Post on 30-Nov-2018
UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia do Trabalho
Maria Viviane Marques Arruda Capelini
IMPACTO DA GINÁSTICA LABORAL NO ÍNDICE DE QUEIXAS
DOLOROSAS DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA
LINS - SP
2010
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MARIA VIVIANE MARQUES ARRUDA CAPELINI
IMPACTO DA GINÁSTICA LABORAL NO ÍNDICE DE QUEIXAS
DOLOROSAS DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA
Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Fisioterapia do Trabalho sob a orientação do Professor M. Sc. Evandro Emanoel Sauro e da Professora M. Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva.
LINS – SP 2010
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Capelini, Maria Viviane Marques Arruda
C241i
Impacto da Ginástica Laboral no Índice de Queixas Dolorosas dos Trabalhadores da Indústria Calçadista / Maria Viviane Marques Arruda Capelini. – – Lins, 2010.
75p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins, SP para Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia do Trabalho, 2010.
Orientadores: Evandro Emanoel Sauro; Heloisa Helena Rovery da Silva
1. Ginástica Laboral. 2. Postura no Trabalho. 3. Indústria calçadista. I Título.
CDU 615.8
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MARIA VIVIANE MARQUES ARRUDA CAPELINI
IMPACTO DA GINÁSTICA LABORAL NO ÍNDICE DE QUEIXAS
DOLOROSAS DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA
Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de especialista em
Fisioterapia do Trabalho.
Aprovada em: ____/_____/______ Banca Examinadora: Prof. M. SC. Evandro Emanoel Sauro Mestre em Medicina Experimental – UNIMAR - SP
Profª. Heloisa Helena Rovery da Silva Mestre em Administração pela CNEC/ FACECA - MG
Lins – SP 2010
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À Deus pela sua infinita graça.
Aos meus pais, Geraldo e Luzia, pelo incansável apoio e dedicação.
Ao meu esposo, Junior, pela extrema compreensão e fiel companhia nas mais diversas situações, minha eterna gratidão.
E ao meu amado e precioso filho, Murilo, exemplo de amor e determinação, motivo de tudo em minha vida!
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AGRADECIMENTOS Ao Prof. Evandro Emanoel Sauro pela orientação científica deste
trabalho, minha sincera gratidão.
Aos colegas de classe, Renato Durante e José Paulo Candido,
obrigada pelo incentivo, parceria e agradável companhia.
Aos demais colegas, que conheci nesta Pós Graduação, aprendi
admirar a todos; cada um com sua especial característica, sempre
estarão em minha memória!
À Prof.ª Heloisa Helena Rovery da Silva, que com sua “especial”
didática, conseguiu transformar minha concepção sobre a disciplina de
Metodologia da Pesquisa.
Ao Prof. Eduardo Ferro, coordenador desta Pós Graduação, minha
admiração, pela notável forma como consegue transpor as dificuldades e
obstáculos encontrados pelo caminho.
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RESUMO Os benefícios da implantação de pausas com exercícios vêm sendo estudados e relatados por muitos autores. Estes estão relacionados à maior disposição para o trabalho, motivação para uma mudança no estilo de vida mais saudável, prevenção de doenças ocupacionais e até mesmo com uma maior produtividade. No entanto, a literatura existente contempla poucos estudos que avaliem o impacto da ginástica laboral no índice de queixas dolorosas dos trabalhadores. Este trabalho objetiva conhecer a existência das possíveis relações entre o índice de queixas dolorosas, os segmentos corporais mais atingidos e a relação com a postura de trabalho na indústria calçadista. E, através deste estudo identificar um melhor desempenho ou resultado da implantação de Programas de Ginástica Laboral nas empresas. Para tal, a metodologia proposta prevê a aplicação de questionários antes da implantação do programa de ginástica laboral e após três meses. O trabalho foi realizado em uma indústria de calçados femininos na cidade de Jaú (SP), que é considerada a capital do calçado feminino no Brasil. Foi estudado o setor de produção, dividindo o número total de funcionários em três grupos com aproximadamente quinze componentes cada. As atividades laborais do setor avaliado se caracterizam pela grande repetitividade de movimentos durante a maior parte da jornada de trabalho. As posturas de trabalho no setor estudado são sentadas, em pé, ou alternadas, dependendo da função do colaborador. A avaliação dos efeitos destas posturas de trabalho no índice de queixas dolorosas foi estudada antes e após a implantação do programa de ginástica laboral, baseada no preenchimento de questionários pelos colaboradores. Os resultados indicaram redução da queixas dolorosas em todas as posições de trabalho. As conclusões deste estudo apontam uma significativa redução no índice de queixas dolorosas nas diferentes posturas de trabalho após a implantação do programa de ginástica laboral. Porém, outras metodologias devem ser estudadas a fim de permitir o incremento dos benefícios a serem alcançados com a implantação de Programas de Ginástica Laboral nas empresas.
Palavras-Chave: Ginástica laboral. Postura de trabalho. Indústria
calçadista.
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ABSTRACT
The benefits of deploying breaks with exercise have been studied and reported by many authors. These are related to greater willingness to work, motivation for change in a healthier lifestyle, prevention of occupational diseases and even greater productivity. However, the literature includes few studies that assess the impact of gym work in the index of pain complaints of workers. This study investigated the existence of possible relationships between the index of pain complaints, the body segments most affected and the relationship with the working posture in the shoe industry. And through this study to identify the best performance or result of the implementation of programs Labor Gymnastic in business. To this end, the proposed methodology provides for the use of questionnaires before deployment of the program of gym work and after three months. The study was conducted in a women's shoe industry in the city of Jau (SP), which is considered the capital of feminine footwear in Brazil. We studied the production sector, dividing the total number of employees in three groups with approximately fifteen individual components. The sector work activities assessed are characterized by high repeatability of movement for most of the work day. Work postures in the area studied are sitting, standing, or alternate, depending on the role of developer. The evaluation of the effects of work postures in the index of pain complaints was studied before and after the implementation of the program of gym work, based on the completion of questionnaires by the employees. The results showed reduction of pain complaints in all positions of employment. The findings of this study indicate a significant reduction in the incidence of pain complaints in different work postures after the fortification of gym work. However, other methods should be studied to allow the increase of benefits to be achieved with the implementation of programs Labor Gymnastic in business. Key Words: Labor gymnastics. Working posture. Footwear industry.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CTD - Cumulative Trauma Disorders
DCO - Doença Cervicobraquial Ocupacional
DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
FEEVALE – Federação de Ensino Superior do Vale dos Sinos
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
LER - Lesões por Esforços Repetitivo
LTC - Lesões por Traumas Cumulativos
MTb – Ministério do Trabalho
MUDES – Sistema MUDES do Esporte Não-Formal na Empresa
NIOSH - National Institute of Ocupational Safety and Health
NR – Norma Regulamentadora
OMS – Organização Mundial de Saúde
RT – Rotação de Trabalho
SER - Sociedade Esportiva e Recreativa
SSO - Síndrome de Sobrecarga Ocupacional
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Fatores de risco de LER 30
Quadro 2 – Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e
as lesões
31
Quadro 3 – Escala de Holmes-Rahe de ajustamento social 35
Quadro 4 – Tempo de pausa por hora trabalhada de acordo com a
situação de trabalho
49
Quadro 5 – Indicação de pausas de acordo com a situação de
trabalho
51
Quadro 6 – Relação de funções na empresa estudada, número de
funcionários, postura de trabalho e segmentos corporais expostos à
sobrecarga muscular
57
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Posturas de trabalho encontradas no setor estudado. 60
Figura 2 – Porcentagem de freqüência na Ginástica Laboral. 60
Figura 3 – Índice de queixa dolorosa 61
Figura 4 – Incidência de localização das queixas dolorosas antes
da implantação da GL e após três meses.
61
Figura 5 – Prevalência de queixas dolorosas nas diferentes
posturas de trabalho após três meses de implantação da GL.
62
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
14
CAPITULO I – A GINÁSTICA LABORAL 17
1 HISTÓRICO 17
1.1 Ginástica laboral no mundo 17
1.2 Ginástica laboral nas empresas brasileiras 18
1.3 Conceitos e definições da ginástica laboral 18
1.3.1Modalidades de ginástica laboral 20
1.4 Benefícios da ginástica laboral 21
1.5 Modelos de implantação da Ginástica Laboral 22
1.6 Custos de programas de ginástica laboral 23
1.7 Ganhos e produtividade 24
CAPÍTULO II – A DOR E AS PATOLOGIAS RELACIONADAS 27
2. SAÚDE E TRABALHO 27
2.1 Doenças Ocupacionais 28
2.2 Segmentos corporais mais afetados 30
2.3 Fatores de risco associados 32
2.3.1 Estresse 32
2.3.2 Movimentos repetitivos 40
2.3.3 Posturas inadequadas 42
2.3.4 Força 43
2.3.5 Resistência muscular 44
2.3.6 Fadiga muscular 45
2.4 Sedentarismo 46
2.5 Pausas 49
2.5.1 Micropausas 52
2.6 Percepções da dor 54
CAPÍTULO III – A PESQUISA DE CAMPO 57
3. MÉTODOS E TÉCNICAS 57
14
INTRODUÇÃO
Muitas questões relacionadas aos recursos humanos das
empresas como a insatisfação, motivação e o desconforto muscular,
refletem diretamente no desempenho e produtividade das organizações.
Desta forma, as empresas buscam de diversas maneiras, medidas de
prevenção que amenizem tais aspectos.
Durante toda a fase produtiva, o corpo humano sofre alterações
decorrentes dos esforços os quais é submetido. Vale ressaltar que, além
destas alterações, todas as funções do corpo humano são fortemente
influenciadas pelo processo degenerativo do envelhecimento.
Segundo Meirelles (1997, p.28), “O envelhecimento não é um
processo unilateral, mas a soma de vários processos entre si, os quais
envolvem os aspectos biopsicossociais”.
De outra forma, para Leite (1996, p.18), “à medida que o indivíduo
declina fisicamente, pode haver uma deterioração concomitante na
sensação de bem-estar, resultando em auto-estima precária, ansiedade,
fadiga e depressão. Esses estão freqüentemente associados a pouca
motivação e uma redução adicional na atividade física.”
Neste sentido, a implantação de um programa de Ginástica Laboral
busca despertar nos trabalhadores a necessidade de mudanças do estilo
de vida, e não apenas de alteração nos momentos de ginástica orientada
dentro da empresa.
O mais convincente dos argumentos, que se pode utilizar para
demonstrar que a atividade física constitui um importante instrumento de
promoção da saúde e a produtividade, é que vale a pena praticar
exercícios físicos regularmente, em virtude dos benefícios comprovados
cientificamente (POLETTO; AMARAL, 2004).
Segundo Nahas (2001, p.148), a prática de atividade física regular
e orientada preserva a saúde nos seguintes níveis:
a) aumenta a resistência dos ossos;
b) retarda o processo de osteoporose;
c) aumenta o tônus muscular;
15
d) desenvolve a força e a resistência muscular;
e) preserva a saúde da coluna;
f) protege as articulações das degenerações comumente
encontradas entre os sedentários;
g) proporciona maior desempenho físico no trabalho e no lazer;
h) proporciona maior tolerância a sobrecarga;
i) propicia uma sensação permanente de bem-estar geral;
j) diminui a fadiga mental;
k) diminui o nível de ansiedade;
l) melhora o humor;
m) melhora a qualidade do sono;
n) gera maior integração social;
o) desperta no grupo a necessidade da aplicação de princípios
como espírito de equipe, método, disciplina e respeito.
O ritmo excessivo de trabalho, postura inadequada, esforço físico,
movimentos repetitivos e condições físicas inadequadas dos postos de
trabalho causam tensões no corpo. Estas condições desencadeiam
grandes males à saúde e podem ser responsáveis pelo afastamento
temporário ou até pela invalidez permanente dos trabalhadores. As
tensões ainda podem ocasionar falta de atenção no trabalho, caminho
direto para baixa produtividade e acidentes de trabalho.
Para combater ou prevenir tais problemas, observa-se que a
prática regular de atividade física vem apresentando bons resultados
quanto à prevenção de doenças ocupacionais como os DORT (Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). (POLITO, 2002).
Neste estudo foi implantado um Programa de Ginástica Laboral
para trabalhadores de uma indústria calçadista na cidade de Jaú – SP. O
Programa de GL foi desenvolvido no setor de produção da empresa,
escolhido por apresentar tarefas laborais com intensa repetitividade,
posturas e postos de trabalhos inadequados. O período de duração do
programa foi de três meses, aferindo-se o índice e a localização de
queixas dolorosas antes e após a sua implantação.
