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ARBORIZAÇAO URBANA: ESTUDO DE CASO NA AVENIDA PARNAÍBA EM
GOVERNADOR VALADARES – MG
Thiago de Paula Queiroz - Aluno do 5º período do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental
do IFMG, campus Governador Valadares. thiagoqueiroz@outlook.com
MSc. Luiz Fernando Penna - Professor do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG,
campus Governador Valadares.
RESUMO
O conflito da rede elétrica com a arborização urbana vem trazendo a tona um
problema já exposto a muitos anos que nunca foi tratado com a devida
importância. Na cidade de Governador Valadares onde a predominância de
àrvores da espécie Oiti é muito alta, este problema vem causando cada vez
mais consequências tanto a população quanto para os vegetais. Objetivando
apontar as falhas que estão ocorrendo desde o plantio até as podas pela
cidade, é proposto a troca da rede elétrica aérea convencional que existe
atualmente por sistemas compactos protegidos (blindados) e um
procedimento mais adequado de poda das árvores que não cause grande
agressão à estrutura do vegetal.
PALAVRAS-CHAVE: arborização urbana; conflito; redes elétricas;
substituição.
ABSTRACT
The clash of the power grid with urban forestry has brought to light a problem
will have exposed many years, which has never been treated with due
importance. In the city of Governador Valadares where the predominance of
green areas in Oiti species is very high, this problem is causing increasingly
consequences to both populations and vegetables. Aiming to identify the
failures that are occurring from planting to pruning the city, proposed replacing
the conventional air power grid that currently exists to protected compact
systems (armored) or a more appropriate procedure for pruning trees that will
not cause major aggression on plant structure.
KEYWORDS: urban forestry; conflict; power grids; replacement.
1 INTRODUÇÃO
A árvore é o elemento que melhora significativamente o ambiente urbano e seu
conjunto. Nas cidades, exerce funções fundamentais para o equilíbrio do ambiente e
para a manutenção da qualidade de vida, como por exemplo, reduzindo a amplitude
térmica e amenizando o clima, diminuindo os ruídos, filtrando os poluentes,
arborização também atua no sistema hidrológico com a melhoria da infiltração da água
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no solo e o escoamento superficial, além da sua função paisagística, contribuindo para
estética da cidade. Outro papel significativo desempenhado pelas árvores é quanto à
redução do nível de gás carbônico atmosférico, uma vez que elas fixam o carbono
durante a fotossíntese (MCHALE; MCPHERSON; BURKE, 2007). Ou seja, é um
componente fundamental nos projetos urbanos.
Mas na maioria dos casos, as prefeituras deixam de integrar a arborização no
planejamento urbano, permitindo que empresas particulares sem nenhum
conhecimento técnico executem o plantio de espécies que não possuem
compatibilidade com o local e realizem as podas. Milano (1987) define arborização
urbana como o conjunto de terras públicas e privadas, com vegetação
predominantemente arbórea ou em estado natural, que uma cidade apresenta,
incluindo as árvores de ruas e avenidas, parques públicos e demais áreas verdes.
Lima (1994) defende que a arborização urbana compreende espécies arbóreas e
outros vegetais, plantados na cidade, inclusive nas calçadas. Já segundo PEDROSA
(1983) a arborização de vias públicas consiste em trazer para as cidades – pelo
menos simbolicamente – um pouco do ambiente natural e do verde das matas, para
satisfazer às necessidades mínimas do ser humano.
Além das funções que afetam diretamente a vida do homem, a arborização do
ponto de vista ecológico é de suma importância. Através dela, pode-se salvar e
guardar a identidade biológica da região, preservando ou cultivando as espécies
nativas. São elas também que oferecem abrigo e alimentação à fauna local e desta
forma protegem o ecossistema como um todo.
Contudo, arborizar uma cidade sem critérios traz prejuízos para população e as
autoridades (POSSEBON; DIAS e FLORES, 1999).
