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UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ
LEANDRO WISNIEWSKI POPPI
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS REDES DE CERCO EMPREGADAS PELA FROTA
INDUSTRIAL DE ITAJAÍ, SC
Itajaí
2012
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LEANDRO WISNIEWSKI POPPI
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS REDES DE CERCO EMPREGADAS PELA FROTA
INDUSTRIAL DE ITAJAÍ, SC
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Oceanógrafo, na
Universidade do Vale de Itajaí, Centro de Ciências
Tecnológicas da Terra e do Mar.
Orientador: Prof. Msc. Roberto Wahrlich
Itajaí
2012
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RESUMO
A frota pesqueira atuante na Zona Econômica Exclusiva brasileira é composta por um
conjunto de embarcações com características bastante variadas. A rede de cerco é uma
grande rede utilizada para cercar cardumes de peixes e se dedica principalmente à
captura de sardinhas. Com as inovações tecnológicas nos petrechos de pesca as redes
foram sendo modificadas. O objetivo do trabalho foi analisar informações sobre a
montagem de redes de cerco, analisar as variações tecnológicas na estrutura das redes e
se as características das embarcações influenciam no tamanho das redes. As
informações foram cedidas por um redeiro de Itajaí e pelo Grupo de Estudos Pesqueiros
da Universidade do Vale de Itajaí. Entre 1993 e 2011, as 253 redes montadas pelo
redeiro mediram em média 832 metros de comprimento, foi verificado que os tamanhos
das embarcações tem pouca influência nos tamanhos das redes. Foram identificados
três tipos de redes onde a diferença foi o tipo de pano utilizado no corpo, sendo as redes
de sardinha com malha 12 mm, as redes de bonito, também conhecidas por redeiros e
pescadores como rede “laça” com malha 25mm, e redes mistas utilizando faixas de
malha 25mm na parte inferior do corpo da rede. As redes com malha 25mm foram
utilizadas principalmente para captura de tainhas e anchovas.
Palavras-chave: Redes, cerco, Santa Catarina.
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO............................................................................................................9
2. OBJETIVOS..............................................................................................................15
2.1 Objetivo geral............................................................................................................15
2.2 Objetivos específicos.................................................................................................15
3. MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................16
3.1 A escolha do redeiro..................................................................................................16
3.2 Tipo e informações fornecidos pelo redeiro..............................................................16
3.3 Acompanhamento da construção de uma rede de cerco............................................17
3.4 Levantamento dos custos de construção....................................................................19
3.5 Os tipos de redes e suas capturas...............................................................................20
3.5.1 Identificação do tipo de rede de cerco utilizada pela frota de Itajaí.......................20
3.6 Análise de dados........................................................................................................20
3.6.1 Análise de correlações............................................................................................20
3.6.2 Correlação entre características das redes e embarcações......................................21
3.6.3 Frequência de uso das redes de Bonito...................................................................22
3.6.4 Comparação entre as principais espécies capturadas por tipo de rede...................22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................23
4.1 Construção de uma rede de cerco..............................................................................23
4.1.1 Estrutura da oficina.................................................................................................23
4.1.2 Materiais para montagem de redes de cerco...........................................................24
4.1.3 Etapas da construção .............................................................................................26
4.1.4 Montagem dos panos..............................................................................................28
4.1.5 Montagem das tralhas.............................................................................................28
4.2 Custos........................................................................................................................32
4.2.1 Mão de obra............................................................................................................32
4.2.2 Matéria prima.........................................................................................................32
4.3 Dimensões das redes.................................................................................................35
4.4 Relação entre as características das embarcações.....................................................39
4.5 Relação entre o comprimento das redes com características das embarcações.........40
4.6 Os tipos de rede.........................................................................................................42
4.7 Influências do tipo de rede na composição das capturas...........................................44
5. CONCLUSÃO............................................................................................................49
5
6. REFERÊNCIAS.........................................................................................................50
7. ANEXOS.....................................................................................................................52
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Embarcação Kowalski IV com 22,5 metros. Foto: Kowalski..........................10
Figura 2: Rede de cerco em operação, o destaque em vermelho representa a
carregadeira.....................................................................................................................11
Figura 3: Ilustração das partes da rede, o corpo (em azul), o sacador (em vermelho), pré-
sacador (em amarelo), calço inferior (em verde), cuba (em preto), o calço superior (em
cinza)...............................................................................................................................13
Figura 4: Agulhas utilizadas para perfiar panos de redes de cerco.................................23
Figura 5: Cavaletes utilizados para suspender e apoiar panos durante a perfiação.........23
Figura 6: fluxograma do processo de montagem de uma rede de cerco..........................27
Figura 7: Equipe movimentando a rede...........................................................................28
Figura 8: Primeira parte da rede concluída......................................................................28
Figura 9: Exemplo de tralha superior simples utilizada em redes de cerco....................29
Figura 10: Exemplo de tralha superior dupla utilizada em redes de cerco......................29
Figura 11: Nós de encalas feitos no cabo da tralha superior...........................................30
Figura 12: Cabos com nós de encala utilizados na tralha superior..................................30
Figura 13: União dos cabos e flutuadores da tralha superior..........................................30
Figura 14: União da tralha superior a rede......................................................................30
Figura 15: Cabo com chumbos e a rede sendo entralhada na tralha inferior...................31
Figura 16: Exemplo de um chumbo por encala...............................................................31
Figura 17: Sub-tralha inferior onde ata os estopos das anilhas.......................................32
Figura 18: Entralhamento da sub-tralha..........................................................................32
Figura 19: Custos de montagem de uma rede de cerco em Itajaí, SC.............................34
Figura 20: Comprimento das redes registradas entre 1993 e 2011..................................35
Figura 21: Média e desvio padrão dos comprimentos das redes entre 1993 a 2011.......35
Figura 22: Frequência de ocorrência de comprimentos das redes...................................36
Figura 23: Correlação entre comprimento e número de panos........................................36
Figura 24: Correlação da média dos comprimentos com o número de panos no
comprimento...................................................................................................................37
Figura 25: Correlação entre comprimento e número de panos na altura da rede............37
Figura 26: Correlação da média dos comprimentos com o número médio de panos na
altura................................................................................................................................38
Figura 27: Correlação entre arqueação bruta e potência do motor (HP).........................39
7
Figura 28: Correlação entre comprimento e potência do motor (HP).............................40
Figura 29: Correlação entre arqueação bruta e comprimento da embarcação (m)..........40
Figura 30: Correlação entre potência do motor (HP) e comprimento da rede (m)..........41
Figura 31: Correlação entre arqueação bruta e comprimento da rede.............................41
Figura 32: Correlação comprimento da embarcação e comprimento da rede.................41
Figura 33: Porcentagem de panos de malha 210/24-25 utilizados em redes de cerco de
Itajaí, SC..........................................................................................................................43
Figura 34: Porcentagem de desembarques por tipo de rede entre 2001 a 2011..............44
Figura 35: Número de registros de viagens utilizando rede laça entre os anos de 2001 e
2011.................................................................................................................................45
Figura 36: Número de viagens de pesca utilizando redes de bonito por estação do ano,
entre 2007 a 2011............................................................................................................45
Figura 37: Número de viagens utilizando rede de bonito por mês entre 2001 e 2011....46
Figura 38: Frequência de captura das redes de bonito....................................................46
Figura 39: Comparação entre a frequência de captura das redes de bonito e de
sardinha............................................................................................................................47
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Registros com o comprimento em braça de cada segmento da rede...............17
Tabela 2: Panos de fio multifilamento, Nailon (PA) sem nós.........................................24
Tabela 3: Panos de fio multifilamento, Nailon (PA) com nós.........................................25
Tabela 4: Materiais utilizados na confecção da rede de cerco do tipo laça 15x12..........26
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1. INTRODUÇÃO
A pesca é uma das atividades mais antigas praticadas no Brasil. A costa
brasileira é caracterizada por um extenso território, com aproximadamente 8.000 km e
uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) com cerca de 3,5 milhões de km2, onde uma
grande diversidade de peixes e outros recursos marinhos são explorados. A frota
pesqueira atuante na Zona Econômica Exclusiva brasileira é composta por um conjunto
de embarcações com características bastante variadas, em função da área de atuação,
modalidade de pesca e espécie-alvo (MMA, 2006).
Um tipo característico de embarcação nas regiões Sudeste e Sul do Brasil é a
traineira, assim chamada em função do tipo de rede utilizada, também chamada de
traineira. Esse tipo de rede se destina a cercar cardumes que estão na superfície, à meia-
água ou próximo ao fundo, dependendo da sua altura e da profundidade do local. A
captura ocorre após o fechamento da parte inferior da rede formando uma grande bolsa.
A tecnologia de traineira foi introduzida no Brasil por pescadores imigrantes
espanhóis e portugueses, que se estabeleceram no Rio de Janeiro em fins do século
XIX. Foi por volta de 1910 que pescadores espanhóis introduziram a “traina” para a
pesca da sardinha. Essa rede era muito empregada na costa norte da Espanha e também
na França. O primeiro pescador a utilizá-la trouxe-a pronta da Espanha, e, diante do
sucesso por ele alcançado, muitos outros o imitaram encomendando pano naquele país
para confecção da rede (BERNARDES, 1958 apud, DIEGUES, 1983).
