Post on 18-Jan-2019
Ensino de História e as Histórias em Quadrinhos: possibilidades e reflexões.
Fabian Filatow
As histórias em quadrinhos estão na ordem do dia, ou seja, basta uma simples olhada
nas livrarias para perceber que o mercado editorial deste gênero está aquecido. Estão sendo
publicados vários títulos e entre estes podemos descatar um significativo número de temas
relacionados com a área da educação, com a área das Ciências Humanas e mais
especificamente com a disciplina de História.
Neste contexto, temos como proposta refletir sobre as diferentes possibilidades
oriundas do uso dos quadrinhos na educação e mais especificamente como recurso
pedagógico nas aulas de História. Nestes materiais, desde os títulos clássicos até os
recentemente publicados, temos um universo a ser explorado e que podem servir como
recursos para analisarmos questões pertinentes e atuais do ensino de História.
As histórias em quadrinhos sempre estiveram presentes no meio escolar e no mundo
infanto-juvenil, às vezes de maneira mais evidente, noutras resistindo nas sombras.
Atualmente podemos indicar que tais produções não são exclusividades do público infanto-
juvenil, o mercado vem explorando um público que está além desta faixa etária. Assim sendo,
não penso ser pertinente, neste momento, ficarmos numa discussão sobre a rotulação destes
materiais, cultura de massa ou literatura infanto-juvenil. Queremos aproveitar o instante para
discutirmos sobre suas potencialidades enquanto material pedagógico e histórico.
No universo dos quadrinhos podemos identificar, até com certa facilidade, uma
literatura muito específica no interior deste hipergênero, quadrinhos escritos com o firme
propósito de contar fatos e acontecimentos do passado histórico. Deste grupo destacamos
alguns conflitos contemporâneos, como por exemplo a guerra no Líbano, o conflito no
Oriente Médio, questões sobre a América Latina. Identificamos igualmente volumes
publicados que relatam histórias de vidas, experiências vividas ou se preferirem, biografias de
personalidades que se destacaram na História. Outros quadrinhos retratam a vida de pessoas
comuns que estiveram envolvidas em acontecimentos que marcaram a História, como no caso
da bomba atônica lançada sobre cidades do Japão no final da Segunda Guerra Mundial.
Podemos identificar igualmente reportagens e relatos de viagens no formato de quadrinhos,
material que vem tendo um significativo crescimento. Enfim, estamos vivenciando um
mercado que oferece um potencial para se expandir e que vem provocar nossa reflexão.
Assim, qual o potencial deste material para o ensino da História? Neste sentido, é necessário
que os educadores e educadoras que utilizam ou que utilizarão estas mídias como recurso
didático apropriem-se deste universo, dos seus recursos, das etapas que o compõem, dos seus
elementos.
Já se tornou lugar comum discutir a importância da interdisciplinaridade no ensino,
que todo estudante deve(ria) compreender que os inúmeros conteúdos escolares estão
relacionados e que na vida cotidiana estes conhecimentos são utilizados de maneiras
interligadas. Mas a teoria e a prática nem sempre andam no mesmo passo, principalmente na
Educação Básica. Ainda existem inúmeras barreiras para educadores(as) no momento de
colocar em prática a concepção teória da interdisciplinaridade. Acredito que a utilizização das
histórias em quadrinhos podem contribuir positivamente para tirar esta concepção do campo
teórico e apresentá-la no âmbito do concreto, da prática. Arrisco a afirmar que as histórias em
quarinhos são, por excelência, o campo da interdisciplinaridade. Isto porque se faz necessário
a utilização de inúmeros saberes para que possamos nos apropriar das narrativas presentes nas
histórias em quadrinhos. Numa única revista de quadrinhos nos deparamos com vários
recursos de comunicação, tais como cores, letras, imagens, “sons”, perspectivas, uso de
tempos distintos, épocas passadas e futuras, tempos simultâneos, aceleração do tempo,
dedução entre outros. É necessário a compreensão deste complexo repertório para que os
quadrinhos tenham sentido e sejam compreendidos. É necessário decodificar os signos, as
imagens, perceber as nuâncias nas cores – degradê – nos desenhos, nas expressões faciais etc.,
e assim contribuir para que os estudantes possam decodificar o que é texto e o que é imagem.