Segundo Oliveira (2012), as árvores plantadas nas cidades necessitam ter o
entorno permeável, seja na forma de canteiro, faixa ou piso drenante, permitindo a
infiltração de água e aeração do solo. As dimensões desta área permeável, quando a
largura do calçamento permitir, deverão ser no mínimo 2,0 m² para árvores de copa
com diâmetro médio de 4,0m e de 3,0 m² para árvores de copa com diâmetro em torno
de 8,0m. Ainda de acordo com Oliveira (2012) as árvores deverão ser plantadas de
forma que suas copas não venham a interferir na iluminação pública. O
posicionamento das árvores nos calçamentos é fundamental para evitar transtornos
aos moradores e aos vegetais. Desta forma, deve-se obedecer aos seguintes critérios:
As calçadas com largura igual ou superior a 1,50m e inferior 2,40m, as
árvores deverão estar a uma distância mínima de 0,30cm, sendo esta
medida entre o eixo central do tronco e o meio fio (guia do calçamento);
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O posicionamento da árvore em calçamentos com largura igual ou superior
a 2,40m deverão estar a uma distância de 0,60cm, sendo esta medida
entre o eixo central do tronco e o meio fio (guia do calçamento);
Nos locais arborizados, o projeto lumino-técnico deve respeitar as
árvores, adequando postes e luminárias às condições locais. Nos
locais não arborizados e sem iluminação, deverá ser elaborado o projeto
lumino-técnico pelos órgãos envolvidos, juntamente com os projetos
integrados.
Oliveira (2012) ainda diz que o não seguimento de normas como estas citadas
anteriormente e o mau planejamento deste tipo de situação causa futuros transtornos
à população local, causando prejuízos como rompimento de fiação de energia elétrica
e telecomunicação, entupimento de calhas, danos às redes subterrâneas de água e de
esgoto, obstáculos para circulação e acidentes envolvendo pedestres, veículos ou
edificações.
As cidades foram crescendo, na maioria das vezes de forma muito rápida e
desordenada, sem um planejamento adequado de ocupação, provocando vários
problemas que interferem sobremaneira na qualidade de vida do homem (PIVETTA;
SILVA FILHO, 2002).
A arborização e a implantação dos sistemas elétricos de distribuição são
elaborados e realizados de forma independente, o que acaba gerando um grande
problema para as prefeituras e concessionárias de energia. A grande parte das
publicações que abordam o tema recomenda que sob redes elétricas, devem ser
plantados árvores e arbustos de pequeno porte como forma de prevenir ou eliminar a
interferência nas redes. Segundo BIONDI (1996), a indicação de espécies para a
arborização urbana ainda é feita de maneira muito empírica, utilizando-se apenas de
informações estéticas e desprezando todas as condições desfavoráveis que o meio
urbano oferece às árvores.
Os sistemas de distribuição de energia podem ser de diversos tipos, sendo que
muitas vezes estão em circuitos mistos, acarretando diversas combinações entre redes
de baixa e média tensão, variando principalmente de acordo com as necessidades e
condições locais e, com as concessionárias de energia elétricas. Os tipos mais comuns
de redes aéreas de distribuição de energia utilizados em Governador Valadares são as
redes de distribuição aérea convencional (RDC), que segundo SARDETO (1999) é
caracterizada por condutores nus. Essa rede fica totalmente desprotegida contra as
influências do meio ambiente, apresenta alta taxa de falhas e exige que sejam feitas
podas drásticas nas árvores, visto que o simples contato do condutor nu com um galho
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de árvore pode provocar o desligamento de parte da rede, tendo um baixo nível de
confiabilidade quando utilizada em áreas com maior densidade populacional. Também
existe a rede de distribuição aérea protegida ou compacta (RDP), que ainda segundo
SARDETO (1999) a rede secundária é toda isolada, e a rede primária é constituída de
três condutores cobertos por uma camada, sustentados por um cabo mensageiro de
aço, que sustenta espaçadores plásticos. Cabe lembrar que os cabos protegidos são
apenas “encapados”, não podendo ser considerados como “isolados eletricamente”
por não terem seu campo elétrico confinado. Essas redes oferecem maior
confiabilidade e qualidade no fornecimento de energia, pois reduzem, em até três
vezes, a duração das interrupções. São mais seguras para o público e convivem de
forma mais harmônica com as árvores quando comparadas às redes convencionais
nuas (CEMIG, 2001). E por fim, um tipo de rede que normalmente é implantada em
grandes metrópoles e cidades históricas, a rede de distribuição subterrânea (RDS),
que sem dúvida, é o mais complexo sistema de distribuição e sua utilização varia de
região para região.
