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CONSTRUINDO VALORES ALIMENTARES: UMA
ABORDAGEM APLICADA EM TURMAS DAS
SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
ILUSTRAÇÃO: LÍVIA PASDIORA/2008
Luciana Trevisan Bronislawski – Professora PDE
Prof. Dr. Hilton de Azevedo – Orientador UTFPR
Construindo Valores Alimentares: Uma abordagem aplicada em turmas das Séries Finais do Ensino Fundamental.
Luciana Trevisan Bronislawski (trevisan.lu@gmail.com)
RESUMO
Este material didático pretende levar ao professor de Ciências, reflexões
conceituais sobre alimentação equilibrada e como isso é concebido nas escolhas
alimentares de crianças e adolescentes. A revisão bibliográfica sobre o tema e a
forma de abordagem proposta vêm ratificar a importância de ações eficientes
oriundas, entre outros canais, da Escola, para a implementação de propostas de
intervenção social que oportunizem o estudo e a compreensão da necessidade de
uma alimentação saudável e equilibrada para a manutenção da saúde.
OBJETIVO
Trazer uma reflexão conceitual sobre alimentação saudável, bem como uma forma
alternativa para abordagem desses conceitos na escola.
PÚBLICO-ALVO
Professores de Ciências de 5ª e 6ª Séries do Ensino Fundamental.
PROBLEMATIZAÇÃO
A evolução dos gastos alimentares da família com alimentos supérfluos,
com conseqüente alteração do padrão de consumo e o possível alinhamento das
crianças e adolescentes a tipos de alimentos tidos como da “moda” vêm alterando
sensivelmente os padrões do que atualmente se costuma adquirir como
alimentação.
Crianças e adolescentes vêm trocando facilmente um prato com alimentos
variados, ricos em proteínas, vitaminas, minerais, fibras, por um lanche ou um
prato de macarrão de cozimento instantâneo. Ouve-se através dos mais variados
canais o alerta para a importância de uma boa alimentação. No entanto, isso é
praticamente desconsiderado quando eles vão se alimentar.
Mas, por que as crianças e adolescentes tendem a não se alimentar
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adequadamente?
Tal questionamento originou a idéia desta proposta de material didático que
busca trazer uma reflexão conceitual e formas alternativas de abordagem para
que o professor, mais especificamente de 5ª ou 6ª série da Educação Básica,
trabalhe os conteúdos relacionados à alimentação saudável, considerando a
diversidade dos educandos, a forma como a sociedade, a mídia, os colegas e a
família interferem nessas escolhas, bem como a interferência do orçamento
doméstico na determinação de uma alimentação de maior ou menor qualidade.
Considera-se para tanto, que a formação dos hábitos alimentares se
processa gradualmente e que com a orientação correta, que considera os valores
culturais, sociais, afetivos, emocionais e comportamentais, há grandes
possibilidades de sensibilizar crianças e adolescentes para a promoção da
alimentação saudável e equilibrada para a manutenção de uma boa saúde,
compatível com orçamentos familiares diversos.
Uma alimentação de qualidade é a garantia da oferta de todos os nutrientes
necessários ao organismo. Ao longo da vida é essencial que reflitamos sobre isso
para que possamos compreender a importância de ações como esta a que
estamos nos propondo.
CONCEITO PRINCIPAL
Procurando compreender melhor o que significa alimentação equilibrada,
pode-se afirmar, de forma geral, que a mesma apresenta os nutrientes
(carboidratos, proteínas, gorduras, sais minerais, vitaminas e água) para o
desenvolvimento normal do organismo vivo, em qualidade e quantidades
adequadas.
Galante (2005, p.10) afirma que “alimentação saudável é a que contém
todos os nutrientes necessários para manutenção de um bom estado nutricional”.
Stürmer (2004, p.22), considera que “comer saudável” é “oferecer o
alimento de modo balanceado, com ingredientes saudáveis, naturais e de
preferência sem aditivos químicos, sem esquecer que esse alimento deve cobrir
as necessidades nutricionais que cada faixa etária exige”.
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A formação dos hábitos alimentares se processa de modo gradual,
principalmente durante a primeira infância; é necessário que as mudanças de
hábitos inadequados sejam alcançadas no tempo adequado, sob orientação
correta. Nesse processo, também estão envolvidos valores culturais, sociais,
afetivos, emocionais e comportamentais.
