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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
Secretaria de Estado da Educação do Paraná
SOLANGE MARIA ERNZEN VOGEL
A MÍSTICA E AS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS NO ASSENTAMENTO IRENO ALVES DOS SANTOS, EM RIO BONITO DO IGUAÇU
PATO BRANCO2010
PROFESSORA: SOLANGE MARIA ERNZEN VOGEL
PROFESSOR ORIENTADOR: ARIEL JOSÉ PIRES
IES: UNICENTRO - GUARAPUAVA
ESCOLA: COLÉGIO ESTADUAL “PROFESSOR AGOSTINHO PEREIRA” ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
NRE: PATO BRANCO
TEMA DE ESTUDO PROFESSOR PDE: HISTÓRIA E MOVIMENTOS SOCIAIS
TÍTULO: A MÍSTICA E AS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS NO ASSENTAMENTO IRENO ALVES DOS SANTOS, EM RIO BONITO DO IGUAÇU
ÍNDICE
Secretaria de Estado da Educação do Paraná .......................................................................... 1 1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 4 2 - OBJETIVO ................................................................................................................................. 4 3 - JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................ 4 4 - METODOLOGIA ...................................................................................................................... 5 5-PERÍODO ANALISADO ............................................................................................................ 6 6 - PERFIL DA ESCOLA E DA SÉRIE A SER TRABALHADA ................................................ 6 7 - ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ....................................................................................................... 6
7.1 Questionário ........................................................................................................................... 7 7.2 - Conceitos ............................................................................................................................. 8 7.4 – Pesquisa ............................................................................................................................ 21 7.5 – Vídeo ................................................................................................................................. 22 7.6 – Desenho ............................................................................................................................ 22 7.7 – Encerramento das atividades ............................................................................................ 22
8 - AVALIAÇÃO ........................................................................................................................... 22 9 - BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 23
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1 - INTRODUÇÃO
O tema História e Movimentos Sociais, contemplado nas Diretrizes Curriculares do
Estado do Paraná, será desenvolvido com os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira Ensino Fundamental e Médio, do município de
Pato Branco – PR, tendo o propósito de analisar, especificamente, a mística e as relações
socioculturais no assentamento Ireno Alves dos Santos, de Rio Bonito do Iguaçu, Estado do
Paraná.
Através do uso deste material didático-pedagógico, objetivamos oportunizar os alunos
a compreender a mística, como prática religiosa celebrativa, por diferentes discursos: sociais,
políticos e ritos, bem como o conjunto de crenças e valores, que buscam interpretar a realidade
vivida, e significá-la a partir das atividades coletivas, desenvolvidas em torno de temáticas e
práticas grupais específicas.
Apontaremos alguns aspectos místicos que os trabalhadores rurais conjugam nos
encontros celebrativos. Os momentos em que se alternam, os depoimentos, as encenações, os
rituais religiosos, as rezas, utilizando-se dos símbolos místicos do MST. O importante é destacar
que a mística configura-se de acordo com a temática enfocada e colocada em debate entre todos
os que participam, tendo assim missão de mostrar uma imagem do movimento, agindo e
priorizando o “bem comum” e a fraternidade, para alimentar sonhos de um construir coletivo.
2 - OBJETIVO
Apresentar através de conceitos as diferentes formas de mística utilizadas pelos
trabalhadores rurais, no assentamento Ireno Alves dos Santos, do município de Rio Bonito do
Iguaçu - Pr.
3 - JUSTIFICATIVA
Percebe-se que a maioria dos alunos tem preconceito em relação ao MST, quando o
assunto é abordado em sala de aula. Neste trabalho será analisada a utilização das formas
místicas por esse movimento, reforçada por meio de símbolos, como metodologias de
congregação dos trabalhadores rurais na luta pela terra.