Segundo VELASCO (2003), as redes elétricas subterrâneas apresentam uma
série de benefícios, tais como:
Redução significativa das interrupções pela diminuição da
exposição dos circuitos aos agentes externos,
incrementando, assim, a confiabilidade do serviço.
Eliminação dos circuitos aéreos, o que melhora bastante a
aparência do sistema e, principalmente, ajuda a preservar
as árvores, contribuindo, consequentemente, para o
embelezamento das cidades e conservação do meio
ambiente, permitindo a presença de árvores de grande
porte nos dois lados da rua.
Porem o alto custo de implantação das RDS inviabiliza a popularização da
implantação deste sistema pelas cidades brasileiras.
Relacionado a podas, o Manual de Treinamento: Poda de Árvore, Limpeza de
Faixa e Aceiro elaborado em 2013 pela Companhia Energética de Minas Gerais, a
CEMIG, entre outras coisas estipula que:
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A poda deve se restringir apenas à eliminação do conflito
e/ou à prevenção de futura interferência de galhos na rede
elétrica;
Executar a poda programada somente com Autorização
emitida por órgão ambiental competente;
Sinalizar e isolar a área de trabalho (cones, cordas, etc)
proporcionando segurança aos executantes, transeuntes e
veículos;
Galho com diâmetro superior a oito centímetros deve ser
podado em pedaços. Com menor diâmetro pode ser
podado com apenas um corte, sem, contudo causar o
“lascamento” da árvore;
Para árvore que apresentar risco iminente para a rede e
precisar ser suprimida, solicitar supressão imediata ao
departamento da Prefeitura;
Evitar cortar ou balançar galho que tenha ninho de pássaro;
É proibido o uso de ferramentas de impacto, tais como
facão, machado, machadinha e foice, para corte de galhos
em cima da árvore;
Encerrada a poda e recolhido todo o material cortado, o
chão deve ser varrido e as folhas e gravetos recolhidos.
Nas localidades onde existe convênio com a Prefeitura para
recolhimento do material podado, a programação de poda
será repassada para a área comercial que entrará em
contato com a mesma informando-a os locais de poda para
que o material seja recolhido posteriormente (a equipe,
após efetuar a poda, deverá acondicionar o material
que posteriormente será recolhido pela equipe da
Prefeitura).
Galhos que devem ser podados em Rede Convencional:
aqueles que venham a tocar os cabos acidentalmente, e os
que estiverem crescendo em sua direção a uma distância
mínima de segurança de 1m.
Galhos que devem ser podados em Rede Protegida:
aqueles que estejam tocando e os que estiverem crescendo
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em direção à rede a uma distância mínima de segurança de
0,50 m.
Galhos que devem ser podados em Rede Isolada: aqueles
que estejam forçando fisicamente os condutores e os
componentes da rede, conforme Tabela 1:
Tabela 1 – Critérios para poda de acordo com o tipo de rede.
TIPOS DE REDES CRITÉRIO PARA A PODA
Primária Distância mínima de segurança dos
galhos/folhas à rede
Convencional 2,00 metros
Protegida 1,50 metros
Isolada Toque e/ou com risco de esforço mecânico à rede
Secundária Distância mínima de segurança dos
galhos/folhas à rede
Convencional 1,50 metros
Isolada Toque e/ou com risco de esforço mecânico à rede
Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, CEMIG.
