Post on 08-Jan-2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE BELAS ARTES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL
MANUELA BRITTO TABOADA
CURSO DE OCEANOGRAFIA - UFBA CONSTRUÇÃO DE MARCA SISTEMA DE IDENTIDADE CORPORATIVA
SALVADOR 2004
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MANUELA BRITTO TABOADA
OCEANOGRAFIA UFBA:
CONSTRUÇÃO DE MARCA, IMAGEM E IDENTIDADE.
Projeto apresentado ao Curso de Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual, Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Desenho Industrial com habilitação em Programação Visual. Área de concentração: Identidade Corporativa Orientador: Prof. Ricardo Guimarães Co-orientador: Prof. Dr. Guilherme Lessa
SALVADOR
2004
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Resumo
Uma marca bem elaborada contribui para a geração de uma identidade sólida e uma imagem
coerente com as reais motivações de uma instituição. As organizações educacionais possuem
características intrínsecas bastante diferenciadas dos outros tipos de organização, principalmente
no que diz respeito aos seus públicos internos e externos. Consequentemente devem lidar com a
questão do desenvolvimento de marcas de uma forma também diferenciada. Este trabalho
investiga a metodologia tradicional de criação, desenvolvimento e implantação de sistemas de
identidade visual e propõe algumas alterações nesta metodologia, permitindo aos públicos
relacionados à instituição, maior envolvimento no processo de criação e estabelecimento da sua
marca / identidade.
A implantação do novo curso de Oceanografia da UFBA oferece uma oportunidade de
investigação e experimentação destas novas estratégias. Além de investigar as questões teóricas,
este trabalho desenvolve, através de uma metodologia participativa, uma marca para o novo curso
de Oceanografia da UFBA, assim como delimita algumas estratégias visuais para o seu sistema de
identidade visual. Foram utilizadas enquêtes entre os diferentes públicos como método de
participação destes nas decisões relativas às soluções visuais obtidas. Dessa forma procurou-se
alinhar os princípios e filosofias do curso às variadas expectativas e modelos mentais dos três
públicos diretamente com ele envolvidos – o público discente (atual e potencial), docente e
empresarial.
A realização destas avaliações abertas se por um lado trouxeram problemas técnicos a serem
resolvidos pelo designer, por outro refletiram a preferência estética da maioria dos participantes e
celebraram o processo democrático em uma atividade tipicamente tão centralizadora.
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Abstract
A well-developed brand helps to establish a solid identity and creates support to an image that is
coherent to the actual motivations in an institution. Educational institutions have inherent
characteristics that are diverse from the other sort of institutions, mainly when the focus is set on
its internal and external publics. Consequently, these institutions should deal with the
development of their brand and identity system also in a different approach. This research aims
to investigate the traditional methodology for brand and identity systems development and
proposes some modifications in order to allow a broader inclusion of the stakeholders in the
process.
The implementation of the new Oceanography Course in the Federal University of Bahia
(UFBA) offered a unique opportunity to investigate and test these new strategies. In order to
investigate and relate the image, identity, interaction and experience concepts through a
participative methodology, this research project applies the new suggested strategies in the
development of a brand and an identity system for the Oceanography Course in UFBA.
Open surveys have been carried out between the alumni, lecturers and coordination body, in
order to discover and establish a symbol for the course. The statistic analysis of the surveys’
results showed clear aesthetic preferences to some icons and colours to represent the course. The
participative methodology celebrated, in this project, a democratization of the generally expert-
centred brand development process.
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Agradecimentos
A meus pais e Leo, por terem sempre sido ecológicos em todos os sentidos, inclusive respeitando
a minha natureza, minhas escolhas e me ajudando no aprendizado de sempre.
A Leo Dutra por possibilitar encontros muitos importantes: com a biologia, com o mar de uma
forma profunda, com o amor, com novos e velhos amigos e com a Oceanografia da UFBA.
A Guilherme Lessa e Ricardo Guimarães, meus dois orientadores, sempre presentes, pacientes
bem humorados, mantendo os faróis acesos e o barco no rumo certo!
A Geraldo, professor de sociologia, por me fazer perceber a ecologia de forma filosófica e a
perceber que alguém já tinha pensado meus pensamentos.
À minha amiga e professora Adriana Valadares, por me fazer entender o design e estar sempre
pronta para dar o estímulo necessário para começar.
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“Faça tudo, busque o impossível,
mas, meu amigo,
respeite o mar.
O sábio marinheiro sabe que
ele jamais venceu uma tormenta,
apenas e tão somente apenas,
foi o mar que deixou
ele passar.”
De Hélio do Vagabundo para Amyr Klynk do Paratii in: “Paratii: entre dois pólos”, Amyr Klink, 1998
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Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9
PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................10
1. MARCAS, IMAGEM E IDENTIDADE. ..........................................................................................................10 1.1 Signos, símbolos e marcas.................................................................................................. 10
1.2 Imagem X Identidade ......................................................................................................... 12
1.3 Experiência, Interação e Integração ................................................................................. 13 2. VANTAGENS DE UMA IDENTIDADE BEM ELABORADA.........................................................................15
PARTE II – O CURSO DE OCEANOGRAFIA................................................................17
3. O QUE É A OCEANOGRAFIA? ....................................................................................................................17 3.1 O curso ................................................................................................................................. 17
3.2 A profissão ........................................................................................................................... 18
3.3 Pesquisa................................................................................................................................. 19 4. AMBIENTE EXTERNO..................................................................................................................................19 5. PÚBLICOS .......................................................................................................................................................21
5.1 O Público Docente ............................................................................................................. 21
5.2 O Público Discente............................................................................................................. 21
5.3 O Público Corporativo....................................................................................................... 21 6. O PRODUTO:.................................................................................................................................................23 7. QUE IMAGEM SE DESEJA CONSTRUIR? .....................................................................................................23
PARTE III – METODOLOGIA.........................................................................................24
8. METODOLOGIA APLICADA NESTE PROJETO ..........................................................................................24 8.1 A abordagem participativa ................................................................................................. 24
PARTE IV – RESULTADOS .............................................................................................27
9. PROBLEMATIZAÇÃO ....................................................................................................................................27 9.1 Conceituação........................................................................................................................ 27
9.2 Análise de similares ............................................................................................................. 28 10. CONCEPÇÃO.............................................................................................................................................29
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10.1 Pesquisa gráfica.................................................................................................................... 29
10.2 Primeiras Alternativas......................................................................................................... 29
10.3 Enquête geral ....................................................................................................................... 32
10.4 Soluções preliminares ......................................................................................................... 33
10.5 Enquête restrita.................................................................................................................... 34
10.6 Equalização .......................................................................................................................... 36
CONCLUSÃO.....................................................................................................................37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................38
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Introdução
A Comunicação é essencial ao homem e inerente à sua existência. Desde o seu início primitivo
até os tempos de hoje, quando atinge o centro dos interesses humanos, a base da comunicação e
o seu motivador são um só: a necessidade. É ela o gatilho do desenvolvimento dos sistemas
escritos, da criação de símbolos abstratos, marcas comerciais e de toda a sociedade “marcada” na
qual vivemos hoje.
