APRESENTAÇÃO DO SEMINÁRIO TEMPO E NARRATIVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

MESTRADO PROFISSIONAL DE ENSINO DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: TEORIA DA HISTÓRIA

PROFESSOR: MARCOS EDILSON

ALUNA: MAGNA ABRANTES RODRIGUES

BIOGRAFIA DE PAUL RICOEUR

Paul Ricœur (Valence, 27 de Fevereiro de 1913 - Châtenay-Malabry, perto de Paris, 20 de Maio de 20051 ) foi um dos grandes filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.

Paul Ricœur nasceu numa família protestante. Órfão de mãe, que morre pouco depois de seu nascimento, perdeu o pai na batalha de Marne, em 1915, e foi criado por sua tia. Em 1936, licenciado em filosofia, criou a revista Être, inspirada nos preceitos de Karl Barth, teólogo cristão suíço. Em 1939, servindo como oficial de reserva, Ricœur foi preso pelos nazistas e enviado ao campo de Groß Born e depois a Arnswalde, na Pomerânia, atualmente Polônia.2

No pós-guerra foi acadêmico na Universidade da Sorbonne. Passou também pelas universidades de Louvaina (Bélgica) e Yale (EUA), onde elaborou uma importante obra de filosofia política. Ricœur participou em debates sobre linguística, psicanálise, o estruturalismo e a hermenêutica, com um interesse particular pelos textos sagrados do cristianismo.

• Em 1983, nos três volumes de Temps et

récit (pt. "Tempo e narrativa"), o autor

destaca as proximidades entre a

temporalidade da historiografia e aquela

do discurso literário. Pode ser

encontrada aí a vontade de Ricoeur de

ligar a reflexão filosófica sobre a

natureza da narrativa com a perspectiva

linguística e poética.

Hayden White e Paul Ricoeur foram autores que contribuíram

para reavivar o

debate epistemológico na história no século XX, concebendo

uma nova forma de

realizar o conhecimento. Nascido nos Estados Unidos, o

historiador Hayden White, se destacou como um dos

principias teóricos da história contemporânea, entre as suas

principais obras estão: Meta-história: a imaginação histórica

do século XIX, Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da

cultura e Teoria literária e escrita da história.

Outro que se destaca no campo da teoria histórica é o filósofo

e pensador francês, Paul Ricoeur. Responsável pela

valorização da hermenêutica escreveu diversos livros.

Destaque para História e verdade; Tempo e narrativa, e a

Memória, a História e o Esquecimento.

Embora situado no debate do pós-modernos, é

preciso pensar que Ricouer não

defende a ideia de que a realidade é apenas uma

questão da linguagem, como defende Hayden

White.

Para Ricoeur há um referente, há um

enunciador, porque o acontecimento é

um acontecimento narrado; se é possível pensar

Ricouer como alguém que reivindica um dado

realismo, é a este que se deve relacioná-lo, ao

campo das coisas narradas e operadas, mas que

têm um referencial.

TEMPO E NARRATIVA EM

PAUL RICOEUR:A obra de Paul Ricoeur (1913-

2005) é lugar privilegiado para

examinar

questões relacionadas à

construção da narrativa histórica.

É sob esta perspectiva que

analisaremos o pensamento deste

filósofo.

Uma referência crítica de Ricoeur neste

momento é a Escola dos Annales, um movimento

que, em uma de suas vertentes, introduz uma

nova maneira de pensar o tempo em termos de

estruturas, e

não de fluência dos acontecimentos.

Confrontando-se contra toda uma tradição

“estruturalizante” da historiografia francesa que

reinara soberana entre 1945 e meados dos anos

1970, Ricoeur irá insistir que o discurso do

historiador pertence antes de tudo à ordem das

narrativas, embora um tipo especial de narrativa,

e não a um gênero de discurso analítico que

pretende não se alimentar do modelo narrativo.

