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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
“ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
DO CONCEITO DA LUSOFONIA NUM MUNDO GLOBALIZADO”.
LOUIS LOBO MACEDO
ORIENTADOR: PROF. DR. MARCO AURÉLIO DE SÁ RIBEIRO
Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2014.
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“ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DA LUSOFONIA”
LOUIS LOBO MACEDO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração.
ORIENTADOR: PROF. DR. MARCO AURÉLIO DE SÁ RIBEIRO
Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2014.
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M141 Macedo, Luis Lobo.
Estratégias de desenvolvimento do conceito da lusofonia num mundo globalizado / Luis Lobo Macedo. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2014. 100 f.: il.
Dissertação de Mestrado profissional em Administração do IBMEC. Orientador(a): Prof. Marco Aurélio de Sá.
1. Comunidade lusófona. 2 Língua portuguesa. 3. Globalização. 4. Práticas da lusofonia. 5. Estratégia de desenvolvimento I. Título. CDD 658.04
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RESUMO Estratégias de Desenvolvimento do conceito da Lusofonia num mundo globalizado - Louis Lobo Macedo
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade lusófona, Lusofonia, Língua portuguesa, Globalização, Práticas da lusofonia, Estratégia de desenvolvimento.
A presente dissertação tem por objectivo discutir a construção da comunidade
lusófona a partir dos oito países lusófonos, e através do resto do mundo. Passando pela
apresentação do contexto lusófono, da posição da língua portuguesa, iremos analisar meios
de desenvolvimento do conceito da lusofonia nos próprios países lusófonos, assim como
no resto do planeta, relembrando sempre que estamos num mundo globalizado.
Pretende-se ainda acompanhar as dinâmicas simbólicas, mas também políticas,
institucionais e culturais do projeto de comunidade que, no 17 de Julho de 1996, adquiriu
um rosto formal através da constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Em simultâneo com a análise das iniciativas realizadas, presta-se particular atenção à
actuação dos agentes ao nível micro, focalizando a atenção na exploração das práticas da
lusofonia.
Defende-se, neste trabalho, que comunidade lusófona é um colectivo em formação
e que, apesar da forte conotação ideológica, que a situa ao nível do resgate de um passado
agora reinventado à luz do ‘encontro de culturas’, esta é uma realidade prática que vemos
funcionar em expressões diversas, quer em iniciativas informais, quer em transações
comerciais ou em actividades sócio-culturais – para além das ações político-institucionais.
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ABSTRACT Development strategies for the Lusophone Concept in a globalized world – Louis Lobo Macedo KEYWORDS: Portuguese-speaking community, Lusofonia, Portuguese language, Globalization, Micro-communities, Practices of Lusofonia, Development strategies.
We intend in this dissertation to discuss the building of the Portuguese-speaking
community from the 8 lusophones countries and from the rest of the world. Passing
through the presentation of the Lusophone context of the Portuguese position, we will
analyse ways to develop the concept of the Portuguese language in their own speaking
countries, as well as the remains of the planet, remembering always that we are in a
globalized world.
We also intend to follow the symbolic dynamics of the community project that, on
July 17th
1996, is formalized through the constitution of the Community of Portuguese-
Speaking Countries, as well as the political, institutional and cultural processes running
parallel to them. Together with the analysis of the initiatives implemented, particular
attention is paid to the agents at the micro level, focusing the analysis on the practices of
Lusofonia that take place in the cultural sphere.
It is argued that a Portuguese-speaking community is in process, and that, despite
its heavy ideological connotation with a past now being reinvented as an ‘encounter of
cultures’, this is a practical reality, operating in diverse expressions, whether in informal
initiatives, or in trade or socio-cultural activities – beyond political and institutional
actions.
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RÉSUMÉ Stratégies de développement du concept lusophone dans un monde globalisé - Louis Lobo Macedo
MOTS-CLÉS: Communauté lusophone, lusophone, langue portugaise, mondialisation, pratiques lusophones, stratégie de développement.
Ce travail vise à discuter de la construction de la communauté lusophone, dans les
huit pays lusophones respectifs, mais aussi dans le reste du monde. En passant par la
présentation du contexte lusophone, de la position de la langue portugaise, nous allons
analiser quelques moyens de développer le concept de la lusophonie dans les propres pays
de langue portugaise, ainsi que dans le reste de la planète, se souvenant toujours que nous
sommes dans un monde globalisé.
Un autre objectif est de suivre les dynamiques symboliques, mais aussi politiques,
culturelles et institutionnelles du projet de la communauté, qui en 1996, a acquis un visage
officiel par le biais de la création de la Communauté des Pays de Langue Portugaise. En
parallèle à l’analyse des initiatives réalisées, nous accorderons une attention particulière à
la performance des agents au niveau microéconomique, appuyant l’analyse sur
l’exploitation des pratiques de la lusophonie.
Il est soutenu dans cet article que la communauté lusophone est un collectif en
construction et que, malgré une forte connotation idéologique, qui la positionne au niveau
de la rédemption d'un passé désormais réinventé à la lumière du «choc des cultures», c’est
une réalité pratique nous voyons en diverses expressions, que ce soit par des initiatives
informelles, des transactions commerciales ou encore par des activités socio-culturelles -
en plus des actions politiques et institutionnelles.
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AGRADECIMENTOS
Escrever uma Dissertação de Mestrado é uma experiência enriquecedora e de plena
superação. Nos modificamos a cada tentativa de buscar respostas às nossas aflições de
‘pesquisador’. Para aqueles que compartilham comigo desse momento, parece uma tarefa
interminável e enigmática que só se torna realizável graças a muitas pessoas que
participam, direta ou indiretamente, mesmo sem saber realmente o que e para que nos
envolvemos em pesquisa. E é a essas pessoas que gostaria de agradecer:
Ao Professor Marco Aurélio de Sá, orientador da dissertação, agradeço o apoio, a
partilha do saber e as valiosas contribuições para o trabalho. Acima de tudo, obrigado por
me continuar a acompanhar nesta jornada e por estimular o meu interesse pelo
conhecimento e pela vida académica.
Agradeço também aos responsáveis e membros do Institututo brasileiro de
mercados e capitais (IBMEC), por colocar instalações e materiais de qualidade, e facilitar o
contato para cada estudante com o corpo docente altamente qualificado. Obrigado aos
professores Carlos Bastian e Eduardo Halpern por ter seguido por perto meu trabalho e
pelas avaliações dadas ao longo da minha pesquisa.
Sou muito grato a todos os meus familiares pelo incentivo recebido ao longo
destes anos. À minha mãe Isabel, agradeço o tempo, a determinação, o sempre otimismo e
sorriso que me dedicou. Ao Sérgio, aos meus antigos colegas da associação Chama, a
Natália e aos meus amigos brasileiros, obrigado pelo amor, alegria e atenção sem
reservas... O meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que contribuíram
para a concretização desta dissertação, estimulando-me intelectual e emocionalmente.
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Lista de tabelas
Tabela 1 – Comparação da participação, por nacionalidade, com base nos dados recebidos por e-mail e os recebidos através da plataforma da Chama……………………………..53
Tabela 2 – Participação por sexo..................................................................................... 64
Tabela 3 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a idade…………............... 64
Tabela 4 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a nacionalidade..................65
Tabela 5 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a profissão…….................66
Tabela 6 – Participação por grupo etário….....................................................................66
Tabela 7 – Participação por nacionalide…………………………..................................68
Tabela 8 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo o sexo dos inquiridos……………………………………………………………………..................74
Tabela 9 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo os grupos etários dos inquiridos…………….………………………………………………….........................76
Tabela 10 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo a nacionalidade dos inquiridos…………………………………………….………………….........................77
Tabela 11 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo a profissão dos inquiridos……………………………….…………………………………….................79
Tabela 12 – Familiaridade com o conceito lusófono..………………..……...................80
Tabela 13 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo as respostas positivas.....82
Tabela 14 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo o sexo…………….........82
Tabela 15 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a idade……………........83
Tabela 16 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a nacionalidade..…........84
Tabela 17 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a profissão…..……........85
Tabela 18 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona……...……………........85
Tabela 19 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo o sexo.…........86
Tabela 20 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a idade………86
Tabela 21 – Sentimento de pertença à Comunidade segundo a nacionalidade….……..87
Tabela 22 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a profissão......89
Tabela 23 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo respostas.........90
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Sumário RESUMO .......................................................................................... 5 ABSTRACT ...................................................................................... 6 RÉSUMÉ ........................................................................................... 7 AGRADECIMENTOS ...................................................................... 8
I. Introdução ........................................................................................................ 11 II. Revisão Téorica .............................................................................................. 14
1.“A língua é minha pátria” ........................................................................................................ 14 1.1. O que é a Lusofonia? ............................................................................................................... 14 1.2. Lusofonia ou lusofonias? ......................................................................................................... 24 1.3. A língua como um espaço de intercompreensão ............................................................. 25 2. Estratégia administrativa e desenvolvimento de marca ............................................ 28 2.1. Estratégias deliberadas x Estratégias emergentes .................................................... 31 2.2. Administração estratégica ....................................................................................................... 35 2.3. Processo de administração estratégica ................................................................................ 37 2.4. Posicionamento e desenvolvimento de marca ............................................................ 41
III. METODOLOGIA ........................................................................................ 47 IV. Análise dos resultados ................................................................................. 54
Estudo de caso: desenvolvimento do conceito através da criação do canal RTPi ........ 54 Conclusões sobre os resultados obtidos no estudo de caso: ................................................. 62
Levantamento de opiniões ............................................................................................................... 63
V. Considerações finais ...................................................................................... 96 VI. Anexos .......................................................................................................... 107
1° ANEXO: Roteiro usado na entrevista – Temas ............................................................... 107 2° ANEXO: Texto modelo de apelo à participação na sondagem de opinião (enviado por e-mail) .......................................................................................................................................... 108 3° ANEXO: Questionário que a Chama disponibilizou para apelo à participação na sondagem de opinião ...................................................................................................................... 109
VII. Bibliografia ................................................................................................ 110
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I. Introdução
O mundo lusófono tem potencialidades culturais evidentes: a força dos seus
milhões de falantes; o estatuto oficial da língua portuguesa em oito Estados e uma Região
(Macau), repartidos por quatro continentes; a previdência da língua nos litorais das sete
partidas do mundo; as sucessivas diásporas.
As culturas lusófonas são todas diferentes, têm patrimônios culturais, composições
étnicas e línguas indígenas distintas, embora utilizem a mesma língua para se exprimir.
A sua literatura, a sua criação audiovisual (cinema, televisão, multimídia), as suas
músicas e o seu imenso patrimônio cultural e artístico, tanto material como imaterial,
colocam a língua portuguesa no plano das culturas planetárias. Além disso, o poderio
econômico e político do Brasil, o relevante papel político de Portugal, e o potencial de
Angola, Moçambique e Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste
associados a uma demografia crescente, reafirmam a presença e a progressão do português
no mundo, sendo atores relevantes na promoção da língua portuguesa.
Contudo, a lusofonia não aproveita totalmente estas riquezas citadas acima. O
português continua a não ser língua oficial nos organismos das Nações Unidas. E mesmo
nas organizações onde tem este estatuto, não ocupa o lugar que lhe é devido. Está pouco
presente na União Europeia e na União Africana, bem como na documentação e nos sites
da Internet de numerosas organizações internacionais.
Apesar de haver cerca de 70 milhões de internautas lusófonos (a sexta população
mais vasta a nível mundial), a língua portuguesa tem uma das taxas mais fracas em matéria
de produção de conteúdos. A língua portuguesa foi relegada para o segundo plano nas
bases científicas mundiais e a sua representação nas grandes instituições de governança
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internacional (normas, protocolos, fóruns, etc.) é rara.
Não obstante o sucesso à escala mundial do universo lusófono nos domínios do
audiovisual, da música, das artes em geral, há muitas outras manifestações artísticas que
dispõem de poucos circuitos de distribuição e de divulgação, e cujo patrimônio a nível
mundial não é suficientemente conhecido. O mesmo se passa com a ausência de redes
audiovisuais instaladas à escala global.
A francofonia, como a germanofonia, por exemplo, representando menos números
de falantes que na lusofonia, conseguem atingir mais interesse, em termo de aprendizagem
das línguas respetivas nas escolas, nos centros de línguas, mas também em termo de uso
nos congressos políticos, nos filmes, na Internet. A reputação da marca lusófona ainda tem
muito trabalho pela frente para conseguir o lugar que ela quer e deve atingir. Esse trabalho
passa muito pela imagem da língua portuguesa como uma língua internacional.
O ciberespaço, as tecnologias da comunicação e informação, as alianças com
espaços linguísticos afins, as sinergias e as mestiçagens existentes no mundo lusófono e
nas suas diásporas são meios partilhados que os países lusófonos podem pôr ao serviço da
língua portuguesa e das suas culturas. O ciberespaço é um bom exemplo dos esforços a
fazer para devolver à língua portuguesa o lugar que merece. Enquanto quase 7% das
páginas da Web do mundo inteiro são escritas em alemão e 5% em francês, apenas 2%
estão em português, uma língua demograficamente muito mais significativa do que as duas
línguas citadas, nomeadamente em número de internautas (há quase 85 milhões de
internautas lusófonos).
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Objetivos e limitações do trabalho
Nosso trabalho consiste então em ver como esse conceito da lusofonia evolue e
pode mudar positivamente no futuro, ganhando o lugar que lhe é devido. Quais são as
estratégias existentes de desenvolvimento para a lusofonia pretender ganhar espaços e
seguidores nesse mundo globalizado? Qual é a percepção atual do mundo lusófono sobre
esse conceito?
Iremos tentar responder às perguntas acima através de cinco capitulos:
primeiramente, através de uma revisão literária para conhecer o contexto e o surgimento
desse conceito, e ter uma base estratégica para entender as principais estratégias de
desenvolvimento realizadas pelas instituições, empresas ou associações lusófonas. Depois,
iremos ver a metodologia usada para poder responder da melhor forma ao questionamento
inicial. Dessa metodologia, e pela entrevista, pelas pesquisas ou pelo levantamento de
opiniões realizado, iremos observer os resultados obtidos dessa pesquisa antes de propor
considerações finais para esse tema, e ver como é feita essa construção da marca lusófona,
através da língua e das culturas lusófonas, assim como das possíveis estratégias de
desenvolvimento desse conceito lusófono, num mundo atual e futuramente ainda mais
globalizado.
Esse trabalho foi realizado para a validação do mestrado em Administração no
IBMEC / Unidade Centro (Rio de Janeiro, Brasil), e a própria dissertação final de
mestrado. Essa dissertação constitue uma ênfase à uma possível realização de tese de
doutouramento, em pré-negociação com a Universidade “Ecole de Management” na
França. As principais limitações para esse trabalho foram duas: - a difícil obtenção de
dados para alguns países (Timor-Leste ou Guiné) devido à distância geográfica; -‐ a
complexidade atual do tema, em constante evolução e difícil de definir exatamente.
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II. Revisão Téorica
1. “A língua é minha pátria” 1.1. O que é a Lusofonia? Espontaneamente, a resposta à pergunta não é unívoca. Mais ainda, é controversa,
senão mesmo polémica em alguns casos. Intromete-se na história, na sociologia, na política
internacional, na língua, no sentimento de pertença das comunidades, não esquecendo os
tão receados colonialismos, pós-colonialismos e neocolonialismos.
“Há evidente dificuldade de se conceituar e definir o termo lusofonia, pois o enfoque
meramente linguístico não esgota a questão. Impõe-se uma visão política, mais
abrangente, mais inclusiva. Verificamos que o uso comum de uma língua, aliado à
convivência de povos ao longo de séculos, formando um patrimônio histórico comum,
acabou por conformar não apenas um espaço lusófono, mas sobretudo um espírito
lusófono, que leva igualmente em conta aspectos psicossociais extremamente relevantes”.
(Moreira, Revista “Pessoa”, 2012).
Em termos institucionais, a Lusofonia gira sobretudo em redor da CPLP –
Comunidade de Países de Língua Portuguesa:
“O primeiro passo no processo de criação da CPLP foi dado, em Novembro de 1989, por
ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países
de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal
e São Tomé e Príncipe, a convite do Presidente brasileiro, José Sarney. Na reunião,
decidiu-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que se ocupa da
promoção e difusão do idioma comum da Comunidade. A ideia da criação de uma
Comunidade reunindo os países de língua portuguesa – nações irmanadas por uma
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herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão compartilhada do desenvolvimento
e da democracia – já tinha sido suscitada por diversas personalidades”. (CPLPb, s/ano).
Em 1996, em Lisboa, realizou-se a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo,
marcando a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, entidade que reunia
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe,
aos que se juntaria Timor Leste, seis anos mais tarde, aquando da sua independência. Os
seus objetivos são, obviamente, a concertação nas áreas política, económica, social,
cultural. Contudo, parece ser a língua portuguesa o cimento que fundamenta a união destes
oito países, questão crucial na definição da Lusofonia:
“A CPLP assume-se como um novo projecto político cujo fundamento é a Língua
Portuguesa, vínculo histórico e património comum dos Oito – que constituem um espaço
geograficamente descontínuo, mas identificado pelo idioma comum. Esse factor de
unidade tem fundamentado, no plano mundial, uma actuação conjunta cada vez mais
significativa e influente. A CPLP tem como objectivos gerais a concertação política e a
cooperação nos domínios social, cultural e económico.” (CPLPb, sem ano)
Muito anteriormente, o lusotropicalismo de Gilberto Freyre abrira caminho à ideia
de que o povo português seria capaz de formar uma nova civilização baseada na língua, na
religião e nas instituições, fazendo a apologia da mestiçagem num panorama multirracial e
pluricultural:
“É nesta lógica que a ideologia lusotropicalista, teorizada pelo sociólogo brasileiro
Gilberto Freyre é apropriada em território lusitano e propaga a mensagem de que o
«povo português seria capaz de se adaptar a ambientes adversos e formar uma nova
civilização, cimentada pela língua, religião e instituições da metrópole.” (Mata e Gomes,
2001, p.11)
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Segundo a autora Maciel (2010), a Lusofonia ultrapassa o lusotropicalismo pela sua
expressão diversificada em termos práticos:
“Sendo surpreendente constatar a importância que é atribuída ao termo lusófono, não só
em certos segmentos da sociedade portuguesa, mas também em Cabo Verde, em Angola ou
noutros espaços do mundo de língua portuguesa, argumentamos que a comunidade
lusófona não é um mero sucedâneo moderno do lusotropicalismo, mas também uma
realidade prática que vemos funcionar em expressões diversas, quer em iniciativas
informais, quer em acções político-institucionais, em transacções comerciais ou em
actividades sócio-culturais.” (Maciel, 2010, p.38)
Todavia, como afirma Neves (2003), a superação de lugares-comuns – como a
suposta recriação do lusotropicalismo enquanto fundação da Lusofonia, ou o passado
colonial como impedimento insuperável – é vital na construção de um verdadeiro espaço
lusófono, mobilizador dos cidadãos e dos seus interesses, potenciador de distintas
expresses culturais, concertador das economias, harmonizador das políticas, apaziguador
de conflitos sociais presentes e passados:
“A lusofonia deverá igualmente e consequentemente implicar a superação definitiva das
clássicas ideologias do género “luso-tropicalismo”, do “bom colonialismo português”, do
“não-racismo brasileiro”, do “colonialismo anti-económico” e quejandas, e
designadamente desses dois indestrutíveis mitos que dão pelo nome do “passado glorioso
de Portugal” e do não menos “glorioso futuro do Brasil.” (Neves, 2003)
No dizer de Rocha-Trindade (1998), a Lusofonia é um estado de alma, uma
identificação voluntária, uma adesão afetiva, onde a procura de afinidades culturais no seio
da diversidade pressupõe uma filosofia intercultural como forma de relacionamento, “não
apenas o direito de se partilhar um território mas igualmente a obrigação de nele se viver
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segundo as culturas dos vários grupos e comunidades, sem subordinação dos seus
estatutos ao da sociedade maioritária.” (Rocha-Trindade, 1998, p.11-13)
No debate de o que é Lusofonia, o conceito da língua portuguesa como fator de
união é, repetidamente posto em causa pela existência, em alguns países, de línguas
maternas com uma importância comunicativa que excede em muito o relativo baixo uso da
língua portuguesa enquanto língua oficial. Não esquecendo que desde 1999, Portugal tem
uma outra língua oficial: o mirandês (além da Língua Gestual Portuguesa); não esquecendo
que em Damão, Goa e Diu, assim como em Macau, ainda há quem fale português; não
esquecendo que o português é língua oficial da Guiné Equatorial; e não esquecendo que
nas comunidades de emigrantes de França, Canadá, Estados Unidos, entre outros, há
falantes de português que preservam língua e cultura – a questão acima mencionada
coloca-se relativamente a Cabo Verde, onde se usa maioritariamente o crioulo; a São Tomé
e Príncipe, onde se fala o forro, ao lado do lunguyé e do angolar (minoritárias); a
Moçambique, onde coexistem 43 línguas nacionais; a Angola, com 41 na mesma situação;
à Guiné-Bissau, com 21; e, finalmente, a Timor Leste, onde o mumbai e o tétum
ultrapassam largamente o português.