Quadrinhos é uma mídia peculiar justamente por ser a junção de texto e imagens. Nesta mídia
a leitura da imagem é tão importante quanto a leitura do texto. Devemos estar abertos para as
mensagens que se encontram nas entrelinhas.
Como argumentou Verguerio, a alfabetização na linguagem específica dos quadrinhos
é indispensável para que o aluno decodifique as múltiplas mensagens neles presentes e,
também, para que o professor obtenha melhores resultados em sua utilização.
(VERGUEIRO, 2016, p. 31).
Neste sentido, concordamos com a necessidade de uma alfabetização no que diz
respeito aos quadrinhos, pois
(...) nota-se que as histórias em quadrinhos constituem um sistema narrativo
composto por dois códigos que atuam em constante interação: o visual e o
verbal. Cada um desses ocupa, dentro dos quadrinhos, um papel especial,
reforçando um ao outro e garantindo que a mensagem seja entendida em
plenitude. Alguns elementos da mensagem são passados exclusivamente
pelo texto, outros têm na linguagem pictórica a sua fonte de transmissão. A
grande maioria das mensagens dos quadrinhos, no entanto, é percebida pelos
leitores por intermédio da interação entre os dois códigos. Assim, a análise
separada de cada um deles obedece a uma necessidade puramente didática,
pois, dentro do ambiente das HQ's, eles não podem ser pensados
separadamente. (VERGUEIRO, 2016, p. 31).
Assim como o cinema, a fotografia, os documentos escritos são utilizados como fontes
para a produção do conhecimento histórico, também as histórias em quadrinhos oferecem esse
potencial. Em sala de aula, normalmente nos utilizamos destas fontes, por que não inserir os
quadrinhos como um recurso a mais? A resposta pode estar relacionada com o despreparo do
educador(a) frente a esta mídia e a visões vulgares sobre este material.
Toda história em quadrinhos produzida está situada num contexto, numa época, teve
uma proposta ao ser criada, utilizou-se de determinados recursos, conceitos, ideias, ideologias
etc. Acredito que podemos ganhar mais se analisarmos sua produção partindo do contexto em
que foram criadas. Não podemos nos esquecer que quadrinhos também são produtos
fabricados pela sociedade humana, assim como todo e qualquer outro documento ou fonte
histórica utilizada em sala de aula. Sua análise pode nos levar a compreender muito mais do
que o período histórico retratado nas revista, podem abrir janelas para o período no qual
foram elaboradas, reeditadas, censuradas. Por exemplo, atualmente estamos tendo acesso a
muitos quadrinhos que abordam temas contemporâneos e atuais, demandas que não estiveram
presente nas histórias em quadrinhos de outras décadas. Este dado também pode ser
contemplado durante a discussão ou trabalho em grupo. Quais questões contemporâneas
norteiam algumas das produções das histórias em quadrinhos? Por que alguns temas ou
temáticas estão sendo publicadas atualmente? Estas questões podem contribuir com a reflexão
sobre nossa sociedade atual, permitindo a participação ativa do público discente, propriciando
um olhar sobre a realidade na qual estamos inseridos.
Enfim, o que procuro destacar aqui é a utilização das histórias em quadrinhos como
fonte para a reflexão histórica no ambiente sala de aula e não somente como um recurso
gráfico que proporcione uma facilitação do conteúdo abordado ou como uma mera ilustração
que demonstra o estudo já realizado. Pelo contrário, iniciar toda a construçao do
conhecimento partindo-se dos quadrinhos. Com isso não estou indicando que se deva largar o
currículo estabelecido, ou que os quadrinhos devam ser utilizados do início ao fim do ano
letivo em todas as aulas. Porém, destaco que seria viável uma inserção dentro deste período
letivo, destacando um tema e abordando-o a partir da leitura e análise desta mídia. Lembrando
ser esta um recurso a mais a ser utilizado no fazer didático. Fazer uso das histórias em
quadrinhos como documentos a serem lidos, decodificados, discutidos e refletidos nas aulas
de História certamente se constitui num exercício valioso para todos os envolvidos.