A implantação do novo curso de Oceanografia da UFBA oferece uma oportunidade de
investigação e experimentação de estratégias de desenvolvimento e gerenciamento de imagem
baseado nos três principais públicos que interagem com o curso em questão: o público discente
(atual e potencial), o público docente e o público empresarial para o qual o curso - e suas
unidades de pesquisa - prestam serviços de pesquisa e consultoria.
Pretende-se então, com este trabalho, propor uma marca para o novo curso de Oceanografia da
UFBA, que integre os três públicos diretamente com ela envolvidos, à sua filosofia e identidade,
assim como o estabelecer um sistema de comunicação visual que permita a construção de uma
imagem consistente.
Tomando-se como foco principal a percepção dos públicos diretamente a ele ligados através de
uma abordagem participativa, este trabalho visa, especificamente, investigar as questões
relacionadas à marca, imagem, identidade, interação e experiência e através dessa investigação,
definir um conceito visual do curso de oceanografia desenvolvendo um símbolo gráfico para o
curso e o seu sistema de identidade corporativa.
A atividade da Oceanografia, devido à sua essencial ligação com o mar causa, por si só, certo
fascínio e admiração. Jovens sonham em se tornar oceanógrafos e explorar os mistérios dos
mares. Por que não aproveitar e traduzir esse fascínio em forma gráfica, ampliando o seu alcance?
Entre todas as vantagens que uma instituição pode adquirir através de um bom gerenciamento de
identidade, uma marca bem elaborada para o novo curso de Oceanografia da UFBA contribuirá
para gerar maior envolvimento dos participantes, desejo de fazer parte da comunidade de
pesquisadores, orgulho por pertencer a esse grupo, além de permitir uma demonstração mais
clara de seriedade e organização através de uma identidade unificada e coerente.
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Parte I – Fundamentação Teórica
1. MARCAS, IMAGEM E IDENTIDADE.
1.1 Signos, símbolos e marcas
No início da sua vida em sociedade o homem encontrou maneiras de associar certos sons, gestos
e formas com determinados objetos ou ações, criando assim os primeiros SIGNOS. De acordo
com Leeds-Hurwitz (1993), um signo é toda coisa (objeto, desenho, som...) que, baseada em
convenções sociais previamente estabelecidas, pode ser tomada como representando alguma
outra coisa.
Todo signo tem uma tradução – em português, significado – que é considerada como o uso social
do signo. Este significado pode variar com o tempo e de cultura para cultura. As diferentes
formas que um mesmo signo pode ser interpretado mostra claramente o quanto arbitrária é esta
tradução.
Os significados dos signos não se encontram neles próprios, ou nos objetos que eles
representam, mas no interpretador – os conceitos são criados na mente das pessoas. O
entendimento desta idéia é crucial para a compreensão dos signos mais complexos – como as
marcas – assim como para a força do seus significados e valores associados.
O termo “signo”, no entanto, não deve ser confundido, nem tido como sinônimo do termo
“símbolo”. O signo pode ter vários níveis de relação figurativa entre o significador (o próprio
signo) e o significante (aquilo que o signo representa). O símbolo é aquele que possui a relação
mais tênue entre estes dois elementos do signo, sendo totalmente arbitrário ao representar um
objeto, conceito ou idéia (Figura 1).
Segundo Leeds-Hurwitz (1993), um símbolo estabelece uma conexão arbitrária com os
componentes presentes e os ausentes, a autora cita como exemplo o vestido branco de noiva,
que, tradicionalmente, simboliza a virgindade e a pureza, representando algo que nem se parece
(ícones) nem foi tirado (índice) do significante.
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Figura 1: Estrutura e classificação dos signos: símbolos, ícones e índices e seus níveis de abstração.
Símbolos são a base da criação de marcas, e o componente crítico na habilidade de se construir
uma imagem que reflita a realidade. Símbolos são elementos da comunicação humana que
representam o conhecimento cultural real, sendo a chave através da qual tradições, valores e
culturas inteiras são transmitidas do passado para o presente.
Hoje, na sociedade em que vivemos – forjada sobre as bases do capitalismo e da necessidade de
diferenciação – as marcas são os símbolos que melhor representam, comunicam e provavelmente
deixarão na história da humanidade os traços do que é o mundo de hoje.
A Landor Associates, conhecida pela criação e gerenciamento de grandes marcas mundiais,
desenvolveu, em 1995 um dicionário específico onde o termo brand – marca, em inglês – é
definido como: “the sum of all the characteristics, tangible and intangible, that make the offer unique” - a
soma de todas as características, tangíveis e intangíveis, que tornam a oferta única. Este conceito
ressalta a amplitude com que o termo pode ser usado, tornando óbvio que o símbolo ou logotipo
– a visão do design - são apenas a porta de entrada para os conceitos e modelos mentais de
imagem e identidade estabelecidos por uma marca.
O termo qualidade, por sua vez, pode ser traduzido como sendo a “soma de características que
tornam um produto único”. Torna-se óbvia a proximidade dos dois conceitos, e, portanto,
podemos afirmar que a palavra “marca” está estritamente ligada à idéia de qualidade de um
produto (tangível ou intangível - mercadoria ou serviço) oferecido por uma organização.
signos
índices
ícones
símbolos
significado significante
Menor semelhança com o significante
Maior abstração
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A marca de uma organização não comunica apenas ao público consumidor, mas ela também se
relaciona com o público interno ajudando a forjar a imagem desta organização junto a todos os
que possuem algum contato com ela.
