Post on 11-Nov-2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS ESCOLA DE VETERINRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA ANIMAL
APLICAO DOS EXAMES COMPLEMENTARES NO DIAGNSTICO DA INSUFICINCIA RENAL CRNICA EM CES
Saura Nayane de Souza Orientadora: Maria Clorinda Soares Fioravanti
GOINIA 2011
ii
SAURA NAYANE DE SOUZA
APLICAO DOS EXAMES COMPLEMENTARES NO DIAGNSTICO DA INSUFICINCIA RENAL CRNICA EM CES
Dissertao apresentada para a obteno do grau de Mestre em Cincia Animal junto
Escola de Veterinria e Zootecnia da Universidade Federal de Gois
rea de concentrao: Patologia, Clnica e Cirurgia Animal
Linha de Pesquisa: Alteraes clnicas, metablicas e toxmicas dos
animais e meios auxiliares de diagnstico
Orientadora: Prof Dr Maria Clorinda Soares Fioravanti UFG
Comit de Orientao: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno- UFG Prof Dr Naida Cristina Borges UFG
GOINIA
2011
ii
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
GPT/BC/UFG
S729a
Souza, Saura Nayane.
Aplicao dos exames complementares no diagnstico da
insuficincia renal crnica em ces [manuscrito] / Saura Nayane de Souza.
- 2011.
72 f. : il.
Orientadora: Prof. Dr. Maria Clorinda Soares Fiorvanti; Co-
orientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno, Prof Dr Naida
Cristina Borges.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Gois, Escola de
Veterinria e Zootecnia, 2011.
Bibliografia.
1. Ces Nefropatia. 2. Ces Diagnstico por imagem - Nefropatia.
I. Ttulo.
CDU: 599.742.12:616.61
iii
iv
Dedico s minhas irms
Juliana e Priscila e ao meu
namorado Renato pela
amizade, apoio e
compreenso aos quais
sempre poderei contar.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus por conceder que eu esteja aqui evidenciando este
momento to feliz da minha vida.
minha orientadora, professora Maria Clorinda Soares Fioravanti, por
sempre ter guiado meus passos desde a graduao e pelo constante aprendizado,
acrescentando na minha formao profissional e pessoal.
Aos meus co-orientadores, professores Adilson Donizeti Damasceno e
Naida Cristina Borges pela imensurvel colaborao nas correes finais deste
trabalho.
s professoras Maria da Conceio, da Escola de Veterinria e
Zootecnia da UFG, e Suely Nunes Esteves Beloni, da Universidade Estadual de
Londrina, pela disponibilidade em participarem como membros da banca
examinadora desta dissertao.
Aos colegas do Programa de Ps-Graduao em Cincia Animal Andria
de Melo Bogoevich, Andra Cruvinel Rocha Silva, Liliane Aparecida Tanus Benatti,
Juliana Job Serdio, Ana Paula Arajo Costa, Thas Domingos Meneses e Suzana
Akemi Tsuruta pela grande boa vontade demonstrada em auxiliar nas colheitas e
nas anlises laboratoriais.
Aos colegas veterinrios do Hospital Veterinrio da UFG Juliana
Aparecida Silva, ngela Moni Fonseca, Fernanda Maria Ozelim de Pdua, Nathlia
Bragato, Vernica Christiane de Melo Silva e Apstolo Ferreira Martins pela imensa
colaborao na realizao deste trabalho.
Ao funcionrio do Laboratrio de Patologia Clnica do HV/UFG, e Wesley
Francisco Neves pelos ensinamentos, contribuindo para a minha formao.
Aos alunos da graduao Neryssa Alencar de Oliveira, Daniela Cardoso,
Romrio Gonalves Vaz Junior, Kamilla Malta Laudares, Helton Freires Oliveira e
Weyguer Cirilo Fernandes pelo auxlio na execuo do projeto.
Aos amigos Mayara Fernanda Maggioli, Mariana Brito Lobo, Tales Dias
Prado, Lorena Fernandes dos Reis, Andra Cintra Bastos Torres, Adriana Reis B.
Silva, Lucas Jacomini Abud e Gustavo Lage Costa pela amizade e
companheirismo.
CAPES pela bolsa concedida.
vi
A todos os colegas e funcionrios da Escola de Veterinria e Zootecnia
da UFG.
A todos que contriburam e acreditaram nesse projeto.
