COMERCIAL PÚBLICA - Notícias, Jornalismo,...

Post on 20-Jul-2020

4 views 0 download

Transcript of COMERCIAL PÚBLICA - Notícias, Jornalismo,...

Washington Novaes

Heródoto Barbeiro :recicla o jornalismo

novo colunista de rádi o

COMERCIAL PÚBLICAA TV Pública mostra que é boa de briga e sobe no ringue

Uma te(e não apenasconsumida)

Mariana Menezes

Nos Estados Unidos, a televisã opública está consolidada desd ea década de 60 . Na Europa, est a

mídia conseguiu manter-se pública des -de a sua origem até hoje, já que os ca-nais comerciais conquistaram espaç obem mais tarde .

Agora, às vésperas do século 21, fi-nalmente estamos assistindo, no Brasil, a onascimento de uma rede de emissoras d etelevisão verdadeiramente pública . Ouseja, nem estatal, nem comercial, mas d apopulação e para a população .

Uma das batalhas a ser vencida pelo sidealistas da TV Pública é a própria lei . Alegislação brasileira ainda não contem-pla o modelo de televisão pública . Ape-sar disso, em rede, elas chegam a 95 %do território nacional . E o que é mais im-portante : respondem por 3% da audiên-cia total .

Acontece que, durante o regime mili-tar, paralelamente às emissoras comerci-ais, foi criado o sistema de televisãoeducativa, com o objetivo de utilizar ovídeo como recurso pedagógico . Ess emodelo de televisão foi proibido de vei-cular publicidade, o que deixou os ca-nais educativos pobres e dependentes d oEstado .

"O modelo de televisão pública pre -cisa ser reconhecido pela nova legisla-ção . É preciso fazer a distinção entre astelevisões comercial, pública e estatal ,porque a emissora pública precisa ter re -

ceita para não falir", diz Mauro Garcia ,presidente da TVE, do Rio de Janeiro eatual presidente da Associação Brasileirade Tevês Públicas, Educativas e Culturai s(ABEPEC) .

Para tentar resolver este problema n oâmbito do Legislativo, em maio, foi criad aa Frente Parlamentar em Defesa da Tele -visão Pública . Seu presidente, o deputad ofederal Evilásio Farias (PSB - SP), reuni u250 assinaturas de deputados e senadore sde todos os partidos para a composiçã oda Frente . É a maior já registrada na histó-ria do Congresso Nacional .

"O que nos preocupa é que estamo sentrando na era digital e isso envolve in-vestimentos . As televisões públicas nãotêm uma garantia de recursos definida ,nem uma proteção amparada em leis ,dependem da boa vontade dos governos" ,esclarece Farias .

O deputado propõe a criação de u mfundo para a renovação tecnoló-gica e aprodução de programas . O dinheiro vi -ria, além do Estado, de porcentagens so -bre o lucro das televisões comerciais, o uainda sobre a venda e industrialização d eaparelhos de tevê .

Outra proposta é garantir que 5 %dos gastos com propaganda governa -mental sejam destinados à televisã opública . São apenas idéias, sem maio-res compromissos .

"A tevê comercial que quiser conti-nuar com sua programação de baixo ní -

A cara do telejornalism opúblico :Dafnes da Fonseca, Paul oHenrique Amorim, AlanSeveriano, Marco AntônioCoelho Filho, Paulo Markun ,Ederson Granetto, Vladi rLemos, Heródoto Barbeiro ,Valéria Grillo, Flávia Lippi ,Madeleine Alves, Lucian aCamargo e Laura Wie .

Revista IMPRENSA -18

Infelizmente, no Brasil . . .Como nem tudo é cor de rosa, a históri a

das tevês educativas também tem seu lado

negro. Um decreto de 10 de maio deste ano

assinado pelo presidente Fernando Henriqu e

Cardoso e pelo Ministro das Comunicaçõe sPimenta da Veiga, permitiu que a sretransmissoras de televisão educativa se tor -nassem geradoras . Até então, essas peque-nas emissoras podiam apenas, como diz opróprio nome, retransmitir a programaçã odas 25 geradoras estaduais . A partir destedecreto, elas podem também fazer sua pró-pria programação e, mais que isso, procuraros tais apoios culturais para patrocinare msuas produções .