O principal objetivo deste estudo foi identificar os efeitos da
implantação de um programa de ginástica laboral, aferindo o índice de
16
queixa dolorosa existente, analisar os dados antes e após a implantação
e investigar a correlação entre a postura de trabalho e a incidência de
queixa dolorosa.
Na indústria calçadista onde se desenvolveu o estudo não havia
qualquer intervenção ergonômica. Sendo assim, previamente a
implantação do Programa de GL, foi realizada uma visita pela
fisioterapeuta responsável pelo estudo, a fim de identificar as
necessidades da empresa, assim como, analisar biomecanicamente as
tarefas dos trabalhadores e prescrever os exercícios adequados a cada
função. Após a visita foi realizada uma palestra de sensibilização para os
funcionários, explicando sobre a importância do Programa de GL.
Foi solicitado aos funcionários participantes do estudo o
preenchimento de um questionário antes e após três meses da
implantação.
Através deste estudo buscou-se identificar se a implantação de um
programa de ginástica laboral proporciona redução no índice de queixa
dolorosa dos trabalhadores de uma indústria calçadista.
Este estudo foi estruturado em capítulos visando melhor
entendimento.
O capitulo I trata de todo histórico envolvendo a ginástica laboral,
seus benefícios e modalidades existentes. No capitulo II são abordadas
as patologias relacionadas ao trabalho e no capitulo III está descrito como
se desenvolveu este estudo.
17
CAPÍTULO I
A GINASTICA LABORAL
1 HISTÓRICO
Os primeiros registros da prática da Ginástica Laboral (GL) são de
1925. Neste ano, na Polônia, operários se exercitavam com uma pausa
adaptada a cada ocupação em particular.
Alguns anos depois, esta ginástica foi adotada também na Holanda
e na Rússia. No inicio da década de 60, começou a ser praticada na
Alemanha, Suécia, Bélgica, e no Japão. Os Estados Unidos adotaram a
GL em 1968 (LIMA apud FIGUEREDO; MONT’ALVÃO, 2005).
No Brasil surgem as primeiras manifestações de atividades físicas
entre funcionários em 1901, mas a GL teve sua proposta inicial publicada
somente em 1973.
1. 1 Ginástica laboral no mundo
Sobre a Ginástica Laboral, a primeira notícia que se encontra é
uma pequena brochura editada na Polônia em 1925, onde foi chamada
também de Ginástica de Pausa. Era destinada a operários, alguns anos
depois surgiu também na Holanda e Rússia. Na Noruega ela também foi
identificada através do Serviço Social dos Marinheiros. Estes foram
valorizados com atividades físicas, realizadas nos próprios barcos ou nos
portos durante as escalas. No início dos anos 60 a Bulgária, Alemanha,
Suécia e Bélgica adotaram também estes procedimentos. (CAÑETE,
1996).
Apesar de ter iniciado na Polônia, a Ginástica Laboral se
desenvolveu realmente no Japão, iniciando em 1928 com os funcionários
dos Correios. Após a II Guerra Mundial foi difundida em todo o país,
18
sendo que atualmente dois terços dos trabalhadores japoneses
exercitam-se diariamente. O resultado obtido, divulgado em 1960 é a
conseqüente redução de acidentes, o aumento da produtividade e a
melhoria do bem-estar dos trabalhadores. (CAÑETE, 1996).
A difusão da Ginástica Laboral entre os japoneses aconteceu
devido a um programa da Radio Taissô, que consistia em ginástica
rítmica, com exercícios específicos, transmitidos diariamente de manhã
por pessoas preparadas e que era acompanhado e executado não
somente nas fábricas, mas por toda a população. O programa
apresentava ainda informações gerais sobre saúde e trabalho. (POLITO,
2002).
Um estudo na Bélgica, em 1966, mostrou que a capacidade de
atenção depois de um tempo de atividades físicas melhorava em 80,5%,
enquanto que depois de um tempo de repouso esta melhora era de
apenas de 30,5%. (BRASIL, 1991).
Na França a introdução da Ginástica Laboral, se deu inicialmente
através dos alunos das escolas profissionalizantes. Após foi adotada por
outros tipos de empresas como a Companhia de Energia, Ferrovia,
Fundição, Mineradoras, Construção Naval e outras. (MASCELANI, 2001).
Nos Estados Unidos, muitas empresas têm investido em
programas de Ginástica Laboral. Os programas são implantados não
somente para melhorar e manter o condicionamento físico dos
funcionários, mas também para promover o bem-estar psicológico e a
produtividade, reduzindo desta forma o absenteísmo e o estresse. Em
recente pesquisa realizada ficou comprovado que a implantação de
programas de Ginástica Laboral reduz os índices de absenteísmo,
satisfação com o trabalho e custos com tratamentos de saúde. (RODIN;
PLANTE apud CAÑETE, 1996).
1.2 Ginástica laboral em empresas brasileiras
No Brasil as primeiras informações que se tem conhecimento
datam das décadas de 70 e 80. Um exemplo disto foi a proposta
19
elaborada pela FEEVALE – Federação de Ensino Superior do Vale dos
Sinos, que desenvolveu o Projeto Ginástica Laboral Compensatória,
iniciando sua implantação em 1978 em cinco empresas do Vale dos
Sinos. (CAÑETE, 1996).
A experiência desenvolveu-se no Vale dos Sinos e caiu no
esquecimento por um longo período, devido ao seu objetivo direcionado a
estudos e a mentalidade da época voltada para a implantação em outras
empresas. Na década de 80 a Ginástica Laboral é retomada, voltando
com força total nos anos 90 devido ao enfoque das empresas para a
qualidade de vida, prevenção do estresse e das doenças relacionadas
com lesões por esforços repetitivos. (POLITO, 2002).
1.3 Conceitos e definições da ginástica laboral
A Ginástica Laboral é um programa implantado em empresas, que
consiste em pausas com exercícios programados previamente, que levam
em consideração as atividades e demandas físicas existentes nos mais
diversos setores. Os exercícios são aplicados no próprio ambiente de
trabalho durante o expediente. Ela é também conhecida como ginástica
de pausa, ginástica do trabalho, compensatória e atividade física na
empresa (MASCELANI, 2001).
Quando avaliada de forma superficial, a pausa com exercícios
aparentemente atende apenas aos interesses da empresa, enquanto
busca a redução de queixas, afastamentos, acidentes e doenças do
trabalho. Porém, o programa busca não somente um melhor desempenho
no trabalho, mas promover uma mudança no estilo de vida, motivando a
prática de atividade física regular. Se não atingir este objetivo o programa
poderá cair na monotonia, reduzindo seus efeitos e desmotivando os
participantes (MASCELANI, 2001).
Para Polito (2002), a Ginástica Laboral constitui-se de uma série de
exercícios diários, realizados no local de trabalho e durante a sua jornada,
prevenindo lesões ocasionadas pelo trabalho, normalizando as funções
20
corporais, e proporcionando momentos de descontração e socialização
entre os funcionários das empresas.
Sharcow et al. (apud CAÑETE 1996) entendem que a Ginástica
Laboral também como um espaço onde as pessoas podem exercer
exercícios físicos, por livre e espontânea vontade, que vai além do
movimento mecânico, mas promove o auto-conhecimento, a auto-estima
e um melhor relacionamento consigo mesmo e com as outras pessoas.
Trata-se de um conjunto de práticas elaboradas a partir da
atividade profissional exercida. As diversas modalidades de Ginástica
Laboral procuram compensar as estruturas do corpo mais utilizadas
durante o trabalho e ativar as que não são requeridas, aquecendo,
relaxando e tonificando-as. (COSTA FILHO, 2001).
1.3.1 Modalidades de ginástica laboral (GL)
Parte integrante do programa de qualidade de vida que envolve
toda a organização, a adoção de um programa de desenvolvimento de
atividades físicas é algo novo no âmbito das organizações brasileiras. Ele
representa um avanço não somente para a prevenção de doenças
ocupacionais, mas como um agente motivador da mudança de estilo de
vida mais saudável.
As modalidades de Ginástica Laboral são classificadas pelo
objetivo a que se destinam e também de acordo com o horário a serem
aplicadas. Há também situações em que as modalidades são aplicadas
simultaneamente ou de forma mista.
A GL compreende exercícios específicos de alongamento,
fortalecimento, coordenação motora e de relaxamento, realizados em
diferentes setores da empresa, tendo como principal objetivo prevenir a
instalação de doenças ocupacionais. (OLIVEIRA, 2006).
Segundo Martins (2001) são exercícios efetuados no próprio local
de trabalho, com sessões de cinco, dez ou quinze minutos.
Para Figueredo e Mont’Alvão (2005), a GL é uma atividade física
realizada durante a jornada de trabalho, com exercícios de compensação
21
aos movimentos repetitivos, a ausência de movimentos ou a postura
desconfortável assumidas durante o período de trabalho.
A GL tem sido classificada, por diversos autores, em quatro tipos:
preparatória, compensatória, de relaxamento e corretiva.
a) Ginástica Laboral Preparatória: atividade física realizada antes
de se iniciar a jornada de trabalho, aquecendo e despertando o
organismo, com o objetivo de prevenir acidentes, distensões
musculares e doenças ocupacionais (DIAS, 1994).
b) Ginástica Laboral Compensatória: definida por Kolling (1980),
um dos precursores da GL no Brasil, como a ginástica que tem
por objetivo trabalhar músculos inativos e relaxar os que estão
em contração constante durante a maior parte da jornada de
trabalho. Proporcionando desta forma, compensação dos
músculos agonistas para com os antagonistas, de forma
equilibrada. Assim, sendo, esses exercícios realizados durante
ou após a jornada de trabalho atuam de forma terapêutica.
(MARTINS, 2001).
c) Ginástica Laboral de Relaxamento: são atividades praticadas ao
final de expediente de trabalho com objetivo de relaxar o corpo
e aliviar tensões, proporcionando relaxamento muscular e
mental aos trabalhadores. (OLIVEIRA, 2006).
d) Ginástica Laboral Corretiva: tem como finalidade estabelecer o
antagonismo muscular, utilizando exercícios para fortalecer
músculos fracos e alongar os músculos encurtados,
destinando-se aos trabalhadores com déficits morfológicos.
(TARGA apud CAÑETE, 2001).
1.4 Benefícios da ginástica laboral
A Ginástica Laboral proporciona benefícios tanto para o
trabalhador, quanto para a empresa. Além de prevenir as LER/DORT, ela
tem apresentado resultados mais rápidos e diretos com a melhora do
22
relacionamento interpessoal e o alívio das dores corporais (OLIVEIRA,
2006; GUERRA, 1995; MENDES, 2000).
Partindo deste pressuposto, evidencias tem demonstrado que a GL
em média, após três meses a um ano de sua implantação, em uma
empresa, tem apresentado benefícios, tais como: diminuição dos casos
de LER/DORT, menores custos com assistência medica, alívio das dores
corporais, diminuição das faltas, mudanças de estilo de vida, e o que mais
interessa para as empresas, aumento da produtividade.
Outro dado importante a ser observado, é o retorno financeiro que
esta ginástica tem representado para as empresas. Pesquisas realizadas
nos Estados Unidos indicam que, para cada dólar investido em
programas de qualidade de vida, são economizados três dólares incluindo
assistência medica, queda de faltas no trabalho, na rotatividade, além de
um aumento da produtividade (JIMENES, 2002).
Seguindo a mesma idéia, Ferreira (1998) exemplifica: na Du Ponte
do Brasil, para cada dólar investido no programa, a empresa economiza
US$ 4,00 com a redução do número de licenças e despesas médicas,
além de relatar um aumento da produtividade.
Um estudo de caso descritivo, com 42 trabalhadores,
desenvolvido por Mendes (2000), analisou a repercussão de um
programa de Ginástica Laboral na qualidade de vida de trabalhadores de
escritório, verificando que estes programas repercutiram positivamente na
qualidade de vida dos trabalhadores, influenciando, inclusive, em suas
comunidades.
No Brasil, há poucas estatísticas com relação ao retorno financeiro
para as empresas que implantam programas de qualidade de vida, pois
alguns empresários evitam revelar dados, talvez por receio dos sindicatos
tornarem essa prática obrigatória.
Os resultados parecem indicar a importância de se desenvolver
programas de GL na prevenção e na redução de doenças ocupacionais,
trazendo grandes benefícios para as empresas e trabalhadores.
