Post on 19-Jun-2015
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As personas
do educador
“A persona carrega em relação ao conceito de personagem, um maior grau de fugacidade, transitoriedade”
Jacob Guinsburg
O educador-‐artesão, que cria aulas como
obras de arte
“Não quero nem faca nem queijo, quero fome”
Adélia Prado
Paulo Freire, ao invés de fome falava em curiosidade, que seria por si, conhecimento.
Segundo ele, é necessário que o aluno mantenha em si o gosto da rebeldia que, aguçando sua curiosidade, esFmule sua "capacidade de arriscar-‐se, de aventurar-‐se”.
A curiosidade inicial, ingênua, deveria ser transformada em curiosidade críFca, epistemológica, cienLfica.
Construindo caminhos para que o aluno, em um dado momento, se dê conta: “Ops, aprendi!”.
O educador-‐mestre zen, que educa por sofismas
O garoto vinha caminhando pela estrada, quando viu o velho na ponte.
Quando o menino ia passando, o velho Frou a sandália do pé direito e a aFrou lá embaixo, nas pedras à beira do rio. E disse:
"-‐ Vá apanhar minha sandália."
O garoto desceu e apanhou a sandália. O velho falou:
"Você sabe das coisas. Quer aprender a arte da guerra? Então esteja aqui amanhã, quando a cor da água do rio passar da cor da asa do estorninho passar para a cor do nenúfar.”
O garoto vai para casa e na manhã seguinte reencontra o velho, insaFsfeito, que diz:
"Esteja aqui amanhã quando a voz do vento deixar de dizer adeus e começar a dizer venha”.
O garoto fica confuso e não consegue dormir.
Em certo momento, ainda noite, dirige-‐se à ponte e mais uma vez encontra o mestre insaFsfeito:
“Você não aprende mesmo, hein? Vou te dar uma úlFma chance: decida você mesmo quando deve vir.”
Dessa vez Baita espera os pais dormirem e imediatamente se dirige à ponte.
Espera por cerca de uma hora até que o velho surge, saFsfeito. Nesse momento, Baita ouviu o vento dizendo venha.
"O que devo fazer?" – perguntou.
"Quem quer ser mestre da arte da guerra não pergunta aos outros o que deve fazer. O que é que você acha que deve fazer?"
"Quero ir com você."
"Vamos embora. O caminho é longo. O tempo é curto. Precisa ser rápido. Muito rápido.”
Paulo Leminski, Guerra Dentro da Gente.
“A única coisa que um mestre pode ensinar
é como você mesmo pode aprender”
Alejandro Jodorowski, cineasta
O educador-‐aprendiz-‐de-‐mestre zen-‐dos
trópicos, afetuoso em seu próprio limite
“Ensinar exige alegria, esperança e querer bem aos aprendizes”
Paulo Freire
"Para as crianças, não sou autoridade que temam. Sou igual a elas. Não há perigo em armar barulho com uma criança, quando o fazemos em termos de liberdade."
Alexander Neill, diretor da escola Summerhill
“É necessário que o objeto de nossa experiência seja sempre triste? Ela jamais será privada do espírito, se nós permanecermos jovens.”
Walter Benjamim
“Não é certo, sobretudo do ponto de vista democráFco, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e cinzento me ponha nas relações com meus aprendizes. (...)O que não posso obviamente permiFr é que minha afeFvidade interfira no cumprimento éFco de meu dever de professor no exercício da minha autoridade.”
Paulo Freire
O educador pode ser um parceiro do aprendiz na construção de seu processo de aprendizado, mas sem criar uma relação de dependência.
O próximo papel na vida de um aprendiz é estar ausente.
A habilidade mais importante que se pode auxiliar o aprendiz a desenvolver é agir com autonomia.
O educador pode estar completamente presente como provocador, como propositor, com atenção e afeto;
E ao mesmo tempo ausente estruturalmente,
justamente e apenas um provocador,
um coadjuvante no processo de construção da autonomia criaFva do aprendiz.
O educador-‐presente, totalmente conectado
com o momento pedagógico
“Qualquer coisa que faça, faça com todo o seu ser. Parece e é uma frase fácil e retórica. Qualquer um pode repeF-‐la. Mas na realidade só existe uma possibilidade: vivê-‐la, ou seja, concreFzá-‐la na ação coFdiana.”
Eugênio Barba
O educador inacabado busca ensinar aquilo que realmente ainda desperta sua paixão.
Não é professor por definição mais do que por escolha coFdiana.
Respeita o local onde ensina como a uma espécie de templo profano, palco teatral,
onde tudo “está animado por uma concentração total de toda sua natureza moral e hsica” (E. Barba),
e onde “tudo pode, mas tem que ver o que funciona”(G. Mohallem).
Cada olhar de um aprendiz é retribuído.
Para conversar, se abaixa na altura do aprendiz.
“Em cena”, parFcipando aFva e visivelmente do processo de aprendizado de seus alunos, provocador, coloca-‐se integralmente.
Quando ocorrem conflitos, os aproveita como ponto de parFda para o debate sobre os temas que indicam – em geral os mais urgentes e conflituosos para o grupo naquele momento. (Preconceito, violência, saúde, etc).
Porque aprender a lidar com os problemas da vida será mais importante pra ele do qualquer resultado técnico que ele possa alcançar.
O educador-‐ausente, que se ausenta para dar
espaço para a autonomia
Nos momentos em que celebra sua ausência, torna-‐se subitamente o mestre ignorante.