O mais perigoso é que, diferente dasemissoras comerciais, as educativas não pas-

sam por licitação . Ou seja . basta encaminharum pedido de concessão ao Ministério da sComunicações, que vai analisar e decidi rsobre a solicitação . É aí que começa aquelavelha tradição entre os políticos brasileiro sde transformar concessão em instrumento de

barganha .Uma reportagem do jornalista Bo b

Fernandes para a revista Carta Capital d ejunho deste ano ilustrou bem como estãosendo distribuídas essas concessões .

Muitas foram parar nas mãos de algu mpolítico ou empresário local, boa parte dele spessoas que são, digamos, pouco compro -metidas com a formação de cidadãos . Bo bFernandes apurou que até o ex-deputad oSérgio Naya recebeu pelo menos quatro con-

cessões de emissoras educativas . Todas ,

como exige a lei, formadas em nome de fun -

dações sem fins lucrativos .O próprio ouvidor da Anatel, o deputa -

do Saulo Coelho, colocou uma educativapara seu filho cuidar em sua cidade natal ,Ubá (Minas Gerais) . Segundo a reportagem,na TV Ubá vende-se anúncios como em qual-quer emissora comercial (segundo um fun-cionário entrevistado por Fernandes pode -se anunciar "banana, cachaça, xampu, remé-

dio, cigarro . . .") . E mais : em sua programa -"educativa" consta um programa que é

"uma mistura de Celso Russomano com o

Ratinho e o Alborguetti, aquele da toalha" .

Realmente muito educativo . . .

Apesar de tudo, o projeto das televisõe s

educativas, desde que evitadas a farra da s

concessões, pode ser um passo decisivo para

mudar o perfil da TV no Brasil .

Revista IMPRENSA -19

Novo estúdio e ilha de edição da TV Cultura, em São Paul o

vel, continue . O que nós queremos é qu eo cidadão se defenda por meio do con -trole remoto . Para isso, ele precisa de um aalternativa e eu acho que a melhor op-ção é a televisão pública", argument aFarias .

O exemplo da CulturaA TV Cultura de São Paulo, desde a

década de 80, vem assumindo um pape lde emissora pública, não apenas no esta -tuto, mas também pela programação in -dependente e diferenciada .

A diferença é que agora, a Cultura li -dera, ao lado da carioca TVE, a união de

Claudio Bojunga : conquista do cidadã o

25 emissoras educativas (uma de cad aEstado, com exceção do Amapá) na Red ePública de Televisão (RPTV) . Juntas des -de 1998, elas pretendem finalmente con -solidar no Brasil este modelo de televi-são, tão comum em países do primeir omundo .

"Formamos uma rede diferente da stradicionais porque cada emissora te mabsoluta liberdade para fazer sua progra -mação, o que nos ajuda a levantar a re-ceita sem abrir mão da regionalidade" ,explica Mauro Garcia .

A fórmula possibilitou que as emisso-ras transmitissem seis horas de programa-

cão conjunta, que até agora é gerada prin -cipalmente a partir da paulista Cultura eda TVE do Rio de Janeiro. "Mas a qual -quer momento a rede pode ter seu eixogerador transferido para outras emissora sdo país, como a TV Cultura do Pará, a TVMinas e a TVE da Bahia", acrescenta opresidente da ABEPEC .

Mas, afinal, por que o Brasil demo-rou tanto para consolidar sua rede de te-levisões públicas ?

Uma explicação dada por Garcia éque finalmente as emissoras aprendera ma utilizar as regras do mercado a seu fa-vor, sem sacrifício da programação : " aformação de uma rede facilita a atuaçã odas agências, dos clientes e traz uma nov afrente de receita" .

Marco Antônio Coelho Filho, diretorde jornalismo da TV Cultura, credita ademora à proteção especial que o mode-lo privado sempre recebeu do poder pú-blico . "A televisão brasileira nasceu e per-maneceu exclusivamente na esfera da ini -ciativa privada, mas os desacertos come -tidos nos últimos anos pela televisão co-mercial deram fôlego novo à tevê públicae ensejaram a criação da rede", afirma .