As ruas são bens públicos, e consequentemente a arborização urbana ali
presente, e devem ser cuidados tanto pelos cidadãos quanto pelos órgãos
responsáveis. Percebe-se que há uma legislação pronta para combater e punir os
maus tratos com as árvores presentes no perímetro urbano, mas o que falta é uma
fiscalização programada e responsável, ditadas por autoridades governamentais, para
que haja o cumprimento dessas leis. A poda irregular é considerada crime ambiental
de acordo com legislação federal. Sobre legislação aplicada à arborização urbana, a
Lei de Crimes Ambientais, Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998),
enquadra como crime ambiental em sua segunda seção, artigo 49, a destruição, dano,
lesão ou maltratos, por qualquer modo ou meio, de plantas de ornamentação de
logradouros públicos ou em propriedade privada alheia, o que pode ter uma pena que
é a detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Dando continuidade sobre os bens públicos, e as leis que protegem as ruas e a
arborização presente nelas, a Câmara Municipal de Governador Valadares juntamente
com o ex-prefeito João Domingos Fassarella, na data ainda em posse do cargo,
sancionaram a seguinte lei sobre o Departamento de Obras e Serviços, da gerência de
parques e jardins, presente na Lei nº 4940/ 2001:
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Art. 130 - À Gerência de Parques e Jardins compete:
I - zelar pela arborização e conservação de vias, praças,
parques e jardins do Mu nicípio;
II - planejar e promover a execução de serviços de jardinagem
nos logradouros públicos;
III - coibir o uso inadequado ou predatório das áreas verdes e
da arborização no Município;
IV - promover a poda de árvores, fiscalizar o serviço das
empreiteiras e conferir as respectivas faturas;
V - combater os insetos e pragas nocivas à vegetação em
praças, jardins e logradouros públicos.
De acordo com a Política do Meio Ambiente da cidade, através da Lei
Complementar nº 55/ 2004 de Governador Valadares, a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental são fundamentais para o equilíbrio ecológico e a
qualidade de vida da população.
CAPÍTULO II
DOS OBJEIVOS
Art. 4º-A política do meio ambiente visa à preservação, a
melhoria e a recuperação da qualidade ambiental, objetivando
assegurar a compatibilização do desenvolvimento sócio-
econômico com a preservação do meio ambiente e do
equilíbrio ecológico, melhorando a qualidade de vida da
população.
Ainda, segundo a lei supracitada, fica proibida qualquer atitude irregular ou
inadequada que possa prejudicar a arborização urbana.
Art.140 - É proibido eliminar, lesar, maltratar por qualquer modo
ou meio as plantas de ornamentação de logradouros públicos
ou de propriedades privadas ou, ainda, árvores, declaradas ou
não imunes de corte, e as gramíneas. [...]
Art.144 - O corte, poda e/ou derrubada de árvores não
protegidas pela imunidade de corte, situadas em propriedade
pública ou privada, no perímetro urbano, ficam subordinadas à
autorização da SMO – Secretaria Municipal de Obras e
Serviços Urbanos, qualquer que seja a finalidade do
procedimento.
Como se pode perceber há a existência de leis proibindo os maus tratos com a
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arborização urbana, no entanto, existem falhas em seu cumprimento, novamente, por
falta de fiscalização. São atitudes de difícil punição, pois exige flagrante. Entretanto, o
mau trato por vandalismo que ocorre na cidade, acontece em proporções quase que
imperceptíveis se comparado às podas realizadas para não prejudicar a rede elétrica,
que são drasticamente visíveis. Sendo assim, torna-se mais necessário uma constante
fiscalização, para que se cumprem, de fato, as leis que já existem.
Considerando a importância da arborização urbana para a cidade e seus
moradores a pergunta que se faz é: Existe conflito entre a rede elétrica e a arborização
na Avenida Parnaíba? Como são realizadas as podas nessa rua?
O objetivo geral do presente trabalho é descrever a situação da arborização
urbana da Avenida Parnaíba no sentido de observar a existência ou não de conflitos
entre a rede elétrica e as árvores. Também observar se as podas realizadas estão de
acordo às normas técnicas. E como objetivos específicos identificar os métodos que
estão sendo utilizados nas podas, citar maneiras de realizar-se o procedimento sem
que a agressão à planta seja grande, e também apresentar a relação do custo médio
para implantação de novas redes áreas compacta (rede protegida) e/ou subterrâneas.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1 Caracterização da área de estudo
A cidade de Governador Valadares foi fundada em 1938 e se encontra na região
leste do estado de Minas Gerais, na mesorregião do Rio Doce. Conta com uma
população estimada de 275.568 pessoas e possui uma extensão territorial também
aproximada de 2.342 km², segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE – 2013).
A via estudada é chamada Avenida Parnaíba e localiza-se no bairro residencial lha
dos Araújos, rodeado pelo Rio Doce e é bem arborizado. (Figura 1).
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Figura 1 – Avenida Parnaíba, Governador Valadares, MG.