Segundo Pinheiro1 as principais características de uma alimentação
saudável devem ser:
1. Respeito e valorização as práticas alimentares cult uralmente identificadas : o alimento tem significações culturais diversas que precisam ser estimuladas. A soberania alimentar deve ser fortalecida por meio deste resgate.
2. A garantia de acesso, sabor e custo acessível. Ao contrário do que tem sido construído socialmente (principalmente pela mídia) uma alimentação saudável não é cara, pois se baseia em alimentos in natura e produzidos regionalmente. O apoio e o fomento a agricultores familiares e cooperativas para a produção e a comercialização de produtos saudáveis como legumes, verduras e frutas é uma importante alternativa para que além da melhoria da qualidade da alimentação, estimule geração de renda para comunidades. A ausência de sabor é outro tabu a ser desmistificado, pois uma alimentação saudável é, e precisa pragmaticamente ser, saborosa. O resgate do sabor como um atributo fundamental é um investimento necessário à promoção da alimentação saudável. As práticas de marketing muitas vezes vinculam a alimentação saudável ao consumo de alimentos industrializados especiais e não privilegiam os alimentos não processados e menos refinados como por exemplo, a mandioca que é um (tubérculo) alimento saboroso, muito nutritivo, típico e de fácil produção em várias regiões brasileiras e tradicionalmente saudável.
3. Variada : fomentar o consumo de vários tipos de alimentos que forneçam os diferentes nutrientes necessários para o organismo, evitando a monotonia alimentar que limita o acesso de todos os nutrientes necessários a uma alimentação adequada.
4. Colorida : como forma de garantir a variedade principalmente em termos de vitaminas e minerais, e também a apresentação atrativa das refeições, destacando o fomento ao aumento do consumo de alimentos saudáveis como legumes, verduras e frutas e tubérculos em geral.
5. Harmoniosa : em termos de quantidade e qualidade dos alimentos consumidos para o alcance de uma nutrição adequada considerando os aspectos culturais, afetivos e comportamentais;
6. Segura: do ponto de vista de contaminação físico-química e biológica e dos possíveis riscos à saúde, destacando a necessidade de garantia do alimento seguro para consumo populacional.
As referidas autoras, ainda, afirmam que
1 PINHEIRO, Anelise Rizzolo de Oliveira; RECINE, Elisabetta; CARVALHO, Maria de Fátima. O que é uma alimentação saudável? Considerações sobre o conceito, princípios e características:uma abordagem ampliada. Maio 2005 D isponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/documentos/o_q ue_e_alimentacao_saudavel.pdf Acesso em 30/12/2007.
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“As práticas alimentares saudáveis devem levar em consideração também algumas modificações históricas que ocorreram com a transição nutricional relativa a vários aspectos como: A modificação dos espaços físicos no compartilhamento das refeições e nos rituais cotidianos acerca da preparação dos alimentos; As mudanças ocorridas nas relações familiares e pessoais com a diminuição da freqüência de compartilhamento das refeições em família (ou grupos de convívio) cotidianamente; A perda da identidade cultural das preparações e receitas com a chegada do “evento social” da urbanização/globalização e conseqüente industrialização de alimentos que hoje se apresentam pré-preparados ou prontos para o consumo; A desagregação de valores sociais e coletivos que vem culturalmente sendo perdidos em função das modificações acima referidas e; O papel do gênero neste processo quando a mulher assume a vida profissional como extra-domicílio, porém continua historicamente acumulando a responsabilidade sobre a alimentação da família. A atribuição feminina no trânsito entre o ambiente do trabalho e doméstico se coloca como um novo paradigma da sociedade moderna que não tem criado mecanismos de suporte social para a desconcentração desta atribuição enquanto exclusivamente feminina. (PINHEIRO et.al., 2005)
Salgado (2004, p.26) afirma que “uma ingestão adequada de nutrientes,
principalmente na fase de amamentação e na infância, é um requisito básico para
um indivíduo sadio atingir seu crescimento potencial. Diante disso, pode-se afirmar
que a alimentação exerce grande influência sobre cada pessoa, principalmente
sobre a sua saúde, sua capacidade de trabalhar, estudar, divertir-se, sua
aparência e sua longevidade”.