Principalmente se nesta atividade estivermos utilizando os saberes das demais quatro áreas
que compõem o Ensino Básico atualmente, provocando um diálogo interdisciplinar.
Possibilitando aos estudandes serem protagonistas do seu aprendizado. E isto ficou
evidenciado numa primeira experiência efetuada em sala de aula com estudantes do ensino
fundamental séries finais e também do Ensino Médio, na qual foi percebida uma boa
receptividade ao uso deste material e, posteriormente, uma maior clareza dos diferentes
recursos necessários para se apropriar deste tipo de mídia.
A seguir apresentaremos uma proposta pedagógica utilizando-se das histórias em
quadrinhos realizada com estudantes do ensino médio noturno da Escola Estadual Professora
Margot Terezinha Noal Giacomazzi em Canoas.
As Histórias em Quadrinhos na luta contra a intolerância
Um projeto mais amplo que tem como objetivo oferecer aos estudantes do ensino
médio norturno uma variedade de minicursos ministrados pelo corpo docente da escola ao
longo do corrente ano está possibilitando oferecermos um curso dedicado as histórias em
quadrinhos. Um projeto piloto foi realizado no ano de 2017 e teve a duração de uma semana.
A cada trimestre temos a oportunidade de ofertar minicursos e neste primeiro semestre
aconteceu um estudo das histórias em quadrinhos e o combate à intolerância. Os encontros
ocorrem uma vez por semana, com a duração de uma hora. Podem se escrever estudantes de
todas as séries do ensino médio noturno.
O objetivo foi possibilitar um espaço de reflexão e diálogo sobre questões atuais,
como o combate as diferentes maneiras de intolerância. Iniciamos com um breve estudo da
histórias das histórias em quadrinhos e dos diferentes contextos históricos nas quais surgiram.
Por fim, foram analisadas algumas histórias em quadrinhos que possibilitavam o estudo das
diferentes formas de intolerância e seus efeitos para a humanidade.
Realizamos uma sensibilização sobre a presença e utilização dos símbolos na vida
cotidiana. Partimos dos primórdios, das pinturas rupestres até as atuais pinturas urbanas
(grafite, pichações outdoors etc.), passando pelos sinais de trânsito e pelos ícones do mundo
digital (internet, redes sociais, programas etc.). Usamos imagens para representar o
desconhecido, as emoções, o medo, o ódio, o amor etc. Reutilizamos imagens do passado na
atualidade, dando-lhes novos significados (memes, por exemplo). Enfim, a utilização de
imagens se faz presente na vida dos seres humanos.
Num segundo momento apresentamos pontos relevantes para compreendermos as
narrativas dos quadrinhos e sua estrutura. Iniciamos pelos diferentes nomes dados a esta arte
pelo mundo: Strip comics (tira de humor): EUA; Bande dessinée (banda, tira desenhada):
França e Bélgica; Banda desenhada ou histórias aos quadrinhos: Portugal; TBO (nome de
uma revista famosa): Espanha; Historieta ou comics: América espanhola; Fumetti (fumacinha,
balão das falas): Itália; Mangá: Japão; Gibi (assim como na Espanha, vem do nome de uma
revista famosa): Brasil; todas elas são histórias em quadrinhos (HQ's) também chamadas de
Arte Sequencial.