Meus sinceros agradecimentos.
vii
Animais so anjos disfarados,
mandados terra por Deus para
mostrar ao homem o que
fidelidade.
Arthur Tvola
O que vale na vida no o ponto
de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim
ters o que colher.
Cora Coralina
viii
SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................ 01
2 REVISO DA LITERATURA.......................................................................... 03
2.1 Morfologia do nfron.................................................................................... 03
2.2 Filtrao glomerular..................................................................................... 05
2.3 Etiopatogenia da doena glomerular........................................................... 07
2.3.1 Proteinria................................................................................................ 09
2.3.2 Hipertenso sistmica.............................................................................. 11
2.3.3 Sndrome nefrtica................................................................................... 12
2.4 Diagnstico da insuficincia renal crnica................................................... 13
2.5 Justificativa.................................................................................................. 17
3 OBJETIVOS.................................................................................................... 18
4 MATERIAL E MTODOS............................................................................... 19
4.1 Planejamento do estudo.............................................................................. 19
4.2 Anamnese e exame clnico.......................................................................... 20
4.3 Critrios de incluso no grupo DRC............................................................ 21
4.4 Avaliaes laboratoriais............................................................................... 21
4.5 Ultrassonografia........................................................................................... 25
4.6 Presso arterial sistmica............................................................................ 26
4.7 Anlise estatstica........................................................................................ 26
5 RESULTADOS E DISCUSSO...................................................................... 27
5.1. Avaliao da funo e doena renal........................................................... 29
5.1.1 Perfil hematolgico................................................................................... 29
5.1.2 Fibrinognio.............................................................................................. 32
5.1.3 Perfil bioqumico sanguneo..................................................................... 33
5.1.4 Perfil bioqumico urinrio.......................................................................... 39
5.1.5 Urinlise.................................................................................................... 43
5.2 Ultrassonografia........................................................................................... 48
5.3 Presso sangunea...................................................................................... 51
5.4 Matriz de distncias euclidianas.................................................................. 53
6 CONCLUSES............................................................................................... 55
REFERNCIAS................................................................................................. 56
ANEXOS............................................................................................................ 69
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Fotomicrografia eletrnica de transmisso da parede capilar
glomerular de um co normal. MB: membrana basal; LC: lmen
capilar; E: clulas endoteliais; P: podcitos; PM: podcitos
maiores; EU: espao urinrio......................................................
03
FIGURA 2 Fotomicrografia de crtex renal. P: tbulos contorcidos
proximais; D: tbulos contorcidos distais; G: glomrulos............
04
FIGURA 3 Esquema representativo dos mecanismos de leso glomerular r
imune que levam proteinria....................................................
09
FIGURA 4 Patognese da perda de nfrons na doena renal
progressiva..................................................................................
11
FIGURA 5 Procedimento de mensurao de presso arterial (A), de
colheita de urina por cistocentese (B) e de tosquia para
realizao de ultrassonografia (C), Goinia, 2011.....................
20
FIGURA 6 Animal sadio pertencente ao grupo C1 em bom escore corporal
(A) e animal pertencente ao grupo DRC apresentando caquexia
(B), Goinia, 2011........................................................
20
FIGURA 7 ndice de proteinria urinria obtido utilizando o escore de
gravidade da leso renal observada no exame de urina de rotina,
nos grupos de ces saudveis (C1, C2 e C3) e com doena renal
(DRC)...................................................................
45
FIGURA 8 Mdia dos escores de gravidade da leso renal estabelecida
pelo somatrio das alteraes detectadas no exame de urina
de rotina, Goinia, 2011.............................................................
47
FIGURA 9 Imagens ultrassonogrficas dos rins de ces do grupo DRC:
corte sagital do rim direito onde se observa a crtex
hiperecognica e alterao na arquitetura renal (A); corte
transversal do rim esquerdo onde se observa a
hiperecogenicidade renal comparada ao bao (B); corte sagital
do rim direito onde nota-se o contorno renal irregular (C) e corte
sagital do rim esquerdo onde se observa-se a perda de
definio do limite crtico-medular (D)........................
51
FIGURA 10 Dendograma UPGMA de similaridade entre grupos, utilizando
a distncia euclidiana padronizada............................................
53
x
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Doenas associadas s glomerulonefrites em ces.................
08
QUADRO 2 Escore de gravidade da leso renal observada no exame de
urina de rotina...........................................................................
