ............................................................................................................. 38
APÊNDICE A – Relatório de Entrada e Saída de Medicamentos do Software
Softpharma ................................................................................................................ 39
ANEXOS ................................................................................................................... 40
ANEXO A – Tabelas Comparativas Elaboradas a Partir do Software SPSS ............ 41
10
1 INTRODUÇÃO
A economia mundial vem crescendo de maneira incontrolável.
Segundo Luz (2003), o crescimento da economia de forma global e o funcionamento
dos sistemas de seguridade social, entretanto, imprimiram um ritmo inimaginável na
dinâmica de produção e comercialização de produtos medicinais em escala industrial
(LUZ, 2003).
Balbino (2011), afirma que a estimativa do mercado farmacêutico
mundial até 2014 é de $1.1 trilhões, com crescimento de 5 a 8 por cento. Conforme
Portella, et al (2011), o Brasil é o segundo maior mercado farmacêutico da América
Latina. Seu mercado representa 11 bilhões de dólares e tem crescido em dois
dígitos ao ano. A busca constante por novos conhecimentos científicos somados ao
envelhecimento da população, urbanização, enfermidades crônicas, emergentes e
reemergentes, entre outros fatores, nos sugere um crescimento constante deste
mercado no Brasil (LUZ, 2003).
As grandes possibilidades farmacológicas disponíveis no mercado e
o difícil acesso à assistência médica que a população brasileira enfrenta devido à
falta de estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) podem contribuir para a
automedicação (BECKER; DUTRA; MUSIAL, 2007). Neste caso a farmácia vem a
ser o primeiro lugar procurado em busca de uma solução para o problema de saúde.
A automedicação não é praticada somente pela população de baixa
renda. Muitas pessoas que tem instrução escolar elevada se automedicam,
possivelmente amparadas pelo sentimento de autoconfiança por possuírem maior
informação (BECKER; DUTRA; MUSIAL, 2007). A prática da automedicação pode
ser nociva à saúde, pois nenhum medicamento é totalmente inofensivo. A utilização
indevida de medicamentos tidos como simples pela população, como analgésicos e
também certos anti-inflamatórios podem levar a sérias conseqüências como reações
alérgicas graves, hemorragias digestivas, dependência, estímulo para a produção de
anticorpos sem real necessidade, além de intoxicações medicamentosas (BECKER;
DUTRA; MUSIAL, 2007).
Os antiinflamatórios não esteróides (AINEs) são um dos grupos de
medicamentos mais conhecidos e utilizados no mundo todo (AITHAL, DAY, 2007).
Para grande parte da população o efeito esperado pelo uso do antiinflamatório se
equivale ao efeito terapêutico do antibiótico, além disso, existe um fator econômico
11
de que segundo Balbino (2011) “os antibióticos e os anti-inflamatórios são os dois
grupamentos farmacológicos mais envolvidos com o comportamento que
criativamente recebeu o jargão de “empurroterapia”” (BALBINO, 2011).
Antimicrobianos são substâncias naturais (antibióticos), produzidas
por diversas espécies de micro-organismos (bactérias, fungos e actinomicetes), ou
sintetizadas (quimioterápicos) que agem sobre outros microorganismos, suprimindo
seu crescimento ou destruindo-os. De forma geral os antimicrobianos são indicados
em casos de infecções causadas por vírus, fungos e bactérias (CHAMBERS, 2005;
MOTA; et al, 2010).
A decisão de iniciar uma terapia antimicrobiana deve ocorrer
quando houver evidências clínicas, laboratoriais e/ou de imagem (MOTA; VILAR; et
al, 2010). O uso prolongado de antimicrobianos pode fazer com que os micro-
organismos desenvolvam mecanismos de resistência antimicrobiana dificultando o
tratamento das infecções (CHAMBERS, 2005).
Com o aumento progressivo do uso descontrolado de
antimicrobianos, acentuando-se seus efeitos adversos, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) em outubro de 2010 publicou a resolução de número
40 (RDC 40/2010), que estabeleceu critérios para a prescrição, dispensação e
controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como
antimicrobianos de uso sobre prescrição. Esta resolução foi revogada pela atual
RDC 20/2011 que acrescentou orientações técnicas quanto à confecção da
prescrição, dentre outras informações não abordadas na primeira publicação
(ANVISA, 2011). Portanto, com a RDC 20/2011 a dispensação de medicamentos a
base de substâncias antimicrobianas tornou-se sujeita a retenção de receita,
dificultando a sua aquisição pela população.
Com esta nova resolução, surge também uma nova preocupação: o
possível aumento do uso de anti-inflamatórios, visto o pensamento de que estes
possuem a mesma ação dos antimicrobianos. Além disto, os AINEs encontram-se
entre a classe terapêutica mais prescrita em todo o mundo, mesmo possuindo um
histórico de graves toxicidades e reações adversas (LUZ, 2003). De acordo com
Kraychete (2002), os antiinflamatórios não esteróides são as drogas comumente
indicadas para o alívio da dor e inflamação, de intensidade leve a moderada.
Conforme descrito por Luz (2003),
12
“O elevado potencial lucrativo dos AINEs torna atraente para a
indústria farmacêutica investir no desenvolvimento de produtos desta
classe. Em decorrência disto, o mercado de anti-inflamatórios de
muitos países é inadequado, submetendo a população a riscos
desnecessários, pois muitos produtos são lançados com grande
publicidade; alguns destes são rapidamente retirados devido a
graves efeitos adversos” (LUZ, 2003, pág 6).
Esse estudo teve por finalidade a de analisar a relação de vendas de
antimicrobianos e antiinflamatórios antes e após a implantação da RDC 20/2011, em
uma farmácia de dispensação no Paraná, verificando assim se houve aumento nas
vendas de antiinflamatórios, o que pode levar à evidência do uso inadequado e da
automedicação dessa classe de medicamentos pela população. Os dados foram
coletados através de um relatório do software denominado SoftPharma cuja a
entrada e saída de medicamentos fornece apenas a quantidade de medicamentos
que foram comprados versus à quantidade de medicamentos que foram vendidos no
período de tempo estipulado. Desta maneira não houve contato com receitas
médicas e com nomes, idades ou qualquer outro dado pessoal dos pacientes.