O aparecimento das traineiras na região Sudeste coincidiu com o inicio da pesca
embarcada no Brasil e significou um rompimento gradual com a pesca de pequena
escala. Este rompimento se tornou mais marcante na década de 1930, quando as
embarcações passaram a abastecer as indústrias de conserva de sardinha
(BERNARDES, 1958 apud, DIEGUES, 1983).
A presença de grandes cardumes de sardinhas no Sul e, sobretudo a
disponibilidade de pescadores, que podiam ingressar como tripulantes fizeram com que
as traineiras do Rio de Janeiro e de Santos começassem a frequentar Santa Catarina.
(DIEGUES, 1983).
10
A frota industrial de cerco foi composta e estruturada tendo a Sardinha-
verdadeira como espécie-alvo, em função de seu volume de produção (VALENTINI;
CARDOSO, 1991, apud CERGOLE, 2011). Mas, espécies como a cavalinha, xixarro,
palombeta, galo, sardinha-lage e tainha também são importantes nesta modalidade
(UNIVALI, 2011).
Como aspectos marcantes da evolução tecnológica da pesca industrial de cerco
podem ser citados: a) inicialmente as redes eram confeccionadas com fios de algodão e
foram substituídas por panagens de Náilon multifilamentoso b) a partir de 1970 a
utilização do Power-block tornou-se popular (OGAWA, 1987); c) no final da década de
1980 foram incorporados ecossonda e sonar de vídeo colorido na maioria das
embarcações de Santa Catarina (BARCELLOS, 1991).
As embarcações são estruturadas de acordo com a espécie-alvo e modalidade de
pesca, raramente uma embarcação executa outra modalidade sem que façam
modificações nos equipamentos ou no layout da embarcação. A traineira tem como
características principais a embarcação auxiliar (panga) e a rede localizada na popa, o
carretel para a carregadeira e o Power-block (Figura 1). Em tese, embarcações maiores
podem operar redes maiores.
Pode-se assumir que aproximadamente 100% da frota que desembarca em Itajaí
está provida de equipamentos eletrônicos (ecossonda e sonar) para a detecção de
cardumes, fato que se revela importante pois em 80% das viagens é necessário procurar
os cardumes (SHWINGEL, P.R. & D. S. OCCHIALINI, 2003).
Figura 1: Embarcação Kowalski IV com 22,5 metros. Foto: Kowalski.
11
Na operação de pesca, o barco transporta a rede junto à popa e o barco auxiliar
(panga) embarcado sobre a rede. Localizado o cardume, a panga é lançada ao mar com
um pescador, mantendo consigo uma das extremidades da rede (cuba de proa). O barco
realiza um círculo completo em torno do cardume, soltando a rede na água. Terminado
o cerco a panga passa para o barco a ponta da rede e inicia seu fechamento por baixo,
com o recolhimento da carregadeira (GAMBA, 1994).
O sistema de fechamento de uma rede é feito pelo conjunto de um cabo chamado
de carregadeira (Figura 2) e anilhas por onde passa a carregadeira. As anilhas são anéis
de metal e estão dispostas no extremo inferior da rede, sendo responsáveis pela
condução da carregadeira.
Figura 2: Rede de cerco em operação, o destaque em vermelho representa a
carregadeira. Fonte: www.itsaspreben.com.
Posteriormente a seu fechamento a rede é recolhida para bordo por uma das
extremidades, por intermédio do Power-block, diminuindo gradativamente o volume
cercado, até ficar somente o sacador na água, de onde os peixes são trazidos para bordo
por meio de um sarico (GAMBA, 1994). O fechamento da rede pela carregadeira é uma
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operação que pode levar 45 minutos, o que pode ser considerado um fechamento lento
(OGAWA, 1987).
A rede de cerco apresenta formato retangular com comprimento sempre maior
que sua altura, a medida mais utilizada pelos redeiros é o número de panos no
comprimento e número de panos na altura (ex. 15x10). É dividida em diferentes partes
devido às características dos panos. Em geral, as partes da rede são: o corpo, o sacador,
pré-sacador, calço inferior, cuba, o calço superior (Figura 3), tralha superior e inferior.
Figura 3: Ilustração das partes da rede, o corpo (em azul), o sacador (em vermelho), pré-
sacador (em amarelo), calço inferior (em verde), cuba (em preto), o calço superior (em
cinza).
A tralha superior é o cabo onde são inseridos os flutuadores e unido os panos do
corpo da rede. As tralhas em geral são cabos de PA ou PP e os flutuadores são
preferencialmente cilíndricos, colocados muito próximos uns dos outros, normalmente
em maiores quantidades junto ao sacador, para sustentar a rede na superfície e com uma
reserva de flutuabilidade de 2,5 a 3 vezes maior que seu peso na água (GAMBA, 1994).
Na tralha inferior se utiliza aproximadamente 1.000 Kg de chumbo, e é de onde
partem inúmeros estropos (cabos secundários) em espaços regulares, tendo nas
extremidades as anilhas, utiliza-se aproximadamente de 60 a 70 (GAMBA, 1994).
O calço superior consiste em uma panagem estreita, com 20 a 30 malhas de
altura, localizada entre tralha de bóias e o corpo da rede que serve de reforço devido o
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atrito dos flutuadores com a panagem, que é conhecida como calço de bóias. Da mesma
forma, junto a tralha do chumbo existe o calço do chumbo, que tem a função de evitar e
reduzir o desgaste provocado pelo atrito com as chumbadas ou com o fundo do local de
pesca (GAMBA, 1994).
Na parte central do calço inferior, entre a tralha inferior e o corpo da rede, é
fixado um cabo que se estende de ponta a ponta da rede, chamado de sub-tralha. Na sub-
tralha são fixados os estropos das anilhas enquanto que a tralha inferior leva apenas as
chumbadas que trabalham livremente, visando evitar que a rede fique presa quando em
contato com o fundo (GAMBA, 1994).
Em uma das extremidades fica localizado o sacador ou matador junto a cuba de
proa, que é o local onde vai se acumular o pescado quando a rede é recolhida. Esta
seção da rede é confeccionada com fio mais resistente para suportar o peso da captura.
A seção localizada abaixo do sacador é denominada pré-sacador, que também é tecido
com fio de maior diâmetro, uma vez que quando é capturado grandes cardumes, parte
do peixe fica nele acumulado (GAMBA, 1994).
Devido ao formato retangular a rede possui somente duas dimensões:
comprimento e altura. O comprimento total é medido pelo comprimento da tralha
superior da rede, pois é o cabo onde são entralhados os panos, limitando o comprimento
e determinando o raio de operação da rede.
As malhas utilizadas em redes de cerco devem ser pequenas o suficiente para
evitar o emalhe do peixe capturado, permitindo livre deslocamento do peixe no interior
da rede. Por outro lado, além de se utilizar panos sem nós, deve-se procurar usar
malhas maiores possíveis, visando diminuir o peso e o volume da rede e aumentar seu
poder de imersão pela redução da resistência hidrodinâmica.
Os cabos são amplamente utilizados nas operações de pesca, como também são
imprescindíveis na montagem de redes. Os mais utilizados são sintéticos, combinados e
de aço. As fibras mais empregadas na confecção de cabos são: PA – poliamida, PE –
Polietileno, PP – Polipropileno e PES – Poliéster. Estes cabos são recomendados pela
alta resistência a ruptura, elasticidade e durabilidade. As desvantagens são a
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deformação por cargas pesadas em tempo prolongado e a baixa resistência à abrasão
(GAMBA, 1994).
Os cabos podem ser comercializados por peso, por rolo ou por metro. Na rede de
cerco os cabos são utilizados principalmente na construção das tralhas. A tralha superior
é um cabo onde são fixados os flutuadores, enquanto que na tralha inferior são
colocadas chumbadas como lastros.
Geralmente, quando se une dois panos no sentido longitudinal da panagem, se
junta as duas últimas malhas de suas bordas por meio de um perfil, cuja operação é
denominada de perfiar. A operação para unir a panagem superior com a inferior do
corpo das redes se chama encabeçar. O entralhe é a operação de unir as panagens às
tralhas.
Do tipo de entralhe resulta a abertura que se deseja dar as malhas da rede, em
função da maior ou menor metragem de panagem a ser presa a um determinado
comprimento de tralha. No entralhe, as malhas são fixadas às tralhas através de um nó
chamado encala. O número de malhas em cada encala e a bitola destas determina a
matação do pano e conseqüentemente a porcentagem de panagem em relação ao cabo a
servir de tralha (GAMBA, 1994). A matação mais utilizada é de 25% na tralha inferior e
30% na tralha superior (OGAWA, 1987).
O presente trabalho visa descrever as redes traineiras empregadas pela frota
industrial, evidenciando aspectos de sua construção e operação.