Marcas socializam as organizações. Para o público a marca é a própria organização. Todo a
estrutura envolvida por trás dela é praticamente invisível ao consumidor. A marca de uma
empresa ou produto toma então para si o importante papel de intermediadora – meio através do
qual a comunicação da identidade é feita com os clientes. Uma mediadora entre os valores da
organização e os valores do consumidor. Quanto mais compatíveis forem eles, maior
identificação haverá entre os dois lados.
Uma marca é, portanto, um símbolo extenso para representar valores complexos. O processo de
desenvolvimento e implantação de uma marca é chamado branding – até o momento não há
palavra em português brasileiro que traduza a expressão. Uma marca não é apenas o logo ou a
tipografia usada. Segundo Milton Glaser, “o logo é o ponto de entrada para a marca” (PAVITT,
2000). O conceito de branding envolve cada aspecto da interação entre a identidade da empresa e
os seus consumidores: o logo, o nome – aspectos primários nesta relação – embalagens,
mostruários, displays, uniformes, interiores, musica, cheiro, comportamento dos funcionários,
voz da secretária eletrônica, reação da organização perante o ambiente em torno dela, entre
tantos outros.
1.2 Imagem X Identidade
Esse conceito ampliado de marca envolve, portanto, todos os possíveis contatos “tangíveis ou
intangíveis” que a idéia de um produto possa ter com o seu público. A marca representa, perante
seus públicos – interno e externo – a identidade de uma organização, seus valores, filosofias e
princípios.
A imagem de uma organização, no entanto, possui uma conotação um pouco diferente. A
imagem é o modelo mental que o público tem relativo a uma determinada organização ou
produto.
A identidade é esculpida pela empresa de dentro para fora, a imagem é criada pelas pessoas, é o
reflexo, o resultado de todas as atitudes organizacionais e dos pontos de interação entre público e
organização.
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A marca, como signo, representa a identidade de uma organização ou produto. A imagem, o
significado, é o resultado – positivo ou não – obtido com essa comunicação. Como qualquer
significado ele não está no significante, mas no interpretador. A imagem da marca está na mente
dos seus públicos.
A importância de ter consciência deste processo de estabelecimento de um modelo mental
relativo à marca reside no fato de que apenas conhecendo muito bem os nossos públicos –
interno e externo – e tendo uma noção clara na identidade da organização, seus valores e
posicionamento, e na imagem que esta pretende criar na mente dos seus consumidores, é possível
se desenvolver marcas – signos – que cumpram seu papel de representação com sucesso e ainda
possam extrapolar o significado e invadir o campo emocional, criando um relacionamento de
empatia com as pessoas e atingindo o máximo que uma organização possa desejar: estar não
apenas na mente, mas no coração de seus consumidores e colaboradores.
Figura 2: Imagem e Identidade: o símbolo da instituição percebido e interpretado na mente das pessoas.
1.3 Experiência, Interação e Integração
Uma marca bem elaborada - que alinha suas características estruturais às referencias geradas pelos
seus símbolos - possui características estéticas que enfatizam a experiência sensorial do público
que atinge.
marca símbolo
significado significante
imagem
identidade
organização público
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As experiências emocionais afetam diretamente a percepção e a mente das pessoas, sem
necessariamente haver uma operação consciente por parte delas sendo, portanto, verda-
deiramente fixadas e dificilmente esquecidas, tornando-se conseqüentemente, um importante
ponto de comunicação como usuário.
As marcas possuem, naturalmente, esse caráter emocional na relação com seus públicos.
Segundo Schmitt & Simonson, a estética sacia as necessidades sensoriais dos consumidores
diferenciando produtos e serviços em aspectos intangíveis. Aspectos esses que vão além da
combinação: nome, símbolo gráfico e tipografia.
Esta relação emocional do público com os elementos sensoriais que compõem o sistema de
identidade institucional pode gerar, perante os consumidores, um maior grau de envolvimento e
fidelização à marca - através da identificação pessoal com elementos da imagem corporativa (mais
amplos do que signos puramente visuais).
Nos relacionamos com uma determinada marca da mesma forma que com pessoas que
conhecemos. Quando temos um amigo, somos fiéis a ele, buscamos estar próximos, defendemos
suas idéias... Quando nos apaixonamos, esquecemos todo o resto, mesmo que aquilo seja
passageiro. Por outro lado, se não gostamos de uma determinada pessoa, a ignoramos ou
fazemos questão de não enxergar suas qualidades. Uma relação bastante semelhante pode ser
percebida entre as pessoas e as marcas que amam e defendem, independente de qualquer coisa,
ou as que detestam.
Esses elementos sensoriais, no entanto, devem estar bem harmonizados e alinhados ao perfil do
público que se deseja atingir, e, principalmente, à filosofia da instituição.
Deve-se estabelecer, portanto, não apenas um conjunto de símbolos a serem usados, mas um
sistema completo de identidade que defina estrategicamente esses elementos – e as relações entre
eles, que enfatize os pontos de interação com o usuário e que mantenha a consistência da
experiência de marca desejada pela instituição, representando suas estratégias estéticas da maneira
mais fidedigna possível.
Mas, que nos faz escolher algumas marcas, em detrimento de outras, para se tornarem parte do
nosso mundo e da nossa personalidade?
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A resposta é: conexão. Escolhemos marcas que se encaixam nas nossas preferências, no gosto.
Decidimos pelos valores que combinam com a nossa imagem e identidade pessoal. Mais uma vez
quem manda é a comunicação: cada um precisa de uma identidade para si mesmo e de comunicar
essa identidade aos outros.
Escolhemos marcas por que elas se encaixam nos nossos valores e colaboram com a identidade
que queremos comunicar e a imagem que desejamos que seja estabelecida, sobre nós, na mente
das pessoas com as quais nos relacionamos.
Vivendo numa sociedade de consumo, num “material world’, as coisas que possuímos têm um
importante papel na construção da nossa imagem. Deixamos que marcas – e os valores por elas
representados – falem por elas sobre nós, completando um ciclo comunicativo inconsciente entre
as pessoas, tendo as marcas como interface.
2. VANTAGENS DE UMA IDENTIDADE BEM ELABORADA
A diferenciação através da marca pode ser um fator chave do sucesso em uma instituição, prin-
cipalmente no que diz respeito a organizações prestadoras de serviços. Este é exatamente o caso
do Curso de Oceanografia da UFBA – prestadora de serviços educacionais e de pesquisa. No
caso da Oceanografia, a competência dos profissionais será reforçada pelo forte apelo de uma
marca bem desenvolvida e posicionada.