São diversas as reações causadas por AINEs, dentre elas os
distúrbios gastrointestinais são os problemas mais comumente associados ao uso de
AINEs (KRAYCHETE, 2002). O uso freqüente de AINEs também contribui
significativamente para a ocorrência de hepatotoxicidade (AITHAL; DAY, 2007). O
risco de eventos cardiovasculares também deve ser considerado quando se utiliza
um antiinflamatório com ação inibitória sobre a enzima ciclooxigenase-2 (COX-2)
(PATRONO; ROCCA, 2009). Além disso, tanto AINEs com ação inibitória sobre a
COX-2 quanto AINES não seletivos podem aumentar a pressão sanguínea tanto em
indivíduos normotensos como em pacientes hipertensos (BLANDIZZI et al, 2009).
Mota (2010) considera com umas das reações adversas mais importantes a redução
ou reversão dos efeitos anti-hipertensivos dos diuréticos, betabloqueadores
adrenérgicos e inibidores da enzima de conversão da angiotensina quando
administrados simultaneamente com AINEs.
Além das reações adversas, os AINEs apresentam importantes
interações medicamentosas quanto utilizados concomitantemente com os próprios
AINEs ou com antibióticos, entre outros medicamentos (LUZ, 2003; MOTA, et al,
13
2010). São muitas as interações entre AINEs e outros medicamentos, alimentos, e
até mesmo com a inalação de poluentes. Segundo Balbino (2011), todas as
interações medicamentosas indesejadas são clinicamente significativas,
dependendo da condição fisiológica ou fisiopatológica do paciente. Desta forma, a
utilização de AINEs, assim como qualquer outro medicamento, pode provocar efeitos
adversos indesejáveis e graves.
14
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Realizar estudo comparativo nas vendas de anti-inflamatórios e
antimicrobianos antes e depois da implantação da RDC 20/2011.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
São objetivos específicos do presente trabalho:
• Analisar se houve aumento significativo na dispensação de anti-inflamatórios, e
se houve decréscimo na venda de antimicrobianos no mesmo período.
• Descrever possíveis riscos do uso inadequado de anti-inflamatórios, como
reações adversas, interações medicamentosas e efeitos tóxicos.
15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 ANTI-INFLAMATÓRIOS
Os anti-inflamátórios não esteróides (AINEs) estão entre o grupo de
medicamentos mais prescritos devido a sua alta eficácia em tratar dor, febre,
inflamação e desordens reumáticas (BLANDIZZI; et al, 2008). São medicamentos
utilizados comumente e estão presentes em todo o mundo (AITHAL; DAY, 2007),
seu consumo possui projeção de crescimento, visto que vivenciamos o
envelhecimento da população e uso disseminado em doenças cardíacas e
cerebrovasculares (BATTOCCHIA, LAZZARONI, PORRO, 2007).
Os AINEs representam o grupo farmacológico mais numeroso em
princípios ativos que possuem a mesma atividade terapêutica e mecanismo de ação,
fato que demonstra a constante busca por fármacos que atuem no controle da dor e
também a variabilidade de resposta ao fármaco de cada indivíduo, o que estimula a
pesquisa por princípios ativos eficazes e com a menor quantidade possível de
efeitos indesejados (PATRONO; ROCCA, 2009).
O processo inflamatório, tanto de natureza aguda quanto crônica,
atua de maneira fisiopatológica complexa. Envolve respostas periféricas e centrais
que desencadeiam reações em diferentes órgãos e sistemas. Em regiões periféricas,
a lesão tecidual promove a liberação de vários neuromediadores como citocinas,
prostaglandinas, leucotrienos dentre outros. Essas substâncias provocam e facilitam
a transmissão dolorosa, aumentam a resposta ao estímulo inicial e geram edema,
calor e vermelhidão (KRAYCHETE, 2002). Neurotransmissores excitatórios,
aspartato, glumato e substância P são liberadas na região do corno dorsal da
medula espinhal o que leva à formação de outros mediadores como o óxido nítrico e
metabólitos do ácido araquidônico. A transmissão dolorosa se propaga para a
medula espinhal ocasionando por fim a ativação de fibras adrenérgicas, espasmo
muscular reflexo, e alterações imunes e neuroendócrinas que aumentam e modula a
permeabilidade vascular, a presença se células fagocitárias e a sensibilidade da fibra
nociceptiva à ação de mediadores (KRAYCHETE, 2002).
De acordo com Kraychete (2002), o mecanismo de ação mais aceito
para os AINES é a inibição da síntese de prostaglandinas na periferia e no sistema
nervoso central. A ciclo-oxigenase (COX) é a enzima responsável pela produção de
16
prostaglandinas a partir do ácido araquidônico, que pode se apresentar de forma
induzida (COX-2), ou constitutiva (COX-1) (RIBEIRO; ROSÁRIO, 2000). Diferenças
na estrutura química e seletividade das isoformas de ciclo-oxigenases são
determinantes importantes na capacidade de atuação de um inibidor da COX
(BLANDIZZI ; et al, 2008).
Três principais grupos de inibidores de COX foram identificados até
o momento: AINES não seletivos, que atuam em ambas COX-1 e COX-2, como o
ibrupofeno, cetoprofeno e naproxeno; AINEs com atividade inibitória preferencial
sobre COX-2, como meloxicam e nimesulida; e AINES de alta seletividade inibitória
sobre COX-2 como celecoxibe e etoricoxibe (BLANDIZZI ; et al, 2008).