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Caracterizar e analisar as redes de cerco utilizadas pela frota industrial de
traineiras sediada em Itajaí e Navegantes, SC.
2.2 Objetivos específicos
Descrever a construção e os custos da produção de uma rede de cerco;
Caracterizar os tipos de redes utilizadas na pesca industrial de cerco;
Correlacionar os tamanhos de rede com as características físicas das
embarcações da frota catarinense;
Avaliar a influência das características da rede empregada na composição dos
desembarques registrados em Santa Catarina.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 A escolha do redeiro
Em 2008 foram identificados 6 redeiros atuantes na construção de redes de
cerco para a pesca industrial em Itajaí e Navegantes (CORREIA, 2008). O redeiro
Nestor Fernando da Silva, de Itajaí, foi escolhido para colaborar, pois trabalha com
redes de cerco há mais de 20 anos. Atualmente possui um galpão na Rua Deocrácio
Oliveira, no Bairro Dom Bosco, onde realiza reformas e construção de novas redes, este
já vinha colaborando com a Universidade do Vale de Itajaí, onde a disciplina de
Tecnologia de Pesca faz visitas técnicas em seu galpão.
O redeiro e sua equipe concordaram em receber o pesquisador para
acompanhamento dos trabalhos de manutenção e construção de redes, bem como
cederam informações de seus registros históricos e esclareceram dúvidas sempre que
necessário.
3.2 Informações fornecidas pelo redeiro
Para a caracterização histórica dos tamanhos das redes foram utilizados registros
mantidos pelo redeiro das montagens e reformas. Os primeiros registros são do ano de
1993, com anotações em cadernos manuscritos, onde eram registrados a data de
construção, o nome da embarcação e o número de panos utilizados no comprimento. A
partir de 2004 até 2011 foram disponibilizados registros no formato de esquemas de
construção em planilhas eletrônicas (Excel) utilizando as mesmas informações,
acrescentadas das especificações das panagens e posição na rede em que cada uma era
montada (Anexo I).
A rede é construída por segmentos que corresponde a um fardo de pano de rede,
cujo comprimento é um padrão de cem metros se a malha estiver esticada. A unidade de
medida utilizada pelo redeiro para dimensionamento do segmento da rede é chamado de
braça e corresponde a 1,70 metros. Os registros obtidos com o redeiro foram colocados
em planilhas eletrônicas (Excel), obedecendo ao formato visualizado nos cadernos
manuscritos. Cada pano de 100 metros é entralhado em um segmento onde o redeiro
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determina a abertura da malha durante o entralhe, neste momento foi anotado o
comprimento que cada fardo de pano correspondeu em um segmento, com isto foi
obtido o comprimento de entralhamento na parte superior (dos flutuadores) e inferior
(dos chumbos) (Tabela 1).
Tabela 1: Registros com o comprimento em braça de cada segmento da rede.
Segmentos de tralha superior em braças
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Total
braças
Total em
metros
38 39 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 39 41 637 1082,9
Segmentos de tralha inferior em braças
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Total
braças
Total em
metros
41 42 43 43 43 43 43 43 43 43 43 43 43 43 42 41 682 1159,4
Foi possível reunir 253 registros de comprimentos de tralha superior das redes,
sendo 219 registros em cadernos e 34 registros em planilhas eletrônicas abrangendo o
período de 1993 a 2011.
3.3 Acompanhamento da construção de uma rede de cerco
Durante o mês de outubro de 2011, três vezes por semana foram realizados
visitas para acompanhar as etapas da montagem de uma rede de cerco. Nestas visitas, os
detalhes da montagem foram anotados e fotografados, sendo ainda obtidos
esclarecimentos do redeiro sobre os procedimentos materiais observados.
Através dos rótulos dos materiais utilizados para montagem, os dados coletados
foram: tipos de panos utilizados especificando malha e fio, tipos e espessuras de cabos e
fios. Com o orçamento de compra dos materiais foi possível verificar as quantidades de
cada pano, flutuadores, chumbos e fios que foram encomendados. Durante a montagem
foi observado onde foi utilizado cada pano e fio. O comprimento da tralha superior e
18
inferior foi a quantidade de segmentos de 100 metros de cabo utilizado, a quantidade de
chumbos e flutuadores utilizados foi de acordo com a encomenda orçada.
A malha de uma rede de pesca é definida como um quadrilátero com todos os
lados iguais. Um conjunto de malhas constitui o pano de rede. Malhas podem ser
tecidas a partir de nós, unindo os seus lados, dando origem aos panos com nós, ou serem
formadas pelo entrelaçamento dos fios, resultando nos panos sem nós. No Brasil,
fabricantes de panagens de redes especificam o tamanho da malha pela dimensão linear
de um de seus lados, efetuando a medida a partir do meio do nó ou da união de lados
(quando não houver nó), este padrão de medida é chamado de distância entre nós
adjacentes (WAHRLICH, 2011).
As panagens empregadas na confecção de redes são formadas por um conjunto
de fios tecidos com nós ou por entrelaçamento de fibras, formando os panos sem nós.
Atualmente as panagens empregadas nos diversos petrechos são quase todas tecidas em
máquinas. Essas panagens podem ser fabricadas com fios torcidos ou trançados
(GAMBA, 1994).
Os fios utilizados para fabricação de panos são de material sintético cujos grupos
químicos mais usuais são a poliamida (PA), o polietileno (PE), o polipropileno (PP) e o
poliéster (PES). As principais características das fibras sintéticas são a
impermeabilidade, resistência à ruptura e a não decomposição por ação de
microorganismos, especialmente as bactérias. Porém, quando expostas a luz solar,
perdem sua resistência, pela ação dos raios ultravioleta.
As panagens utilizadas na construção de redes de cerco são de PA
multifilamento. A unidade utilizada no Brasil para classificar esse tipo de fio quanto a
sua espessura é o sistema Denier, que indica o peso em grama da fibra primária com
9.000 (nove mil) metros de comprimento. Por exemplo: Td = 210 significa que 9.000
metros da fibra primária pesam 210 gramas. Em seguida do tipo de fibra especifica-se o
número de filamentos (conjunto de fibras) existentes no fio (ex. 210/n, onde n é o
número de filamentos Td=210).
A panagem sem nós predomina na construção de redes de cerco. Além de serem
mais leves e menos volumosas, apresentam menor resistência hidrodinâmica. Ainda,
19
experiências de laboratório mostram que a resistência à abrasão nos panos sem nós é
superior aos com nós, além de manterem constantes a forma da malha, quando sujeitos
a grandes esforços (GAMBA, 1994).
Os panos sem nós são vendidos em fardos de formato retangular, tendo 100
metros de comprimento medidos com a malha esticada, por 400 ou 200 malhas de
altura. Já os panos com nós são apresentados em fardos de 50 metros de comprimento
com 400 ou 200 malhas de altura.
Portanto, a especificação comercial das panagens de PA multifilamento
empregadas na construção de redes de cerco é feita pelo tipo de pano (com ou sem nós),
pela dimensão do fardo, pela indicação do número do fio, em Denier, e pelo lado da
malha (entre nós adjacentes), em milímetros (GAMBA, 1994).
3.4 Levantamento dos custos de construção
Ao acompanhar a construção da rede foi feita uma tabela dos materiais
utilizados e as quantidades, para assim obter junto a fornecedores os preços de cada
material utilizado. Realizaram-se visitas aos fornecedores para obtenção dos preços de
cada item. As empresas que fornecem a matéria-prima para redes de cerco foram:
Mazzaferro e Equipesca, ambas localizadas em Itajaí - SC. Com as informações de tipos
e quantidades de panos de 34 redes disponíveis em planilhas eletrônicas foi possível
determinar os custos em panos destas redes.
A mão de obra empregada na montagem de uma rede foi contratada de acordo
com a necessidade para cumprir o prazo de entrega. O pagamento para a equipe de
ajudantes foi efetuado pelo regime de diárias. Assim para determinar o custo da mão de
obra utilizou-se os dias trabalhados, a quantidade de pessoas e o valor da diária.
20
3.5 Os tipos de redes e suas capturas
3.5.1 Identificação do tipo de rede de cerco utilizada pela frota de Itajaí
Para verificar a composição das capturas conforme o tipo de rede empregada,
foram considerados dados obtidos em entrevistas de cais realizadas pelo Grupo de
Estudos Pesqueiros da Universidade do Vale de Itajaí.
As entrevistas são efetuadas pela Equipe de Campo no momento do
desembarque de cada embarcação, sendo obtidas informações como: data de
desembarque, áreas de pesca, estimativas de produção total e das principais espécies
capturadas, medidas de esforço de pesca, entre outros. Para cada frota de embarcações
existe uma entrevista voltada para as características de petrecho de pesca. No caso da
frota de cerco, uma das perguntas da entrevista ao mestre é o tipo de rede utilizada,
discriminada como rede para bonito e rede para sardinha.
