Depois do Desastre: Face à Família Face ao Trauma

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CURSO

DEPOIS DO DESASTRE:FACE À FAMÍLIA FACE AO TRAUMA

VINCENZO DI NICOLAMPhil, MD, PhD, FRCPC, FAPA

XII Congresso Brasileiro de Terapia Familiar10 de junho de 2016 – 8h30 às 10h30Gramado/RS – Brasil

CURSO DEPOIS DO DESASTRE:FACE À FAMÍLIA FACE AO TRAUMA

Vincenzo Di Nicola MPhil, MD, PhD, FRCPC, FAPAvincenzodinicola@gmail.com

Professor titular de psiquiatria, Universidade de Montreal

Diretor, Psiquatria infantil, Instituto Universitário de Saúde Mental de Montreal

Presidente e Fundador do Grupo de Saúde Mental Global, Associação Americana de Psiquiatria

Agradecimentos

XII Congresso Brasileiro de Terapia Familiar

Helena Centeno Hintz Presidente, ABRATEF, AGATEF

Luis Carlos PradoPresidente do Congresso

Mara Lúcia RossatoCoordenadora da Comissão Cientifica

Presidente, ABRATEF, AGATEFLuis Carlos Prado

Mara Lúcia RossatoCoordenadora da Comissão Cientifica

Accademia di Psicoterapia della Famiglia - Roma, Itália

Psiquiatria CulturalRichard MollicaHarvard Program in Refugee Trauma - Cambridge, MA, EUA

Filosofia• Alain Badiou

École Normale Supérieure - Paris, France

Presidente, ABRATEF, AGATEFLuiz Carlos Prado

Presidente do CongressoMara Lúcia Rossato

Coordenadora da Comissão Cientifica

Porto Alegre, RS Photo : V Di Nicola

Museu Porto Alegre, RS Photo : V Di Nicola

Terapia FamiliarMaurizio AndolfiAccademia di Psicoterapia

della Famiglia - Roma, Itália

Psiquiatria CulturalRichard MollicaHarvard Program in Refugee

Trauma - Cambridge, MA, EUA

FilosofiaAlain Badiou

École Normale Supérieure - Paris, France

Agradecimentos

Depois do Desastre Resumo do Curso

Nesse curso, Vincenzo Di Nicola vai expor a situação do terapeuta face à família e a família face ao trauma depois do desastre.

Di Nicola apresenta um novo modelo de trauma e de terapia depois de trauma com um novo conceito de mudança em terapia baseado sobre a filosofia do Evento (ou Acontecimento) de Alain Badiou (1994).

Conceitos e estratégias chaves desse modelo incluem: o encontro face a face (Lévinas, 1997) e o diálogo relacional (Di Nicola, 2012) para ouvir a estória de trauma (Mollica, 2008).

Isto constrói o terapeuta como testemunha e a terapia como relato de trauma.

Só depois que a trauma seja resolvida é que famílias podem mudar através da possibilidade do Evento.

A terapia depois de trauma ajuda famílias para enfrentar o desastre com coragem e preparar-se para a possibilidade do Evento.

Esse novo modelo será ilustrado com estórias clinicas de famílias em tratamento depois de desastres naturais ou humanos.

Objectivos

Na conclusão do curso, os participantes devem entender, definir e saber como …

(Você escolhe …)

Jardins, São Paulo

Primeira parte:Teoria

A Família

Mara Selvini Palazzoli Maurizio Andolfi

Mara Selvini Palazzoli Maurizio Andolfi

– Mara Selvini Palazzoli

A terapia familiar é o ponto de partida

para um estudo de unidades sociais cada vez mais amplas.

Com a terapia individual, alguma coisa está faltando …

A terapia familiar cultural

A STRANGER IN THE

FAMILY Culture, Families,

and Therapy

VINCENZO DI NICOLA

(New York & London: W.W. Norton & Co., 1997)

UM ESTRANHO NA FAMÍLIAUM ESTRANHO NA FAMÍLIA

Cultura, Famílias e Cultura, Famílias e TerapiaTerapia

Vincenzo Di Nicola

(Porto Alegre: Artmed, 1998)

Determinantes sociais da saúde e crescimento econômico

WHO Commission on Social Determinants of Health – A Comissão sobre os Determinantes Sociais da Saúde da OMS liga a noção chave da ladeira social da saúde à justiça social

O desenvolvimento implica um laço entre crescimento econômico e políticas sociais para criar a saúde eqüitativa

A Comissão sobre os Determinantes Sociais da Saúde

Os três princípios chaves são:

Melhorar as condições cotidianas da vida

Remediar a distribuição não eqüitativa das causas estruturais das condições cotidianas da vida

Avaliar a ação

– A Comissão sobre os Determinantes Sociais da Saúde (OMS, 2008)

“A justiça social é uma questão de morta e de vida. Ela afeta a maneira que pessoas vivem, as chances delas adoecer em consequência, e o risco de uma morta prematura.”

