Post on 14-Apr-2017
Quem se encontra
Envolvido com a tarefa de
educar está, de alguma forma,
sempre posto em dificuldade.
Isto vale para o âmbito
formal, como é o caso da
escola, como para o nível
informal, no caso dos pais que
precisam educar seus filhos. E
um dos fatores de
insegurança é o avanço da
tecnologia, que povoa cada
vez mais todas as áreas da
nossa vida.
Embora seja quase uma
“heresia” levantar
atualmente alguma questão
relacionada aos avanços
científicos e tecnológicos,
vamos nos arriscar.
Na verdade, não queremos
nem desvalorizar, nem
endeusar alguns dos modos
de viver desenvolvidos pelo
ser humano. Achamos
somente que a vida merece
continuar em questão. E, no
nosso caso, a educação do
ser humano, numa época
em que as coisas podem
ser alcançadas e os desejos
satisfeitos quase de forma
imediata.
Vemos, no trabalho
cotidiano com crianças e
jovens, a mudança que está
ocorrendo. Uma reticência
cada vez maior em realizar
tarefas que não tenham
solução imediata, que
exijam esforços maiores e
que contradigam a vontade
do momento presente. A
dificuldade de professoras e
professores em convencer
os alunos da necessidade
de organizar o tempo e o
espaço para além do
prazeroso é cada vez maior.
A tecnologia entra na vida
Não é difícil perceber que o
ser humano pensa e
desenvolve suas
compreensões a partir dos
seus envolvimentos
cotidianos.
Assim também suas ações
e envolvimentos são
condicionados pelo
pensamento. Isso tudo num
processo em que o mundo e
constituído pelo nosso
próprio viver.
Podemos dizer que, na
medida em que o nosso
envolvimento com a
tecnologia aumenta,
também nosso modo de
pensar absorve os
mecanismos e modelos de
funcionamento da
tecnologia. Por exemplo, ao
lidar cotidianamente com
uma máquina como o
computador, nossos
comportamentos adquirem
expectativas e modos de
lidar com a própria realidade
aprendidos na lida com o
computador. Sem falar na
virtualização das relações e
dos objetivos, enforcaremos
simplesmente o fato de que
transferimos para as
relações interpessoais e
para os objetos o modelo da
máquina.
E o que acontece na
nossa relação com a
máquina? Ela simplesmente
é feita para funcionar, para
responder a uma demanda
determinada. É tanto mais
valorizada quanto mais
rápido e eficazmente
cumpre sua tarefa. Se não
funciona, precisa ser
consertada. E, mais
especificamente no caso da
tecnologia da informática, o
computador ligado a internet
é uma máquina que oferece
oportunidade para satisfazer
quase que imediatamente a
curiosidade por algum
assunto ou informação. E,
cada vez mais, as nossas
crianças manuseiam com
desenvoltura essas
maquinas, buscam nelas o
que lhes interessa, e
somente o que lhes causa
alguma satisfação.
A lógica da satisfação
imediata
Assim como busco na
internet aquilo que me
agrada, na hora em que
sentir vontade, assim
também me comporto com
o mundo que está além do
virtual. A inteligência
também absorve uma lógica
quase matemática,
calculista. Um exemplo
ilustra nossa reflexão: um
professor, conversando com
seus alunos sobre Deus, é
surpreendido por um aluno
de nove anos, afirmando
que fez um pedido em sua
oração, não foi atendido e
que, portanto, agora não
tem mais motivo para a fé
religiosa. Ou Deus funciona,
ou precisa de conserto, ou
não existe. O mesmo vale
para a relação com os seres
humanos: importam na
medida em que satisfazem
expectativas imediatamente.
Algumas questões
surgem: que tipos de
relacionamentos
desenvolvemos dessa
forma? Que tipo de
regulação social é
necessária quando o olhar e
o horizonte alcançam
somente o prazeroso? Qual
o papel da escola e como
irá desenvolver sua tarefa?
Que tipo de sociedade
teremos? Os valores que
hoje consideramos
importantes para a
convivência e realização
humana ainda serão os
mesmos? Há ainda espaço
para o pensamento e o
mistério em meio ao cálculo
e o previsível?
Seremos confrontados
com a necessidade de
recolocar o problema do
sentido da vida, do projeto
de sociedade que queremos
construir, do modelo de
homem e mulher que
iremos ajudar a formar?
Neste sentido, a novidade
que a tecnologia introduz
em nossa vida não somente
produz melhoras na
qualidade de vida, mas nos
confronta com a nossa
própria existência, com
nossos valores, com a
capacidade de lidar com a
frustação e o sofrimento,
com a dificuldade de tolerar
o que não é imediato, além
de problemas os quais a
educação já está lidando e
deverá enfrentar ainda
mais.
Fonte:
www.mundojovem.com.br
Março, 2007.