Por outro lado, "se os elementos corporativos ou de marca proporcionam ou não benefício
estético irá depender, em grande parte, de um gerenciamento adequado" (SCHMITT &
SIMONSON, 2000). Deve haver, portanto, um claro entendimento sobre os elementos dessa
estratégia estética e de como eles criam impressões no consumidor. Além disso, o gerenciamento
de um sistema de identidade institucional deve ser algo dinâmico e adaptável às mudanças do
mercado e da organização.
O desenvolvimento e gerenciamento de marcas devem adaptar-se ao modelo organizacional ao
qual se referem. As organizações educacionais possuem características intrínsecas bastante
diferenciadas dos outros tipos de organização principalmente no que diz respeito aos seus
públicos internos e externos.
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O design gráfico possui, portanto um importante papel quando volta-se os olhos para o processo
emocional envolvido na escolha de um produto. É o design que vai definir como a organização é
(literalmente) vista, e percebida pelos seus públicos.
As formas, imagens, tipografia, linguagem e cores usadas na identidade corporativa falam alto aos
consumidores, seja através de uma campanha publicitária ou na prateleira de um supermercado
no momento da aquisição – o momento onde o produto está lado a lado com seus concorrentes
e encara de frente o consumidor. É nesse minuto quando a decisão é tomada que todo o sistema
de identidade e os esforços de marketing e design são postos à prova. Se ele funciona, sucesso –
produto no carrinho.
Compreendendo o conceito de marca como um conceito amplo que envolve cada aspecto da
interação do produto com seus consumidores, é importante lembrar que “produto”, “prateleira”
e “aquisição” podem também ter significados ampliados quando falamos sobre serviços
prestados por um banco ou organização educacional. O sucesso da última pode estar refletido na
boa penetração no mercado, dos profissionais por ela formados – e conseqüente renome para a
instituição, trazendo para si mais alunos e construindo um ciclo virtuoso em direção a uma
imagem cada vez mais sólida e positiva.
Sendo o design gráfico, portanto, tão conectado com os aspectos emocionais do processo de
formação da imagem de uma organização ou produto, ele pode e deve ser considerado como
uma das mais importantes ferramentas para se atingir o público desejado no momento e humor
exatos.
A emoção, no entanto é tão subjetiva quanto as interpretações de símbolos. A primeira tem uma
influência sobre a segunda e vice-versa, apesar da interpretação simbólica ser também fortemente
determinada por aspectos culturais, regionais e históricos.
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Parte II – O Curso de Oceanografia
3. O QUE É A OCEANOGRAFIA?
A definição da Ciência Oceanográfica encontrada no website do próprio curso de Oceanografia da
UFBA nos dá uma clara idéia do objeto de estudo em questão e das questões com ele envolvidas:
“A oceanografia é a ciência que tem como alvo investigar e analisar os mais diversos
fenômenos relacionados aos mares, oceanos e zonas costeiras, abrangendo os aspectos
biológicos, físicos, químicos e geológicos destes ambientes. Tem também como finalidade o
estudo dos impactos antrópicos no ambiente marinho, colaborando para um aproveitamento
criterioso dos recursos existentes”.
A costa da Bahia é a mais extensa do Brasil, e apresenta uma grande variedade de ecossistemas e
ambientes de sedimentação incluindo formações de recifes de coral, consideradas as mais
importantes do Atlântico Sul, além da Baía de Todos os Santos, a maior baía doBrasil.
Estes fatos sempre atiçaram a curiosidade de navegadores, historiadores, e pesquisadores de todas
as áreas, em todos os tempos.
3.1 O curso
“Frente a tamanha diversidade de ambientes marinhos e oportunidade de pesquisa, vários
grupos de pesquisadores lotados nos Intitutos de Química, Geologia, Biologia e Física,
iniciaram atividades de pesquisa relacionadas à oceanografia. Desta forma, até o momento
existiram diversos grupos dedicados à pesquisa no ambiente marinho trabalhando de forma
independente ou com pouca interação”.
Esta comunidade acadêmica mobilizou-se com o objetivo de estruturar um curso de graduação
em oceanografia buscando melhor aproveitar a estrutura da universidade e oferecer novas
perspectivas de formação profissional para a população não apenas do Estado, mas de toda a
região nordeste, onde não existem cursos de graduação em oceanografia.
Os estudantes interessados na ciência oceanográfica encontravam-se, também isolados em vários
institutos onde a oceanografia era tratada de forma parcial, apenas associada aos universos
biológico, geológico ou químico, gerando uma compreensão limitada do meio marinho. Hoje, o
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novo curso de oceanografia da UFBA, visa unir estes interesses na formação de um profissional
completo, com ampla compreensão dos processos e particularidades do ambiente marinho.
“O curso de oceanografia é estruturado em 3 etapas distintas: (i) Formação Básica, (ii)
Formação Geral e (iii) Formação Profissionalizante. A Formação Básica inclui os dois
primeiros semestres do curso e representa 25% da carga horária total. Ela envolve
componentes curriculares relacionados às áreas de matemática, física, química, biologia e
geologia.
A Formação Geral engloba componentes curriculares voltados para as quatro áreas da
oceanografia, sendo elas: oceanografia física, oceanografia química, oceanografia biológica
e oceanografia geológica. Esta fase do curso inclui aproximadamente 3 semestres (do
terceiro ao sexto semestre) e representa 37% da carga horária total do curso.
Dentre as componentes curriculares obrigatórios, o curso prevê um total de 50% da carga
horária em aulas práticas (o MEC recomenda um mínimo de 40%). O embarque
supervisionado constará de 120 h de atividades de embarque (o MEC recomenda um
mínimo de 100 h), que serão coordenadas e supervisionadas de forma a familiarizar o
aluno com a rotina a bordo de uma embarcação. Tais tarefas incluem, por exemplo, a
aquisição de dados oceanográficos, a analise e processamento de amostras, serviços
hidrográficos”.