Os dados obtidos nestas entrevistas foram disponibilizados em planilhas
eletrônicas (Excel). Foram obtidos 2579 registros de desembarques, referentes ao
período de 2001 a 2011, onde foram analisados o volume de cada espécie capturada e o
tipo de rede utilizada por desembarque de cerco.
3.6 Análise de dados
3.6.1 Análise de correlações
O teste estatístico escolhido para analisar se existe relação entre as
características das redes com as das embarcações foi o de regressão linear. Esta
representa a relação entre duas variáveis. Os dados podem ser representados por pares
ordenados (x,y), onde x é a variável independente e y a variável dependente.
A interpretação das regressões foi realizada com um diagrama de dispersão, para
determinar se existe uma correlação linear entre duas variáveis. Para medir mais
precisamente o tipo e a força de uma correlação linear deve-se calcular o coeficiente de
correlação, que é a medida da força e direção de uma relação linear entre duas variáveis,
representadas pela letra r.
21
A amplitude de r é -1 para 1, se x e y tem correlação linear positiva forte, r está
próximo de 1, se não há correlação linear, r está próximo de 0 e se a correlação é
negativa r tende a -1. O coeficiente de determinação é igual ao quadrado do coeficiente
de correlação (r2), onde os valores serão sempre positivos e valores próximos de zero,
significa que existe pouco relacionamento entre as variáveis.
3.6.2 Correlação entre características das redes e embarcações
Os principais fatores que classificam uma embarcação são: comprimento,
potência do motor e arqueação bruta. A potência do motor é medida em HP (Horse
Power). A tonelagem de arqueação bruta (AB) representa o volume interior total de
uma embarcação, expresso em toneladas de arqueação. O comprimento total da
embarcação é a medida de proa a popa incluindo projeções feitas por equipamentos e
petrechos (HAYLER, 2003).
As informações de comprimento total, potência do motor e arqueação bruta das
embarcações foram cedidas pelo Sindicato dos Armadores e Indústrias de Pesca de
Itajaí – SINDIPI, também em planilhas eletrônicas (Excel). Os dados de comprimento
de rede e características da respectiva embarcação foram processados através de
planilhas eletrônicas (Excel). Os dados foram reunidos em uma tabela com o nome da
embarcação, o ano de construção da rede. O comprimento da rede foi correlacionado
com a potência de motor, a arqueação bruta e o comprimento total da embarcação em
metros.
Para as correlações entre as características das embarcações e comprimentos das
redes, foi utilizado o ultimo registro manuscrito de comprimento de rede de cada
embarcação, pois representa a ultima vez em que a mesma rede passou por este redeiro
para reformas. Com isto a análise foi realizada com os dados de rede mais atuais de
cada embarcação, descartando os registros mais antigos da mesma rede.
Embarcações onde faltaram informações de toneladas de arqueação bruta,
comprimento ou potência do motor também foram descartadas das análises. Dos 253
registros manuscritos foi possível utilizar 74 registros de comprimento de redes para
serem correlacionados com as características das embarcações. A altura da rede é o
22
comprimento vertical da rede com as malhas esticadas. Porém, em operação a rede
assume a altura determinada pelo seu entralhamento, reduzindo entre 25% e 30% na
altura medida com as malhas esticadas, os seja, a altura de trabalho da rede. Para fins de
projetos de redes de cerco, a altura de trabalho é sempre considerada como referência de
sua dimensão e funcionamento.
O comprimento da rede foi correlacionado com o número de panos utilizado no
comprimento. Para esta análise foi possível utilizar os 253 registros. Também foi
correlacionado o número de panos na altura de 34 redes que possuíam registros com
seus respectivos comprimentos.
3.6.3 Frequência de uso das redes de bonito
Foram analisados os principais períodos em que as redes de bonito foram
utilizadas. As informações para esta análise foram as datas de desembarque e o tipo de
rede utilizada durante a operação referente ao desembarque. Primeiramente foram
agrupadas por estações do ano. Uma segunda avaliação foi realizada agrupando os anos
para verificar qual o mês de maior utilização das redes de bonito.
3.6.4 Comparação entre as principais espécies capturadas por tipo de rede
Nesta etapa foram analisadas quais espécies possuem maior ocorrência em cada
tipo de rede e feito uma comparação entre as redes. Os dados utilizados foram: tipo de
rede, espécies e volumes capturados em cada desembarque. Ao obter o volume total e o
volume de cada espécie que cada tipo rede capturou, foi feito uma análise de frequência
(%) das espécies de maior ocorrência.
23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Montagem de uma rede de cerco
4.1.1 Estrutura da oficina
O galpão da oficina tem aproximadamente 400 m2 de área coberta além de uma
grande área externa para depósito de redes que aguardam manutenção. As grandes
dimensões do local estão relacionadas com o tamanho das redes. As etapas de
construção e os reparos em redes usadas necessitam de um local com uma grande área
para se esticar os panos e os cabos para serem entralhados. O espaço amplo da oficina
também permite a entrada de caminhões para entrega de materiais e movimentação das
redes.
Na montagem da rede não foi utilizado nenhum tipo automação do trabalho, não
não sendo utilizado qualquer tipo de máquina, somente são empregadas ferramentas
manuais tais como: agulhas para tecer panagens (Figura 4), facas, tesouras, martelos,
baldes e cavaletes (Figura 5).
Figura 4: Agulhas utilizadas para perfiar
panos de redes de cerco.
Figura 5: Cavaletes utilizados para
suspender e apoiar panos durante a
perfiação.
24
A montagem de uma rede de cerco foi realizada em 22 dias, de 03/10/2011 a
25/10/2011, por uma equipe composta por 12 pessoas, sendo o redeiro Nestor e seu
filho Fernando que comandam a operação, um funcionário fixo da oficina e mais nove
colaboradores temporários. Os colaboradores normalmente são amigos, familiares do
redeiro ou pescadores. Todos com experiência em trabalhos com a construção e reparos
de redes de pesca
4.1.2 Materiais para montagem de redes de cerco
As redes de cerco são compostas principalmente pelos panos. Os panos sem nós
empregados na montagem das redes de cerco no redeiro Nestor apresentam diversas
especificações de espessuras de fio e tamanho de malha. A maioria dos panos 100
metros de comprimento com 400 malhas de altura. Os preços destes variaram entre R$
1190,00 a R$ 3890,00 (Tabela 2).
Tabela 2: Panos de fio multifilamento, Nailon (PA) sem nós utilizados para montagem
de redes de cerco.
Fio Distância entre nós
adjacentes em mm
Malhas de
altura
Comprimento em
metros
Preço unitário
(R$)
210/09 12 400 100 1190,00
210/12 12 400 100 1340,00
210/16 12 400 100 2200,00
210/18 12 400 100 2800,00
210/24 12 400 100 3600,00
210/24 25 200 100 1560,00
210/36 12 400 100 2800,00
210/48 12 400 100 3890,00
25
Panos com nós de fio 210/72 e 21 malhas na altura são utilizado nos calços e nas
cubas. No sacador os panos são com nós, possuem 50 metros de comprimento, 200
malhas de altura, apresentando preços mais elevados que variaram entre R$ 610,00 até
R$ 4300,00 com o fornecedor Equipesca de Itajaí (Tabela 3).
Tabela 3: Panos de fio multifilamento, Nailon (PA) com nós utilizados para montagens
de redes de cerco.
Fio Distancia entre nós
adjacentes (mm)
Malhas de
altura
Comprimento (m) Preço unitário
(R$)
210/24 12 200 50 2500,00
210/36 12 200 50 2900,00
210/48 12 200 50 3200,00
210/60 12 200 50 4300,00
210/72 54 21 100 610,00
Os fios e cabos são multifilamentosos, de Poliamida ou Polipropileno, variam de
2 mm a 32 mm conforme o local de utilização. São vendidos por kilogramas, por metros
ou por rolos. As bóias são fabricadas em PVC expandido e de formato cilíndrico, as
mais utilizadas são as da marca Grilon modelo de número 40, com poder de flutuação
0,5 kgf e modelo número 50 com 1,3 kgf de flutuação. Os chumbos são vendidos por
kilograma em peças cilíndricas-tubulares de 150 ou 300 gramas (Tabela 4).
26
Tabela 4: Materiais utilizados na montagem de redes de cerco.
Material Especificação Preço unitário (R$)
Cabo 22 PP 22 mm 900,00
Cabo 22 PA 22 mm 1600,00
Cabo 14 PP 14 mm 360,00
Cabo 32 PP 32 mm 1900,00
Fio PA 2,5 mm 55,00
Fio PA 3 mm 52,00
Fio PA 3,5 mm 45,00
Fio PA 2 mm 57,00
Fio PA 1,5 mm 60,00
Fio PA 5 mm 40,00
Fio PP 3 mm 18,00
Fio PA 210/08 27,00
Fio PA 210/36 32,00
Fio PA 210/18 32,00
Fio PA 210/24 32,00
Chumbo Kg 12,00
Flutuador PVC 50 7,90
Flutuador PVC 40 4,45
4.1.3 Etapas da construção
A rede que se acompanhou a construção se destinava à pesca de peixes diversos,
principalmente tainhas e enchovas, denominada de “rede laça”, medindo 15 panos de
comprimento por 12 panos de altura (15x12). A montagem da rede é dividida em
etapas que podem ocorrer de maneira independente, de acordo com a necessidade e
tempo disponível (figura 6).