Fonte: http://www.maps.google.com
2.2 Tipo de estudo
Para elaboração e fundamentação da caracterização do problema exposto neste
trabalho foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa exploratória descritiva. Esse
modelo misto, segundo Sampieri (2006) representa o mais alto grau de integração ou
combinação entre os enfoques qualitativo e quantitativo.
Ainda segundo Sampieri (2006) o enfoque quantitativo utiliza coleta e a análise de
dados para responder às questões de pesquisa e testa as hipóteses estabelecidas
previamente, e confia na medição numérica, na contagem e frequentemente no uso de
estatística para estabelecer com exatidão os padrões de comportamento de uma
população. Já o enfoque qualitativo, em geral é utilizado, sobretudo para descobrir e
refinar as questões de pesquisa. Às vezes, mas não necessariamente, hipóteses são
comprovadas. Com frequência esse enfoque está baseado em métodos de coleta de
dados sem medicação numérica, como as descrições e observações.
Andrade (2002) destaca que a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os
fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, e o pesquisador não
interfere neles. Assim os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas
não são manipulados pelo pesquisador.
2.3 Técnicas de Coleta e Análise de Dados
Para atingir os objetivos propostos foram efetuadas visitas in-loco para que
pudesse ser executado o registro fotográfico da arborização da avenida que foi
escolhida, procurando observar a existência ou não de conflitos entre a arborização e
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a rede elétrica, além de observar os tipos de podas realizadas. Também registrado de
modo informal a opinião dos moradores a respeito do tipo de arborização durante o
registro fotográfico das árvores e circuitos elétricos.
Foi realizado o levantamento das informações técnicas relacionadas à
arborização urbana e poda, e das redes de distribuição de energia elétrica
convencional, isolada e subterrânea, na Companhia de Energia Elétrica de Minas
Gerais – CEMIG. Foram coletados outros dados e relatórios através de conversa
informal com engenheiros e técnicos também da concessionária de energia elétrica
CEMIG, e por fim também houve coleta de informações na Secretaria de Obras e
Sistema Viários - SEMOV - da Prefeitura Municipal de Governador Valadares.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através de conversa informal com engenheiros atuantes na concessionária de
luz CEMIG, Governador Valadares é um município que possui em média 11.000
árvores em conflito com as redes aéreas de distribuição de energia pela cidade devido
ao precário planejamento na implantação das mesmas pelas ruas. Também devido ao
grande desenvolvimento das plantas, que encontraram por aqui condições climáticas
favoráveis para o crescimento.
A árvore predominante na cidade de Governador Valadares é a espécie
Oiti (Licania tomentosa) (Figura 2), árvore da família Chrysobalanaceae que pode
atingir de 8 a 15 metros de altura.
Figura 2 - Oiti (Licania tomentosa)
Fonte: Autor, 2013.
Os órgãos responsáveis pelo de poda dentro de Governador Valadares é a
concessionária de energia elétrica CEMIG/MG e a Secretaria Municipal de Obras e
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Viação (SEMOV) da Prefeitura, que também é responsável pelo recolhimento dos
resíduos ou materiais resultantes das podas, como galhos e folhas.
A Avenida Parnaíba conta com 80 árvores da espécie Oiti, 4 Ipês Amarelo
(Tabeluia alba) e 4 Flamboyant (Delonix regia). Este ponto do bairro possui vários tipos
de podas, umas que se encontram dentro e outras fora dos padrões estipulados por
artigos relacionados à arborização e poda urbana.
Os moradores do bairro Ilha dos Araújos se queixam do tipo de arborização – oiti
–, e à poda inadequada das árvores. As causas apontadas são falta de planejamento,
de orientação técnica, de ampliação da lei e de priorização de questões relativas ao
meio ambiente.
Segundo Seitz (1990), a poda realizada sem técnica é uma agressão a um
organismo vivo, com estruturas e funções definidas. A prática da poda não deve ser
totalmente abolida, mas sim usada de forma correta nas árvores urbanas, evitando
que grandes erros sejam cometidos na ilusão de estar realizando o melhor para as
plantas.
A poda mais frequente na cidade é a chamada em “V” (Figura 3) também
realizada na avenida estudada. Entretanto também se observa um número
considerado de podas emergenciais, o que gera prejuízos ás árvores.
Figura 3 – Árvore que sofreu o processo de poda conhecida como em “V”.
Fonte: Autor, 2013.