3.2 A profissão
O mercado de trabalho no campo da oceanografia vem crescendo no Brasil nos últimos anos de
acordo com o aumento de demanda e investimentos em pesquisa e consultoria no setor. Segundo
informações recolhidas na própria escola, este impulso foi causado por uma série de fatores
como:
a. o aumento das atividades extrativistas no ambiente marinho,
b. a necessidade de um melhor conhecimento e caracterização da Zona Econômica
Exclusiva (ZEE),
c. a urbanização acelerada do litoral, a procura de novos recursos naturais e
d. o incremento das preocupações ambientais.
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Como conseqüência direta desse aumento de demanda por profissionais qualificados nas áreas da
oceanografia, o curso da UFBA vem suprir a necessidade de formação educacional de alta
qualidade, especialmente no Nordeste.
Dentre as instituições ou empresas contratantes responsáveis pela absorção do oceanógrafo
incluem-se:
a) empresas ou centros de pesquisa que atuam na preservação de espécies em extinção e de
ecossistemas agredidos pela ação do homem
b) empresas de consultoria técnica e ambiental
c) empresas do setor pesqueiro, seja na prospecção, produção ou beneficiamento de
pescado
d) empresas de aqüicultura e maricultura
e) empresas de saneamento e abastecimento de água, exploração e desenvolvimento
turístico, planejamento territorial e de exploração de petróleo e gás natural.
3.3 Pesquisa
“O dinamismo da pesquisa oceanográfica na UFBA pode ser medido pela participação de
docentes em programas governamentais de âmbito nacional voltados à oceanografia. Como
exemplo, cita-se o programa REVIZEE, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente
(MME) e Secretaria Interministerial de Recursos do Mar (CIRM), que conta com a
participação de vários pesquisadores da UFBA, detendo inclusive coordenação regional. A
penetração de pesquisadores da UFBA no cenário oceanográfico do país pode ainda ser
observada na sua participação ativa no Comitê Assessor de Oceanografia do CNPq e em
programas internacionais de oceanografia.” (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)
4. AMBIENTE EXTERNO
No Brasil, apesar da crescente demanda por profissionais da oceanografia, e das formações
litorâneas expressivas existentes nas regiões norte e nordeste, a concentração dos cursos de
graduação e pós graduação em oceanografia concentram-se nas regiões sul e sudeste, conforme o
mapa a seguir.
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FIGURA 3 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DOS CURSOS DE OCEANOGRAFIA NO
BRASIL
“A existência de cursos de graduação em oceanografia quase que exclusivamente nas
regiões sul e sudeste permite apenas aos residentes da região nordeste com maior poder
aquisitivo a possibilidade de formação nesta área. Aos demais interessados resta a matricula
nos cursos regulares de Biologia, Geologia, Química, Física ou Geografia, onde existe certa
interação com a oceanografia”. (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)
Dessa forma, a graduação em Oceanografia na UFBA, oferece a oportunidade de formação
oceanográfica a um número maior de candidatos da região, ajudando ainda a quebrar um outro
ciclo que decorre da escassez de profissionais qualificados na região – sem gente preparada, a
grande maioria dos projetos oceanográficos na região é entregue a firmas e universidades do sul e
sudeste, gerando uma “diminuição do potencial de recursos financeiros a serem aplicados na
infra-estrutura laboratorial da UFBA, a evasão de dados primários junto à compreensão dos
fenômenos locais e a [conseqüente] diminuição das oportunidades de formação e treinamento de
pessoal local”. (OCEANOGRAFIA-UFBA, 2004)
FURG1971
UERJ-1974 USP-2002
UNIMONTE –
1998
UNIVALE-1992
UFES-2000
UFPA-2000
UFBA 2004 1ª TURMA
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5. PÚBLICOS
Não foi possível, neste trabalho, devido às limitações de tempo e recursos, se desenvolver uma
pesquisa formal para delineamento preciso dos perfis de publico alvo do curso de oceanografia,
como seria desejável. No entanto, a partir de entrevistas com o público docente e discente, de
pesquisas em centros de informação e da observação das escolhas perceptivas das opções de
marca disponibilizadas na enquête, tornou-se possível determinar de forma aproximada o um
perfil desses públicos, através do uso de padrões comparativos de preferências e
comportamentos (estilo de vida).
5.1 O Público Docente
O curso de oceanografia conta com um corpo docente composto por sete professores na área da
Geologia, dois na área de Biologia, um em Física e um em Química, todos doutores ou mestres.
De faixa etária acima dos 30 anos, os professores do curso de Oceanografia têm um perfil sério
de pesquisa e investigação científica, combinado com a informalidade característica das pessoas
que trabalham ao ar livre.
5.2 O Público Discente
Os alunos da primeira turma do curso de oceanografia encontram-se em faixa etária entre 18 a 30
anos. Como todo aluno que acaba de entrar na universidade, têm a empolgação do início e
algumas ilusões relativas ao curso.
Se diferenciam dos alunos dos outros cursos, no entanto, por saberem que querem estudar
oceanografia, alguns vindos de outros estados do nordeste, outros tendo esperado bastante
tempo para ter a possibilidade de iniciar seus estudos nesta área.
Possuem um perfil aventureiro – e alguns se enganam por achar que isso será suficiente para
levar o curso em frente – têm uma forte ligação com a natureza e com o mar, precisam de
curiosidade científica e gosto pela matemática. Muita matemática.
5.3 O Público Corporativo
Ernesto Giglio (GIGLIO, 2002) define quatro tipologias empresariais para definir o perfil de
empresas como consumidores. Entre eles estão: o consumidor coorporativo industrial,
constituído de empresas que compram bens e matérias-primas para processamento e produção
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de outros bens; o consumidor coorporativo revendedor, aquele que compra um determinado
bem para revendê-lo ao mercado; o mercado de serviços, que consomem e compram em dois
níveis: o primário, que estrutura seu funcionamento e o secundário, relativo a serviços
terceirizados que possam vir a contratar.
A quarta e última tipologia que Giglio (GIGLIO, 2002) acrescenta ao seu modelo é o consumidor
coorporativo governamental.
O curso de Oceanografia se encaixa no mercado corporativo como prestador de serviços
terceirizados. Serviços de consultoria e pesquisa relacionados ao ambiente marinho e aos
impactos que este pode sofrer.
O ponto de partida do processo de consumo empresarial vem do conjunto de regras que
permeiam o funcionamento da organização. Essas regras são determinadas pelo ciclo de vida da
empresa (sua história, ciclos de crescimento, declínio, etc), pelas relações interpessoais e
especialmente pelas características do negócio em que a empresa atua.
