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MOLON, N. R. Ecopedagogia - uma nova ética ambiental. RGSN - Revista Gestão, Sustentabilidade e Negócios , Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 92-106, jun. 2016.
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ECOPEDAGOGIA - UMA NOVA ÉTICA AMBIENTAL
MOLON, Naiara Ramos 1
ROBAINA, José Vicente Lima 2
Resumo : Foi necessário o alerta sobre a chuva ácida, desmatamento, erosão, falta de água, aquecimento global, calamidades para que alguns, e ainda nem todos, franzissem a testa e demonstrassem uma pequena inquietude, permeada com uma dose de incredulidade. As notícias assinalam um futuro lúgubre, temeroso, sombrio. O clima, como hoje o conhecemos, tende a modificar-se nos próximos cinqüenta anos. Haverá uma calamidade global, migrações em massa. Atingirá diretamente a todos nós? Quem sabe, não! Mas que mundo viverá nossos filhos e as próximas gerações? Qual o futuro da humanidade se nada for feito?Não é mais possível ficarmos de braços cruzados, só esperando ver o que os líderes governamentais, as grandes nações, os ambientalistas irão planejar para minimizar as catástrofes que advirão do nosso descaso, da nossa irresponsabilidade. Se todos não nos sentirmos tocados, responsabilizados e seriamente comprometidos com a mudança radical de atitudes, todos seremos atingidos. Todos devem assumir algum tipo de comprometimento para melhorar a nossa vida futura neste lindo Planeta Azul, nossa terra, nossa casa. Preocupação tão somente, não é o suficiente para provocar mudanças, e sim ação, atitudes concretas, que alguns líderes de nações não querem assumir e nem muitos indivíduos. É de responsabilidade de todos nós alertarmos o mundo sobre quão terrível será viver em nosso planeta no fim deste século.A educação ambiental deve impregnar todas as formas de conhecimento e envolver todos os formadores de opinião, considerando-se todos ao um tempo, educadores e aprendizes. E a ecopedagogia constituir-se no pensar e agir de todo
1 PPGECIM - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática - Universidade Luterana do Brasil, ULBRA, Canoas-RS. E-mail: naiara@via-rs.net 2 Universidade Luterana do Brasil-ULBRA/LPEC. E-mail: jvlr@terra.com.br
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habitante deste ainda belo planeta. E a ecogestão envolver a participação de todas as entidades e organismos, públicos e privados, pois todos somos co-responsáveis pelo destino deste planeta Terra. Palavras-chave : Alerta. Catástrofes. Comprometimento Ecologia. Ecopedagogia. Ecogestão. Abstract : It took the warning about acid rain, deforestation, erosion, lack of water, global warming, for which some disasters, and yet not all, franzissem the forehead and show a little concern, pervaded with a dose of disbelief.The news marks a future lúgubre, temeroso, somber. The climate, as we know today, have been changing over the next fifty years. There will be a total disaster, mass migrations. Atingirá directly to us? Who knows, no! But that world live our children and future generations? What is the future of humanity if nothing is done? It is not possible to stop arms crossed, just waiting to see what government leaders, the major nations, the environmentalists are planning to minimize disasters that advirão of our disregard of our irresponsibility. If everyone does not feel touched, accountable and seriously committed to the radical change in attitudes, all are affected.Everyone should take some kind of commitment to improve our future life in this beautiful blue planet, our land, our home. Concern just is not enough to cause changes, but action, attitudes concrete, which some leaders of nations do not want to take and not many individuals. It is the responsibility of all of us alertarmos the world about how terrible will live in our planet in end of the Century.The environmental education should impregnate all forms of knowledge and involve all trainers of the opinion, considering all the time, educators and learners. And ecopedagogia be in the thinking and action of every inhabitant of this still beautiful planeta.Ea ecogestão involve the participation of all groups and entities, public and private, since we are all co-responsible for the fate of this planet Earth. Keywords : Alert. Disaster. Commitment Ecology. Ecopedagogia. Ecogestão.
1 INTRODUÇÃO
Desde que o homem surgiu em nosso planeta, utiliza recursos da natureza
para suprir suas necessidades básicas, como a alimentação, o abrigo e obtenção de
energia. Com certeza vem da satisfação de suas necessidades esta postura
consumista em relação aos recursos naturais que durante séculos eram
considerados infinitos.