A rede foi montada em duas partes, uma metade de cada vez devido ao volume
das panages e a dificuldade de manuseio. A montagem de cada metade se inicia com a
27
união dos panos do corpo pois é a parte mais demorada e demanda maior esforço de
mão de obra, simultaneamente podem ser montadas as tralhas.
Figura 6: fluxograma do processo de montagem de uma rede de cerco.
Após cada parte da rede ser montada as tralhas foram unidas ao corpo, os
colaboradores dobraram a rede e iniciaram a montagem da outra metade (Figura 7). O
transporte até a embarcação foi feita por um caminhão que levou a rede dividida em
duas partes (Figura 8).
As duas metades foram unidas no cais onde a embarcação permanecia. A
primeira a ser construída e colocada na embarcação é a ultima a ser lançada na água
composta principalmente pelo corpo da rede. A segunda parte é a do sacador.
União dos panos de rede (perfiação e
encabeçamento dos panos)
Recepção de
matéria prima
Montagem das tralhas
(superior e inferior)
União das tralhas ao corpo
Transporte até a
embarcação
28
Figura 7: Equipe movimentando a rede. Figura 8: Primeira parte da rede concluída.
4.1.4 Montagem dos panos
A montagem dos panos foi realizada com a perfiação e encabeçamento dos
panos, utilizando como ferramentas cavaletes e agulhas. A perfiação de dois panos foi
feita com a sobreposição de 10 malhas de cada pano, a agulha passa na primeira e na
última unindo estas 10 malhas, formando o que o redeiro chama de “zíper”.
As regiões do sacador, pré-sacador e extremidades utilizaram fios de maior
diâmetro, de 2,5 e 3 mm para garantir maior resistência, no corpo da rede se utilizou
fios mais finos, com 1,5 e 2 mm de poliamida. O corpo foi unido aos panos do pré-
sacador, da cuba e dos calços, após esta unir todos os panos à rede foram unidas as
tralhas de chumbo e de flutuadores.
4.1.5 Montagem das tralhas
Os flutuadores Grilon 50 com maior poder de flutuação, foram utilizados na
tralha do sacador e do pré-sacador, para não correr risco de afundar com o peso do
cardume durante a despesca. Ao todo, foram utilizados um total de 5600 unidades sendo
1000 Grilon 40 e 4600 unidades Grilon 50.
Existe a tralha simples (Figura 9) e a tralha dupla (Figura 10) que apesar do
maior custo, tem ganhos na velocidade de recolhimento, menor risco de afundar e a
29
tensão é exercida no cabo auxiliar, o que aumenta a vida útil dos flutuadores pois
diminui o atrito entre eles e se o cabo romper poucos flutuadores se perdem. Este tipo
de tralha é uma inovação e as embarcações estão substituindo o entralhe simples por
duplo. Nesta rede foi utilizada a tralha dupla.
Figura 9: Exemplo de tralha superior
simples utilizada em redes de cerco.
Figura 10: Exemplo de tralha superior dupla
utilizada em redes de cerco.
Para montagem da tralha dupla, esticaram-se segmentos de 100 metros de cabo
de 22 mm onde foram feitas as encalas com fios de Poliamida de 2,5 a 3 mm (fio azul)
(Figura 11). A distância entre um nó foi de 10 cm.
Repete com todo o cabo utilizado na tralha superior (Figura 12). Em outro cabo
de 14 mm inseriu-se os flutuadores. Para unir os dois cabos, esticou-se o cabo dos
flutuadores com auxílio dos pilares (Figura 13), e um fio de Polipropileno (fio branco)
de 3 mm foi unido com nós o outro cabo paralelamente. Nas encalas foram unidos os
panos do calço de cortiça e por sua vez os panos do corpo (Figura 14)
O número de flutuadores variou ao longo da tralha, no sacador e pré-sacador
além de flutuadores com maior poder de flutuação utilizou-se um em cada encala. No
restante da tralha a cada três encalas com flutuadores se manteve uma encala vazia.
30
Figura 11: Nós de encalas feitos no cabo da
tralha superior.
Figura 12: Cabos com nós de encala
utilizados na tralha superior.
Figura 13: União dos cabos e flutuadores da
tralha superior.
Figura 14: União da tralha superior
a rede.
A tralha inferior é montada junto com o calço e feito por partes conforme o
tamanho do pano, neste caso 100 metros que foram entralhados em 44 braças. O pano
utilizado foi de fio mais grosso (210/72 e malha 54 mm) (Figura 15).
Com 100 metros de cabo 14 mm no chão o colaborador inseriu os chumbos no
cabo, com auxilio de dois pilares esticou este cabo já com os chumbos e fez as encalas,
com linha multifilamento de poliamida de espessura 3 mm. Neste momento foi feito o
31
posicionamento dos chumbos em sincronia com as encalas e a união do pano de calço
com a tralha (Figura 16).
A distribuição dos chumbos ao longo da tralha não foi uniforme. Nos dois
primeiros segmentos de pano foi colocado um chumbo por encala, o terceiro pano inicia
com sete chumbos e uma encala vazia, o quarto com cinco chumbos e uma encala vazia,
o restante até o centro da rede foram usados 3 chumbos e uma encala vazia. Nas
extremidades o peso foi maior e diminuiu em direção ao centro da rede. No primeiro
pano de cada extremidade da rede se utiliza uma unidade de chumbo de trezentos
gramas por encala. No restante dos panos se utilizam os chumbos de 150 gramas. Com
isto aumenta a velocidade de imersão das extremidades.
Figura 15: Cabo com chumbos e a rede
sendo entralhada na tralha inferior.
Figura 16: Exemplo de um chumbo por
encala.
A sub-tralha foi unida ao calço na metade da altura do pano (10 malhas) (Figura
17). Com auxílio de um pilar o colaborador fez as encalas unindo o cabo de 14 mm ao
pano (Figura 18).
32
Figura 17: Sub-tralha inferior
onde ata os estopos das anilhas.
Figura 18: Entralhamento da sub-tralha.
4.2 Custos
4.2.1 Mão de obra
Durante a montagem da rede cada colaborador temporário recebeu cinquenta
reais por dia de trabalho (8 horas diárias) sem qualquer benefício adicional como
alimentação e vale transporte. Em 22 dias de trabalho dos 9 colaboradores o custo total
foi de R$ 9900,00. Não foram computados custos com salário de um colaborador fixo
do galpão e a remuneração do próprio redeiro. Não houve horas extras nem trabalhos de
sábado ou domingo.
4.2.2 Matéria prima
O material com maior gasto foi o pano fio 210/24 malha 25 mm com valor de
R$ 210600,00 que compôs integramente o corpo da rede. Em flutuadores foram gastos
R$ 28370,00 em chumbos R$ 21600,00 (Tabela 4).
33
Tabela 4: Materiais utilizados na confecção da rede de cerco do tipo laça 15x12.
Item Fio Distância entre nós
adjacentes (mm)
Quantidade Preço
(R$)
Preço total
(R$)
Pano 210/24 25 135 1560,00 210600,00
Pano 210/24 12 2 3600,00 7200,00
Pano 210/18 12 6 2800,00 16800,00
Pano 210/16 12 2 2200,00 4400,00
Pano 210/36 12 12 2800,00 33600,00
Pano 210/12 12 26 1340,00 34840,00
Pano com nó 210/72 34 17 610,00 10370,00
Pano com nó 210/60 12 2 4300,00 8600,00
Pano com nó 210/48 12 3 3200,00 9600,00
Flutuador 50 1000 7,90 7900,00
Flutuador 40 4600 4,45 20470,00
Cabo 22 PP 22 mm 5 900,00 4500,00
Cabo 22 PA 22 mm 3 1600,00 4800,00
Cabo 14 PP 14 mm 4 360,00 1440,00
Cabo 32 PP 32 mm 1 1900,00 1900,00
Fio 2,5 mm 10 kg 55,00 550,00
Fio 3 mm 15 kg 52,00 780,00
Fio 3,5 mm 15 kg 45,00 675,00
Fio 2 mm 5 kg 57,00 285,00
Fio 1,5 mm 5 kg 60,00 300,00
Rolo de fio
PA
5 mm 2 40,00 80,00
Rolo de fio PP 3 mm 60 18,00 1080,00
Fio 210/08 2 kg 27,00 54,00
Fio 210/36 6 kg 32,00 192,00
Fio 210/18 2 kg 32,00 64,00
Fio 210/24 2 kg 32,00 64,00
Chumbo 1800 kg 12,00 21600,00
TOTAL 402.744,00
34
O custo total de matéria prima para a rede foi R$ 402.744,00 se somar a mão de
obra R$ 412.644,00. O total gasto em panos somou 81% do custo da rede (R$
336.010,00). Os flutuadores 7%, os chumbos 5%. Os cabos e fios representaram 4% do
total e a mão de obra 3% (Figura 19).