A autora (Salgado, 2004, p. 65) afirma que “em geral, os adolescentes não
costumam ter dificuldades para preencher essas quantidades requeridas de
energia, porém, os maus hábitos alimentares podem levá-los a consumir maior
quantidade de açúcar e de gordura, ficando em débito com as proteínas
essenciais”. Relata que comumente os pais vigiam os hábitos alimentares dos
filhos enquanto são pequenos. Explica que isso geralmente ocorre até que a
criança passa a receber uma merenda na escola e tendem a desaparecer quando
o menino ou menina “ganha” liberdade da adolescência. Afirma também que
enquanto são crianças, um bom café da manhã é fundamental, completado com
um almoço variado e rico em alimentos essenciais. E isso tem a ver, inclusive com
a capacidade de aprendizagem da criança. Com o início da adolescência, por
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conta dos compromissos escolares ou de trabalho e dos encontros com a turma,
meninos e meninas sentem-se senhores das suas escolhas, confundindo
liberdade com rebeldia.
Em casa, muitas vezes o orçamento doméstico proporciona uma
alimentação de melhor ou pior qualidade. O acelerado ritmo de vida observado em
muitas famílias acaba acarretando gastos com alimentos supérfluos, com fast
foods e outros alimentos da “moda”, deixando-se de lado o consumo daqueles que
necessitam de preparo prévio e que, na maioria das vezes, são muito mais ricos
em nutrientes.
Segundo relatório do DIEESE2
Ao analisar a evolução da estrutura de gastos familiares ao longo do tempo é importante relembrar a estreita associação entre renda e consumo de bens e serviços. Quanto mais elevada for a renda familiar, tanto maior será o gasto das famílias em termos absolutos e haverá também maior diversidade do leque de produtos e serviços consumidos entre os membros da família. Justamente por isso, as famílias com renda mais baixa acabam por concentrar seus gastos, em termos relativos, mais nas necessidades básicas de sobrevivência com um leque menos diversificado e mais homogêneo de consumo. Assim, uma família de renda mais elevada gasta mais, em termos absolutos, com a alimentação, por exemplo, do que outra com menores rendimentos. No entanto, relativamente ao total das despesas dessas duas famílias, o peso da alimentação, comparativamente ao total do gasto realizado no decorrer do mês, será percentualmente menor para a família de renda mais alta do que para a de renda mais baixa. A primeira pode poupar e/ou gastar mais em uma pauta de consumo e de bens mais nutritiva, prazeirosa e educativa que a segunda.
Galante (2005, p.10), propõe que o primeiro passo para uma alimentação
saudável é a ingestão de quantidades adequadas. Ela afirma que hoje em dia isso
não é fácil, pois com as facilidades para a alimentação propostas pelos
supermercados, restaurantes, fast foods e o grande apelo da mídia, as pessoas
acabam comendo “sem necessidade”. Conclui afirmando que
O consumo indiscriminado associado ao fato que cada vez nos movimentamos menos, isto é, temos controle remoto para os eletrônicos (não precisamos nem levantar para aumentar o volume); telefone sem fio e celular que ficam ao nosso lado (é só atender quando toca); aspirador de pó (não é preciso varrer) e tudo mais que conhecemos para nos poupar; só poderia resultar
2 DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Disponível em: <http://www.dieese.org.br/pof/pof3.xml> Acesso em 09 jul. 2007.
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no aumento de peso corporal. É uma questão quase matemática, a entrada de alimentos é muito superior ao gasto de energia, assim o excesso é armazenado como gordura, e os “quilinhos” na balança vão aumentando. (GALANTE, 2005, p.10)
Irala (2001) explica que, para crianças e adolescentes, a mídia exerce um
papel de destaque sobre os hábitos alimentares, estimulando que a alimentação
deva ser composta de alimentos rápidos de preparar e fáceis de comer, como
sanduíches, chocolates e refrigerantes. Segundo a autora, uma pesquisa feita, no
ano de 2000, em televisões abertas e a cabo, durante a programação infantil
mostrou que 65% das propagandas de alimentos concentra-se naqueles que são
ricos em açúcares e gorduras. Além disso, comenta que crianças se sentem
pressionadas a comer este tipo de alimentos devido ao fato da hora do lanche ser
um momento de socialização e o prazer de lanchar geralmente está associado à
comparação e à competição. Finaliza, explicando que, “dessa forma, uma criança
não aceitará levar de lanche para escola, por exemplo, frutas se todos os seus
colegas levarem refrigerante e salgadinho de pacote. Neste contexto o que é
estimulado dentro de sala de aula ou nos intervalos adquire um papel fundamental
para que hábitos saudáveis sejam valorizados”.