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Com a elaboração deste material didático, utilizando-se, primordialmente, do recurso
de multimídia, possibilitar-se-á a professores e alunos o conhecimento das formas místicas,
como também a análise dos conceitos dos símbolos místicos e das imagens que foram
construídas pelos trabalhadores rurais Sem Terras.
Permitir-se-á ainda, desta forma, aos estudantes, construir diferentes opiniões, já que,
muitas vezes, as que possuem, são elaboradas permeadas de preconceitos, em função dos
discursos difundidos pelos meios de comunicação de massa. Desta forma, cremos que, o
material oportunizará, assim, a construção de um conhecimento histórico crítico, a partir da
visão que se estabelece nas relações de poder, cultura e trabalho expressas e apresentadas como
símbolos do MST. As aulas proporcionará aos alunos o entendimento dos vários momentos de
luta dos trabalhadores rurais, em diferentes tempos e espaços, com o objetivo de conseguir um
pedaço de terra.
É importante ressaltar que a Diretriz Curricular da Educação Básica, da disciplina de
História, viabiliza a abordagem da história regional, o que atende a Lei 13.381/01, o que torna
essencial o trabalho com os conteúdos da História do Paraná, no Ensino Fundamental e Médio
da Rede Pública do Estado.
4 - METODOLOGIA
O material didático- pedagógico foi elaborado através de uma pesquisa bibliográfica,
constituída de livros e artigos científicos para o aprofundamento teórico e de um levantamento
de dados com entrevistas estruturadas realizadas no assentamento Ireno Alves dos Santos, com
questionários sobre o tema proposto.
Como na escola está disponível a tecnologia necessária à proposta, serão trabalhadas
atividades didáticas diversas, em forma de slides, poesias, vídeos, narrativas históricas e textos
complementares.
Também deverão ser construídos, pelos próprios alunos, novos conceitos para o tema,
levando-se à possibilidade de análise da reconstrução de identidades locais e regionais,
identificando suas permanências e mudanças. Busca-se desta forma construir uma consciência
histórica, que possibilite compreender a realidade contemporânea e as implicações do passado
em sua constituição, e as diversas ações que podem ser construídas dentro do grupo social,
fazendo com que esses se sintam inseridos na História.
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5-PERÍODO ANALISADO
Este material tem o propósito de apresentar a prática da mística dos trabalhadores rurais
do assentamento Ireno Alves dos Santos de Rio Bonito do Iguaçu, os quais utilizam-se dos
símbolos e ritos, como um dos principais responsáveis pelo processo de articulação política do
movimento para a conquista da terra. O período analisado foi de 17 de abril de 1997 a maio de
2010.
6 - PERFIL DA ESCOLA E DA SÉRIE A SER TRABALHADA
O Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira- Ensino Fundamental e Médio foi
criado em 1988, e atende hoje aproximadamente 1500 alunos oriundos da zona rural e urbana
do município de Pato Branco. A maioria dos referidos alunos apresentam disparidade social,
desestruturação familiar, entre outros problemas enfrentados pelos educadores, que interfere na
prática pedagógica diária. Para aliviar estas dificuldades enfrentadas, a escola oferta em contra-
turno projetos como o de xadrez, informática, sala de apoio e sala de recursos, que reforçam os
conteúdos trabalhados em sala de aula.
7 - ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
A aplicação do projeto será realizada com alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, do
Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira - EFM, em Pato Branco. Apresentar-se-ão
aspectos sobre a mística praticada pelos trabalhadores rurais no assentamento Ireno Alves dos
Santos, de Rio Bonito do Iguaçu - PR.
Como início do trabalho em sala de aula, será realizada uma sondagem acerca dos
conhecimentos dos alunos sobre a mística praticada pelos trabalhadores rurais sem terra,
assunto contemplado no projeto de Intervenção Pedagógica. A abordagem será feita de forma
individual e por escrito e recolhida pelo professor.