O desenvolvimento do ser humano até os dias de hoje, foi muito rápido. Se
a idade do planeta fosse condensada em um ano, a espécie humana teria surgido a
aproximadamente às 23h45min, ou seja, nossa existência é muito curta quando
comparada a outras espécies com as quais dividimos nosso planeta Terra.
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Sabemos que somente com uma forte adesão dos educadores e dos
formadores de opinião, com seu comprometimento é possível fazer surgir uma
cidadania ambiental e um fazer autossustentável.
De pouco adiantam projetos de despoluição e preservação ambiental
estatais, federais, PPP das escolas que ficam apenas no papel se não for
acompanhada com uma ecopedagogia efetiva voltada para a informação-ação do
que é fazer parte de um planeta vivo que é nossa casa, mas que está doente.
A educação ambiental nas escolas é tratada apenas como uma
complementação de carga horária, sem o processo de mudança de conduta; os
discursos, os congressos, conferências nacionais e internacionais não são tratados
com seriedade devida e pouco apresentam e ações concretas.
A degradação ambiental, os crimes ecológicos sãos notícia diárias. Mas o
mesmo não acontece com medidas e até punições exemplares que coíbam e
penalizem estes infratores. E as principais conseqüências destes crimes
ambientais e do aumento da demanda por recursos naturais decorrente do modelo
de desenvolvimento são:
- Redução da biodiversidade;
- Aumento das doenças tropicais;
- Grande uso dos recursos naturais, com a consequente escassez localizada
destes recursos;
- Alta produção de resíduos e baixos níveis de reciclagem.
Somente um pensar e um agir sócio-cósmico poderá solucionar estes
problemas, como afirma Boff (1996 p. 212): “O planeta é a minha casa, a Terra o
meu endereço”. Como posso viver bem nessa casa mal arrumada, malcheirosa,
poluída e doente?
Esta prática somente terá sentido se for fruto de uma caminhada que envolva
todos os atores, formais e informais, pois se todos estiverem comprometidos
poderemos deixar para as futuras gerações um ambiente mais eco pedagógico e
mais eco amoroso.
A nova ferramenta que desponta como forte contribuinte deste processo é a
corrente da ecopedagogia. Ela reforça a ideia de que o planeta Terra é um
organismo vivo. E será através do ensino que se forma a consciência de que os
seres vivos e o planeta dependem um do outro para co-evoluirem e continuarem a
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existir, que o ser humano conseguirá desenvolver uma sociedade planetária, tendo a
responsabilidade e o comprometimento perante todas as formas de vida.
A ecopedagogia foi constituída não apenas para ser aplicada nas escolas,
mas também para ser praticada por todas as instituições e Indivíduos que
pretendem mudar a maneira atual do homem se relacionar com o mundo, e buscar
novas formas de pensar e agir em benefício da coletividade universal. Recuperar o
mundo só é possível com muitas mentes e muitas mãos, muitos rostos e muitas
vozes e principalmente com muita sensibilidade.
2 DESENVOLVIMENTO
Hoje consideramos que é fundamental romper as barreiras e extrapolar os
limites dos paradigmas educacionais. A escola será sim mais uma vez a responsável
para este redirecionamento de nossa postura. A ecopedagogia deverá elaborar
fundamentações científicas e metodológicas com a contribuição dos alunos, dos
professores, das coordenações pedagógicas e direções, juntamente com a mais
variada gama de participantes da sociedade. A partir dessa coesão, será possível o
desenvolvimento de uma postura ambiental séria, aliada à prática cidadã consciente.
Esta é uma das tarefas árduas concedidas à Educação Ambiental: rever
conceitos e valores, despertando nas pessoas a visão crítica da realidade vivenciada
e repensando hábitos de consumo, valores e atitudes, de forma a promover
mudanças cognitivas e comportamentais, em prol da qualidade de vida.
Somos moradores do eikos, da ‘casa Terra’, que é a raiz grega da palavra
ecologia , e devemos nos comportar como se comportam os outros moradores
dessa casa - as plantas, os animais e micro-organismos que constituem a vasta rede
de relações que chamamos de teia da vida .