1.5 Modelos de implantação da ginástica laboral
23
Os problemas principais encontrados para a implantação de um
programa de ginástica laboral, segundo Polito (2002) são:
a) convencer a direção da empresa que a pausa de 10 a 15
minutos para a ginástica não prejudica a produtividade;
b) desconhecimento dos participantes quanto à importância da
ginástica interferindo em sua adesão ao programa;
c) o descrédito quanto aos resultados da ginástica, considerando
que são aulas de apenas 10minutos (pausa-ativa);
d) dificuldade em encontrar um local adequado para as aulas,
considerando que a empresa não é uma academia e que os
recursos existentes no local de trabalho devem ser explorados.
1.6 Custos de programas de ginástica laboral
Os ganhos com a implantação de um programa de Ginástica
Laboral apresentam muitos benefícios, tanto para as empresas quanto
para os funcionários. Porém, uma organização frente a uma proposta de
implantação ou não de programas que envolvam custos, avalia os seus
benefícios e ganhos em contrapartida destes.
Há ainda uma questão que envolve a aparente perda de tempo
relacionada às pausas para ginástica, questionada pelos gerentes e
empresários, uma vez que a ginástica laboral é realizada durante o
horário de trabalho.
Mencionar os benefícios obtidos com a implantação da Ginástica
Laboral, principalmente no que se refere à produtividade, não é evidente,
pois está relacionada a vários fatores como o número de atividades,
condições de máquinas, sistema de produção. Portanto, implantar um
programa em empresas onde o empresário, ou a gerência, preocupa-se
somente em ganhos diretos com produtividade é difícil.
Um estudo realizado por Paffemberger (apud POLITO 2002)
buscou mostrar os lucros obtidos com a Ginástica Laboral e concluiu que,
para cada dólar investido, retornam para a empresa dois dólares.
24
Os custos diretos com a implantação do programa de Ginástica
Laboral estão relacionados diretamente com o número de profissionais
envolvidos com a elaboração, coordenação e implantação dos mesmos.
Para a implementação do programa é indispensável que a
empresa contrate um profissional especializado, que poderá ser um
professor de Educação Física ou Fisioterapeuta. Este profissional,
capacitado e habilitado, executará os exercícios junto à equipe de
trabalhadores dos diferentes setores. O custo do profissional dependerá
do tempo e da freqüência de permanência na empresa.
1.7 Ganhos e produtividade
Os ganhos com a implantação da ginástica laboral são estudados
há muito tempo. Entre 1984 e 1985, a Fundação MUDES (Sistema
MUDES do Esporte Não-Formal na Empresa), sediada no Rio de Janeiro,
publicou uma síntese de pesquisas realizadas no exterior, que
relacionava os critérios de relações de trabalho com as cifras que mais se
repetiram no estudo:
a) Produtividade: aumento de 2 a 5%;
b) Acidentes: redução de 20 a 25%;
c) Rotatividade: redução de 10 a 15%;
d) Absenteísmo: redução de 15 a 20%.
A validação destes dados varia não só entre tipos de empresa,
mas também entre países. A variação de resultados mostra uma
característica positiva entre os resultados, geralmente relacionada à
mudança de hábitos de saúde e convivência social. (BRASIL, 1991).
Segundo Gaelzer (1985 apud PULCINELLI, 1994), não se pode
afirmar que há um aumento de produtividade individual com a prática de
exercícios físicos, pois esta depende de fatores externos.
No entanto, um trabalho realizado por Pereira e Freitas (2002),
com cirurgiões dentistas, mostrou que os profissionais que adotam a
Ginástica Laboral como rotina no consultório, apresentam um aumento na
produtividade e redução de problemas álgicos.
25
Um estudo realizado para avaliar o melhor horário para os efeitos
positivos em relação à evolução dos DORT, com 208 funcionários de uma
empresa, mostrou os diferentes efeitos da aplicação da ginástica
preparatória e da compensatória. O grupo de funcionários no qual a
Ginástica Laboral é realizada no início da jornada de trabalho
(preparatória) apresentou uma redução de 73% das dores musculares.
Já, o grupo de funcionários em que a ginástica laboral é realizada durante
a jornada de trabalho (compensatória), reduziu em 48% as dores
musculares. Ainda observou-se que no geral 69% dos funcionários
sentem-se mais dispostos para o trabalho, após a implantação da
Ginástica Laboral (MACHADO, 2002).
Perossi e Oliveira (2002) realizaram um estudo dos efeitos da
implantação da Ginástica Laboral em uma indústria metalúrgica. As
pausas com exercícios são de 5 minutos, duas vezes por dia, uma no
início e outra no meio da jornada de trabalho. Após 10 meses de
implantação foram avaliados os seguintes resultados:
a) redução das dores musculares em vários segmentos;
b) melhora significativa na flexibilidade;
c) uma ótima aceitação do programa de Ginástica Laboral pelas
chefias da empresa;
d) não foi identificada melhora significativa na postura.
De outra forma, Simões e Barruffi (2002), avaliaram os benefícios
alcançados com a implantação de Programas de Ginástica Laboral em
uma empresa metal mecânica. Após seis meses, um dos benefícios
observados foi a redução em 60% da procura ambulatorial, relacionada
às dores musculares. Observou-se ainda uma melhora do bem-estar
geral do trabalhador em 100% e conseqüente melhora da fadiga
muscular.
Para o aumento da produtividade a Ginástica Laboral pode
contribuir, desde que associada a outras medidas que melhorem as
condições do posto de trabalho. Neste sentido, as intervenções
ergonômicas contribuem para a melhoria de qualidade de vida no
trabalho, reduzindo os acidentes de trabalho e incidência de lesões,
melhorando a produtividade relacionada à redução de afastamentos do
26
trabalho. Já, a Ginástica Laboral melhora a qualidade de vida, quando
promove a quebra do ritmo, rigidez e monotonia no trabalho (COSTA
FILHO, 2001).
Os ganhos em produtividade relacionados à Ginástica Laboral
referem-se mais aos efeitos alcançados com a melhoria da qualidade de
vida através da promoção da saúde das pessoas envolvidas com os
programas de exercícios. O bem-estar geral que se estabelece com as
pausas com exercícios podem se refletir nos ganhos com produtividade,
quando reduz as faltas no trabalho, aumenta a disposição e motivação
dos trabalhadores.
27
CAPÍTULO II
A DOR E AS PATOLOGIAS RELACIONADAS AO TRABALHO
2 SAÚDE E TRABALHO
As condições de trabalho atuais refletem as tensões a que estão
submetidos os indivíduos no seu dia-a dia. Desta forma, aparecem
pressões internas que são impostas, quando estes lutam pela
sobrevivência no mercado de trabalho. A competividade e as exigências
de qualidade deste mercado, tais como: eficiência e velocidade na
realização das atividades são uma constante.
De outra forma, as pressões externas provocadas pelo mercado,
de exigências e de modificações constantes, implicam em adequação dos
sistemas de produção à realidade e flexibilidade de atendimento aos
clientes.
Portanto, os indivíduos que trabalham são submetidos a tensões
que, somadas às exigências normais da sua atividade, podem provocar o
surgimento de doenças e/ou queixas relacionadas ao trabalho.
Assim, o trabalho excessivo, a postura inadequada, as forças
excessivas, as repetições constantes de mesmos movimentos e as
condições críticas de materiais, equipamentos e instalações nas
empresas, também contribuem para as tensões no corpo. Originam males
que são responsáveis pelo surgimento de doenças e que podem provocar
afastamentos temporários e até permanentes do trabalho.
Portanto, reconhecer as situações de trabalho, que possam
provocar danos à saúde do trabalhador, desperta o interesse das
organizações, na busca de medidas preventivas. As situações de trabalho
nas empresas em geral, que merecem atenção são aquelas nas quais as
atividades exigem movimentos repetitivos, posturas inadequadas,
esforços e situações causadoras de estresse e fadiga. (COSTA FILHO,
2001).
28
2.1 Doenças ocupacionais
Dentre as doenças ocupacionais, as afecções músculo-
esqueléticas aparecem no primeiro lugar nas estatísticas, recebendo
assim, a atenção especial do NIOSH (National Institute of Ocupational
and Health) (MENDES, 1995). Ainda aponta o autor, que a entidade
considerou como prioritário, dentro dos distúrbios músculo-esqueleticos,
estudar as afecções da coluna vertebral, principalmente as lombalgias e
as alterações orgânicas relacionadas aos movimentos repetitivos e as
vibrações.
As doenças ocupacionais relacionadas a demandas musculares
necessárias para a realização de atividades laborais seguem uma
nomenclatura oficial no Brasil, as mais usadas são:
a) DORT: Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho;
b) LER: Lesões por Esforços Repetitivos;
c) LTC: Lesões por Traumas Cumulativos;
d) DCO: Doença Cervicobraquial Ocupacional;
e) CTD: Cumulative Trauma Disorders;
f) SSO: Síndrome de Sobrecarga Ocupacional.
As primeiras anotações sobre doenças ocupacionais ocorreram há
mais de 250 anos atrás pelo médico Bernardino Ramazzini, que observou
as doenças desenvolvidas no trabalho dos Escribas e Notários
(RAMAZZINI, 1992).
Segundo Welsh (apud PULCINELLI 1994), a primeira doença
descrita na literatura relacionada a movimentos repetitivos é a
tenossinovite. Mendes (1995) descreve a tenossinovite como um
processo inflamatório da bainha dos tendões, causado por traumatismos
agudos de esforços repetitivos, doenças sistêmicas, reumáticas e não
reumáticas.
Já em 1891, segundo Seda (apud PULCINELLI 1994), Fritz De
Quervain descreveu a doença como entorse das lavadeiras, quando
identificou um desgaste nos tendões dos músculos adutor longo e
extensor curto do polegar. Esta enfermidade mais tarde ficou denominada
de tenossinovite de De Quervain. São produzidas por estresse mecânico
29
prolongado, resultando inflamação por atrito e espessamento
compressivo da bainha tendinosa.
Com o aumento da mecanização industrial aparecem novas
patologias ocupacionais que receberam diferentes denominações de
acordo com o país:
a) no Japão - a partir de 1958 foram descritos casos de
Occupational Cervicobrachial Disorders em perfuradores de
cartão, operadores de caixa registradora e datilografia;
b) na Austrália e Inglaterra – na década de 70, denominada
Occupacional Overuse Injuries, mudando o termo em 1980 para
Repetitive Strain Injuries;
c) nos Estados Unidos - em 1986 Cumulative Trauma Disorders;
d) no Brasil - a partir da Portaria 4062 do INSS no ano1987,
recebem a denominação de Lesões por Esforço Repetitivo -
Ordem de Serviço 606, e 1998 adota a terminologia DORT
(Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).
Segundo, Smith (1996) há oito fatores de risco que interferem na
ocorrência de distúrbios osteomusculares:
a) a freqüência de movimentos do membro superior (índice de
repetições);
b) a postura das articulações do membro superior e pescoço;
c) a força necessária para realizar a tarefa;
d) as vibrações;
e) as condições do ambiente de trabalho;
f) as características da organização do trabalho;
g) as condições psicossociológicas;
h) fatores de risco de ordem pessoal (sexo, idade, traumas
anteriores, nível de condicionamento físico).
Para Polito (2002) são três tipos de fatores que podem causar a
DORT ou LER, conforme apresentado no Quadro 1.
Fatores de Risco LER
Fatores
Biomecânicos
Movimentos repetitivos
Uso de força
30
Postura inadequada
Uso de ferramentas manuais
Fatores
Administrativos
Ineficácia da empresa em eliminar riscos
potenciais
Método de trabalho inadequado
Uso de equipamentos e ferramentas
impróprios
Fatores
psicossociais
Pressões no trabalho
Inexistência de autonomia e controle sobre
o trabalho
Pouca variabilidade no conteúdo da
atividade
Fonte: POLITTO, 2002, p.44
Quadro 1 – Fatores de risco de LER/DORT.
2.2 Segmentos corporais mais afetados pela LER/DORT
A) Coluna vertebral
Os discos e articulações da coluna vertebral são sensíveis a
pressões e movimentos exagerados ou abruptos, podendo causar lesões
que provocam dores. Estas lesões podem ser resultantes de posturas
inadequadas e/ou esforços físicos exagerados. (JOST, 2000).
A lombalgia está entre os problemas clínicos mais comuns
observados nos trabalhadores independentemente da faixa etária, classe
social ou ocupação. Os distúrbios da força e desequilíbrios musculares
geralmente são encontrados em indivíduos que sofrem de problemas
lombares, apresentam pouca flexibilidade nos músculos flexores do
quadril, musculatura abdominal e lombar enfraquecidas. Este fato é
corroborado por Medley (apud POLLOCK; WILMORE 1993), afirmando
que aproximadamente 80% dos problemas lombares são de origem
muscular.
