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ESTRUTURAO, IDENTIFICAO ECLASSIFICAO DE PRODUTOS EM
AMBIENTES INTEGRADOS DE MANUFATURA
Cristiano Bevitori Maffia de Oliveira
Dissertao apresentada Escola deEngenharia de So Carlos, daUniversidade de So Paulo, comoparte dos requisitos para obteno dottulo de Mestre em EngenhariaMecnica
ORIENTADOR: Prof. Titular Henrique Rozenfeld
So Carlos1999
iO que eu escuto, eu esqueo
O que eu vejo, eu lembro
O que eu fao, eu aprendo
Confcio (Filsofo Chins)
ii
Ao meu pai, minha me,Tintim e Rubia, meus
professores na escola davida.
iii
Agradecimentos
Ao Professor Henrique Rozenfeld pela orientao, amizade e confiana.
Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) pela bolsa epelos demais recursos concedidos, sem os quais no seria possvel a realizao destetrabalho.
Aos amigos do Grupo de Engenharia Integrada: Adriana, Bianca, Daniel Capaldo,Daniel Dupas, Edmundo, Eduardo Chup, Fernandinho, Francis, Lucas, Lus, Marcel,Marcelo, Renato, Rogerio, Srgio e Vander.
Aos amigos da salinha: Amauri, Carlo, Aldo e Zilda.
Aos amigos de repblica, David Muxiba, Carlos Dinho e Jairo Goddy, pelocompanheirismo e por me aturarem por tanto tempo.
Aos especialistas e empresas que colaboram com o desenvolvimento deste trabalho,principalmente ao amigo Luciano Rolim, pelo tempo, ateno e interesse.
secretaria de ps-graduao e demais funcionrios da Engenharia Mecnica pelaateno.
E, por fim, a todos que no foram includos aqui, mas que, de uma forma ou de outra,contriburam para a realizao deste trabalho.
iv
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ VI
LISTA DE TABELAS .............................................................................................VIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................ IX
RESUMO ................................................................................................................... XI
ABSTRACT..............................................................................................................XII
1 INTRODUO .................................................................................................... 1
1.1 Justificativas........................................................................................................ 1
1.2 Objetivo............................................................................................................... 6
1.3 Mtodo ................................................................................................................ 6
1.3.1 Escolha do mtodo............................................................................................ 6
1.3.2 Etapas gerais ..................................................................................................... 9
1.3.2.1 Seleo do tema............................................................................................ 10
1.3.2.2 Definio das justificativas e do objetivo .................................................... 11
1.3.2.3 Perguntas de pesquisa................................................................................... 11
1.3.2.4 Variveis....................................................................................................... 12
1.3.2.5 Pesquisa bibliogrfica .................................................................................. 12
1.3.2.6 Pesquisa em campo ...................................................................................... 13
1.3.2.7 Anlise dos resultados.................................................................................. 15
1.3.2.8 Apresentao das concluses....................................................................... 15
1.4 Organizao deste trabalho ............................................................................... 16
2 ESTADO DA ARTE........................................................................................... 18
2.1 Estrutura de produto.......................................................................................... 18
2.1.1 Definies ....................................................................................................... 18
2.1.2 Preciso........................................................................................................... 23
2.1.3 Estrutura de produto achatada..................................................................... 25
2.1.4 Perfis ............................................................................................................... 27
2.1.5 Pseudo itens e fantasmas ................................................................................ 28
2.1.6 Arquiteturas .................................................................................................... 30
2.1.6.1 Estrutura de produto modular e de planejamento......................................... 30
2.1.6.2 Estrutura de produto genrica ...................................................................... 39
2.1.6.3 Estrutura de produto de manufatura............................................................. 43
2.1.6.4 Estruturas de produto para informao ........................................................ 46
v2.1.7 Estrutura de produto nica.............................................................................. 48
2.1.8 Consideraes adicionais ................................................................................ 50
2.2 Identificao de produtos.................................................................................. 52
2.3 Classificao de produtos.................................................................................. 58
2.3.1 Tecnologia de grupo ....................................................................................... 58
2.3.2 Sistemas de classificao................................................................................ 61
2.4 Sntese ............................................................................................................... 66
2.4.1 Estrutura de produto ....................................................................................... 67
2.4.2 Identificao e classificao de produtos ....................................................... 70
3 COLETA DE DADOS EM CAMPO E ANLISE DOS RESULTADOS ........ 73
3.1 Realizao da pesquisa em campo.................................................................... 74
3.2 Apresentao e anlise de resultados................................................................ 77
3.2.1 Estrutura de produto ....................................................................................... 77
3.2.2 Identificao e classificao de produtos ....................................................... 86
4 CONCLUSES................................................................................................... 90
ANEXO ...................................................................................................................... 93
Roteiro de entrevista................................................................................................... 93
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 96
OBRAS CONSULTADAS ...................................................................................... 104
vi
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Aplicaes das informaes fundamentais (CLEMENT et al.,1992)..................................................................................................... 3
FIGURA 2 - A estrutura de produto e o sistema de classificao manipulaminformaes dos itens sob ticas diferentes.......................................... 5
FIGURA 3 - Viso esquemtica das etapas gerais para aplicao do mtodoescolhido ............................................................................................. 10
FIGURA 4 - Exemplo de estrutura de produto .......................................................... 18
FIGURA 5 - Objetos da estrutura de produto ............................................................ 20
FIGURA 6 - Esquema de uma estrutura de produto multinvel................................. 21
FIGURA 7 - Produto projetor simplificado (MAROLA, 1995).............................. 22
FIGURA 8 - Estrutura de produto multinvel do projetor Adaptado deMAROLA (1995)............................................................................. 22
FIGURA 9 - Perfis de estrutura de produto Adaptado de GUESS (1985) eCLEMENT et al. (1992) ..................................................................... 27
FIGURA 10 - Configuraes possveis do guindaste (MATHER, 1986).................. 32
FIGURA 11 - Modularizao da estrutura de produto do guindaste.......................... 33
FIGURA 12 - Lead times para a produo do guindaste............................................ 34
FIGURA 13 - Estrutura de produto de planejamento do guindaste ........................... 35
FIGURA 14 - Estrutura de produto genrica de uma cadeira Adaptado deHEGGE & WORTMANN (1991)...................................................... 40
FIGURA 15 - Exemplo de estrutura de produto de manufatura Adaptado deMAROLA (1995)............................................................................. 44
FIGURA 16 - Estrutura de produto de manufatura do avio exemplo....................... 45
FIGURA 17 - Estrutura de produto indentada........................................................ 47
FIGURA 18 - Estrutura de produto matriz................................................................. 48
FIGURA 19 - Probabilidade de erros na transcrio versus tamanho do nmerode identificao (GARWOOD, 1985) ................................................ 54
FIGURA 20 - Sistema de classificao de 3 nveis Adaptado de MILBERG etal. (1997)............................................................................................. 63
vii
FIGURA 21 Localizao das atividades da pesquisa em campo, e da anlisedos resultados, dentro das etapas para aplicao do mtodo .............. 73
FIGURA 22 - Exemplo da construo de uma estrutura de produto nica apartir das departamentais .................................................................... 82
viii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Comparao entre os nmeros de identificao significativos eno significativos (ELLIOTT, 1985).................................................. 55
TABELA 2 - Potencial de economia com a aplicao de sistemas CSM emfuno do faturamento da empresa Adaptado de WHEATLEY(1998).................................................................................................. 65
TABELA 3 - Evoluo dos Sistemas de Classificao ao longo do tempo ............... 66
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APICS - Educational Society for Resource Management
BOI - Bill of Items
BOM - Bill of Material
CAD - Computer Aided Design
CAE - Computer Aided Engineering
CAM - Computer Aided Manufacturing
CAPP - Computer Aided Process Planning
CS - Classification System
CSM - Component and Supplier Management
DFA - Design for Assembly
E_BOM - Engineering Bill of Material
ECM - Engineering Change Management
ERP - Enterprise Resource Planning
FMEA - Failure Model and Effect Analysis
GBOM - Global Bill of Material
JIT - Just in Time
LT - Lead Time
M_BOM - Manufacturing Bill of Material
MPS - Master Production Schedule
MRP - Material Requirement Planning
MRP II - Manufacturing Resource Planning
P_BOM - Production Bill of Material
PCP - Planejamento e Controle da Produo
PDM - Product Data Management
PN - Part Number
PP - Plano de Processo
xSCC - Sistema de Classificao e Codificao
TG - Tecnologia de Grupo
USP So Carlos - Universidade de So Paulo, campus de So Carlos
WIP - Working in Process
xi
RESUMO
OLIVEIRA, C.B.M. (1999) Estruturao, identificao e classificao de produtos
em ambientes integrados de manufatura. So Carlos, 1999. 104p. Dissertao
(Mestrado) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.
Apesar do desempenho dos sistemas integrados estar vinculado qualidade
das informaes que eles manipulam, a maioria das empresas no garante que suas
informaes fundamentais sejam completas e precisas, nem as estruturaram e
gerenciam de acordo com o seu tipo de negcio e produto. Dentre as informaes
fundamentais de manufatura destaca-se a estrutura de produto, a qual construda a
partir do relacionamento entre nmeros de identificao, correspondendo
representao no grfica do produto e sendo compartilhada por vrios
departamentos na empresa. Por outro lado, qualquer discusso sobre nmeros de
identificao deve considerar os sistemas de classificao, visto que muitas empresas
utilizam o mesmo cdigo tanto para identificar quanto para classificar seus itens.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho caracterizar as principais alternativas
existentes para as estruturas de produto, os nmeros de identificao e os sistemas de
classificao em ambientes integrados de manufatura. Para tanto, foi realizada uma
extensa investigao da literatura, bem como um levantamento em campo junto a
especialistas na rea. Os resultados obtidos a partir dessas duas fontes foram
analisados e confrontados, sendo dada especial ateno s suas similaridades e
diferenas.