No final do processo de aplicação do projeto será devolvido ao aluno o questionário de
sondagem, o qual poderá revisitar as práticas desenvolvidas, identificando as lacunas que foram
sanadas no processo de aplicação do projeto.
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7.1 Questionárioa) Você já ouviu falar de mística? ( )Sim ( ) Não
Se a resposta for sim, descreva o que você sabe sobre o conceito de mística.
b) Na sua cidade existe alguma manifestação mística? Nomeie algumas:
c) Assinale as alternativas que contemplam terminologias das qual você conhece ou já ouviu
falar:
( ) Movimento Sem Terra
( ) Movimentos Sociais
( ) Assentamento do MST
( ) Ocupação do MST
( ) Invasão do MST
( ) Rio Bonito do Iguaçu
( ) Símbolos Místicos
d) Você conhece os símbolos que identificam o MST. Assinale-os:
Figura: 01
Comente: ....................................
Fonte: www2.faced.ufba.br/.../mst_bandeira_grande
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura: 02
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Comente: .....................................................
Fonte: 1.bp.blogspot.com/.../qNRSOniqScM/s200/boné.jpg
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura: 03
Comente: .... .....................
Fonte: 2.bp.blogspot.com/.../s320/MST+25+anos+5.jpg
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura: 04
Comente: ................................
Fonte: www.defesanet.com.br/yy/brasil/fi/mst_25yrs.jpg
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
e )Você acha importante trabalhar os símbolos místicos do MST nas aulas de História? Justifique:
7.2 - Conceitos
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Aula expositiva-dialogada apresentando alguns conceitos dos símbolos místicos, com
auxílio da TV pendrive, para que os alunos registrem os conceitos para assimilação.
RIO BONITO DO IGUAÇU
Em 17 de abril de 1996, mais de três mil famílias do MST ocuparam a Fazenda Giacomet-
Marodim, em Rio Bonito do Iguaçu, início de uma luta de dois anos de acampamento até se tornarem
assentados e divididos em comunidades, com centros comunitários e espaço de lazer. Antes das
famílias Sem-terra ocuparem a fazenda Giacomet, o município tinha quatro mil habitantes.
Rio Bonito do Iguaçu é um município brasileiro do estado do Paraná. Sua população
estimada em 2009 era de 15.121 habitantes, pertencente Mesorregião Centro-Sul
Paranaense, Microrregião de Guarapuava. Municípios limítrofes: Laranjeiras do Sul,
Porto Barreiro, Nova Laranjeiras, Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu, Saudade
do Iguaçu, Sulina, Chopinzinho e São João. Neste município encontramos os
Assentamentos Ireno Alves dos Santos, Marcos Freire e 10 de Maio com 1.574
famílias assentadas numa área de 27.982 hectares, conquistados pelos Trabalhadores
Rurais do Movimento SemTerra.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Bonito_do_Igua%C3%A7u) .
Figura 05
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Bonito_do_Igua%C3%A7u Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura: 06
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Fonte: www.flickr.com/.../sets/72057594095498173/Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
GIACOMET-MARODIN
A Fazenda Pinhal Ralo, de propriedade da Empresa Giacomet-Marodin, situava-se nos
municípios de Rio Bonito do Iguaçu, Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras e Quedas do Iguaçu
e possuia sua sede instalada em Porto Alegre - Rio Grande do Sul. A principal atividade da
Giacomet-Marodin era a exploração de madeira, em seus 81.922 hectares de terra.
“Comprada pelo Grupo Votorantin em 1972, trata-se de áreas totalmente
produtivas. A madeireira realiza o maior reflorestamento de araucária do Brasil, além
de plantar pinhos e eucaliptos, que depois de serrados são exportados para 28 países.
As outras áreas são reserva legal (16.500 hectares), preservação permanente (7.646
hectares), inaproveitáveis 3.262 hectares), floresta nativa (14.071 hectares), e a área de
objeto de Estudo de Impacto Ambiental (10.406 hectares)”.