Essa rede viva global desenvolveu-se, evoluiu e diversificou-se no decorrer
dos últimos bilhões de anos sem jamais se romper. A característica marcante da
‘casa Terra’ é sua capacidade intrínseca de sustentar a vida. Na qualidade de
membros de comunidade global de seres vivos, temos a obrigação de nos comportar
de maneira a não prejudicar essa capacidade intrínseca. Esse é o sentido essência
da sustentabilidade ecológica.
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A comunidade sustentável é feita de tal forma que seus modos de vida, seus
negócios, sua economia, suas estruturas físicas e suas tecnologias não se oponham
à capacidade intrínseca da natureza de sustentar a vida.
A partir do século XIX, a humanidade aumentou sua capacidade de
intervenção e tecnologia evoluiu. A tecnologia utilizada gerou rapidamente
consequências indesejáveis que se agravam com igual rapidez. A exploração dos
recursos não renováveis como o petróleo, ameaça escassear. De onde se retirava
uma árvore, atualmente, retiram-se milhares. Onde moravam poucas famílias por
metros quadrados, consumindo certa quantidade de água e produzindo poucos
detritos, hoje, moram milhões de pessoas, gerando toneladas de lixo ao dia e
necessitando de muito mais água, evidenciando o desequilíbrio provocado e
existente, tendo como consequências desse tipo de ações: a contaminação da água,
o aumento da violência nos centros urbanos, à densidade demográfica, o
esgotamento do solo entre outros.
A questão ambiental transformou-se em uma causa social cidadã que convoca muitos grupos voluntários em nível local, nacional, regional e global, cuja força política conseguiu, por sua vez, interesses a outros atores sociais relevantes, tais como as autoridades locais parlamentares, camponeses, trabalhadores, industriais, jovens e mulheres, entre outros. (GUTIÉRREZ; PRADO, 2002, p. 13).
Perceber a importância da ecologia significa compreender e respeitar nossa
realidade, preservar nosso futuro, vislumbrar a reestruturação dos ecossistemas
através de paradigmas emergentes para uma sociedade sustentável, com cidadãos
conscientes no exercício de suas atribuições cotidianas.
Em toda a história da humanidade, duas revoluções mudaram profundamente
o curso das civilizações que habitaram e habitam o nosso planeta. A primeira foi a
Revolução Agrícola, onde o homem iniciou o cultivo agrícola, alterando a paisagem
dos ecossistemas naturais, ocasionando mudanças sociais, políticas, culturais e
econômicas. Mas foi a partir da Revolução Industrial, que as transformações mais
radicais começaram a surgir, conduzindo a desequilíbrios ambientais e humanos.
A Revolução Industrial, há séculos atrás, trouxe a uma parte da humanidade,
enorme conforto e bem-estar, proporcionado pelos avanços tecnológicos em toas as
áreas, e pela maravilhosa microinformática. Outra parte da população que vive no
mesmo planeta, numa realidade marcada pela miséria e fome. A ausência ou o torpe
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planejamento fez com que este avanço técnico acelerado e voraz, criasse uma
lógica econômica insustentável e caótica, do ponto de vista da maioria dos seres
vivos, que ocorrem e vivem no ambiente terrestre.
Com a retomada da essência da escola (onde se faz o pensar diferente),
preocupando-se com o desenvolvimento dos alunos para sua transformação em
cidadãos críticos e conscientes, com capacidade de reflexão globalizada, a partir de
estudos com Morin, Boff, Gadotti, Freire e outros - a ecopedagogia e a gestão
escolar desenvolvam e processem educacionalmente a promoção de uma discussão
séria, sustentável e possível, com a responsabilidade do bem social da sua vida e da
vida do planeta.
A palavra ECOLOGIA foi criada em 1866 pelo biólogo alemão Ernest Haeckel,
como um ramo da biologia, para designar o estudo das relações existentes entre
todos os sistemas vivos e não vivos entre si e com o seu meio ambiente.