Então, perguntamo-nos: além de Portugal e do Brasil, realmente quem fala
português como língua materna? Poucos? Os falantes de língua portuguesa representam
mais de 270 milhões de falantes, contabilizando globalmente. Ela representa a quinta ou
sexta (dependendo dos critérios) língua a nível mundial e, se muitos estudiosos falam de
outros fatores de irmanação, a língua parece transpirar um esplendor de aliança
dificilmente igualável por outros fatores concorrentes como a história, a geografia ou
outros sentimentos de união simbólica, ligados a um passado comum, sempre muito
conturbado pela dizimação e escravização de populações, pela exploração dos recursos
naturais dos países colonizados ou pela guerra colonial, mais bem denominada de
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libertação dos povos africanos – realidades que deixaram marcas, talvez indeléveis, nas
relações entre Portugal e os restantes países de língua oficial portuguesa.
Esta conturbação de relações torna, certamente, o conceito de Lusofonia numa
plurivocidade de opiniões, sentimentos, crenças, experiências diversas ao longo do
território que a compreende, como atesta José Eduardo Agualusa:
“Viajei bastante, ao longo dos últimos anos, pelos países e territórios onde se fala a nossa
língua. Verifiquei durante essas viagens que a palavra lusofonia não significa exactamente
a mesma coisa em todos esses lugares. Creio, inclusive, que a maioria dos cidadãos
lusófonos não sabe muito bem o que ela significa. Mesmo no Brasil, cujos habitantes, na
sua esmagadora maioria, falam português como língua materna, inúmeras vezes me achei
na situação de ter de explicar o que se pode entender (ou o que eu entendo) por lusofonia.
Já em Angola, em Moçambique, e até em Goa, a palavra desperta frequentemente
suspeitas ferozes. Não significa isto que se deva abandonar o termo – muito menos o
conceito – até porque já não é provável que, entretanto se consiga forjar outro melhor.
Mas talvez devêssemos começar por investir no esclarecimento e no debate.” (Agualusa,
2005, sem página - entrevista)
Do mesmo modo, como afiança Lourenço, a nossa língua é hoje uma “pluralidade
de pátrias” (Lourenço, 1999, p. 132). Pode a língua portuguesa ser portadora de outros
mundos: brasileiros, africanos, asiáticos? Poderá a língua portuguesa ser veículo de
sentimentos de várias culturas, de diferentes cosmovisões? Não poderá o crioulo cabo-
verdiano exprimir melhor a morabeza? Ou o umbundu angolano, as particularidades do
planalto do Bié? E não serão as literaturas destes países mais genuínas se nas suas línguas
maternas?
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A amplitude que a língua portuguesa pode abarcar é a de língua franca, de
comunhão comunicativa, sem detrimento das línguas maternas, mas pelo contrário
encorajando o estudo e a normatização destas, sem imperialismo linguístico, como defende
Fernando Cristóvão (2003):
“É constituído pelas outras línguas e culturas de cada um dos oito países em que,
naturalmente, se estabelece o diálogo e colaboração entre a língua e a cultura – comuns, e
as outras línguas e culturas do país, com vista a estimulá-las e protegê-las, tanto
nacionalmente, como internacionalmente. Porque nem a língua de comunicação
internacional prejudica as línguas locais, pois todas têm o seu espaço e funções próprias,
e não é admissível, hoje, o imperialismo linguístico de uma língua dentro de um mesmo
território, reprimindo ou enfraquecendo as outras. (...) Até porque se não for a “língua de
cultura” internacional a proteger as línguas regionais ou locais, em pouco tempo elas
desaparecerão, por acção desse grande agente descaracterizador cultural que é a
globalização”. (São Cristovão, s.p.)
Trata-se da defesa e o estudo das línguas nacionais de cada país lusófono e mesmo
o cruzamento delas, ou não tivessem nascido daí os crioulos de base portuguesa e obras
literárias notáveis, como as de Luandino Vieira ou Mia Couto. Macedo (1999) coloca a
questão de forma mais pessoal, mas igualmente clarificadora do que se pretende dentro da
Lusofonia e para a língua portuguesa:
“Por outras palavras, a minha língua portuguesa é africana, brasileira e europeia. A
minha «Portugalidade» inclui ser africano e brasileiro. A primeira vez que fui ao Brasil
reconheci todas as minhas raízes biográficas e culturais, expressas em novas formas que
me eram totalmente familiares, sem necessidade de tradução. Também descobri que as
diferenças linguísticas entre o Algarve e Trás-os-Montes, por exemplo, são maiores do que
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entre Lisboa e o Rio de Janeiro, mas bastante menores do que entre o Funchal e Coimbra'
ou Luanda, ou São Luís do Maranhão, ou Maputo. (...) Cada escritor da língua
portuguesa é uma manifestação diferente da mesma unidade linguística, por vezes
apresentando mais afinidades óbvias com escritores de outros países Lusófonos do que
com os seus próprios compatriotas. Escrever em português é participar de todas as
culturas Lusófonas.” (Macedo, 1999, p.6)
Contudo, vozes discordantes há do potencial do conceito de Lusofonia. Alfredo
Margarido (2000) trata a Lusofonia como uma invenção que procura devolver-nos o
grande império português e sublinha a violência das relações históricas entre Portugal e os
países ex-colónias:
“A maior parte dos missionários da lusofonia agem como se não tivéssemos atrás de nós
uma longa história de relações polémicas com aqueles que escolheram falar português.
Ora convém medir com o rigor indispensável, utilizando os instrumentos mais sofisticados,
a soma de fobias provocadas por uma história que não pode evitar as marcas de violência
exercida sobre os Outros”. (Margarido, 2000, p.6)
O passado colonial e o passado bélico são realidades que afetaram quer os povos
das antigas colónias, quer o povo português e não só no âmbito da Lusofonia. Assim, será
sempre necessário um diálogo sanador, um longo processo de reflexão e troca de
experiências, de avivamento e partilha de memórias e revivências catárticas (através de
projetos internacionais de arte, de debates sobre História, de intercâmbios de estudantes, de
comunidades e experiências virtuais ou reais em que se empreende no descobrimento do
Outro e se conheça outra perspetiva desse passado comum) que possam conduzir a lidar de
forma adequada com a violência gerada pelas decisões e atos de alguns e sentida por todos.
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Não podemos estar de acordo com o autor Margarido, quando faz uma série de
afirmações que parecem ancoradas em sentimentos de desencanto e oposição gratuita,
como as seguintes: “Neste aspecto, a portugalidade opõe-se certamente à lusofonia: a
primeira é o resultado de uma oposição constante aos espanhóis (...) ao passo que a
lusofonia seria a consequência quase passiva da expansão e da banalização da língua.”
(idem, p.12). Não sendo nós teorizadores da “portugalidade”, teremos de contestar tal
asserção, dizendo que haverá certamente algo mais a acrescentar a esta essência do ser
português do que simplesmente ser um resultado, qual etiqueta ou negativo fotográfico,
das lutas contra o país vizinho, por muito marcantes que elas tenham sido. Por outro lado, a
Lusofonia que propomos nós e outros autores quer-se tudo menos passiva. Poderá ser
polémica, inconstante, difícil de definir ou de realizar, mas passiva nunca.
Afirma ainda Alfredo Margarido:
“Verifica-se, após 1974-1975, uma modificação subtil, mas constante, cabendo agora à
língua portuguesa – que se confunde com uma falsa língua lusa - tarefa que foi durante
muitos anos a dos territórios. Portugal passou a ser um país pequeno, mas dispondo de um
agente específico, a língua portuguesa, que lhe permite recuperar a sua “grandeza”.
Trata-se de uma prótese singular, mas que começa a revelar-se eficaz, permitindo
recuperar – de maneira quase glotofágica – as culturas dos Outros”. (idem, p.28)
O argumento cai por si só: se a língua lusa é falsa, pois não conseguiu (exeto no
Brasil) impor-se de forma cabal, atingindo o lugar de língua materna e/ou representando as
culturas e idiossincrasias dos povos colonizados ou cumprindo a tarefa dos antigos
territórios, então como pode ser um agente glotofágico das culturas dos Outros? Aliás, é
bem sabido que, quer antes quer depois da Revolução dos Cravos, as línguas autóctones de
Angola, Moçambique, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor se
22
mantiveram e floresceram a par, e em muitos aspetos em maior grau, da língua do
colonizador. Como pode ser esta então acusada de “engolir” as línguas e culturas do
Outro?
Eduardo Lourenço (1999) apoia precisamente a ideia de que não houve uma
imposição da língua portuguesa durante os séculos de conquista e exploração dos
territórios antes chamados Ultramar:
“A celebrada alma portuguesa pelo mundo repartida, de camoniana evocação, foi,
sobretudo, língua deixada pelo mundo. Por benfazejo acaso, os Portugueses, mesmo na
sua hora imperial, eram demasiado fracos para “imporem”, em sentido próprio, a sua
língua. Que ela seja hoje a fala de um país-continente como o Brasil ou língua oficial de
futuras grandes nações como Angola e Moçambique, que em insólitas paragens onde
comerciantes e missionários de grande época puseram os pés, de Goa a Malaca ou a
Timor, que a língua tenha deixado ecos da sua existência, foi mais benevolência dos
deuses e obra do tempo do que resultado de concertada política cultural.“ (Lourenço,
1999, p.123).
Porém, e voltando a Margarido (2000), concordamos com a sua ideia de
reclamação de um espaço de circulação livre na Lusofonia à semelhança do europeu como
forma de fomentar e cimentar as relações entre povos lusófonos. E, de novo, discordamos
fortemente com a exigência deste autor de que o espaço europeu seja permeável a todos os
povos lusófonos, não porque não sejamos inclusivamente simpatizantes de uma utópica
abertura total e mundial de todas as fronteiras, mas porque a lógica em que se baseia tal
exigência carece de força: “Não basta ser “lusófono” (...) para aceder à Europa (...). Só
uma leitura mítica pode ainda pretender construir um “espaço lusófono” quando as
regras europeias não prevêem que baste falar português para se puder circular
23
livremente.” (Margarido, 2000, p.57). E porque teria de bastar? Porque teria de ser
permeável todo e qualquer país europeu a todo e qualquer povo lusófono? Parece lógico e
desejável isso sim, que sejam livres todos os territórios lusófonos a todos os cidadãos
lusófonos. A Europa seria um espaço autónomo e com uma coerência existencial própria
em contacto, comunicação e, eventualmente, comunhão com outros espaços que se
formem segundo outros critérios, coerências e afinidades, como a Lusofonia.
Deveremos contrapor que a Lusofonia se quer precisamente, e como vimos
dizendo, um lugar de reflexão não só dos interesses e sinergias sociais, económicas,
políticas e culturais, mas também reflexão histórica, que possa se não aplacar a memória
de um passado incontestavelmente violento, ao menos dar a oportunidade de discussão do
que ele foi.
Apesar de assegurar que a miragem imperial está hoje fora de questão, Eduardo
Lourenço marca o ideal lusófono com o anelo lusíada: “o sonho de uma Comunidade de
Povos de Língua Portuguesa, bem ou mal sonhado, é por natureza – que é sobretudo
história e mitologia – um sonho de raiz, de estrutura, de intenção e de amplitude lusíada”
(Lourenço, 1999, p.124). É, no entanto, muito diferente dizer lusíada de dizer portuguesa,
o que o próprio autor refere “para o não tornar, à partida, um obstáculo conceptual e
simbólico à instituição de uma comunidade que acho desejável em si (...)”. E segue para
acrescentar que, apesar de essa a língua portuguesa ser o espelho de um povo determinado,
“os portugueses são os actuantes primeiros na ordem da cronologia, mas isso só não lhes
dá nenhum privilégio de “senhores da língua”, que é sempre senhora de quem a fala”.
Mais assegura que a “esfera da lusofonia é, idealmente, a dessa língua herdada de outras,
aparentada com outras, por sua vez aberta – mas não tanto quanto gostamos de imaginar
– a todas as outras com que entrou em contacto enquanto língua de colonização, sem
programa pedagógico de expansão em sentido moderno.” (idem, p.124).
24
Destituída, no nosso modo de ver, de ambição imperialista ou neocolonialista e
imbuída, sim, de uma áurea de humanismo e irmanação dos povos, coincidimos com
Moisés de Lemos Martins (2004) que, na Lusofonia, as expressões culturais devem ser, por
isso, de primeira ordem:
“E aí está a razão que me leva a pensar que também a lusofonia só poderá entender-se
como espaço de cultura. E como espaço de cultura, a lusofonia não pode deixar de nos
remeter para aquilo que podemos chamar o indicador fundamental da realidade
antropológica, ou seja, para o indicador de humanização, que é o território imaginário de
paisagens, tradições e língua, que da lusofonia se reclama, e que é enfim o território dos
arquétipos culturais, um inconsciente colectivo lusófono, um fundo mítico de que se
alimentam sonhos.” (Martins, 2004, p.3).
E ampliamos estas palavras no sentido do que propõe Carmen Maciel (2010) – um
envolvimento real das comunidades, micro-comunidades e indivíduos que, envolvidos na
sua construção, possam outorgar à Lusofonia não um, mas diversos formatos, desde que
significativos e impulsionadores das relações interculturais entre povos lusófonos.
1.2. Lusofonia ou lusofonias?
Abordadando a Lusofonia como conceito, coloca-se a questão de se a maiúscula e o
singular não terão um pendor demasiado opressor e dominante. Deveriamos pensar em
lusofonias em vez de um único conceito “Lusofonia” para todos os povos lusófonos?
Julgamos que é uma falsa questão, tal como tantas outras que tornam a forma
preponderante ou determinante sobre o conteúdo. Se a Lusofonia for encarada como um
espaço plural, de convivência igualitária, equitativa, pacífica e dialogante, em que a
diferença faz a riqueza e a força da união dos vários países, não tem por que ser
25
denominada lusofonias para dar a entender essa mesma pluralidade. A minúscula e o plural
não a farão mais diversa e respeitosa do Outro por si só – interessa sim que os seus
fundamentos e as suas práticas o sejam, a todos os níveis.
A Lusofonia deverá ser sempre uma miríade de lusofonias, em constante
movimento e aperfeiçoamento, apesar de alicerçada em valores bem definidos, como
aqueles que a CPLP aclama: “primado da paz, da democracia, do estado de direito, dos
direitos humanos e da justiça social” (CPLPc, s/ ano). Essa miríade será tão vasta e
diversificada quanto os seus membros o desejarem e na medida em que os seus indivíduos
para isso contribuírem – a Lusofonia será, portanto, necessariamente fragmentada e una,
como asserta Eduardo Lourenço (1999):
“Nem como língua, nem como cultura, nem como ficção, o imaginário lusófono se nos
define hoje nos tão celebrados e gastos termos camonianos de uma só alma pelo mundo
em pedaços repartida. O imaginário lusófono tornou-se, definitivamente, o da pluralidade
e da diferença e é através desta evidência que nos cabe, ou nos cumpre descobrir a
comunidade e a confraternidade inerentes a um espaço cultural fragmentado, cuja
unidade utópica, no sentido de partilha em comum, só pode existir pelo conhecimento
cada vez mais sério e profundo, assumido como tal, dessa pluralidade e dessa diferença.
Se queremos dar algum sentido à galáxia lusófona, temos de vivê-la, na medida do
possível, como inextricavelmente portuguesa, brasileira, angolana, moçambicana, cabo-
verdiana ou são-tomense.” (Lourenço, 1999, p.112).
1.3. A língua como um espaço de intercompreensão
Acordamos para uma lingua e, antes de sermos capazes de ler ou escrever o
alfabeto, estamos ja mergulhados num conjunto de sentimentos, crenças e valorizações.
Acordamos para uma língua sem saber ainda como articulá-la. A língua anticipa-se nos,
26
construindo o nosso referencial. Não são as nações nem os povos que criam as línguas. Da
tribo à nação, são as línguas que contêm dentro de si os povos que as falam. A sua
identidade é-lhes dada, em primeiro lugar, pelo meio de expressão linguística. Se na
linguagem popular, quotidiana, “falar, é falar-se” (Kristeva, 1980, p.19), a expressão
literária prolonga essa inevitabilidade que é a da anterioridade da língua ao sujeito que a
fala/escreve. Nesse sentido, quando o heterónismo Bernardo Soares confessava “Eu não
escrevo em português. Escrevo eu mesmo” (Soares, 2001, p.391), era desse mesmo eu que
Pessoa deslizava, como prenúncio de uma delirio psíquico, para a perturbação de sua
própria identidade:
“Aquele movimento histórico da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias
nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em
que os sons são cores ideias – tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção
politica. Minha patria é a lingua portuguesa” (Soares, 2001, p.254).
A língua é efetivamente um capital de memoria que recicla e actualize a sua própria
substância, isto é, o seu suporte material e simbólico. Material, porque é regra – fonética,
ortografia, morfologia e sintaxe; simbólico, porque a língua não é um instrument neutro
que se esgota no seu uso comunicante empírico. É antes, como diria Eduardo Lourenço,
“um corpo vivo, sonoro e sensível” (1999), um sistema de regras suficientemente aberto
para nele se inscrever “um registro cultural com uma identidade própria e, ao mesmo
tempo, intercultural”.
O termo lusofonia só muito recentemente surge como um vocábulo registrado nos
dicionarios de língua portuguesa. Uma breve incursão neste instrumente de pesquisa
demonstra que é na segunda metade da década de noventa que a palavra começa a fazer
parte do léxico vocabulary pertencente à area linguistíca galaico-portuguesa. Neste
27
percurso até à consagração lexical, deve assinalar-se que a sua utilização familiar vinha em
crescendo já desde a década anterior, empregue em domínios tão diversos como diverso o
seu uso nos vários domínios, do ensaio jornalístico à poesia, passando pela produção
académica nas áreas da crítica literária, da economia ou da sociologia da cultura. O
culminar deste processo como que se desvenda na descrição fornecida pelo novíssimo
dicionário da Academia de Ciências de Lisboa:
“Lusofonia, s.f. 1. Qualidade de ser português, de falar português; o que é próprio da
lingua e cultura (portuguesas). 2. Comunidade formada pelos países e povos que têm o
português como língua maternal ou official. 3. Difusão da língua portuguesa no mundo”
(2001, p.2310).
Outros dicionários reservam à lusofonia o estututo de neoligismo (por referência ao
vocabulo ja registrado lusofono) que indica a situação de um país ou povo cuja a lingua
oficial é o português. Traduz-se, deste modo, na adopção oficial do português pelos oitos
países que compoem a “comunidade” de nações de expressão oficial portugues. Noutras
obtas consultadas, a lusofonia é entendida como o “conjunto das identidades culturais
existentes entre os países de língua portuguesa” e também, em simultâneo, o “conjunto dos
falantes de português”. Assinale-se o emprego quase intermutavel das expresses
“comunidade”, “identidades culturais”, “conjunto dos falantes” como termos sinonimos
ou, pelo menos, equivalents, para já não mencionar a amalgama das referencias a “povos”,
“nações” e “países” como sendo uma e a mesma coisa. Estas indefinições terminológicas
colocam-nos ab initio um conjunto de dificuldades:
1. Primeiro obstáculo trata-se de uma noção em construção cujo significado só
muito recentemente se estabilizou no léxico. No decurso desse processo têm-se vindo a
substituir termos e desginações que assim se tornam arcaias. Atente-se, por exemplo, nos
28
termos “lusimos”, “lusitanismo” e “lusocultura” que, em rigor, são pratciamente ignoradas
na linguagem familiar para designer a língua e a cultura portuguesas, e também nos
adjectivos hifenizados “luso-africano”, “luso-brasileiro”, “luso-galaico”, “luso-americano”,
que caíram em desuso a favor de uma cada vez maior utilização dos vocabulos lusofonos e
lusofonia (2000, p.133)
2. Segunda dificuldade, o termo lusofonia surge associado a uma constelação de
outros conceitos (nação, identidade, cultura, comunidade…), cuja articulação ao suporte
língua parece pressupor uma relação contigua com categorias da percepção que procuram
tornar coerentes relações entre dimensões ambivalentes (nações / comunidades / povos;
identidade / cultura; língua maternal / língua oficial). A interpretação destas cadeias de
inferência pode contemplar multiplas leituras. Na perspectiva estruturalista a articulação da
lingua com estes referents denota o “efeito de sentido” (Pinto, 1978, p.71) produzido pela
sua utilização no discurso: ao trabalhar sobre a materia lingua, sobre o som, este efeito
configura uma mensagem, uma representação mental e uma imagem imediatas. Mas esta
representação é difusa porque a relação entre o significante e o significado (entre a imagem
acústica e o conceito) se encontra aberta a multiplos entendimentos (porque há multiplos
conceitos) tornando dificil a apropriação de um unico sentido.