31
B) Membros superiores
Quase tão comum quanto os problemas lombares, estão às dores
nos membros superiores, pescoço e ombros. Quando os braços e mãos
são mantidos em posição não relaxada, sem apoio ou em posição
forçada, os efeitos podem ser sentidos não somente nestes segmentos,
mas também no pescoço e ao longo das costas.
Em um estudo realizado por Bernard (1997 apud COUTO 1998)
para o NIOSH (National Institute of Ocupational Safety and Health)
evidenciou cientificamente a relação entre alguns fatores de risco e as
lesões por segmento muscular. As evidencias são classificadas em forte,
razoável e suficiente. Este estudo confirmou os fatores de risco
relacionados às lesões.
Fator de
Risco
Pescoço
e cintura
escapular
Ombro
cotovelo
Punho / mão
S. Túnel
do Carpo
Tendinite
Repetitividade ++ ++ +/- ++ ++
Força ++ +/- ++ ++ ++
Postura +++ ++ +/- +/- ++
Vibração +/- +/- ++
Combinação +++ +++ +++
Legenda: +++ evidência forte ++ evidência razoável +/- evidência suficiente
Fonte: BERNARD (apud COUTO, 1998, p. 81).
Quadro 2 – Evidências científicas entre os fatores biomecânicos e as
lesões
Para os membros superiores, um dos aspectos do trabalho que
apresenta maior prevalência, são as atividades com exigência de
movimentos repetitivos. Para Yassi (1997), os movimentos repetitivos são
os causadores de grande número de doenças que afetam os membros
superiores.
32
2.3 Fatores de risco associados
Os problemas músculo-esqueléticos são atribuídos a fatores
associados, chamados por Ayoub e Wittels (apud MALCHAIRE, 1998) de
fatores de risco:
a) fatores individuais: hábitos, doenças anteriores, capacidade
funcional,
b) fatores ligados às condições de trabalho: esforços,
repetitividade, postura,
c) fatores organizacionais: clima social, organização da empresa,
etc.
Cnockaert e Claudon (apud MALCHAIRE, 1998) definem o risco
como o resultado do desequilíbrio entre a capacidade do indivíduo e o
que se exige do mesmo. Relacionam ainda os danos fundamentais
ocasionados pelos esforços, repetitividade e posturas inadequadas, que
depende então de sua duração.
A capacidade funcional do indivíduo depende do seu
condicionamento físico, envelhecimento, do nível de estresse e da
equação pessoal que é definida pelo estado geral de saúde e doenças
anteriores e genéticas (CNOCKAERT; CLAUDON apud MALCHAIRE,
1998, p.20).
Aptel (apud MALCHAIRE, 1998) propõe outro modelo que divide os
fatores diretos e indiretos (co-fatores) relacionados aos problemas
músculo-esqueléticos. Os fatores diretos são aqueles relacionados
diretamente ao indivíduo como: características pessoais do indivíduo e
fatores biomecânicos. Os fatores indiretos ou co-fatores estão
relacionados à organização da empresa e ao estresse. (APTEL apud
MALCHAIRE, 1998).
2.3.1 Estresse
A preocupação com o estresse iniciou na década de 80, com o
estudo dos efeitos deste no rendimento no trabalho. Os estudos mostram
33
um aumento de afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais,
rotatividade precoce com grande troca de trabalhadores e redução da
produtividade (ACEVEDO ALVAREZ, 2002).
O estresse no trabalho é conceituado por muitos autores e em
geral a sua definição é dada conforme a formulação de Grandjean (1998,
p.165): “O estado emocional, causado por uma discrepância entre o grau
de exigência do trabalho e os recursos disponíveis para gerenciá-lo,
define o estresse no trabalho.”
No entanto, Acevedo Alvarez (2002) define o estresse como uma
resposta de alerta do organismo diante de um estímulo de ameaça, ao
qual responde mediante a liberação de substâncias bioquímicas com
efeitos a longo prazo, principalmente a adrenalina. Esta produção de
estímulos se manifesta de forma física e psíquica. Os sentidos físicos são
manifestados como a aceleração de batimentos cardíacos, aceleração da
respiração, contrações musculares, liberação de glicose, dilatação da
pupila entre outros. Os sentidos psicológicos se manifestam através da
ansiedade, diminuição da auto-estima, medo, dificuldade para tomar
decisões e aumento das tensões.
Para Grandjean (1998) as sobrecargas de estresse no ambiente de
trabalho estão relacionadas à:
a) sobrecarga emocional causada pela falta de supervisão e
vigilância no trabalho;
b) carga excessiva de trabalho;
c) grau de tensão necessário ao desenvolvimento do trabalho;
d) segurança de emprego;
e) a responsabilidade pela vida e com o bem-estar dos outros;
f) condições físicas ambientais: ruído, iluminação, ventilação,
espaço físico e layout;
g) grau de complexidade do trabalho;
h) nível de apoio e reconhecimento dos supervisores.
Ainda, segundo Acevedo Alvarez (2002), os primeiros sintomas do
estresse aparecem através da mudança de comportamento da pessoa,
manifestando-se em forma de atitudes negativas, despreocupação com o
34
trabalho, maior consumo de álcool e fumo, abandono de hábitos
saudáveis como a atividade física e alimentação balanceada.
Após as manifestações na mudança do comportamento, o estresse
como doença aparece como:
a) alterações do sono;
b) alterações do ânimo;
c) problemas digestivos;
d) conflitos familiares, conjugais e de amizade;
e) lombalgias;
f) alterações cardíacas: palpitações, taquicardia e alterações na
pressão arterial;
g) problemas neurológicos;
h) problemas psíquicos: ansiedade, medo.
O estresse no trabalho, segundo Grandjean (1998), é um estado
emocional causado pela discrepância entre o grau de exigência no
trabalho e os recursos disponíveis para gerenciá-lo, sendo que é
subjetivo, na medida em que depende da compreensão individual.
Portanto, o grau de adaptação de um indivíduo com seu ambiente de
trabalho é que vai determinar seu bem-estar e sua capacidade de
produção.
Grandjean (1998) ainda relaciona algumas situações de trabalho
que podem representar sobrecargas no sentido do estresse:
a) falta de supervisão e vigilância causando sobrecarga
emocional, sem o conhecimento do grau de participação dos
trabalhadores na produção;
b) falta de apoio e reconhecimento dos superiores;
c) insatisfação causada pela carga de trabalho;
d) exigências de trabalho, determinadas pela carga e prazo de
realização de tarefas;
e) falta de estabilidade no emprego;
f) sobrecarga mental causada pela responsabilidade pela vida e
pelo bem-estar dos outros;
g) ambiente físico com ruído, iluminação deficiente, espaço físico,
clima;
35
h) grau de complexidade do trabalho, muito baixo tornando-se
monótono ou muito alto com exigência excessiva.
Nieman (1999) define estresse como qualquer ação ou situação
que submeta uma pessoa a demandas físicas ou psicológicas especiais,
de modo a causar desequilíbrio. Para ele, existem dois tipos de estresse
o bom e o ruim. O primeiro inspira e motiva e o segundo pode ser agudo,
neste caso é intenso por breve período, ou ainda crônico que não é tão
intenso, porém ocorre constantemente.
Segundo Nieman (1999) os níveis elevados de estresse
desencadeiam doenças como ansiedade, depressão, doenças cardíacas,
lombalgias, fadiga crônica problemas gastrointestinais, cefaléias e
insônia. Assim, as pessoas que praticam atividade física regularmente
administram melhor o estresse protegendo o corpo dos seus efeitos
perniciosos.
Segundo Nahas (2001) pessoas estressadas são mais suscetíveis
a problemas físicos e psíquicos. Quando fora de controle, o estresse
reduz a produtividade, afeta nosso sistema imunológico, reduzindo as
defesas do organismo. Nahas (2001) relaciona ainda os sintomas
associados ao estresse como: dores de cabeça, dores musculares,
insônia, ansiedade, cansaço, irritabilidade, sensação de incapacidade e
perda da memória.
Qualquer tipo de mudança na rotina diária, independentemente de
ser positiva ou negativa, causa estresse. A escala de impacto mais
comum é a de Holmes e Rahe (Quadro 3), que atribui valores aos
impactos de acontecimentos estressantes durante a vida. (LIMONGI
FRANÇA; RODRIGUES, 1996).
(continua)
Escala de Holmes – Rahe de Ajustamento Social
Eventos Escala de
impacto
Morte do cônjuge 100
Divórcio 75
Separação conjugal 65
36
(conclusão)
Pena de prisão 63
Morte de familiar próximo 63
Doença pessoal ou acidente 53
Casamento 50
Demissão do emprego 47
Reconciliação conjugal 45
Aposentadoria 45
Comprometimento de saúde de membro da família 44
Gravidez 40
Dificuldades sexuais 39
Aumento da família 39
Mudança importante no trabalho 39
Mudança da condição financeira 38
Morte de amigo íntimo 37
Mudança no esquema, ritmo ou área de trabalho 36
Aumento nas discussões com o cônjuge 35
Aquisição de casa ou dívida de valor alto 31
Alteração de responsabilidade profissional 29
Cônjuge inicia ou pára de trabalhar 26
Começo ou abandono de estudo 26
Aumento ou diminuição de pessoas moradoras na casa 25
Mudanças de hábitos pessoais, exemplo: parar de fumar 24
Problemas com o chefe 23
Mudança no horário de trabalho 20
Mudança de residência 20
Mudança de escola 20
Mudança de atividade recreativa 19
Mudança de atividade religiosa 19
Mudança de atividade social 18
Compra à crédito de valor médio 17
Mudança no hábito de dormir 16
Mudança nas freqüências de reuniões familiares 15
37
(conclusão)
Mudança no hábito de alimentação 15
Férias 13
Natal ou outra festa de tradição importante 12
Recebimento de pequenas infrações para pagar 11
Fonte: LEVY (apud LIMONGI FRANÇA e RODRIGUES, 1996, p.33).
Quadro 3 – Escala de Holmes-Rahe de ajustamento social
Muitos fatores determinam o estresse, a combinação deles é que
indica a resposta individual, que serve como base para o gerenciamento
do mesmo (LIMONGI FRANÇA; RODRIGUES, 1996).
Para Limongi França e Rodrigues (1996) há ainda os estressores
psicossociais, aqueles relacionados ao tipo de vida que as pessoas levam
em seu meio social. Conforme as características de comportamento e
personalidade, um determinado grupo social valoriza o indivíduo da
mesma forma que o descarta, assim que este não corresponder aos
padrões estabelecidos. Quando o indivíduo não consegue satisfazer, pelo
menos parte de suas necessidades pessoais, ele se torna mais
desgastado.
Outros fatores que causam estresse no trabalho, segundo o
mesmo autor, são:
a) liderança do tipo autoritária;
b) execução de tarefa sob pressão;
c) falta de conhecimento dos processo de promoção;
d) carência de autoridade e orientação;
e) excesso de trabalho;
f) grau de interferência na vida particular que o trabalhador pode
ter;
g) incerteza na manutenção do emprego e salário.
Limongi França e Rodrigues (1996) mencionam ainda um conceito
desenvolvido por Delvaux em 1980, o chamado Burnout. Trata-se de um
tipo de desgaste tanto físico, como mental, devido à exaustão provocada
por seguidas solicitações de energia. Este problema vem sendo
38
considerado uma das mais importantes conseqüências do estresse no
trabalho. O Burnout emocional pode se caracterizar por:
a) exaustão emocional: sintomas de cansaço, irritabilidade, sinais
de depressão, ansiedade, uso abusivo de álcool, cigarros ou
outras drogas;
b) despersonalização: atitude negativa e insensível em relação
aos colegas de trabalho;
c) diminuição da realização e produtividade profissional;
d) depressão: desequilíbrio de comportamento social e familiar,
ausência de prazer de viver, tristeza que afeta os pensamentos.
Para Weimberg e Gould (2001), o Burnout é uma resposta
psicofisiológica de esgotamento tanto físico como emocional,
despersonalização e sentimentos de baixa realização pessoal, baixa auto-
estima, fracasso e depressão. Em atletas, o Burnout difere de outros
estados de estresse, principalmente por envolver não somente o estado
físico, mas também o emocional.
Outra condição relacionada ao estresse e ao trabalho é conhecida
universalmente como workaholics, termo em inglês, que é utilizado para
denominar as pessoas viciadas ou dependentes do trabalho. Estas não
conseguem fazer outra coisa na vida e têm dificuldade em conviver com a
família, lazer e vida social. Elas apresentam muita ansiedade e estão
habituadas a conviver com o estresse, fazem um esforço crônico e
incessante de melhorar cada vez mais em pequenos períodos de tempo,
mesmo encontrando obstáculos no ambiente e nas pessoas. Estas
pessoas estão mais propensas ao estresse devido ao seu
comportamento, reagindo fortemente nas situações estressantes, porém
são mais vulneráveis quando ocorrem situações adversas. É comum o
desenvolvimento de doenças coronárias para os workaholics (LIMONGI
FRANÇA; RODRIGUES, 1996).