São quatro as grandes vertentes da ecologia, a saber:
- Ecologia ambiental, que se preocupa com o meio ambiente;
- Ecologia social, que insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza
e propugna por um desenvolvimento sustentável;
- Ecologia mental, que estuda o tipo de mentalidade que vigora hoje e que
remonta à vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica;
- Ecologia integral, que parte de uma nova visão da terra sugerida desde os
anos sessenta do século XX quando pôde ser vista de fora.
O caráter ecológico é o reconhecimento de que todos os seres viventes são
independentes e cada forma de vida tem um valor intrínseco, independentemente de
sua utilidade aos seres humanos.
A ecologia é a ciência da atualidade. É através dela que podemos nos
conscientizar de nossa dependência do meio.
Toda a esperança de melhorar as relações entre os homens não pode ser considerada como previsível, mas, de outro modo, há imensas possibilidades de avanço, mesmo porque ainda nos encontramos na idade de ferro planetária e na pré-história do espírito humano. (MORIN, 2003, p.18).
Afirma Morin (2003) que as transformações artificiais criadas pelo homem
tornam-se cada vez mais rápidas e violentas. Derrubar, hoje, uma floresta é tarefa
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relativamente fácil. A elaboração natural de milhares de anos pode ser destruída em
pouco tempo. Os oceanos
Estão sendo rapidamente poluídos, a atmosfera acusa índices elevados de
contaminações, a camada de ozônio, que nos protege do excesso de energia solar,
já registra transformações causadas por poluentes. Diante de tudo isso, o que farão
os seres vivos, inclusive, é evidente, o que será dos seres humanos?
Se seres vivos dependem uns dos outros no meio ambiente, esta premissa é
a mais óbvia e evidente, porém de maior complexidade. Isto é, a vida animal e
vegetal se realiza e se desenvolvem na Terra de forma a oferecer condições à
existência dos seres vivos, formando o meio ambiente. Diversos são os fatores
necessários para que isso ocorra: água, ar, seres vegetais e animais, elementos
minerais e clima. Não existe um ser vivo que seja independente, isto é, que possa
viver por si só. Os seres vivos dependem uns dos outros.
Somente conciliando progresso com preservação da natureza é que
poderemos manter a continuidade da vida. E de início, melhorar o padrão de
qualidade do meio ambiente, que pode ser considerado desumano já em grande
parte do planeta. A ecologia pode ser considerada, portanto, a ciência da
sobrevivência.
A qualidade de vida, expressão tão manuseada e desvirtuada nos dias de
hoje, é proporcional à proximidade com a natureza e seu desfrutar. Para qualificar a
vida é essencial reaprender a desfrutá-la, gozá-la e a realizar-nos nessa diversão,
desfrute e prazer.
A cultura de sustentabilidade tem de levar-nos, a saber, selecionar em nossas
próprias vidas o que realmente é sustentável do que não é. Nesse sentido, será
preciso que consigamos vibrar no ritmo da vida, para sentir nossa própria vida em
contágio com a vida dos outros seres. Só assim seremos cúmplices nos processos
de promoção de vida. Criar vida é, portanto, criar a cultura de sustentabilidade.
A nossa maior preocupação como docentes deve ser no sentido de que nossa
ação determina educar ou desumanizar. Deixamos-nos invadir excessivamente
pelas exigências externas de nosso trabalho, isto é, o cumprimento de normas de
diferentes tipos, sem viver intensamente o papel de educador com a
heterogeneidade que a sociedade nos apresenta a todo o momento.
Quantas vezes nos perguntamos, qual o diferencial de nosso trabalho com
determinada turma? Ou futuramente você lembrará de meu exemplo e se o seguir
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com certeza terá um cantinho mais orgânico, mais saudável, mais completo, mais
harmônico?