Segundo Bombardier et al (2006), o maior fator limitante para o uso
de AINEs é sobre o desenvolvimento de complicações gastrointestinais. A inibição
da COX-1 constitutiva dos processos fisiológicos gástricos resulta na maioria dos
efeitos colaterais indesejados sentidos pelos pacientes (COLVILLE-NASH, MOORE,
WILLOUGHBY, 2000). Apesar de os efeitos adversos gastrointestinais ocorrerem
apenas em poucos pacientes, o uso disseminado de AINEs por várias pessoas
resulta em um número considerável de indivíduos afetados gravemente. Nos
Estados Unidos, 1 a cada 175 usuários de AINEs é hospitalizado por ano devido a
danos gastrointestinais induzidos por AINES (BATTOCCHIA, LAZZARONI, PORRO,
2007).
As complicações gástricas provocadas pelo uso de AINEs variam
desde dispepsia até perfurações, úlceras e sangramentos, que podem ser
resultantes da inibição da produção da prostaglandina que protege a mucosa
gástrica (BATTOCCHIA, LAZZARONI, PORRO, 2007).
Os fármacos inibidores seletivos da COX-2 foram desenvolvidos
visando diminuir o risco de lesões gastrointestinais e evitar o efeito de antiagregante
plaquetário observado nos AINEs tradicionais, e grande parte dos estudos
realizados após sua ampla utilização tem demonstrado decréscimo nas
complicações gástricas comparado aos AINES tradicionais (BOMBARDIER; et al,
2006).
Alguns fatores podem influenciar no surgimento de efeitos
gastrointestinais indesejados com o uso de AINEs, são eles: história prévia de
úlcera, idade avançada, uso de álcool, infecção pelo H. Pylori e uso de outros
medicamentos (BARDOU; BARKUN,2009).
17
Alguns estudos sugerem que o risco de toxicidade gastrointestinal
aumenta de 2 a 3,5 vezes em indivíduos com mais de 60 anos e esse risco tende a
aumentar mais após os 75 anos de idade. A presença de infecção pelo H. Pylori e o
surgimento de úlcera pelo uso de AINEs são bastante complexos uma vez que a
presença da bactéria aumenta o risco do desenvolvimento de úlcera, porém,
potencializa o efeito dos inibidores da bomba de prótons. Além disso, a relação
entre esses dois fatores tende a mudar se o paciente utiliza AINEs pela primeira vez
ou se já é usuário crônico. Tanto a presença de H. Pylori quanto ao uso de AINEs
contribuem para o surgimento de úlcera gástrica, esses dois fatores são
independentes, mas agem de maneira sinérgica (BARDOU; BARKUN, 2009).
O uso de álcool é um fator de risco para o surgimento de úlcera e ele
é aumentado quando associado ao uso de AINEs. A relação do aumento da
incidência de úlcera com a quantidade de álcool ingerida ainda não é clara
(BARDOU; BARKUN, 2009).
Muitos pacientes têm comorbidades e necessitam de outros
medicamentos como antiagregantes plaquetários e antidepressivos. O antiagregante
mais comum e também conhecido por aumentar o risco de desenvolvimento de
úlcera é a aspirina. O fator de risco para a úlcera aumenta de 2 a 3 vezes quando se
associa AINEs e aspirina em baixa dosagem. Os antidepressivos, especialmente
aqueles que atuam na inibição da recaptação de serotonina, também são
conhecidos por aumentar o fator de risco para o desenvolvimento de úlcera gástrica.
O mecanismo implícito para esse efeito talvez seja que a serotonina liberada pelas
plaquetas seja importante na regulação da hemóstase (BARDOU; BARKUN, 2009).
Alguns estudos aleatórios demonstraram aumento no risco de
eventos trombóticos cardiovasculares com o uso de inibidores seletivos da COX-2
em relação ao placebo. Estudos mais detalhados, envolvendo eventos trombóticos
ainda não estão disponíveis, porém essa constatação torna-se importante quando se
trata de um uso prolongado do medicamento como no caso do tratamento de artrite
reumatóide e osteoartrite (BOMBARDIER; et al; 2006).
Em um estudo realizado por Cannon et al (2006), foram
acompanhados por 18 meses 34.701 pacientes diagnosticados com osteoartrite ou
artrite reumatóide, que utilizavam eterocoxibe ou diclofenaco em seu tratamento.
Verificou-se que a média de eventos trombóticos entre os grupos é similar.
Analisando ainda um subgrupo que além de fazer uso de um desses medicamentos,
18
também utilizava baixa dosagem de aspirina, constatou-se que não se modificava o
risco de eventos trombóticos.
A inflamação tem um importante papel na patogenia da aterogênese,
o qual sugere que os anti-inflamatórios não esteróides podem reduzir manifestações
clínicas de doenças coronárias. Contrariamente, doses elevadas de anti-
inflamatórios inibem a síntese de prostaciclina, um potente inibidor plaquetário
endógeno, o que pode elevar o risco de doença cardíaca coronária (DAUGHERTY;
et al, 2002).
Os anti-inflamatórios que são inibidores seletivos para a COX-2 não
inibem a síntese de tromboxano, eles não afetam a agregação plaquetária por esse
mecanismo. Entretanto, estes medicamentos podem aumentar o risco cardíaco
coronário por inibir a formação de prostaciclina (DAUGHERTY; et al, 2002).
A prostaciclina é um prostanóide que atua como um inibidor dos
mediadores da agregação plaquetária, hipertensão e aterogênese, incluindo o
tromboxano A2, o qual é gerado na plaqueta pela ação da COX-1. A supressão da
prostaciclina (e prostaglandina E2) é a explicação desenvolvida mais aceita para o
risco cardiovascular associado ao uso de AINEs (BOMBARDIER; et al; 2006).
Na prática clínica a escolha de um agente anti-inflamatório deve
levar em consideração o risco trombótico cardiovascular e os eventos
gastrointestinais, assim como efeitos renais (aumento da pressão arterial, retenção
de fluidos), tolerância gástrica (dispepsia) e eficácia (BOMBARDIER; et al; 2006).