Palavras-chave: estrutura de produto; nmeros de identificao; sistemas declassificao; integrao da manufatura
xii
ABSTRACT
OLIVEIRA, C.B.M. Structuring, identification and classification of products in
integrated manufacturing environments. So Carlos, 1999. 102p. Dissertao
(Mestrado) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.
Although the performance of integrated systems is influenced by the quality
of data processed, the majority of companies do not guarantee the completeness or
accuracy of data foundations, nor do they structure or manage this data to reflect
their business or product. Among the manufacturing data foundations, bills of
materials play a key role. They are built of part numbers, are equivalent to the non-
graphical representation of a product, and are shared by many departments within a
company. On the other hand, any discussion about part numbers should also include
the classification systems, since many companies apply the same code for
identification and classification purposes. In this context, the objective of this work is
to characterize the available alternatives to bills of materials, part numbers and
classification systems in integrated manufacturing environments. Therefore, a huge
investigation into bibliography was conducted, as well as field research together with
specialists in this field of study. The results obtained from both sources were
analyzed and compared, special attention being paid to similarities and differences
between them.
Keywords: bill of material; part numbers; classification systems; manufacturingintegration
11 INTRODUO
Este captulo inicial apresenta as justificativas que motivaram o
desenvolvimento do trabalho, os objetivos estabelecidos, o mtodo aplicado, e por
fim a forma como esto organizados os captulos.
1.1 Justificativas
A globalizao da economia e o aumento da concorrncia a nvel mundial
tm provocado mudanas significativas no setor de manufatura. Essas mudanas
relacionam-se com a constante busca por maior flexibilidade e qualidade, alm da
reduo de custos e do tempo de resposta. Para tanto, as empresas de manufatura tm
agora que se tornar empresas de classe mundial (world class manufacturing). Um dos
caminhos para atingir esse objetivo a implantao de sistemas integrados.
Apesar do desempenho desses sistemas estar vinculado qualidade das
informaes que eles manipulam, a maioria das empresas no garante que suas
informaes fundamentais sejam completas e precisas, nem as estruturaram e
gerenciam de acordo com o seu tipo de negcio e de produto. Alm disso, o potencial
das novas tecnologias, surgidas nos Ambientes Integrados de Manufatura1, no
explorado porque muitas empresas no conhecem as alternativas que estes oferecem
(GIANESI et al., 1997).
Na bibliografia a problemtica da falta de qualidade das informaes
fundamentais tem sido resumida por meio da expresso inglesa garbage in,
1 Neste trabalho, sero considerados Ambientes Integrados de Manufatura aqueles queutilizam a tecnologia de informao (p. ex.: sistemas CAD, CAPP, PDM, para configurao deproduto, ERP, MRPII, de planejamento fino da produo, etc.) como ferramenta para viabilizar e/oumelhorar o desempenho dos seus processos de negcios.
2garbage out, ou seja, se os processos da empresa esto manipulando informaes
sem qualidade, consequentemente os resultados alcanados por esses processos
tambm estaro comprometidos.
Diversos autores, tais como CLEMENT et al. (1992), AGERMAN &
LINDBERG (1992) e RUSK (1990), identificam as seguintes informaes
fundamentais de manufatura:
- nmero de identificao do item (PN part number);
- informaes armazenadas no arquivo mestre do item (descrio do item, nmero
do desenho de engenharia, cdigo de barra, nvel de reviso, status, custo,
produto a que pertence, histrico das ltimas alteraes de engenharia, tamanho
do lote, unidade de medida, comprado ou fabricado, quem planeja ou compra,
etc.);
- desenhos e especificaes;
- estrutura de produto (BOM - bill of material)2;
- relatrios de onde usado o item (where-used reporting);
- planos de processo e as informaes armazenadas no arquivo mestre dos centros
de trabalho;
- outros documentos de suporte.
Segundo CLEMENT et al. (1992), para que as informaes fundamentais
sejam slidas, elas precisam:
- representar os processos de manufatura;
- representar os produtos vendidos, e as estratgias e planos para a satisfao dos
clientes;
- ser entendida e satisfazer todos os usurios;
- ser completa e precisa;
2 Neste trabalho os termos estrutura de produto e bill of material (BOM) sero utilizadoscomo sinnimos.
3- ser suportada por boas prticas de controle de alteraes.
As informaes fundamentais so a base para a execuo das atividades da
empresa e tm influncia direta no seu desempenho, uma vez que representam seus
processos e produtos. A FIGURA 1 apresenta a aplicao das informaes
fundamentais pelas diversas reas da empresa.
Gerenciamento GeralEstrutura de produto nica
Informaes precisasControle efetivo de alteraes
Vendas & MarketingConfigurao de vendas
Opes de produtosSuprimentos
Programao de suprimentosEspecificao de itens
EngenhariaDefinies de produtoDefinies de processo
Planejamento de recursos de engenhariaProjeto para a manufatura e montagem
Planejamento/MPS3
Planejamento de materiaisProgramao da planta
ManufaturaProgramao da produo
Controle do cho-de-fbricaSuprimento de materiaisPlanejamento de recursos
FinanasPlanejamento financeiro
Custeio e contabilidade da manufaturaServios
Planejamento de peas de reposioControle de configuraoSistemas de Informao
SoftwareIntegrao
FIGURA 1 - Aplicaes das informaes fundamentais (CLEMENT et al., 1992)
3 No decorrer deste trabalho sero utilizados diversos conceitos de planejamento,programao e controle da produo, os quais no sero apresentados em detalhes porque fugiria doescopo deste trabalho. Discusses mais profundas desses conceitos podem ser encontradas emVOLLMANN et al. (1992) e GIANESI et al. (1997).
4A estrutura de produto (BOM - bill of material) possui uma posio de
destaque entre as informaes fundamentais, pois ela representa o primeiro passo
para a elaborao de uma base de dados de produto totalmente integrada, e um frame
para a definio total de produto (GUESS, 1985). A BOM tambm um elemento
que gera integrao uma vez que suas informaes so compartilhadas por quase
todos os departamentos da empresa (MAROLA, 1995). Logo, a forma como
gerenciada, controlada e estruturada pode diretamente influenciar o sucesso da
empresa (RUSK, 1990).
GARWOOD (1995) acrescenta que se uma empresa almeja ser de classe
mundial, de importncia vital que a sua BOM seja slida, representando os
processos e produtos, e esteja em sintonia com as estratgias do negcio. Neste
contexto, EDELMAN (1990) destaca que os sistemas integrados apenas processam
as informaes presentes na BOM, sendo a correta estruturao da BOM total
responsabilidade da empresa.
importante destacar ainda a importncia da BOM como sendo o ponto mais
comum para interface ou integrao entre os sistemas ERP (Enterprise Resource
Planning)4 e PDM (Product Data Management)5 (BOURKE, 1998b) (KEMPFER,
1998a) (MILLER, 1998b), e entre os sistemas ERP e CAD (Computer Aided Design)
(AYYAR, 1998), possibilitando assim o fluxo e a consistncia das informaes.
Apesar da sua importncia, GARWOOD (1995) afirma que a BOM tem sido
o calcanhar de Aquiles da maioria das empresas de manufatura, as quais sempre
esbarram nas seguintes questes: o meu produto tem diversos opcionais e
alternativas, como conviver com o grande nmero de estruturas de produto
necessrias? Como a estrutura de produto pode refletir diferentes estratgias de
estoque? Como conviver com mais de uma estrutura de produto? Quem o dono
4 O sistema ERP, ou Sistema Integrado de Gesto de Negcios, integra os processos denegcio de uma empresa, suportando as necessidades de informao para a tomada de deciso. Osistema possui diversos mdulos, abrangendo as reas de logstica, finanas, e recursos humanos, osquais esto integrados entre si a partir de uma base de dados nica e no redundante.
5 O sistema PDM uma ferramenta que auxilia o gerenciamento dos dados de produto,atravs do controle do grande volume de informaes necessrias para projetar, manufaturar ecomercializar um produto, gerenciando assim o ciclo de vida como um todo. Para tanto, ele possuiuma srie de funcionalidades, tais como gerenciamento de documentos, workflow, gerenciamento daestrutura de produto e sistema de classificao (CIMDATA, 1996).
5da estrutura de produto? Como simplificar a estrutura de produto? Como aumentar a
preciso das informaes?
Segundo GUESS (1985), como a BOM construda em torno da relao
pai/filho entre nmeros de identificao (PN - part number), esses podem ser
considerados a cola que mantm a BOM unida, logo a correta definio do PN ter
influncia direta no desempenho da BOM.
Alm da estrutura de produto e dos nmeros de identificao, este trabalho
tratar tambm dos sistemas de classificao (CS Classification System) por dois
motivos. Primeiro, e principalmente, porque muitas empresas utilizam cdigos
significativos tanto para identificar quanto para classificar seus itens, logo qualquer
discusso sobre o formato dos nmeros de identificao em princpio tem que
considerar seu impacto no sistema de classificao.
Segundo, a BOM e o CS manipulam informaes comuns, os itens de um
produto, porm sob ticas diferentes (na BOM so agrupados os itens que pertencem
a um mesmo produto, enquanto no CS, so reunidos itens que possuem
caractersticas semelhantes), FIGURA 2. Por exemplo, trs BOMs possuem cada
uma um eixo diferente, porm esses eixos pertencem a uma mesma classe do CS.
identificaoespecificaes
Estrutura de Produto (BOM) Sistema de Classificao (CS)
classificaocaractersticas
FIGURA 2 - A estrutura de produto e o sistema de classificao manipulaminformaes dos itens sob ticas diferentes
Por outro lado, apesar da importncia da BOM, do PN e do CS no contexto da
manufatura integrada, REED (1990) e BROOKS (1993) ponderam que, com o
avano da tecnologia de informao, as empresas tendem a dar menor ateno a
questes bsicas como essas.
6Como conseqncia dessa desateno em questes que tm impacto direto no
desempenho do negcio e dos sistemas integrados, retorna-se problemtica
apresentada no incio desta seo e resumida pela expresso garbage in, garbage
out.