( REVISTA MANCHETE, maio de 1996, p.39).
Figura: 07
Fonte: www.sindiatacadistas.com.br/informativos/info...Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
MOVIMENTOS SOCIAIS
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Movimento social - expressão usada para denominar movimentos feitos por pessoas
sociais e pela sociedade. Organização voltada para a promoção de interesses morais, éticos,
políticos e econômicos sob a égide dos mais variados suportes ideológicos.
Para SCHERER-WARREN (1987, p.9) “movimentos sociais surgem, quando grupos se organizam na busca da libertação,ou seja, para superar alguma forma de opressão e para atuar na produção de uma sociedade modificada”. Além disso, “existe também um reconhecimento de que eles detêm um saber decorrente de suas práticas cotidianas, passível de ser apropriado e transformado em forças produtivas”. SCHERER-WARREN (1987, p.9).
Figura 08
Fonte: virusplanetario.wordpress.com/.../Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA
O Movimento dos Sem Terra ou MST é fruto de uma questão agrária, que é estrutural e
histórica no Brasil. Nasceu da articulação das lutas pela terra, retomadas a partir do final da
década de 70, no Centro-Sul do país e, aos poucos, expandiu-se pelo Brasil. O MST teve sua
gestação no período de 1979 a 1984 sendo criado formalmente no Primeiro Encontro Nacional
de Trabalhadores Sem Terra, realizado de 21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel-Paraná. Hoje
o MST está organizado em 22 estados, seus objetivos são lutar pela terra, pela Reforma Agrária
e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra apresenta-se como:
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“O vocábulo “sem” serve para designar a ausência de algo. No caso dos
trabalhadores rurais sem-terra, essa palavra composta tem o objetivo de sugerir a
existência de um elo entre todos os trabalhadores rurais que não possuem terra em
quantidade suficiente para sua sobrevivência e, ao mesmo tempo, denunciar a situação
de exploração a que é submetida grande parcela da classe trabalhadora que vive ou
trabalha no campo brasileiro, sem o controle sobre a posse da terra.” (NETTO, 1999,
p.20.)
Figura 09
Fonte: www.diaadia.pr.gov.br/.../8agricultores.jpg
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
OCUPAÇÃO
No momento das ocupações os trabalhadores Sem-Terra fazem da mística uma aliada
para provocar nas pessoas uma força que as motivem a lutar pela terra.
Para Stédile a invasão é considerada ilegítima, mas ocupação é legítima:
“O objetivo da ocupação é negociar com governantes saídas para os
problemas dos sem- terra e tornar terras produtivas as terras ociosas. A
ocupação é comparada com o direito de greve dos trabalhadores
urbanos, instrumento de luta para exigir seus direitos. Os sem-terra
não têm como fazer greve, sua forma de pressionar é ocupar o
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latifúndio, para mostrar que existem terras ociosas, gente capacitada e
disposta para trabalhar a terra e produzir alimentos. As ocupações são
sempre um ato coletivo, fruto de um problema social e da disposição
dos Sem Terra de buscar solução para o problema da terra.”
(STÉDILE, 1996, p.59).
Figura 10
Fonte: www.unesco.org/courier/1998_08/photoshr/08_09.jpg Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
ASSENTAMENTO Assentamentos são áreas nas quais os ocupantes já possuem um documento chamado
Imissão de Posse, terra comprada ou desapropriada pelo governo e destinada à reforma agrária,
depois de muita pressão política dos trabalhadores rurais sem-terras e das entidades que as
apóiam, na estratégia de ocupações.
Para Frei Sérgio e João Pedro Stédile:
“O assentamento é um conjunto de famílias que passam a trabalhar numa área de
terra destinada a agricultura sem-terra, utilizando-a para produção agropecuária. A
terra onde se realiza o assentamento normalmente é um latifúndio que foi
desapropriado e comprado pelo governo e destinado à utilização dos agricultores.