Muitos fármacos prescritos como seguros, com reações adversas
relativamente raras, tem se tornado a mais importante causa de lesão hepática.
Dentre eles encontram-se os AINEs, que são as drogas mais comuns em causar
idiossincrasia hepática (AITHAL, DAY, 2007). Outra reação idiossincrática do AINEs
é a interação de Ácido Acetilsalicílico com poluentes inalados, que pode desenvolver
a AIA, asma intolerante à aspirina, uma doença crônica e que pode apresentar
graves complicações (VARALDA; MOTTA, et al, 2009; BALBINO, 2011).
De acordo com Hudson et al, (2009), o paracetamol é a substância
mais comumente usada no Reino Unido para envenenamento próprio e intencional.
Cerca de 40% dos casos possuem como substância de escolha o paracetamol. A
causa mais comum de falência hepática fulminante no Reino Unido é o uso indevido
do paracetamol. Em virtude disso, o governo introduziu em Setembro de 1998 uma
legislação que limita a venda de paracetamol em 8 gramas por vez, sem a
19
necessidade de aprovação de um farmacêutico. Prince et al (2009) realizaram então
um estudo entre Outubro de 1995 e Dezembro de 1999 com dados provenientes de
pacientes internados no Freeman Liver Unit, UK e de pacientes registrados para
transplante de fígado no UK Transplant Special Support (UKTSSA) por
hepatotoxicidade causada pelo paracetamol. O índice de internamentos no Freeman
Liver Unit caiu de 2,5 pacientes ao mês para 1 após Setembro de 1998 e no
UKTSSA a média de internamentos caiu de 3,5 pacientes para 2. Hudson et al
(2009), concluem em sua pesquisa que o maior conhecimento dos efeitos nocivos do
paracetamol não foi o responsável pela diminuição dos internamentos, porque esse
conhecimento não detém a sua utilização. Por isso, a redução de internamentos
deve ser resultante das mudanças legislativas.
A utilização de AINEs é bem tolerada pela grande maioria dos
indivíduos, entretanto, algumas pessoas desenvolvem reações de hipersensibilidade
alérgica e pseudo-alérgicas (ROSÁRIO; RIBEIRO, 2000). São reações cruzadas
respiratórias (asma) e reações cruzadas cutâneas como angiodema e urticária,
relacionadas ao efeito de inibição da COX pelos AINEs. Estes efeitos indesejáveis
não parecem ter ligação com fenômenos imunológicos. A inibição da COX acarreta
no desequilíbrio de alguns metabólitos do ácido araquidônico, aumentando os
produtos da lipoxigenase, os quais possuem atividades bronco constritoras e pró-
inflamatórias (ROSÁRIO; RIBEIRO, 2000).
3.2 ANTIBIÓTICOS
Atualmente a escolha de um antibiótico para uso clínico consiste em
uma tarefa bastante complexa. O mercado farmacêutico evolui de forma rápida e
com muitas inovações, tanto no âmbito farmacotécnico, com novas formas
farmacêuticas, quanto na descoberta de novas substâncias mais potentes com
amplo espectro de atuação (ROCHA, 2002). Em contrapartida, existe a modificação
da resposta a esses fármacos por parte dos agentes etiológicos, estimulados na
maior parte das vezes, pelo uso inadequado desses medicamentos (ROCHA, 2002).
Segundo Rocha (2002, p.992), “para a seleção adequada de um
antibiótico é necessário que se tenha conhecimento de uma série de fatores
relativos aos agentes infectantes (flora mais comum das principais infecções, padrão
habitual de sensibilidade de micro-organismos aos antibióticos), à natureza da
20
infecção que se vai tratar e ás características do hospedeiro que vai receber o
antibiótico”.
O médico deve estabelecer seu diagnóstico microbiológico ou
provável diagnóstico, de acordo com as manifestações clínicas apresentadas pelo
paciente, ou melhor, com base em dados laboratoriais que confirmem sua suspeita
(ROCHA, 2002). Como o diagnóstico laboratorial muitas vezes é demorado e a
situação demanda urgência, muitas vezes inicia-se a terapia com antibióticos sem a
devida confirmação do agente etiológico. O que ocorre é que muitas vezes, dá-se
inicio ao tratamento justificando-se por sintomas que sozinhos não caracterizam a
patologia. Ter febre não é sentença de se ter infecção causada por agente
bacteriano ou micro-organismo sensível ao antibiótico (ROCHA, 2002).
O uso de antibióticos sem a devida identificação da causa da
infecção pode causar dificuldades no diagnóstico correto da doença. É o caso do
uso de antibiótico em doses inadequadas em paciente com meningite, o que dificulta
a investigação bacteriológica no líquor, não ocorre cura do paciente e ainda promove
possíveis complicações do caso (ROCHA, 2002).
Conforme Mota, et al (2010) os antimicrobianos possuem alguns
efeitos colaterais relatados em algumas classes como, os beta-lactâmicos que
podem ter relação à febre originada por drogas e reações de farmacodermia; os
aminoglicosídeos, freqüentemente apresentam nefrotóxicidade e ototóxicidade; a
vancomicina que pode causar rash cutâneo de face e região cervical (Síndrome do
Homem Vermelho) durante a infusão rápida da droga; os macrolídeos via oral que
podem causar náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia; e os macrolídeos
endovenosos que podem provocar flebite; as quinolonas que podem prolongar o
intervalo QT e desencadear estado confusional agudo em idosos (MOTA; et al,
2010).
Nos Estados Unidos já ocorre um aumento de 58% das mortes
causadas por agentes infecciosos, alguns autores consideram a doença infecciosa
como uma das três principais causas de mortalidade do país (CRESPO 2005).
