Entrevista para A Tribuna | Redes Sociais & Criminalidade

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Fui um dos entrevistados nesta reportagem de A Tribuna, de 21 de novembro de 2012, sobre a exibição de criminosos em redes sociais, como o Facebook, destacando seus atos ilícitos como troféus.

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LIDIANEDINIZ

DAREDAÇÃO

Umaredesocialquereúnepes-soas a seus amigos e àquelescom quem trabalham, estu-dam e convivem. A descriçãodo Facebook revela que o serhumano, por natureza, tem anecessidade de fazer parte degrupos, compartilhar anseiose conquistas.Especialistas alertam, no en-

tanto, que nem sempre issoocorre como deveria. Da mes-ma maneira que as pessoas seutilizam da rede para tratar deassuntos importantes eunir es-forços em movimentos sociais,há quem faça uso desse meiovirtual com objetivos não tãonobres.A discussão não é nova, mas

volta à tona com a divulgaçãodemensagens edados registra-dos no perfil de dois dos crimi-nosos detidos pela polícia namanhãdedomingo,apósassal-to a um grupo que praticavatamboréu nas areias da praiadoBoqueirão,emSantos.Detidos,HigorCarvalhoCor-

reira, 19 anos, e Gabriel BispoBezerra da Silva, 18 anos, sãomais dois entre os milhões deusuários conectados a uma das

redesquemaiscongregamem-brosemtodooPaíseemoutraspartes do mundo. Utilizamseus perfis, assim como o decolegas, não apenas para mar-car encontros com os chama-dos “parças” (sic), mas tam-bémparafazerapologiaàsdro-gas, exibir fotos de ações e en-viarmensagensdeapoioacom-panheirosque estãopresosporrelaçãocomcrimes.Profissionais que analisam

mídiassociaisafirmamserpar-te do perfil do brasileiro exibirsuas conquistas e pensamen-tos para atrair a atenção decolegaseda família. “Omesmoacontece com os criminosos.Fora da internet eles já fazemquestãodemostrar seus carrosluxuosos e andar com corren-tes grossas no pescoço, que narede são expostas como tro-féus”,pontuaWellidoTeles,as-sessor de Comunicação Socialdo Centro Universitário Mon-teSerrat(Unimonte)eespecia-listaemmarketingdigital.Eleaponta,noentanto,queé

o sentimento de impunidadeque tem reforçado esse tipo depostura na internet. Mesmocom dados acessíveis a qual-quer usuário cadastrado na re-

de social, dificilmente ele serápegoporalgopostado.Por isso, Teles alerta para o

cuidado que os demais cida-dãos devem ter ao postar emseus perfis no Facebook. “Àsvezes, no ímpeto de comparti-

lhar suas conquistas ou mes-mo por exibicionismo, muitaspessoas revelam números dedocumentos,o endereçodaca-sa e do trabalho. Não perce-bem o risco que correm. Elastornam-sealvofácilparaindiví-

duoscommáintenção”.

POLÍCIA

Aanálise deperfis de supostoscriminosos já é uma praxe en-tre os setores de inteligênciada polícia, segundo o delega-do Seccional de Itanhaém etitular da Anti-Sequestro deSantos, Níemer Nunes Ju-nior. Ele aponta, inclusive, in-vestigações positivas que re-sultaramemprisões. “Emmui-tas situações, delinquentes fo-ram pegos e reconhecidosapós postarem as conquistasde suas ações ilícitas. Mas épreciso lembrar que as redestambém são utilizadas poreles comomeio para chegar àsnovasvítimas”, reforça.Ele diz que a recomendação

é não colocar detalhes consis-tentes sobre a vida e a rotinanessesambientesvirtuais.