Dessa forma os dois autores destacam a necessidade das pessoas terem uma
viso abrangente das alternativas existentes para que possam consider-las durante o
processo de seleo e implantao dos sistemas integrados.
1.2 Objetivo
Devido importncia e ao impacto das informaes fundamentais
apresentados na seo anterior, e a fim de contribuir para a obteno da viso
abrangente sobre as alternativas existentes, o objetivo deste trabalho caracteriz-las
no contexto dos Ambientes Integrados de Manufatura.
Sero ento caracterizadas as alternativas de:
- estruturas de produto (BOM Bill of Material);
- nmeros de identificao (PN Part Number);
- sistemas de classificao (CS Classification System).
1.3 Mtodo
Esta seo apresenta os aspectos metodolgicos considerados durante o
desenvolvimento do trabalho, tendo em vista o objetivo proposto. Para tanto so
discutidas a escolha do mtodo e as etapas gerais para a sua aplicao nesta pesquisa.
1.3.1 Escolha do mtodo
O mtodo a ser aplicado a pesquisa descritiva na forma de estudos
exploratrios, sendo utilizadas duas tcnicas de coleta de dados: a pesquisa
bibliogrfica e a pesquisa em campo por meio de entrevistas.
7Segundo CERVO & BERVIAN (1983), a pesquisa descritiva aquela em que
as informaes so observadas, registradas, correlacionadas, sem contudo serem
manipuladas.
DANE (1990) acrescenta que este tipo de pesquisa envolve o exame de um
fenmeno com o objetivo de defini-lo de forma mais ampla, bem como avaliar as
alternativas existentes. DANE (1990) conclui dizendo que a pesquisa descritiva deve
ser utilizada quando se deseja responder duas perguntas relativas a um fenmeno:
o que ? e/ou quais so as alternativas existentes?
Dentre os tipos de pesquisa descritiva, os estudos exploratrios apresentam-se
como a modalidade indicada para situaes onde h pouco conhecimento sobre o
assunto. So normalmente os primeiros e tm como intuito levantar informaes para
serem utilizadas ou testadas em estudos posteriores. No necessria a elaborao de
hipteses que sejam validadas e/ou generalizadas dentro do trabalho, uma vez que se
procura conhecer os aspectos gerais do tema, podendo restringir-se definio de
objetivos e busca de informaes (CERVO & BERVIAN, 1983) (RICHARDSON,
1985).
A escolha da pesquisa descritiva adequada natureza do trabalho, porque a
definio desse tipo de mtodo (investigar as alternativas existentes para um dado
fenmeno) est diretamente relacionada com o objetivo estabelecido anteriormente
(caracterizar as alternativas existentes para BOM, PN e CS).
Quanto aos estudos exploratrios, o tema estrutura de produto pouco
estudado no Brasil (existem apenas alguns estudos direcionados para reas
especficas, como por exemplo o planejamento e controle da produo), bem como a
maioria das publicaes sobre sistemas de classificao contempla apenas uma das
alternativas existentes (o uso de cdigos significativos). Alm disso, de forma geral
existem poucos trabalhos que busquem identificar e caracterizar de forma abrangente
as alternativas existentes.
Logo pertinente realizar uma pesquisa que descreva o assunto, investigando
e analisando as alternativas disponveis. Assim, trabalhos futuros podem se basear
nas concluses inicias apresentadas, e elaborar hipteses objetivando aprofundar o
estudo sobre o tema ou aspectos especficos relacionados a este.
8O mtodo escolhido apresenta algumas desvantagens. Em primeiro lugar, a
natureza exploratria do trabalho leva limitao de sua validade externa, visto que
os dados coletados, os resultados atingidos e as concluses apresentadas no podero
ser generalizados para toda a populao, sendo particulares e especficos para a
amostra analisada.
Em segundo, devido abrangncia dos pontos a serem abordados,
necessrio um planejamento flexvel e complexo das atividades em campo,
possibilitando que os diversos aspectos relacionados com o tema sejam considerados.
Entretanto, o mtodo possibilita que novas caractersticas e aspectos
relacionados com o tema sejam identificados, o que muito importante quando se
est estudando um tema que ainda no foi muito explorado, no caso no Brasil.
Durante a aplicao do mtodo, sero utilizadas duas tcnicas para coleta de
dados: a pesquisa bibliogrfica e a pesquisa em campo por meio de entrevistas.
Segundo PDUA (1997), esta integrao entre duas ou mais tcnicas possibilita que
o objeto de estudo seja investigado de maneira mais ampla e completa.
Conforme CERVO & BERVIAN (1983) e DANE (1990), a pesquisa
bibliogrfica uma atividade necessria em qualquer tipo de pesquisa, tendo como
objetivos levantar a situao atual, criar uma fundamentao terica, justificar os
limites e contribuies da pesquisa, bem como evitar duplicidade de esforos e erros
j identificados em outros trabalhos.
Neste trabalho em particular, a pesquisa bibliogrfica possui uma importncia
ainda maior, visto que , devido a sua abrangncia, a principal fonte de informao
para se identificar as principais alternativas existentes para BOM, PN e CS
Quanto pesquisa em campo, a entrevista foi escolhida como forma
complementar de se obter informaes sobre o tema, apesar de possuir algumas
limitaes. Segundo PDUA (1997), dependendo da forma como a tcnica
aplicada, as informaes podem ser imprecisas e o entrevistador pode
avaliar/julgar/interpret-las de forma distorcida.
Por outro lado, ainda segundo PDUA (1997), a entrevista apresenta a
vantagem de possibilitar que os dados sejam analisados no s quantitativa, mas
9tambm qualitativamente, o que fundamental para trabalhos de natureza
exploratria. Neste sentido, RICHARDSON (1985) indica a abordagem qualitativa
para situaes nas quais se deseja uma maior riqueza de detalhes do que a
informao quantitativa capaz de fornecer. MAGALHES (1998) acrescenta a
abordagem qualitativa possibilita que se aprenda profundamente sobre o objeto em
estudo.
Segundo PDUA (1997), uma entrevista estruturada, como as realizadas
neste trabalho, devem possuir um roteiro de entrevista previamente preparado com
uma lista de tpicos a serem abordadas, evitando que algum ponto seja esquecido,
mas possibilitando uma flexibilidade na ordem em que as questes so propostas, e
originando uma variedade de resposta ou mesmo outras questes. DANE (1990)
define este tipo de entrevista como entrevista focada.
Por fim, a partir das justificativas apresentadas nesta seo, pode-se concluir
que a escolha da pesquisa descritiva na forma de estudos exploratrios o mtodo
adequado para se atingir os objetivos estabelecidos. Alm disso, a pesquisa
bibliogrfica e a pesquisa em campo por meio de entrevistas apresentam-se como
tcnicas apropriadas para a natureza dos dados que se deseja coletar.
Uma vez discutida a escolha do mtodo, sero apresentadas a seguir as etapas
gerais que envolvem a sua aplicao.
1.3.2 Etapas gerais
As etapas gerais da pesquisa compreendem os passos necessrios para a
aplicao do mtodo escolhido. Essas etapas no so atividades estanques, existindo
um grau de sobreposio e interao entre elas. A FIGURA 3 apresenta um esquema
dessas etapas, as quais so discutidas em detalhes a seguir.
10
Analisarresultados
Apresentarconcluses
Coletar dados
questes
respostas
interpretao
refernciasbibliogrficas
estadoda arte
sntese
pesquisaem campo
pesquisabibliogrfica
Selecionartema
Definir objetivoe justificativas
Elaborar perguntas depesquisa e variveis
FIGURA 3 - Viso esquemtica das etapas gerais para aplicao do mtodoescolhido
1.3.2.1 Seleo do tema
O tema deste trabalho foi selecionado a partir da observao, feita em visitas
a diferentes tipos de empresas no Brasil, de que essas empresas encontravam
dificuldade no momento de definir e gerenciar suas estruturas de produto, bem como
no diferenciavam o sistema de identificao do de classificao, utilizando um
mesmo cdigo para essas duas funes. Alm disso, a empresas no conseguiam
chegar a uma resposta satisfatria para a maioria das suas perguntas relativas ao
assunto.
11
Neste contexto, resolveu-se ento desenvolver uma linha de pesquisa, dentro
do Grupo de Engenharia Integrada da USP So Carlos, que tivesse como objeto de
estudo os conceitos fundamentais da manufatura integrada, numa tentativa de
responder no s estas mas tambm outras questes bsicas relacionadas
manufatura integrada.
Assim sendo, este o primeiro trabalho dentro do Grupo que investiga o tema
estrutura de produto, nmero de identificao e sistemas de classificao, tendo por
objetivo desenvolver uma base para ser explorada por trabalhos futuros.
Alm disso, este trabalho apoia e est em consonncia com outras linhas de
pesquisa do Grupo, principalmente com o estudo de sistemas PDM (Product Data
Management), CAPP (Computer Aided Process Planning) e ERP (Enterprise
Resource Planning), os quais possuem o gerenciamento da estrutura de produto e o
sistema de classificao como importantes funcionalidades, bem como manipulam
nmeros de identificao.
1.3.2.2 Definio das justificativas e do objetivo
Uma vez selecionado o tema, definiu-se as justificativas e o objetivo do
trabalho, os quais j foram apresentados e discutidos respectivamente nas sees 1.1
e 1.2 deste trabalho.
1.3.2.3 Perguntas de pesquisa
Para este trabalho foram elaboradas as seguintes perguntas de pesquisa:
1. Quais aspectos devem ser considerados no gerenciamento da BOM?
2. Quais as principais arquiteturas existentes para se estruturar a BOM?
3. Qual a relao entre identificao, classificao e cdigos significativos?
4. Como gerenciar a identificao dos itens?
12
1.3.2.4 Variveis
Para se atingir o objetivo de caracterizar as alternativas existentes e responder
as perguntas de pesquisa, sero investigadas duas variveis:
- Gerenciamento: as prticas que devem permear a criao e manuteno das
informaes fundamentais estudadas neste trabalho. No caso da BOM, esta
varivel est associada ao nmero de nveis, preciso, definio de quais
objetos devem ser incorporados, dentre outros aspectos. Quanto identificao
esta varivel est associada s regras para assinalar o PN e alter-lo, ao
relacionamento com o cdigo do desenho, do fornecedor e de barra, etc.