Em determinados casos o médico é obrigado a iniciar o tratamento
sem ter o resultado laboratorial da cultura ou outro exame bacteriológico. Em virtude
disso é de muita importância que se tenha conhecimento da flora infectante natural
daquela área do organismo para que se oriente na escolha do antibiótico (ROCHA,
2002).
21
O uso indiscriminado de antibióticos tem levado ao aparecimento
crescente de microrganismos resistentes. Para cada novo antibiótico descoberto
logo se tem um micro-organismo resistente, o que inviabiliza o seu uso como terapia.
A resistência bacteriana aos antibióticos faz parte da evolução desses micro-
organismos na tentativa de sobreviver e dar continuidade a espécie (CAMPOS,
2002).
As bactérias possuem a capacidade de anular a função dos
antibióticos devido à suas características genético-bioquímicas e isso tem se tornado
um grande problema e ao mesmo tempo um estímulo para os pesquisadores na
busca de novos fármacos. Periodicamente, torna-se menor o número de novos
antibióticos e até mesmo estes, sentencia-se que logo não terão o efeito desejado
devido ao surgimento de resistência bacteriana. (CAMPOS, 2002).
Diversos fatores de risco se associam ao aparecimento de
resistência bacteriana como o uso indiscriminado de antibióticos em humanos e
animais, na horticultura como prevenção de perdas, utilização de substâncias anti-
sépticas, hospitalização prolongada e o uso de cateteres e outros dispositivos
invasivos (CRESPO, 2005).
Infecções causadas por bactérias resistentes podem ocasionar
mudanças na terapia medicamentosa, levando muitas vezes ao uso de drogas
menos eficientes e potencialmente mais tóxicas para o organismo. Acredita-se ainda
que o uso de vários antibióticos sem orientação médica, ou sem o respaldo de um
diagnóstico laboratorial, também determina o fenômeno de resistência, a qual pode
surgir também durante a fase de tratamento (CAMPOS, 2002).
As bactérias desenvolveram inúmeras formas de resistência em
relação à presença de um fármaco e dentre elas a produção de enzimas
inativadoras. Estas enzimas transportam grupamentos químicos ou possuem
atividade hidrolítica (beta-lactamases), promovendo a perda da atividade
antimicrobiana (OLIVEIRA; SILVA, 2008). Outra forma de resistência é a formação
de biofilme pelos micro-organismos, trata-se da colonização e multiplicação da
colônia em lúmen de dispositivos como cateteres e outros. Pode também ocorrer
modificação da composição da parede bacteriana, a qual se torna impermeável à
determinadas substâncias consideradas nocivas para a bactéria. A diminuição de
receptores para antibióticos na membrana bacteriana e a presença de proteínas
22
específicas para a retirada de substâncias danosas, também consistem em
mecanismos de resistência (OLIVEIRA; SILVA, 2008).
Sendo assim, a resistência bacteriana tornou-se um problema de
saúde mundial, chamando atenção de órgãos como a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), Organização Mundial de Saúde (OMS), associação
de controladores de infecções hospitalares além da indústria farmacêutica
internacional (OLIVEIRA; SILVA, 2008).
Em 2002, Campos (2002, p.1009) já alertava para uma das
principais causas do aparecimento da resistência bacteriana: “outro aspecto
relacionado com o fenômeno, em nosso meio, refere-se à automedicação,
respaldado, principalmente, pelo fato de que os antibióticos podem ser adquiridos
pela população sem a necessária prescrição médica.”
É de extrema importância que o usuário e principalmente o prescritor
destes potentes medicamentos saibam como selecionar o fármaco correto para cada
situação, local afetado, e se possível em um número restrito e assertivo,
promovendo o tratamento adequado das infecções mais relevantes. Somente assim
poderemos conhecer e utilizar racionalmente estes medicamentos, abolindo a idéia
de que somente os medicamentos mais novos são os que melhor “funcionam”, sem
saber realmente as suas vantagens sobre aqueles mais tradicionais e de efeitos já
estudados e conhecidos (ROCHA, 2002). De acordo com Rocha (2002, p. 1000), “é
o conhecimento dos aspectos básicos da farmacologia do antibiótico que nos vai
permitir segurança no uso desses produtos”.
23
4 METODOLOGIA
Foi empregada a seguinte metodologia para o desenvolvimento deste
trabalho:
4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Foi realizada revisão bibliográfica nos sites da Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS) e ScienceDirect, consulta a livros científicos específicos de
farmacologia como Penildon Silva e Goodman e Gilman sobre o tema: anti-
inflamatórios, especificamente:
• Reações adversas;
• Toxicidade;
• Potenciais interações medicamentosas;
4.2 COLETA DE DADOS
Foi realizada a coleta de dados sobre a venda de medicamentos anti-
inflamatórios e antimicrobianos em uma farmácia de dispensação do Paraná, nos
períodos de julho, agosto e setembro dos anos de 2009, 2010 e 2011.
4.3 ASPÉCTOS ÉTICOS
Esta pesquisa foi realizada através do software SoftPharma utilizado
pela farmácia cujo relatório de entrada e saída de medicamentos fornece a
quantidade de medicamentos que foram comprados versus à quantidade de
medicamentos que foram vendidos no período de tempo estipulado. Para melhor
visualização destes dados segue exemplificado uma página do relatório de entrada e
saída de medicamentos do software Softpharma dos dados no apêndice 1. Portanto
não houve contato com receitas médicas e com nomes, idades ou qualquer outro
dado pessoal dos pacientes.
24
4.4 PADRONIZAÇÃO DE DADOS
• Foi padronizado para a coleta de dados, somente medicamentos anti-
inflamatórios e antimicrobianos de uso oral. Não foi considerado a marca, nem o
laboratório dos medicamentos, apenas o princípio ativo dos mesmos.
• Foram padronizados os medicamentos de gôndolas:
- Para cada 3 blísteres de medicamentos a base de “Dipirona” com 10
comprimidos equivale a uma caixa.