PERFIS

Não são apenas os posts deHigor e Gabriel que eviden-ciamaparticipaçãode indiví-duos em ações ilícitas e em“quadrilhas”, como eles mes-mos denominam, em mensa-gens trocadas entre um gru-po. Mas a partir desses dois

perfis é possível avaliar queo número de pessoas queutilizam as redes sociais pa-ra articular ações ilícitas,sem obstáculos, pode sermaior doque se imagina.Chama a atenção que am-

bos os perfis, assim como osde“amigos”darede,sãomem-bros da comunidade “Paz,Justiça eLiberdade”, lemadafacção criminosa PrimeiroComandodaCapital (PCC).Ospostsregistradosaolon-

go do feriado também reve-lam que é por meio do Face-bookque eles comunicam to-dos os passos, assim como osencontros em locais públicose a movimentação: “to che-gando em casa na porta domeu prédio, logo comandoda p.m. fiquei memo como(...) eu vo preso de novo; vá-rios boina, mas graças a deussusu”(sic).Após a prisão de Higor e

Gabriel, as mensagens eramde apoio: “para os familiaresdo Gabriel e do Higor, ami-gos, parentes, família, nós es-tamos com vcs 2. Deus é comvcs, nos te amamosmuito, es-tamos torcendo, tudo vai dacerto.Énois, féemdeus” (sic).

❚❚❚ Na manhã de ontem, ogrupo que joga tamboréu napraia deixou de lado o espor-te na areia para dar lugar aojogo de cartas. A mudança,no entanto, não foi suficientepara esquecer o crime ocorri-do há três dias, a poucos me-tros da barraca onde ocor-rem os encontros nos finaisde semana e feriados.Foram muitos os amigos

de Daniel Sampaio Junior,que segue internado na San-

ta Casa em razão de um tirono rosto, que passaram pelolocal para ter notícias doscompanheiros de esporte. Acada um que chegava, a polê-mica sobre o crime ocorridodomingo e a onda de violên-ciaque assola aCidade ganha-va novo impulso.O comerciante Gerson

Luiz da Silva, que tambémteve sua corrente levada pelogrupo no domingo, fez ques-tão de frisar o que já havia

dito à Reportagem no diaanterior. “A população nãodeve se calar diante da açãode bandidos”. Ele acreditaque é preciso registrar nasdelegacias mesmo os peque-nos furtos, para que os índi-ces de criminalidade corres-pondamà realidade enfrenta-da pela população.Apesar de alguns não acre-

ditarem que a ação será sufi-ciente para reverter a ondade crimes, o grupo concorda

que cruzar os braços nãomu-dará nada. “Vamos tentar,juntamente com o pessoal daliga do tamboréu e outrasentidades esportivas, fazer al-go que chame a atenção”,adianta.Eles afirmam, no entanto,

que as pequenas infrações jáocorrem com frequência nocalçadão da praia e nas ruasque dão acesso à orla, nobairro Boqueirão. “A novida-de nesse caso é o disparo

contra alguém na areia. Masvários já tiveram objetos rou-bados por bandidos em ruaspróximas”, cita o responsá-vel pela barraca, WagnerMonteiro.

HELICÓPTEROTAMBÉM

Diferente do cenário descritopor ambulantes, trabalhado-res e banhistas que estiveramno local domingo pela ma-nhã, ontem a Reportagemidentificou várias viaturas epoliciais em diferentes pon-tos da orla da praia. Peruas daGuarda Municipal circula-vampela areia.Turistas e munícipes tam-

bém disseram que ontem foipossível avistar o helicópteroda Polícia Militar em patru-lhamento pela orla da praia,emdiversosmomentos.Na segunda-feira, o co-

mando da Polícia Militar foiprocurado para informar onúmerodehomensque com-puseram o efetivo duranteos dias do feriado prolonga-do. O setor de Comunicaçãodo 6º Batalhão avisou quenãopoderiadivulgar esseda-do, mas que a corporaçãodispõe de estratégia que ga-rante a segurança dosmuní-cipes e de turistas que estãonaCidade.

Grupo pede reforço no policiamento

Veículos da Guarda Municipal circulavam ontem pela areia da praia e havia viaturas e policiais em alguns pontos. Helicóptero da Polícia Militar realizava patrulhamento em diversos momentos durante o feriado

Falta de segurança na orla da praia santista volta ao debate depois do ocorrido no domingo, quando bandidos assaltaram e atiraram em jogadores de tamboréu. Criminosos divulgam ações pela internet

AfacedocrimeexpostanaredesocialPelo Facebook, marginais combinammovimentações ilícitas, mostrando que site é usado na união de esforços para o bem e para o mal

Câmeras são instaladas ao longo da orla, na tentativa de evitar crimes

FOTOSCARLOSNOGUEIRA

Quarta-feira 21 ATRIBUNA Local A-3baixadasantista@atribuna.com.br novembro de2012 www.atribuna.com.br