- Formato: as diferentes formas que as estruturas de produto, nmeros de
identificao e sistemas de classificao podem assumir. No caso da BOM, o
formato est associada s arquiteturas: tradicional, modular, de planejamento,
genrica, de manufatura e de informao. Quanto identificao e classificao,
essa varivel est relacionada com o uso de sistemas baseados ou no em cdigos
significativos.
Pode-se observar que os sistemas de classificao no sero analisados em
relao varivel gerenciamento. Isso ocorre porque o intuito de se incluir esses
sistemas no trabalho analisar o impacto na classificao do uso ou no de cdigos
significativos na identificao (vide seo 1.1). Logo, consider-los apenas sob o
tica da varivel formato suficiente para a realizao dessa anlise.
1.3.2.5 Pesquisa bibliogrfica
A pesquisa bibliogrfica foi iniciada com o levantamento de referncias
bibliogrficas com informaes relevantes ao tema. Para tanto, foram consultados
artigos, dissertaes de mestrado, teses de doutorado, anais de congresso, livros,
revistas, sites da Internet e catlogos de sistemas integrados. Sendo selecionadas em
torno de 90 referncias para serem incorporadas ao trabalho.
Conforme orientao de DANE (1990), a estratgia para busca de
informaes envolveu a identificao dos tpicos-chave, dos autores-chave e dos
trabalhos-chave. Foram consideradas como informaes relevantes no s as
13
diretamente relacionadas com o tema, mas tambm as relacionadas com o mtodo
aplicado neste trabalho.
Uma vez identificadas as referncias, foi elaborada uma reviso bibliogrfica
que procurou ser um texto que refletisse o Estado da Arte das pesquisas sobre o
tema. Na seqncia, foi elaborada uma sntese dos resultados obtidos nesta etapa, os
quais envolveram as alternativas encontradas na literatura.
Ao final da pesquisa bibliogrfica foram reavaliadas todas as etapas
anteriores com o objetivo de se garantir a consonncia entre elas e o estgio atual de
desenvolvimento das pesquisas sobre o tema.
importante ainda destacar que apesar da pesquisa bibliogrfica concentrar-
se nesta etapa do trabalho, esta atividade acontece praticamente durante todo o
desenvolvimento do trabalho. Desde a seleo do tema at a apresentao dos
resultados, passando pela definio das justificativas e escolha do mtodo.
1.3.2.6 Pesquisa em campo
Como citado anteriormente, a pesquisa em campo foi realizada como uma
forma de complementar as informaes obtidas na pesquisa bibliogrfica. Para tanto,
decidiu-se entrevistar especialistas no assunto com objetivo de discutir as alternativas
encontradas na literatura, e tentar identificar novos aspectos que complementem o
estudo do tema. Segundo CERVO & BERVIAN (1983), a realizao de entrevistas
com pessoas de conhecimento notrio sobre um assunto uma das formas de se
coletar dados em campo.
A deciso de que o melhor grupo para entrevista seriam especialistas baseou-
se no fato de que estas pessoas possuem uma grande experincia prtica no assunto, e
suas respostas no estariam limitadas s prticas de uma empresa, mas poderiam
englobar um universo maior.
Esta etapa envolveu seis atividades: elaborao do roteiro e de procedimentos
para entrevista, definio dos critrios para seleo de especialistas, seleo dos
especialistas, teste piloto e ajustes, entrevistas, e preparao dos resultados para
anlise.
14
O roteiro de entrevista foi elaborado como um conjunto de questes, baseadas
na sntese obtida na etapa de pesquisa bibliogrfica, que possibilitassem o
levantamento de informaes predominantemente qualitativas.
Utilizou-se tambm o conceito de questo de contingncia (DANE, 1990), a
qual levantada somente se uma certa resposta anterior for fornecida. Esse tipo de
questo foi utilizada com dois objetivos: possibilitar caminhos alternativos dentro do
roteiro de acordo com as resposta fornecidas, e evitar induo ou predisposio nas
respostas.
Adicionalmente foram considerados, de acordo com as sugestes de PDUA
(1997), os seguintes itens:
- a distribuio do tempo entre os tpicos;
- a formulao de questes cujas respostas possam ser descritivas e analticas,
evitando assim respostas dicotmicas (sim/no);
- ateno aos objetivos da pesquisa, evitando que o entrevistado extrapole ou
desfoque o tema proposto.
Quanto aos procedimentos de entrevista, estabeleceu-se que a criao de um
clima de cordialidade e confiana durante as entrevistas seria fundamental para
garantir a qualidade das repostas obtidas. Alm disso, o entrevistador no emitiria
nenhuma opinio sobre o assunto, evitando-se assim a induo das respostas, bem
como anotaria todas as informaes relevantes fornecidas para facilitar a anlise
posterior (DANE, 1990).
Como critrio de seleo definiu-se que os especialistas seriam consultores de
empresas fornecedoras de servios ou software no setor de sistemas integrados. Eles
deveriam ter experincia comprovada no gerenciamento de projetos de implantao
de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning Sistemas Integrados de Gesto de
Negcios) ou de integrao desses com outros sistemas integrados que manipulassem
a BOM, o PN e o CS como informaes importantes.
Optou-se por consultores porque essas pessoas acumulam a experincia de
trabalho em diversas empresas, e propem-se a fornecer aos seus clientes as
melhores prticas atuais e futuras dentro de uma rea do conhecimento.
15
A participao em projetos relacionados com ERP (implantao ou
integrao) importante porque as funcionalidades desses sistemas envolvem
praticamente todos os departamentos e processos de negcio da empresa, e
consideram as necessidades das diversas reas. Alm dessas duas exigncias, incluiu-
se que essas pessoas j deveriam ter sido o gerente do projeto em alguma ocasio,
uma vez que este quem tem a viso mais abrangente do projeto.
A primeira entrevista realizada foi um teste piloto com um especialista.
Segundo DANE (1990), este teste deve utilizar exatamente o mesmo roteiro e
procedimentos que se deseja aplicar nas demais entrevistas. Entretanto, esta
entrevista preliminar possibilita que seja feito um ajuste fino dos instrumentos de
pesquisa.
Foram realizadas ento quatro entrevistas, sendo as respostas obtidas
interpretadas e preparadas para anlise. Mais detalhes sobre essas etapas podem ser
encontradas no Captulo 3, o qual apresenta os especialistas escolhidos, como
ocorreram as entrevistas e a preparao dos dados para anlise. Uma cpia do roteiro
de entrevista encontra-se no Anexo.
1.3.2.7 Anlise dos resultados
A etapa de anlise dos resultados envolve a consolidao dos resultados
obtidos nas duas etapas de coleta de dados: a sntese da literatura (resultado da
pesquisa bibliogrfica) e a interpretao das respostas dos especialistas (resultado da
pesquisa em campo). Foi dada especial ateno s semelhanas e diferenas
encontradas entre os dois resultados.
1.3.2.8 Apresentao das concluses
Com base na anlise dos resultados obtidos na pesquisa bibliogrfica e em
campo, foram elaboradas algumas concluses envolvendo as alternativas existentes
para BOM, PN e CS.
16
Considerando-se que o conhecimento cientfico cumulativo e que no
existem trabalhos definitivos sobre um assunto (PDUA, 1997) (DANE, 1990),
pesquisas futuras podero valer-se das concluses apresentadas para elaborar
hipteses e verificar sua validade em uma amostra mais ampla que a estudada, e,
caso proceda, generaliz-las.
importante tambm destacar que o mtodo empregado no se restringe a
esta seo, cujo objetivo fornecer uma viso geral, na verdade ele permeia todo
trabalho, estando distribudo ao longo dos captulos.
1.4 Organizao deste trabalho
O captulo 1 - Introduo discorre sobre a importncia das informaes
fundamentais como fatores que influenciam o desempenho das empresas e dos
sistema integrados. justificada ento a escolha da estrutura de produto, do nmero
de identificao e do sistema de classificao como temas centrais do trabalho. Em
seguida, apresentado o objetivo que foi estabelecido a partir da problemtica
identificada anteriormente. Por fim, discutida a escolha do mtodo e as etapas que
envolvem a sua aplicao.
O captulo 2 - Estado da Arte discute, sobre o ponto de vista da literatura, as
principais alternativas existentes para apoiar as atividades de gerenciamento e
estruturao das informaes fundamentais focadas neste trabalho. Como resultado
das investigaes realizadas, apresentada, no final, uma sntese dos principais
pontos discutidos ao longo do captulo.
A caracterizao das alternativas complementada no captulo 3 - Coleta de
Dados em Campo e Anlise dos Resultados com a entrevista de especialistas na rea.
discutida a realizao das atividades que compem a pesquisa em campo,
incluindo a escolha dos especialistas. So apresentados ainda os resultados obtidos
sob a forma da interpretao das respostas dos especialistas s questes do roteiro de
entrevista. Esses resultados so analisados e comparados com os obtidos na etapa de
pesquisa bibliogrfica.
17
O ltimo captulo, o de nmero 4 - Concluses, apresenta as principais
concluses que podem ser tiradas do trabalho, e algumas sugestes de trabalhos
futuros que podem ser realizados utilizando-se este como ponto de partida. Existe
ainda um Anexo, no qual est includo o roteiro utilizado para entrevistar os
especialistas.
18
2 ESTADO DA ARTE
2.1 Estrutura de produto
2.1.1 Definies
Segundo definiu a AMERICAN PRODUCTION AND INVENTORY
CONTROL SOCIETY (APICS)6, em 1992, a estrutura de produto (BOM - bill of
material) uma lista de todas as submontagens, componentes intermedirios,
matrias-primas e itens comprados que so utilizados na fabricao e/ou montagem
de um produto, mostrando as relaes de precedncia e quantidade de cada item
necessrio.