- Para cada 4 blísteres de medicamentos a base de “Dipirona” com 4
comprimidos equivale a uma caixa.
- Para cada 5 blísteres de medicamentos a base de “Paracetamol” com 4
comprimidos equivale a uma caixa.
- Para cada 5 blísteres de medicamentos a base de “Paracetamol” com 4
comprimidos equivale a 1 caixa.
4.5 ORGANIZAÇÃO DE DADOS
• Foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
concedido pelo Centro Universitário Filadélfia de Londrina, para a organização e
análise dos dados coletados.
• Foi realizada a elaboração de tabelas comparativas dos resultados, para melhor
visualização dos dados (anexo 1 – Tabelas comparativa elaborada a partir do
software SPSS).
• Foi realizada a elaboração de gráficos e quadros dos resultados, para melhor
interpretação dos resultados.
4.6 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Estudo transversal quantitativo de análise de vendas de anti-inflamatórios e
antibióticos.
25
4.7 REVISÃO E DIGITAÇÃO
• Avaliação dos resultados e discussão sobre o aumento ou não das vendas de
anti-inflamatórios após a implantação da RDC 20/2011.
• Digitação da monografia conforme padronização das normas da ABNT 2011.
26
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisadas 4.848 vendas de anti-inflamatórios e antibióticos no
período de julho, agosto e setembro dos anos de 2009, 2010 e 2011. Destas 1.354
correspondem a vendas de antibióticos e 3.494 de anti-inflamatórios, conforme
exemplificado no gráfico 1.
Gráfico 1: Total de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período de
Realização do Estudo
Total de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período de Realização do Estudo
27,90%
72,10%
Antibiótico Anti-inflamatório
Através dos testes de Qui-Quadrado e Correlação (Person e
Spearman), é possível afirmar que a venda de antibióticos e anti-inflamatórios tem
correlação com os anos de 2009, 2010 e 2011. Desta forma as porcentagens de
vendas aumentam consecutivamente aos anos que se obtiveram maior número de
vendas, como pode ser observado no gráfico 2.
27
Gráfico 2: Gráfico Qui-Quadrado e Correlação (Person e Spearman).
Conforme gráfico abaixo (gráfico 3), podemos analisar que do total de
vendas de 2009, 29,4% correspondem a antibióticos e 70,6% a anti-inflamatórios.
Em 2010, as vendas no mesmo período foram de 30% de antibióticos e 70% de anti-
inflamatórios e em 2011, 24% de antibióticos e 76% de anti-inflamatórios.
Gráfico 3: Freqüência de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período de
estudo.
.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2009 2010 2011
Frequência de Vendas de Anti-inflamatórios e Antibióticos no Período deste Estudo
Antibióticos
Anti-inflamatórios
TOTAL
TOTAL DE VENDAS DE ANTIBIÓTICOS E ANTI-INFLAMATÓRIOS 100%
ANTI-INFLAMATÓRIOS 72,1%
ANTIBIÓTICOS 27,9%
2009 33,2%
2010 33,9%
2011 32,9%
2009 35,6%
2010 37,5%
2011 26,9%
28
Desta forma, foi verificado que após a implantação da RDC 20/2011,
houve decréscimo na venda de antibiótico (quadro 1). Esse resultado confirma que
nesse estudo a RDC alcançou o seu propósito de limitar a dispensação de
antibióticos.
Quadro 1: Frequência de Vendas de Antibióticos e Anti-inflamatórios Antes e Depois
da Vigência da RDC.
CLASSES
Frequência (unidades vendidas)
Percentual (%)
RDC n.20/11 RDC n.20/11
Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
Antibiótico 482 508 364 29,4% 30,0% 24,0%
Anti-inflamatório 1159 1185 1150 70,6% 70,0 76,0
Total 1641 1693 1514 100% 100% 100%
Pode-se verificar no quadro 2 que medicamentos com o princípio ativo
azitromicina apresentam variação no número de vendas de 143, 146 e 91 nos
respectivos anos de 2009, 2010 e 2011. Medicamentos a base de azitromicina eram
comumente vendidos sem prescrição médica como indicação para casos de dor de
garganta, amidalites, faringites a até mesmo perante sintomas de gripe e resfriados.
Através desse estudo pôde-se verificar a queda de venda desse medicamento com a
implantação da RDC.
Outro dado importante refere-se à quantidade de vendas de
medicamentos a base de amoxicilina e tetraciclina. Assim como a azitromicina,
possuíam venda disseminada para tratamento de afecções do trato respiratório,
gripes e resfriados. Observa-se no quadro 2 a variação de vendas de 74, 79 e 42
unidades de amoxicilina nos respectivos anos de 2009, 2010 e 2011 e de tetraciclina
com variação de 8, 27 e zero unidades em 2009, 2010 e 2011 respectivamente,
evidenciando-se a queda de vendas desses princípios após a implantação da RDC.
Os medicamentos norfloxacino e sulfametoxazol associado à
trimetoprima também faziam parte do grupo de medicamentos vendidos sem
prescrição médica, sendo recomendados respectivamente para cistite ou infecção
urinária e diarreia. Observa-se no quadro 2 que após a implantação da RDC houve
diminuição de dispensação dos mesmos sendo a variação de vendas para o
29
norfloxacino de 39, 28 e 6 unidades nos anos de 2009, 2010 e 2011 e para
sulfametoxazol e trimetoprima de 15, 15 e 4 unidades respectivamente.
Quadro 2: Quadro de Visualização da Queda na Venda de Antibióticos.
Antibióticos
Freqüência Percentual Válido
RDC n.20/11 RDC n.20/11 Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
amoxicilina 74 79 42 4,5% 4,7% 2,8%
azitromicina 143 146 91 8,7% 8,6% 6,0%
norfloxacino 39 28 6 2,4% 1,7% 0,4%
sulf. trimet. 15 15 4 0,9% 0,9% 0,3%
tetramicina 8 27 0 0,5% 1,6% 0%
É importante salientar que esses resultados podem ter sido
influenciados por alguns fatores como, a rigorosa fiscalização municipal da Vigilância
Sanitária, a aderência dos atendentes da farmácia com a legislação, e a presença
integral do farmacêutico no estabelecimento, que inviabilizou a venda destes
medicamentos fora da norma.