Figura 19: Custos de montagem de uma rede de cerco em Itajaí, SC.
O custo das redes de cerco depende do tipo e quantidade de panos utilizados.
Foram verificadas redes de tamanho 14x12 com gastos de R$ 261580,00 somente em
panos no corpo, redes 15x13 que gastaram entre 270000,00 a 310000,00 (Anexo II).
Para a pesca de peixes de maior porte o sacador deve ser mais resistente, pois além de
maior volume, algumas espécies podem possuir dentes e espinhos que causam danos
aos panos do sacador. O sacador com maior resistência eleva o custo da rede pois utiliza
maior quantidade de panos com fios mais grossos (210/60, 210/48, 210/36 e 210/18).
81%
5%
7% 4%
3%
Panos
Chumbos
Flutuadores
Cabos e fios
Mão de obra
35
4.3 Dimensões das redes
A maior rede construída na oficina do redeiro Nestor foi em 2011 com 1089
metros de comprimento, enquanto a menor foi construída em 1996 com 464 metros.
Antes do ano 2000 não foram registradas redes acima de 1000 metros neste redeiro
(Figura 20).
Figura 20: Comprimento das redes registradas entre 1993 e 2011.
Entre os anos 1992 e 1999 as médias dos comprimentos das redes variaram entre
763 e 800 metros, a partir do ano 2000 as médias das redes montadas passaram a
ultrapassar os 800 metros. Entre 2005 e 2011 não houve médias inferiores a 800 metros.
Em 1996 foi identificado a menor média (760 metros) e em 2011 a maior (940 metros)
(Figura 21).
Figura 21: Média e desvio padrão dos comprimentos das redes entre 1993 a 2011.
0
200
400
600
800
1000
1200
1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
Com
pri
men
to d
a re
de
(m)
Ano
400
500
600
700
800
900
1000
1100
1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
Méd
ia d
os
com
pri
men
tos
(m)
Ano
36
Das 253 redes analisadas, verificou-se que 38% possuíram entre 701 a 800
metros de comprimento na tralha superior, 37% possuíram 801 a 900 metros, até 1000
metros 10% e entre 1001 a 1100 foram evidenciados 4% das redes (Figura 22).
Figura 22: Frequência de ocorrência de comprimentos das redes.
A relação entre o comprimento da rede e o número de faixas de panos no
comprimento foi positiva (r2=0,69). Pois, de acordo com o redeiro, não pode esticar os
panos para aumentar o comprimento da rede, isto determina o coeficiente de entralhe
onde a matação dos panos devem ficar entre 30 e 40% (Figura 23).
Figura 23: Correlação entre comprimento e número de panos.
0
10
20
30
40
50
400 a 500 501 a 600 601 a 700 701 a 800 801 a 900 901 a 1000 1001 a 1100
%
Comprimento da rede (m)
R² = 0,6958
0
200
400
600
800
1000
1200
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Com
pri
men
to d
a re
de
(m)
Número de panos
37
Ao analisar a média de comprimentos para cada número de segmentos de pano
no comprimento se verificou uma correlação ainda maior, demonstrando que quanto
maior o comprimento da rede mais panos são utilizados em sua construção (Figura 24).
Também demonstra um padrão de construção, determinando que para uma certa
quantidade de panos existe um comprimento ideal.
Figura 24: Correlação da média dos comprimentos com o número de panos no
comprimento.
Existe uma correlação positiva (r2=0,79) entre o comprimento da rede e o
número de panos na altura (Figura 25). Ao correlacionar o número de panos na altura
com a média dos respectivos comprimentos, verificou-se uma correlação mais forte,
indicando que redes maiores no comprimento são mais altas (Figura 26).
Figura 25: Correlação entre comprimento e número de panos na altura da rede.
R² = 0,962
0
200
400
600
800
1000
1200
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Méd
ia d
e co
mp
rim
ento
s (m
)
Número de panos no comprimento
R² = 0,7947
0
200
400
600
800
1000
1200
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Com
pri
men
to d
a re
de
(m
)
Número de panos na altura
38
Figura 26: Correlação da média dos comprimentos com o número médio de panos na
altura.
Existe uma correlação forte entre o comprimento e a altura, pois redes grandes
de comprimento necessitam ser mais profundas, para quando ocorrer a formação da
bolsa ao fechar as anilhas a rede não afundar e cobrir um maior volume, dificultando o
escape de parte do cardume. As redes mais altas possibilitam melhores resultados em
áreas de pesca mais profundas.
Para aumentar aproximadamente 70 metros de uma rede, equivalente a um fardo
de pano no comprimento, necessita do número de panos na altura, ou seja, se a rede tem
10 panos na altura, o redeiro necessita de 10 fardos de pano para aumentar os 70 metros.
Para aumentar a altura da rede também deve aumentar o comprimento para distribuir o
peso e não afundar a rede. Um pequeno aumento pode acarretar em grande custo.
O tamanho das redes de cerco duplicou desde a década de 1960, na fase inicial
da pesca industrial de Sardinha em Santa Catarina foram registrados redes de até 500
metros de comprimento e 45 metros de altura (SANTA CATARINA, 1965).
A introdução do Power-block a partir de 1970 (SCHWINGEL; OCHIALINI,
2003) permitiu o aumento do tamanho das redes. Em 1987 as embarcações que
possuíam Power-block representaram 40% da frota (OGAWA, 1987). Em 1991 as redes
mediam de 600 a 800 metros de comprimento e 60 a 80 metros de altura
(BARCELLOS, 1991).
R² = 0,9595
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 2 4 6 8 10 12 14 16 Méd
ia d
e co
mp
rim
ento
s (m
)
Número de panos na altura
39
Em 1994 foram citadas redes de 800 metros de comprimento (GAMBA, 1994).
Entre 1997 e 1999 o comprimento das redes em Santa Catarina variou entre 700 e 1100
metros, as alturas entre 60 e 120 metros (SCHWINGEL; OCHIALINI, 2003). Em 2003,
uma pesquisa realizada com a frota atuante em Santa Catarina, verificou que o tamanho
da rede de cerco aumentou 3,7 vezes nas últimas três décadas (de 250 m para 920 m, em
média) (OCCHIALINI, com.pes). Entre 1973 a 2003 ocorreu um aumento dos
comprimentos das redes em função do tempo, com o crescimento linear apontando um
r2= 0,71, o uso do Power-block saltou de 5% a 75% em 6 anos (de 1978 a 1984)
(OCHIALINI, 2003).
Antes da introdução do Power-block nas décadas de 1960 e 1970 as redes
mediam aproximadamente 400m, pois eram recolhidas manualmente. O Power-block a
partir de 1970 possibilitou um aumento significativo no comprimento das redes
podendo alcançar valores superiores a 1000m. Entre 1993 a 2011 não foi observado um
crescimento elevado no comprimento pois todas embarcações possuíam Power-block,
em média as redes evoluíram de 750 para 950 metros.
4.4 Relação entre as características das embarcações
Existe baixa correlação (r2=0,3755) entre a arqueação bruta e a potência do
motor (Figura 27), assim como entre comprimento da embarcação e a potência do motor
(Figura 28). A correlação entre a arqueação bruta e o comprimento da embarcação
também foi baixa (r2=0,57) (Figura 29). Indicando que as embarcações de cerco não
seguem um padrão de potência de motor em relação ao comprimento e arqueação.
Figura 27: Correlação entre arqueação bruta e potência do motor (HP).
R² = 0,3755
0
50
100
150
200
250
0 100 200 300 400 500 600 700
Ton
elad
as d
e ar
qu
eaçã
o b
ruta
Potência do motor (HP)
40
Figura 28: Correlação entre comprimento e potência do motor (HP).
Figura 29: Correlação entre arqueação bruta e comprimento da embarcação (m).
4.5 Relação entre o comprimento das redes com as características das embarcações
As correlações foram consideradas fracas, demonstrando pouca relação entre as
características das embarcações com o tamanho das redes. A potência do motor foi a
característica de maior correlação com o comprimento da rede (r2=0,2682, N=74)
(Figura 30). O segundo fator com maior correlação foi a arqueação bruta (Figura 31)
(r2= 0,2239, N=74). A correlação entre comprimento da embarcação e comprimento da
rede foi a menor encontrada (r 2=0,177, N=74) (Figura 32).
R² = 0,5319
0
100
200
300
400
500
600
700
0 5 10 15 20 25 30 35
Potê
nci
a d
o m
oto
r (H
P)
Comprimento da embarcação (m)
R² = 0,5707
0
50
100
150
200
250
0 5 10 15 20 25 30 35 Ton
elad
as d
e ar
qu
eaçã
o b
ruta
Comprimento da embarcação (m)
41
Figura 30: Correlação entre potência do motor (HP) e comprimento da rede (m).
Figura 31: Correlação entre arqueação bruta e comprimento da rede.