2. Estratégia administrativa e desenvolvimento de marca
Estratégia é uma palavra com diversas definições, que variam de acordo com os
interesses das organizações. Basta olhar o número de autores que conceituam o tema,
dentro de alguma abordagem específica. Entretanto, um consenso entre todas as definições
de estratégia é a inseparabilidade entre a organização e o ambiente externo que, se por um
lado representa uma condicionante à sua atividade, por outro, oferece-lhe oportunidades
que importa aproveitar. É essa relação entre organização e ambiente que dá sentido ao
29
conceito de estratégia.
De acordo com Chandler (1962), estratégia seria a determinação das metas e
objetivos em longo prazo, junto à adoção de linhas de ação e alocação derecursos para
alcance desses objetivos.
Para Porter (1986), cada empresa que compete em uma indústria possui uma
estratégia competitiva. Essa estratégia tanto pode ser desenvolvida explicitamente, por
meio de um processo de planejamento, como ter evoluído implicitamente a partir das
atividades dos vários departamentos funcionais da empresa. O desenvolvimento de uma
estratégia competitiva é, em essência, o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o
modo como uma empresa competirá, quais deverão ser suas metas e quais as políticas
necessárias para levar a cabo essas metas. Segundo Mintzberg (2001), estratégia pode ser
considerada como uma força mediadora entre a organização e o seu meio envolvente: um
padrão, isto é, consistência em comportamento, ao longo do tempo, no processo de tomada
de decisões organizacionais para fazer face ao meio envolvente.
Segundo Hitt, Ireland e Hoskinsson (2008a), uma estratégia é um conjunto
integrado e coordenado de ações, definido para explorar competências essenciais. Quando
definem uma estratégia, as empresas escolhem alternativas para competir. Nesse sentido, a
estratégia definida indica o que a empresa pretende e o que não pretende fazer. Cada vez
mais importante para o sucesso da empresa, a estratégia consiste em escolher entre duas ou
mais alternativas. A abordagem adotada por Hitt, Ireland e Hoskinsson (2008a) baseia-se
nas de Porter (1986) quando trata das estratégias competitivas genéricas,
fundamentalmente no que diz respeito à vantagem estratégica. A estratégia de liderança de
custo dá-se através da ação de empresas que procuram aumentar sua participação no
mercado, buscando menores custos em relação a seus concorrentes. Diferenciação é a
30
busca de uma vantagem competitiva através do fornecimento de produtos ou serviços que
são vistos como únicos em alguma(s) qualidade(s) desejada(s) pelo consumidor.
Mintzberg e Quinn (1992) citam cinco abordagens de estratégia: plano, manobra,
padrão, posição e perspectiva. Como plano, a estratégia é um método (intenções
conscientes) de ação para diferentes situações, que pode ser geral ou específica. Quando a
estratégia é específica, ela é vista como uma manobra que, muitas vezes, tem a intenção de
amedrontar competidores. Como um padrão, a estratégia é o próprio padrão de
comportamento de uma empresa, que pode estar consciente dele ou não. A estratégia,
como posição, identifica qual a situação da empresa no mercado, sua posição no ambiente.
E como perspectiva, é a visão de mundo que a empresa possui. Miles e Snow (1978)
propõem a existência de quatro tipos de estratégias genéricas: defensiva, prospectora,
analítica e reativa. Eles propuseram categorias de estratégia competitiva que diferenciam
as empresas mediante a relação estratégia/estrutura e ambiente. Essas se diferenciam nas
respostas que as empresas dão aos três problemas que compõem o ciclo adaptativo:
a) problema empreendedor, com a definição de um domínio de produto/mercado;
b) problema de engenharia, com a escolha de sistemas técnicos;
c) problema administrativo, relacionado à estrutura e aos processos organizacionais.
A seguir, serão abordados os temas estratégias deliberadas e estratégias
emergentes, por se tratarem de partes fundamentais do processo de administração
estratégica. De forma geral, os autores pesquisados abordam as duas orientações como as
principais maneiras de se formularem e implementarem estratégias.
31
2.1 Estratégias deliberadas x estratégias emergentes
2.1.1 Estratégias deliberadas
Uma grande parte sobre o que se tem escrito sobre estratégia pressupõe sua
conceituação como um conjunto de diretrizes conscientemente deliberadas que orienta as
decisões organizacionais. Esse conceito, chamado de estratégia intencionada por
Mintzberg (1978), é representativo das escolas prescritivas de pensamento estratégico.
Assim, para um dos líderes da chamada escola de planejamento, estratégia é vista como
processo controlado, consciente e formal de interação entre uma empresa e seu ambiente,
acompanhado pela alteração dos aspectos dinâmicos internos da empresa (ANSOFF,
1979).
Entretanto, a posição estratégica de uma empresa pode resultar ou não do
cumprimento integral de planos anteriormente estabelecidos Para explorar essa relação,
Mintzberg e Waters (1985) propõem a classificação das estratégias realizadas em
deliberadas e emergentes. Estratégias deliberadas são as que se realizam, tal como foram
explicitamente planejadas, através de um processo controlado; estratégias emergentes são
padrões de ações consistentes realizadas apesar de (ou na ausência de) intenções. Enquanto
a primeira definição centra-se na direção e controle da empresa, a segunda liga-se à noção
de aprendizagem - a partir de uma ação desencadeada é possível obter efeitos de
"feedback" que são considerados em ações sequentes, e o processo continuará de forma a
que a convergência das ações realizadas configure uma estratégia.
Todavia, a realidade é mais complexa. Estratégias puramente deliberadas e
puramente emergentes são situações extremas, entre as quais se situam as estratégias
correntemente realizadas. Porter (2000) explora esses conceitos ao assegurar que as
intenções plenamente realizadas podem ser chamadas de estratégias deliberadas. As não-
32
realizadas podem ser chamadas de estratégias irrealizadas. Segundo Mintzberg (1998), a
escola de planejamento reconhece ambas, com óbvia preferência pelas primeiras, mas há
um terceiro caso, chamado de estratégias emergentes – na qual um padrão realizado não
era expressamente pretendido.
Dessa forma, poucas, ou nenhuma, estratégias são puramente deliberadas, assim
como poucas são totalmente emergentes. Em qualquer estratégia, existe um espaço para a
preparação e outros momentos em que o aprendizado é a consequência e a própria
preparação da estratégia. Em outras palavras, as estratégias devem formar bem como ser
formuladas. Assim, não existe definição de estratégias boas ou más; os bons estrategistas
misturam-nas de maneira que reflitam as condições existentes, especialmente, a capacidade
para prever e, também, a necessidade de reagir a eventos inesperados.
Para Wright, Kroll e Parnell (2000), uma vez que a estratégia é planejada e
implementada, frequentemente irá requerer modificações à medida que as condições
ambientais ou organizacionais modificam-se. Essas mudanças são sempre difíceis, ou
mesmo impossíveis de prever. Na verdade, é rara a situação em que a alta administração é
capaz de desenvolver um plano estratégico de longo prazo e implementá-lo por vários anos
sem qualquer necessidade de modificação.
Consequentemente, uma estratégia pretendida (o que a administração originalmente
planejou) pode ser realizada em sua forma original ou, até mesmo, em uma forma
completamente diferente. Ocasionalmente, é claro, a estratégia pretendida pela
administração é implementada, mas normalmente a estratégia pretendida e a estratégia
realizada (o que a administração implementa na realidade) diferem. A razão disso é que
ocorrem eventos ambientais ou organizacionais não previstos que provocam mudanças na
estratégia pretendida. Harrison (2005) pactua da necessidade de equilibrar a criação da
33
estratégia: a estratégia deve ser deliberada e emergente, e as empresas devem se adaptar a
seus ambientes e mudá-los, deixando que a situação determine que opção escolher.
2.1.2 Estratégias emergentes
De acordo com Mintzberg (1978), uma estratégia emergente seria aquela que
emerge da organização em resposta a uma oportunidade do ambiente. Surge da dificuldade
de se prever, com maior exatidão, o comportamento e as interrelações dos agentes do
ambiente e a consequente resposta a essa mudança, a não ser somente quando ela se faz
presente.
A estratégia emergente tem um papel fundamental para as organizações, uma vez
que ela corrige a rota da organização a partir da dificuldade de prever as mudanças no
ambiente, reconhecendo essa limitação e não ficando presa a um planejamento defasado
que levaria a empresa a nadar contra a correnteza. A importância do ambiente, portanto, é
levada ao máximo, considerando-se a própria evolução das organizações como resultado
da relação com o meio e os constantes desafios por ele impostos. A estratégia é, sob esse
enfoque, o uso da imaginação e da lógica para responder ao meio ambiente de tal forma
que se gere como resultante uma vantagem competitiva para a empresa (HENDERSON,
1989).
As estratégias emergentes ocorrem diariamente nas empresas e são frutos muito
mais da cultura organizacional e do conceito de learning organization (SLATER;
NARVER, 1994) do que dos planejamentos deliberados. Elas representam o filtro entre o
planejamento formal e os caminhos a serem trilhados no curto prazo e são fundamentais
para as estratégias de longo prazo da organização. Exemplificando com uma metáfora
ilustrativa, o planejamento estratégico deve ser como uma larga estrada traçando um
34
caminho a ser seguido (consistência), mas não como um trilho, que não permita
flexibilidade no curto prazo.
Segundo Borges e Luce (2000), a estratégia emergente tornar-se-á deliberada se o
padrão for reconhecido e se houver uma legitimação do padrão pela alta administração da
organização. Ao elaborar uma estratégia, os gerentes não costumam passar seu tempo
lendo os mais diversos tipos de relatórios, estes procuram aprender sobre suas
organizações e setores industriais, através de um toque pessoal, pois são também sensíveis
à experiência. O fator principal de gerenciar uma estratégia é a administração da
estabilidade e não da mudança (PORTER, 1998 apud MINTZBERG, 1978).
Mintzberg (1978) chega a conclusões relevantes ao estudar o que os
administradores e executivos efetivamente fazem contrapondo o que eles dizem fazer. Para
o autor, há muito menos decisões e controle na vida organizacional do que ajustes
paulatinos e improvisações ad hoc, de acordo com a situação. Ele vê a estratégia como um
padrão de atividades que se desenvolvem no tempo e que incorpora observações do que
efetivamente aconteceu. Sua argumentação é de que as ações e resultados falam mais alto
do que as intenções inicialmente formuladas. Em sua visão. a estratégia não precisa surgir
pronta e acabada, mas pode brotar do próprio processo. Mintzberg (2001) explica a criação
artesanal da estratégia em contrapartida ao desenvolvimento racional e deliberado de
planos e padrões de ações. O autor entende que a imagem de uma criação artesanal da
estratégia é a que melhor representa o processo de elaboração de uma estratégia eficaz. As
estratégias podem combinar claramente deliberação e controle com flexibilidade e
aprendizagem organizacional. Os processos de formulação e implementação transformam-
se em um processo contínuo de aprendizagem, através do qual surgem estratégias
criativas” (MINTZBERG, 2003, p. 419).
35
2.2 Administração estratégica
A Administração Estratégica (AE), em relação a outras disciplinas administrativas,
surgiu tardiamente. Nasceu como uma disciplina híbrida, sob influências da sociologia e da
economia, sendo, essencialmente, uma evolução das teorias das organizações
(VASCONCELOS, 2001). Somente a partir da década de 50, passou a receber maior
atenção dos meios acadêmico e empresarial, quando, então, alavancou o seu
desenvolvimento, notadamente a partir dos anos 60 e 70.
Para Certo e Peter (1993), a AE teve suas origens nos cursos de política de
negócios (business policy) dos anos 50, patrocinados pela Ford Foundation e pela Carnegie
Corporation, que incentivaram as escolas a inserir em seus currículos uma disciplina mais
ampla, chamada de política de negócios. Paralelamente a isso, são muitas as classificações
e visões sobre as origens, influências, constituição e evolução da AE, defendidas por vários
autores. Mintzberg, Ahsltrand e Lampel (2000) veem a evolução da AE a partir de escolas
que surgiram em estágios diferentes – algumas das quais já chegaram ao pico e declinaram,
outras ainda estão em gestão. A administração estratégica surgiu com um corpo teórico
mais amplo, com a “comunicação de uma visão estratégica global da empresa para os
diversos níveis funcionais, com o objetivo de que as iniciativas da empresa sejam
coerentes com a diretriz geral”.
Apesar da constituição tardia, a AE apresentou um rápido desenvolvimento, tanto
teórico como de modelos práticos, haja vista a grande quantidade de modelos de análise de
mercado que surgiram a partir dos anos 60, com destaque para a Matriz BCG do Boston
Consulting Group, o Modelo SWOT (Strength, Weakness, Opportunity, Threat), a Curva
de Experiência e a Análise de Portfólio, além de vários conceitos como o de análise
econômica de estrutura, conduta e performance, competência distintiva, competências
36
essenciais e os chamados sistemas de planejamento estratégico (VASCONCELOS, 2001).
Já Cabral (1998) vê a evolução da AE a partir dos três estilos de estratégia que
prevaleceram nos últimos 30 anos: estilo de planejamento (anos 70), no qual a
previsibilidade do futuro baseava-se na análise do provável; estilo de visão (anos 80), no
qual a imprevisibilidade do futuro baseava-se na imaginação do possível; estilo de
aprendizagem (anos 90), no qual o futuro passou a ser mapeado e enfrentado por meio da
compreensão do momento atual.
O caráter dinâmico e mutável da AE pode ser explicado pela diversidade interna de
conceitos a partir dos quais ela evoluiu. Esses conceitos formam um conjunto de teorias de
diversos campos do conhecimento humano: Teoria da Evolução e da Revolução de
Darwin; Adaptação e Extinção/Criação de Schumpeter; Teoria da Organização Industrial:
forças setoriais implícitas (evolução implícita); Teorias Econômicas: proteções legais,
diferenciação temporária, status competitivo; Teoria da Contingência: proatividade, forças
ambientais associadas a ações estratégicas; Teoria Baseada em Recursos Únicos como
variáveis-chave (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000).
A Administração Estratégica, como disciplina da Administração, tem apresentado
destaque e relevância, em produção científica, bem como, crescente busca de consultorias
organizacionais. Para Porter (1986), qualquer organização, conscientemente ou não, adota
uma estratégia, considerando-se que a não adoção deliberada de estratégia por uma
organização pode ser entendida como uma estratégia. Além disso, a importância maior da
AE está no fato de se constituir em um conjunto de ações administrativas que possibilitam
aos gestores de uma organização mantê-la integrada ao seu ambiente e no curso correto de
desenvolvimento, assegurando-lhe atingir seus objetivos e sua missão. Hamel e Prahalad
(1989 e 1994) consideram a administração estratégica um processo de aprendizado
37
coletivo, que visa desenvolver e explorar as competências distintivas de difícil imitação.
A evolução natural da administração estratégica é o salto para o processo de
administração estratégica. Essa evolução deve ser explicada pelo fato de o termo processo
indicar um fenômeno em constante mudança, que não possui interrupção no tempo e no
espaço. A administração estratégica passa a ser um agente dinâmico para as organizações.
2.3. Processo de administração estratégica
O termo processo de administração estratégica remete ao dinamismo que as
organizações atuais apresentam. Por se tratar de um ciclo, orienta para uma noção de
continuidade. Wright, Kroll e Parnell (2000) sustentam que, uma vez que a estratégia
planejada seja implementada, frequentemente irá requerer modificações à medida que as
condições ambientais ou organizacionais modificam-se. Por consequência das
modificações, os elementos estratégicos, também, sofrem alterações. Para os autores essas
mudanças são sempre difíceis ou mesmo impossíveis de prever. Consequentemente uma
estratégia pretendida pode ser realizada em sua forma original, em uma forma modificada
ou até mesmo em uma forma completamente diferente.
No entendimento de Certo e Peter (2005), o atual processo de administração
estratégica é uma atividade contínua e interativa que visa manter uma organização como
um conjunto apropriadamente integrado a seu ambiente. Para os autores, a correta
aplicação do processo de administração estratégica implica em incentivar o
comprometimento dos membros da organização para que participem ativamente na
definição das estratégias a fim de atingir as suas metas. Segundo os autores, o contrário, ou
seja, a falta de efetividade e a ineficácia na aplicação do processo estratégico contribuem
para que as empresas percam posição no mercado e tenham baixa na lucratividade. A
devida aplicação do processo estratégico tende, especialmente em organizações menores, a
38
ser dominada pelo diretor-presidente da empresa, considerado também o principal
responsável pelo êxito do processo.
Segundo Hitt, Ireland e Hoskinsson (2008a) o processo de administração
estratégica é o conjunto de compromissos, decisões e ações necessários para que a empresa
obtenha vantagem competitiva e retornos acima da média. O primeiro passo de uma
empresa no processo é analisar seus ambientes externo e interno para determinar seus
recursos, suas capacitações e suas competências essenciais – suas fontes de informações
estratégicas. Com essas informações a empresa desenvolve a sua visão e missão e formula
sua estratégia. Para implementar essa estratégia, a empresa toma ações no sentido de obter
vantagem competitiva e retornos acima da média. Souki (2008) corrobora com os
argumentos de Hitt, Ireland e Hoskinsson (2008a) ao afirmar que, para se obter estratégias
administrativas eficazes, é necessária a percepção sistêmica do ambiente em que a
organização está inserida.
A administração estratégica, em geral, tem sido apresentada na literatura, como
uma sequência de etapas, cuja denominação varia entre os autores, mas de modo geral,
segue a mesma linha, em termos conceituais. Para Certo e Peter (2005), o processo de
administração estratégica é uma série de etapas básicas. Já para Wright, Kroll e Parnell
(2000) a administração estratégica é composta de passos, e seu conjunto forma um modelo.
Hitt, Ireland e Hoskinsson (2008a) assumem que o processo de administração estratégica é
o conjunto de compromissos. Harrison (2005) apresenta o processo de administração
estratégica como uma progressão de atividades.
2.3.1 Processo de administração estratégica conforme Certo e Peter
De acordo Certo e Peter (2000), o processo de administração estratégica é contínuo,
inicia-se fora da organização e desdobra-se dentro dela. Sugerem ainda que esse é processo
39
contínuo, o que significa que começa na primeira etapa, segue até a última e, então, volta
para a primeira. Essa sequência sugere o caráter cíclico do processo. Após a conclusão
dessas etapas o processo poderá sofrer um feedback, voltando assim à primeira etapa
(análise do ambiente), se necessário.
Etapa 1 – Execução de uma análise do ambiente
O processo de administração estratégica começa com a análise do ambiente, isto é,
com o processo de monitorar o ambiente organizacional para identificar as oportunidades
os riscos atuais e futuros. Nesse contexto, o ambiente organizacional é o conjunto de todos
os fatores (internos e externos), que podem influenciar o progresso obtido por meio da
realização dos objetivos.
Etapa 2 – Estabelecimento de uma diretriz organizacional
A segunda etapa do processo de administração estratégica é o estabelecimento da
diretriz organizacional ou determinação da meta da organização. Há dois indicadores
principais de direção para os quais uma organização é levada: a missão e os objetivos
organizacionais. A missão organizacional é a finalidade de uma organização ou a razão de
sua existência. Os objetivos são as metas das organizações. Entretanto, para estabelecer
apropriadamente a meta organizacional, a administração deve saber em que se resume uma
declaração da missão organizacional, entender a natureza dos objetivos organizacionais e
adotar um processo efetivo e eficiente para determinar essa meta organizacional.
Etapa 3 – Formulação de uma estratégia organizacional
A terceira etapa do processo é a formulação da estratégia. Essa é definida como um
curso de ação que permita que a organização alcance seus objetivos. Formular estratégias é
projetar e selecionar ações que levem à realização dos objetivos organizacionais. O foco
deve ser em como lidar satisfatoriamente com a concorrência. O sucesso da organização
será resultado de uma boa análise do ambiente, bem como através da diretriz
40
organizacional estipulada, utilizando para isso ações alternativas que garantam os
resultados esperados.
Etapa 4 – Implementação da estratégia organizacional
Emergiram de etapas anteriores ao processo de administração. Nesta quarta etapa,
colocam-se em ação as estratégias desenvolvidas no processo de administração estratégica.
Sem a implementação efetiva da estratégia, as organizações são incapazes de obter os
benefícios da realização de uma análise organizacional, do estabelecimento de uma diretriz
organizacional e da formulação da estratégia organizacional.