O diretor de jornalismo da TVE, Cláu -dio Bojunga, insere o fortalecimento daseducativas no fortalecimento da socieda-de civil brasileira . "A conquista não énossa, é do cidadão . No Brasil, cada ve zmais nos tornamos mais fortes que o Es-tado e nos damos conta que a esfera pú-blica não coincide com a estatal", diz .

Evilásio : defesa por controle remoto

Revista IMPRENSA - 20

"A TV Pública estáinteressada na audiência ,mas para nós audiênci aé um dos instrumento spara aferirmos nossa

prestação de serviços . Émeio, não é fim como na s

emissoras comerciais ."Mauro Garci a

Embate lega lHoje, a receita da TV Cultura é 75 %

estatal e 25% de captações em empresa sprivadas . A intenção é aumentar a parti-cipação da sociedade, subindo a capta-ção para 50% e deixando o restante par aa União .

As emissoras públicas não podem dis -pensar totalmente a verba estatal, já qu eé essa garantia financeira que permite aelas serem independentes do mercado eda disputa pela audiência .

"Por outro lado, precisamos modifi-car nossa relação com o Estado, que épaternalista e está habituado a fazer co mque você pese cada vez menos no bolso ,mas continue sendo tutelado", afirm aCláudio Bojunga .

Antes da Associação de Comunicação

Educativa Roquete Pinto (ACERP) ser trans -formada em Organização Social, em 1998 ,a TVE do Rio de Janeiro - que faz parte d ainstituição - era constituída como um aempresa pública ligada ao governo fede-ral . Como Organização Social, a associa -ção passou para o terceiro setor, ou seja ,uma empresa de caráter público com prá -ticas de empresa privada .

Até agora, apenas a ACERP adoto ueste modelo de gerenciamento, idealiza -do dentro da Reforma do Estado . As emis -soras educativas dos outros Estados ain -da funcionam como repartições públicas .

Diferente das demais, a Fundaçã oPadre Anchieta, da TV Cultura, foi con-cebida como entidade pública de direit oprivado . Por isso, além de ter conquista -do há mais tempo a independência d ogoverno, foi pioneira na utilização das lei sde incentivo à cultura - como a Rouanet,de 1998 - para a captação de patrocíni-os na forma de apoio cultural .

"Aqui o governo tem que dar o di -nheiro, mas não manda, porque não es-colhe o presidente . Ele é escolhido po rum conselho de 45 membros em que ogoverno tem apenas quatro votos . A Cul -tura nasceu assim e o conselho foi me-lhorando, cada vez menos atrelado aoEstado", explica Marco Antônio Coelho .

A TV Cultura começou sua passage mde televisão educativa para televisão pú -blica em 1986, durante a gestão do ex -presidente da Fundação Padre Anchieta ,

Roberto Muylaert . Des-de então, a emissor aconseguiu desenvolve rprogramas diferencia-dos para os público sinfantil e juvenil, além

de investir em séries de docu-mentário se programas jornalísticos com abordagen sdiferentes das oferecidas pelas emissora scomerciais .

"Depois da criação da Rede Pública ,as emissoras que ainda são tuteladas pel oEstado querem cada vez mais ser públi-cas", comemora Coelho .

Bojunga espera que os governos es-taduais agilizem a transformação das te-levisões em Organização Social para qu etodas possam seguir o caminho da TVE .Recentemente, o canal lançou uma cam-panha publicitária, que busca divulgar aqualidade da programação e estimular apropaganda institucional .

"Uma repartição pública está muitosujeita ao nepotismo, à tutela e à censu-ra . O Estado, nos deixando em uma figu-ra de entidade pública de direito priva -do, permite combinar o dinamismo domercado com a missão pública . Mas iss oencontra resistências porque, há sempreos nostálgicos da repartição", acrescentao diretor . (Vale lembrar aqui, a censuraque a TVE sofreu quando foi impedid ade exibir a entrevista que o program aRoda Viva fez com o líder do MST, Joã oPedro Stédile, em maio . )

Agora, o fortalecimento definitivo va idepender do reconhecimento legal dasemissoras como organizações sociais e dacapacidade de cada uma para conquis-tar anunciantes e, é claro, telespectadores .

TV pública, jornalismo públic oUm apresentador sem gravata cami-

nha pela redação enquanto introduz apróxima matéria do telejornal . Da ilha d eedição, ele dá uma prévia do que serámostrado no último bloco .