Figura 32: Correlação comprimento da embarcação e comprimento da rede.
R² = 0,2682
0
200
400
600
800
400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
Potê
nci
a d
o m
oto
r (H
P)
Comprimento da rede (m)
R² = 0,2239
0
50
100
150
200
250
400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
Arq
uea
ção b
ruta
(T
on
)
Comprimento da rede (m)
R² = 0,177
0
10
20
30
40
0 200 400 600 800 1000 1200
Com
pri
men
to d
a em
bar
caçã
o (
m)
Comprimento da rede (m)
42
A correlação entre a potência do motor e o comprimento da rede foi a que teve
maior tendência positiva (r2=0,2682). As correlações entre o comprimento da rede,
arqueação e comprimento da embarcação ficaram abaixo. Para transportar redes maiores
é necessário maior espaço na embarcação, ou seja, embarcações maiores no
comprimento podem transportar redes maiores, que por sua vez necessitam de motores
mais potentes.
A baixa correlação entre o comprimento da embarcação e o comprimento da
rede indica que as embarcações tinham espaço disponível para transporte de redes
maiores, mas não utilizavam. Nesta análise foram utilizadas as redes mais recentes de
cada embarcação, não discriminando se para cada embarcação a rede evoluiu de
tamanho.
Embarcações menores utilizando redes de maior comprimento também colabora
para a baixa correlação. Neste caso deve-se avaliar as diferenças durante a operação de
redes maiores com embarcações menores. Pois pode haver diferenças em consumo de
combustíveis, tempo de operação durante a atividade e desgaste de equipamentos.
Devido a menor capacidade de armazenamento de pescado estas embarcações, se
eficientes, devem realizar maior número de viagens ao porto de desembarque, o que
pode aumentar os custos operacionais.
4.6 Os tipos de rede
As diferenças nos tipos de redes estão relacionadas com as características de
panos utilizados em sua construção, sobretudo no corpo da rede. Foram identificados 2
tipos característicos: rede para sardinha, com corpo composto por panos de fio 210/12 e
malha de 12mm, e rede para peixes diversos, com corpo formado por panos de fio
210/24 e malha 25 mm. A malha de maior tamanho é chamada pelo redeiro e
pescadores como “malha laça”.
O redeiro pode montar redes mistas com estes dois tipos de pano. Foram
observadas redes para sardinha com panos de malha 25 mm, formando uma faixa na
parte inferior da rede, que servem para reduzir a resistência hidrodinâmica da rede. Com
isto afundam e fecham com maior velocidade sem correr risco de afundar a tralha
43
superior. O aumento na velocidade de submersão e de fechamento da carregadeira
permite cercar cardumes de peixes mais velozes.
Assim, um dos objetivos da faixa de “malha laça” é aumentar a eficiência na
captura de outras espécies como a tainha, os bonitos e enchovas, sem ter a necessidae de
possuir duas redes. Possuir duas redes é um grande custo para uma embarcação devido
ao preço de montagem e a logística necessária para armazenamento e troca de uma rede
quando houver necessidade.
Para 34 redes foi possível detectar a porcentagem de pano com fio 210/24 e
malha 25 mm que é utilizada no corpo da rede. Verificou-se que 21 redes possuíram
panos com fio 210/24-25 mm e 13 não apresentaram este pano no corpo. Foi possível
observar redes com 100% de pano 210/24-25 mm e redes com 88% (Figura 33).
Figura 33: Porcentagem de panos de malha 210/24-25 utilizados em redes de cerco de
Itajaí, SC.
As redes utilizadas para pesca de sardinha, em sua maior parte são
confeccionadas com panagem sem nó, malha de 12 mm (entre nós adjacentes), fio
210/09 ou 210/12 (GAMBA, 1994). Foram evidenciadas redes utilizando ao longo de
todo o corpo o pano de fio 210/24 com malha 25 mm, outras apenas alguns panos na
parte inferior da rede.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 61 a 70 71 a 80 81 a 90 91 a 100
Nú
mer
o d
e re
des
% de malha 210/24-25
44
Com isto foi possível definir três padrões de redes montadas em Itajaí: rede de
sardinha, rede de malha laça e rede mista (com faixa laça). As redes de sardinha
possuem em seu corpo quantidades inferiores a 20% de panos 210/24-25 mm, as redes
laça possuem mais de 80% de pano 210/24-25 mm em seu copo e as redes mistas entre
40 a 50%.
Na Argentina existem dois tipos de rede de cerco, a rede de Bonito e a rede de
Anchoita, as principais diferenças entre elas estão nas características dos panos
utilizados no corpo (OKONSKI, 1987). Em Itajaí, nas entrevistas de cais realizada com
os pescadores pelo Grupo de Estudos Pesqueiros existem dois tipos de rede: rede de
Bonito e rede de Sardinha. O redeiro conhece os tipos de rede utilizadas em Itajaí como:
redes de sardinha e redes de laça.
4.7 Influências do tipo de rede na composição das capturas
Com os dados obtidos a partir das entrevistas de cais realizadas pelo Grupo de
Estudos Pesqueiros foi possível analisar a frequência de uso das redes de bonito. Entre
os anos de 2001 e 2011, 5% dos registros em entrevistas de desembarque foram com
redes de bonito (Figura 34).
Figura 34: Porcentagem de desembarques por tipo de rede entre 2001 a 2011.
5%
95%
Bonito
Sardinha
45
Entre os anos de 2001 a 2011 foi possível verificar um aumento no número de
registros de rede de bonito com o passar dos anos. Tendo maior ocorrência em 2009
com 14% dos desembarques de redes de cerco (Figura 35).
Figura 35: Número de registros de viagens utilizando rede laça entre os anos de 2001 e
2011.
Entre os anos de 2007 a 2011 foi verificado que no outono, entre os meses de
abril a junho, foram obtidos os maiores números de registros de desembarque utilizando
as redes de bonito (Figura 35), principalmente no ano de 2009 onde houve o maior uso
de redes de bonito durante o outono devido a pesca da tainha.
Figura 36: Número de viagens de pesca utilizando redes de bonito por estação do ano,
entre 2007 a 2011.
0
10
20
30
40
50
60
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Nú
mer
o d
e d
esem
bar
qu
es
Ano
0
5
10
15
20
25
30
35
40
2007 2008 2009 2010 2011
Nu
mer
o d
e re
gis
tros
Ano
Verão
Outono
Inverno
Primavera
46
Em junho foi o mês onde as redes de bonito foram mais frequentes, devido a
pesca da tainha. Em novembro e dezembro foi verificada uma frequência maior devido
à safra do atum (Figura 37).
Figura 37: Número de viagens utilizando rede de bonito por mês entre 2001 e 2011.
As principais espécies presentes nos desembarques com rede de bonito foram:
tainha (62%), enchova (15%), bonito (espécies de bonito não discriminado como bonito
cachorro e bonito listrado) (8%) (Figura 38).
Figura 38: Frequência de captura das redes de bonito.
0
10
20
30
40
50
60
70
Nú
mer
o d
e d
esem
bar
qu
es
0 10 20 30 40 50 60 70
Tainha
Enchova
Diversos
Bonito
Bagre
Bonito listrado
Corvina
Paru
%
47
Ao comparar a frequência de captura das redes para as espécies de maior
ocorrência foi observado que a tainha, enchova e o bonito tiveram maior frequência de
captura com as redes de bonito. As sardinhas, cavalinha e palombeta são capturadas
somente pelas redes de sardinha (Figura 39).
Figura 39: Comparação entre a frequência de captura das redes de bonito e de sardinha.
As sardinhas e cavalinhas não são pescadas com redes bonito pois emalham na
rede deixando-a lisa, o Power-block não funciona com a rede lisa e obriga os pescadores
a recolher a rede manualmente.
No Rio de Janeiro uma rede tendo como espécie-alvo exclusivamente tainha
possuiu no corpo panos com malha 12 mm, enquanto em Santos/SP redes para pesca de
sardinhas, cavalinhas e tainhas possuíram malha entre 12 a 16 mm. Redes
exclusivamente para sardinhas possuíram malha 12mm (UENO, 1993).
Em Itajaí, observou-se que o tamanho da malha de uma rede para pesca de
tainha e enchova foi 25 mm. Para pescar sardinhas, tainhas e enchovas com a mesma
rede, manteve-se maior parte do corpo a malha 12 mm e se acrescentou faixas de malha
25 mm ao invés de utilizar malha maiores (14 ou 16 mm) ao longo de todo o corpo. O
uso de malha maior diminui o peso e a resistência hidrodinâmica da rede, como são
0 10 20 30 40 50 60 70
Tainha
Enchova
Diversos
Bonito
Bagre
Bonito listrado
Corvina
Paru
Sardinha-verdadeira
Sardinha-lage
Cavalinha
Palombeta
%
Rede de sardinha Rede de Bonito
48
acrescentadas na parte inferior a intenção desta diminuição do peso é um ganho na
velocidade de fechamento para evitar escape de parte do cardume.