Os fatores psicossociais associados ao indivíduo, segundo Patkin
(apud MALCHAIRE, 1998) mostram que os sintomas de problemas
músculo-esqueléticos, atribuídos ao trabalho são, na verdade, uma
expressão de problemas pessoais. Estes problemas são em geral
psicológicos, familiares e de ordem social.
39
No que concerne aos fatores psicossociais associados à empresa
estes são: a elevada tensão psicológica no trabalho, a monotonia, falta de
tempo, a carga mental, a falta de autonomia, problemas de
relacionamento com os colegas e chefias. Estes fatores parecem estar
associados aos problemas de desconforto muscular na nuca (BORGERS
et al. 1996 apud MALCHAIRE, 1998).
Outros fatores psicossociais atribuídos a sintomas músculo-
esqueléticos são citados por Kilböm (1990 apud MALCHAIRE, 1998), que
relaciona a elevada tensão psicológica com as tensões no pescoço.
Também Toomingas et al. (1991 apud MALCHAIRE, 1998),
observam uma possível relação entre as exigências psicológicas no
trabalho e as tensões na nuca.
São reconhecidos alguns fatores de risco relacionados ao estresse:
a) estressores do posto de trabalho: sobrecarga de trabalho,
jornada prolongada, trabalho com troca de turno, exigência de
trabalho fora do habitual e de responsabilidade do trabalhador,
b) falta de clareza ou comunicação quanto aos requisitos
necessários para a realização da tarefa,
c) falta de controle do processo pelo trabalhador,
d) falta de retorno sobre o resultado da tarefa,
e) trabalho monótono e repetitivo,
f) trabalho em condições periculosas,
g) baixo nível de apoio da chefia direta,
h) excesso de responsabilidade sobre a tarefa, pessoas ou
dinheiro;
i) estressores de relacionamentos: interpessoais, em grupo, com
clientes, com subordinados ou supervisores;
j) estressores organizacionais: clima e estrutura organizacional,
perspectiva de desenvolvimento de carreira, promoções,
estabilidade no emprego;
k) estressores físicos: ruído, temperaturas extremas, iluminação
deficiente, vibrações,m exposições a produtos tóxicos;
l) outros estressores: conflitos familiares e conjugais.
40
Os fatores de risco, que podem causar estresse, podem ser
identificados através de uma auditoria de estresse. O Professor Michiel
Kompier da Universidade de Nijmegen, Holanda, observa que ao realizar
uma auditoria de estresse, admite-se que o posto de trabalho pode ser
uma das causas (ACEVEDO ALVAREZ, 2002). A auditoria considera os
seguintes fatores:
a) entorno laboral;
b) condições materiais do trabalho;
c) relacionamento entre colegas de trabalho e chefias;
d) estilo de gestão empresarial;
e) horários de trabalho.
Os aspectos sócio-culturais devem ser levados em consideração
para avaliação dos resultados. Neste sentido, as soluções encontradas
devem levar em consideração também os aspectos ergonômicos, de
gestão de pessoal e os horários de trabalho e descanso.
As empresas também devem considerar alguns aspectos
organizacionais importantes como fatores de proteção do estresse, tais
como:
a) políticas explícitas de reconhecimento do trabalho;
b) políticas de produção e administração de recursos humanos
que possibilitem o desenvolvimento da carreira;
c) cultura organizacional que valorize o trabalhador como
indivíduo;
d) administração que as ações e decisões sejam coerentes com
os valores organizacionais declarados.
2.3.2 Movimentos Repetitivos
Os movimentos repetitivos estão entre os fatores de risco
relacionados com o tempo e o conteúdo em que uma atividade é
realizada. Com a busca em torno da produtividade, cada vez mais as
empresas estão fragmentando e simplificando as tarefas, tornando-as de
curta duração e, portanto repetitivas. (GUIMARÃES, 2001).
41
A repetitividade, conforme define Codo (1998) é o número de
movimentos em um determinado período ou o tempo necessário para
completar o ciclo de trabalho.
A noção de repetitividade é intuitiva, embora alguns autores
definam critérios para o trabalho ser considerado repetitivo. Silverstein et
al. (1987 apud MALCHAIRE 1998) e Keyserling et al. (1993) classificam a
repetitividade em baixa e alta. O trabalho com baixa repetitividade é o que
possui um ciclo maior que 30 segundos com menos de 50% do tempo do
ciclo correspondente ao mesmo tipo de ciclo fundamental. Como alta
repetitividade é o trabalho que possui um ciclo menor do que 30
segundos ou com mais de 50% do tempo do ciclo correspondente ao
mesmo tipo de ciclo fundamental.
Para Smith (1996), as pesquisas existentes são insuficientes para
estabelecer o número de movimentos ou o tempo de exposição suficiente
para produzir um dano à saúde. De acordo com o autor, quanto maior o
número de movimentos, maior o risco potencial de desenvolver uma
doença. Ainda o autor observa que a exposição contínua, diária, sem
pausas, a movimentos repetitivos, pode produzir fadiga muscular
localizada, fadiga geral sistêmica e, prováveis lesões nos músculos,
tendões e ligamentos.
Malchaire (1998) observa que a noção de repetitividade é de difícil
definição. Para as pessoas em geral o trabalho repetitivo é sinônimo de
monotonia, no qual se mantém a mesma postura e esforço de forma
estática.
Já para o campo da saúde, a repetitividade é sinônimo de
demanda variável, porém repetida dos mesmos tecidos, com diferentes
movimentos e esforços. O autor define ainda a repetitividade como o
número de movimentos, a partir de uma posição neutra até uma situação
extrema, por unidade de tempo.
Para Yassi (1997), os movimentos repetitivos causam danos à
saúde, que geralmente estão relacionados aos músculos, tendões,
articulações e circulação. Estes danos também afetam a coluna, pescoço
e membros superiores.
42
Os problemas relacionados aos movimentos repetitivos podem
ocorrer em atividades ocupacionais, recreativas e esportivas. As doenças
desencadeadas estão relacionadas a uma combinação de esforços,
movimentos repetitivos e posturas incorretas, além de outras condições
ergonômicas inadequadas.
2.3.3 Posturas Inadequadas
A definição de postura corporal é o arranjo relativo das partes do
corpo, a atitude ou posição do corpo. A postura é o equilíbrio somático,
sendo o corpo a estrutura que incorpora o ser em seus diversos aspectos:
psicomotor, biológico e psicossocial (SALVE et al., 1999).
Para Silva e Marchi (1997) mesmo com a postura adequada, há
fadiga muscular quando se permanece um longo período em imobilidade.
As pessoas reclamam de maior cansaço quando permanecem muito
tempo na mesma postura, isso ocorre devido a constante permanência
em postura estática.
Os movimentos extremos para alcançar objetos ou para evitar
deslocamentos, provocam desconforto postural. Segundo Brandimiller
(1999), os movimentos extremos devem ser evitados, porque fazem as
articulações trabalharem em seu limite com os músculos ou muito
contraídos ou estirados. A situação se agrava quando alguns músculos
ou tendões já estão sobrecarregados, ou quando os movimentos são
realizados com pressa, executados de forma brusca. Podem resultar em
fortes dores no pescoço, ombro e até mesmo na coluna lombar.
Para Smith (1996), quanto mais os indivíduos se desviam da
postura natural ou neutra, maior é o risco de desenvolvimento de danos à
saúde. No entanto, segundo o autor, ainda não existe uma quantificação
específica da extensão ou desvio das articulações ou dos segmentos
musculares, que pode acarretar problemas para a saúde.
43
2.3.4 Força
Presença constante no trabalho, a força em forma de puxar,
empurrar ou erguer é muito exigida, havendo ainda uma grande
preocupação com o reconhecimento das limitações dos trabalhadores na
sua utilização. O freqüente surgimento de lesões musculares entre
trabalhadores, causando afastamentos do trabalho e o desencadeamento
de doenças relacionadas a estas lesões (DORT) sugere o estudo e
reconhecimento dos fatores relacionados aos efeitos ocasionados.
A definição de força do ponto de vista físico é o produto de uma
massa por sua aceleração e sua unidade é o Newton (N). Já a definição
de força, enquanto qualidade de aptidão física, segundo Ghorayeb at al.
(1999) é a capacidade de gerar tensão nos músculos esqueléticos. Ela é
diretamente proporcional à capacidade contrátil das fibras musculares e
da capacidade de recrutamento das unidades motoras.
Para Sharkey (1998), os componentes básicos que interferem no
desempenho de uma melhor capacidade muscular estão relacionados
com a força, resistência muscular e flexibilidade. Esta opinião é
compartilhada por Chaffin, Andersson, Martin (2001); Mcardle, Katch,
Katch (1998) e Grandjean (1998).
Os fatores que influenciam a força são:
a) idade: aos 20 anos encontra-se o auge da força, que
lentamente declina até os 60 anos. A partir daí o declínio é
acelerado, porém a utilização da força e o treinamento podem
melhorar e manter a força.
b) tipos de fibra muscular: fibras maiores e de contração mais
rápida são capazes de exercer mais força do que fibras de
contração lenta, o tamanho das fibras pode ser atribuído à
hereditariedade e ao treinamento.
c) sexo: meninas de 12 a 14 anos são mais fortes que meninos.
Após esta idade, os meninos ganham uma vantagem que
persiste pelo resto da vida, devido a diferenças a maior
concentração hormonal de testosterona nos homens que
estimula o crescimento dos músculos. O tamanho do músculo e
44
a força andam juntos e no homem médio é maior do que na
mulher (SHARKEY, 1998). Chaffin, Andersson, Martin (2001),
considera que a força muscular feminina corresponde
aproximadamente a dois terços da masculina. Já Mcardle,
Katch, Katch (1998) considera que as diferenças na força
muscular entre homens e mulheres estão em todos os grupos
musculares, tanto nos segmentos inferiores quanto nos
superiores do corpo. Nos segmentos superiores as mulheres
são mais fracas do que os homens em 50% e para os
segmentos inferiores o valor percentual cai para 30%. Podem
ocorrer exceções quando a análise for realizada entre atletas do
sexo feminino, sendo que as mesmas aumentam sua força
muscular através de treinamento.
Segundo Hettinger (1996 apud GRANDJEAN 1998) a força
máxima para homens e mulheres ocorre entre 25 e 35 anos e que os
trabalhadores mais velhos entre 50 e 60 anos dispõem somente de 75 a
85% de sua força máxima.
2.3.5 Resistência Muscular
A resistência muscular é completamente diferente da força, em
termos fisiológicos (SHARKEY, 1998). Quando um indivíduo tem força
para desempenhar uma atividade, a melhora de seu desempenho
dependerá da resistência muscular, ou seja, de sua capacidade para
persistir. Os limites da capacidade para o trabalho, segundo o autor,
dependem da força, resistência muscular e capacidade aeróbica. Neste
sentido, a maioria das atividades laborais requerem mais resistência
muscular do que força.
Segundo Nahas (2001), a resistência muscular é a capacidade de
contração muscular, que permite os movimentos do corpo, levantar,
empurrar e puxar cargas. De acordo com o autor, o uso freqüente dos
músculos, aumenta a sua resistência e flexibilidade. Os músculos inativos
se tornam flácidos e com menos elasticidade. Para evitar tal situação, os
45
exercícios físicos regulares aumentam a resistência muscular. Aplica-se
então o princípio da sobrecarga, na qual há uma exigência de adaptação
fisiológica, estimulando o processo de desenvolvimento muscular.
Nahas (2001) destaca a importância da resistência muscular para a
saúde. A boa condição muscular melhora o desempenho e reduz a
fadiga. Músculos fortes protegem mais as articulações, evitando lesões,
de ligamentos e problemas de dores musculares em geral e lombalgias.
Assim, manter um bom nível de resistência muscular com o avanço
da idade pode auxiliar na prevenção de osteoporose e de quedas.
Já, a baixa aptidão muscular, pode ocasionar algumas implicações
para a saúde como:
a) maior freqüência de problemas articulares;
b) problemas posturais;
c) lesões musculares mais freqüentes;
d) dores lombares;
e) maior risco de quedas em idosos.
2.3.6 Fadiga Muscular
A fadiga, diferente da resistência muscular, está relacionada com
as alterações no organismo decorrentes da atividade física ou mental com
uma sensação de cansaço generalizada (NAHAS, 2001).