Segundo a CEMIG (2001) a poda que seria considerada adequada para esse
tipo de arborização é a de rebaixamento da copa (Figura 4), que para ser
tecnicamente correta, deve se limitar a um terço do volume da copa da árvore e
manter um tamanho considerável para a planta para que ela não perca suas
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características arbóreas. A figura 4 mostra maiores detalhes deste tipo de poda que
rebaixa a copa das árvores.
Figura 4 – Observam-se as podas de rebaixamento de copa que é o procedimento
mais recomendado.
Fonte: Autor, 2014.
A substituição da RDC para RDP ou RDS também é recomendada. Os dois
últimos modelos de redes citados oferecem maior confiabilidade e qualidade no
fornecimento de energia, pois reduzem, em até três vezes, a duração das interrupções
de fornecimento de energia elétrica. São mais seguras para o publico e convivem de
forma mais harmônica com as árvores quando comparadas às redes convencionais.
Com a realização de várias visitas in-loco pôde-se observar que a
concessionária de energia elétrica tem aumentado o interesse no uso de redes que
possam conviver harmonicamente com a arborização, pois a empresa vem
substituindo a rede de distribuição elétrica aérea convencional pela rede protegida
(Figura 5).
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Figura 5 - Rede de distribuição aérea protegida existente na Avenida Parnaíba.
Fonte: Autor, 2014.
A substituição da rede elétrica nos postes que ainda possuem sistema primário
convencional para rede primária protegida pode ser uma alternativa interessante para
evitar conflitos entre rede elétrica e arborização. De acordo com a COPEL/PR (2001) o
valor médio da transformação da RDC para RDP pode chegar a R$ 42.951,79/KM. Já
a implantação de RDS, incluindo as obras civis, segundo VELASCO (2003) é de
R$436.585,04/KM.
Também foi possível observar que na Avenida Parnaíba, uma técnica que
deveria ser usada somente a caráter emergencial é sempre aplicada. A poda drástica
(Figura 6).
Figura 6 – Oiti após ser submetido ao processo de poda drástica.
Fonte: Autor, 2014.
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Segundo SARDETO (1999), a poda drástica que era para ser uma poda
emergencial e não habitual, passou a ser feita sistematicamente pelas
concessionárias, levando ao desequilíbrio e mutilação das árvores de rua. As podas
realizadas de forma mais drástica, acabam por anular os benefícios proporcionados
pelas espécies de grande porte, prejudicando o fornecimento de sombra nas áreas
urbanas.
Este tipo de poda deve ser evitada, sendo utilizadas e permitidas somente em
situações emergenciais devido à remoção total de um ou mais ramos principais da
copa de árvores jovens e adultas, resultando no desequilíbrio irreversível da árvore.
Outro problema da poda drástica é a mutilação da planta e consequentemente a perda
de sua estabilidade, e risco de tombamento sobre casas, carros e rede elétrica, além
do alto número de árvores que morrem após este tipo de poda.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a importância da arborização urbana para a melhoria da qualidade
de vida da população, com todos os benefícios que a mesma proporciona à
comunidade, faz-se necessário que os órgãos responsáveis pela poda das árvores
executem esta operação dentro das normas para evitar a mutilação dos vegetais e
consequentemente suas perdas das funções junto aos habitantes da cidade. Assim,
sugere-se que as podas sejam feitas com critérios técnicos observando manuais
relacionados, e que as podas drásticas não sejam executadas de forma alguma na
Avenida Parnaíba, uma vez que, na maioria dos casos, este tipo de poda é realizada
quando existe um conflito entre a árvore e a rede elétrica, o que não é o caso do
logradouro estudado, pois a rede de distribuição de energia é blindada (RDP).
Sugere-se também que sejam oferecidos novos cursos de atualização para os
responsáveis pela execução das podas pela cidade, objetivando sempre uma melhor
coexistência entre árvores, redes elétricas e população utilizando técnicas que estão
dentro dos manuais técnicos.
Assim como foi feita à substituição da rede convencional para a rede protegida na
rua estudada, indica-se ainda que seja feito um planejamento pela prefeitura e pela
concessionária de energia elétrica para que possa ser gradativamente substituídas
nas ruas e avenidas arborizadas a rede convencional pela rede protegida.
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5 REFERÊNCIAS
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