49
5. CONCLUSÃO
Em Itajaí e Navegantes, as partes componentes das redes de cerco empregadas
pela frota industrial não sofreram alterações no período de 1993 até 2011.
O principal custo para construção de uma rede de cerco é o pano utilizado no
corpo, podendo chegar a valores de R$ 300000,00 conforme o tamanho da rede.
Em geral, a participação do pano no custo total da rede é 81%.
Com o aumento dos comprimentos e profundidade de redes após a introdução do
Power-block, facilitou as traineiras cercarem cardumes de peixe que tem maior
mobilidade e velocidade de natação, pois a rede cobre uma área de superfície e
um volume de água maior, aumentando o número de espécies alvo desta
modalidade.
As redes estão sendo adaptadas com faixas de panos de malha 25 mm nas partes
inferiores do corpo. Para torna-las mais eficientes em seu fechamento e
multiespecíficas, permitindo seu uso para peixes maiores sem a necessidade de
ter duas redes.
As redes podem ser divididas em três tipos: redes de Sardinha, redes laça e redes
mistas. São classificadas devido a quantidade de pano 210/24 malha 25mm que
utilizam.
Em Itajaí e Navegantes, as características das embarcações analisadas não
tiveram grande influência nos comprimentos das redes nos anos de 1993 a 2011.
50
6. REFERÊNCIAS
BRASIL.Ministério do Meio Ambiente (MMA). Programa REVIZEE: Avaliação do
potencial sustentável de recursos vivos na zona econômica exclusiva: relatório
executive/MMA. Brasília: Secretaria de Qualidade Ambiental, 2006.
BERCELLOS, J.P.L.; PERES, M. B.;WAHRLICH, R.; BARISON, M. B. Otimização
bioeconômica dos recursos pesqueiros marinhos do Rio Grande do Sul. Rio
Grande: Editora da Furg,1991.
CERGOLE, M. A. ; NETO, J. D. Plano de gestão para uso sustentável da Sardinha-
Verdadeira Sardinella brasiliensis no Brasil. Brasília: Ibama, 2011.
DIEGUES, A. C. S. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo: Ed.
Ática, 1983.
GAMBA, M. R. Guia prático de tecnologia de pesca. Itajaí: CEPSUL, 1994.
GEP, Grupo de Estudos Pesqueiros, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, Santa
Catarina. Disponível em:< http://siaiacad04.univali.br/indexesp.php?i=18>. Acesso em:
20 de out. de 2008.
GEP, Grupo de estudos pesqueiros; SEAP, Secretaria especial de aqüicultura e pesca;
UNIVALI, Universidade do Vale de Itajaí. Boletim estatístico da pesca industrial de
Santa Catarina, 2008. 10p.
HAYLER, W. B. American Merchant Seaman's Manual. [S.l.]: Cornell Maritime Press,
2003.
ITSASPREBEN.Disponível em:<http://www.itsaspreben.com/index.php?idioma=es&>.
Acesso em: 15 de mai. de 2011.
OGAWA, M.; KOIKE, J. Manual de pesca. Fortaleza, Ceará: Associação dos
engenheiros de pesca do estado do Ceará, 1987.
51
SCHWINGEL.; P. R. OCCHIALINI, D C. Composição e variação espaço-temporal
da captura da frota de traineiras entre 1997 e 1999 no porto de Itajaí, SC. Notas
Técnicas Facimar, 2003. 7:11-22 p.
SCHWINGEL, P. R.; OCCHIALINI, D. C. Descrição e análise da variação temporal
da operação de pesca da frota de traineiras do Porto de Itajaí, SC, entre 1997 e
1999. Notas Técnicas Facimar, 2003. 7:1-10 p.
SANTA CATARINA. Centro de Pesquisa de Pesca. Relatório sobre o Estudo da
Sardinha em Santa Catarina (Janeiro a Dezembro de 1964). Florianópolis (SC):
CPP, 1965.
UENO, F.; MESQUITA, J. X.; PALUDO, M. L. B. Catálogo das Redes de Arrasto e
Cerco Utilizadas pela Frota Industrial nas Regiões Norte, Sudeste e Sul do Brasil.
Brasília, 1985.
WAHRLICH, R. Como medir o tamanho das malhas de uma rede de pesca?.
Revista SINDIPI, Itajaí, pag. 24-26, 2011.
Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar.
Boletim estatístico da pesca industrial de Santa Catarina – ano 2010: programa de
Monitoramento e avaliação da atividade pesqueira industrial no sudeste e sul do Brasil –
v. 10, n. 1.-- Itajaí : Universidade do Vale do Itajaí, 2011.
52
7. ANEXOS
53
Anexo I: Distribuição dos panos na rede de cerco cuja a construção foi acompoanhada.
32 32 44 44 44 44 44 44 44 44 44 44 44 44 44 T=636
210/60-12 210/36-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/48-12 210/36-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/36-12 210/36-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/36-12 210/36-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/36-12 210/36-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/36-12 210/36-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/36-12 210/36-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/24-12 210/18-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/24-12 210/18-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/18-12 210/18-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/18-12 210/18-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
210/16-12 210/16-12 210/12-12 210/12-12 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24 210/25-24
35 35 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 46 T=668
Rede laça (15x12) 636 braças (1081 metros na tralha superior)
54
Anexo II: Tabela com especificações dos panos utilizado por 34 redes de cerco, incluindo o preço total gasto com os panos.
Ano do
registro Embarcação
T_Comp. Nº
panos superior
T_Altura Nº
panos
Comp_TS
metros
Comp_TI
metros
210/12-12
(corpo)
210/12-9
(corpo)
210/24-25
(laça)
210/24-12 (pre
sacador)
210/18-12 (pre
sacador)
210/16-12 (pre
sacador)
210/60-12
(sacador)
210/48-12
(sacador)
210/36-12
(sacador)
Preço total
dos panos
2004 Abilio Souza 11 10 712,3 771,8 76 18 10 7 5 1 184464
2005 Abilio Souza 14 12 836,4 907,8 142 10 4 5 10 2 4 248428
2005 Alex 10 9 646 688,5 56 9 6 6 2 3 122344
2005 Alexandro Magno V 16 13 1081,2 1169,6 180 10 15 6 3 4 1 323820
2004 Ipe III 12 11 801,55 862,75 110 11 10 10 3 3 2 234000
2004 João Victor 10 10 665,55 718,25 11 83 6 1 4 175854
2005 Léo Pesca 10 10 850,85 918,85 11 81 1 3 3 2 4 178834
2004 Mar de Cortes II 15 12 1013,2 1096,5 156 2 11 4 1 4 2 246404
2004 Marcelo da Costa 13 13 883,15 947,75 149 10 2 4 5 1 4 2 236666
2004 Safira 9 9 623,9 680,85 64 8 5 12 5 2 147056
2004 Seival III 11 11 738,65 799 93 9 1 7 5 1 4 4 182002
2004 Silvieiro I 12 11 786,25 849,15 114 9 3 5 5 1 1 2 192216
2005 Vitoria Mar 12 11 759,9 821,1 60 54 7 2 3 2 4 211080
2004 Golfo Pesca IV 10 9 646 688,5 62 9 4 6 11 5 2 161348
2007 Antonio Brito (laça) 15 13 1013,2 1096,5 171 9 4 8 14 1 4 2 298254
2007 Antonio Brito 15 13 1013,2 1071 150 8 8 7 14 1 4 2 284480
2005 Ipê III 12 10 809,2 877,2 50 52 10 6 2 6 211820
2006 Matrix 15 14 1013,2 1096,5 163 8 5 11 15 2 3 2 302922
2005 Pesca Ipê III (laça) 12 10 799 854,25 50 57 5 4 2 6 196020
2006 Matrix 15 14 1013,2 1096,5 53 121 8 4 11 15 2 3 2 318572
2005 Pioneira (laça) 15 13 1013,2 1096,5 185 3 10 2 2 3 2 355600
2005 Pioneira 15 13 1013,2 1096,5 181 3 7 6 2 3 2 272654
2005 Profrota (laça) 12 11 809,2 877,2 122 2 9 6 1 3 249820
2005 Profrota 12 11 809,2 877,2 42 81 2 9 6 1 3 1 206318
2007 Riospesca V (laça) 12 10 746,3 810,9 114 4 6 1 4 226140
2007 Riospesca V 13 12 808,35 877,2 144 9 7 4 4 3 1 238636
2008 João Victor 13 12 908,65 977,5 134 2 7 14 1 5 229856
2011 Carlos Francisco 13 12 877,2 950,3 165 2 2 8 2 2 2 238110
2011 José Antonio V 13 11 877,2 950,3 154 2 2 14 2 2 233236
2011 Felipe Marques 14 12 945,2 1023,4 179 2 2 14 2 2 261586
2011 Dona Santina 16 13 1081,2 1169,6 219 2 2 14 2 2 306946
2011 Zé Augusto IV 14 12 945,2 1023,4 179 2 2 14 2 2 261586
2011 Silveiro 13 12 877,2 950,3 167 4 4 8 3 3 250578