Etapa 5 – Controle estratégico
O controle estratégico é um tipo especial de controle organizacional que se
concentra no monitoramento e na avaliação do processo de administração estratégica no
sentido de melhorá-lo e assegurar-lhe um funcionamento adequado. Entender o processo
de controle estratégico e os papéis das auditorias estratégicas, além dos sistemas de
informações e suas formas de complementar todo o processo de administração estratégica
é fundamental para o seu êxito.
2.3.2 Processo de administração estratégica conforme Wright, Kroll e Parnell.
De acordo com Wright, Kroll e Parnell (2000), a alta administração deve realizar as
tarefas a seguir:
a) analisar oportunidades e ameaças ou limitações que existam no ambiente externo;
b) analisar os pontos fortes e fracos de seu ambiente interno;
c) estabelecer a missão organizacional e os objetivos gerais;
d) formular estratégias (no nível empresarial, no nível de unidades de negócios e no nível
funcional que permitam à organização combinar os pontos fortes e fracos da organização
com as oportunidades e ameaças do ambiente;
41
e) implementar as estratégias e
f) realizar atividades de controle estratégico para assegurar que os
objetivos gerais da organização sejam atingidos.
Para esses autores, a administração estratégica refere-se ao processo que se inicia
com a determinação da missão e dos objetivos de uma organização dentro do contexto de
seu ambiente externo e de seus pontos fortes e fracos internos. Em seguida, estratégias
apropriadas são formuladas e implementadas. Por fim, o controle estratégico é exercido
para assegurar que as estratégias da organização sejam bem-sucedidas quanto ao
atingimento dos objetivos. Cada estágio do processo de administração estratégica deve ser
considerado em conjunção com os demais porque uma mudança em um ponto qualquer
afetará outros estágios do processo.
2.4. Posicionamento e desenvolvimento de marca
O valor de uma marca, de um conceito, vem de sua habilidade em ganhar um
significado exclusivo, destacado e positivo na mente dos clientes.
Para Aaker (1996), uma identidade e uma posição de marca bem concebida e
implementada trazem uma série de vantagens à organização: (a) orientam e aperfeiçoam a
estratégia de marca; (b) proporcionam opções de expansão da marca; (c) melhoram a
memorização da marca; (d) dão significado e concentração para a organização; (e) geram
uma vantagem competitiva; (f) ocupam uma posição sólida contra a concorrência; (g) dão
propriedade sobre um símbolo de comunicação; (h) provêm eficiências em termos de
custos de execução.
42
Para Kotler (1996), “o ponto central do marketing estratégico moderno pode ser
descrito como marketing SAP – segmentação, alvo e posicionamento.” Aaker (1989)
observa que o posicionamento significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Para
alguns, é a decisão de segmentar, para outros, a questão da imagem. Para a maioria, a
opção através da qual as características do produto são destacadas. Poucos gerentes
consideram todas as alternativas anteriores.
Não há uma definição universalmente aceita de posicionamento (BLANKSON,
2001). Isto pode ser em parte atribuído á falta de uma clara base teórica e à relativa
simplicidade com que o conceito é utilizado pelos praticantes de marketing. Há uma série
de termos complementares e relacionados: “posição do produto”, “posição”,
“posicionamento de produto”, “posicionamento de mercado”, que mostram também
alguma sobreposição dos conceitos e aplicações.
Por posição de produto entende-se a soma dos atributos associados a um produto
por seus consumidores, o mais antigo termo relacionado a posicionamento (ARNOTT,
1992). As definições de posicionamento de produto guardam ainda uma relação estreita
com o próprio posicionamento de marca. Nas definições de Alpert e Gatty (1969) e
Bennett (1995), o posicionamento de produto aparece como a maneira pela qual usuários
de um produto percebem marcas concorrentes e categorias de produtos. Neste ponto surge
o mapa perceptual como uma das ferramentas de trabalho desenvolvidas para suportar o
esforço de posicionamento de produto/marca.
O termo posição é definido na literatura como um lugar ocupado por um
produto/serviço em relação a seus concorrentes. Para Arnott (1992), posição é “[...] a
43
identificação das dimensões perceptuais e a mensuração da posição de um produto/serviço
em vários eixos, seguida de uma inferência sobre onde o produto/serviço deve estar.”
Já o posicionamento de mercado é concebido como a estratégia relacionada à qual
abordagem adotar em relação à segmentação de mercado e à seleção dos segmentos nos
quais a companhia quer participar (GREENLEY, 1989). Neste item, o conceito de
posicionamento é tomado pela estratégia empresarial.
Em Ries e Trout (2002), a essência do posicionamento consiste em aceitar as
percepções como realidade e então reestruturar essas percepções a fim de criar a posição
desejada: “[...] é o modo como você se diferencia na mente de seu cliente potencial”.
Kapferer (1992) define posicionamento como a ênfase nas características
distintivas que fazem uma marca diferente de seus competidores e atraente para o público.
Em outro momento diz que “posicionamento é o ato de relacionar uma faceta de uma
marca a um conjunto de expectativas, necessidades e desejos de consumidores”.
Posicionamento é um conceito crucial, que lembra que as escolhas dos clientes são
feitas numa base comparativa, e um produto só será escolhido se fizer parte claramente de
um processo de seleção.
Keller (2003) define posicionamento de marca como a criação de superioridade de
marca na mente dos consumidores. Posicionamento envolve convencer os consumidores
das vantagens de seus produtos contra a concorrência, e ao mesmo tempo aliviar
preocupações em relação a possíveis desvantagens. Para o autor, o posicionamento
44
usualmente requer a especificação também de valores cruciais (conjunto de associações
abstratas como atributos e benefícios) e um “mantra” (a essência da marca ou promessa).
Um posicionamento de sucesso é definido por Sternthal e Tybout (2001) quando
“[...] envolve afiliar uma marca a alguma categoria que os consumidores possam
compreender e reconhecer de imediato, além de diferenciá-la de outros produtos na mesma
categoria [...]”.
Para Arnott (1993) posicionamento é “[...] o processo interativo, proativo e
deliberado de definir, medir, modificar e monitorar as percepções de um consumidor sobre
um objeto no mercado [...]”. A aplicação do posicionamento envolve a definição das
dimensões de um espaço perceptual particular que representa adequadamente a percepção
do público-alvo, a medição da localização dos objetos nesse espaço, as modificações das
características do objeto para aproximarem-se das percepções ideais dos clientes e, por
último, as modificações das percepções dos clientes através da estratégia de comunicação.
A definição de posicionamento dada por Kotler (1996) diz que “posicionamento é o
ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de forma que ocupem um lugar
distinto e valorizado nas mentes dos consumidores-alvo”.
Para Randazzo (1997), o “[...] posicionamento da marca é aquilo que os
publicitários querem que a marca represente no mercado e na mente do consumidor”.
Posicionar a marca no mercado baseia-se normalmente num produto e seus
atributos físicos, comparados a seus competidores. O posicionamento perceptual, ou como
45
a marca se posiciona na mente do consumidor, inclui o posicionamento de mercado, mas
não se limita a ele, pois o anunciante vai além dos atributos físicos. A publicidade faz isto
ao criar uma mitologia de marca que transmite benefícios baseados no produto ou de
cunho emocional/psicológico.
Para Peter e Olson (1996), o objetivo principal de uma estratégia de
posicionamento é formar uma imagem particular na mente dos consumidores. Talarico
(1998) usa a definição de posicionamento de marca como “[...] a definição de um ponto no
espaço da mente do consumidor a ser ocupado pela marca”. McKenna (1992) vê o
posicionamento sob um enfoque tridimensional, compreendendo o posicionamento do
produto, o posicionamento do mercado e o posicionamento da empresa.
Para Blankson (2001), os diversos termos relacionados a posicionamento mostram
um padrão com três elementos: conceitual, operacional e estratégico, ou clientes, empresa
e concorrência, adicionadas a duas perspectivas, gerencial/organizacional e do consumidor.
Upshaw (1999) defende que o posicionamento é um processo, não um ato. É um
processo de persuasão contínua, para encorajar o cliente a pensar de uma determinada
maneira, e não uma ação unilateral do profissional de marketing.
Para Upshaw (1999), uma marca bem posicionada forma a base para um
relacionamento de longo prazo com o cliente. Embora influenciadores, os responsáveis por
marketing não podem controlar como uma marca será posicionada na mente dos clientes.
O autor contrasta algumas das idéias vigentes com sua visão de posicionamento: Blankson
e Kalafatis (2001) afirmam que uma perspectiva do conceito de posicionamento deve levar
46
em conta o papel do posicionamento, seus objetivos, a identificação de estratégias
adequadas para suportar os objetivos, o desenvolvimento de uma comunicação capaz de
entregar as mensagens desejadas e, por fim, o gerenciamento das atividades relacionadas
com o ciclo de vida. A efetividade de um posicionamento deve ser julgada em termos dos
objetivos traçados em relação às percepções geradas no público-alvo.
Outro aspecto de discussão é o status do posicionamento. Há predominância do
enfoque processual, entendido como uma sequência de etapas onde, ainda que
implicitamente, estão presentes a análise interna e externa, a segmentação, a definição do
enunciado de posicionamento, sua implementação e monitoramento.
Segundo Hunt (2002), uma boa definição deve (a) incluir todos os fenômenos que
dela devam fazer parte; (b) excluir todos os fenômenos que não deva abranger; (c)
diferenciar o definiendum de outros termos; (d) definir claramente o termo; (e) comunicar
bem o significado do termo para a audiência; (f) ser consistente com os significados de
outros termos importantes e (g) ser longa apenas o suficiente para atender os critérios
anteriores.
Baseado nisso, propõe-se definir, para efeitos deste estudo, posicionamento de
marca como o “processo de estudo, definição e implementação de uma oferta diferenciada
de valor cujos atributos proporcionem uma posição vantajosa sustentável de uma marca em
relação à concorrência numa categoria, do ponto de vista da percepção de um público-
alvo”.
47
III. METODOLOGIA
Para analisar o contexto da lusofonia, e seu desenvolvimento passado, atual e futuro, ver as
estratégias implementadas para desenvolver a posição atual da lusofonia, recorreu-se a
uma metodologia assente nas seguintes estratégias de investigação:
- Estudo de caso: Análise de estratégia de desenvolvimento do conceito da lusofonia
pela criação e evolução da RTPi. Entrevista realizada com Paulo Dentinho,
responsável de comunicação na RTP Internacional, na França.
- Levantamento de opiniões depois de aplicação de uma investigação por
questionário.
1) Na primeira etapa, tratou-se de realizar um estudo de caso.
A entrevista realizada seguiu o modelo de “entrevista semi-estruturada”.
No cômputo geral foi realizada a entrevista, por e-mail e conversa telefônica, com o
Paulo Dentinho, na França, membro da RTP Internacional, seguindo as três seguintes
metas.
48
Foi decidio a realização de apenas uma entrevista, por questões de tempo e de
realização desse trabalho final. Porém, nosso contato era suficientemente importante na
compreensão da construção e evolução de um dos média implementado pela RTP, um dos
principais canais audiovisuais do mundo lusófono. Acreditamos, que em pesquisas futuras,
seria interessante, comparar esses dados, e as perspectivas de evolução, com outros canais:
Globo principalmente, que tem um impacto muito importante na comunidade luso-
brasileira residente fora do Brasil.
Para além da entrevista, foram mantidos contatos com informantes
privilegiados, que, ao longo da investigação, puderam dar as suas opiniões, transmitir
informações úteis: membros da CPLP, embaixadores ou membros de associações
lusófonas (Portugal, França). Em todo o caso, pretendeu-se sempre contemplar, não os
agentes confinados aos espaços nacionais (Portugal e os demais países de língua oficial
portuguesa), mas aqueles que elegeram o campo transnacional da lusofonia como um dos
seus espaços privilegiados de actuação.
Com a diversidade de entrevista (e conversas informais) estabelecida, pretendeu-se
analisar as múltiplas estratégias implementadas pela RTP, mas também por outras
instituições, tendo em conta as visões de agentes diferencialmente posicionados sobre o
fenómeno em estudo.
Para a análise da entrevista recorremos à análise de conteúdo numa perspectiva
compreensiva que, segundo Jean-Claude Kaufmann (1996) permite abordar, de modo
privilegiado, as representações e os significados que o(s) agente(s) social atribue ao mundo
que os rodeia e aos acontecimentos, iniciativas e marcos que relatam como fazendo parte
do seu percurso e da sua história. No caso específico da análise de entrevista, utilizou-se a
metodologia de exploração dos textos. Recebemos, do nosso contato principal, muitos
49
textos respondendo às perguntas iniciais. Porém, esses textos não davam respostas diretas e
completas.
2) Para completar o estudo de caso, realizamos um leventamento de opiniões e
percepções sobre o conceito da lusofonia, e o sentimento de pertencia à comunidade
lusófona. Tentando envolver uma população vasta e heterogénea (lusófona, mas também
de outros países com língua oficial diferente). investiu-se na realização de uma sondagem
de opinião, lançada via Internet, aplicada entre Junho e Setembro de 2014. Os principais
objetivos desta ação visaram apurar o que diferentes indivíduos da sociedade civil dos
países e espaços de língua portuguesa, mas também afora, entendem por lusófono(a); a sua
familiaridade com o conceito e o seu sentimento de pertença à chamada comunidade
lusófona. No tratamento dos dados obtidos privilegiou-se, não só o método quantitativo
(apuramento da frequência de ocorrência dos termos), como uma abordagem qualitativa,
assente numa análise categorial que nos permitisse construir conhecimento a partir dos
discursos, da posição e dos termos utilizados pelos diversos respondentes.
Admitíamos no ínicio que a grande maioria dos respondentes, apesar de participar
na sondagem, não conheceria o significado do conceito de lusófono (embora a palavra
pudesse não lhe ser desconhecida) e que também não se sentiria membro da comunidade
lusófona. Admitíamos ainda que, em reação à utilização das expressões, “lusófono” e
“comunidade lusófona”, receberíamos respostas que tenderiam a refletir posicionamentos
diferenciados de acordo com os contextos em que cada inquirido nasceu, vive e circula.
Para sermos mais precisos, partimos do pressuposto de que iríamos receber, por um lado,
respostas que espelhassem desconhecimento sobre a substância da noção de lusófono, mas
que dessem conta de uma relativa familiaridade com a mesma (muito em virtude, por
exemplo, das últimas e polémicas notícias sobre o acordo ortográfico); e, por outro lado,
50
que esse desconhecimento seria mais acentuado em alguns países africanos (como São
Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau ou Moçambique, países onde, relativamente aos restantes e
de acordo com as estimativas existe uma menor percentagem de falantes da língua
portuguesa e nos quais persiste uma considerável ligação com os países francófonos e
anglófonos); ou outros países não falantes da língua portuguesa; menos acentuado em
Angola e Moçambique aderiu, em 1995 (um ano antes de se integrar na CPLP), à
Commonwealth – organização cuja maioria dos membros é antiga colónia do Reino Unido.
A Guiné-Bissau e São Tomé e Princípe são membros da Organização Internacional da
Francofonia (OIF), bem como Cabo Verde. Mas, neste último caso, há a salientar o peso
relativo dos falantes de língua portuguesa. Ele é menos acentuado ainda no Brasil e em
Portugal (países cuja maioria da população utiliza e domina o português e tem acesso
facilitado às ‘expressões culturais’ dos restantes países do espaço lusófono).
Tendo na nossa análise pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e profissões,
nascidos, nacionalizados e/ou residentes num país de língua portuguesa; e pessoas de
ambos os sexos, de todas as idades e profissões, que se consagrem a assuntos relacionados
com a língua portuguesa, às culturas dos países de língua portuguesa e outros assuntos
afins (mesmo que não nascidos, nacionalizados e/ou residentes num país de Língua
Portuguesa), considerou-se que a sondagem de opinião seria um método adequado para
alcançar o objetivo proposto inicialmente. Sabendo previamente que seria impossível
atingir toda a população envolvida no espaço lusófono, e que seria irrealizável proceder à
investigação em diferentes espaços geográficos, a escolha de realizá-la através da Internet
– dadas as possibilidades/facilidades que os meios electrónicos proporcionam – afigurou-
se como uma opção válida.
51
Para esse estudo de caso, elaboramos três perguntas, para as quais se aspirava um
retorno sem qualquer tipo de consulta:
- O que significa para si ser lusófono?
- O conceito é-lhe familiar?
- Sente-se parte da chamada “Comunidade Lusófona”?
Achamos pertinente a categorização dos participantes segundo a nacionalidade,
uma vez que se pretendia testar se de fato as respostas obtidas iriam, ou não, variar de
acordo com esse critério, não se pretendeu, contudo, focar a análise nesse atributo só,
tendo ainda sido solicitado aos inquiridos que indicassem o sexo, a idade e a respetiva
profissão. «Porque todo o método é, antes de mais, uma estratégia de abordagem de
problemas concretos e as operações de categorização traduzem consequentemente, os
objetivos visados pelo investigador” (Marques, 1994), a classificação dos inquiridos
segundo os quatros critérios escolhidos (sexo, idade, nacionalidade e profissão) pretendeu,
concretamente, identificar se existiria, ou não, uma relação direta de cada uma dessas
variáveis com as questões em análise.
O meio selecionado para a divulgação da sondagem passou por suscitar uma “bola
de neve” através do e-mail e de outros suportes informáticos como sites e mídias.
Elaboramos um texto introdutivo que explicava os motivos da sondagem, criamos
uma primeira base de dados com os contatos de familiares, amigos e conhecidos (de ambos
os sexos, de todas as idades, nacionalidades e profissões), e enviamos então um apelo à
participação, pedindo também que eles repassassem a mensagem (de forma a incluírem
52
jovens, adultos e idosos, indivíduos com e sem formação superior, desempregados, vindo
de qualquer país do chamado espaço lusófono).
Aos determinados contatos considerados privilegiados, fizemos um pedido
particular de cooperação apelando a que pudessem estimular a participação dos seus
colegas, de modo a garantir o máximo possível de heterogeneidade nas respostas obtidas.
O processo de recolha de dados decorreu entre o dia 2 de junho e o dia 28 de
setembro de 2014. Numa primeira fase, a sondagem foi realizada apenas com a “bola de
neve” que se gerou pelo processo acima descrito; e, na segunda, contou-se com o apoio da
Associação de Estudantes Lusófonas da Chama, que disponibilizou uma plataforma de
inquérito no seu website e nas suas páginas institucionais e que disseminou a sondagem
através de alguns dos contatos das organizações.
Devido às numerosos emails que não chegaram ao destino (por alguns endereços
estarem desatualizados, ou somente por ter sido negada a recepção dos mesmos) e aos
sucessivos compartilhamentos gerados pela “bola de neve”, não foi possível a
contabilização dos e-mails, que foram efetivamente enviados e recebidos, estimando-se
apenas que tenha ascendido a um universo de 2.000 a 2.500 pessoas contatadas; a estes
adicionamos os que, não tendo recebido uma mensagem electrónica, visualizaram a
sondagem pelo portal da Chama.
53
Na primeira fase conseguimos 34 respostas e na segunda, 274, atingindo um total
de 308 respostas.
Tabela 1 – Comparação da participação, por nacionalidade, com base nos dados recebidos por e-mail e os recebidos através da plataforma da Chama.
Nacionalidades
E-mail Chama Total
Totais % Totais % Totais %
Angolana 3 9% 8 3% 11 3,5%
Brasileira 4 12% 114 42% 118 38%
Caboverdeana 1 3% 8 3% 9 3%
Guineense 0 0% 11 3,5% 11 3,5%
Moçambicana 1 3% 5 2% 6 2%
Portuguesa 23 67% 117 43% 140 46%
Santomense 1 3% 0 0% 1 0%
Timorense 0 0% 0 0% 0 0%
Outras 1 3% 11 3,5% 12 4%
34 100% 274 100% 308 100%
54
IV. Análise dos resultados Estudo de caso: desenvolvimento da lusofonia pelas mídias e audiovisual RTP – Caso sobre a RTP Internacional e a Lusofonia (entrevista)
Neste trabalho, e pelas respostas obtidas na entrevista com Paulo Dentinho, não
ambicionamos decompor detalhadamente a importância do peso político português
relacionado com o desenvolvimento do ambiente Lusófono e da criação da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa. Iremos, simplesmente, examinar alguns dados desta
intervenção, especificamente no que diz respeito à criação de meios de comunicação
especialmente concebidos para dar corpo a esta política de desenvolvimento. Nesse estudo
de caso, a nossa vontade era de conseguir analisar uma das estratégias concebidas pelo
canal português RTP e o governo português para promover a língua portuguesa e as
culturas portuguesas e lusófonos.
A RTP Internacional e a RTP África são com certeza os canais televisivos, que dão
mais visibilidade a esta intervenção política, mas Portugal tem vindo, também, a promover
vários meios de cooperação na área da comunicação social. Assim, aspiramos à nos
concentrar na lógica de produção e de distribuição de conteúdos televisivos portugueses
para as comunidades e países de língua portuguesa e outras iniciativas do governo
português que promovam a exportação e troca de produtos mediáticos em português.
