Post on 10-Nov-2018
A partitura litúrgica
No início existe uma partitura. Ainda não é a
música, mas só um conjunto de sinais sobre um papel. Será música somente no momento em que os músicos a
tocarem.
Os intérpretes não são os compositores: é
uma música de outra pessoa e que os instrumentistas
interpretam com absoluta fidelidade,
mas com uma margem de liberdade e de toque
pessoal
A liturgia se parece com uma sinfonia
• Ela está contida nos livros oficiais da Igreja, mas ainda não é liturgia até que uma assembleia a
celebre
• Aqueles que a celebram não são seus autores: se trata de uma “partitura” composta pela Igreja no
curso dos séculos
• A liturgia nos precede,
está na nossa frente,
por ela somos
convocados.
• Dela nos aproximamos
como de uma realidade
que não dispomos
totalmente, e da qual,
tanto menos, somos
donos.
• Nela somos acolhidos e hospedados, sem
permanecer estranhos, somos convidados e sentamos à mesa e
partilhamos o que nutre a fé
• Tomar parte na liturgia é resposta a um chamado
interior.
Nós entramos na liturgia, mas na
verdade, é ela que entra em nós, nas fibras do nosso ser
crentes, plasma o nosso “homem interior”
(Ef 3,16), cultiva-o com o cuidado de uma mãe,
nutre-o com a sabedoria de um
mestre.
Como o Evangelho e a Igreja, também a liturgia nos precede sempre, por isto, “entro na forma” e, por quanto posso levar a
ela do que é meu, a minha participação é sempre
uma resposta ao convite: “Vinde, está pronto!” (Lc
14,17).
Entrar na Igreja para a liturgia significa,
olhando bem, aceitar de não ser o dono, mas
convidado, não o autor, mas intérprete, não de dispor do rito, mas de
dispor-me ao rito.
Renuncio ao domínio sobre o espaço, ao
controle do tempo, ao poder sobre o rito, ao
comando sobre as outras pessoas presentes, numa
palavra, renuncio ao senhorio sobre mim
mesmo, mas, sobretudo, sobre os outros e sobre
Deus
Os fiéis, cada um segundo a própria função, devem interpretá-la com uma
fidelidade rigorosa, mas com uma margem de liberdade
que imprime uma forma particular à diversas
celebrações, de acordo com as localidades, as pessoas e os
meios dos quais dispõe aquela assembleia em particular.
Quando o fiel sabe receber aquilo que já foi dado pela
liturgia, quando sabe entregar-se a ela
renunciando a todo sentimento de posse e a toda manipulação, então intuirá o que deverá necessariamente acrescentar de seu à liturgia,
de modo ativo, livre e inteligente.
Uma liturgia autêntica e dinâmica exige, de fato, o sábio equilíbrio entre o já
construído e o a construir, o já feito e o ainda a fazer .
Neste sentido o cristão faz a liturgia, tanto quanto a liturgia faz o cristão, em
perfeita circularidade
“A liturgia é tida como o exercício do múnus
sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e
realizada a santificação do homem; e é exercido o
culto público integral pelo corpo místico de Cristo,
cabeça e membros" (SC 7)
"As ações litúrgicas não são ações privadas, mas
celebrações da Igreja, que é o sacramento da
unidade, do povo santo, ... Por isso, as
celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, e o
manifestam e afetam" (SC 26).
“É por isso que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente, por
meio duma boa compreensão dos ritos e
orações...”
(SC 48)
O Concílio Vaticano II deslocou o centro, de uma Liturgia centralizada na pessoa do “sacerdote celebrante” para a assembleia
de “povo sacerdotal”.
A assembleia litúrgica que se reúne para a liturgia é
assembleia toda ministerial, organizada em aspecto hierárquico,
isto é baseada na autoridade de Cristo: “o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso
servo...”
(cf. Mt 20,25-27).
“Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, sacerdote ou fiel, exercendo o
seu ofício, a fazer tudo e só o que é de
sua competência, segundo a natureza
do rito e as leis litúrgicas.” (SC 28)
A liturgia não comporta, pois, uma
assembleia desordenada, no
sentido de que nela cada um faz aquilo que
mais lhe agrada.
• A liturgia atribui grande importância à função dos ministros na assembleia e os nossos documentos expressam tal realidade.
• Aí se enfoca com frequência tanto a realidade ministerial da Igreja, como a sua contribuição para uma mais digna e significativa celebração litúrgica.