Trauma

Reflexão

A infância é uma facaplantada na garganta. Não é tão facil retirá-

la.

– Wajdi Mouawad, dramaturgo

“Adverse Childhood Events”(ACE Study)

Adversidade durante a infância e a adolescência – Vincent Felitti e colegas – EUA

Exposição ao abuso emocional, físico ou sexual na infância é associado com hábitos de risco e doenças na vida adulta

“Adverse Childhood Events”(ACE Study)

70.5% de 9,508 pacientes completaram o estudo sobre 7 categorias de adversidade

> 50% tinham 1/+ evento

25% tinham 2/+ eventos

Uma ladeira entre o numero de eventos e os riscos mais tarde na vida adulta

Casamento canadense

Conceito de traumatismo (Sigmund Freud, 1926)

Idéias conscientes que ultrapassem o ego

A emergência de impulsões inaceitáveis

Uma situação intolerável gerando afetos impossiveis de lidar

Sentimentos de impôtencia traumática

Estresse traumático (Anna Freud, 1969)

Um evento devastador que muda o desdobramento (desenvolvimento)

da criança

Types de traumatismeLenore Terr

TRAUMATISME TYPE I

Description : Évènement singulier, dangereux, subit, isolé

Réponse : Souvenirs intensément vécus, récupération plus rapide,

meilleur pronostic

Exemples : Accident de voiture, témoin d’homicide ou de suicide

TRAUMATISME TYPE II

Description : Multiples, chroniques, répétés

Réponse : Souvenirs vagues, impuissance, dissociation, changement de caractère, les problèmes persistent

Exemples : Institutionalisation, abus physique ou sexuel, guerre, attentat, violence sociale

Definições do conceito de traumatismo

“Traumatismo como um evento além da gama das experiências humanas habituais” (DSM-III, 1980)

“Um evento tal que a morte, real ou ameaçada, ou uma ferida séria ou uma ameaça à integridade física de si mesmo ou de outros” (DSM-IV, 1994)

O Evento

O Evento significa mudança que surge da novidade – uma alteridade radical que abre espaço para novas possibilidades – que chega através de verdade e cria sujeitos.

Trauma (que impõe limites) e Evento (que abre possibilidades) são então radicalmente separados – ou seja incomunicáveis e irreconciliáveis.

Um evento …

• Um evento é quando a vida muda …

• Não estamos mais na soleira, mas já entramos e ficamos

• O evento é a vida depois da jornada, quando chegamos e ficamos e vivemos com fidelidade (ao evento) e integridade (com se mesmo) …

Reflexão

Na soleira entre países, culturas, famíilas, realidades e epistemologias, o que significam identidade, família e saúde mental?

Referência: Boaventura de Sousa Santos - “epistemologías do sul”

Epistemologías do sul

Uma epistemología do Sul assenta em três orientações:

Aprender que existe o SulAprender a ir para o SulAprender a partir do Sul e com o Sul

Referência: Boaventura de Sousa Santos, Toward a New Common Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Transition. New York: Routledge, 1995. Citado por Maria Paula Meneses, “Introdução: Epistemologías do Sul.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008: 5-10.

Conceitos chavesConceitos e estratégias chaves desse

modelo incluem:

o encontro face a face (Lévinas, 1997)

o diálogo relacional (Di Nicola, 2012)

a estória de trauma (Mollica, 2008)

O dialogo relacional

Podemos falar?

Letters to a Young Therapist

Relational Practices for the Coming Community

(New York & Dresden: Atropos Press 2011)

Primeiro capítulo:Revista Pensado Famílias

(Julho 2012)

Conceitos chaves

Isto constrói ...

o terapeuta como testemunha

a terapia como relato de trauma

Reflexão

Trauma e Evento

Trauma destroi as possibilidades da vida

O Evento abre as possibilidades

Reflexão

Trauma e Evento

Trauma cultural (transformação – “trauma como evento”)

Transtorno pos-traumático(destrução – “evento como trauma”)

Conceitos chaves

Mudança ...