Ricoeur, ao lado de outras contribuições importantes entre

historiadores e filósofos que começaram a rediscutir a narrativa

historiográfica nos anos 1980 vinha com a sua reflexão

filosófica e historiográfica contribuir para perturbar até

mesmo os mais sólidos castelos historiográficos que haviam

sido zelosamente construídos pela Escola dos Annales: a

história quantitativa sob a regência de Ernst Labrousse, e a

História de “longa duração” arquitetada por Fernando

Braudel.

Para Ricoeur, mesmo a História mais estrutural, entre as que

foram laboriosamente

produzidas por alguns dos historiadores das primeiras duas

gerações dos Annales, ou a História ainda mais coletiva, que

apaga os heroísmos e ações individuais para construir

uma história das lutas de classe e do seu diálogo com os modos

de produção, seria narrativa.

Importante implicação da proposta

ricoeuriana de retomar a

consciência da

narratividade histórica foi a de

colocar entre colchetes o

determinismo, a idéia de que os

caminhos da história já estão de

alguma maneira traçados e que os

homens teriam de se resignar a

seguir em pontilhado.

A História não seria o estudo da execução de um

plano já traçado, mas sim o “estudo da ação”.

Seguir uma história, e ao mesmo tempo

constituí-la em História, implica para Ricoeur

em “compreender uma sucessão de ações, de

pensamentos, de sentimentos que apresentam ao

mesmo tempo determinada direção mas também

surpresas (coincidências, reconhecimentos,

revelações).

A partir desta perspectiva, a conclusão de um

enredo histórico nunca é dedutível

ou previsível” (1986, p.177)

.

Será preciso destacar aqui que, se a

concepção de narrativa histórica proposta por

Paul Ricoeur apresentou-se em termos de um

confronto em relação às pretensões de

‘rejeição da narrativa’ pela história

estrutural, que ainda passava

por ser dominante nos meios historiográficos

franceses, por outro lado, o filósofo francês

também guardou uma distância em relação às

propostas historiográficas

pós-modernas que vinham se fortalecendo na

década de 1980.

Seu cuidado especial foi o de

demonstrar a especificidade da

narrativa historiográfica frente à

narrativa ficcional, e não de

confundir estas duas modalidades

narrativas, esta alternativa que na

época já surgia como um dos

discursos historiográficos da

pós-modernidade.

Paul Ricoeur empenhou-se em

demonstrar que uma das

singularidades da narrativa

histórica era a de também se

apresentar como um discurso cuja

intencionalidade apontava para

um referente real (ou existente) do

Passado

Paul Ricouer e o

Tempo

Entre o “tempo lógico” de

Aristóteles e o “tempo da alma”

de Santo Agostinho, Ricoeur irá

construir a sua própria proposta

de uma interação de perspectivas

para a narrativa histórica.

Estes dois modelos de tempo, o

tempo exterior da intriga e o

tempo interior da alma, são os

dois pólos a serem colocados em

interação pela narrativa histórica

proposta por Paul Ricoeur, que

busca acomodar o tempo interno

agostiniano à intriga Aristotélica.

Subjetividade do Tempo

Agostiniano

“o tempo é interior, passando-se na

alma”, o que o permite impactar esta

alma

humana com uma tripla presença: do

Passado,

através da Memória; do Presente, através

da Visão; e do Futuro, através da

Espera.”

Ricoeur irá sustentar que “narrar é

ressignificar o mundo na sua dimensão

temporal, na medida em que narrar, contar,

recitar é refazer a ação seguindo o convite

do poema” (1983, p.81).

O tempo, do qual Santo Agostinho já se

queixava que não era possível explicar em

palavras o que é, embora todos acreditem

saber o que seja, só poderia ser

compreendido de maneira prática, através

do ato de narrar ou de entender uma

narrativa.

RICOUER

CÍRCULO HERMENÊUTICO

Chegamos então à configuração textual – ou à Intriga

construída pelo historiador (mimese 2).

Os elementos indiferenciados da ‘mimese 1’ aqui

ganharão um rosto; a ação encontrará a carne de um

discurso.