Em seguida, discutimos algumas definições conceituais como xenofobia, racismo,
preconceito. Também realizamos uma diferenciação entre tirinhas, charge e cartum. Na
continuidade apresentamos alguns elementos básicos dos quadrinhos, como o requadro,
vinheta ou quadrinho, é a moldura que envolve a cena retratada em um quadrinho. A calha ou
sarjeta é o espaço que existe entre dois quadrinhos e que muitas vezes precisa ser preenchido
pelo leitor por meio do raciocínio. Este espaço também tem uma função temporal, dando
dinâmica para a história. O recordatório, é o pequeno painel, algumas vezes de tamanho
irregular que aparece no canto do requadro e que faz uma breve narrativa como forma de
introduzir ou complementar a cena. Temos também os balões de fala que simbolizam o ato da
fala dos personagens. Temos balões de pensamento, de sussurro, de grito etc. É um elemento
gráfico que serve para abrigar textos, expressões, palavras e até imagens. Temos também as
metáforas visuais as quais são uma espécie de figuras de linguagem que funcionam como
palavras, sintetizando conceitos apenas por meio de uma simples imagem. Podem indicar um
estado emocional ou um acontecimento, como por exemplo um coração saltando do peito
como sinal de paixão; notas musicais indicando um assovio, raiva etc. As linhas cinéticas ou
de movimento são os riscos que indicam movimento na cena. Podem envolver o personagem
ou um objeto e oferecem dinâmica à cena. Indicam a ideia de mobilidade. Devemos estar
atentos também com as onomatopeias, ou seja, palavras que representam sons. Estas dão
significado para a compreensão da história. Enfim, os desenhos, ou seja, a forma como se
elabora a narrativa. Estes podem apresentar diversos estilos. Percebemos, assim que temos a
associação entre texto e imagem e esta estabelece uma ideia de complementaridade.
Um ponto importante para o estudo da História é a noção de tempo. E este, está
presente na maioria dos quadrinhos. Assim sendo, os quadrinhos podem ser um excelente
aliado para o estudo do tempo e seus desdobramentos.
Os quadrinhos, por exemplo, podem ser utilizados pelos professores para
trabalhar o conceito de tempo e suas dimensões: sucessão, duração e
simultaneidade. Os “recordatórios” presentes na manioria das histórias em
quadrinhos podem ser utilizados para ilustrar esses conceitos: um
recordatório onde se lê “Mais tarde...” ou “Logo depois...” pode ser um
exemplo de sucessão e, de outro lado, aquele em que se lê “Enquanto isso...”
pode facilitar ao aluno a percepção da ideia de simultaneidade. (VILELA,
2016, p. 107)
Vilela ainda chama a atenção para os signos presentes nas histórias em quadrinhos e
que contribuem para a percepção da passagem do tempo.
Os elementos visuais utilizados para indicar a passagem do tempo em uma
história em quadrinhos (um desenho da Lua para indicar o anoitecer; um
relógio na parede de um escritório; uma personagem marcando o cartão de
ponto final do expediente) podem ser usados para uma reflexão sobre os
difernetes tempos: o tempo da natureza, o tempo do relógio, o tempo da
fábrica. (VILELA, 2016, p. 107)
Por fim, destaca-se o flashback. Recurso muito utilizado nas revistas de quadrinhos.
(…) uma personagem adulta é retratada quando criança no quadrinho
seguinte para mostrar um aspecto da infância. Esse tipo de sequência pode
servir para que os alunos reflitam sobre o conceito de memória. Além disso,
uma história em quadrinhos pode mostrar um mesmo fato narrado do ponto
de vista de diferentes personagens, o que pode contribuir para que os alunos
compreendam mais facilmente a existência de diferentes versões da História,
assim como a subjetividade presente nelas. (VILELA, 2016, p. 107)
Num rápido panorama da história das histórias em quadrinhos podemos identificar
temas relevantes para o ensino da História. Em 1895 foi criada pelo norte americano Richard
Outcault a primeira história em quadrinhos de que se tem notícias no mundo. A linguagem das
histórias em quadrinhos, tal qual conhecemos hoje, com personagens fixos, ações
fragmentadas e diálogos dispostos em balõezinhos de texto, foi inaugurada nos jornais
sensacionalistas de Nova York com uma tirinha chamada The Yellow Kid, de autoria de de
Outcault.