Zilli (2002) define fadiga muscular como resultado do trabalho
muscular prolongado. Também, para o mesmo autor, é a incapacidade de
sustentar o desenvolvimento de uma tarefa específica com a mesma
intensidade, ou ponto de exaustão. A fadiga muscular no trabalho pode
ocasionar movimentos errados, com a diminuição da coordenação
motora. Assim, podem ocorrer quedas, lesões, acidentes e distúrbios
osteomusculares.
Desta forma, como conseqüência da fadiga aparece a redução da
capacidade para o trabalho, a diminuição da motivação, percepção e
atenção, menor capacidade de raciocínio e redução do desempenho
físico, também são os sintomas de fadiga.
46
A fadiga muscular é o resultado do estresse físico, ocasionado por
atividade física intensa ou executada por longo período de tempo, que
levam a uma sensação generalizada de cansaço, perda da eficiência e
diminuição da capacidade para o trabalho.
A fadiga associada a outros fatores como longos períodos de
trabalho, repouso insuficiente, nutrição inadequada, excessiva
preocupação e outros problemas de saúde, desencadeia outros sintomas
como: irritabilidade, insônia, perda de peso e estado de exaustão
(NAHAS, 2001).
Para Donkin (1996), é difícil mensurar a fadiga, ela apresenta-se
como uma sensação de falta de energia, falta de entusiasmo ou fraqueza.
O autor indica que as principais causas da fadiga são: posturas
incorretas, apoios ou disposições de equipamentos de trabalho, altos
níveis de estresse, falta de exercícios físicos, qualidade de sono e
repouso inadequados.
Diferente da fadiga, o estresse, para o autor é de uma reação do
corpo à mudança, que pode causar efeitos físicos e emocionais.
2.4 Sedentarismo
Um dos fatores de maior contribuição para o surgimento de
doenças ocupacionais é a falta da prática de atividade física, ou
inatividade física. O indivíduo que não pratica atividade física de modo
regular e também aquele que não faz qualquer tipo de atividade é
considerado uma pessoa sedentária (BARROS NETO, 1997).
Atualmente, as atividades mais comuns mesmo entre as crianças
são aquelas sedentárias, que não exigem grandes esforços, oferecidas
pelos videogames, televisão e computadores. Estas atividades são
também fortemente difundidas devido a restrição dos espaços para
prática de atividades físicas, observadas principalmente em grandes
centros. Esta cultura ao sedentarismo que inicia na infância, estende-se à
vida adulta, induzindo as pessoas a hábitos extremamente sedentários
(BARROS NETO, 1997).
47
A inatividade física pode levar à regressão progressiva da
capacidade funcional de diversos órgãos e sistemas do corpo humano.
Quando o trabalho, não exige do indivíduo deslocamentos ou
movimentação do corpo, podem ocorrer alterações em seu metabolismo e
a conseqüência mais comum é a obesidade.
Estima-se que no Brasil, nos centros urbanos, 80 a 85% da
população com mais de 30 anos, mantenha um estilo de vida sedentária
(BRASIL, 1991). Segundo o Censo 2000, apenas 1,2 % da população
brasileira pratica exercícios regularmente. A partir dos 30 anos a
capacidade física das pessoas começa a decrescer. Ghorayeb e Barros
Neto (1999, p. 249) relacionam o sedentarismo ao desencadeamento de
doenças: “O sedentarismo passou a ser considerado pela American Heart
Foundation da A.H.A no ano de 1996 um dos quatro principais fatores de
risco para aterosclerose e doença isquêmica coronária.”
Sedentarismo, por definição, não diz respeito somente ao indivíduo
que nunca faz qualquer tipo de exercício, mas também àquele que não
pratica atividade física de forma regular e freqüente. Segundo Silva e
Marchi (1997), a falta da atividade física de forma regular, inferior a três
vezes por semana pelo tempo mínimo de 30 minutos, também é
considerada como sedentarismo.
Portanto, a prática de atividade física, para que surta efeito, deverá
ocorrer com uma freqüência maior do que três vezes por semana, com
duração mínima de 30 minutos.
A inatividade é marca registrada entre a grande maioria dos
indivíduos entre 30 e 60 anos. Mais do que 50% dos funcionários da
maioria das empresas não praticam atividade física, sendo que o
sedentarismo é um dos maiores fatores de risco cardiovascular.
Conforme estudo desenvolvido por Paffembarger (apud SILVA;
MARCHI 1997), o número de calorias gasto por semana tem um impacto
significativo na saúde cardiovascular. Sugere o estudo que um gasto de
2.000 calorias semanais por meio de exercícios adequados, pode
acrescentar até 2 anos na expectativa de vida das pessoas. Pode parecer
pouco, porém quando se imagina um fumante, obeso, hipertenso ou com
48
histórico familiar de morte prematura por câncer ou outra doença, um
acréscimo de 2 anos é significativo.
Outro estudo apresentado por Petty e Harrington em artigo do New
England Journal of Medicine, calculou que para cada degrau de escada
subido, ao invés do uso de elevador, pode-se acrescentar 0,4 segundos
na vida de uma pessoa (SILVA; MARCHI, 1997).
Mancilha (1990) define sabiamente a situação atual do homem
frente ao sedentarismo:
O homem não é um ser sedentário, a falta de exercícios regulares é hábito relativamente recente em termos de evolução biológica. As pessoas que se exercitam regularmente são menos sujeitas aos ataques cardíacos e estes, são menos graves do que nas pessoas sedentárias. (p. 46).
Para os indivíduos sedentários que estão procurando mudar seus
hábitos para uma vida mais ativa, devem ser alertados os riscos que
poderão estar correndo, quando esta mudança ocorre sem uma avaliação
médica adequada e prescrição de exercícios físicos adequados.
A atividade física deve ser incluída às atividades diárias do
indivíduo sem esforços excessivos e desgastes extremos (JOST, 2000).
Para Salve et al. (1999), o sedentarismo é um dos principais
causadores das doenças crônico-degenerativas como a hipertensão,
diabetes, lombalgias entre outras. Entre os fatores que levam os
indivíduos a não realizar atividades físicas, estão o excesso de trabalho, a
alimentação inadequada, falta de tempo, desinteresse, a falta de
conhecimento dos benefícios da atividade física, envolvimento com
drogas, fumo, bebidas, problemas corporais como a obesidade e a
osteoporose.
As mudanças de estilo de vida sedentária para ativa, em relação à
atividade física, podem ocorrer na medida em que as pessoas
conhecerem os benefícios para acreditarem que a decisão está na
consciência de cada um (CAÑETE, 1996, p. 34). “A saúde é
responsabilidade de todos, mas só se responsabiliza e compromete
aquele que é livre para pensar e agir, sendo consciente de si mesmo e da
realidade.”
49
A aptidão e a capacidade para o trabalho estão relacionadas com o
condicionamento físico (SHARKEY, 1998). Trabalhadores aptos
fisicamente são mais produtivos que seus colegas sedentários, faltam
menos ao trabalho e têm muito menos chances de sofrer invalidez
decorrente do trabalho ou de se aposentarem precocemente devido a
doenças cardíacas ou outras doenças degenerativas.
Aidman e Woollard (2002) mostram em seu estudo o efeito do
sedentarismo ao contrário. Os efeitos da falta de atividade física em
atletas, habituados com a sua prática, refletem a sua importância no
desempenho de suas atividades diárias. Os sintomas são os seguintes:
a) redução do vigor, aumento da fadiga;
b) aumento da tensão, raiva;
c) aumento da freqüência cardíaca;
d) depressão.
2.5 Pausas
As pausas são intervalos de tempo entre as atividades diárias, que
são adotadas de acordo com a necessidade de recuperação ou repouso
do indivíduo. A pausa mais usual, adotada pelas empresas, é aquela
utilizada para lanches e refeições. As pausas são sempre necessárias,
porém, segundo Couto, Nicoletti, Lech (1998) as pausas se fazem mais
necessárias quando não é possível adotar rodízio de tarefas e têm a
função de equilibrar a biomecânica do organismo e a lubrificação dos
tendões pelo líquido sinovial. O autor apresenta uma regra geral a ser
utilizada para as pausas, sendo que a mesma é relacionada à
repetitividade e à força ou desvios posturais.
Pausa por hora
trabalhada
Situação de Trabalho
5 minutos Repetitividade, sem possibilidade de rodízio.
10 minutos
Repetitividade e alta intensidade de força ou
desvios posturais.
50
15 minutos
Repetitividade, alta intensidade de força e
desvios postuzrais.
Fonte: COUTO, NICOLETTI, LECH 1998, p. 334.
Quadro 4 – Tempo de pausa por hora trabalhada de acordo com a
situação de trabalho
Grandjean (1998) apresenta um significado biológico para a pausa
no trabalho. A troca rítmica entre gastos de energia e reposição de força,
resume-se em trabalho e descanso. O autor considera a pausa no
trabalho indispensável, sendo uma condição fisiológica de interesse para
a manutenção da capacidade de produção. A pausa é necessária não
somente em trabalhos que exigem força, mas naqueles de exigência
mental.
Grandjean (1998) classifica as pausas em quatro diferentes tipos:
a) pausas voluntárias: aquelas declaradas, visíveis que o
trabalhador utiliza para descansar – em geral são curtas.
b) pausas mascaradas ou trabalhos colaterais: atividades que não
são necessárias naquele momento, mas servem como
descanso, por exemplo: organizar a mesa, limpar uma peça.
c) pausa necessária do trabalho: causada por todo o tipo de
espera, troca de ferramenta, organização e andamento do
trabalho.
d) pausas obrigatórias do trabalho: aquelas determinadas pela
empresa para alimentação e outras pausas curtas.
Os mecanismos naturais de recuperação muscular são ativados
durante as pausas. Segundo Couto; Nicoletti; Lech (1998) há três
mecanismos que durante as pausas ajudam a prevenir lesões por
esforço:
a) na pausa há um fluxo normal de sangue que retira o ácido lático
do músculo, evitando possíveis lesões;
b) dar um tempo para que os tendões voltem a sua estrutura
normal, durante atividades com alta repetitividade;
c) lubrificação durante a pausa dos tendões com líquido sinovial,
evitando o atrito entre as duas estruturas.
51
Quanto ao rendimento no trabalho, Grandjean (1998) compara os
resultados da introdução de pausas durante a jornada de trabalho e o
aumento da produtividade. As pausas marcadas aceleram a produção,
uma vez que as pausas mascaradas e voluntárias desaparecem.
Em trabalhos mais cansativos, observa-se uma queda na
produtividade próxima ao final do expediente, nestes casos a introdução
de pausas adia o surgimento da fadiga e a queda na produção. De acordo
com o tipo de trabalho algumas recomendações são indicadas pelo autor
em relação às pausas:
Situação de Trabalho Indicação de Pausas
Trabalho com
movimentos repetitivos
Pausas curtas de 3 a 5 minutos por hora
trabalhada, reduzindo a fadiga e
aumentando o potencial de atenção
prolongada.
Trabalho pesado ou
em ambientes quentes
ou frios
Pausas dosadas para que a carga horária
máxima suportável não seja ultrapassada.
Trabalho físico ou
mental médio
Pausa de 10 a 15 minutos durante a
manhã e outra à tarde.
Trabalhos com
elevada exigência
mental
Além das pausas maiores de 10 a 15
minutos prever uma a duas pausas curtas
por turno, de 3 a 5 minutos.
No aprendizado de
habilidades ou trabalho
de aprendizes
Dosar as pausas conforme a dificuldade
das habilidades a serem aprendidas.
Fonte: GRANDJEAN, 1998.p.176
Quadro 5 – Indicação de pausas de acordo com a situação de
trabalho.
Quanto ao melhor período para realização das pausas, Couto,
Nicoletti, Lech (1998) esclarece que o melhor resultado acontece quando
a mesma é instituída no final de cada período de trabalho. No entanto, as
pausas mais curtas, já embutidas no ciclo de trabalho correm o risco de
52
não serem respeitadas em períodos de aumento da velocidade do
processo.
Além disso, de acordo com a situação do ambiente físico, são
recomendadas pausas, relacionadas aos danos provocados por estes
agentes, como: frio, calor, pressões anormais.
Quanto às pausas relacionadas ao trabalho exposto a calor, a
Portaria nº. 3214 de 8 de junho de 1978 em sua NR-15 anexo nº. 3, prevê
os limites de tolerância para exposição ao calor, determinando o tempo
de trabalho e o tempo de descanso recomendado (pausa). Devem ser
medidos os níveis de exposição ao calor na área de trabalho e também
na área de descanso, bem como deverá ser calculada a taxa de
metabolismo média ponderada para uma hora de trabalho. Desta forma,
pode ser conhecido o limite de tolerância para a salubridade da atividade.