Ele não se prende ao teleprompte rnem se martiriza se errar a pronúncia d eSlobodan Milosevic . Enquanto isso, a re-dação continua seu trabalho como se nã ofizesse parte do cenário do programa . Éassim, de um jeito simples e sério, qu eaparece na telinha a nova proposta d etelejornalismo da TV Cultura .

Se esta emissora é uma empresa dife-rente, que não visa lucro, mas a educa-ção e a formação complementar do ho-

Coelho e Jorgeda Cunha Lima :reuniões durant edois anos paradefinir aprogramação e oconceit o

Revista IMPRENSA - 21

Matéria de Cap a

Na França, uma TVsem anúnci o

As emissoras públicas francesas, a ocontrário das brasileiras, não têm do qu ereclamar. Ao contrário, tem o que come -morar.

A TV5, um dos vários canais públicosda França, conseguiu levar sua progra-mação francófona para quase a metad edo planeta (46%), e elevar a audiênci amundial para quase 39% . Atualmente, aemissora fica atrás apenas das norte-ame-ricanas CNN e MTV.

O feito é atribuído ao diretor geral d aTV5, Jean Stock, que esteve no Brasil comsua equipe em outubro para comanda r24 horas de programação gerada direta -mente do Rio de Janeiro .

Segundo Stock, uma televisão comer-cial não conseguiria levar sua programa-ção para o mundo todo como fez a TV5 ."Hoje, fazer isso não é rentável . Porém ,existe uma demanda por nossa progra-mação e nós temos a responsabilidade d eatender essa necessidade . A única manei -ra de fazer isso é com o dinheiro de im-postos", explica .

Stock : audiência internacional elevada

O financiamento da TV5 vem 95 %de taxas pagas pela população e 5% d epublicidade . Os anúncios - pasmem -não são colocados para aumentarem areceita, mas para darem ritmo à progra-mação e levarem a criação audiovisua lfrancesa para outros países.

"Se com isso a gente conseguir umpouco mais de dinheiro para custea ruma operação como esta no Rio, me-lhor", garante Stock .

Outra grande diferença é que ocontrole da programação não é feitopor homens do governo, mas pela pró-pria população .

A diretora de comunicação da TV5 ,Souné Wade - uma grande admirado-ra das novelas brasileiras - conta quehá pouco tempo houve um debate emtoda a França para discutir se seria jus-to que a sociedade continuasse man-tendo as televisões públicas, já qu egrande parte da população paga parater acesso aos canais fechados .

O governo manteve o imposto paranão dar às emissoras públicas o argu-mento de que elas precisariam agi rcomo as comerciais, que apelam paraconquistar audiência e anunciantes .

"Já não queriam mais colocar, po rexemplo, programas literários e cultu -rais no horário nobre, porque não dãopúblico", relata Wade .

A sociedade civil reclamou e conse-guiu regulamentar a programação po rfaixas de idade e até mesmo controlar aexibição de cenas de violência gratuit anos telejornais . "Você pode mostrar a vi-olência, mas nunca sem uma explicação ,sem um contexto", explica a diretora .

Hoje, ela vê uma nova tendênci ana televisão francesa : "O público ama-dureceu e podemos dizer que até o sgrandes canais privados se deram con -ta que, se chocarem o público, vãoperder audiência" .

mem, por que deve ter um jornalism oigual ao das empresas comerciais ?

Foi a partir dessa pergunta, inspirad apelo atual presidente da Fundação PadreAnchieta, o jornalista Jorge da Cunh aLima, que Marco Antônio Coelho Filhoidealizou e concretizou o novo jornalis-mo público da emissora .

"Em 98, quando cheguei aqui, já ha -via um jornalismo diferente que era feit onos programas de reflexão, como o RodaViva, e nos documentários . Mas esseaprofundamento não existia no stelejornais, que tinham credibilidade, in -dependência, mas que não eram diferen-tes . O Jorge queria que a gente desse u msalto para a TV pública de fato", cont aMarco Antônio Coelho .

Logo no início ele percebeu que nã oadiantaria impor um novo modelo d etelejornalismo . Seria preciso envolve rtoda a equipe e fazer com que todos trou-xessem propostas e participassem ativa -mente das mudanças .