Só depois que a trauma seja resolvida é que famílias podem mudar através da possibilidade do Evento

Conclusões

A terapia familiar propõe tratamentos para problemas psiquiátricos de crianças e famílias

A terapia familiar cultural oferece um paradigma para tratamentos que levam em consideração a cultura

A terapia evental …

Conclusões

A terapia evental …

A terapia depois de trauma ajuda famílias para enfrentar o desastre com coragem e preparar-se para a possibilidade do Evento

Montréal

Segunda parte: Casos clínicos

“A loucura lúcida de Renata”

“Pele negra, máscara branca”

Um caso clínico:“A loucura lúcida de Renata”

Uma adolescente da America Latina (Chile)

As experiências perturbantes só aparecem psicóticas fora do contexto familiar e cultural

Renata – 16 anos, morando em MontrealMora com a mãe, a irmã de 15 anos e o padastro depois de 3 anosDiagnóstico de esquizofrenia à idade de 14 anos por causa das “vozes”As “vozes” tem um signficado relacionalEla entendia “vozes”, mas ninguém estava escutindo ela

Um caso clínico:“A loucura lúcida de Renata”

Uma jovem mulher de uma família multicultural com pais vivendo em duas países – Canadá e Haiti

O flutuante sentimento de pertença falta uma âncora, mudando com seus sintomas ansiosos e depressivos

Um caso clínico:“Pele negra, máscara branca”

Cassandra, 18 anos, voltou de novo para visitar seu pai negro e francófono no HaitiA mãe, branca, anglófona das origens americano polonês, mora em Montreal com suas duas filhas A consulta foi para depressão e controle fraco do diabetes Ela é aflita com estresse, tem um rede social mínimo e não mantém com terapia, amigos, escolaRivalidade com a irmã, pressão da família

Um caso clínico:“Pele negra, máscara branca”

Porto Alegre, RS Fondação Iberê Camargo

Terceira parte:Discussão interativa

Mudança cultural

Trauma?

Terapia evental

– Theodore Zeldin

Eu vejo a humanidade como uma família que apenas se encontrou.

Para não concluir …

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 - 2004)

Apesar das ruínas e da morte

Apesar das ruínas e da morte,Onde sempre acabou cada ilusão,A força dos meus sonhos é tão forte,Que de tudo renasce a exaltaçãoE nunca as minhas mãos ficam vazias.—Sophia de Mello Breyner Andresen, “Poesia” (1944) Obra poética. Lisboa: Caminho, 2011.

Amor à primeira vista

Porque cada inícioé só continuação,e o livro das ocorrênciasestá sempre aberto ao meio.—Wysława SzymborskaTradução de Júlio Sousa Gomes, em Paisagem com Grão de Areia, Lisboa: Relógio d’água, 1996.

Referências• Alain Badiou, Verdade e sujeito. Estudos Avançados, vol.8 no.21, São

Paulo, May/Aug. 1994. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141994000200011

• Vincenzo Di Nicola, Um Estranho na Familia: Cultura, Familias e Terapia (Tradução: Maria Adriana Ve rissimo Veronese. Apresentação à edição brasileira: Luiz Carlos Osorio, MD.) 345 pp. Porto Alegre, RS: Editora Artes Medicas, 1998.

• Vincenzo Di Nicola, Carta a um Jovem Terapeuta: “Pessoas Iniciam Terapia para Não Mudar.” Revista Pensando Famílias, 16(1), julho 2012, 15-27.http://www.domusterapia.com.br/site/principal/conteudo_nivel3.asp?codConteudo=420

• Emmanuel Lévinas, Entre Nós: Ensaio Sobre a Alteridade (Tradução: Pergentino Stefano Pivatto, et al.). Petrópolis, RS: Vozes, 1997.https://olimpiadadefilosofiasp.files.wordpress.com/2012/03/entre-nos-ensaios-sobre-a-alteridade-emmanuel-levinas.pdf

• Richard F. Mollica. Healing Invisible Wounds: Pathways to Hope and Recovery in a Violent World. Nashville, TN: Vanderbilt University Press, 2008.