Nos trabalhos em ambientes de baixas temperaturas também é
recomendado o repouso ou pausa de acordo com a temperatura
(SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, 2002).
2.5.1 Micro-pausas
As micro-pausas são pequenas pausas de segundos ou alguns
minutos adotados principalmente em atividades de alta repetitividade.
Uma atividade característica é a dos digitadores ou operadores de
terminais de microcomputador.
A NR-17 em seu item 17.6.3, prevê que devem ser incluídas
pausas para descanso nas atividades que exijam sobrecarga muscular
estática ou dinâmica no pescoço, ombros, dorso e membros superiores e
inferiores.
Sugere ainda em seu item 17.6.4 especificamente para as
atividades de processamento eletrônico - digitadores, uma pausa de 10
minutos para cada 50 minutos trabalhados e ainda o número de toques
não ultrapassar a 8.000 por hora (SEGURANÇA E MEDICINA DO
TRABALHO, 2002).
53
Segundo Mclean et al. (2001), as micropausas são horários de
pausa para descanso, utilizadas como medida preventiva da progressão
de traumas cumulativos encontrados em postos de trabalho com
computadores. Os autores examinaram os benefícios das micropausas
através de investigação, sinais microelétricos e percepção de desconforto
em trabalhadores enquanto estão em seus postos de trabalho. São
comparados os resultados de respostas de três grupos escolhidos
aleatoriamente:
a) Grupo 1 – sem pausas;
b) Grupo 2 – micro-pausas de 30 segundos à cada 20 minutos;
c) Grupo 3 – micro-pausas de 30 segundos à cada 40 minutos.
Quatro segmentos musculares foram monitorados: extensão
cervical, coluna lombar e trapézio, pulso e dedos. O estudo concluiu que
os Grupos 2 e 3, que inserem as micro-pausas, apresentam melhora do
conforto muscular em todos os segmentos musculares, principalmente no
pescoço. Quanto à produtividade não há indicadores de aumento com a
adoção de micro-pausas.
Existem alguns programas de computador (softwares específicos),
que controlam automaticamente o tempo ideal de micro-pausa de
usuários de computador. Lançado nos estados Unidos pela Mind Your
Own Body, o programa Take Break, instalado em um microcomputador
provoca micro-pausas de 10 a 30 segundos durante todo o dia. Os efeitos
esperados com a instalação deste programa são a redução de estresse,
fadiga e rigidez muscular, melhora o bem estar geral e a produtividade.
(PRESS, 1999).
Outro estudo, relacionado à implantação de pausas no trabalho,
realizado por Henning et al. (1996), trata dos efeitos da implantação de
micro-pausas de 30 segundos a cada 10 minutos de trabalho em
terminais de computador. Concluiu-se que os benefícios obtidos
comparando os operadores que realizaram as pausas e os que não
realizaram, foram a redução de queixas em segmentos musculares e a
melhora do autocontrole, bem estar e relacionamento interpessoal.
Um outro estudo realizado por Henning et al. (1996) mostrou a
comparação entre pausas no trabalho com exercícios e sem exercícios.
54
Neste caso, foram aplicadas pausas com exercícios de 30 segundos e de
3 minutos a cada hora, com digitadores em terminais de computador.
Alguns digitadores fizeram as pausas convencionais e outros
acrescentaram exercícios durante as pausas. O estado de humor e o
desconforto muscular foram testados durante 2 a 3 semanas. Também
foram avaliados quanto à produtividade. A conclusão do estudo mostrou
que somente os digitadores que adotaram as pausas com exercícios
apresentaram pequenos aumentos na produtividade, sentiram maior
conforto visual, das pernas, pés e uma sensação de bem-estar.
Portanto, as pausas ou micro-pausas no trabalho, apresentam um
melhor resultado de recuperação dos segmentos musculares, motivação
e até produtividade, quando são realizados exercícios físicos durante as
mesmas. Estas pausas associadas com exercícios são conhecidas por
Ginástica Laboral.
2.6 Percepções da dor
A dor associa-se à lesão, geralmente, mas nem sempre. São
muitas as histórias de heróis que passaram por uma situação perigosa e
cheia de emoção com uma fratura estável de membro inferior, sem ter
naquele momento a sensação dolorosa (HELME e cols, 1990 apud
RANNEY, 2000).
A dor tem sido comparada à campainha de um despertador soando
na mente consciente, alertando-nos da probabilidade de lesão. Sua
relação com a lesão é uma relação indireta. Quando tocamos um fogão
quente, sentimos dor, mas só depois da mão ter sido afastada do perigo.
A lesão tecidual e as respostas reflexas dos músculos à lesão
operam em um nível. Em um nível maior, a dor é percebida quando este
estímulo de baixo nível chega á consciência. Ali, é modificado por
influências, conscientes e inconscientes, de alto nível.
Em 1986, Merskey definiu a dor como “uma experiência sensorial e
emocional desagradável associada à dano real ou potencial ao tecido, ou
que é descrita em termos desse dano”. Essa definição tem sido aceita
55
atualmente pela International Association for Study of Pain (MERSKEY e
BOGDUK, 1994 apud RANNEY, 2000).
Durante as cinco décadas passadas, viemos a compreender que a
percepção da dor é um fenômeno bastante complexo. Devido à inúmeras
interações neuroanatômicas e neuroquímicas envolvidas, não se pode
relacionar diretamente a intensidade da dor, sentida por um indivíduo,
com o grau de dano ocorrido. O que é dor para uma pessoa pode ser
apenas desconforto com a mesma lesão para outra. (RANNEY, 2000).
Essas questões, no entanto, permanecem podendo ser
amplamente discutidas com os seguintes títulos: exagero consciente dos
sintomas, intensificação inconsciente dos sintomas e efeitos psicológicos
gerais da dor persistente.
A percepção da dor é naturalmente um fenômeno subjetivo. Esta
percepção não revela a causa da dor. (RANNEY, 2000).
Os distúrbios do sistema locomotor são encontrados em ampla
gama de ocupações e ocorrem em conexão com o trabalho físico pesado
e monótono. Entretanto, estudos epidemiológicos não documentam
diretamente qual a forma especifica de exposição ou demanda do
trabalho que é a causa do desenvolvimento do distúrbio. O conhecimento
da patogênese e da importância dos vários estados fisiológicos no
desenvolvimento dos distúrbios osteomusculares é crucial à prevenção
dirigida ao alvo. Tanto a dor como a fadiga são fenômenos essenciais em
estudos referentes aos mecanismos de desenvolvimento dos distúrbios
do sistema locomotor. (RANNEY, 2000).
Um assunto que vale a pena debater é até que ponto ocorre lesão
física no local de trabalho, e mais particularmente, se esta se encontra
presente em um determinado indivíduo. Está sendo cada vez mais
reconhecido que o estresse psicológico, tédio, ambiente de trabalho
hostil, insatisfação com a atividade ocupacional, sensação de perda de
controle e coisas semelhantes desempenham importante papel no índice
de relatos e até mesmo no desenvolvimento desses problemas. Ao
determinar a capacidade de uma atividade repetitiva lesionar os tecidos,
não se deve esquecer a psique e o cenário social do indivíduo. (RANNEY,
2000).
56
A determinação quanto à possibilidade de ocorrer ou não uma
lesão física no local de trabalho, através de atividade repetitiva, tem
colocado obstáculos ao uso de termos que geralmente não apresentam
concordância com a definição, por se basear as conclusões apenas em
sintomas, por não reconhecer o papel dos fatores psicológicos e
influências sociais na gravidade da dor, e por não se ter um diagnóstico
preciso e completo em casos individuais. Não devemos basear nossas
conclusões apenas em sintomas, assim como fizeram muitos estudos
epidemiológicos falhos. Para tanto, dê-se abertura à possibilidade de que,
em alguns casos, influências psicológicas e sociais possam ser
responsáveis por esses sintomas. (RANNEY, 2000).
57
CAPITULO III
A PESQUISA DE CAMPO
3 MÉTODOS E TÉCNICAS
Para estudar os impactos de um programa de Ginástica Laboral no
setor de produção de uma indústria calçadista, foram desenvolvidas
atividades físicas supervisionadas e orientadas por uma fisioterapeuta no
período de Novembro de 2007 a Fevereiro de 2008.
O programa de GL implantado foi desenvolvido dividindo-se o setor
de produção em três turmas, cada uma composta por em média por 15
funcionários.
O setor alvo deste estudo foi o Setor de Produção, composto por
cerca de 55 funcionários, dispostos em diferentes postos de trabalho.
As funções existentes na indústria calçadista estudada estão
dispostas no quadro abaixo (Quadro 7), onde consta o número de
funcionários em cada função, a postura de trabalho e os segmentos
corporais expostos a maior sobrecarga muscular.
(continua)
Função Número de
funcionários
Postura de
trabalho
Segmentos corporais
em sobrecarga
muscular
Cortador 07 Em pé Membros inferiores
Auxiliar de
montagem
07 Sentado Membros superiores
Coluna vertebral
Pespontador 05 Sentado Membros superiores
Coluna vertebral
Armadeira 05 Em pé Membros inferiores
Coluna vertebral
Dobradeira 05 Sentado Membros superiores
Coluna vertebral
58
(conclusão)
Pranchadeira 03 Sentado Membros superiores
Coluna vertebral
Refiladeira 02 Em pé Membros inferiores
Membros superiores
Auxiliar de
distribuição
02 Alternada Membros superiores
Modelista 02 Alternada Membros superiores
Ajudante de
mesa
04 Em pé Membros inferiores
Membros superiores
Passador de
cola
03 Em pé Membros inferiores
Membros superiores
Lixador 02 Em pé Membros inferiores
Membros superiores
Pregador de
salto
02 Em pé Membros inferiores
Membros superiores
Escarnideira 04 Sentada Membros superiores
Coluna vertebral
Revisor 02 Alternada Membros superiores e
inferiores
Fonte: dados da pesquisa.
Quadro 7 – Relação de funções na empresa estudada, número de
funcionários, postura de trabalho e segmentos corporais expostos à
sobrecarga muscular.
A partir desta relação, foram divididos os grupos de colaboradores
a fim de realizar exercícios específicos de compensação aos esforços
repetitivos e às posturas inadequadas impostas nos postos operacionais.
As atividades de ginástica laboral compensatória foram ministradas
por um professor de Educação Física, sob a supervisão de uma
Fisioterapeuta.
Os exercícios eram realizados uma vez ao dia (no meio da jornada
de trabalho) no período da manhã, três vezes por semana.
59
Foram elaborados exercícios de acordo com as atividades
desenvolvidas pelos trabalhadores, sendo a maior parte composta por
exercícios de alongamento muscular, visando à recuperação dos grupos
musculares mais exigidos na função do colaborador.
Com a finalidade de avaliar os efeitos de um programa de GL na
indústria calçadista foram elaborados dois questionários. Um respondido
pelos colaboradores na avaliação inicial (apêndice A), e outro respondido
após três meses da implantação do programa de GL (apêndice B). Ambos
contendo questões sobre as atividades físicas desenvolvidas, postura no
trabalho, queixas e localização de dor.
O questionário de avaliação inicial foi composto de 4 questões
abertas e 14 questões fechadas, e após três meses o questionário
controle (apêndice B) foi composto de 1 questão aberta e 15 questões
fechadas.
Foi solicitado aos colaboradores da indústria de calçados estudada
que assinalassem a região corporal no Diagrama de Corlett que
apresentasse dor durante a jornada de trabalho. Este diagrama foi
preenchido antes da implantação do programa de GL e após três meses.
3.1 Resultados
Na avaliação inicial 50 colaboradores responderam o questionário.
Apresentavam idade média de 30,2 anos, sendo 35 do sexo feminino e 15
do sexo masculino. Destes, 26 trabalhavam sentados, 20 em pé e 04 em
posturas alternadas.
Após três meses da implantação da GL, foi aplicado novo
questionário, sendo respondido por 55 colaboradores, com idade média
de 30,7 anos, sendo 38 do sexo feminino e 17 do sexo masculino.
Quanto a postura de trabalho 24 trabalhavam sentados, 25 em pé e 6 em
posições alternadas.
60
Fonte: dados da pesquisa
Figura1 – Número de colaboradores e posturas de trabalho
existentes no setor de produção.
A aderência dos colaboradores do setor de produção às aulas de
GL três vezes por semana teve uma freqüência de 78%.
Fonte: dados da pesquisa
Figura 2 – Porcentagem de freqüência na Ginástica Laboral
Dos colaboradores estudados na avaliação inicial, 70%
apresentaram queixa de dor em algum segmento corporal nos últimos
três meses. Esta porcentagem passou para 78% após três meses.