Um exemplo simples de BOM pode ser visto na FIGURA 4, na qual o item A
composto por quatro unidades do item comprado C e duas do item B, que consome
em sua fabricao uma unidade da matria-prima D.
Matria-prima D
Item A
Item B Item C
2x 4x
1x
FIGURA 4 - Exemplo de estrutura de produto
6 Recentemente o significado da sigla APICS foi alterado de American Production andInventory Control Society para o atual Educational Society for Resource Management, essaalterao um reflexo dos novos direcionamentos definidos para a entidade.
19
CLEMENT et al. (1992) acrescentam que, alm desses objetos, a BOM
tambm pode conter outros, tais como, instrues de trabalho ou ferramentas
requeridas para suportar o processo de manufatura.
Devido grande diversidade de objetos que a BOM pode conter, necessrio
definir uma nomenclatura padro para que o uso de cada um deles seja diferenciado e
entendido. Segundo a APICS (1992), os objetos da BOM podem ser classificados
em:
- Item (item): qualquer matria-prima, pea, embalagem, componente,
submontagem, montagem ou produto nico fabricado ou comprado.
- Componente (component): matria-prima, pea ou submontagem que utilizada
numa montagem de nvel mais alto, ou em outro item. Esse termo pode incluir
tambm embalagens no caso de itens finais.
- Pea (part): geralmente um item isolado comprado ou fabricado que usado
como componente e no uma montagem ou submontagem, nem matria-prima.
Neste trabalho ser acrescentada a classe de objeto material a essa
classificao, com o objetivo de torn-la mais abrangente e em consonncia com
diversos sistemas integrados existentes:
- Material (material): produtos finais, montagens, submontagens, peas, matria-
prima, informaes, recursos ou servios utilizados durante o processo produtivo.
Apesar de CLEMENT et al. (1992) e CHEN & HSIO (1997) identificarem
existncia de objetos como este na BOM, no especificada uma nomenclatura.
Assim sendo, o nome material foi selecionado como conseqncia da BOM poder
ser traduzida para o portugus como lista de materiais, logo seu objeto mais
genrico o material.
CHEN & HSIO (1997) destacam que, alm dos itens tradicionalmente
incorporados BOM, preciso estender o conceito de "material" para as
informaes associadas ao produto, como modelos geomtricos, desenhos, planos de
processo e outros documentos de suporte elaborados durante os processos de
desenvolvimento e alterao do produto. Dessa forma, a BOM passa a exercer um
20
papel chave como a espinha dorsal (backbone) dos sistemas de gerenciamento de
dados de produtos (PDM - Product Data Management).
CLEETUS (1995) e KEMPFER (1998b) acrescentam que essa unificao dos
dados do produto numa mesma fonte possibilita que as pessoas naveguem nas
informaes atravs da BOM, tornando o processo de busca e acesso mais rpido e
fcil.
Um esquema com as relaes de precedncia entre os objetos da BOM
apresentado na FIGURA 5.
Materialqualquer recurso, informao ou servio
usado durante o processo produtivo
Item item pai
Componente(item filho)
matria-primaembalagem
submontagensmontagens
Pea(compradas e fabricadas)
FIGURA 5 - Objetos da estrutura de produto
Como citado anteriormente, a BOM baseada na relao pai/filho entre itens.
O item que est sendo produzido chamado item pai, e os itens requeridos na sua
produo so chamados itens filho ou componentes. Dessa forma, na BOM de um
eixo usinado, esse eixo o item pai e a barra laminada, utilizada como matria-
prima, o item filho. Se o mesmo eixo foi utilizado numa montagem posterior, ele
passa agora a ser um item filho do novo item montado.
Toda vez que estabelecida uma relao pai/filho entre um item e seus
componentes diretos, a BOM formada chamada BOM de nvel simples. Uma BOM
multinvel formada quando as BOMs de um nvel so associadas desde as matrias-
21
primas e itens comprados at o produto final, resultando em uma BOM com dois ou
mais nveis. Isso ocorre atravs uma tcnica chamada exploso (SCHLUSSEL,
1995). Dessa forma, todos os itens utilizados direta ou indiretamente na produo de
um produto podem ser visualizados (GUESS, 1985).
Um nvel criado numa BOM quando a relao entre um item pai e seus
componentes definida. Os nveis de uma BOM so basicamente determinados a
partir da forma como os itens intermedirios e semi-acabados so tratados no
processo de manufatura desde a matria-prima e os itens comprados at o produto
final (SCHLUSSEL, 1995) (CLEMENT et al., 1992). Em uma BOM multinvel, o
produto final eqivale ao nvel zero da BOM, seus componentes diretos so o nvel
1, e assim sucessivamente.
Quando os relacionamentos de um nvel so estabelecidos para itens pai e
filho, os sistemas de informao podem planejar, custear, e fornecer todas os tipos de
informao para os nveis simples ou multinveis (CLEMENT et al., 1992).
A FIGURA 6 apresenta uma BOM que resume os principais conceitos
discutidos nesta seo.
produto
montagem 1 embalagemmontagem 2
submontagem 2submontagem 1
pea comprada pea fabricada
matria-prima
...
...
...
Exemplo de BOM de um nvel
1x1x 2x
1x1x
2x 1x
D x L
Item pai
Item filho oucomponente
nve
l 0n
vel 1
nve
l 2n
vel 3
nve
l 4
FIGURA 6 - Esquema de uma estrutura de produto multinvel
Como exemplo final, a FIGURA 7 ilustra os componentes de um projetor,
cuja BOM mostrada na FIGURA 8. Na montagem da cabea do projetor so
22
utilizados um espelho, uma lmpada e uma caixa, os quais formam uma BOM de um
nvel, para a qual esto estabelecidas as relaes de precedncia entre o item pai e os
itens filho, bem como as quantidades necessrias. Na montagem do produto final, o
projetor, utilizada a cabea montada anteriormente mais uma base e um brao.
Base
Brao
Cabea
Caixa Lmpada Espelho
FIGURA 7 - Produto projetor simplificado (MAROLA, 1995)
Projetor
BaseBrao Cabea
LmpadaEspelhoCaixa
1x 1x
1x
1x
1x 1x
Exemplo de BOM de um nvel
nv
el 0
nv
el 2
nv
el 1
FIGURA 8 - Estrutura de produto multinvel do projetorAdaptado de MAROLA (1995)
23
2.1.2 Preciso
Uma vez que a BOM representa os produtos de uma empresa, erros em sua
estrutura implicaro em erros nos produtos produzidos.
Diante disso, CLEMENT et al. (1992) definem que a BOM deve ter uma
preciso entre 98 e 100 porcento. Isso significa que no mnimo 98% de todas as
BOMs de um nvel precisam estar 100% corretas. Casos prticos tm mostrado que
sistemas MRP (Material Requirement Planning) que trabalham com BOMs cuja
preciso menor que 98% simplesmente falham.
Ainda segundo CLEMENT et al. (1992), a preciso de uma BOM medida a
cada nvel simples de uma BOM multinvel. A frmula para o clculo da preciso da
BOM, form.(1), relaciona o nmero total de BOMs de um nvel corretas (sem
nenhum tipo de erro) ao nmero total de auditadas.
(%)Pr100.
.eciso
auditoriasncorretasn = (1)
Os erros encontrados podem estar em informaes incorretas ou omitidas no
nmero de identificao, nas relaes entre um item pai e seus componentes, nas
quantidades necessrias e nas unidades de medida (GARWOOD, 1995). CLEMENT
et al. (1992) destacam a importncia da BOM ser completa, incluindo todos os
materiais utilizados no planejamento, programao e controle da produo, e que so
utilizados no clculo do custo do produto. Esses materiais normalmente incluem
embalagem, matria-prima, ferramentas consumidas, dentre outros.
CLEMENT et al. (1992) enumeram tambm diversos problemas encontrados
quando uma BOM no precisa nem completa:
- contnuo debate sobre essas informaes;
- ms decises baseadas em informaes incorretas;
- incapacidade de tomar decises devido a informaes pobres ou devido a sua
inexistncia;
- mau planejamento e execuo das atividades relacionadas;
- falta de credibilidade nos sistemas de informao.
24
ELSTER (1996) acrescenta a esses problemas os custos decorrentes da falta
de preciso na BOM:
- atrasos nas entregas;
- excesso de inventrio ou falta de itens;
- uso ineficiente dos recursos;
- aumento dos custos de produo;
- frustrao dos empregados e baixo moral;
- perda da integridade da configurao do produto.
ELSTER (1996) e GARWOOD (1995) descrevem alguns mtodos para
auxiliar na medio da acuracidade da BOM, os quais devem ser utilizados por um
time multifuncional que envolva os principais usurios da BOM:
- montar um produto ou componente de acordo com as informaes da BOM;
- monitorar qualquer item com sada ou entrada em quantidade diferente da
planejada no estoque;
- observar os excessos de inventrio, os quais podem estar indicando que um
processo est sendo mais suprido do que o necessrio;
- desmontar um produto ou componente e confrontar com os itens requeridos pela
BOM;
- calcular o custo acumulado de todos os materiais utilizados na fabricao do item
usando a BOM (cost roll-up), e compar-lo com o custo real;
- ficar atento ao feedback do cho-de-fbrica;
- revisar as informaes armazenadas (arquivos mestre de item, planos de
processo, BOM, etc.).
GARWOOD (1995) destaca ainda que em ambientes com poucos pontos de
estoques de itens intermedirios (principalmente quando o Just in Time est
implantado) ou com BOMs achatadas (assunto que ser discutido posteriormente)
mais difcil atingir altos ndices de preciso.
25
Por exemplo, se um produto com uma BOM de um nvel e 100 itens possui
apenas um componente errado, significa que a sua preciso zero. Entretanto,
considere agora um outro produto que possui nove componentes cada qual com mais
10, num total de 10 BOMs de um nvel e 100 itens. Se um componente estiver
errado, a acuracidade passar a ser 90%. Dessa forma, nota-se que quanto mais
achatada a BOM, eliminado nveis desnecessrios, mais difcil atingir os 100%
de preciso (GARWOOD 1995).