Galante (2005) ainda explica que “a falta de nutrientes pode ser prejudicial,
levando a deficiências específicas (de certos nutrientes como a vitamina A, C ou
outras) ou a subnutrição, que é uma carência global. O excesso de alimentos
calóricos também levará ao acúmulo desnecessário de gordura, podendo resultar
em obesidade”.
Conforme dados do IBGE3, os brasileiros não estão se alimentando
corretamente. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), são 38,8
milhões de pessoas com 20 anos ou mais de idade que estão acima do peso, o
que significa 40,6% da população total do país. E, dentro deste grupo, 10,5
milhões são obesos. Além desse grande número de obesos, existem também as
pessoas abaixo do peso, principalmente no Nordeste rural. Isto não significa que a
3IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Obesidade atinge mais de 40% da população brasileira. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/noticias/frameset.php> Acesso em 30.12.2007.
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pobreza só atinge essa camada da população, porque nem sempre estar abaixo
do peso indica estar desnutrido. Esta doença também pode estar presente na
obesidade, na falta de nutrientes essenciais, pois muitas pessoas não fazem uma
refeição saudável, substituindo-a por comidas gordurosas e frituras.
Conforme reportagem veiculada no jornal “Folha on line”4, as famílias
brasileiras reduziram as despesas com alimentação nos últimos 28 anos. Dados
da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), divulgada pelo IBGE, mostram que a
alimentação representou 20,75% do total de despesas de consumo das famílias
brasileiras no período 2002-2003. Em comparação com Endef (Estudo Nacional
de Despesa Familiar), de 1974-1975, houve uma diminuição de 38,8%. A
alimentação, nesse período, representava 33,91% do total de despesas de
consumo das famílias brasileiras.
A mesma pesquisa mostrou que alguns tipos de alimentos estão mais
presentes em famílias com maior rendimento: é o caso dos pães e biscoitos, por
exemplo. Em termos de quantidade, os resultados da pesquisa apontam que o
consumo do arroz cai na medida em que aumenta a renda da família. O mesmo
acontece com o açúcar, cujo consumo na classe de mais alto rendimento é 50%
inferior em relação à classe mais baixa.
Outro importante dado nutricional apontado pela Pesquisa de Orçamento
Familiar indicou que as famílias que ganham mais tendem a consumir mais
gorduras do que o percentual recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Por outro lado, existe um consumo menor de carboidratos em relação às famílias
que ganham menos e também em relação ao percentual recomendado pela OMS.
Quanto às proteínas, a pesquisa mostrou que houve variação de acordo com o
rendimento, mas se manteve adequada em todas as classes.5
4 FUTEMA, Fabiana. Brasileiro cortou alimentação e gastou mais com saúde e educação. Jornal Folha on line; 19 mai 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u94470.shtml> Acesso em 30 dez 2007.
5 IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/noticias/frameset.php> Acesso em 30.12.2007.
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Ao lado de todas essas questões importantes com relação aos hábitos
alimentares, considera-se o ponto de vista escolar e a forma como a Escola,
principalmente a pública, trabalha essas questões com as crianças e
adolescentes.
Conforme Pipitone (2002), pode-se considerar de modo geral, que muitas
vezes, os conteúdos relacionados à nutrição são abordados do ponto de vista
exclusivamente biológico, deixando de lado outras reflexões necessárias quanto
aos aspectos químicos, físicos, sociais, econômicos, entre outros, que envolvem a
problemática. O aluno aprende, por exemplo, o que é o aparelho digestivo ou as
definições sobre vitaminas, proteínas, entre outros. No entanto, dificilmente
aprende a relacionar esses conhecimentos com as suas práticas alimentares, com
a formação de seu corpo e com o desenvolvimento de seu organismo.