Conforme analisado no gráfico 1 a venda de anti-inflamatórios não
apresentou aumento significativo entre os anos estudados. Então, não se pode
afirmar que a implantação da RDC influenciou na quantidade de vendas de anti-
inflamatórios. Como exemplo, no quadro 3 o princípio ativo nimesulida cuja venda
em 2009, 2010 e 2011 foram respectivamente 208, 242 e 222 unidades. A maior
quantidade observada em 2010 é decorrente do maior número de vendas desse
ano.
Assim como a nimesulida, os medicamentos à base de diclofenaco não
apresentaram alterações significativas nos números de vendas entre os anos
estudados, por serem medicamentos tradicionais no mercado farmacêutico podem
ter sido anulados pelo marketing de novos medicamentos, induzindo a escolha do
paciente por outras drogas.
30
Quadro 3: Quadro de Visualização do Não Aumento nas Vendas de Anti-
inflamatórios.
ibuprofeno 82 110 126 5,0% 6,5% 8,3%
meloxicam 36 38 33 2,2% 2,2% 2,2%
nimesulida 208 242 222 12,7% 14,3% 14,7%
Contrariamente aos demais anti-inflamatórios verifica-se o aumento de
vendas de medicamentos com o princípio ativo cetorolaco. Esse medicamento
apresenta venda de 18, 22 e 64 unidades nos respectivos anos de 2009, 2010 e
2011. Não se trata de um fármaco que seja característico de indicação pelos
atendentes e nem possui procura espontânea pelos pacientes. Nesse caso,
possivelmente trata-se de aumento na prescrição médica, influenciada talvez pela
conscientização da prescrição indiscriminada de antibióticos. Os profissionais
tenderam a prescrever um analgésico potente ao invés de um antibiótico em caráter
profilático de infecção.
Foram encontradas algumas exceções como observado no quadro 4.
Como exemplo, a cefalexina e o ciprofloxacino que ao contrário dos demais
antibióticos apresentaram aumento nas vendas após a implantação da RDC. Isto
pode ser justificado pela influência do marketing de alguns laboratórios para a classe
médica, ou então algum surto ou doença sazonal daquele ano específico.
Outro dado relevante, apresentado no quadro 4, é a queda de venda
de alguns AINEs como o paracetamol e a dipirona. A redução da venda de
paracetamol talvez possa ser explicada pela confusão de alguns pacientes na
contra-indicação desses fármacos para tratamento de suspeita de dengue, doença
que possui sintomas semelhantes à gripe e resfriados. Já a redução de vendas de
Anti-inflamatórios
Freqüência Percentual Válido
RDC n.20/11 RDC n.20/11 Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
cetorolaco 18 22 64 1,1% 1,3% 4,2%
dicl potassico 79 65 51 4,8% 3,8% 3,4%
dicl sódico 158 155 157 9,6% 9,2% 10,4%
diclof. resinato 1 1 4 0,1% 0,1% 0,3%
31
medicamentos a base de dipirona, pode ser explicada pela sua distribuição ter sido
suspensa da rede pública. Esse fato pode ter gerado um receio por parte dos
pacientes na sua utilização. Há ainda a possibilidade do fator de escolha do
paciente, seja por apreensão dos efeitos adversos ou pela preferência ao
ibuprofeno, o qual apresentou um aumento de vendas.
Quadro 4: Quadro de Exceções.
PRINCÍPIO ATIVO
Freqüência Percentual Válido
RDC n.20/11 RDC n.20/11 Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
ANTIBIÓTICOS
cefalexina 38 43 62 2,3% 2,5% 4,1%
ciprofloxacino 22 42 39 1,3% 2,5% 2,6%
ANTI-INFLAMATÓRIOS
dipirona 186 193 166 11,3% 11,4% 11,0%
paracetamol 315 239 199 19,2% 14,1% 13,1%
32
6 CONCLUSÃO
A utilização de AINEs, assim como qualquer outro medicamento,
pode provocar efeitos adversos indesejáveis e graves. Com a RDC 20/2011
publicada pela ANVISA, a dispensação de medicamentos a base de substâncias
antimicrobianas tornou-se sujeita a retenção de receita, dificultando a sua aquisição
pela população. Surge então uma nova preocupação: o possível aumento do uso de
anti-inflamatórios, visto o pensamento de que estes possuem a mesma ação dos
antimicrobianos. Os AINEs são amplamente prescritos em todo o mundo, mesmo
possuindo um histórico de grave toxicidade e reações adversas.
Desta forma esse estudo teve por finalidade analisar a relação de
vendas de antibióticos e anti-inflamatórios antes e após a implantação da RDC
20/2011, em uma farmácia de dispensação no Paraná, verificando assim se houve
aumento nas vendas de anti-inflamatórios, o que pode levar à evidência do uso
inadequado e da automedicação dessa classe de medicamentos pela população.
Foi realizada a coleta de dados sobre a venda de medicamentos
anti-inflamatórios e antimicrobianos nos períodos de julho, agosto e setembro dos
anos de 2009, 2010 e 2011 e feita à análise estatística quantitativa dos mesmos.
Nesse estudo foi verificado decréscimo na venda de antibióticos após a
implantação da RDC 20/2011 no período estipulado. Esse resultado confirma que
nesta pesquisa a RDC alcançou o seu propósito de limitar a dispensação de
antimicrobianos. Alguns antibióticos que eram tradicionalmente adquiridos sem
receituário médico para tratamento de enfermidades do trato respiratório e
equivocadamente utilizados para tratar gripes e resfriados tiveram considerável
decréscimo em suas vendas. Esse resultado pode ter sido influenciado por alguns
fatores como a rigorosa fiscalização municipal da Vigilância Sanitária, a aderência
dos atendentes da farmácia com a legislação, e a presença integral do farmacêutico
no estabelecimento, que inviabilizou a venda destes medicamentos fora da norma.