III.OS MINISTÉRIOS NA LITURGIA
• Diversidade dos ministros exigidos na liturgia;
• Importância dos mesmos para uma mais intensa celebração litúrgica;
• Funções dos vários ministros no momento celebrativo da assembleia;
• Lugar que cada um deve ocupar na ação litúrgica;
• Veste própria de cada ministro na celebração
• Testemunho que os ministros são chamados a dar diante de todos
Existem na Igreja atualmente três tipos de ministérios litúrgicos:
1- os ministros ordenados: bispo, padre, diácono;
2- os ministros instituídos: leitor e acólito;
3- uma infinidade de outros ministros que vão surgindo de acordo com a vida e a necessidade de cada paróquia ou comunidade: proclamadores da Palavra, servidores do altar, animadores, cantores e instrumentistas, sacristãos, equipe de acolhida,
Ministros extraordinários da Comunhão Eucarística, ministros do batismo, presidentes de celebração, dirigentes da via-sacra, da novena de
natal, etc... São chamados de ministérios confiados
1. O ministério da PRESIDÊNCIA
Na Missa ou Ceia do Senhor, o povo de Deus é convocado e reunido, sob
a presidência do sacerdote que representa a pessoa de Cristo, para celebrar a memória do
Senhor ou sacrifício eucarístico. (IGMR 27 )
• É pela maneira como exerce a presidência que o ministro promove a participação ativa dos fiéis.
• Deve auxiliar para que a celebração litúrgica, interior e exteriormente, se exprima assim como ela realmente é: ação comunitária de Cristo-Igreja.
• Na celebração da Palavra, sem a presença do padre, leigos preparados assumem essa função
2. O ministério dos PROCLAMADORES DA PALAVRA
• Através daquele que lê as Sagradas Escrituras na
celebração, Deus fala ao seu povo, e por meio da sua expressão vocal, o povo pode receber e
compreender a mensagem salvífica de
seu Senhor.
“Presente está pela sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia “ (SC 7)
“A Igreja sempre venerou as Escrituras Sagradas, como venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na Sagrada Liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fieis o Pão da Vida, da mesa tanto da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo”.
(DV 21)
“A Palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E por isso, todo o cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos esse mesmo cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração enquanto ficamos pensando em outras coisas ou falando de outras coisas...
... Pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a Palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por
terra o corpo de Cristo”.
(Monge Cesário de Arles, sec. III-IV d.C.)
«Para que os fieis, ao ouvirem as leituras divinas, concebam no coração um suave e vivo afeto
pelas Sagradas Escrituras, é necessário que os leitores,
mesmo que não tenham sido instituídos para essa função, sejam realmente capazes de
desempenhá-la e se preparem cuidadosamente».
(cf. IGMR 194-198)
O salmista O salmista não é um leitor que simplesmente lê o seu texto; não é nem mesmo um cantor,
também se na maioria das vezes deva ele “cantar” o
salmo. O salmista é essencialmente um “orante”,
que reza e conduz toda a assembleia a rezar junto com
ele por meio do salmo cantado ou “declamado”.
• Haja bom senso, preparo espiritual, bíblico e técnico
para o ministério. Não se cantam todos os salmos do mesmo jeito, com a mesma melodia, forçando os estilos
• Seu lugar apropriado é junto dos outros proclamadores e não junto do grupo de canto
3. O ministério dos CANTORES e INSTRUMENTISTAS
Os ministros do canto sacro realizam um verdadeiro ministério litúrgico.
(cf IGMR 103)
O canto e a música NÃO são meros contornos da celebração, nem enfeites, cuja função seria decorativa, eles ENTRAM na ação celebrativa.
São elementos essenciais.
O ministério de música deve promover a
participação dos fiéis nos cantos executados
[cf. MS 20.53; IGMR 103], e proferir de
maneira clara e inteligível as suas partes [cf. MS 26].
“Além da formação musical, seja dada também uma adequada formação litúrgica e espiritual, de modo que da exata execução de seu ofício litúrgico derivem não só o decoro da ação sagrada e a edificação dos fiéis, mas também um verdadeiro bem espiritual para os próprios cantores” [MS 24].