Para Salgado (2004) essa educação voltada à alimentação deveria ser
iniciada desde o ensino fundamental, para que bons hábitos alimentares
pudessem ser formados e sustentados por toda a vida. Segundo a autora, “se a
escola continuar fechando os olhos para essa questão, as classes serão divididas
entre alunos subnutridos e alunos obesos. Mesmo tendo acesso ao mesmo tipo de
alimentação, nenhum dos dois grupos estará gozando de boa saúde; um, por
deficiência do que comer; o outro, por excesso e escolha inadequada de
alimentos”. (SALGADO, 2004, p.34)
Hengemühle (2007, p.108) afirma que “as teorias contemporâneas da
educação sugerem que, se quisermos provocar nos alunos o desejo de aprender,
necessitamos trabalhar conteúdos que tenham sentido em contextos reais e
significativos”.O autor, ainda complementa que é preciso que o aluno seja
instigado, a partir de situações e problemas do seu contexto, para que haja o
desejo de aprender e para que o ensino seja significativo.
Conforme Tiba (1996),
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aprender é como comer. O alimento é ingerido e digerido para fornecer a energia que será armazenada e utilizada no que for preciso. Para aprender, é preciso receber a informação e digeri-la em pedaços compreensíveis, a ser incorporados ao corpo do conhecimento já existente. Esse corpo em ação é a sabedoria. O verdadeiro saber é aquele que aparece no cotidiano a qualquer momento, de maneira dinâmica, aumentando a eficiência de nossas ações e o prazer de viver.
Para tanto, sugerimos algumas atividades a serem realizadas, focalizando
uma abordagem investigativa na construção dos conceitos.
As atividades propostas nessa abordagem direcionam-se ao trabalho do
professor de Ciências, mais especificamente para turmas de quinta e/ou sexta
série da Educação Básica, tendo em vista o grau de aprofundamento dos
conceitos e o nível de dificuldade das atividades.
Busca-se sempre que as atividades sejam realizadas a partir da
participação de cada aluno na produção coletiva dos conceitos, pois desta forma
cada aluno enriquece as atividades com suas experiências, demonstrando seu
comprometimento, levando o grupo a conclusões consensuadas sobre o tema
proposto.
ABORDAGEM
Objetivo: Identificar conceitos relacionados à alim entação.
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Organizar grupos de 4 alunos.
Relacionar entre os alunos de cada grupo, 10 palavr as que vêm na
cabeça deles, quando se fala em ALIMENTAÇÃO, por ex emplo:
Alimentos; Nutrientes; Dieta; Obesidade, entre outros. Assim,
teremos palavras diferentes entre os grupos.
Pedir para que realizem uma pesquisa bibliográfica do significado
desses termos. Podem utilizar dicionários e livros para que a
pesquisa apresente maior confiabilidade.
Solicitar que cada grupo elabore um cartaz com as palavras
elencadas e os seus respectivos significados. Podem ilustrar
conforme a preferência do grupo.
Expor para a turma os cartazes.
Objetivo: Conhecer os hábitos alimentares dos aluno s.
Pedir para que os alunos leiam o poema:
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Não Comerei da Alface a Verde Pétala
Vinicius de Moraes Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas Talvez pouco elegantes para um poeta Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati* E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Extraído do livro "Para Viver um Grande Amor", Livraria José Olympio Editora S. A.- Rio de Janeiro, 1984, pág. 84.
*parati – Cachaça fabricada em Parati - RJ
Disponível em: http://www.releituras.com/viniciusm_alface.asp acesso em 12 set 2007.
Realizar as atividades a seguir:
Vinícius de Moraes usou a poesia para mostrar sua
preferência alimentar. Você também pode relatar os
seus hábitos alimentares de forma descritiva.
a) Reproduza a ficha a seguir numa folha de papel e ,
durante um dia, preencha com o tipo de alimento e a
quantidade consumida. Você poderá repetir os
alimentos nas tabelas, conforme o consumo. Caso não
realize alguma das refeições, deixe em branco o esp aço
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correspondente.