Pode ser também em áreas do próprio governo destinadas a esta finalidade.”
(STÉDILE, 1996, p.84).
Figura 11
13
Fonte: www.itcg.pr.gov.br/arquivos/Image/tn_620_600_Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
SÍMBOLOS
As simbologias no MST aparecem como integração social, proporcionando consenso ou
aceitação acerca do mundo no qual os indivíduos estão inseridos. Estes podem ser de diferentes
categorias, sagrados ou profanos, correspondendo ao momento histórico e cultural em que for
estabelecido, ajudando a constituir o imaginário social.
BAKHTIN (2002) Considera os símbolos como responsáveis pela aquisição da
consciência, pois, para ele, a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um
grupo organizado, no curso de suas relações sociais.
Segundo Stédile os símbolos do MST assim se caracterizam:
“A bandeira, o hino, as palavras de ordem, as ferramentas de trabalho, os frutos do
trabalho no campo etc. Eles aparecem, também, de muitas formas: no uso do boné, nas
faixas, nas músicas etc. As músicas são um símbolo muito importante. O próprio
Jornal Sem Terra para o MST, já é mais do que um meio de comunicação. É um
símbolo. O militante se identifica, tem afinidade, gosta dele.” (STÉDILE, 1999,
p.132).
Figura 12
14
Fonte: www2.faced.ufba.br/noticias/mst_aniversario_facedOrganização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura 13
Fonte: www.defesanet.com.br/mst/25_yrs_2.htmOrganização: Solange Maria Ernzen Vogel
15
Figura 14
Fonte: www.emdiacomacidadania.com.br/post.php?titulo... Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
Figura 15
Fonte: acriatura.files.wordpress.com/2009/09/mst_sal..Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
MÍSTICA
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A mística enquanto ritual é compreendida como um complexo de ações simbólicas, que
busca a construção da identidade de um sujeito, através da formação da subjetividade dos
indivíduos. Fazendo parte dos eventos de ação coletiva do MST, busca obter unidade entre os
participantes e fazer com que as pessoas se sintam bem em participar da luta, servindo também
de fonte de aplicação dos princípios organizativos. O MST traduz a mística como um ato
cívico-social, artístico-cultural e tem uma intencionalidade ao realizá-la, conforme nos afirma
CALDART:
“O MST trata da mística como sendo o tempero da luta ou a paixão que anima os
militantes. Não é simples explicá-la exatamente porque sua lógica de significação não
se expressa tanto em palavras, mas muito mais em gestos, símbolos, em emoções. Na
própria palavra está contido o limite de sua compreensão: mística quer dizer mistério,
ou seja, se for completamente desvelada perderá a essência de seu sentido. È por isto
que, no movimento, se costumam concordar com a afirmação de que a mística é uma
realidade que mais se vive do que se fala sobre ela. Mas, de qualquer modo, é possível
identificar alguns elementos deste sentido para podermos compreender como
participam da formação do Sem- Terra.” (CALDART, 2000, p.133-134).
Figura 16
Fonte: 2.bp.blogspot.com/_HYsMr_zqGBw/SjZjVhVHaDI/AA...Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
SIGNOS IDEOLÓGICOS
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A mística do MST emprega em seu contexto a poesia, a música, a dança, o teatro, os
instrumentos de trabalho, possibilitando a construção de um conjunto de símbolos, que vão
sendo convertidos em signos ideológicos que refletem uma realidade de forma simbólica para
que o indivíduo sinta-se bem na luta com objetivo definido pelo grupo.
Para Miotello (2004, p. 70), há algo além na materialidade da palavra, ela pode mais, pois
“A palavra é signo por excelência, pois ela pode carregar em si a história dos valores dos grupos
humanos organizados”.