Participação na Ginástica Laboral
78%
21%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
sim não
POSTURA DE TRABALHO
24 20
25
4 6
26
0 5
10 15 20 25 30 35 40
Número de
funcionários
sentada em pé alternada
Avaliação Inicial
Avaliação 3 meses
61
Queixa de Dor
70%
78%
66
68
70
72
74
76
78
80
po
rcen
tag
em
de c
ola
bo
rad
ore
s
com dor inicio
com dor 3 meses
Fonte: dados da pesquisa
Figura 3 – Índice de queixa dolorosa nos segmentos corporais.
O segmento corporal com maior índice de queixa dolorosa
encontrado na avaliação inicial foi a coluna vertebral, seguida pelos
membros superiores e membros inferiores. Após três meses de GL, ainda
permanece a coluna vertebral como o segmento corporal com maior
queixa dolorosa, aumentando em 7% a incidência de queixa em relação
ao estudo inicial. Foram identificadas mais de uma queixa por
colaborador.
Localização das queixas antes e após implantação
da Ginástica Laboral
48%
36% 36%
55%
33%36%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
coluna MMSS MMII
Av. Inicial
Após 3 meses GL
Fonte: dados da pesquisa
Figura 4 – Incidência de localização das queixas dolorosas
antes e após três meses da implantação da GL.
62
Na avaliação inicial dos colaboradores que trabalhavam sentados,
77% apresentavam queixas dolorosas em algum segmento corporal, e
após três meses de GL, esse índice foi a 75%. Enquanto na postura de
trabalho em pé e alternada, houve aumento no índice de queixa, de 60%
para 80% na postura em pé e de 75% para 84% na postura alternada.
Prevalência de dor em diferentes posturas de
trabalho após 3 meses de Ginástica Laboral
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
sentado em pé alternada
AV. Inicial
Após 3meses G.L.
Fonte: dados da pesquisa
Figura 5 – Incidência de queixa dolorosa nas diferentes
posturas de trabalho.
3.2 Discussão
A Ginástica Laboral proporciona benefícios, tanto para o
trabalhador, quanto para a empresa. Além de prevenir as LER/DORT, ela
tem apresentado resultados mais rápidos e diretos com melhora do
relacionamento interpessoal e o alívio das dores corporais (OLIVEIRA,
2006; GUERRA, 1995; MENDES, 2000).
No Brasil, existem alguns estudos que afirmam que a GL pode
diminuir a incidência de dores e demais sintomas relacionados a LER/
DORT e aumentar o bem-estar dos trabalhadores. Um deles, afirma que a
Ginástica Laboral adaptada para as necessidades impostas pelo tipo de
trabalho, realizada sem sair do posto, em breves períodos de tempo, ao
63
longo de todo o dia de trabalho, pode produzir resultados positivos para
os funcionários e para a empresa (PINTO; SOUZA, 2004).
Neste estudo foi implantada a ginástica laboral em grupo, por
aproximadamente 15 minutos, três vezes por semana, no meio da jornada
de trabalho. Foram divididos três grupos de em média 15 colaboradores
com variadas funções dentro da empresa, todos do setor de produção.
Assim, este trabalho buscou aferir a incidência de queixa dolorosa
através de avaliações baseadas na percepção do trabalhador, com a
aplicação de questionário prévio a implantação do programa de GL e
após três meses.
As variáveis de interesse observadas no presente trabalho foram a
incidência de queixa dolorosa nas posturas de trabalho existente na
empresa, os segmentos corporais mais afetados e se a implantação
isolada de GL por três meses pode influenciar os resultados.
A empresa nunca realizou análise ou qualquer outra intervenção
ergonômica. Portanto, as condições de trabalho eram muito inadequadas.
Não haviam dimensionamento dos postos de trabalho, pausas ou
rodízios.
Martins e Martins (2000) realizaram um estudo com 90 funcionários
da Justiça Federal de Santa Catarina. Após 27 sessões da GL, os
participantes responderam a um questionário auto-administrado. A
conclusão foi que os dados sugerem que houve uma boa aceitação do
programa pelos funcionários e que a GL parece ter sido eficaz na
prevenção de LER/DORT.
Também foi demonstrado em nosso estudo, boa aceitação à
implantação da GL, pois encontramos uma freqüência às aulas de 75%
dos colaboradores.
Evidências têm demonstrado que a Ginástica Laboral, após três
meses a um ano, em média, de sua implantação, em uma empresa, tem
apresentado benefícios, tais como: diminuição dos casos de LER/DORT,
menores custos com assistência médica, alívio das dores corporais,
diminuição das faltas, mudança de estilo de vida e, o que mais interessa
para as empresas, aumento da produtividade (JIMENES, 2002;
FERREIRA, 1998).
64
É interessante, entretanto, notar que a ginástica, por si só, não terá
resultados significativos se não houver uma elaborada política de
benefícios sociais, além de estudos ergonômicos, da colaboração dos
gerentes, dos técnicos de segurança do trabalho, dos médicos
ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos. (ALVES; VALE,
1999; MARTINS; DUARTE, 2001; JIMENES, 2002; OLIVEIRA, 2006).
Corrobora-se assim com o resultado encontrado em nosso estudo.
Não foi encontrada redução de queixa dolorosa com a implantação de
três meses de GL. Há outras possíveis variáveis, não incluídas neste
estudo, que podem interferir nos resultados.
Para tanto, são necessários novos estudos, a fim de comparar os
resultados da GL isolada e associada a outras intervenções ergonômicas.
65
CONCLUSÃO
As condições de trabalho e a produtividade das empresas são o
reflexo do estado de saúde de seus trabalhadores. Logo, a saúde e o
trabalho precisam andar juntos.
Assim, busca-se reconhecer as condições de trabalho que possam
desencadear doenças profissionais, para que medidas preventivas sejam
implantadas pelas organizações. Estas condições de trabalho podem
estar relacionadas às características físicas dos postos de trabalho, à
organização do trabalho, como: jornada de trabalho, revezamentos,
pausas e também às demandas físicas do indivíduo, como: exigência de
postura inadequada, repetitividade e esforços físicos.
Os problemas musculoesqueléticos são atribuídos a fatores:
individuais (sexo, idade, antecedentes) e biomecânicos (esforços,
posturas inadequadas, movimentos repetitivos). Além dos fatores de risco
associados diretos, existem os fatores correlacionados, considerados
indiretos, que são o estresse e a organização da empresa.
A implantação de pausas durante a jornada de trabalho é uma
medida importante permitindo o descanso e a recuperação muscular. A
rotação dos postos de trabalho também contribui, permitindo que o
trabalhador faça revezamento de atividades durante a jornada, evitando
sobrecarga muscular sobre um mesmo segmento corporal.
Atualmente, a Ginástica Laboral vem sendo implantada nas
organizações com um sentido mais amplo do que prevenir doenças
ocupacionais. Surge como um programa de melhoria da qualidade de
vida no trabalho e como agente motivador para mudanças no estilo de
vida.
Desta forma, espera-se que as pessoas deixem de ser sedentárias
e consigam prevenir as perdas decorrentes do envelhecimento,
garantindo uma melhor qualidade de vida.
A forma atual como vem sendo encarada a Ginástica Laboral,
como uma forma isolada de prevenção às doenças ocupacionais, deve
ser cuidadosamente analisada, já que, diversas variáveis podem estar
correlacionadas. Faz-se necessária uma metodologia de avaliação
66
ergonômica eficiente e uma adequada prescrição de atividades para um
melhor desempenho dos Programas de Ginástica Laboral.
Acrescenta-se ainda, uma conscientização por parte da empresa
quanto à importância em agregar à Ginástica Laboral, investimentos em
adequações ergonômicas, e assim, incrementar os resultados preventivos
esperados.
Em nosso estudo não foi encontrada redução no índice de queixas
dolorosas dos trabalhadores da indústria calçadista após a implantação
de três meses de GL. Detectou-se alto índice de queixa dolorosa no setor
de produção desta indústria e o principal segmento corporal de queixa
dolorosa foi a coluna vertebral.
Não foi possível determinar correlação entre a postura de trabalho
e a incidência de queixa dolorosa, pois não houve diferença significativa
entre as posturas: sentada, em pé e alternada.
O presente trabalho analisou a implantação da GL prescrita no
meio da jornada e realizada somente uma vez ao dia. Esta modalidade de
aplicação mostrou-se insatisfatória no que diz respeito à redução de
desconforto nos segmentos corporais analisados.
Estudos futuros poderão aprofundar tais considerações em outras
formas de aplicação da GL.
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Apêndice A - Avaliação Inicial: Questionário de sintomas e de aspectos da organização do trabalho 1. Nome___________________________________________________ 2. Sexo: ( )masculino ( ) feminino 3. Idade ________Peso________Altura___________ 4. Você pratica alguma atividade física? ( ) sim ( ) não Qual?
Quantas vezes por semana ( ) 1 vez ( )2X ( ) 3X ou mais
5. Há quanto tempo trabalha como funcionário desta empresa? ________________________________________________________
6. Tem outra atividade fora da empresa?
Qual?______________________________ 7. Já trabalhou em outras empresas nesta mesma função? ( ) Sim ( )
Não Caso sim, durante quanto tempo?_________________________
8. Existe uma produtividade mínima determinada pela empresa?
( ) Sim ( ) Não Qual?________________________________________________
9. Você realiza horas extras? ( ) Sim ( ) Não
Quantas por mês? ___________________________________________________
10. Você pode interromper o trabalho para ir ao banheiro ou beber água
sempre que necessite? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 11. Qual é sua postura para dormir? ( ) de lado ( )barriga para cima ( )barriga para baixo 12. Você sente dormência, formigamento ou queimação?
( ) Sim ( ) Não Em que parte do corpo?
_______________________________________________ 13. Você tem varizes? ( ) Sim ( ) Não.
Há quanto tempo?_______________ 14. Usa meias elásticas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes 15. Você sentiu dores nos últimos 4 meses? ( ) Sim ( ) Não
Caso afirmativo assinale na figura abaixo os locais onde sentiu dor. 16. Você já consultou um médico devido a essas dores?
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( ) Sim ( ) Não
17. Você já ficou afastado do trabalho por este problema?
( ) Sim( ) Não 18. Como você trabalha? ( ) De pé ( ) Sentado ( ) Ou alternando essas posturas 18. Descreva como você se sente ao final de um dia de trabalho: 19.Você tem alguma sugestão para melhorar o seu trabalho?
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Apêndice B – Avaliação após 3 meses: Questionário de opinião do trabalhador Data: ____/_____/______ Sexo: M ( ) F ( ) Idade: Destro ( ) Canhoto ( ) Setor:________________________Função: _________________ Qual sua postura para dormir: de lado ( ) barriga para baixo ( ) barriga para cima ( ) Qualidade do sono: de 6 a 8 horas ( ) menos de 6 horas ( ) acorda muito ( ) Você faz Ginástica Laboral: 3 vezes/ sem ( ) 2 vezes/ sem ( ) 1 vez/ sem ( ) não faz ( ) O que você achou da empresa oferecer a Ginástica Laboral ? excelente ( ) muito bom ( ) bom ( ) ruim ( ) Os exercícios da Ginástica contribuíram para você trabalhar melhor ? ( ) sim ( ) não Você acha que a empresa deve continuar com Ginástica Laboral ? ( ) sim ( ) não Você tem alguma sugestão para as aulas de Ginástica Laboral ? Durante seu trabalho, você permanece na posição: sentado ( ) em pé ( ) em pé inclinado ( ) sentado inclinado ( ) outra ( ) Como você se sente nesta posição? Muito confortável ( ) Confortável ( ) Indiferente ( ) Desconfortável ( ) Muito desconfortável ( ) Seu trabalho é em média: Leve ( ) Pesado ( ) Você tem que realizar esforços de empurrar, levantar, puxar objeto com mais de 3 KG? Nunca ( ) Um pouco ( ) De vez em quando ( ) Com freqüência ( ) Continuamente ( ) Como é seu trabalho do ponto de vista físico? Repousante ( ) Um pouco cansativo ( ) Cansativo ( ) Muito cansativo ( ) Você acha seu trabalho:
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bastante variado ( ) variado ( ) pouco variado ( ) nada variado ( ) Você acha seu trabalho? Apaixonante ( ) Interessante ( ) Médio ( ) Pouco interessante ( ) Desinteressante ( ) Você sentiu dores no corpo nos últimos 3 meses? ( ) Sim ( ) Não. Em caso afirmativo assinale na figura abaixo os locais onde sentiu dor.