Nome: _________________ Série_________ Turma____
Tabela 1 – Café da manhã
TIPO DE ALIMENTO QUANTIDADE
Tabela 2 – Lanche da manhã
TIPO DE ALIMENTO QUANTIDADE
Tabela 3 – Almoço
TIPO DE ALIMENTO QUANTIDADE
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Tabela 4 – Lanche da Tarde
TIPO DE ALIMENTO QUANTIDADE
Tabela 5 – Jantar
TIPO DE ALIMENTO QUANTIDADE
b) Agora, repita a atividade anterior, anotando seu s hábitos
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alimentares durante mais dois dias. Ao final do seu relato,
você terá três fichas completadas.
c) A partir do seu relato, complete a tabela a segu ir:
Tabela 6 - Comparando o consumo de alimentos
Alimentos consumidos em
grande quantidade
Alimentos pouco consumidos
Realizar esta atividade com todos os alunos da sala.
Tomando como base as informações obtidas nas tabelas anteriores,
completar o quadro a seguir, partindo do princípio que uma
alimentação saudável deve ser harmoniosa, variada, segura e
colorida. Inserir as ações que poderão ser realizadas individualmente
e pela turma para se chegar à alimentação saudável.
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Número de alunos Ações
Harmoniosa
Variada
Colorida
Segura
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Objetivo: Reconhecer tipo, quantidade e valor calór ico dos
alimentos.
Na tabela 5, são apresentados, o tipo de alimento, a quantidade e o
valor calórico. É importante explicar o conceito de calorias, visto
que hoje é muito comum os alunos observarem o mesmo nos
rótulos dos produtos alimentícios.
Tabela 7 - Relação tipo de alimento, quantidade e c alorias.
ALIMENTO QUANTIDADE CALORIAS
Coca-Cola 1 lata de 350 ml 137
Biscoito Recheado chocolate 1 unidade 72
Bolo de cenoura caseiro 1 fatia (50g) 135
Bolo de cenoura com cobertura de chocolate
1 fatia (50g) 371
Chocolate ao leite 1 unidade (200g) 1044
Brigadeiro 1 unidade (30g) 96
Sonho 1 unidade (85g) 573
Uva 1 porção (100g) 68
Laranja 1 unidade 46
Limão 1 unidade 12
Maçã vermelha 1 unidade (130g) 85
Melancia 1 fatia (100g) 24
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Pêssego 1 unidade (150g) 63
Leite condensado 1 colher de sopa
(20g) 65
Creme de leite 1 colher de sopa
(15g) 37
Queijo Prato 1 fatia (15g) 53
Queijo Mussarela 1 fatia (15g) 47
Ovo de galinha cozido 1 unidade 78
Ovo de galinha frito 1 unidade 108
Alface 2 folhas (20g) 4
Feijão-preto cozido 1 colher de sopa
(20g) 14
Pão francês 1 unidade (50g) 135
Pão de hambúrguer 1 unidade (100g) 278
Pão de queijo 1 unidade (20g) 68
Arroz com feijão 2 colheres de sopa
(40g) 75
Carne de panela 1 bife (100g) 230
Cachorro-quente com maionese e molho vinagrete
1 unidade 624
Cheeseburguer 1 unidade 305
Cheese salada com maionese 1 unidade 738
Hambúrguer 1 unidade 296
Misto quente 1 unidade 283
Fonte: Tabela de Calorias dos alimentos mais servidos em n ossa mesa. Disponível em: http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/bom_apetite/tabelas/cal_ali.htm Acesso em: 30.12.2007
Realizar as atividades a seguir:
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a) Localize na tabela 7 os seus alimentos preferido s e complete as tabelas 8, 9, 10, 11 e 12, a seguir. Ca so não costume realizar alguma das refeições, não se preocupe, deixe em branco a tabela correspondente.
Tabela 8 - Café da manhã
Alimento Número de unidades
Valor calórico
Tabela 9 - Lanche da manhã
Alimento Número de unidades
Valor calórico
Tabela 10 - Almoço
Alimento Número de unidades
Valor calórico
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Tabela 11 - Lanche da tarde
Alimento Número de unidades
Valor calórico
Tabela 12 - Jantar
Alimento Número de unidades
Valor calórico
b) Agora, verifique a soma da quantidade de caloria s consumida em cada uma das refeições.
c) Ao todo, quantas calorias foram consumidas no di a?
d) Pesquise a quantidade diária de calorias que dev eria ser ingerida por uma criança da sua idade e escreva no espaço a seguir.
e) Caso você ingira mais calorias em um dia do que a quantidade ideal para a sua idade, em alguma das refeições, você trocaria algum alimento para diminuir a quantidade de calorias consumida?
f) Caso você descubra que as calorias que você inge re por dia estão muito acima ou muito abaixo do ideal,
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o que iss o pode causar a você?