A linguagem é trabalho simbólico, portanto, “a palavra é a arena onde se confrontam
os valores sociais contraditórios; os conflitos da língua refletem os conflitos de classe
no interior mesmo do sistema [...] A comunicação verbal, inseparável das outras
formas de comunicação, implica conflitos, relações de dominação e de resistência,
adaptação ou resistência à hierarquia, utilização da língua pela classe dominante para
reforçar seu poder, etc.” (BAKHTIN, 1997, p. 14).
REPRESENTAÇÃO NÃO-VERBAL
A representação não-verbal do MST se expressa na exposição de seus instrumentos de
uso pessoal, como o boné e a camiseta; as ferramentas de trabalho como a foice, o facão e a
enxada e dos gestos de como diante da bandeira de cores vermelha, preta, branca e verde. O
militante deve ficar em pé, em posição de sentido, com os calcanhares colados e os pés
entreabertos no solo, a espera do passo que leva ao futuro. O hino deve ser cantado com os
punhos fechados, sinal de desobediência à ordem imposta pelo latifúndio e ao terminar de
cantar o hino, deverá bater palmas e gritar palavras de ordem, para confirmar o que foi cantado.
A cor vermelha dos bonés não é gratuita. A cor impulsiona a ação. O vermelho é chama, é vida,
é provocador. Para Farina (1994, p.113), na força do vermelho "há um elo que determina nosso
comportamento". Para o autor, a cor vermelha tem como simbologia mostrar a conquista e a
energia.
“O controle disciplinar não consiste simplesmente em ensinar ou impor uma série de gestos
definidos; impõe a melhor relação entre um gesto e a atitude global do corpo, que é a sua
condição de eficácia e de rapidez. No bom emprego do corpo, que permite um bom emprego
do tempo, nada deve ficar ocioso ou inútil: tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato
requerido. Um corpo bem disciplinado forma o contexto de realização num mínimo gesto. (...)
O corpo disciplinado é à base de um gesto eficiente.” (FOUCAULT, 1987, p. 129)
Figura 17
18
Fonte: 4.bp.blogspot.com/.../s320/camisetas+do+mst.jpg
Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
REPRESENTAÇÃO VERBAL
A celebração da mística dos Sem Terra reflete uma realidade e de alguma forma toca nos
sentimentos das pessoas que dela participam ou que a presenciam. A música é de fácil
memorização, um ato de conscientização, animação e de indignação, estabelecendo a relação
entre os símbolos e os gestos dando-lhes sentido próprio. O hino é trabalhado com o significado
das palavras e o ritmo da música; na poesia há frases recitadas que fazem alusão aos mártires
dos conflitos de terras. No teatro, geralmente criados pelos assentados e acampados, destacam-
se temas como: conflitos de gênero, questões étnicas, questionamentos de como atingir as
pessoas que estão fora do MST, como trazer o debate sobre as questões agrárias no Brasil e suas
conseqüências no cotidiano das pessoas tanto urbanas quanto rurais.
De acordo com MEDEIROS, “a intenção é fazer com que, ao presenciar uma
celebração, as pessoas se sintam vivas; que, ao se defrontarem com a mensagem trazida por um
poema, por uma canção entoada ou pela teatralização realizada, elas experimentem sentimentos
de alegria ou tristeza, de coragem ou medo, de satisfação ou frustração, de saudade, de
indignação, de vontade de lutar.” (MEDEIROS, 2002, p.161).
Figura 18
19
Fonte: www.outubrovermelho.com.br/.../ Organização: Solange Maria Ernzen Vogel
7.3 - Poesia
Dividir a classe em grupo de três ou quatro alunos, com escolha de um coordenador.
Será apresentada uma poesia referente à mística no movimento sem terra, a qual os grupos
deverão analisar e interpretar, registrar os comentários e expor aos colegas o seu entendimento
sobre a mística.
Autor: Pedro Tierra
Título: A bandeira do MST
Com as mãos
de plantar e colher
com as mesmas mãos
de romper as cercas (1) do mundo
Te tecemos
20
Desafiando os ventos
sobre nossas cabeças
Te levantamos
Bandeira da terra,
Bandeira da luta,
Bandeira da vida,
Bandeira da liberdade!