Por isso, depois de uma reunião ini-cial, a redação foi divida em 12 grupo sde dez pessoas para discutirem e prepa-rarem relatórios com suas idéias . No to -tal, foram dois anos de reuniões ,workshops e laboratórios até chegarem àproposta atual .

A conclusão foi que o jornalismo pú-blico deve ser voltado para a construçã oda cidadania e ser pautado mais pela shistórias de construção que de destruição .Sua principal diferença é enxergar no te-lespectador um cidadão, e não um sim-ples consumidor.

"Essa premissa redefine tudo - d oconteúdo ao formato . Em lugar das man-chetes chamativas e das coberturas su-perficiais, prevalece a informação apro-fundada e contextualizada . As pautas sã odefinidas menos pelo impacto que cau-sam nos números do IBOPE, que pela re-levância para a sociedade . Daí, por exem-plo, a preocupação constante com o es-clarecimento e o debate das política spúblicas - tema, no geral, rotulado d eárido e pouco televisivo", diz Coelho .

Segundo o diretor, uma mudança im-portante foi a valorização da equipe d e

Revista INIPRENSA - 22

Vanessa Kalil e Alan Severiano discutem a pauta antes do programa Matéria Pública .

e,>

pauta, já que é da primeira concepçãode uma matéria que deve sair a dosage mcerta de informação factual e reflexão .

"Se eu preciso de matérias com u mconteúdo maior e melhor que o das ma-térias de mercado, eu devo ter na pontainicial, ou seja, na pauta, uma pessoa co mmais experiência, cultura e a maior ca-pacidade de escrever um roteiro", expli-ca . No processo de produção tradicional ,o pauteiro geralmente é o profissional qu eacabou de sair da faculdade e o mais ma lremunerado .

No dia-a-di aZélia Arruda, uma das quatro edito-

ras do jornal Matéria Pública, exemplific acomo esses conceitos aparecem na práti -ca : "Recentemente nós pautamos um re-pórter para cobrir uma invasão d o

" O que mata ojornalismo é a falta de

curiosidade com relaçã oao conhecimento . Eu vou

ter que forma rprofissionais aqui dentro

porque o jornalism opúblico é um conceitoque eu não vi em lugar

nenhum."Marco Antônio Coelho Filho

Greenpeace a supermercados de São Pau-lo . Na verdade, a intenção era discutir aquestão dos produtos transgênicos a par -tir desta notícia . A matéria foi derrubada ,porque o que chegou da rua foi uma merainvasão de supermercado" .

A diretora do programa, Vanessa Kalil ,conta que, no início, sua maior dificul-dade foi perceber que qualquer assunt opoderia ser tratado dentro dos princípiosdo jornalismo público . "Na verdade, s ómuda o tipo de abordagem . Ao invés deapenas noticiar uma chacina, por exem-plo, a gente deve contextualizar, discuti ros motivos daquilo, e não ficar só na ex -ploração da miséria humana", diz .

Zélia Arruda concorda, mas lembr aque ainda é difícil colocar os conceito sem prática em todas as matérias . Alémda dificuldade de encontrar o tratament omais correto para cada assunto, ela di zque uma preocupação da equipe está e mpassar a informação de uma maneir aagradável e atraente, para que otelespectador se sinta cativado e associ ea notícia à sua própria realidade .

"Nós não queremos impor formas d eagir, mas apontar caminhos e reflexõe spara a pessoa se posicionar . Falando, agente consegue saber exatamente o qu eé isso, mas no dia-a-dia é bem mais difí-cil", admite Zélia .

Novas linguagensPara apresentar esse conceito d e

telejornalismo foi preciso encontrar u mformato diferente de apresentação, afina -do com os propósitos teóricos . Se não

Zélia : no dia-a-dia é bem mais difíci l

houvesse muita criatividade dos profissi-onais, um risco seria cair no didatismo ,que geralmente não atrai o público .

O cenário dos telejornais, por exem-plo, deixou de ser uma mesa atrás da qua lo apresentador senta e sobriamente ditaverdades aparentemente imparciais . Um amesa redonda foi levada para o centr oda redação para que o telespectador pre-sencie o processo de produção d otelejornal .