Nesta pesquisa a venda de anti-inflamatórios não apresentou aumento
de vendas entre os anos estudados. Ou seja, não se pode afirmar que a implantação
da RDC influenciou na quantidade de vendas de anti-inflamatórios no local
estudado. Observou-se ainda queda na venda de AINEs tradicionais no mercado
como o paracetamol e a dipirona, influenciada talvez pelo fator de escolha do
33
paciente, seja por receio dos efeitos adversos ou pela preferência ao ibuprofeno, o
qual apresentou aumento de vendas.
Apesar de este estudo ter apontado para o cumprimento das normas
estipuladas pela RDC 20/2011, trata-se apenas de um estabelecimento farmacêutico
analisado na cidade de Londrina-PR. Portanto este estudo não abrange o
cumprimento da RDC em âmbito nacional, existindo ainda a preocupação quanto à
venda indiscriminada de anti-inflamatórios em outras localidades do Brasil.
34
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42
TABELAS DE CORRELAÇÂO
Testes Qui-Quadrado e Correlação (Person e Spearman)
CLASSES Ano Total
2009 2010 2011
Antibiótico 35,6% 37,5% 26,9% 100,0%
29,4% 30,0% 24,0% 27,9%
Anti-inflamatório 33,2% 33,9% 32,9% 100,0%
70,6% 70,0% 76,0% 72,1%
Total 33,8% 34,9% 31,2% 100,0%
100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Chi-Square Tests
Value df Asymp. Sig. (2-sided)
Pearson Chi-Square
16,689(a)
2 ,000
Likelihood Ratio 16,972 2 ,000 Linear-by-Linear Association
10,734 1 ,001
N of Valid Cases 4848 A 0 cells (,0%) have expected count less than 5. The minimum expected count is 422,85.
Symmetric Measures
Value Asymp. Std.
Error(a)
Approx. T(b)
Approx. Sig.
Interval by Interval
Pearson's R ,047 ,014 3,280 ,001(c)
Ordinal by Ordinal
Spearman Correlation
,047 ,014 3,251 ,001(c)
N of Valid Cases 4848 a Not assuming the null hypothesis. b Using the asymptotic standard error assuming the null hypothesis. c Based on normal approximation.
43
Tabelas de Freqüência
CLASSES
Frequência (unidades vendidas)
Percentual (%)
RDC n.20/11 RDC n.20/11
Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
Antibiótico 482 508 364 29,4 30,0 24,0
Anti-inflamatório 1159 1185 1150 70,6 70,0 76,0
Total 1641 1693 1514 100,0 100,0 100,0
PRINCÍPIO ATIVO
Freqüência Percentual Válido
RDC n.20/11 RDC n.20/11 Antes Depois Antes Depois
2009 2010 2011 2009 2010 2011
Ac. Acetilsalicilico 7 8 7 ,4 ,5 ,5
aceclofenaco 1 6 1 ,1 ,4 ,1
amox. Clav. 25 26 22 1,5 1,5 1,5
amoxicilina 74 79 42 4,5 4,7 2,8
ampicilina 4 6 4 ,2 ,4 ,3
axetilcefuroxima 11 7 4 ,7 ,4 ,3
azitromicina 143 146 91 8,7 8,6 6,0
cefaclor 10 3 1 ,6 ,2 ,1
cefadroxila 9 15 14 ,5 ,9 ,9
cefalexina 38 43 62 2,3 2,5 4,1
cetoprofeno 25 57 57 1,5 3,4 3,8
cetorolaco 18 22 64 1,1 1,3 4,2
ciprofloxacino 22 42 39 1,3 2,5 2,6
cloranfenicol 3 ,2
dicl colestiramina 4 10 5 ,2 ,6 ,3
dicl potassico 79 65 51 4,8 3,8 3,4
dicl sódico 158 155 157 9,6 9,2 10,4
diclof. Resinato 1 1 4 ,1 ,1 ,3
dipirona 186 193 166 11,3 11,4 11,0
doxiciclina 3 2 4 ,2 ,1 ,3
eritromicina 1 5 1 ,1 ,3 ,1
etodolaco 3 1 3 ,2 ,1 ,2
fosf. Trometamol 5 4 6 ,3 ,2 ,4
44
ibuprofeno 82 110 126 5,0 6,5 8,3
levofloxacino 47 22 30 2,9 1,3 2,0
meloxicam 36 38 33 2,2 2,2 2,2
metronidazol 1 7 4 ,1 ,4 ,3
moxifloxacino 7 2 4 ,4 ,1 ,3
naproxeno 5 6 9 ,3 ,4 ,6
nimesulida 208 242 222 12,7 14,3 14,7
nitrofurantoina 11 10 9 ,7 ,6 ,6
norfloxacino 39 28 6 2,4 1,7 ,4
paracetamol 315 239 199 19,2 14,1 13,1
penicilina 1 1 ,1 ,1
piroxicam 23 23 20 1,4 1,4 1,3
roxitromicina 2 1 ,1 ,1
sulf. Trimet. 15 15 4 ,9 ,9 ,3
tetramicina 8 27 ,5 1,6
tianfenicol 3 2 ,2 ,1
tiloxicam 8 3 9 ,5 ,2 ,6
Ac. Nalidixico 2 2 ,1 ,1
amox. Sulbactam 1 2 ,1 ,1
ceclor 1 1 ,1 ,1
clindamicina 14 9 ,8 ,6
loxoprofeno 6 2 ,4 ,1
lornoxicam 15 1,0
Total 1641 1693 1514 100,0 100,0 100,0