Segundo Ernesto Giglio (GIGLIO, 2002), “conhecendo as regras da empresa, bem como suas
fontes de influências, temos condições de montar a teoria do comportamento de compra e
consumo desta empresa”, segundo o autor, são quatro os níveis de variáveis que podem
influenciar as regras empresariais de compra e consumo: variáveis do nível organizacional, do
nível do ambiente, do nível interpessoal e do nível individual conforme a tabela seguinte.
Consumo + Compra
Nível da Organização Nível do Ambiente Nível Interpessoal Nível Individual
regras
história
ciclos
objetivos
procedimentos
estrutura
demanda
conjuntura econômica
mudança tecnológica
nível competitivo
legislação e política
autoridade
status
empatia
persuasão
Idade
renda
educação
posição do cargo
personalidade
atitude diante de risco
Figura 2: Conjunto das variáveis que influenciam a formação das regras de uma empresa, incluindo o consumo e a compra.
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O consumidor corporativo do serviço oferecido pelo curso de Oceanografia tem suas decisões de
compra baseadas principalmente nos níveis de ambiente e organização. A contratação de uma
consultoria oceanográfica parte, na maior parte das vezes de uma demanda política por um
parecer ambiental, ou a nível competitivo de prospecção e estabelecimento de novos
procedimentos.
6. O PRODUTO:
Esta abordagem de marketing, no entanto, não prevê algumas particularidades identificadas no
processo de “compra” relacionado às instituições educacionais.
Inicialmente o termo “compra” não parece se aplicar bem ao negócio, principalmente
considerando a instituição Federal e sem fins lucrativos. Além disso, a questão ética muitas vezes
é comprometida quando no caso (bastante corriqueiro hoje em dia) de instituições particulares de
ensino superior passam a tratar seus alunos apenas e da mesma forma que clientes comuns.
O produto oferecido por uma instituição de ensino, tanto para os alunos como para o
consumidor das suas pesquisas é o conhecimento. No caso do corpo discente, o conhecimento
em termos da formação do profissional, considerando-se todas as nuances e sutilezas deste
processo. No caso do público corporativo, o conhecimento aplicado a situações reais em busca
de respostas e soluções práticas.
7. QUE IMAGEM SE DESEJA CONSTRUIR?
A Oceanografia caracteriza-se por ser uma profissão ao mesmo tempo séria e divertida, sendo
necessário, então, traduzir isto em sinais gráficos que agradem tanto ao público estudantil quanto
aos professores do curso e às instituições que contratam seus serviços de pesquisa.
O desafio passa a ser então encontrar um meio termo, uma representação gráfica que seja ao
mesmo tempo lúdica e séria, inteligente e divertida.
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Parte III – Metodologia
8. METODOLOGIA APLICADA NESTE PROJETO
Maria Luísa Peón (2002) define uma metodologia bastante clara e didática para o
desenvolvimento de sistemas de identidade visual. Ela divide o processo em três etapas
principais: a problematização – onde a situação é diagnosticada e são determinados os
objetivos, requisitos e referências principais do projeto; a concepção – onde são criadas e
avaliadas alternativas para solucionar o problema e a especificação – onde são definidos todos
os detalhes técnicos para que o sistema possa ser implantado.
Como o foco principal deste trabalho reside na interação com o público-alvo diretamente
relacionado à marca, optou-se por desenvolver este projeto baseado na metodologia proposta por
Péon, mas tendo por filosofia uma abordagem participativa, inserindo algumas modificações nas
etapas que constituem a fase de concepção da identidade visual.
8.1 A abordagem participativa
As marcas já possuem um caráter intrínseco de comunicação e interação emocional com as
pessoas. Quanto mais próxima da realidade do seu público, maior a identificação, interação e
maior a possibilidade de se atingir emocionalmente o “consumidor”.
Além disso, as marcas devem também estar muito bem sintonizadas com os valores e filosofias
institucionais para que seja mínimo o intervalo entre a identidade que se comunica e a imagem
que se obtém. As organizações e as pessoas, no entanto, vivem em constante mudança. Nada é
estático, e, para que uma marca acompanhe estas mudanças e mantenha o seu lugar na mente e
coração dos seus públicos, é preciso que o sistema de identidade visual seja cuidadosamente
implantado e possua uma abordagem sustentável – um plano de re-avaliações e constante
evolução.
Ao contrário do que normalmente se imagina, o centro de todo esse processo, no entanto, não
deve, necessária e exclusivamente, ser a instituição, mas sim, as pessoas envolvidas no processo
de construção da sua imagem. Clientes internos e externos - os usuários da marca - são quem
deve definir o valor e propriedade da identidade em questão. Apesar de todo o esforço por parte
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da instituição em estabelecer uma identidade, a sua imagem é forjada na mente do seu público e
propagada através dele.
Sicco van Gelder, fundador da Brand Meta, empresa holandesa especializada em Estratégia de
Marcas, afirma que instituições que implementam políticas de gerenciamento de identidade
visando melhorar as experiências dos consumidores possuem marcas de maior valor perante esse
público, e conseqüentemente, perante seus concorrentes.
O verdadeiro valor da marca, segundo van Gelder, é proporcional ao nível de conhecimento que
se tem sobre as necessidades dos clientes, seu comportamento, sua maneira de pensar, de
perceber valor e de racionalizar esses aspectos.
Percebendo essa necessidade não só de conhecimento, mas cada vez mais, da busca de interação
com o cliente, procuramos experimentar, com este trabalho, uma abordagem participativa para o
desenvolvimento da marca do curso de Oceanografia da UFBA, mesmo que, inicialmente, esta se
dê de forma bastante simplificada e paralela ao processo tradicional de criação.
Essa ligação direta com os públicos-alvo do curso em questão – docente, discente e corporativo –
traz para a marca um envolvimento e uma carga de identidade mais personalizada e democrática.
O processo deixa de ser exclusivo e centralizado no designer, e passa a ser compartilhado com
aqueles que usarão a marca.
Neste projeto, foram inseridos dois momentos de ampla participação dos públicos docentes e
discentes na fase de concepção da marca.
O esquema a seguir (figura 4) ilustra a metodologia proposta por Peón (2002) e destaca as duas
enquetes que foram disponibilizadas ao público geral, alunos e professores do curso de
oceanografia da UFBA.