As Histórias em Quadrinhos mais famosas são aquelas que retratam a vida de super-
heróis, eternizados na arte sequencial e transportados para a linguagem cinematográfica,
ganhando projeção internacional e povoando o imaginário de leitores do mundo inteiro.
Nestas temos as ideias de justiça, de valores morais, altruísmo, coragem, ética etc. Porém,
nem toda história em quadrinhos está restrita a narrar as peripécias de personagens fictícios
dotados de super poderes.
Como exemplo mencionaremos Persépolis, de Marjane Satrapi. Uma biografia que
narra a infância vivida pela autora e sua visão sobre a Revolução Islâmica (1979).
Outro exemplo de relato de vida inserida num acontecimento histórico é a obra Maus,
do americano Art Spiegelman, de origem judia, contra a história de seus pais, sobreviventes
dos campos de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
As aventuras de Tintim é outra possibilidade. Criada em 1929 pelo belga Georges
Prosper Remi (Hergé). Tintim é um repórter e suas aventuras o levam a viajar pelo mundo
sempre na companhia do seu inseparável cão Milu. A obra está inserida num contexto e por
isso é objeto de polêmica. O autor foi acusado de propagar em seus álbuns violência,
crueldade contra os animais, pontos de vista colonialistas, racistas, fascistas e misoginia, pois
quase não aparecem mulheres na série.
Destaco aqui apenas dois exemplos de sua obra. A primeira é Tintim no país dos
sovietes, na qual os bolcheviques são descritos como personagens maléficos. Hergé teria se
inspirado num livro de Joseph Douillet, antigo cônsul da Bélgica na Rússia, Moscou sans
voile, que era extremamente crítico ao regime soviético. Hergé inseriu isto no contexto
afirmando que para a Bélgica da época, uma nação devota e católica, tudo o que fosse
bolchevique era ateu. E ainda, no álbum, os chefes bolcheviques são motivados apenas por
interesses pessoais, e Tintim descobre enterrado o tesouro escondido de Lênin e Trotsky. Mais
tarde, Hergé assimilou os defeitos desses primeiros álbuns a um erro da sua mocidade. O
álbum possibilita uma boa discussão sobre temas como imperialismo, colonialismo, ideologia,
fonte histórica entre outras possibilidades.
A segunda obra de Hergé que destaco é Tintim no Congo, originalmente publicada
com o título Tintim na África. Abaixo podemos visualizar as duas capas.
A análise, em sala de aula, das capas já rende uma discussão interessante sobre
difinições sobre a África (continente) e os países que a formam. Além disso, temos alterações
da versão original lançada em junho 1930 como tirinha e no ano seguinte como livro. Em
1946 a obra foi revisada pelo autor que auterou a página 56, na qual existia uma matança
através das caçadas dos animais. Na página 36 ocorreu uma alteração na cena da aula
ministrada por Tintim. Na primeira imagem temos a cena original de 1931, a pátria
apresentada era a Bélgica. Já na segunda imagem, modificada (1946) temos a aula de
matemática.
Podemos explorar esta história em quadrinhos para refletirmos sobre as mudanças
ocorridas na forma de produção do conhecimento histórico. Quadrinhos, como produtos de
massa, também vão se adaptando as novas demandas do mundo contemporâneo. Podemos
analisar todos os signos e desenhos que reforçam estereótipos dos povos africanos.
Na parte final do curso foi realizada a leitura da história em quadrinho intitulada A
Busca (HEUVEL, 2009) por ofertar alguns peculiaridades. Tempos históricos diversos, signos
políticos, religiosos e contemporâneosm multiplos espaços geográficos. As memórias nos
2008 – Editora Companhia das Letras 1970 – Editora Record
remetem ao tempo da Segunda Guerra Mundial atavés das vidas de pessoas comuns. A fim de
amostragem, iremos analisar apenas algumas cenas.