Não quer alimentar os alunos de informações, mas de meios para encontrá-‐las.
E para isso desveste-‐se da persona da autoridade sobre o assunto em questão.
Eventualmente, sai da sala.
Observa pela janela.
Atua constantemente como um parceiro de pesquisa, provocando o aprendiz em cada resposta, confundindo-‐o, fazendo com que ele procure a resposta que procura em si mesmo, ou por si mesmo, como se ele – o mestre – também não soubesse por esse momento nenhuma resposta.
IMPORTANTE:
É fundamental saber dosar os momentos de presença e ausência.
O educador peralta, que desorienta por sofismas
Quando sente que o aprendiz está dependendo demais dele, acreditando sem experimentar, buscando respostas fáceis, eventualmente engana os alunos, mente, induzindo-‐os ao erro.
“O que eu fazia com os alunos que era diverFdo. Eu dizia: o que garante pra você que eu estou certo? Eu menFa, às vezes... pra eles saberem eu errava de propósito, pra eles não confiarem mais em mim.. Pra eles pararem de depender também com essa história, pra criar neles isso que eu acho fundamental.”
gUi Mohallem, criador da oficina de Iluminação e Elétrica do InsFtuto Criar
“Aprenda o mais simples! (...) Não se envergonhe de perguntar! Não se deixe convencer! Veja com seus próprios olhos! O que não sabe por conta própria, não sabe! Verifique a conta: você é quem vai pagar. Ponha o dedo sobre cada ítem. Pergunte: o que é isso? Você tem que assumir o comando.”
Bertold Brecht
A primeira lição do jovem Baita, em sua longa viagem ao lado do velho, é surpreendente: depois de muito caminharem chegam a uma estalagem, na qual o velho vende Baita para um circo.
Baita, sozinho, passa a viver alimentando elefantes e Fgres. Observa os animais e aprende com eles. Acaba se tornando amigo de um palhaço, que o convida para fugirem juntos do circo.
Baita supreende-‐se ao descobrir que o palhaço é, em verdade, o velho. Depois da fuga, Baita confronta o velho, querendo saber porque for a vendido como escravo. Sofre do complexo de Daniel-‐San. O diálogo esclarece os objeFvos do velho:
“-‐ Baita. Circo é o melhor lugar do mundo para você aprender sobre a vida. A guerra faz parte da vida. Se você quiser aprender mesmo a arte da guerra, você tem de conhecer a vida. E a vida só se aprende vivendo. O que você já aprendeu?"
"Não aprendi nada."
"Aprendeu sim. “
“Primeiro, aprendeu que não deve confiar em quem você não conhece.
Você confiou em mim, e eu te vendi para o circo.
De agora em diante, você vai ser uma pessoa desconfiada.
Isso é bom para quem quer aprender a arte da guerra.”
Paulo Leminski
O educador em silêncio, que ensina pelo
exemplo
“Mas quando a animação numa grande turma é tão forte que o professor não consegue dirigi-‐la, que o professor não é ouvido, não se deve gritar às crianças e esmagar este espírito?
Se esta animação está ligada ao tema da aula, não se pode desejar nada de melhor.
Se esta animação passou para outro tema, o culpado é o professor que não soube dirigir esta animação.
A tarefa do professor, que quase todos desempenham inconscientemente, consiste em dar constantemente alimento a esta animação e em dar-‐lhe cada vez mais liberdade.”
Leon Tolstói
Por maior que seja o caos instaurado, sempre haverá um pequeno grupo de aprendizes observando o educador e querendo escutar.
Então, ao invés de lutar contra a bagunça, o educador pode silenciar. E em silêncio, aguardar. Sorrir. Observar os jovens.
O movimento, em geral, é viral: dois alunos comentam que o educador está em silêncio e aos poucos dissemina-‐se a ideia de silenciar para escutá-‐lo.
O educador em movimento, que
interage a par@r da observação
“A criança e o homem aprendem só num estado de espírito de excitação, por isso olhar para o espírito alegre da escola como para um inimigo, como para um obstáculo, é um erro terrível
que cometemos muito freqüentemente.”
Leon Tolstoi
A quanFdade de energia que cada jovem possui é muito variada: alguns são mais agitados nas primeiras horas do dia e outros no mesmo período ainda estão acordando.
O mesmo vale para tarde e noite: alguns alcançam seu ápice de desempenho em um desses períodos e outros já estão sonolentos e cansados depois trabalho ou estudo.
O educador pode detectar essa variedade energéFca, parFndo de uma auto-‐avaliação, e seguindo para uma observação secundária dos elementos visíveis do grupo de aprendizes.
E, antes de dar início à situação de aprendizagem planejada, pode re-‐avaliar a adequação de seus planos ao estado de espírito geral da turma – e de si mesmo.
por Moira Toledo D. G. Cirello, 2012
Esta apresentação resume alguns trechos do livro "Metaeducação – despertando o senFdo de aprender" (nome provisório), que ainda estou escrevendo, aprimorando, para futura publicação.
Autorizo a reprodução apenas para usos sem fins lucraFvos, e a menção às ideias com citação da fonte. Agradeço também a genFleza de entrar em contato pra comparFlhar se essa apresentação lhe for úFl!
Muito obrigada!
Moira Toledo toledo.moira@gmail.com @moiratoledo
Desenhos por Helena Musa