O “quem”, o “com quem” e o “contra quem” se

incorporarão cada qual ao seu personagem. O “como”

buscará o seu formato; o “por que” deixará de ser uma

pergunta implícita para se tornar uma explicação concreta

das ações que se desenrolarão na narrativa.

No caso da narrativa historiográfica, o autor não

inventará estes rostos, estes nomes de personagens e estas

ações, mas as terá de encontrar dispersas pelas fontes.

Uma primeira função da ‘mimese 2’ (em nosso caso, o

texto do historiador) será, aliás,

a de ligar eventos separados em um todo compreensível.

O QUE É COMPOSIÇÃO DA

INTRIGA? Ricouer busca esse conceito no livro a Póetica de

Aristóteles.

A Intriga é um elemento da Tragédia.

A questão é saber se o paradigma de ordem,

característico da tragédia, é suscetível de extensão

e de transformação, a ponto de poder ser aplicado

ao conjunto do campo narrativo. (p.68)

A EXPLICAÇÃO POR COMPOSIÇÃO DA

INTRIGA

Com a obra de Hayden White, os

processos de composição da Intriga

são pela primeira vez atribuídos a

estrutura narrativa da

historiografia.

Hayden reorganiza a relação entre

história e ficção.

1. A primeira pressuposição de uma póetica do discurso

histórico é que ficção e história pertencem a mesma classe

quanto a estrutura narrativa.

2. Segunda pressuposição: a aproximação entre história e

ficção acarreta uma outra entre história e literatura.

3. A escrita da história não constitui uma operação

secundária de ordem simplesmente redacional, ela é

constitutiva do modo histórico de compreensão. (artifício

literário)

4. A fronteira traçada pelos epistemólogos

entre a história dos historiadores e a

filosofia da história também deve voltar a

ser questionada na medida em que, por um

lado, toda grande obra histórica revela

uma visão de conjunto do mundo histórico

e em que, por outro lado, as filosofias da

história lançam mão dos mesmos recursos

de articulação que as grandes obras

históricas.

As tres pressuposições que acabamos de enunciar acarretam, com efeito, um deslocamento e uma reclassificação da problemática. A atenção exclusiva dada ás condições de “cientificidade” da história é tida por responsável pelo desconhecimento das estruturas que colocam a história no espaço da ficção narrativa.

Mais tarde teremos de nos indagar se é

possivel reclassificar a história assim,

como artifício literário, sem desclassificá-

la como conhecimento com pretensão

científica.

A transferencia da história para o círculo

da poética não é, portanto, uma ato

inocente e não pode deixar de ter

consequências quanto ao tratamento da

contigência real.

A meta-história segundo White, tem portanto, de quebrar duas resistências: a dos historiadores, que consideram que o corte epistemológico entre a história e a narrativa tradicional arranca a primeira do círculo da ficção, e a dos críticos literários, para quem a distinção entre imaginário e o real é uma evidência inquestionável.

A explicação por composição da intriga adquire em H. White um sentido estrito e limitativo, que permite dizer ao mesmo tempo que ela não é o todo da estrutura narrativa e que no entanto é seu pivô.

Por composição da intriga o autor

entende bem mais do que a simples

combinação entre a aspecto linear

da história narrada e o aspecto

argumentativo da tese defendida.

A composição da intriga assim

concebida constitui um modo de

explicação: a Explicação por

composição da intriga.

Um determinado historiador é

forçado a compor em uma

intriga o conjunto das

histórias que compõem sua

narrativa numa única forma

inclusiva ou arquetípica.

A composição da Intriga é a

operação que dinamiza todos os

níveis da articulação narrativa.

A composição da Intriga é muito

mais que um nível entre outros:

é ela que faz a trasição entre o

narrar e o explicar.

“COMO SE ESCREVE A HISTÓRIA”

Paul Veyne, na obra ‘Como

se escreve a história’, junta

um rebaixamento científico

da história com uma apologia

da noção de intriga.