Por outro lado, GIANESI et al. (1997) discutem que o valor de 98% uma
medida simblica, visto que quando se pensando num processo de melhoria contnua,
qualquer valor diferente de 100% ser considerado inadequado. Acrescenta ainda que
qualquer erro de preciso implicar em maior incerteza nas atividades de
planejamento e nas tomadas de deciso, resultando, por exemplo, em maiores
estoques e atrasos nas entregas.
2.1.3 Estrutura de produto achatada
A BOM mais simples possvel a de dois nveis, um com as matrias-primas
e itens comprados, e outro com o produto final. A nica razo para a criao de mais
nveis so as necessidades do planejamento e controle da produo (PCP), como por
exemplo a criao de submontagens ou itens intermedirios que precisam ser
estocados (GARWOOD, 1995). Outras necessidades, como a estrutura de desenhos,
devem ser conciliadas com as do PCP.
GUESS (1985) apresenta alguns valores de referncia para o nmero de
nveis que uma BOM deve ter:
- 3 a 5 nveis vo satisfazer as necessidades de representao da maioria dos
produtos manufaturados;
- 6 a 8 nveis s so justificveis para os produtos mais complexos;
- mais de 9 nveis significa uma aplicao inadequada dos nmeros de
identificao e de suas relaes de pai/filho, e/ou que esses nmeros de
identificao esto sendo aplicados no lugar de nmeros de operao do plano de
processo.
26
Toda BOM com mais de dois nveis deve ser revisada para identificar
oportunidades para ela ser achatada (traduo livre do ingls flattened ou shallow
bill of material). No processo de achatar e simplificar a BOM deve-se ter sempre
em mente que a BOM precisa representar os processos de manufatura necessrios
para a produo do produto final, e no o contrrio (GARWOOD, 1995).
Para auxiliar o processo de achatamento, ELSTER (1996) desenvolveu um
checklist para identificar nveis da BOM que possam ser eliminados ou modificados:
- Quantos nveis esto includos na BOM?
- Existem informaes suficientes para todos os usurios?
- Existem informaes que deveriam estar no plano de processo?
- Ela representa os processos de manufatura?
- Ser produzido um produto que vai de encontro ao projeto da engenharia?
- amigvel ao usurio?
- Algum nvel foi criado para auxiliar atividades como custeio, planejamento da
capacidade, identificao de refugo (scrap) ou status do WIP (Working in
Process) (todos so candidatos potenciais para eliminao)?
Segundo ainda ELSTER (1995), as empresas de manufatura precisam
achatar as suas BOMs, uma vez que as vantagens resultantes so inmeras:
reduo na movimentao de materiais, menos BOMs para dar manuteno, menos
erros na entrada de dados, reduo do lead time, reduo do nmero de transaes de
inventrio e ordens de produo, menos espao necessrio para armazenamento no
computador e melhoria no tempo de resposta, reduo do inventrio, reduo nas
atividades administrativas, etc.
Maiores detalhes e exemplos de aplicao da BOM achatada podem ser
encontrados em ELSTER (1996) e em GARWOOD (1995).
Por fim, CLEMENT et al. (1992) acrescentam que a tcnica de DFA (Design
for Assembly) tambm pode ser aplicada no processo de achatamento da BOM.
O DFA uma anlise quantitativa do projeto do produto com base no nmero
de componentes e na facilidade de montagem, bem como uma metodologia para a
27
reduo de custos atravs da simplificao do processo de montagem (BRALLA,
1986). Assim, por meio da combinao e eliminao de itens, essa tcnica contribui
para a reduo de nveis da BOM.
2.1.4 Perfis
O perfil da BOM determinado por meio da exploso das configuraes
possveis para o produto final em todos os seus componentes, isto , submontagens,
componentes intermedirios, matrias-primas e itens comprados, sendo todas as
relaes pai/filho demonstradas. importante destacar que a habilidade da empresa
em gerenciar as informaes e a produo de qualquer produto final comea na
identificao do perfil da sua BOM (GUESS, 1985).
Apesar de existir uma grande variedade de produtos e/ou famlias de produtos
com diferentes quantidades de itens e nveis, existem diversas similaridades entre
seus perfis, os quais podem ser divididos em quatro grupos distintos, conforme a
FIGURA 9.
Produto final
Item compradoMatria-prima A B C D
nvel de menor variao na configurao
FIGURA 9 - Perfis de estrutura de produtoAdaptado de GUESS (1985) e CLEMENT et al. (1992)
A BOM com perfil A representa produtos com uma variedade muito pequena
de itens finais produzidos a partir de um nmero tambm muito pequeno de matrias-
primas e itens comprados. O perfil B possui tambm poucas configuraes possveis
para o produto final, entretanto a partir de um nmero maior de itens iniciais e
intermedirios. Nesses dois tipos de perfil, a configurao do item final
essencialmente sempre a mesma.
28
O perfil C eqivale a um produto com uma larga variedade de configuraes
finais produzidas a partir de um limitado nmero de itens intermedirios. Segundo
CLEMENT et al. (1992), um caso tpico de produto com esse perfil de BOM o
automvel, para o qual pode ser combinada uma variedade de opes (cor, motor,
acabamento, equipamentos, rodas, pneus, etc.), resultando num grande nmero de
configuraes possveis para o produto final.
Por fim, o perfil D representa um produto tambm com uma larga variedade
de configuraes finais, entretanto produzido a partir de um pequeno nmero de itens
comprados e matrias-primas. Segundo CLEMENT et al. (1992), os produtos da
indstria txtil normalmente possuem esse tipo de perfil de BOM. Por exemplo,
centenas de camisetas com estilos e cores diferentes podem ser fabricadas a partir de
algumas variedades de tecidos e tinturas.
Em contraste com os dois tipos apresentados inicialmente, os perfis C e D
representam famlias de produtos com grande variedade de configuraes possveis
para o item final.
A variao da largura ao longo dos perfis da FIGURA 9 representa a variao
relativa na quantidade de configuraes possveis em cada um dos nveis da BOM. A
seo mais estreita desses perfis representa o nvel de menor variao de
configurao. A habilidade de planejar e controlar o produto ao longo do seu
processo de manufatura expandida quando o nvel de menor variao de
configurao focado. As implicaes dessa abordagem sero discutidas com mais
detalhes quando forem apresentadas as arquiteturas modular e de planejamento para
a BOM.
2.1.5 Pseudo itens e fantasmas
Os itens fantasmas e pseudo itens so dois tipos especiais de item que
auxiliam as empresas de manufatura no seu objetivo de transformar a BOM numa
representao dos seus processos e produtos.
Segundo CLEMENT et al. (1992), itens fantasmas so aqueles produzidos no
processo de manufatura, possuindo pais definidos, porm no so tipicamente
29
estocados. Apesar de existirem fisicamente, so rapidamente consumidos como
componentes do item de nvel imediatamente superior na BOM. Os softwares de
MRP geralmente reconhecem os itens fantasmas, e planejam suas necessidades,
entretanto esses itens no so programados, e de regra possuem lead time zero. Essa
regra estabelecida porque os itens fantasmas s so fabricados quanto de fato forem
requisitados para a montagem do item no nvel imediatamente superior.
Um exemplo de item fantasma a submontagem de um eixo com pinho e
um par de rolamentos. Esse item consumido rapidamente na linha de montagem de
um redutor. Por que criar um fantasma para essa submontagem? Um motivo o
inventrio residual que essa submontagem pode ter, o qual surge quando a
quantidade de redutores a ser montada reduzida devido ao ndice de refugo acima
do previsto de algum de seus componentes. Uma vez identificado, o inventario
residual pode ser considerado num prximo planejamento de necessidades.
GARWOOD (1995) acrescenta que medida que os conceitos de Just in
Time (JIT) so incorporados nos processos de produo, a questo do inventrio
residual reduzida e a necessidade por itens fantasmas minimizada.
Segundo APICS (1992), um pseudo item um coleo artificial de
componentes que so agrupados para propsitos de planejamento. Ao contrrio dos
itens fantasmas, entretanto, os componentes do pseudo item no podem ser
manufaturados juntos para produzir um item pai que exista fisicamente. Por essa
razo os pseudo itens nunca possuem inventrio.
Um exemplo de pseudo item so os itens comuns de uma famlia de produtos.
Durante a programao mestre da produo (MPS Master Production Schedule),
esses itens utilizados em todas as configuraes so agrupados e tero previso igual
a 100% dos produtos vendidos.
No caso de uma linha de carros em que as rodas, os bancos e os vidros so
comuns a todos os modelos, esses itens, apesar de no poderem ser montados juntos,
seriam componentes de um mesmo item pai (um pseudo item) numa BOM de
planejamento (assunto a ser discutido na seo 2.1.6.1). Como esses itens sero
montados em todos os modelos fabricados, a previso da quantidade necessria ser
igual ao nmero de carros que se espera vender.
30
Segundo GUESS (1985), os itens fantasmas aumentam a flexibilidade de
configurao dos itens finais sem penalizar os custos com inventrio. O maior
problema entretanto o aumento do nmero de nveis da BOM, prejudicando a
constante busca por uma BOM mais achatada.
2.1.6 Arquiteturas
De acordo com as caracterstica de cada tipo de negcio e produto, a BOM
pode assumir diferentes arquiteturas, alm da estrutura multinvel tradicional j
apresentada. Apesar da nomenclatura utilizada variar bastante na literatura sobre o
assunto, a utilizada abaixo uma adaptao das classificaes utilizadas por APICS
(1992), CLEMENT et al. (1992), GARWOOD (1995) e GUESS (1985).
2.1.6.1 Estrutura de produto modular e de planejamento
Conforme visto na FIGURA 9, a BOM pode ter diferentes perfis. Algumas
empresas oferecem um reduzido nmero de configuraes para seus produtos finais.
Dessa forma, podem fazer a previso de vendas e o planejamento mestre de produo
(MPS Master Production Schedule) no nvel de produtos finais, uma vez que esse
o nvel de menor variao na configurao, mantendo uma BOM para cada um
desses produtos.