Objetivo: Relacionar tipo de alimento e preço comum ente pago .
Numa aula, s olicitar que cada aluno traga 3 (três) rótulos de
alimentos que costumam comer. Pedir para que realiz em uma
pesquisa do preço pago por esses alimentos.
Para cada rótulo trazido, reconhecer o tipo de alim ento a
quantidade existente na embalagem, o valor calórico unitário ou da
embalagem toda.
Solicitar que os alunos vão a uma venda próxima à sua casa e que
verifiquem se existe algum alimento similar ao do s eu rótulo ,
porém mais barato.
Solicitar que colem os rótulos e relatem as informa ções obtida s,
em um pequeno cartaz, dando uma in dicação dos custos com
estrelas, do tipo 1 estrela = preço barato, 2 estrelas = preço
intermediário e 3 estrelas = preço caro.
Propor que exponham os seus cartazes para a turma t oda.
Para finalizar, propor uma reflexão em sala de aula ,
problematizando a seguinte situação: uma alimentação super
calórica e/ou uma alimentação deficiente em calorias em relação
ao custo. Que ati tudes podem ser tomadas para sensibilização das
pessoas?
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Objetivo: Socializar o conhecimento adquirido sobre alimentação
saudável.
Realizar a “Semana da Alimentação”:
1. Exposição das atividades já realizadas;
2. Lançamento do Programa de Folhetos sobre Alimentação
Saudável. Organização de um folheto de receitas alternativas e
saudáveis e distribuição do mesmo entre os alunos.
3. Análise dessas receitas e de como elas podem auxiliar na melhoria
da alimentação.
4. Preparo de alimentos saudáveis com o auxílio dos pais;
5. Realização de uma gincana com brincadeiras que levem a uma
alimentação mais saudável.
6. Palestras para a comunidade escolar.
POSSÍVEIS DIFICULDADES (LIMITES)
� Alguns alunos podem apresentar tabelas cujos indicadores alimentares
estejam abaixo do desejado em função de um orçamento familiar precário.
Isso pode produzir constrangimento nos mesmos quando exposto na turma;
� Caso os alunos tenham o hábito de comer frituras (pizza, coxinhas, risoles,
pastéis e similares), eles poderão ter dificuldade em encontrar informações
nutricionais sobre os mesmos na cantina. Prever uma tabela com esse tipo
de informação;
Construindo Valores Alimentares: Uma abordagem aplicada em turmas das Séries Finais do Ensino Fundamental.
Luciana Trevisan Bronislawski (trevisan.lu@gmail.com)
� O desconhecimento por parte de alguns pais da importância de uma
alimentação adequada, conforme a faixa etária de seus filhos; � Maus hábitos alimentares que são criados e reforçados pelos pais. Tratar a
questão de forma generalizada focalizando fatores como a questão cultural
(conjunto de tradições) ou o contexto econômico (nível de empregabilidade
geral no Brasil), e não como resultado da falta de informação dos pais
daqueles alunos onde isso foi observado;
� O papel da mídia publicitária como formador de opinião nas escolhas
alimentares dos alunos.
FORMAS DE CONTORNO (POSSIBILIDADES)
� Evitar de trabalhar a idéia de “alimentos proibidos”, em vez disso,
reforçar a questão da qualidade, da quantidade e da responsabilidade
na escolha do alimento;
� Multiplicar experiências, tornando a alimentação uma forma de
socialização, como a que propomos na “Semana da Alimentação”
(Atividade 5);
� Distribuir, durante todo o ano letivo, as atividades que levem a uma
alimentação mais saudável;
� Procurar conhecer a cultura alimentar dos alunos e da comunidade onde
a escola está inserida, valorizando alimentos e cardápios existentes que
se aproximam dos ideais nutricionais;
� Valorizar a participação da família e da comunidade, essenciais para o
sucesso do projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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