São tantas banalidades, até de projetos mirabolantes, inacessíveis,
principalmente aqueles que fazem parte dos palanques em época eleitoral, que
infelizmente, muitos, docentes ou não, preferem manterem-se analfabetos ou
omissos politicamente, talvez por ingenuidade, covardia ou egoísmo, desculpam- se
ou condenando- se por uma falta de consciência e planejamento individual e
coletivo. E a educação começa por todo ou qualquer ato comprometedor ou
comprometido, e o meio ambiente é o nosso presente divino que deve ser cuidado,
conhecido e aprendido desde os primeiros passos, em toda situação que se
apresente.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de janeiro, de 03 a 14 de junho de 1 992, foi um
evento paralelo do Fórum Mundial 92. Neste momento foi aprovada a Declaração do
Rio, também chamada de Carta da Terra. Esta Carta constitui-se numa Declaração
de Princípios para orientar a questão do meio ambiente e do desenvolvimento. Este
evento ficou conhecido como ECO-92. E para dar sustentabilidade a estas ideias,
nasceu a ECOPEDAGOGIA.
A Ecopedagogia é um movimento pedagógico ou também como uma
abordagem curricular.
Muitos autores confirmam a necessidade de articulação de todos, com sua
conscientização que somos cidadãos do mundo e aprendendo a conviver com a
natureza e reavaliando cotidianamente a postura diante da vida. Por estas razões,
pela necessidade de despertar para uma nova consciência e de romper barreiras e
extrapolar os limites dos paradigmas educacionais, faz-se necessária uma
ECOPEDAGOGIA, ou seja, que haja um planejamento, uma metodologia, objetivos
bem claros, um programa, um tratamento interdisciplinar de forma articulada,
instrumentalizada, um acompanhamento e um feedback. Enfim, se constituam num
processo contínuo e permanente, abrangendo a todos os segmentos, tanto escolar
quanto comunitário, envolvendo também entretenimento, socialização, práticas
esportivas, trabalho voluntário, para que haja uma eficiência, pois do contrário,
podemos andar por iniciativas que até desvirtuem e agravem mais os problemas.
Como movimento pedagógico, a Ecopedagogia é um movimento social e
político, pois no interior da sociedade civil e nas organizações populares por meio de
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educação que se preocupam com o meio ambiente, podemos mudar o pensar e o
agir de muitos. Entram também as ONGs que vêm se movimentando na busca de
uma pedagogia do desenvolvimento sustentável, pois é uma ação pedagógica
efetiva sem a qual de nada adiantam projetos grandiosos de preservação do meio
ambiente.
A ecopedagogia como abordagem curricular, implica numa reorientação dos
currículos escolares para incorporem certos princípios defendidos pelo movimento
pedagógico. Os conteúdos curriculares têm que ser significativos para o aluno e
somente serão significativos se forem para a saúde do planeta. Neste sentido, a
ecopedagogia também serve para influenciar a estrutura e o funcionamento dos
sistemas de ensino. Ela impõe uma nova forma de governabilidade diante da
ingovernabilidade e do gigantismo dos atuais sistemas de ensino.
Defende-se a ideia de que a ecopedagogia é uma pedagogia da educação
multicultural. Ela não pode se dirigir apenas aos educadores, mas aos habitantes de
Terra. Hoje, as crianças escolarizadas é que levam para os adultos em casa a
preocupação com o meio ambiente. Assim, pode-se afirmar que a ecopedagogia
está ligada ao projeto de desenvolvimento sustentável, onde se pretende mudar as
relações humanas e os direitos da Terra.
Os princípios norteadores da ecopedagogia são:
a- a compreensão dos problemas de nossa época de forma sistêmica, o que
significa estarem interligados e interdependentes;
b- o reconhecimento que é necessária uma profunda mudança de percepção
e de pensamento para garantir a sobrevivência da Terra;
c- o entendimento de que as únicas soluções viáveis para os problemas
sistêmicos são soluções “sustentáveis”, isto é, ambientes sociais e culturais onde se
possam satisfazer as necessidades e aspirações sem reduzir as chances das
gerações futuras;
d- a visão de “ecologia profunda” que não separa seres humanos ou
quaisquer outros seres, do meio natural, reconhecendo o valor intrínseco de todos
os seres vivos e concebendo o homem apenas com um fio particular na “teia da
vida” (CAPRA, 1996, p. 23);
e- a ecologia social que analisa diferentes padrões de denominação social
tais como: o patriarcado, o imperialismo, o capitalismo e o racismo, exemplos de
dominação exploradora e antiecológica;
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f- a percepção de que as relações sociais entre homens e mulheres
representam uma das fontes principais de uma visão ecológica da realidade, visto
que a exploração da natureza tem caminhado
g- paralelamente com a da mulher, sob todas as formas: hierárquica,
militarista,capitalista e industrialista;
h- a nova percepção da realidade requer não apenas uma expansão de
maneiras de pensar, mas também de valores autoafirmativos - competição,
progresso, dominação - para valores integrativos, como a cooperação, conservação
e parceria.