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Figura 4: metodologia de desenvolvimento de identidade visual. Destaque para itens de adaptação: enquêtes públicas e avaliações de resultados.
As enquêtes, assim como seus resultados, foram feitos e publicados por meio eletrônico. Na
primeira delas foram apresentadas 16 alternativas de marcas, das quais foram escolhidas as duas
mais votadas. A partir destas duas marcas foram feitas melhorias e ajustes e apresentadas outras
quatro opções para uma segunda votação.
Este segundo momento, no entanto, foi restrito aos docentes e discentes com exceção de pessoas
participantes na elaboração do projeto da marca. A opção mais votada nesta fase é a marca
escolhida para representar o curso de oceanografia da UFBA.
Não foi feita, no entanto, nenhuma preparação ou reunião com os discentes e os docentes no
intuito de prepará-los para avaliar alguns detalhes técnicos relativos à qualidade da marca. Os
resultados das enquêtes devem, portanto ser tomados como uma avaliação do perfil perceptivo
do público participante. A maior parte das pessoas pode ter votado, simplesmente, nas soluções
que mais as agradaram em termos estéticos.
Entrevista Briefing Perfil dos públicos Contextualização
Primeiras alternativas Enquete publico geral
Soluções premilimares
Enquete restrita
Resultados Resultados
Solução final Equalização
Detlhamento técnico Aplicações Implantação
Problematização
Concepção
Especificação
Manual de identidade visual
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Parte IV – Resultados
9. PROBLEMATIZAÇÃO
9.1 Conceituação
Como já foi explicitado anteriormente, o processo de criação da marca do curso de Oceanografia
da UFBA foi - propositalmente - desenvolvido da forma mais próxima possível com o seu corpo
docente e discente. Chegou-se ao conceito gráfico em conjunto com o representante do curso.
A Oceanografia caracteriza-se por ser uma profissão ao mesmo tempo séria e divertida, sendo
necessário, traduzir-se isto em sinais gráficos que agradem tanto ao público estudantil quanto aos
professores do curso e às intituições que contratam seus serviços de pesquisa.
O desafio estava na busca do meio termo, uma representação gráfica que fosse ao mesmo tempo
lúdica e séria, inteligente e divertida.
Decidiu-se então, seguir o caminho de “brincar” com os símbolos e a forma, mas manter a
seriedade dos traços e cores, utilizando uma tipografia com linhas mais simples e modernas que
refletissem a novidade e juventude do curso.
Ao mesmo tempo optou-se pelas formas abstratas, que sugerissem, ao invés de impor,
significados. Algo que pudesse tomar um significado próprio e individual, de acordo com as
referências culturais do espectador da marca. Cada um a compreende de acordo com o seu
universo cultural.
Foram trabalhados então os seguintes conceitos:
- diversão e seriedade bem combinadas,
- abstração e ludicidade das formas,
- uso de formas orgânicas, retiradas da natureza,
- limpeza e simplicidade no traço,
- seriedade na escolha das cores,
- tipos (letras) modernas e simples.
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9.2 Análise de similares
Antes de iniciar a fase de pesquisa por referências gráficas, foi feita uma busca das marcas já
existentes na área da oceanografia e afins.
Foram encontrados, na sua maioria, símbolos na forma circular, remetendo ao conceito do globo
terrestre de forma bastante icônica. A cor azul é constante e a maior parte das representações
pode ser considerada pouco abstrata.
A figura a seguir (Figura 5) exibe alguns dos exemplares encontrados:
Figura 5: marcas relacionadas à oceanografia no Brasil e no mundo.
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10. CONCEPÇÃO
Após a fase de problematização onde foi feito o “reconhecimento da situação de projeto e seu
equacionamento” (PEÓN, 2002), iniciamos a fase de concepção, onde foi delineada a identidade
visual. Nesta fase foram desenvolvidas alternativas que foram apresentadas em forma de enquêtes
ao público geral (participantes ou não do curso de oceanografia da UFBA).
A partir destes resultados, as duas mais votadas foram re-trabalhadas e re-apresentadas,
novamente em forma de enquête, mas desta vez restrita ao público docente e discente do curso
em questão. Desta ultima fase escolheu-se uma marca que foi testada e aplicada para posterior
especificação técnica e implantação.
10.1 Pesquisa gráfica
Antes, porém de iniciar propriamente a produção das imagens gráficas foi feita uma pesquisa em
busca de referências formais relativas aos conceitos definidos na fase anterior.
Durante esta pesquisa buscou-se identificar as formar orgânicas, que mesmo sendo abstratas,
pudessem refletir a idéia da fluidez da água e de seus organismos.
Algumas destas imagens encontram-se no Anexo 1.
10.2 Primeiras Alternativas
A partir das formas e traços pesquisados foram desenvolvidas as primeiras alternativas
apresentadas a seguir.
Figura 6: representação de formas fluidas das massas de água, originou o primeiro partido de alternativas.
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Figura 7: marcas do primeiro partido de alternativas.
Figura 8: representação de formas organicas, originou o segundo partido de alternativas.
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Figura 9: marcas do segundo partido de alternativas.
Figura 10: marcas do terceiro partido de alternativas, obtidas a partir da vetorização de imagens fotográficas de organismos aquáticos.
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10.3 Enquête geral
As dezesseis marcas apresentadas acima foram disponibilzadas na Internet, para uma enquête
aberta ao público geral.
A planilha de resultados e as análises da distribuição dos votos encontram-se no Anexo 2. A
distribuição dos votos foi analisada de acordo com a ligação ou não à área da oceanografia. A
partir daí identificados alunos, professores, pesquisadores, instituições e faixa etária. Dos
participantes externos, foram identificados os que pertenciam às áreas de design e/ou marketing
– por acreditar-se que estas pessoas possuem uma percepção diferenciada dos elementos gráficos
formais.
Nesta fase fez-se necessário tomar uma decisão. Houve empate técnico entre as marcas no
resultado geral. No entanto, quando se analisou os resultados da votação dos participantes do
curso de oceanografia a preferência por uma das marcas se tornava bastante clara. Assim sendo,
decidiu-se por priorizar as preferências dos alunos, potenciais alunos, professores e pesquisadores
ligados ao curso em questão. As duas marcas mais votadas são apresentadas nas Figuras 11 e 12.