• Aos instrumentistas recomenda-se:
1. Preparação litúrgica, espiritual e técnica;
2. Comunhão com os demais ministérios;
3. Sobriedade na execução dos instrumentos, para destacar a beleza do canto, dando-lhe sustentação
Onde deve ficar o grupo de canto? O Estudo da CNBB nº 79 “A música litúrgica no Brasil”, nº 258: “Para poder exercer sua função ministerial junto à assembleia, o coral se poste de tal forma, que fique próximo aos fiéis na nave, à frente, entre o presbitério e a assembleia (à direita ou à esquerda), sem impedir a visão do povo, e não longe do(s) instrumento(s) de acompanhamento.” Portanto, jamais no coro, no fundo da Igreja.
4. O ministério do ANIMADOR
Embora seja uma função em crescente desuso, pois ele é
praticamente desnecessário em uma liturgia menos discursiva e
mais orante, quando houver, que tenha consciência de que sua atuação liga-se diretamente à
promoção da participação ativa, consciente e plena dos fiéis na
missa.
• Convém que as exortações sejam cuidadosamente
preparadas, sóbrias e claras.
• “Ao desempenhar sua função, o animador fica em pé em
lugar adequado voltado para os fiéis, não, porém, no
ambão.”
[IGMR 105b].
5. O ministério dos Cerimoniários, acólitos e coroinhas
“É conveniente, ao menos nas igrejas catedrais e outras igrejas maiores, que haja algum ministro competente ou mestre de cerimônias, a fim de que as ações sagradas sejam devidamente organizadas e exercidas com decoro, ordem e piedade pelos ministros sagrados e pelos fiéis leigos” [IGMR 106].
• Acólitos e coroinhas sirvam ao altar e à liturgia com solicitude, discrição e presteza, cada qual consciente de suas funções
• Boa oportunidade para um trabalho paroquial de cultivo das vocações consagradas e leigos, e de uma boa catequese com as crianças e jovens servidores
• Que ajam sempre com decoro, piedade, discrição,
em sintonia com a equipe de celebração;
• Não façam do espaço litúrgico palco de desfile ou
ostentação de vaidades;
• Cuidado com a “ditadura dos cerimonialistas”
6. O ministério extraordinário da COMUNHÃO EUCARÍSTICA
• O padre é o ministro ordinário da comunhão eucarística;
• Sendo necessário, e na ausência de outros padres e diáconos, a alguns leigos pode ser confiado
esse ministério, para que ajudem na distribuição da
Comunhão ao povo nas celebrações, e as leve aos
enfermos (IGMR 100)
7. O ministério da ACOLHIDA
• Acolher com amor e dedicação os participantes das celebrações. Esse acolhimento é feito com um cumprimento na porta da Igreja, acomodação das pessoas, com uma maior atenção aos idosos, gestantes e portadores de deficiências.
• Prestação de socorro no caso de mal-estar ou outro problema,
entrega de panfletos de interesse da comunidade,
informações diversas e todas aquelas
atenções necessárias para o bem-estar dos fiéis e a ordem básica
durante as funções litúrgicas.
8. OUTRAS FUNÇÕES...
Há muitas outras funções em uma
celebração litúrgica, como, por exemplo: os
que limpam e ornamentam o espaço
litúrgico, os que organizam procissões e coletas, os que cuidam
da sacristia, etc.
É Deus quem faz crescer...
“Pois que é Apolo? E que é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé, e isto
conforme a medida que o Senhor repartiu a cada um deles: eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é
alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho. Nós somos operários com Deus...”
(1 Coríntios 3,5-9)
O que garante a comunhão e inter-relação dos ministérios?
1. Espiritualidade e consciência do ministério como dom de Deus e serviço ao povo (vocação)
2. Centralidade do Mistério Pascal
3. Formação e conhecimento do seu ministério e dos outros
4. Diálogo e bom relacionamento dos
ministros
5. Planejamento das celebrações
6. Avaliações constantes da caminhada
Referências
• CARPANEDO, Penha. Ministérios litúrgicos. Disponível em http://docslide.com.br/documents/orientacoes-para-ministerios-liturgicos.html , acessado em 20.11.16
• CNBB. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: edições CNBB, 2009
• BOSELLI,G. A Liturgia faz o cristão. Por uma liturgia mais humana e hospitaleira. Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/552325-por-uma-liturgia-mais-humana-e-hospitaleira, acessado em 01.11.2016
• Liturgia como ação participada dos ministérios litúrgicos. Disponível em http://slideplayer.com.br/slide/2365282/, acessado em 22.11.16