A ecopedagogia, ao longo de toda a formação desde a Educação Infantil e
Ensino Fundamental propões-se a:
- desenvolver uma consciência ecológica ambiental, visando à qualidade de
vida, à preservação das espécies em extinção e à permanente renovação do
equilíbrio dinâmico, privilegiando soluções técnicas que possam corrigir excessos da
sociedade industrialista mundial;
- desenvolver uma consciência ecológica social que atenda às carências
básicas dos seres humanos de hoje, sem sacrificar o capital natural da Terra;
- desenvolver uma ecologia mental voltada para a sinergia e a benevolência
em todas as relações sociais, comunitárias e pessoais, favorecendo a recuperação
do respeito para todos os seres, principalmente os vivos;
- desenvolver a consciência da ecologia integral na quais todos os seres
humanos e o planeta Terra emergem como uma única entidade, numa totalidade
orgânica, dinâmica, diversa, tensa e harmônica.
A ecopedagogia está sustentada nos fundamentos epistemológicos as
Ciências da Vida e, portanto, tem os seus pressupostos teóricos alinhados em torna
da ênfase na vida e nos valores ecocêntricos (centrados na Terra). Trata-se,
portanto, de uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da vida-não
humana.
Assim, todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas
umas às outras, numa rede de interdependências. Quando essa percepção
ecológica profunda se torna parte da consciência cotidiana do ser humano, emerge
um sistema de ética radicalmente nova.
Desse modo, a ética constitui a base e a força motriz da ciência e da
tecnologia, a fim de que o homem atue no sentido de promover e preservar a vida.
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Também constitui pressuposto teórico da disciplina de ecopedagogia, o fato
de que a sobrevivência da humanidade dependerá de sua alfabetização ecológica,
isto é, da capacidade de entender os princípios básicos da ecologia -
interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade e, como
consequência de todos esses, a sustentabilidade, de acordo com Capra (1996).
Nosso futuro comum depende de nossa capacidade de entender hoje a
situação dramática na qual se encontra o nosso planeta Terra, devido à deterioração
do meio ambiente. Isto requer a formação de uma nova consciência planetária.
Como dizem Gutiérrez e Prado (2002) existem duas pedagogias opostas que são: a
pedagogia da proclamação que não dá ênfase aos interlocutores enquanto
protagonistas do processo. Por outro lado, a pedagogia da demanda porque parte
dos protagonistas e busca em primeira instância, a satisfação das necessidades não
satisfeitas, desencadeando um processo imprevisível, gestor de iniciativas,
propostas e soluções.
Os valores que devem sustentar a ecopedagogia são: sacralidade,
diversidade e interdependência com a vida; preocupação comum da humanidade em
viver com todos os seres do planeta; respeito aos direitos humanos,
desenvolvimento sustentável, justiça, equidade e comunidade; prevenção dos danos
causados. Neste sentido, todo homem e toda a mulher é um educador e uma
educadora, pois todos são protagonistas em cuidar do planeta Terra.
Portanto, qualquer pedagogia pensada fora da globalização e do movimento
ecológico tem sérios problemas de contextualização. O Estado pode e deve fazer
muito mais para a educação ambiental. Todavia, sem a participação da sociedade
civil e de uma formação comunitária para a cidadania ambiental, a ação do Estado
também será limitada. A ecopedagogia não quer oferecer apenas uma nova visão da
realidade social do ecossistema, mas dar um novo sentido reeducativo no olhar e na
leitura dessa realidade.