Entretanto, com o aumento da competitividade mundial, o mercado
consumidor passou a exigir um tratamento individualizado, fazendo com que as
empresas, entre outras medidas, oferecessem produtos com uma grande variedade de
configuraes possveis (os dois perfis direita da FIGURA 9), para assim tentar
atender s necessidades e desejos especficos de cada cliente. Neste novo cenrio, a
modularidade do produtos passou a ser uma importante vantagem competitiva
(FEITZINGER & LEE, 1997).
De acordo com BALDWIN & CLARK (1997), modularidade a capacidade
de se construir um produto ou processo complexo a partir de subsistemas menores
(chamados mdulos), os quais podem ser projetados independentemente e ainda
assim funcionar juntos como um todo.
31
Segundo ORLICKY (1972) e GARWOOD (1995), se um produto possui
muitas opes de escolha de itens, o nmero de combinaes possveis tornam-se
muito grande, dificultando a previso de vendas e o planejamento mestre de
produo de cada item final. Alm disso, se for mantida uma BOM para cada
configurao diferente do produto, o espao requerido pode ser muito grande,
envolvendo altos custos de armazenagem e manuteno.
GARWOOD (1995) comenta que apesar de parecer bvio, muitas pessoas
esquecem que os computadores tm uma capacidade finita de armazenamento.
A soluo para este problema a utilizao da BOM modular. Ao invs de se
manter uma BOM para cada produto final possvel dentro de uma famlia, so
identificadas as opes para cada um dos seus componentes, as quais so organizadas
em mdulos. Essa anlise deve ocorrer no nvel de menor variao na configurao,
reduzindo assim o nmero de itens manipulados na previso de vendas e no
planejamento mestre de produo.
Os itens comuns podem ser agrupados em pseudo itens, uma vez que so uma
coleo artificial de componentes que no podem ser utilizados na fabricao ou
montagem do item pai, sendo criados apenas com propsitos de planejamento. Esses
itens estaro sempre presentes na BOM, independente das outras opes escolhidas.
Segundo GARWOOD (1995), achar itens comuns deve ser considerado um bnus e
no uma necessidade durante o processo de modularizao.
Ainda segundo GARWOOD (1995), outra razo para utilizar a BOM modular
acontece nos casos em que o lead time de manufatura maior do que o lead time de
entrega aceito pelo consumidor. Nesses casos, a modularizao pode suportar a
implantao da estratgia de estoque assemble-to-order, reduzindo o tempo entre a
entrada do pedido do cliente e a entrega. A previso de vendas feita no nvel dos
mdulos, os quais so fabricados e estocados. Quando ocorre um pedido do cliente, a
configurao desejada produzida utilizando-se os mdulos previamente preparados.
FEITZINGER & LEE (1997) acrescentam que a abordagem modular
possibilita que as atividades de diferenciao dos produtos para um pedido especfico
do cliente sejam adiadas at o ltimo momento possvel dentro da cadeia de
fornecimento, obtendo-se assim os diversos benefcios inerentes a essa prtica.
32
Para ilustrar os conceitos apresentados, discutido a seguir um exemplo de
aplicao adaptado de MATHER (1986).
Uma fbrica fictcia de guindastes oferece o seu produto com diferentes
configuraes possveis, FIGURA 10, o cliente pode optar entre 10 variedades de
motor, 10 de tambor, 4 de redutor e 2 de controle, sendo o gancho padro para todos
os produtos dessa famlia, e no havendo conflito de projeto entre nenhuma das
opes.
TAMBOR10 variedades REDUTOR
4 variedadesMOTOR
10 variedades
GANCHOpadro
CONTROLE2 variedades
FIGURA 10 - Configuraes possveis do guindaste (MATHER, 1986)
Essa fbrica tem encontrado um problema. Os clientes querem que os
guindastes sejam entregues no mximo 8 dias aps a entrada do pedido de compra.
Entretanto o lead time total para a produo dos guindastes de 22 dias. Logo a
empresa precisa comear a produzir o guindaste antes do pedido.
Por outro lado, impossvel para a empresa trabalhar com o conceito de
make-to-stock no nvel dos produtos finais, pois precisaria fazer uma preciso de
vendas para as 800 configuraes diferentes possveis (10 motores x 10 tambores x 4
redutores x 2 controles x 1 gancho), contra uma demanda mensal de apenas 50
guindastes. A conseqncia seria um alto nvel de inventrio e uma baixa preciso
nas previses feitas.
Alm disso, a empresa mantinha uma BOM para cada um dos itens finais,
exigindo um grande espao para armazenamento e um grande esforo de
manuteno. Se o gancho usado fosse substitudo por outro, todas as BOMs teriam
33
que ser alteradas. Ou se fosse adicionada mais uma opo de gancho, o nmero de
BOMs dobraria.
Entretanto, pode-se observar que todos os 50 guindastes produzidos
mensalmente possuem sempre o mesmo gancho. Prever a quantidade mensal de cada
um dos dois controles numa demanda de 50 tambm no um problema difcil.
Aplicando-se a mesma lgica para cada elemento projetado reduz-se o problema de
previso de 800 itens finais para apenas 27 variantes (10 motores + 10 tambores + 4
redutores + 2 controles + 1 gancho), que um nmero muito mais aceitvel e fcil de
gerenciar. Adiciona-se a isso o fato do item com maior variantes possuir apenas 10
possibilidades.
Esse raciocnio nada mais do que pensar o produto e sua BOM como
modulares, nos quais as variantes apresentam-se como opes a serem escolhidas
pelo cliente. Outro benefcio dessa abordagem a reduo do nmero de BOMs que
deve ser gerenciada, e conseqente reduo do espao para armazenamento e do
esforo de manuteno. A FIGURA 11 apresenta a BOM antes e depois da
modularizao.
op. 1
op. 10
...op. 1
op. 10
...op. 1
op. 4
...op. 1
op. 2
1x
GUINDASTE1x1x 1x
MOTOR COMUMCONTROLETAMBOR REDUTOR
gancho1x
FIGURA 11 - Modularizao da estrutura de produto do guindaste
34
A definio do nvel da BOM no qual ser realizada a modularizao depende
do lead time de entrega que a empresa vai oferecer a seus clientes e das
caractersticas do produto e seus componentes.
A modularizao da BOM tambm permitiu empresa trabalhar com o
conceito de assemble-to-order para o produto final, e atender os clientes dentro do
prazo que eles desejam. A FIGURA 12 mostra os lead times de produo dos
componentes e de montagem do guindaste. Antes da modularizao, devido
incerteza de previso, ou a empresa mantinha altos nveis de estoque para atender o
cliente dentro do prazo desejado por ele, ou demorava 22 dias para atend-lo. Agora,
os componentes motor, controle, tambor, gancho e redutor tm sua demanda prevista
e produzida para estoque, sendo o produto final montado a partir das opes
escolhidas no pedido do cliente.
GUINDASTE
MOTOR
GANCHO
CONTROLE
TAMBOR
REDUTOR
LT = 5 dias
LT: 7dias
LT = 6 dias
LT = 10 dias
LT = 15 dias
LT = 8 dias LT: lead time
FIGURA 12 - Lead times para a produo do guindaste
Como ferramenta auxiliar BOM modular nas atividades de previso de
vendas e programao mestre da produo (MPS), foi criada a estrutura de produto
de planejamento, a qual apresenta apenas o produto e o nvel com as opes
disponveis para os componentes. A cada opo do item associada a porcentagem
do seu mix de produo.
35
Segundo GARWOOD & RICE (1996), como no necessrio fazer a
previso para todas as opes de um componente, algumas podem ficar fora da BOM
de planejamento. Por exemplo, se um componente possui 5 opes, mas 3 esto
disponveis em um lead time curto que no compromete a concluso do produto
final, a previso pode ser realizada apenas para as outras 2 opes.
Um exemplo de BOM de planejamento para o guindaste apresentada na
FIGURA 13. Os itens comuns sempre tero previso de 100%. Caso existam dois ou
mais itens comuns a serem planejados, estes sero agrupados num pseudo item, visto
que compem uma coleo artificial de componentes. MATHER (1986) sugere que
sejam adicionadas s porcentagens coeficientes de segurana para diminuir o efeito
dos erros inerentes a uma previso.
op.1=13%
op.10=8%
...op.1=9%
op.10=7%
...op.1=27%
op.4=18%
...op.1=70%
op.2=40%
GUINDASTE
MOTOR COMUMCONTROLETAMBOR REDUTOR
gancho(100%)
FIGURA 13 - Estrutura de produto de planejamento do guindaste
MATHER (1986) destaca a importncia de utilizar a BOM modular e de
planejamento como integradores das atividades de previso de vendas, programao
mestre da produo e projeto. Desde a fase de criao do produto deve-se pensar na
estrutura modular voltada para a reduo de nveis, nmero de componentes e lead
time.
CLEMENT et al. (1992) ponderam que apesar de algumas empresas
utilizarem uma estrutura geral que contm todos os componentes possveis para seu
produto modular, na qual so acrescentados e retirados itens de acordo com o pedido
do cliente, essa no uma prtica recomendada, uma vez que no permite uma
previso de vendas acurada e oferece um controle de configuraes pobre.
36
De forma resumida, pode-se dizer que a BOM modular indicada em trs
situaes:
- lead time acumulado de manufatura excede lead time de entrega aceito pelo
cliente;
- impraticvel planejar e prever no nvel do item final;
- o nmero de configuraes oferecidas compromete o armazenamento e a
manuteno eficiente das informaes.
Diversos autores, como CLEMENT et al. (1992), GARWOOD (1995) e
ELSTER (1996), enumeram uma srie de vantagens do uso da BOM modular, as
quais podem ser resumidas em:
- reduo do nmero de BOMs, do espao necessrio para armazenamento e do
esforo de manuteno;
- tempo de resposta melhor, com a reduo do lead time de entrega ao cliente;
- reduo de custos e inventrio;
- reduo do nmero de itens envolvidos na previso de vendas e na programao
mestre da produo;
- oportunidade para repensar porque a empresa oferece determinado nmero de
opes;
- maior facilidade para gerenciar produtos configurveis e controlar as mudanas
de engenharia;
- entrada de pedidos mais fcil, rpida e com menor probabilidade de erro quando
apoiada por um sistema de configurao do produto.