"A gente não quer ficar duro em fren-te a um teleprompter . O telejor-nalism opúblico deve ser mais próximo das pes-soas, deve mostrar como fazemos nossotrabalho, que a gente também erra . Aapresentação é mais descontraída e nãotem a preocupação de fazer uma locu -

Revista IMPRENSA - 23

Matéria Pública no ar : nada de voz empostad a

ção empostada", explica Alan Severiano ,apresentador do Matéria Pública .

Já as reportagens não precisam obe-decer à fórmula clássica off-sonora-pas-sagem, repetida incansavelmente no stelejornais brasileiros, inspirados no con -sagrado modelo norte-americano .

Uma opção diferente e muito usad aneste telejornalismo é a vídeo reporta -gem, que minimiza a presença da televi-são durante as captações . "Uma pessoasozinha interfere menos na veracidad edos fatos . Quando chega uma equipeimensa todo mundo modifica o compor-

Tetê Muniz : furo no seqüestro do ônibu s174 no Rio de Janeiro .

tamento", justifica Kalil .A câmera também muda . A captaçã o

das imagens acompanha o olhar d ocinegrafista, os planos são abertos e o scortes diminuem, já que a intenção édeixar a câmera caminhar com o repór-ter. A edição das matérias recebe a mes-ma orientação .

Na opinião de Coelho, a Cultura de uapenas o primeiro passo . Ele faz questãode lembrar que as mudanças vão aconte -cer aos poucos, porque "tanto o jornalis -ta está viciado em fazer jornalismo de u mdeterminado jeito quanto o telespectado restá viciado em ver desse mesmo jeito" ."Nós só estamos começando a quebra risso", ressalta .

O conteúdo em questãoPara o diretor da TVE, Cláudi o

Bojunga, fazer jornalismo público nãoimplica necessariamente na mudança d aestrutura formal de matérias ou da ma-neira de apresentar.

"Seja na BBC de Londres ou na CB Samericana, que têm propostas completa -mente diferentes, as técnicas são sempreas mesmas", justifica .

As hard news também não perde mespaço. Sua idéia é oferecer conteúdo sque normalmente não encontram espa-ço nas emissoras comerciais .

"Não me importo tanto em coloca rno ar uma redação bonita, mas garantir asustentabilidade de programas que con -sidero indispensáveis e que nunca seri-am levados ao ar por uma emissora co-mercial", diz Bojunga .

Um exemplo é o jornal RevistaMercosul, que procura mostrar a impor-tância desse processo político e econô-mico para o país . Outro programa quedificilmente entraria na grade de um ca-nal privado é o Direito em Debate, qu ediscute a legislação brasileira e orient aos telespectadores sobre seus direitos .

Porém, Bojunga lembra que o princí-pio que está por trás da programação d aTVE é o mesmo de todas as televisões pú -blicas : "a idéia é instrumentalizar o cida-dão para que ele seja mais que um con-sumidor" .

A proposta de procurar enfoques di-ferentes para as notícias diárias també mpermanece e está tão gravada no traba-lho dos jornalistas que recentemente doi sprofissionais da emissora furaram os ou-tros canais no episódio do seqüestro d eum ônibus da linha 174, no Rio de Janei-ro, em junho deste ano .

"Nosso cinegrafista e nosso repórte restavam tão preocupados com o que po-deria acontecer com o seqüestrador quan -do ele fosse preso, que assim que o seqües -tro terminou toda a imprensa correu par aum lado, enquanto os dois correram para ooposto", conta a gerente de jornalismo, TetêMuniz . Por isso, a TVE foi a única emissor aque conseguiu as imagens que provara mque bandido entrou vivo no carro da polí -cia, de onde ele saiu morto minutos depois .

Esse diferencial tem chamado a aten -ção do público de outras emissoras .Bojunga conta que uma pesquisa revelo uo aumento do número de telespectadore sda classe C . Para ele, a TVE está atraind ouma parte da população que não tem aces -so aos canais pagos e já está cansada d aapelação dos canais abertos .

Agora, Bojunga diz que a meta é con -vencer os publicitários a pensarem a te-levisão pública como uma mídia de ca-racterísticas e públicos especiais e aumen -tar os índices de audiência sem perde rde vista a missão educativa .