O papel do professor na educação ambiental é co-participar de atividades
partilhadas, ajudar aos educandos a verem, compreenderem a realidade, expressar
a realidade e expressarem-se, descobrir, assumir a responsabilidade de ser
elemento de mudança na realidade. E da escola o papel é o de iniciar os discentes
na experiência da reflexão e da ação em equipe, dando instrumentos para a análise
da realidade, para sua expressão e criatividade, fazendo e cooperando com a
aprendizagem. O aluno dessa forma cresce, no tempo e nas circunstâncias em que
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vive, chegando verdadeiramente a ser verdadeiramente homem, isto é: indivíduo
capaz de criar e transformar a realidade, em comunhão com seus semelhantes.
Quando nos damos conta que estamos vivendo em uma sociedade cujos
valores estão em crise, cujas relações sociais são injustas, onde muitos sofrem em
condições de exploração e poucos participam do poder, percebemos que a
necessidade da instauração da justiça social passa, necessariamente, pela
construção de uma sociedade nova.
Se idealizamos uma sociedade mais ética, mais humana, mais solidária e
mais justa, precisamos de uma escola que se preocupe com as questões ligadas à
política, que contribua na construção de cidadãos (e não apenas de consumidores),
capazes de julgar a realidade e interferir nela de forma crítica e consciente.
Todas as instituições que têm como ideal participar de forma efetiva na
construção deste modelo novo de sociedade precisam, necessariamente, do
planejamento é da percepção, da consciência por parte do sujeito da necessidade
de mudar.
Planejar é importante: servir de suporte para o encaminhamento das
mudanças que se fazem necessário; ajudar a concretizar aquilo que se almeja e, em
certa medida, criar, para nós, as possibilidades de interferir na realidade.
Para a Educação ecopedagógica são necessárias metas básicas de plano e,
mais especificamente, poder interagir com exemplos, no dia a dia, contribuindo no
sentido de dar maior clareza, firmeza e precisão à ação daqueles que tem a
responsabilidade de coordenar trabalhos de planejamento.
É preciso, entretanto, que o pensamento e ação não fiquem aprisionados.
Seguir mecanicamente um programa não nos garante a eficiência nem a eficácia do
planejamento. É necessário estar atento às circunstâncias, aos novos estímulos e
problemas que vão surgindo, a fim de adequar tecnicamente às necessidades do
grupo e da instituição que planeja.
Um desafio de todos será sempre aperfeiçoar as atividades pedagógicas,
refletindo sobre as preparações e resultados. Este componente aproximará escola-
comunidade, construindo um forte relacionamento entre ecologia e gestão escolar,
entre nós e com toda a biodiversidade.
A ecopedagogia só terá futuro se o homem manifestar por ela um pouco de
amor, simplesmente pela magnitude da natureza, porque se precisa dela. A natureza
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só podia ser salva mesmo, pelo nosso coração. O homem tem razões objetivas
suficientes para se dedicar à salvação da Terra.
É no compromisso da humanidade mais ética, que se acredita mergulhar na
compreensão da democracia como valor universal, da ecopedagogia como fonte
continuadora da vida, da transdimensional do próprio espírito e, logo, da emoção.
Princípios ainda que se encharcam e sublinham as mudanças de valores, as
reconquistas ecológicas e tecnológicas, a reorganização político-econômica das
estruturas sociais, (re)mapeando, da mesma forma, a existência.
Viver, sentir e fazer educação popular é balizar a interação que abre dos não-
possíveis para os novos possíveis erros e acertos, dos avanços e recuos que os
educadores assumem acerca das relações que constituem o resgate da ética, na
certeza de que a mudança é inevitável e pessoal.
É chegada a hora, de reaprender a perguntar, compreender que pensar é ato
político e que a consciência é parte de um processo maior, mais coerente, conciso,
humanitário.
Através da Ecopedagogia, podem-se refazer o mundo com muitas mãos,
muitos rostos e vozes, preservando e respeitando tradições e descobertas - tão
construtivas possam ser com o crescimento, com o desenvolvimento e com a
perpetuação de todas as espécies planetária, - participando, da mesma forma, com
esperança e alegria da reconstrução de um ambiente pacífico e harmonioso.
A ecopedagogia não se trata de um sonho; a ecopedagogia é a pedagogia da
sustentabilidade, é a alternativa viável, capaz de suprir com eficiência e ética, as
necessidades futuras.
É um desafio de remodelar e promover uma ciência sustentável. São próprias
do processo educativo, devendo procurar sempre a construção de um presente
capaz de projetar um futuro melhor.