Figura 11: primeira colocada na enquête geral. 12% do total dos votos (7 votos), 4 votos de participantes do curso de oceanografia, 3 votos de pessoas ligadas às áreas de design/marketing. Votos distrubuidos entre todas as faixas etárias
Figura 12: segunda colocada na enquête geral. 9% do total dos votos (5 votos), sendo 4 votos de pertencentes à área de oceanografia – 4 alunos do curso da UFBA – e 1 voto pertencente a profissionais / estudantes das áreas de design/marketing. Votos concentrados em participantes com idades entre 15 e 25 anos.
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10.4 Soluções preliminares
Após avaliação técnica e redesenho das duas marcas mais votadas na etapa anterior, foram
desenvolvidas quatro soluções preliminares, apresentadas a seguir.
Figura 13: Primeira versão da primeira colocada. Reorganização dos elementos, utilização de tipografia diferenciada, mais clássica e sutilmente alterada de forma a apresentar uma idéia de fluidez.
Figura 14: Segunda versão da primeira colocada. Reorganização dos elementos mantendo a mesma família tipográfica da marca vencedora.
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Figura 15: Primeira versão para a segunda colocada. Reorganização dos elementos, inserção de descrição da atividade, desconstrução tipográfica formando as letras dando um sentido de balanço e reflexo – característico dos meios aquáticos.
Figura 16: Segunda versão para a segunda colocada. Reorganização e retirada de alguns elementos trazendo mais “limpeza” aos traços. Inclusão de um contorno dando idéia de geração, germinação de vida e fortalecendo a fluidez.
10.5 Enquête restrita
Com as soluções preliminares foi feita uma enquête restrita ao público interno do curso de
oceanografia – alunos e professores, com eventual participação de eleitores externos. Dos 16
participantes, 14 pertencem ao curso.
Os resultados desta segunda fase encontram-se na tabela a seguir (Tabela 2) e surpreendem pela
escolha da alternativa que menos se parece – em conceito e em forma – com a primeira colocada
na etapa anterior (Figura 17).
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Tabela 2: resultados da segunda enquête sobre a marca do curso de oceanografia.
A
B Figura 17: Comparação da primeira colocada na etapa 1 (A) e a marca vencedora de etapa 2 (B)
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10.6 Equalização
Após a escolha da marca vencedora, foram feitos testes de redução e contraste de cores onde a
marca apresentou certas dificuldades técnicas de aplicação.
Com um comprimento menor do que 9cm não há mais legibilidade da legenda e a visualização do
logotipo fica prejudicada.
As cores devem ser da mesma família porém contrastantes, caso contrário a sensação de reflexo
não é obtida (no caso de matizes diferentes) ou perde-se completamente a noção de
profundidade e legibilidade (no caso de cores pouco contrastantes).
Além disso, quando combinada com outros elementos nas peças onde foi aplicada, a marca
apresentou ainda uma certa dificuldade de harmonização e equilíbrio, dificultando a elaboraç!ao
das peças e uma maior variação de grafismos.
Estas dificuldades, levaram ao questionamento da utilização ou não desta marca pelo Curso de
Oceanografia da UFBA. Optou-se, no entanto por manter a escolha do público em respeito à sua
participação e preferência estética.
Para isso procurou-se contornar estas dificuldades com recursos gráficos como a limitação de
redução da marca com assinatura e com a criação de um padrão alternativo de distribuição que
permite maior legibilidade para casos especiais de aplicação.
Todas as especificações e detalhamento técnico da marca desenvolvida encontram-se no Anexo 3 deste trabalho.
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Conclusão
“Tudo é uma questão de aprendizado”. Esta foi a frase que ouvi do diretor de criação no
escritório da Futurebrand em Londres – uma das maiores empresas de criação e gerenciamento
de marcas do mundo. Aprender e observar.
Esta é a idéia por trás deste projeto. Re-aprender a desenvolver uma marca. Observar os públicos
e seus gostos. Guiá-los através da descoberta da sua própria identidade. Para que eles escolham a
sua marca, o símbolo que vai lhes identificar, comunicar ao mundo o seu mundo.
Infelizmente a abordagem participativa não pôde ser aplicada neste trabalho de forma exaustiva e
completa como deveria – através de oficinas de identidade, construindo a marca em conjunto
com o público cliente.
Mas foi possível, sim a realização de avaliações abertas que, se por um lado trouxeram problemas
técnicos a serem resolvidos pelo designer, por outro refletiram a preferência estética da maioria
dos eleitores e celebraram o processo democrático em uma atividade tipicamente tão
centralizadora.
A abordagem participativa foi experimentada neste trabalho com sucesso já que as falhas
identificadas no resultado refletem as etapas que foram subtraídas do processo.
Propõe-se a continuidade do estudo de uma metodologia participativa mais intensa, visando a
construção conjunta de marcas. Criando um processo ecológico de criação que respeite a
natureza dos seus públicos e a sua identidade. Conseguindo-se desta forma se abrir as portas para
a sustentabilidade da identificação das instituições no mundo atual cheio de constantes mudanças.
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Referências Bibliográficas
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Negócio Editora, 1998.
FLETCHER, Alan. The art of looking sideways. London: Phaidon, 2001.
FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos: desenho projeto e significado. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
GIGLIO, Ernesto M. O comportamento do consumidor. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
KOTLER, Philip. Administração de marketing. 10ª Edição.Trad. Bazán Tecnologia e Lingüística. São
Paulo: Prentice Hall, 2000.
LEEDS-HURWITZ, Wendy, Semiotics and communication: signs codes, cultures, Hillsdale, N.J.,
Erlbaum, 1993.
OCEANOGRAFIA – UFBA. http://www.oceanografia.ufba.br/
PAVIT, Jane, Brand.new, London, V&A, 2000.
PÉON, Maria Luisa. Sistemas de identidade visual: um guia sucinto para pesquisar, criar, avaliar e especificar
identidades visuais. Rio de Janeiro: 2AB Editora, 2002.
SENGE, Peter. The fifith discipline: fieldbook. New York: Dubleday, 1994
SCHIMTT, Bernd, SIMONSON, Alex. A estética do marketing: como criar e administrar sua marca,
imagem e identidade. Trad. Lúcia Simonini. São Paulo: Nobel, 2000.
STRUNK, Gilberto. Como criar identidades visuais ara marcas de sucesso. Rio de Janeiro: Rio Books,
2003.