A Lusofonia tem sido uma palavra particularmente apreciada e estudada pelos
governos portugueses. Apesar de raramente explicitado, o conceito vira força política nos
anos 80, quando Portugal se torna membro da Comunidade Económica Europeia (CEE). A
55
ideia de que Portugal vai além dos seus limites geográficos através de culturas e da língua
portuguesa é reinventada para reforço da posição portuguesa no campo internacional.
Criação dos canais - Programas, Contratos e Justificações.
Através do contato estabelecido e das respostas recebidas pelo jornalista e
coordenador Paulo Dentinho, analisamos primeiramente os contratos que foram assinados
pelo governo português para a criação da RTP International. Na constituição da RTP, há
uma breve citação ao «necessário reforço da ligação entre os vários espaços de afirmação
da imagem e da presença de Portugal no mundo», que apela à uma política de
desenvolvimento unificadora. Foi o predisente Cavaca Silva, no seu governo, que mais
apostou nessa estratégica essencial à produção e emissão de programas nacionais quer para
as Comunidades portuguesas residentes no estrangeiro, quer para os Países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa, por forma a criar laços de cooperação, acentuar essa matriz
universalista e valorizar, defender e projetar no Mundo a nossa língua e a nossa cultura.
Os objetivos do governo de António Guterres (1995-1999) são esses que darão
grande autoridade à Lusofonia, no âmbito da comunicação social. Esta opção é justificada
da seguinte forma: « A prossecução de uma política de língua, visando uma melhor
implantação do Português no espaço da lusofonia, será igualmente inscrita entre as
prioridades setoriais, em estreita articulação com o incremento da cooperação com os
PALOPs. Esta última visará, em especial, a melhoria das infraestruturas mediáticas e da
formação profissional, assim como a criação de um espaço alargado de distribuição de
programas em língua portuguesa, susceptível de reforçar laços afetivos e económicos com
a África e com o Brasil ».
56
Para materializar este objetivo, o governo propõe então como metas a concretizar:
«o desenvolvimento da coordenação da RDP, RTP e LUSA, com melhor uso das
economias de escala e sinergias existentes» e a «modificação de alguns dos objetivos e
principais da RTP Internacional, garantindo uma informação liberal e pluralista, uma maior
participação direta das comunidades portuguesas e uma maior atenção à divulgação da
língua e da cultura portuguesa».
O canal RTP Internacional foi apreendido pelos governos portugueses como a base
dessa ação política e a RTP como uma ferramenta fundamental para a sua concretização.
Paulo Dentinho mencionou então dois Contratos de Concessão do Serviço Público de
Televisão, estabelecidos entre o governo português e a Radiotelevisão Portuguesa, AS para
provar a grande importância que era dada a esse projeto. O primeiro contrato foi assinado
em 1993. Ele contém uma cláusula exclusivamente dedicada às emissões internacionais da
RTP, que indica que é obrigatório produzir e emitir programas para as comunidades
portuguesas no estrangeiro e para os países africanos de expressão oficial portuguesa, no
objetivo principal de preservar e divulgar a cultura e a língua portuguesa. Nesse mesmo
contrato, podemos notar partes que atestem obrigação da RTP em desenvolver a
coolaboração com Macau e com os países de expressão oficial portuguesa, especificamente
no nível de informação e de produção de programas, desenvolvimento de pessoal,
operação e assistência técnica. Os custos destas intervenções seriam, de acordo com o
contrato, financiados pelo governo português.
O segundo contrato mencionado foi concedido em 1996. Ele completa o anterior e
indica as tarefas e missões dos serviços públicos. Depois ánalise desse, vemos que a RTP é
obrigada à emitir programas de difusão internacional destinados aos portugueses
espalhados pelo mundo e, em geral, a todos os que se exprimem na língua portuguesa. O
57
acordo indica que a RTP deva contribuir, via suas emissões internacionais, ao
desenvolvimento de Portugal e dos seus valores culturais, e à promoção da língua e a da
sua expansão com todos os países da comunidade lusófona.
Nesse contrato, uma vez mais, a RTP é responsabilizada pela difusão e produção
diária de programas que preencham as emissões internacionais. A inovação deste contrato
relativamente às emissões internacionais se refere apenas a consultas por vários membros
da RTP para ter um seguimento claro do conteúdo. Isso também para evitar uma qualidade
reduzida dos programas de entretenimento propostos pelos responsáveis dos serviços
internacionais da RTP.
Nesse mesmo contrato, podemos notar partes que atestem obrigação da RTP em
desenvolver a coolaboração com Macau e com os países de expressão oficial portuguesa,
especificamente no nível de informação e de produção de programas, desenvolvimento de
pessoal, operação e assistência técnica. O custo de exploração das emissões internacionais
ficará também, de acordo com este contrato, a cargo do governo português.
A preocupação com o desenvolvimento de meios de comunicação que promovam a
língua e a cultura portuguesa está bem clara nos documentos oficiais. De fato, a afirmação
de Portugal no Mundo parece depender da capacidade portuguesa para se impor nos media
internacionais. Os media foram imaginados como a «ponte» necessária, senão
indispensável, para dar corpo a um espaço de língua e para garantir uma presença notória
no plano internacional.
58
Desenvolvimento da RTP Internacional no mundo
Nessa parte, foi questionado ao Paulo, quais eram as políticas de desenvolvimento
da RTI Internacional (RTPi) no mundo. Ele me passou alguns textos relatando a criação e
o desenvolvimento da RTP Internacional.
Como sabemos vários países utilizam as transmissões internacionais, desde longa
data, como instrumento de política externa. Os fins das transmissões internacionais, são
solicitados e financiados pelos diversos governos. Como exemplos citados, a Voz da
América ou a BBC (rádio e televisão), são alguns serviços que operam no mundo inteiro,
em várias línguas.
Em Portugal, essas ações de desenvolvimento internacional na área das emissões
televisivas internacionais começaram a serem tracejadas nos anos 80, período onde
desenvolveram tecnologias para usar mais facilmente e frequentemente satélites para
transmissões televisivas. Em paralelo, Portugal entrou, em 1986, na Comunidade
Económica Europeia e sabia que a promoção da Lusofonia, em geral tributaria para a
afirmação de Portugal na Comunidade. A criação da RTP Internacional foi então e sem
dúvida, uma medida que se inscreve neste quadro.
A primeira transmissão da RTP Internacional ocorreu no dia 10 de Junho de 1992.
Inicialmente, a RTP Internacional ia para o ar através duma emissão diária de seis horas,
transmistida em países da Europa, da África, do Médio-Oriente e da Ásia. A visualização
dos programas era realizável através de antenas parabólicas, mas a RTP Internacional
desenvolveu rapidamente a transmissão por cabo, em países onde existia / existe uma forte
concentração de portugueses (na Suíça, na França, na Bélgica e no Luxemburgo), mas
também, em países da América do Norte e Central, numa altura em que também se
impletava os programas nas grelhas em Moçambique, Angola e Cabo Verde.
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O número de horas de transmissão aumentou para 10 horas no dia 1 de Janeiro de
1995, tendo voltado a aumentar para 24 horas por dia, no dia 10 de Junho do mesmo ano.
Em 1996, a RTP Internacional assegurava já uma cobertura mundial.
De acordo com estimativas da própria RTP Internacional, este canal estará
acessível a mais de 45 milhões de pessoas em 2015, isto à partir da evolução continua da
instalação e desenvolvimento das transmissões nos países lusófonos ou onde existe
comunidades portuguesas. Esta estimativa não inclui os telespectadores que veem a RTP
Internacional através de redes terrestres que transmitem o canal nos PALOPs, nem aqueles
que a sintonizam diretamente, através de antenas parabólicas, dos satélites que asseguram a
sua distribuição.
A estratégia principal da RTP Internacional é de colocar à disposição do maior
número possível de pessoas, integrantes das comunidades de língua portuguesa, os
melhores programas transmitidos nos restantes canais da RTP. Ao contratário que de que
pressumia, a estratégia da RTP Internacional parece ter estado, nos primeiros anos, mais
voltada para o desenvolvimento dos sistemas de distribuição do que para o melhoramento
da qualidade da programação. Chegar aos cinco continentes e alcançar mais de 200
milhões de falantes da língua portuguesa parece ter sido o objetivo mais importante.
Paulo Dentinho sublinha também que, na atuação dos governos anteriores, a ação
mais importante, à nível de promoção da língua e da cultura portuguesa foi a criação da
RTP Internacional, porque «permite a ligação com todos os países de África de expressão
portuguesa e comunidades espalhadas pelo mundo». Este plano (junto com outras ações de
promoção dos valores culturais e linguísticos) é especialmente importante para o país,
porque demostra mais uma vez que Portugal é um país universalista que descobriu novos
mundos, e isso com um diálogo intercultural muito grande. Portugal ganha a promover a
lusofonia, a sua língua e sua cultura, nas instituições onde ele atua, principalmente, na
60
União Europeia. Portugal se tornou e continua a ser um embaixador dos próprios interesses
desses países.
As ações da RTP Internacional pela CPLP
Nessa parte, foi questionado ao jornalista e responsável de programação, qual era o
público alvo e atingido através dos programas, das transmissões da RTP Internacional, mas
também da RTP Àfrica. E também como a RTP iria evoluir no futuro. Paulo indicou logo
que tinha tido um antes e um efeito pós-constituição da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP). Nessa constituição, as mídias foram uns dos pontos principais a ser
comentado e desenvolvido. A partir dessa concertação, a RTP Internacional evoluiu
bastante. Em 1996, ocorreu o Fórum da Comunicação, em Portugal, que contou com a
participação de altos dirigentes das principais estações de televisão, estações de rádio e
agências noticiosas dos sete países de língua portuguesa.
Na Declaração Final do Fórum da Comunicação, a CPLP foi apontada com
principal motor de promoção lusófono, e que era de grande importância cooperar todos
juntos para desenvolver a RTP Internacional, como outros canais audiovisuais, mas
também para promover esses canais nos próprios países e no resto do mundo.
Assim, várias iniciativas tiveram origem no Fórum da Comunicação. Foi criada a
Aliança das Agências de Informação de Língua Portuguesa para difusão à nivel mundial
para servir os objetivos da CPLP. As agências noticiosas dos Sete (ANGOP, RAIOBRAS,
CABOPRESS, ANG, AIM, LUSA e STPPRESS) decidiram fazer circular livremente a
informação entre as agências, cooperar no plano técnico e de formação profissional,
programar redes de telecomunicações mais apropriadas, etc. Na área radiofónica, foi
decidido o estabelecimento de um catálogo de programas originais em língua portuguesa
para livre transmissão pelos operadores nacionais, a necessidade de intensificar a
61
cooperação no domínio da formação profissional foi reafirmada, a RDP foi reconhecida
como o suporte ideal para a difusão de programas produzidos pelos operadores
participantes e considerou-se que seria conveniente a inclusão na programação da RDP
Internacional de espaços destinados à difusão de programas vocacionados para as
diásporas dos países que integram a CPLP. No plano televisivo, as empresas de televisão
participantes decidiram não só constituir-se numa associação de interesses - Televisões de
Língua Portuguesa (TVLP), como também decidiram estabelecer formas de apoio à
produção e distribuição de programas de língua portuguesa e facultar o seu livre acesso aos
membros da CPLP.
No dia 7 de Janeiro de 1998, a RTP África nasceu como canal independente. Ao
contrário do Canal RTP Internacional que se destina a todos aqueles que falam português,
a RTP África destina-se aos 25 milhões de habitantes dos cinco países africanos de língua
oficial portuguesa. Este canal distingue-se também da RTP Internacional porque as
emissões são codificadas de Lisboa, sendo descodificadas nas capitais africanas para serem
posteriormente retransmitidas para os respectivos países via terrestre. Do ponto de vista
editorial e de programação, há também diferenças óbvias. Enquanto a RTP Internacional
tem por base a programação da RTP1 e RTP2, a RTP África procura ter programação
autónoma, contanto com produtos produzidos pelas cinco estações públicas de televisão
dos países africanos. Ainda que a responsabilidade editorial seja da RTP, a RTP África tem
um estúdio da RTP África em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e S. Tomé
e Príncipe. Estas delegações são interlocutores operacionais dos parceiros africanos da
empresa, na troca de notícias e de programas e no lançamento das linhas de programas
originais, em coprodução. Ainda que o essencial deste projeto seja decidido na sede da
RTP, em Lisboa, a formulação da RTP África faz com seja mais fácil aos políticos
portugueses reagir contra acusações neocolonialistas. É um canal interativo de Portugal
62
para África e de África para Portugal. Esta televisão tem emissões de todos os países
porque há um estúdio da RTP África em todos os países. É um canal feito em seis países
diferentes todos os dias ».
Conclusões sobre as análises do estudo de caso:
Nesse resumo de entrevista e pesquisas com contatos informais, procurámos
apresentar alguns fundamentos para analisar a maneira que os canais televisos apostaram
na Lusofonia e usaram aos media internacionais como forma de materialização do discurso
Lusófono.
Primeiramente, vimos que os objetivos eram de atingir o maior número de pessoas,
mas que cada vez mais a RTP tornou a ser um canal de qualidade, transmitido e
retransmitido no mundo inteiro. Através de políticas de desenvolvimento e de divulgação,
a RTP ganhou uma posição mundial e pode servir de exemplo mundial e lusófono.
Apesar das formas bem diferenciadas de intervir politicamente nos media, a RTP
Internacional surge efetivamente como um caso à parte. A sua importância nunca foi
questionada. A RTP Internacional sempre foi entendida ou, pelo menos, apresentada como
o mais importante órgão de comunicação português e a RTPi e a RTP África (enquanto
desdobramento da RTP Internacional), vistas como as mais valiosas medidas dos governos
na área da comunicação. Numa fase de acentuadas mudanças no plano nacional, não deixa
de ser revelador o fato de os vários governos afirmarem publicamente que as mais
importantes medidas na esfera mediática se relacionem diretamente com o plano externo.
Independentemente das motivações políticas para a importância atribuída à RTP
Internacional, é evidente que os Canais RTPi e RTP África rapidamente se transformaram
em relevantes fontes de informação e de entretenimento para as comunidades de língua
63
portuguesa e para os países africanos de língua oficial portuguesa. No entanto, o papel que
estas fontes de informação e de entretenimento desempenham atualmente está ainda por
estudar. Até ao momento, as preocupações parecem ter recaído sobre a produção e a
circulação destes produtos mediáticos sem que tenha sido dada atenção à pertinente
questão da recepção destes conteúdos no espaço de língua portuguesa. O desenvolvimento
dos estudos de comunicação neste espaço poderá, a médio prazo, dar resposta às inúmeras
questões subjacentes a esta problemática.
Nesse sentido, vemos que os responsáveis da RTP, pela criação da RTPi, e mais
para frente da RTP África, seguiram e devem seguir futuramente uma estratégia de
posicionamento e de desenvolvimento do conceito lusófona, tal como os autores Peter e
Olsen indicam em 1996, para formar uma imagem particular – clara, positiva – na mente
dos consumidores. Através da evolução das transmissões da RTPi no mundo, da evolução
construtiva e global dos programas emitidos nos países de língua portuguesa ou nos países
onde existe uma forte comunidade portuguesa ou lusófona, vemos que existe uma vontade
que a marca “Lusofonia” seja bem posicionada e forma a base para um relacionamento de
longo prazo com o cliente e o público alvo.
Levantamento de opiniões – Percepção do conceito lusófono e sentimento de
pertência à comunidade lusófona. Caracteristícas dos participantes
Como foi indicado na metodologia, foi pedido aos inquiridos que se identificassem
segundo o sexo, a idade, a nacionalidade e a profissão. Os resultados seguintes permitem-
nos conhecer a caracterização dos inquiridos.
64
Sexo:
Tabela 2 – Participação por sexo
Sexo Total %
Masculino 171 56%
Feminino 137 44%
Total 308 100%
Apesar de ter uma pequena diferença entre o número de homens e o número de
mulheres que participaram (os primeiros representam mais 12% do que as segundas);
podemos verificar uma boa representatividade dos dois grupos, sendo possível estabelecer
relações comparativas entre as respostas de uns e outros.
Tabela 3 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a idade (por grupos etários)
H F Total
<18 3 100% 0 0% 3
18-25 7 38% 11 62% 18
26-40 85 58% 62 42% 147
41-65 60 49,5% 59 50,5% 119
>65 16 74% 5 26% 21
Total 171 137 308
Analisando os dados relativos ao sexo dos inquiridos com os restantes dados,
verificamos que, no que toca à idade (tabela 3), os homens menores de 18 anos e os
maiores de 65 têm maior peso no grupo dos homens do que entre as mulheres (nos
restantes grupos etários observamos uma distribuição equilibrada).
65
Em relação à participação segundo o sexo e a nacionalidade, notamos que entre o
grupo dos guineenses (92%) e dos angolanos (73%), houve uma clara sobre representação
dos inquiridos do sexo masculino, ainda com alguma expressão no grupo dos
moçambicanos (65%). No caso dos cabo-verdianos, dos brasileiros, dos portugueses e dos
indivíduos de outras nacionalidades, registaram-se valores de participação quase
equivalentes entre os dois sexos.
Tabela 4 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a nacionalidade
H F Total
Angolana 8 73% 3 27% 11
Brasileira 65 55% 53 45% 118
Caboverdiana 5 54% 4 46% 9
Guineense 10 92% 1 8% 11
Moçambicana 4 65% 2 35% 6
Portuguesa 71 51% 69 49% 140
Sãotomense 1 100% 0 0% 1
Outras 7 59% 5 41% 12
Total 171 137 308
Analisando os grupos profissionais segundo o sexo dos inquiridos (tabela 5)
verificamos que os homens, tiveram ainda uma representação muito expressiva no grupo
do pessoal dos serviços e vendedores (78%), no dos quadros superiores (64%) e no dos
reformados (67%); as mulheres têm ainda uma expressão muito significativa no grupo do
pessoal administrativo e similar (78%). No geral, observa-se uma clara sobre representação
das ocupações mais qualificadas (54%).
66
Tabela 5 – Caracterização dos inquiridos segundo o sexo e a profissão (por grupos
profissionais e ocupacionais)pais
Grupo etário:
Tabela 6 – Participação por grupo etáriopais
Total %
<18 3 1%
18-25 18 6%
26-40 147 47,5%
41-65 119 38,5%
>65 21 7%
Total 308 100%
H F Total
1. Quadros Sup. da Administração Pública, Dirigentes de Empresa 18 64% 10 36% 28 9%
2. Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas 90 54% 76 46% 166 54%
3. Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio 14 56% 11 44% 25 8%
4. Pessoal Administrativo e Similares 2 22% 7 78% 9 3%
5. Pessoal dos Serviços e Vendedores 7 78% 2 22% 9 3%
6. Estudantes 35 56% 27 44% 62 20%
7. Desempregados 1 33% 2 67% 3 1%
8. Reformados 4 67% 2 33% 6 2%
Total 171 137 308 100%
67
A relação entre idade e grau de participação na sondagem é curvilínear (tabela 6),
ou seja, menor entre os mais jovens (7%) e entre os mais velhos (7%); ganhando apenas
destaque a participação dos adultos (38,5%) e jovens adultos (47,5%) em idade ativa. Uma
sondagem encomendada em Janeiro de 2009 pelo Instituto Português da Juventude,
visando analisar a participação cívica dos jovens entre os 15 e os 30 anos, trouxe à tona
dados semelhantes: 98,9% ligavam muito pouco a esse tipo de participação.
Os dados, embora se reportem ao caso português, talvez nos possam ajudar a
compreender o porquê de os jovens (até aos 25 anos) terem tido uma baixa participação
nesta iniciativa (que tentou, não sem esforço, alcançá-los).
Analisando os grupos etários de acordo com as ocupações e os grupos
profissionais, verificamos que entre os menores de dezoito se encontram apenas estudantes
(do ensino secundário); no grupo seguinte, dos 18 aos 26 anos de idade, os estudantes
surgem novamente em destaque (desta feita de nível universitário), com 50% dos
inquiridos, e aparecem também 31% de especialistas das profissões intelectuais e
científicas. Visto que este último grupo representa a maioria na amostra, em todos os
grupos etários que se seguem predominam esses especialistas.
Nacionalidade:
Como foi mencionado na metodologia, o grupo nacional mais representado na
amostra foi o dos portugueses, entre os quais se registou 46% da participação total parcial;
seguindo-se os brasileiros, com 38% (tabela 7). Uma vez que a participação dos nacionais
dos PALOP foi baixa, considerámos que, para efeitos comparativos, o melhor seria agrupar
o valor de todos os grupos e criar o subgrupo dos “africanos de língua oficial portuguesa”,
obtendo-se assim 12% de participação para o conjunto.