A ecopedagogia é a mediação pedagógica entre a cidadania ambiental e a
cultura de sustentabilidade, e será necessariamente o resultado do fazer pedagógico
que conjugue a aprendizagem a partir da vida cotidiana.
A ecopedagogia é a pedagogia da promoção como aprendizagem
permanente, de um fazer de caminhos que a ela conduzam construídos e refeitos no
dia a dia e continuamente. Para a pedagogia da sustentabilidade, a ecopedagogia,
torna-se possível, dentro do patamar de uma educação concebida como
participação, criatividade, expressividade e relacionalidade.
MOLON, N. R. Ecopedagogia - uma nova ética ambiental. RGSN - Revista Gestão, Sustentabilidade e Negócios , Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 92-106, jun. 2016.
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De pouco nos servirão os modelos e normas preestabelecidos se não tivermos a valentia de readequá-los às exigências da nova realidade. Os procedimentos, indicadores e instrumentos pedagógicos requeridos pela cidadania ambiental têm que ser criados e recriados dia a dia, conforme as exigências da cultura de sustentabilidade. (GUTIÉRREZ; PRADO, 2002, p.61).
Sem a garantia da adequação, da urgência e de um procedimento plausível, o
homem se cansará e breve deixará de caminhar. Além de conscientizar-se, é
preciso capacidade de indagar, de observar, de ressignificar o que faz de sua
realidade.
A educação que não passa pela constante e rica participação de todos,
gestores, educandos e comunidade, está predestinada ao fracasso pedagógico, pois
estará embasada em uma pedagogia repressora, que vem em oposição à
ecopedagogia, que é uma pedagogia que ultrapassa barreiras, informa, torna seus
participantes protagonistas do processo de mudança planetária e educativa.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ecopedagogia, ou a pedagogia da Terra, traz à tona um espaço de utopia
que o império da razão do homem ocidental nos roubou. Ao privilegiar a razão sobre
a emoção, a ética burguesa e capitalista passou a ignorar a ética holística do mundo
e a harmonia entre ciência tecnológica, na ânsia consumista e utilitarista. Esqueceu-
se da gratuidade, da afetividade, do prazer do lazer e da arte de viver e conviver, e
hoje precisamos retomar o processo de humanização, impregnando de um novo
sentido a nova forma de viver.
O sentido da sustentabilidade que originou a Ecopedagogia, já contém a
palavra utopia planetária como um novo mundo ético, social e com cidadania
planetária, nos envolvendo a todos e com todas as formas de vida, com
sustentabilidade e emoção que praticamente já não existem.
A ideia de utopia aparece na Carta da Terra e nas muitas agendas regionais
elaboradas, buscando uma sociedade mais justa, igualitária, menos agressiva às
pessoas e ao meio ambiente, buscando a reintegração do homem à natureza,
fluindo a harmonia universal e com o retorno da intuição, da afetividade e da
sensibilidade.
MOLON, N. R. Ecopedagogia - uma nova ética ambiental. RGSN - Revista Gestão, Sustentabilidade e Negócios , Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 92-106, jun. 2016.
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Cabe à educação e a nós educadores, colaborar fortemente para romper com
a visão mal entendida da passagem “crescei e multiplicai-vos” que lemos no Gênesis
da Bíblia, e buscar servir sob a forma de outro paradigma, o da convivência, da
harmonia e buscar a sustentabilidade de todas as forças e formas de vida, numa
interdependência, numa nova forma de viver e estar neste mundo.
REFERÊNCIAS BOFF, Leonardo. Ecologia : grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1996. . BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda 21 . Disponível em: <www.mma.gov.br>. Acesso em: 18 jan. 2015. CAPRA, Fritjof. A teia da vida . São Paulo: Cultrix/Amana-key, 1996. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra . São Paulo: Petrópolis, 2000. GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária . São Paulo: Cortez, 2002. GUTIÉRREZ, Francisco; PRIETO, Daniel. La mediación pedagógica para la educación popular . Costa Rica: RNTC, 1994. MORIN, Edgar. Planeta : a aventura desconhecida. São Paulo: UNESP, 2003.