CLEMENT et. al. (1992) destaca que para obter todas essas vantagens, a
empresa precisa compreender que existiro implicaes potenciais e estas devem ser
gerenciadas ao decidir-se por implantar a BOM modular. Por exemplo, o material de
divulgao e de configurao do produto utilizado em vendas deve ser repensado
para refletir essa forma de se enxergar o produto.
37
Por fim, CLEMENT et. al. (1992) sugere os passos que devem ser seguidos
quando se modulariza a BOM7:
- selecionar um produto representativo de cada famlia, e esquematizar o processo
de manufatura com lead time para os mltiplos nveis de cada produto;
- discutir e entender quando encontrar o cliente (lead time de entrega competitivo
versus lead time acumulado na manufatura);
- decidir as estratgias de estoque (make-to-stock, make-to-order, assemble-to-
order ou engineer-to-order);
- para produtos assemble-to-order, desenvolver a BOM modular e de
planejamento:
a) determinar peas e componentes comuns a todos os produtos da
famlia;
b) determinar componentes que dependem da opo de produto;
c) identificar quais desses componentes so utilizados em mais de
uma opo (avaliar a possibilidade de reprojeto para eliminar
diferenas) ;
d) desenvolver a previso de venda de opes de produto em
porcentagens;
e) identificar oportunidades para reduzir o nmero de nveis da
BOM;
- estabelecer que a manuteno da BOM de planejamento responsabilidade
conjunta da programao mestre da produo, vendas e marketing;
- desenvolver o processo de entrada de uma nova ordem de produo,
principalmente o processo de configurao do produto durante a venda;
- assegurar a integrao das BOMs existentes na empresa com o objetivo de
alcanar uma BOM nica para a empresa.
7 As estruturas de produto para informao podem ser utilizadas para auxiliar alguns dospassos propostos.
38
Esta seo apresentou os principais conceitos relacionados com a
modularizao da BOM. Discusses complementares podem ser encontradas em
vrios trabalhos sobre o tema. A seguir encontram-se os resumos de alguns desses
trabalhos.
KNEPPELT (1984) e PROUD & GOINS (1993) revisam os principais
conceitos relacionados com a BOM modular e a de planejamento, discutindo a
aplicao no contexto da programao mestre da produo (MPS) e das estratgias
de estoque, bem como apresentam os principais benefcios obtidos com a sua
implantao.
EDELMAN (1990) apresenta uma metodologia para a modularizao da
BOM, discutindo passo a passo a sua aplicao em um produto exemplo.
apresentado tambm um checklist para verificar se uma BOM foi modularizada
adequadamente.
GRAUF & LEIGHTON (1990) discutem os pontos que precisam ser
considerados para se garantir o sucesso da implantao da BOM modular. tambm
apresentado um estudo de caso com o objetivo de discutir cronologicamente uma
implantao.
KERBER JUNIOR (1990) discute a reestruturao da BOM, incluindo a
reduo do nmero de nveis, o aumento da preciso e a modularizao, para a
implantao da filosofia de JIT em uma fbrica de bicicletas e cortadores de grama.
REED (1990) discute em seu trabalho como o conceito de BOM modular
pode ser aplicado para a empresa alcanar os seus objetivos de reduo de custos, do
inventrio, e do tempo de resposta aos pedidos do cliente.
GERTH (1992) discute a aplicao da BOM de planejamento para um
produto especfico, o qual consiste em uma montagem que customizada para o
cliente em funo da dimenso de um dos seus componentes.
Segundo BROOKS (1993), as empresas tendem a no enxergar elementos
bsicos da manufatura como ferramentas para melhorar as atividades de
planejamento e controle da produo. Neste sentido, ele apresenta o estudo de caso
39
de trs empresas que aperfeioaram os seus processos de manufatura desenvolvendo
aplicaes com o MPS e a BOM.
Num trabalho conjunto com a APICS, STONEBRAKER (1996) pesquisou
quantitativamente os benefcios obtidos pelas empresas da Califrnia que
reestruturaram as suas BOMs para a arquitetura modular. Entre as suas concluses,
verificou que as empresas que atuam em mercados mais competitivos e dinmicos
so as maiores usurias dessa abordagem.
2.1.6.2 Estrutura de produto genrica
A estrutura de produto genrica uma aplicao do conceito de BOM
modular para as atividades de vendas tcnicas e controle de configuraes, assim
como a BOM de planejamento uma aplicao para previso de vendas e
programao mestre da produo.
STONEBRAKER (1996) observa que aplicaes para a configurao de
produtos so uma extenso natural do conceito de BOM modular. Ao invs de
mdulos predefinidos, com os usados na BOM modular, o configurador pode utilizar
algoritmos, regras e condicionais para selecionar e calcular os componentes de um
produto e seus requisitos de manufatura.
ARIANO & DAGNINO (1996) acrescentam que os configuradores de
produto possibilitam a automao do processo de entrada de pedidos do cliente. O
que ocorre no s pela definio de um produto que seja vivel tanto fsica quanto
funcionalmente, mas tambm pelo clculo do oramento para o produto configurado.
Segundo VAN VEEN & WORTMANN (1987), assim como uma BOM
especfica descreve exatamente um produto, a BOM genrica descreve uma
variedade de produtos (conceito de BOM modular). A BOM genrica no pode ser
utilizada diretamente para propsitos de planejamento e manufatura. Ela apenas um
frame para a criao de BOMs especficas no momento necessrio, geralmente
durante a entrada do pedido do cliente.
40
A FIGURA 14 ilustra a BOM genrica de uma cadeira montada a partir dos
componentes assento, pernas e encosto. Para as tapearias tanto do assento quanto do
encosto pode-se optar pelas cores azul e vermelho.
cadeira
pernas
vermelho
azul
vermelho
azul
estrutura tapearia tapearia estrutura
4x1x 1x
1x 1x 1x 1x
item especfico
item genrico
assento
BOM de um nveldo item assento
BOM de um nveldo item cadeira
encosto
FIGURA 14 - Estrutura de produto genrica de uma cadeiraAdaptado de HEGGE & WORTMANN (1991)
Nesta BOM genrica podem ser identificados dois tipos de itens, os
especficos e os genricos, os quais correspondem, respectivamente, a itens sem e
com opes de escolha. A estrutura e a perna so exemplos de itens especficos.
A tapearia um item genrico direto, porque representa um grupo limitado
de opes. A cadeira, o assento e o encosto so itens genricos indiretos, uma vez
que no possuem opes, mas pelo menos um dos seus componentes so itens
genricos.
Para se gerar uma BOM especfica da cadeira exemplo, basta configurar a
genrica a partir da escolha entre as opes azul e vermelho para a tapearia do
assento e do encosto.
VAN VEEN & WORTMANN (1987) acrescentam, entretanto, que podem
existir algumas combinaes de opes que geram produtos que no podem, ou no
devem, ser manufaturados por razes tcnicas ou de outro tipo. Nesses casos, a BOM
genrica surge como uma poderosa ferramenta para controle de configurao.
41
Esse controle pode ser feito por meio de regras (p. ex.: lgica booleana ou
estruturas do tipo IF-THEN) e frmulas (p. ex.: para se determinar a quantidade de
um item em funo de outro) consideradas durante o processo de configurao. Por
exemplo, na FIGURA 14 a escolha da cor do encosto pode ser uma funo da cor do
assento, como apresentado abaixo:
IF cor_tapearia_assento = azul THEN cor_tapearia_encosto = azul
IF cor_tapearia_assento = vermelho THEN cor_tapearia_encosto =
vermelho
Em produtos complexos com diversas possibilidades de configurao, como
um carro, a BOM genrica torna o processo de configurao mais rpido e com
menor possibilidade de erro.
Por fim, VAN VEEN & WORTMANN (1987) apresentam trs passos
fundamentais a serem considerados durante a implementao do controle de
configurao e da BOM genrica:
- escolher as caractersticas que sero oferecidas como comuns (igual em todos as
configuraes), mandatrias (a escolha de uma de suas opes obrigatria) ou
opcionais (caracterstica pode estar presente ou no no produto);
- selecionar que valores essas caractersticas podem assumir;
- estabelecer as relaes de dependncia entre essas caractersticas, visando a
implementao de regras e frmulas.
Discusses complementares sobre pontos especficos relativos BOM
genrica e exemplos da aplicao prtica desse conceito em configuradores de
produto podem ser encontrados nos trabalhos resumidos abaixo.
VAN VEEN & WORTMANN (1992a), VAN VEEN & WORTMANN
(1992b) e HEGGE (1992) detalham nesta seqncia de artigos a implementao de
um sistema para o processamento da BOM genrica, isto , um programa para a
organizao, manuteno e recuperao de suas informaes.
VLIST et al. (1997) discutem a importncia da BOM genrica como
ferramenta para implantao de um sistema MLSC (Multi-level Supply Control), o
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qual possibilita que um produto e seus componentes sejam diferenciados, para
atender a pedidos especficos, o mais tarde possvel dentro da cadeia de
fornecimento. apresentado o estudo de caso de um fabricante de caminhes e seu
fornecedor de bombas de combustvel.
Segundo GARWOOD & RICE (1996), um configurador automtico a
ferramenta mais popular para ligar a BOM modular com a entrada de pedidos do
cliente. Neste sentido, os autores apresentam os passos que devem seguido no
processo de modularizao de uma BOM para suportar a implantao de um
configurador de produtos.
RAEKER (1994) apresenta os tipos bsicos de configuradores de produto
existentes, discutindo suas caractersticas principais, qual o mais adequado para
cada ambiente, bem como suas vantagens e desvantagens.
IEMMOLO (1993) discute a implantao d