"Precisamos ser aquele professor quetodos os alunos adoram . O ideal seria qu eas pessoas aprendessem a gostar de se rcidadãs com as emissoras públicas . Agente está longe disso, eu sei ."i

Revista IMPRENSA - 24

TV Públicaa e

TV privada també m

cujos donos são 141 operadoras de emis-soras locais espalhadas por todos os Es-tados Unidos .

Em seu quartel general e mAlexandria, no estado da Virgínia, seu sexecutivos supervisionam a aquisição d eprogramas, distribuição e promoções ,serviços educativos, financiamento, en-genharia e tecno-logia .

Embora a PBS não realize produçõe spróprias, programas criados pelas esta-ções afiliadas juntam-se a outros adqui-ridos internacionalmente (inclusive bri-tânicos) em pacotes de programaçã o

(National Program Service) fornecidospara 348 emissoras afiliadas, atingind o99% dos lares com televisão no país .

Das 171 operadoras, 87 (51%) sãoorganizações comunitárias, 55 (32%) sãouniversidades . 21 (12%) são autoridade sestatais e 8 (5%) são instituições educa -

é públicaLuiz Guilherme Duarte,

de Miami .

Embora com nome e conceito de T Vpública, a rede PBS americana é umaempresa privada altamente bem sucedi -

da; um exemplo de que televisão com

qualidade não precisa ser estatal . Neminglesa .

Políticos e acadêmicos brasileiros j áchegaram a sugerir a abolição de um adas mais antigas indústrias privadas detelevisão da história, a do Brasil, e mfavor de um modelo britânico estatal ,considerado o melhor do mundo .

Eles apontaram para uma tendênci aao popularesco na TV brasileira comojustificativa para a revogação das licen-ças concedidas à redes como a Glob o(aquela que produziu a "Escrava Isaura "e "Sertões" entre outros), a Manchete (d e"Dona Beija") e outras mais . Em seu lu -gar, propunham a implementação de re -

des como a britânica BBC, sustentad apelo governo e impostos, mas com pro-gramação mais erudita e educacional ,portanto, capaz de proporcionar maio r"valor" ao povo brasileiro .

Entretanto, antes de se pular o Atlân-tico e buscar mais trabalho para um go-verno já bastante ocupado e pouco efici -ente, talvez seja interessante se explorarum outro modelo mais próximo da reali-dade brasileira . Nesse continente mesmoe sem grandes suportes estatais, a redeamericana PB parece estar muito mai spróxima das ambições de emissoras com o

a TV Cultura de São Paulo, por exemplo .A Public Broadcasting System (PBS)

foi fundada em 1969 como um acorporação privada sem fins lucrativos,

cionais municipais .A PBS é o recurso de televisão nú-

mero um nas escolas americanas e amaior fonte de telecursos para educaçãode adultos, com mais de 5 milhões d ediplomados, desde 1981 . Quando não

está educando, a PBS está entretendo .Sempre em alto nível .

Um estudo da Universidade d aPensilvânia, em 1999 ,reportou que a red etem a melhor progra-mação infantil (Arthur,Barney, Teletubbies ,Vila Sésamo, etc .) .Nada de violência oulinguagem de baixo ní-vel, e a maior varieda-

de de gênero e etnia .Em 1999, a PBS

recebeu mais indica-ções ao Emmy (o Os -car da televisão ameri-cana) no gênero docu-mentário do que qual -quer outra empresa d etelevisão.

Incentivados por gordos descontosem seus impostos, centenas d ecorporações e milhares de indivíduo sfazem doações regulares para a PBS .

Assim, suas rendas operacionai s

cresceram 56% desde 1995, chegando aUS$ 284 milhões, em 1999 .

Até 70% das rendas da PBS vem d eindivíduos, cidadãos comuns, enquantoo Ministério da Educação americanogarante recursos para a manutenção demuitos dos projetos educacionais dessaorganização, sobre a qual não exerc econtrole real .

Como diz um release da empresa, aPBS é uma das poucas garantias de T V

de acesso universal, oferecendo o queas outras redes não tem inclinação par a

fazê-lo : "Afinal, depois de 30 anos, po r

que ninguém se dispôs a criar outra Vil aSésamo?"j(

Revista I\1PRI~\S,a - 25