Sinal de liberdade!
a que juramos:
não nascerá sobre tuas sombras
um mundo de opressores.
Sinal de terra
Conquistada!
Sinal da luta
e da esperança
sinal da vida
multiplicada
E quando a terra retornar
Aos filhos da terra
repousará sobre os ombros,
dos meninos livres
que nos sucederão!!!
1 "Cerca" se refere a " arame farpado, importante simbologia dos Sem Terra
Poemas: Editado por Else R P Vieira. Tradução © Bernard McGuirk, novembro de 2002
Fonte://www.landless-voices.org/index.phtml?ng=p
7.4 – Pesquisa
Os grupos deverão pesquisar nas diferentes mídias as manifestações da mística no movimento sem terra, anotando comentários sobre elas, registrando as considerações finais, para posterior socialização à classe.
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7.5 – Vídeo
Os alunos assistirão a um vídeo, com duração de 08 min. sobre as diferentes místicas praticadas pelo MST, fonte:
www.google.com.br/search?q=mistica+mst&tbo=p&tbs=vid%3A1&source=vgc&hl=ptBR&aq=f, acessado em 09 de 02 de 2007, contemplando o conteúdo de História e Movimentos Sociais.
Após o vídeo, os grupos se reunirão para reflexão, análise, interpretação e registro das considerações finais sobre o conteúdo: as místicas no movimento sem terra.
Tarefa: Elaborar uma história em quadrinhos, de forma verbal ou não verbal, apresentando as diferentes formas de místicas presentes no vídeo.
7.6 – Desenho
O grupo escolherá a manifestação mística que mais lhe chamaram atenção do movimento sem terra estudado, para representá-la de forma crítica através de um desenho, que será exposto para apreciação de todos os docentes e discentes da escola.
7.7 – Encerramento das atividades
Para a avaliação das atividades, será devolvido o questionário de sondagem aos alunos, como constatação da aprendizagem do conteúdo do projeto, sendo o questionário novamente recolhido para checar a apropriação do conhecimento do objeto de estudo.
8 - AVALIAÇÃO
A avaliação da aprendizagem deve ser compreendida como fenômeno compartilhado,
contínuo, processual e diversificado, propiciando uma análise critica das práticas que podem ser
retomadas e reorganizadas pelo professor e pelos alunos.
Os conteúdos de História e Movimentos Sociais tratados em sala de aula são essenciais
para o desenvolvimento da consciência histórica e crítica do educando, sendo necessário ter
clareza do que avaliar, tendo como princípio a finalidade, os objetivos, critérios e instrumentos,
permitindo rever o que precisa ser melhorado ou o que já foi aprendido.
Com a avaliação somativa pretende-se analisar como os estudantes compreendem os
movimentos sociais, políticos e culturais, que serão trabalhados através de narrativas,
documentos históricos e iconográficos, valorizando até os que foram produzidos pelos alunos,
sistematizando conceitos, reconhecendo criticamente as relações de poder, cultura e trabalho
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neles existentes, percebendo a intervenção no mundo histórico em que vivem, de modo que
possam ser sujeitos da própria História.
9 - BIBLIOGRAFIA
_____. Diretrizes Curriculares. Disponível em
http://www8.pr.gov.br/portals/portal/diretrizes/index.php acessado em 21/04/2008 às 11h40min.
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HUCITEC, 1997.
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CALDART, Roseli Salete. (2000). Pedagogia do Movimento Sem Terra. 2ª ed., Petrópolis:
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FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Blücher, 1994.
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MIOTELLO, Valdemir. Os Discursos Hegemônicos são turbulentos. In: Quimera e a peculiar
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WARREN, I. S. Movimentos Sociais. Florianópolis: UFSC, 1987.
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