68
Para além das nacionalidades representadas na tabela 7, a sondagem contou ainda
com a participação de 12 indivíduos de outras nacionalidades: 3 argentinos; 1 colombiano;
2 alemães; 2 americanos e 4 franceses.
Uma vez que os casos de dupla-nacionalidade representam uma minoria na amostra
(2,52%), para este estudo foram apenas consideradas as primeiras opções indicadas pelos
entrevistados (por exemplo, uma pessoa com nacionalidade portuguesa/francesa, foi aqui
considerada como portuguesa; uma angolana/portuguesa, como angolana e assim
sucessivamente).
Tabela 7 – Participação por nacionalidade
Total %
Angolana 11 3,5%
Brasileira 118 38%
Caboverdiana 9 3%
Guineense 11 3,5%
Moçambicana 6 2%
Portuguesa 140 46%
Sãotomense 1 0%
Outras 12 4%
Total 308 100%
acionalidades Totais %
Processo de categorização para trabalhar as respostas abertas
Como referimos anteriormente, consideramos que o fato de termos deixado as três
perguntas em aberto foi uma opção muito importante para percebermos os diversos
sentidos que cada indivíduo faz dos termos e expressões em estudo. Robert Kahn e Charles
69
Cannell (1957) referem que as questões abertas são apropriadas quando o objetivo da
investigação não é apenas descobrir atitudes ou atributos do inquirido, mas também
aprender alguma coisa a respeito da estrutura de base sobre a qual este formou a sua
opinião, o quadro de referência a partir do qual ele responde às questões.
Assim sendo, admitimos que, se à partida tivéssemos limitado as opções,
estaríamos igualmente a condicionar as respostas em função do nosso olhar. Poderíamos
ter optado por uma pergunta semi-aberta, mas entendemos que ainda assim poderíamos
correr o risco de, induzindo o pensamento dos respondentes face ao conjunto de opções
dadas, estes não se lembrassem de outros significados possíveis, limitando-se a assinalar a
escolha entre o que tinham diante de si. Notámos, anteriormente, que as questões ligadas à
lusofonia e à comunidade lusófona dão origem a posicionamento tão extremo como os que
vão de uma declarada ‘paixão’ até à expressão de desprezo e aversão pelo assunto – e
tínhamos bastante interesse em captar esses mesmos posicionamentos, assim como os mais
‘moderados’ ou os que estão no ‘limbo’.
Cientes de que poderíamos obter um leque de respostas tão variado quanto o
número total de respondentes, assumimos, ainda assim, a responsabilidade e o grau de
exigência que a tarefa impunha.
Começámos por registar todas as respostas, à medida que as íamos recebendo por
e-mail, numa base de dados do Excel, sem qualquer preocupação de categorizá-las,
limitando-nos, no caso das respostas que continham mais de um sentido, a registar apenas
o primeiro.
Depois de terminada a sondagem, realizou-se uma leitura global das respostas
dadas a cada questão e começou-se a proceder ao agrupamento categorial - tendo em conta,
simultaneamente, uma classificação por diferenciação e por reagrupamento estabelecido
por analogia (Bardin, 1977).
70
Por exemplo, para a primeira pergunta “O que significa para si ser
lusófono(a)?”, foi possível contabilizar, já após algum trabalho de agregação, quarenta e
três sentidos para o significado de lusófono(a), registando-se em boa parte das respostas
uma notória necessidade de se invocar pelo menos uma das seguintes noções para a
definição: indivíduo, cidadão, país, território, sociedade, comunidade, espaço, sentimento,
sentido, maneira de estar, pertença, possibilidade, oportunidade, afirmação e/ou
reconhecimento. A partir desses 15 referentes partimos para o processo de construção de
categorias de análise, tentado agrupar as diversas respostas perdendo o mínimo possível de
informação, chegando ao seguinte resultado:
Variável 1. Ser lusófono
1.1 Uma pessoa que fala português (que a tem como língua oficial, materna, de trabalho...).
1.2 Uma pessoa/um cidadão que nasceu num PLOP (ou é descendente) e que fala a LP.
1.3 Ter nascido em Portugal, ser português ou descendente de portugueses.
1.4 Ter a identidade/alma portuguesa, identificar-se ou ser herdeiro da mesma.
1.5 Um país (ou conjunto de países) onde se fala português ou a pertença ao(s) mesmo(s).
1.6 Pertencer a uma comunidade de Língua (conjunto de falantes da LP).
1.7 Pertencer a uma comunidade de Língua e de Cultura (numa dimensão histórica/com
muitos séculos).
1.8 Pertencer à CPLP/ a uma comunidade internacional e ou extra-europeia.
1.9 A partilha e preservação da língua, valores, história, cultura, interesses e outros
aspectos identitários.
1.10 Um sentimento de pertença / de afinidade / de orgulho / de solidariedade (ter laços
com os PLOP).
71
1.11 Uma maneira de estar / filosofia de vida - sentido para a vida / vivência sociocultural
de respeito.
1.12 Uma possibilidade de afirmação geoestratégica.
1.13 Envolver-se activamente num projecto ou numa causa comum.
1.14 Ser assim reconhecido fora dos espaços de LP e/ou algo relacionado com os
emigrantes lusófonos.
1.15 Conceito ambíguo / redutor / vazio de significado prático / arcaico / revela injustiça e
submissão.
1.16 Nada (não significa nada/não sou lusófono/não me identifico/não faz parte do
quotidiano das pessoas).
1.17 Não sei / Não conheço a palavra / É indescritível.
1.18 Outros significados não agrupáveis e com pouca representatividade.
No caso da segunda questão “O conceito lusófono é-lhe familiar?”, a tarefa foi
bem mais acessível, na medida em que a maioria dos respondentes utilizou o “sim” e o
“não” como opção de resposta. Nos casos em que isso não aconteceu, tentou deduzir-se da
resposta enviada se o inquirido se sentia, ou não, familiarizado com o conceito.
Seguem alguns exemplos desse exercício de dedução:
Sim: “Vagamente”; “Só por falar o português, porque não me identifico com a
comunidade lusófona”; “Não me era familiar até chegar a Portugal”
Não: “A palavra já é bem conhecida, mas o resto…”; “Tive de recorrer ao dicionário para
saber seu significado”; “Aprendi agora”
Assim sendo, optámos por apresentar os resultados de acordo com a seguinte
disposição:
72
Variável 2. Familiaridade
2.1 Sim
2.2 Não
O processo de categorização para a terceira, e última, pergunta “Sente-se parte
da Comunidade Lusófona?”, foi semelhante ao anterior, uma vez que a maioria dos
respondentes também utilizou o “sim” e o “não” como opção de resposta. Apresentamos,
igualmente, alguns dos casos onde foi preciso um exercício de interpretação:
Sim: “Apenas culturalmente”; “Profundamente e comprometidamente”; “Recém-chegado”
Não: “Creio faltar, ainda, maior integração entre as nações lusófonas”; “Acredito que essa
comunidade ainda é muito fraca”; “Sinceramente vivo como se tal não existisse”
Não sei: “Nunca tinha pensado nisso”; “Talvez”; “Será que ela existe?”
A informação final foi registada de acordo com a seguinte disposição:
Variável 3. Pertença
3.1 Sim
3.2 Não
Depois de terminado o processo de categorização e construção das variáveis, os
dados registados no Excel foram inseridos e trabalhados no programa estatístico SPSS. Os
resultados finais serão apresentados e discutidos nos pontos seguintes.
73
Discussão dos resultados obtidos
Pergunta 1. O que significa para si ser lusófono(a)?
Quando se lançou a sondagem, partiu-se da hipótese de que a grande maioria dos
inquiridos iria responder a esta pergunta que não sabia o que significava ser lusófono; e
que, se adiantassem alguma opinião, diriam sobretudo que se tratava de alguém ou de
algum espaço onde se fala a língua portuguesa.
Como vimos anteriormente, o que se verificou foi exactamente o oposto, a grande
maioria dos inquiridos ensaiou uma produção de sentido e um significado, mais ou menos
pessoal, para a noção, sendo que, apenas 12 pessoas, das 308 (ou seja, 4% das respostas –
ver tabela 8) referiram que não sabiam o que queria dizer lusófono ou que não conheciam a
palavra. Outras 3 pessoas (1%) responderam que, devido às indefinições ou à carga
pejorativa da palavra, a noção não lhes diz nada; e ainda 3 inquiridos (1%) referiram que o
conceito era ambíguo e/ou redutor e por isso de difícil definição.
A opção de resposta que reuniu maior adesão revelou que 31% dos inquiridos
identificam como lusófono um indivíduo que fala português, tendo a língua portuguesa
como sua língua materna, oficial ou de trabalho. Seguiu-se a opinião de que ser lusófono
passa pela expressão de um sentimento de pertença, quer se trate de fazer parte de uma
comunidade de língua e de cultura que tem vindo a ser alimentada ao longo dos séculos e
que reflecte uma multiculturalidade imensa (15%), ou apenas de uma comunidade de
língua (11%) – aqui designada como simples agregado de falantes do português. Como
podemos observar na tabela 8, foi ainda notória a inclinação para se definir como lusófono
um país, ou conjunto de países, onde se fala a língua portuguesa – estando subjacente a
pertença a esse(s) mesmo(s) país(es); bem como a descrição de lusófono como um
indivíduo, um país ou uma comunidade que zela pela partilha e a preservação da língua
74
portuguesa, dos valores, da história, dos interesses e de outros aspectos identitários que
dizem respeito aos que a falam.
Tabela 8 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo o sexo dos inquiridos H T
F H Total %
Uma pessoa que fala português (como língua materna, de trabalho...) 46 49 95 31%
Uma pessoa que nasceu num PLOP (ou é descendente) e que fala a LP 8 11 19 6%
Ter nascido em Portugal, ser português ou descendente de portugueses 5 4 9 3%
Ter a identidade portuguesa, identificar-se ou ser herdeiro da mesma 6 6 12 4%
Um país onde se fala português ou a pertença ao(s) mesmo(s) 16 12 28 9%
Pertencer a uma comunidade de Língua (conj. de falantes da LP) 16 18 34 11%
Pertencer a uma comunidade de Língua (numa dimensão histórica) 16 30 46 15%
Pertencer à CPLP/ a uma comunidade internacional e ou extra-europeia 2 1 3 1%
A partilha da língua, valores, cultura, e outros aspectos identitários 10 15 25 8%
Um sentimento de pertença / de afinidade / de solidariedade 2 5 7 2%
Uma maneira de estar / filosofia de vida - sentido para a vida 1 3 4 1%
Uma possibilidade de afirmação geoestratégica 1 2 3 1%
Envolver-se activamente num projecto ou numa causa comum 0 4 4 1%
Ser assim reconhecido e/ou relacionado com os emigrantes lusófonos 1 0 1 0%
Conceito ambíguo / redutor / revela injustiça e submissão 1 2 3 1%
Nada (não significa nada/não sou lusófono/não me identifico) 2 7 9 3%
Não sei / Não conheço a palavra / É indescritível 2 1 3 1%
Outros significados não agrupáveis e com pouca representatividade 2 1 3 1%
TOTAL 137 171 308 100%
l %
75
A tabela 8 permite-nos ainda analisar o que significa ser lusófono segundo o sexo
dos inquiridos. Se realizarmos uma leitura em linha, verificamos que se destacam alguns
dados com interesse particular: 1) os principais responsáveis pela escolha da segunda
opção mais indicada, “pertencer a uma comunidade de língua e de cultura”, são os homens,
representando 65% das 46 respostas obtidas (as mulheres representam 35%); 2) no que
toca a descrever lusófono como a expressão de um sentimento de pertença, de afinidade,
orgulho e/ou de solidariedade, são também os homens (71%) que se destacam,
representando mais de metade do total de respostas; 3) o mesmo acontece na opção que
indica que ser lusófono é envolver-se activamente num projecto ou numa causa comum,
em que os homens representam 100% das respostas; 4) por último, os homens destacam-se
ainda por serem aqueles que mais afirmam que a noção de lusófono não tem qualquer
significado para eles, representado 78% das respostas. No entanto, se fizermos uma leitura
em coluna, constatamos que, no conjunto, há uma proximidade muito grande de opiniões
entre mulheres e homens, reproduzindo-se as conclusões acima mencionadas.
No que toca à análise da relação entre o significado de lusófono e a idade dos
inquiridos podemos concluir que os mais jovens (menores de 18 anos e dos 18 aos 25
anos) apresentam maioritariamente opiniões associadas à partilha da língua e ao ser falante
da mesma. Apenas 6% deste grupo etário afirma desconhecer o que significa ser lusófono
(tabela 9). Nas idades seguintes há uma maior dispersão de opiniões, no entanto, a leitura
final conduz-nos às mesmas conclusões: a maioria dos inquiridos associa o significado de
lusófono à partilha linguística.
76
Tabela 9 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo os grupos etários dos
inquiridos
<18 18-25 26-40 41-65 >65 Total
Uma pessoa que fala português 100% 33% 28% 32% 41% 95
Uma pessoa que nasceu num PLOP 0% 9% 6% 6% 3% 19
Ter nascido em Portugal.. 0% 0% 4% 3% 3% 9
Ter a identidade portuguesa 0% 9% 4% 3% 3% 12
Um país onde se fala português 0% 6% 12% 8% 0% 28
Pertencer a uma comunidade.. 0% 9% 12% 11% 7% 34
Pertencer a uma comunidade.. 0% 13% 15% 15% 24% 46
Pertencer à CPLP 0% 0% 1% 1% 0% 3
A partilha da língua, valores 0% 9% 8% 8% 3% 25
Um sentimento de pertença 0% 0% 2% 2% 7% 7
Uma maneira de estar 0% 4% 1% 1% 0% 4
Uma possibilidade de afirmação 0% 0% 1% 0% 0% 3
Envolver-se activamente num projeto 0% 0% 0% 2% 0% 4
Ser assim reconhecido 0% 0% 0% 0% 0% 1
Conceito ambíguo 0% 0% 2% 1% 3% 3
Nada 0% 2% 3% 3% 3% 9
Não sei 0% 6% 1% 1% 0% 3
Outros significados 0% 0% 1% 1% 0% 3
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 308
77
Tabela 10 – Resumo das opiniões sobre o que é ser lusófono segundo as nacionalidades
Observando, agora, as opiniões segundo as nacionalidades dos inquiridos (tabela
10), apercebemo-nos de que a questão da partilha de língua (identificar como lusófono
Ang Bra Cab Gui Moç Por Outras Total
Uma pessoa que fala português 24% 35% 8% 0% 39% 31% 55% 95
Uma pessoa que nasceu num PLOP 21% 6% 8% 38% 3% 5% 0% 19
Ter nascido em Portugal.. 5% 2% 0% 0% 3% 4% 0% 9
Ter a identidade portuguesa 2% 5% 5% 0% 3% 4% 0% 12
Um país onde se fala português 8% 6% 21% 0% 16% 9% 9% 28
Pertencer a uma comunidade.. 16% 8% 18% 0% 3% 12% 9% 34
Pertencer a uma comunidade.. 13% 13% 15% 15% 10% 17% 5% 46
Pertencer à CPLP 0% 1% 3% 0% 0% 1% 0% 3
A partilha da língua, valores 0% 7% 8% 38% 10% 8% 5% 25
Um sentimento de pertença 0% 3% 0% 0% 0% 2% 0% 7
Uma maneira de estar 2% 1% 0% 0% 0% 1% 5% 4
Uma possibilidade de afirmação 0% 1% 0% 0% 0% 1% 5% 3
Envolver-se activamente num projeto 2% 2% 0% 8% 3% 1% 0% 4
Ser assim reconhecido 0% 0% 3% 0% 0% 0% 0% 1
Conceito ambíguo 5% 3% 3% 0% 0% 1% 0% 3
Nada 5% 3% 10% 0% 10% 2% 0% 9
Não sei 0% 5% 0% 0% 0% 1% 0% 3
Outros significados 0% 2% 0% 0% 0% 1% 9% 3
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 308
78
aquele que fala a língua portuguesa) ganha maior relevância junto dos indivíduos de
“outras nacionalidades” (entre os quais 55% têm essa opinião), seguindo-se os
moçambicanos (39%), os brasileiros (35%), os portugueses (31%) e os angolanos (24%).
Para os cabo-verdianos inquiridos, é a identificação da expressão como dizendo
respeito a um país onde se fala a língua portuguesa (21%), ou ainda à pertença comunitária
– quer se trate de pertencer apenas a uma comunidade linguística (18%), ou ainda a uma
comunidade mais abrangente, de língua e de cultura, que tem séculos de história (15%).
Será que esta ênfase dada à noção de lusófono ligada a um território físico (país) ou
simbólico (comunidade linguística/cultural) tem alguma associação com o facto de terem
sido os cabo-verdianos os primeiros a colocarem em vigor o estatuto de cidadão lusófono?
Note-se, ainda, que para os angolanos e portugueses essa dimensão comunitária tem
igualmente uma expressividade significativa.
No que toca à análise das significações apontadas como mais negativas, embora
sejam em número reduzido, podemos tecer as seguintes observações: 1) é entre os
angolanos que se verifica a maior percentagem (5%) dos que afirmam que lusófono é um
conceito ambíguo, redutor e vazio de significado prático; 2) os brasileiros são os que mais
indicam não conhecer a palavra (5%) e, por isso, os que mais desconhecem o que significa;
3) os caboverdeanos e os moçambicanos são os que mais apontam que a expressão não
lhes diz nada (10%) – neste último caso, registe-se que a maior parte dos inquiridos
moçambicanos que escolheu essa opção justificou-a com a crescente aproximação à SADC
e o progressivo afastamento face à comunidade lusófona.
79
Tabela 11 - Resumo das opiniões segundo os grupos profissionais dos inquiridosru
Por último, resta-nos ainda estabelecer uma relação entre os significados de
lusófono com os grupos profissionais / ocupacionais dos inquiridos. Observemos a tabela
11 e efectuemos uma leitura em coluna.
1 2 3 4 5 6 7 8 Total
Uma pessoa que fala português 31% 32% 28% 37% 26% 36% 0% 31% 95
Uma pessoa que nasceu num PLOP 2% 6% 11% 11% 7% 9% 0% 0% 19
Ter nascido em Portugal.. 8% 3% 3% 4% 0% 0% 0% 13% 9
Ter a identidade portuguesa 6% 4% 4% 0% 4% 2% 0% 6% 12
Um país onde se fala português 14% 8% 10% 7% 7% 11% 33% 6% 28
Pertencer a uma comunidade.. 10% 10% 14% 15% 22% 8% 33% 13% 34
Pertencer a uma comunidade.. 14% 16% 11% 11% 26% 11% 0% 13% 46
Pertencer à CPLP 0% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 3
A partilha da língua, valores 8% 8% 8% 4% 7% 8% 0% 0% 25
Um sentimento de pertença 2% 2% 1% 0% 0% 0% 0% 6% 7
Uma maneira de estar 0% 1% 3% 4% 0% 3% 0% 6% 4
Uma possibilidade de afirmação 0% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 3
Envolver-se activamente num projeto 0% 1% 0% 0% 0% 2% 0% 6% 4
Ser assim reconhecido 0% 0% 1% 0% 0% 2% 0% 0% 1
Conceito ambíguo 2% 2% 0% 0% 0% 2% 0% 0% 3
Nada 0% 3% 1% 7% 0% 6% 0% 0% 9
Não sei 4% 1% 3% 0% 0% 2% 33% 0% 3
Outros significados 0% 1% 0% 0% 0% 2% 0% 0% 3
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 308
80
Obtemos resultados muito semelhantes aos anteriores, na medida em que em todos
os grupos profissionais sobressai a opinião de que lusófono é um indivíduo que fala a
língua portuguesa, ou um termo que expressa algo relacionado com afinidades linguísticas.
Em suma, o que os dados indicam é que, apesar de algumas oscilações, sobretudo
ao nível da nacionalidade, a maioria dos respondentes associa, o ser lusófono a um
indivíduo que fala a língua portuguesa, ou a alguém que pertence a uma comunidade
cultural vasta, ou apenas a uma comunidade linguística.
Pergunta 2. O conceito lusófono é-lhe familiar?
Uma vez que 91% dos inquiridos responderam que estavam familiarizados com o
conceito lusófono, uma vez mais, os resultados obtidos contrariaram a hipótese de partida
(tabela 12).
Tabela 12 – Familiaridade com o conceito lusófonos %
Totais %
Sim 280 91%
Não 28 9%
Total 308 100%
Das 280 respostas afirmativas, poucas referiram que o seu nível de familiaridade
era vago, permitindo-nos admitir que, de facto, a noção é entendível para a maioria dos que
responderam à sondagem.