Na primeira imagem selecionada temos a lembrança realizada pela avó que nos reporta
a Alemanha de Adolf Hitler em 1933. É um espaço específico de Berlim, capital alemã, o
Portão de Brandemburgo. Temos a lembrança de seus pais ouvindo o avanço de Hitler pelo
rádio. Temos numa breve sequência tempos distintos, gerações, memória, símbolos políticos,
lugares, meios de informação e o recurso dos balões que unificam as cenas.
Na segunda seleção, podemos identificar uma leque maior de gerações, a avó que
relembra sua vida na escola, seus pais que ficaram horrorizados, a exclusão sofrida na sala de
aula através da atitude da professora, tempos atuais (autoban, euro) e o tempo do nazismo na
Alemanha. Temos a presença do filho e do neto da avó que conta sua história. Numa
sequencia breve temos quatro gerações de uma mesma família.
HEUVEL, 2016, p. 11.
Na próxima seleção temos o recurso dos balões de pensamento, os símbolos utilizados
pelos prisioneiros do nazismo nos campos de concentração. Salientamos as cores dos
símbolos nos uniformes dos prisioneiros, triângulo verde e estrela vermelha e amerela.
Na quarta e última cena selecionada temos uma sequência de imagens que nos fazem
viajar no tempo do presente para o passado e deste de volta ao presente. Em destaque uma
fonte histórica, uma recordação familiar que tem a função de documentar o passado das
HEUVEL, 2016, p. 12.
HEUVEL, 2016, p. 14.
pessoas envolvida na história. Novamente fica evidente a troca de informações entre gerações.
Podemos destacar a importância da memória, da história familiar, do relato e do testemunho,
pode-se mencionar a metodologia da história oral, da pesquisa em documentos privados.
A leitura de A Busca possibilitou uma ampla discussão não restringindo-se ao tempo
da Segunda Guerra, mas as questões pertinentes ao estudo da História.
Apontamentos finais
HEUVEL, 2016, p. 59.
A práticada docente pode se valer do universo dos quadrinhos, pois estes oferecem
grande diversidade de temas e possibilidades de abordagens. Precisamos nos apropriar deste
tipo de mídia, que, de certa forma é de fácil acesso, custos relativamente baixos e que pode
ser reproduzido ou construído em sala de aula.
As histórias em quadrinhos configuram-se numa produção artística que nos permite
refletir sobre valores e atitudes, bem como sobre as riquezas histórico-cultural. Contribuem de
modo interdisciplinar para uma reflexão mais qualitativa dos conteúdos educacionais.
O papel do(a) professor(a) vem numa constante mudança e estamos longe daquele
perfil que transmitia todo o saber ao grupo de educandos, modo este já denunciado por Paulo
Freire, que contestou um tipo de pedagogia alicerçada somente no transmitir, da educação
bancária. A utilização dos quadrinhos na sala de aula proporciona a realização de um trabalho
colaborativo, diversos olhares sobre o mesmo objeto e muitas conexões com outros saberes
explorando habilidades e competências.
Enfim, utilizar o quadrinho na sala de aula como mais uma fonte de informação, além
dos já utilizados normanlmente, o livro didático, o filme, a fotografia etc. Inserindo o
quadrinho ampliamos este repertório de fontes de informação na nossa prática docente e
oferecemos uma diversificação de fontes para os estudantes.
Não se trata de abandonar o contéudo programático, mas sim de abordar de forma
diferenciada uma temática e dentro desta oportunizar o desdobramento de vários conteúdos
que estejam presentes nos quadrinhos e discutir com os estudantes. Neste sentido, os
minicursos reuniram estudantes do primeiro, do segundo e do terceiro ano do Ensino Médio,
cada um deles contribuiu com o seu conhecimento, partindo de um interesse comum, as
histórias em quadrinhos.
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