Face ao elevado número de respostas afirmando uma familiaridade com o termo,
surgem-nos algumas interrogações:
81
1) Será que essa familiaridade, apesar das indefinições académicas e políticas sobre o que
significa ser lusófono, se deve ao fato de mais de metade dos inquiridos (54%) se encontrar
entre os “Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas” e dominar, portanto, a
linguagem dos ‘conceitos’ e do ‘raciocínio abstrato’? Se tivéssemos obtido mais respostas
de indivíduos que exercem profissões para as quais não é exigido esse domínio, os
resultados seriam os mesmos? Terá essa familiaridade com a linguagem e o raciocínio
abstrato correspondência noutros domínios mais práticos?
2) Será que a ideia de que frequentemente ouvimos falar na academia, nos media e nos
discursos vindos da sociedade civil, por exemplo, de falta de esclarecimento conceptual
sobre o que significa lusófono, não tem correspondência ao nível do senso comum e, por
isso, boa parte das pessoas – mais que não seja por dedução lógica (baseada na etimologia
do termo) – sabe do que falamos quando usamos o conceito?
3) Ou será ainda que o termo pode ser usado por uma questão de hábito – e reproduzido
pela quantidade de vezes que é ouvido, mesmo sem se conhecer na realidade o seu
significado? À título ilustrativo pense-se nas expressões da ecologia ou da finança (buraco
de ozono, aquecimento global, inflação...). De tanto se usar, especialmente nos media, é
comum ouvi-las entre indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos, das mais variadas
proveniências sociais, com diferentes qualificações académicas e de todas as
nacionalidades. Talvez poucos tenham conhecimentos sustentados, mas em termos gerais
todos parecem, aparentemente, saber do que se trata.
Como referimos anteriormente, uma vez que as questões seguiram ‘abertas’, os
respondentes poderiam optar por expressar-se para além do “sim” e do “não”. Apurámos o
seguinte:
82
Tabela 13 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo as respostas positivas
O conceito lusófono é-lhe familiar?
Sim 237 77%
Muito/Bastante 22 7%
Claro/Sem dúvida 12 4%
Sim, mas... 37 12%
Total 308 100%
Embora a maioria (77%) se tenha limitado a responder “sim”; houve ainda três
posicionamentos distintos: aqueles que alegam que o conceito lhes é muito familiar (7%);
os que “indubitavelmente” afirmam que sim (4%); e, os que, apesar de assumirem uma
familiaridade com a noção, têm algumas reticências em assumi-lo plenamente.
Analisando agora a familiaridade com o conceito segundo o sexo dos inquiridos
(tabela 14), observamos que não existem diferenças significativas entre homens e
mulheres.
Tabela 14 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo o sexo dos inquiridos
Sim Não Total
Homens 155 55% 16 57% 171
Mulheres 125 45% 12 43% 137
Total 280 100% 28 100% 100%
83
No que toca à relação entre a familiaridade com o conceito e as idades dos
inquiridos, observamos (tabela 15) que há uma tendência em todos os grupos etários para a
resposta afirmativa; no entanto, podemos concluir que existem diferenças entre os grupos
etários, sendo os mais familiarizados com o significado de lusófono, os mais velhos ativos
da sociedade (note-se que quase todos responderam afirmativamente, 93%), e os menos
familiarizados, os mais novos (menores de 25 anos).
Tabela 15 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a idade dos inquiridos
Sim Não Total
<18 2 67% 1 33% 3
18-25 15 83% 3 17% 18
26-40 135 92% 12 8% 147
41-65 111 93% 8 7% 119
>65 17 81% 4 19% 21
Total 280 28 308
Já no que toca à nacionalidade (tabela 16), podemos observar que existe um grau de
diferença entre nacionalidades no que toca, sobretudo, à não familiaridade com o conceito
de lusófono: é entre o grupo dos brasileiros que se verifica a maior falta de familiaridade
com o termo (19%), seguindo-se o grupo dos guineenses (18%).
Os cabo-verdianos são os que menos se sentem distantes do conceito (8%); assim
como os portugueses (4%).
84
Tabela 16 – Familiaridade com o conceito segundo a nacionalidade dos inquiridos
Sim Não Total
Angolana 10 89% 1 10% 11
Brasileira 96 81% 22 19% 118
Caboverdiana 8 92% 1 8% 9
Guineense 9 82% 2 18% 11
Moçambicana 5 83% 1 17% 6
Portuguesa 134 96% 6 4% 140
Sãotomense 1 100% 0 0% 1
Outras 11 91% 1 9% 12
Total 280 28 308
R Total
Avançando agora para a relação entre a familiaridade com o conceito e as
profissões dos inquiridos (tabela 17), verificámos que não existem diferenças significativas
entre os grupos profissionais. Repare-se, por exemplo, que os “Especialistas de Profissões
Intelectuais e Científicas” estão tão familiarizados com o conceito (95%), como os
profissionais dos “Serviços e Vendedores” (89%); ou, que os dos “Quadros superiores”
apresentam valores superiores do que os “Estudantes”.
R T
ota
85
Tabela 17 – Familiaridade com o conceito lusófono segundo a profissão dos inquiridos
(por grupos profissionais)
Sim Não Total
Quadro Sup. 26 93% 2 7% 28
Especialistas 158 95% 8 5% 166
Técnicos 23 91% 2 9% 25
Administrativo 8 89% 1 11% 9
Serviços 8 89% 1 11% 9
Estudantes 48 77% 14 23% 62
Desempregados 3 100% 0 0% 3
Reformados 6 100% 0 0% 6
Total 280 28 308
Sim Não N/R Total
Pergunta 3. Sente-se parte da Comunidade Lusófona?
À semelhança do sucedido nas perguntas anteriores, também os resultados obtidos
nesta questão (“sente-se parte da comunidade lusófona?”) contrariaram a pressuposição de
que nos chegaria um elevado número de respostas negativas (tabela 18). Foi com surpresa
que verificámos que 76% dos inquiridos se sentem parte da referida comunidade, contra
24% que não se sentem parte da mesma.
Tabela 18 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona
Totais %
Sim 234 76%
Não 74 24%
Total 308 100%
86
Especificando os resultados por sexo (tabela 19), verificamos que entre os 234 que
se sentem parte da comunidade lusófona, 53% são homens e 47% são mulheres – não se
registando uma relação directa da variável em estudo com o sexo dos inquiridos. No
entanto, se nos concentrarmos nos 74 que não se consideram parte integrante da referida
comunidade, verificamos que há uma maior negação por parte dos homens (63%) do que
por parte das mulheres (37%).
Tabela 19 – Sentimento de pertença à comunidade lusófona segundo o sexo dos inquiridos
Sim Não Total
Homens 124 53% 47 63% 171
Mulheres 110 47% 27 37% 137
Total 234 100% 74 100% 100%
Tabela 20 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a idade dos
inquiridos (por grupos etários)
Sim Não Total
<18 2 67% 1 33% 3
18-25 15 83% 3 17% 18
26-40 109 74% 38 26% 147
41-65 93 78% 26 22% 119
>65 15 70% 6 30% 21
Total 234 74 308
87
No que toca ao cruzamento do sentimento de pertença com a idade (tabela 20),
registamos em todos os grupos etários uma clara concentração no conjunto dos que se
sentem parte da comunidade lusófona, sendo que nos extremos essa concentração foi
maior. A percentagem dos que se excluem da referida comunidade é muito semelhante em
todos os grupos etários.
No tocante ao sentimento de pertença à comunidade lusófona de acordo com as
nacionalidades em estudo (tabela 21), verifica-se que foi elevado em praticamente todas
elas; destacando-se, com 85%, os portugueses, com 70% os brasileiros e angolanos, e, com
70% os caboverdianos. A percentagem obtida entre os portugueses contraria a tese do
antropólogo americano, Timothy Sieber (2002), que sugere que os portugueses se
autoexcluem da categoria ‘lusófonos’, reservando-a para as ex-colónias e os seus naturais.
Tabela 21 – Sentimento de pertença à Comunidade Lusófona segundo a nacionalidade
Sim Não Total
Angolana 8 70% 3 30% 11
Brasileira 83 70% 35 30% 118
Caboverdiana 7 74% 2 26% 9
Guineense 7 62% 4 38% 11
Moçambicana 4 68% 2 32% 6
Portuguesa 119 85% 21 15% 140
Sãotomense 1 100% 0 0% 1
Outras 5 42% 7 58% 12
Total 234 74 308
88
É curioso notar que a percentagem foi ainda significativa (42%) mesmo entre os
indivíduos de outras nacionalidades – o que indica que é possível existir mesmo entre os
que não nasceram num país ou espaço de língua portuguesa, um sentimento de pertença a
uma comunidade que, aparentemente, não lhes é estranha.
Nesta ordem de razão, é possível que estes 42% de respondentes, que não nasceram
em, nem têm a nacionalidade de um país lusófono, se sintam parte da comunidade
lusófona, por assim o desejarem, e por encontrarem na partilha da língua ou num laço
afectivo o elo comunitário. Analisando as respostas uma a uma, verificou-se que esses
inquiridos se sentem parte da comunidade lusófona por estarem a aprender a língua
portuguesa, por trabalharem ou estudarem num país ou espaço de língua portuguesa ou,
ainda, porque se casaram com um nacional do espaço lusófono.
A pertença a uma comunidade permanece, nestes termos, como algo imaginado e
socialmente construído, como deixámos sugerido no segundo capítulo quando alegámos
que uma comunidade se vai constituindo na reunião de potenciais membros, na
convergência de interesses comuns, em torno de um ou mais traços identitários partilhados,
sobre uma aprendizagem cooperativa e processos abertos de colaboração; mesmo que tudo
isto se passe num plano simbólico ou imaginado – como refere Benedict Anderson (1994).
Entre os que declararam que não se sentiam parte da comunidade, destacam-se os
guineenses (38%). Uma possível leitura destes resultados pode tecer-se a partir da situação
conjuntural vivida na Guiné-Bissau durante o período de vigência desta sondagem – que
poderá ter influenciado a forma como os indivíduos responderam. Recorde-se que o país
vivia, e ainda viva, momentos de grande instabilidade interna motivada por mais uma
89
tentativa de golpe de Estado, com o falecimento de decisores políticos, e distúrbios
urbanos. Face à esse cenário, alguns altos dirigentes e intelectuais guineenses interpelavam
a CPLP para que pudesse tomar um papel activo na busca de paz, criticando-a de
inoperância.
Analisando agora a relação entre o sentimento de pertença à comunidade lusófona e
os grupos profissionais / ocupacionais (tabela 22), verificou-se que este é especialmente
elevado (88%) entre o grupo dos “reformados”, entre o pessoal dos serviços e vendedores
(85%), entre os quadros superiores (86%), e entre os administrativos (85%).
Tabela 22 – Sentimento de pertença à Comunidade segundo a profissão dos inquiridos
Sim Não Total
Quadro Sup. 24 86% 4 14% 28
Especialistas 119 72% 47 28% 166
Técnicos 19 76% 6 24% 25
Administrativo 8 85% 1 15% 9
Serviços 8 85% 1 15% 9
Estudantes 49 79% 13 21% 62
Desempregados 2 67% 1 33% 3
Reformados 5 85% 1 15% 6
Total 234 74 308
Da minoria que respondeu não se sentir parte da comunidade, a percentagem mais
elevada encontra-se no grupo dos técnicos intermédios (24%), no dos desempregados
(33%), no dos estudantes (21%) e no dos especialistas das profissões intelectuais e
científicas (28%). Sublinhe-se, no entanto, que o conjunto dos dados parece indicar que
90
não existem diferenças significativas entre grupos profissionais / ocupacionais quanto ao
sentimento de pertença a uma comunidade transnacional com base na partilha da língua.
À semelhança da análise efectuada para a pergunta anterior, também aqui sentimos
necessidade de recorrer às repostas mais extensas para tentar descobrir algo mais sobre o
elevado número de respondentes que se sente parte da comunidade lusófona (tabela 23).
Apurámos o seguinte:
Tabela 23 – Sentimento de pertença à comunidade lusófona segundo as respostas positivas
- O conceito lusófono é-lhe familiar?
Sim 138 59%
Muito/Bastante 0 0%
Claro/Sem dúvida 30 13%
Orgulhosamente 7 3%
Sim, mas... 59 25%
Total 234 100%
Uma boa parte dos que afirmaram que se sentiam parte da comunidade lusófona
limitaram-se a dizer “sim” (59%); no entanto, houve ainda uma outra parte (41% – o que é
significativo), que optou por explicar em que medida se sentia parte dessa mesma
comunidade.
Como podemos observar na tabela 23, 13% dos 234 que responderam
afirmativamente, alegaram não ter quaisquer dúvidas sobre a sua pertença à comunidade
(sendo óbvio que essa pertença é natural e/ou inquestionável); 3% expressaram um
91
sentimento de orgulho e/ou felicidade por assim ser; e, 25% afirmaram que, apesar de
pertencer à comunidade, têm algumas reservas quanto a esse fato.
Conclusões sobre os resultados obtidos do levantamento de opiniões:
A sondagem de opinião levada a cabo através do método de “bola de neve” por vias
electrónicas, tendo alcançado 308 indivíduos do espaço lusófono, permitiu-nos conhecer
um leque alargado de opiniões e formas de entendimento sobre o que significa, nos
espaços e países de língua portuguesa (mas também afora), ser lusófono, sobre a
familiaridade ou não com o conceito e ainda sobre as considerações tecidas acerca da
própria comunidade lusófona.
É certo que as 308 respostas obtidas, em virtude do método de sondagem adotado,
não são representativas de um universo de potenciais falantes de língua portuguesa, ou até
mundial. Ainda assim, e porque seria impossível escrutinar todo o universo no âmbito
desta dissertação de mestrado, consideramos os resultados obtidos através desta sondagem
como um instrumento de análise com mais-valias interessantes, que aqui se constitui como
uma espécie de janela para explorar nosso público alvo e adotar estratégias adequadas.
Um dos principais objetivos da sondagem passava por apurar o que se entenderia
por lusófono(a). Embora se tenha considerado inicialmente que o número de respostas a
essa pergunta seria reduzido e que revelaria um grande desconhecimento face à palavra, os
dados obtidos revelaram que a grande maioria dos inquiridos (96%) ensaiou um
significado para a expressão; apenas 3% dos inquiridos referiram que a mesma não lhes
dizia nada; 1% sentiu dificuldade em sintetizar o seu significado, argumentando que se
trata de uma noção ambígua e/ou redutora e por isso de difícil definição.
92
Na opinião de 31% dos inquiridos, lusófono reporta-se a um indivíduo que fala
português; para outros 26%, ser lusófono passa pela expressão de um sentimento de
pertença a uma comunidade linguística, cultural e/ou histórica que une pessoas de
diferentes continentes. Não se notando diferença entre as opiniões de homens e mulheres,
verifica-se, no entanto que, entre os primeiros, se encontram preferencialmente os
respondentes mais novos, os de “outras nacionalidades” (que não as lusófonas) e os
profissionais com menores qualificações; entre os segundos, destacam-se os mais velhos;
os cabo-verdianos, portugueses e angolanos; e os profissionais de serviços e vendas e os
reformados. Estando os mais velhos e os respondentes aposentados no grupo que dá maior
ênfase ao sentimento de pertença, pode isto querer significar que a dimensão afetiva, que
gera elos comunitários, vai perdendo valor, conforme nos aproximamos de idades mais
jovens?
No que toca à familiaridade dos inquiridos com o termo, notou-se uma elevada
percentagem dos que se sentem familiarizados com o mesmo (91%); sendo muito baixa e
praticamente insignificante a percentagem dos que não estão familiarizados (9%). Mais
uma vez, não se observaram diferenças entre a opinião de homens e mulheres. Mas
verifica-se que é entre os mais velhos; os cabo-verdianos e os portugueses; e entre os
aposentados, os quadros superiores e os profissionais de serviços e vendas, onde se observa
uma maior familiaridade com a noção lusófona.
Em relação ao sentimento de pertença à chamada comunidade lusófona, 76% dos
inquiridos responderam afirmativamente, 24% negativamente. Não se observam diferenças
significativas de opinião entre os dois sexos, nos diferentes grupos etários e entre os grupos
profissionais, mas, no caso das nacionalidades, destacam-se os portugueses, os brasileiros e
os cabo-verdianos como aqueles que têm um maior sentimento de pertença à comunidade
lusófona.
93
Em suma, os resultados obtidos junto destes 308 inquiridos revelam que a grande
maioria se sente inteirada do significado de lusófono, está familiarizada com o conceito e
se sente parte da comunidade lusófona. Com particular interesse, destaca-se a maior
afinidade sentida pelos mais velhos com uma comunidade transnacional predicada nos elos
comunitários linguísticos, culturais e históricos; a maior familiaridade com a noção
lusófona e um maior sentimento de pertença à comunidade por parte dos cabo-verdianos e
dos portugueses; o maior desconhecimento face à noção por parte dos brasileiros; o maior
afastamento dos guineenses e moçambicanos face à inclusão na comunidade; e a
significativa percentagem de respondentes de outras nacionalidades (não lusófonas) que se
sentem parte da comunidade.
Resta saber se este cenário é extensível aos que ficaram de fora da sondagem.
Tendo presente a metodologia de inquirição seguida, será que existe efetivamente um claro
conhecimento no que toca a estas matérias, e uma tão elevada adesão à comunidade
lusófona?
A hipótese que aqui avançamos é a de que as conclusões por ora obtidas não se
reproduzem nos estratos menos qualificados e mais alheados dos meios de comunicação
global. Parece-nos que, apesar dos avanços reconhecidos (trabalho e materiais produzidos
por vários organismos intergovernamentais, por associações, institutos, académicos,
cientistas sociais e outras entidades e indivíduos do espaço lusófono), haverá uma boa
parcela de pessoas que não tem qualquer contato (ou possibilidade física de ligação) com
as formas de expressão da lusofonia, e que desconhece, portanto, os significados de
lusófono e comunidade lusófona, bem como todas as possíveis realidades que lhes estejam
anexas ou adjacentes.
94
No entanto, é importante reconhecer que, apesar dos sucessos, a comunidade ainda
parece ser uma realidade restrita aos cidadãos das elites dos espaços e países de língua
portuguesa – seja por não se ter conseguido, através da metodologia seguida, alcançar uma
amostra representativa, seja por estádios de desenvolvimento muito desiguais dos espaços
e países do espaço comunitário.
Comunidade, através dos resultados da sondagem de opinião, não parece, afinal,
assim tão distante (pelo menos de uma parte) dos falantes da língua portuguesa. A
sondagem permite-nos concluir que, a comunidade lusófona parece invocar, mais do que
um espaço que traz recorrentemente à memória relacionamentos de indiferença ou de
conflito, dinâmicas “fundadas em especiais laços de solidariedade” (Leitão, 2009), o
estabelecimento de alianças e o aproveitamento de sinergias que a globalização possibilita,
sejam elas no campo cultural, político-institucional e/ou económico.
Chegados a este ponto, parece-nos importante frisar que os “mundos da lusofonia”,
revelados pelos dados empíricos recolhidos (tanto através das entrevistas, da sondagem,
dos estudos particulares sobre a acção do IPLB, do IILP, das associações de imigrantes
lusófonos ou dos próprios falantes da língua portuguesa), indicam que, apesar das reservas
quanto ao pendor político, ideológico e/ou institucional da comunidade lusófona, os efeitos
performativos que decorrem não apenas da retórica, mas do que designámos como as
práticas da lusofonia (como práticas que fazem a transição do imaginado ao operativo),
têm enraizamentos específicos que em termos científicos não podemos deixar de lado.
Seja no nível da vontade política (entre as instituições de decisão de topo dos países
e espaços de língua portuguesa), seja no nível da prática cultural de base, a multiplicação
de situações em que o termo lusófono surge para definir o desejo de convergência e de
traçar metas de ação (nos mais variados campos) é uma realidade que tem vindo, nestas
95
últimas décadas, a ganhar relevância. O percurso tem sido por vezes sinuoso, mas o
contexto atual mostra que há um número crescente de iniciativas, nem sempre
convergentes, mas que concorrem para a mobilização em torno de uma ideia: a
consolidação de uma comunidade que reúna os indivíduos, as instituições, os espaços e
países de língua portuguesa – sem que estes percam as suas características (nacionais ou
outras).
96
V. Considerações finais
Através da ánalise das estratégias de desenvolvimento implementadas pelo governo
português e pelos responsáveis do canal da RTP (estudo de caso), e do leventamento de
opiniões sobre o sentido do conceito lusofonia, e da sua pertencia ou não pelas próprias
pessoas que a compõe, tentamos analisar qual era o processo administrativo e estratégico
atual que os países de língua portuguesa, as instituições de promoção tentam abrangar para
a evolução do conceito lusófono num mundo globalizado, tendo em conta a diversidade
linguística, cultural, econômica e politica dos países. A língua portuguesa constitui o
principal elo dessas estratégias. Ele deverá ser o ponto principal das próximas estratégias
praticadas na construção da comunidade lusófona.
No meio da diversidade linguística mundial que temos o dever de proteger e
preservar, um punhado de idiomas tem por vocação servir de língua de comunicação
internacional, serem línguas veiculares, línguas do conhecimento. Quatro línguas
românicas figuram entre esses idiomas que continuam a beneficiar de uma presença
política, comercial, militar, científica, literária, artística, etc.
O português, com a força de ter sido adotado como língua oficial por oito Estados,
onde habitam cerca de 270 milhões de habitantes, com um PIB total que raia os 3.000 mil
milhões de euros (9 bilhões de reais), é apenas uma das três línguas que são faladas nos
cinco continentes habitados. Língua de conquista no inicio, língua de mestiçagens em
seguida, língua douta, língua de cultura, língua de aprendizagem; a língua portuguesa não
alcançou ainda, no entanto, o lugar que merece, tanto pela sua expansão como pela sua
historia de mediador internacional.
Com efeito, apesar de o seu crescimento demográfico ser invejável e a sua
97
aprendizagem exponencialmente, sobretudo na América do Sul e na África, não é hoje
vista como uma língua de comunicação científica, como língua de negociação
internacional, como língua de comércio internacional.
Outras grandes línguas de comunicação internacional sofrem com a hegemonia da
língua inglesa; mas certas línguas como o espanhol, o francês, o árabe, o chinês e o russo
têm um lugar reconhecido nos fóruns e nas negociações internacionais. E, mesmo línguas
menos faladas no mundo, como o alemão, o holandês, o sueco ou o coreano, têm um peso
frequentemente superior ao português na comunicação científica, na Internet ou na criação
de normas, protocolos e outros instrumentos de governança internacional.
As instituições dos países lusófonos lutam há vários anos pela obtenção de um
estatuto de oficialidade ou de língua de trabalho nos organismos das Nações Unidas, mas
as decisões tardam a chegar. Mesmo nas instituições europeias como nas interamericanas,
e ainda mais nas africanas.
É de conhecimento geral que a maior parte das línguas do mundo se debate com um
retrocesso na área da ciência em prol da língua inglesa. Mas também por aí, o português
tem uma presença inferior à das línguas faladas por menos locutores, como o francês, o
italiano, o alemão ou o russo, isto apesar de uma forte produção científica, nomeadamente
no Brasil e em Portugal. Numerosas obras em línguas estrangerias são traduzidas para o
português – é a sétima língua que mais edita trabalhos de outros idiomas e culturas –, mas
é apenas a décima oitava língua a ser traduzida, segundo a base de dados Index
Translationum da UNESCO. Mais preocupante ainda, é a raridade da presença de
interlocutores lusófonos nas grandes instâncias de governança internacional. Há muito
poucos lusófonos nas instituições que fixam as normas, os protocolos ou outros
instrumentos de governança internacional, e que prefiguram a indústria de amanhã ou a
98
Internet de hoje, bem como todas as novas tecnologias em que a língua tem uma
importância essencial. E, no entanto, é a língua, vetor de cultura e expressão dos povos, o
principal elemento no momento de criar um protocolo, fixar uma norma ou registrar uma
patente.
Ora, sabemos hoje, graças ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa, que a língua portuguesa é um desafio econômico, uma atividade influente na
economia portuguesa. Não esqueçamos que o Reino Unido desenvolveu uma política que
coloca a língua como o seu principal recurso econômico, aproveitando o peso dos Estados
Unidos no mundo.
A comunidade lusófona é um colectivo em formação.
Oferece, por isso, aos cientistas sociais uma oportunidade, praticamente única, de
observar, registar, analisar, compreender e explicar o aparecimento de propriedades,
dinâmicas e construções que no dia-a-dia se vão tornando recorrentes (eventualmente
rotinas) para os indivíduos, os micro-colectivos de que fazem parte, as redes sociais em
que se inserem e para cada um dos espaços, países, organismos ou outras entidades que a
integram. Contudo, todos esses aspectos de efervescência social também são,
simultaneamente, um grande obstáculo: estudar uma realidade em contínuo progresso, alvo
de acesso debate, crítica e controvérsia – marcados, com vimos, por uma forte conotação
ideológica –, que a situam ao nível do resgate de um passado agora reinventado à luz do
‘encontro de culturas’, é um desafio tremendo.
Nesta dissertação sobre as estratégias de desenvolvimento do conceito da lusofonia
num mundo globalizado, procurámos ligar a análise da construção da dita comunidade ao
processo de globalização. Tentámos, em especial, explorar o modo como o mundo de
língua portuguesa enfrenta o paradigma emergente da globalização, marcado pelo repensar
99
da noção de fronteira e pelas negociações entre culturas.
O mais coerente nesse ponto, seria de adotar uma estratégia emergente (Mintzberg,
1978), aquela que emerge da organização em resposta a uma oportunidade do ambiente
lusófono e global, e corrige a rota da organização a partir da dificuldade de prever as
mudanças no ambiente, reconhecendo essa limitação e não ficando presa a um
planejamento defasado que levaria a empresa a nadar contra a correnteza. A importância
do ambiente, portanto, é levada ao máximo, considerando-se a própria evolução das
organizações como resultado da relação com o meio e os constantes desafios por ele
impostos. A estratégia é, sob esse enfoque, o uso da imaginação e da lógica para responder
ao meio ambiente de tal forma que se gere como resultante uma vantagem competitiva
para as organizações.
As insatisfações e as críticas à possibilidade de construção de uma comunidade
lusófona assentam ainda noutras limitações, mal-entendidos e perversidades que passam
por vezes a descoberto e que esta dissertação tentou identificar. Entre eles estão: a
confusão de conceitos, a inconsistência de processos de concretização e, sobretudo, o
desconhecimento de práticas do quotidiano que sustentam a lusofonia como força motriz
de um colectivo.
A confusão de conceitos.
A confusão de conceitos, mesmo se não deliberada, gera necessária e
incontornavelmente desentendimento e controvérsia. E é nesse sentido que a
implementação de uma boa administração estratégica com um bom planejamento seria
eficaz, como salienta o autor Serra e Torres (2004, p. 30): “Os benefícios de um
planejamento estão ligados a um tratamento sistemático dos aspectos considerados
100
importantes e da sua utilização como modelo para aquilo que se quer que aconteça”.
A importância do planejamento dá-se ao fato de tentar prever as situações
inesperadas e problemáticas com antecedência, e suas eventuais soluções, evitando assim a
maior quantidade de imprevistos possíveis. Essa confusão é obviamente à evitar para o
futuro da lusofonia, da evolução da língua portuguesa no mundo e do crescimento dos
países de língua portuguesa. É importante definir claramente a estratégia que irá fazer
evoluir a lusofonia no sentindo certo e global, para que as pessoas entendem o que
representa a lusofonia, e podem à divulgar com firmeza e clareza.
Como vimos no decorrer deste trabalho, a lusofonia é o meio de fazer circular e de
consolidar o principal elo de ligação comunitário: a língua – que tem vindo a ser
estruturada por séculos de convívio entre povos e países cujas histórias se intersectaram;
enquanto a CPLP é uma entidade que se tem afirmado como instrumento político-
institucional, entre outros organismos intergovernamentais da comunidade lusófona, que,
visando promover o sentido de colectivo, disponibiliza para o efeito, o suporte
administrativo, burocrático e político de que esta necessita para se afirmar enquanto tal.
Neste quadro de pensamento, argumentámos que a comunidade lusófona –
enquanto sociedade – pré-existe e extravasa o arcaboiço institucional que lhe dá um ‘rosto’
– a CPLP. Não só porque uma breve incursão pelos rumos da História, numa perfuração
das dimensões ‘lusotópica’ e ‘lusógrafa’, assim nos permitiu pensar; mas também porque a
existência de diversas relações e micro-comunidades de língua portuguesa, que funcionam
anterior e independentemente da institucionalização da CPLP, comprovam que a efetiva
participação de diversos indivíduos e diferentes entidades, tem permitido a progressiva
consolidação dessa comunidade que a CPLP veio a institucionalizar.
A hipótese de pré-existência que aqui tentámos explorar, sendo frequentemente
101
veiculada nos discursos dos agentes políticos, visa ‘criar a realidade que enuncia’ –
acentuando a dimensão ‘performativa’ que se cria nas orientações top-down e se
materializa, frequentemente, nas acções bottom-up. Neste sentido, a comunidade é como
que uma ‘vida’ imaginária partilhada, que se corporiza pelo e no caminho construído em
comum, pelos indivíduos (enquanto instituições, Estados ou agentes da sociedade civil)
que encontram razões válidas para à assumir como opção.
A inconsistência de processos de concretização.
O que consideramos como inconsistência de processos de concretização da
comunidade lusófona assenta na inexistência ou inadaptabilidade de princípios básicos da
acção político-institucional, ou realmente de administração estratégica. As instâncias com
intervenção de carácter transnacional (intergovernamentais – a CPLP, o IILP, a UCCLA –
ou nacionais – o Instituto Camões), desde a sua oficialização envolvidas na construção
dessa comunidade, têm formulado ‘estratégias’ para acções muitas vezes isoladas, que
visam responder a uma situação concreta, pontual; mas falta uma aplicação articulada e
exequível ao nível das realidades que a comunidade lusófona abarca. Como vimos, uma
‘política de língua’ é indissociável de uma ‘política de circulação de bens culturais’; mas
nenhuma se pode confinar à atuação dos organismos governamentais. O que a observação
aqui realizada mostrou foi que apenas com o envolvimento de entidades e indivíduos da
sociedade civil é possível transformar esses programas em intervenção estratégica de
desenvolvimento da comunidade lusófona.
O sucesso de iniciativas diversas, como a Rede Bibliográfica da Lusofonia, o
Musidanças, a Federação de Jornalistas de Língua Portuguesa, os Congressos Luso- Afro-
Brasileiros, a Confederação Empresarial da CPLP ou a tentativa de criação (em curso) do
102
‘Estatuto do Cidadão Lusófono’, fica a dever-se ao fato de, em determinados momentos, e
face às solicitações que emanam do quotidiano, certos agentes (tanto numa perspectiva
bottom-up, como numa lógica top-down) terem procurado formular e adotar as melhores
estratégias, programas, projetos ou políticas às circunstâncias que vivem e conhecem bem;
e de as irem aplicando com sequência, continuidade e coerência.
Quer no nível da vontade política entre as instituições de decisão de topo dos países
e espaços de língua portuguesa, quer a nível da prática cultural de base, a multiplicação de
situações em que o termo lusófono surge para definir o desejo de convergência e de traçar
metas de acção (nos mais variados campos) é uma realidade que tem vindo, nestas últimas
décadas, a ganhar relevância. O percurso tem sido por vezes sinuoso, mas o contexto atual
mostra que há um número crescente de iniciativas, nem sempre convergentes, mas que
concorrem para a mobilização em torno de uma ideia: a consolidação de uma comunidade
que reúna os indivíduos, as instituições, os espaços e países de língua portuguesa – sem
que estes tenham de renunciar às suas características próprias.
O desconhecimento de práticas do quotidiano que sustentam a lusofonia como força
motriz de um colectivo.
Por trás das indefinições conceptuais e da inexistência de metodologias abrangentes
e eficazes, está, muitas vezes, o desconhecimento da realidade quotidiana.
Admitimos que a importância do presente estudo sobre a análise da comunidade
lusófona e do seu desenvolvimento afere-se sobretudo através do conhecimento que
proporciona do modo concreto e vivido da mesma, que é transmitido pelas práticas
quotidianas dos agentes envolvidos no processo e pelo conhecimento igualmente concreto
e vivido do funcionamento das suas micro-comunidades.
103
É importante seguir, nesse caso, o processo do autor Harrison (2005) que afirma
que o processo básico de administração estratégica é derivado de três perspectivas: o
modelo tradicional (análise de ambiente interno e externo; formulação de direção
estratégica; implementação e controle), a visão baseada em recursos (recursos
organizacionais gerais, físicos, humanos, financeiros) e abordagem do PI (Públicos
Interessados).
Como referimos ao longo do trabalho, sendo surpreendente constatar a importância
que é atribuída ao termo lusófono, não só em certos segmentos da sociedade portuguesa,
mas também em outros espaços do mundo de língua portuguesa, argumentamos que a
comunidade lusófona não é um simples sucedâneo moderno do lusotropicalismo, mas
também uma realidade prática que vemos funcionar em expressões diversas, quer em
iniciativas informais, quer em transacções comerciais ou em actividades socioculturais –
para além das acções político-institucionais. As instâncias politicas, econômicas e culturais
têm o dever de analisar o ambiente, os recursos que sejam internos ou externos.
Neste sentido, entendemos pois que há, pelo menos, dois entendimentos possíveis
de comunidade lusófona que nos parecem consensuais. Um deles, marcadamente
institucional, que está relacionado com questões políticas e de governação, percepcionado
como meio de dinamizar todo um conjunto de possíveis afinidades em proveito de um
projeto comum e eventualmente diferenciado de um espaço construído pela globalização; e
um outro sentido, mais vivencial, aquele que faz com que os indivíduos se possam assumir
como lusófonos, na medida em que se expressam através do elo comum, a língua
portuguesa, e que sentem fazer parte de uma comunidade de pares com os quais se revêem
ou se complementam em termos identitários.
Sustentamos que há vários factores que concorrem para a construção e o
104
desenvolvimento da comunidade lusófona, que não se esgotam na atuação das instituições,
nem são independentes das práticas dos agentes individuais, e que aquela se consubstancia
em realidade tangível, numa lógica que não é de mera agregação de iniciativas individuais
ou pontuais – mas que destas depende largamente.
Cremos que, a este nível, se terá situado o maior contributo desta dissertação.
Tentámos, efetivamente, demonstrar que, para além da análise das estratégias dos Estados
– que a maioria dos estudos privilegia –, importa expandir e concentrar a observação na
importância que as práticas da lusofonia assumem no quotidiano. Estas, que permanecem
vinculadas a micro-comunidades de língua portuguesa, parecem ser razão que justifique a
existência de sentimentos colectivos de pertença e identificação, mesmo que não formal ou
informalmente assumidos ou reivindicados como expressão de uma comunidade mais
ampla da lusofonia.
Não dispomos, por enquanto, da base empírica que permita pensar como a
articulação ou coalescência destas micro-comunidades de práticas específicas se traduzem
em dinâmicas e estruturas que as ultrapassam – chame-se-lhe comunidade lusófona ou
globalização. Mas a observação realizada permite, de fato, pensar que, assim como existem
instituições ‘aninhadas’ dentro de outras, com conexões múltiplas e imbricadas, e sistemas
políticos nacionais que se encaixam em sistemas políticos internacionais e são compostos
por numerosos subsistemas, alguns dos quais se estendem para além das fronteiras
nacionais, admitimos que as micro-comunidades de língua portuguesa, que se criam aos
mais variados níveis, têm vindo a contribuir, ainda que num plano simbólico, para a
construção de uma ideia e de uma prática da comunidade lusófona.
Apesar das duras críticas que surgem tanto no campo científico como no político-
social às bases ideológicas da construção e do desenvolvimento de tal projeto, a
105
comunidade lusófona parece invocar, mais do que um espaço que traz recorrentemente à
memória relacionamentos de exploração, indiferença ou de conflito, dinâmicas fundadas
em atributos particulares, e o aproveitamento de sinergias que a globalização possibilita,
sejam elas no campo cultural, político-institucional e/ou económico.
Sugerimos mesmo que a comunidade lusófona, mais do que um projeto político ou
um dado cultural, é um entendimento e, simultaneamente, uma realidade através da qual os
agentes sociais (indivíduos, instituições, Estados) pensam, explicam e vivem as relações
que estabelecem com outros vistos como pares – usando para isso narrativas e situações
em permanente (re)elaboração, resultantes do carácter processual de constituição da
colectividade.
A comunidade lusófona é entendida na prática dos protagonistas como uma forma
de representação, física e simbólica, de um coletivo com traços singulares (no caso, o uso
da língua portuguesa e as fecundações cruzadas que a história comum possibilitou), e de
demarcação de fronteiras com outros colectivos significativos, de afiliação linguística,
experiência histórica, ou outro atributo. Por outro lado, como produto da democracia, a
comunidade lusófona é possibilitada pela simbiose entre a perspectiva que sublinha que
esta resulta de inputs vindos da sociedade, e uma outra, que defende que as instituições de
génese política, top-down, criam estruturas de participação e de oportunidades que
permitem a formação de colectivos. Neste contexto, a comunidade tanto se realiza pelas
suas conquistas e feitos institucionais como pela acção das associações cívicas; tanto pela
investigação científica ou pela reflexão filosófica, como pela criação artística e literária.
Vimos que as práticas da lusofonia e em particular as estratégias culturais que as
sustentam são condimentos indispensáveis para que a comunidade passe de projeto
político, para a apropriação no quotidiano. Assim sendo, entendemos que, não obstante os
106
constrangimentos, tem vindo a ser possível, no quadro da “ideologia da diversidade” (ou
da “interculturalidade”) e do “projeto lusófono”, desenvolver um conjunto de iniciativas
que começam a esboçar traços efectivos de comunitarismo no espaço lusófono.
Se com este trabalho pudemos contribuir para a compreensão de alguns dos
processos e agentes imbricados na construção da comunidade lusófona, equacionando
igualmente algumas das principais fragilidades e potencialidades da mesma, e analisando
algumas pistas de desenvolvimento estratégico e administrativo do cenceito, terão sido
bem empregues as exigentes tarefas de investigação empreendidas.
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VI. Anexos
1° ANEXO: Roteiro usado na entrevista – Temas:
1. Política de desenvolvimento do canal no próprio país e afora
- Sr. Paulo Dentinho, qual é sua função e suas responsabilidades dentro da RTP
Internacional?
- Quais são as principais políticas de desenvolvimento da RTPi em Portugal e no resto do
mundo?
- Criação do canal, decisão política?
2. Público alvo e desejado
- Quais são os países atingidos?
- Qual era/é/será o público alvo?
3. Divulgação da língua portuguesa e das culturas lusófonas nos programas
audiovisuais
- Como é feita a divulgação da língua portuguesa e das culturas lusófonas nos programas
audiovisuais?
- Que tipos de programas são escolhidos para divulgar? Quais são os critérios de escolha?
Tem uma política diferente para cada páis/continente?
- Como você mede essa divulgação e a eficiência da promoção da língua portuguesa e das
culturas lusófonas?
108
2° ANEXO: Texto modelo de apelo à participação na sondagem de opinião (enviado por e-mail)
“Caros colaboradores,
Sou Louis Lobo Macedo, estudante no Instituto IBMEC no Rio de Janeiro encontro-me
neste momento a escrever a minha dissertação de mestrado sobre Estratégias de
Desenvolvimento do Conceito da Lusofonia num mundo globalizado. Para a realização
de um estudo de caso, necessito de fazer uma pequena sondagem de opinião que abarque
diferentes pessoas da sociedade civil em todos os espaços de Língua Portuguesa, para tal,
tenho usado o e-mail como meio de divulgação e apelo à participação.
Por gentileza, respondem brevemente às três seguintes perguntas:
1. O que significa para você ser lusófono?
2. O conceito lhe é familiar?
3. Sente-se parte da chamada "comunidade lusófona"?
Dados de caracterização:
- Idade:
- sexo:
- nacionalidade:
- profissão:
Gostaria de vos solicitar que, se assim o entenderem, possam reencaminhar este meu
pedido a alguns dos vossos contactos para que se gere o maior número possível de
respostas. Grato pela colaboração.
Louis Lobo Macedo”
109
3° ANEXO: Questionário que a Chama disponibilizou para apelo à participação na sondagem de opinião
110
VII. Bibliografia Documentos oficiais:
CPLP (1996). Declaração Constitutiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
FLAD (2007). Relatório da Reunião de Trabalho “Promoção da Língua Portuguesa no Mundo”.
IILP (2005). Estatutos.
UNESCO (2002 [1945]). Constituição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Links Internet / Websites: www.aureliopositivo.com.br (Mundo Aurélio) www.ciberduvidas.com (Ciberdúvidas da Língua Portuguesa) www.cplp.org (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) www.editorial-caminho.pt (Caminho) www.historiadobrasil.net/ (Textos/imagens da História do Brasil. Pesquisas históricas) www.iefp.pt/formacao/CNP/Paginas/CNP.aspx (Código Nacional Profissões - IEFP) www.instituto-camoes.pt (Instituto Camões) www.lusofonia.com.sapo.pt (Plataforma de apoio ao estudo da Língua Portuguesa no mundo) www.pordata.pt (Base de dados Portugal Contemporâneo) www.portal.unesco.org/culture (UNESCO) www.publico.pt (Jornal Público)
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