24
QUADRO 3 Parmetros renais em 100 ces hgidos, de raas variadas e
sem distino sexual.................................................................
25
xi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Frequncia absoluta e relativa dos sinais clnicos observados
em (n=29) ces com insuficincia renal crnica, Goinia,
2011.........................................................................................
28
TABELA 2 Perfil do eritrograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC,
com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana,
coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC),
Goinia, 2011............................................................................
30
TABELA 3 Perfil do leucograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC,
com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana,
coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC),
Goinia, 2011............................................................................
32
TABELA 4 Parmetros de fibrinognio dos ces dos grupos C1, C2, C3 e
DRC com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana,
coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC),
Goinia, 2011............................................................................
33
TABELA 5 Perfil bioqumico sanguneo dos ces dos grupos C1, C2, C3 e
DRC, com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana,
coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC),
Goinia, 2011............................................................................
34
TABELA 6 Parmetros urinrios e de excreo fracional de eletrlitos dos
ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC com valores de mdia,
desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e
intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011................................
40
TABELA 7 Valores mdios dos pontos obtidos no escore de gravidade da
leso renal baseado no exame de urina nos animais saudveis
(grupos C1, C2, C3) e com doena renal (DRC), Goinia,
2011...........................................................................
46
TABELA 8 Caracterstica ultrassonogrfica observada no parnquima
renal direito e esquerdo dos ces do grupo controle (C1, C2 e
C3), Goinia, 2011....................................................................
49
TABELA 9 Caracterstica ultrassonogrfica observada no parnquima
renal direito e esquerdo dos ces do grupo DRC, Goinia,
2011..........................................................................................
49
TABELA 10 Caracterstica ultrassonogrfica observada na vescula urinria
dos ces do grupo controle (C1, C2 e C3) e do grupo DRC,
Goinia, 2011............................................................................
50
TABELA 11 Parmetros de presso arterial sistlica dos ces dos grupos
C1, C2, C3 e DRC com valores de mdia, desvio-padro (DP),
mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana
(IC), Goinia, 2011....................................................................
52
xii
RESUMO
A manuteno do paciente insuficiente renal crnico um grande desafio para os clnicos veterinrios. O diagnstico da insuficincia renal crnica em estgios iniciais possibilita aumentar a taxa de sobrevida do animal, pois permite instituir o protocolo de tratamento adequado para cada tipo de paciente. Este trabalho teve como objetivo avaliar as diferentes tcnicas de diagnstico na avaliao da funo e da integridade renal. Foram estudados 61 ces sadios, machos e fmeas de variadas raas e 29 ces doentes renais crnicos. Os ces sadios foram subdivididos em trs subgrupos. O subgrupo C1, compreendeu dez animais com idades variando entre seis e 12 meses para ces de pequeno e mdio porte, e seis e 18 meses para ces de grande porte; o subgrupo C2 compreendeu 40 animais entre 12 meses e oito anos para ces de pequeno e mdio porte e 18 meses e sete anos para animais de grande porte; o subgrupo C3 foi composto por 11 animais com idade acima de oito anos para animais de pequeno e mdio porte, e acima de sete anos para animais de grande porte. A avaliao dos animais constou de anamnese; exame clnico; ultrassonografia; mensurao da presso arterial e exames laboratoriais: hemograma, fibrinognio, urinlise, avaliao srica de creatinina, uria, protena total, albumina, globulina, colesterol, clcio, fsforo, sdio e potssio; avaliao urinria de gama glutamil transferase (GGT) e relao protena/creatinina; excreo fracional de sdio e potssio. Constatou-se que os sinais clnicos mais freqentes no grupo DRC foram poliria/polidipsia, mese, emagrecimento e apatia. Os ces com DRC apresentaram anemia normoctica normocrmica, elevao srica de creatinina, uria e fsforo; reduo de albumina; aumento da relao PU/CU; da GGT urinria e da excreo fracionada de sdio e potssio, diminuio da densidade urinria e diminuio da definio do limite crtico-medular.
Palavras-chave: Caninos, diagnstico por imagem, funo renal, nefropatia.
xiii
ABSTRACT
The patient with chronic renal failure and its medical support are a great challenge for veterinarians. The diagnosis of chronic renal failure in early stages helps to increase the survival rate of the animal, because it allows establishing the appropriate treatment protocol for each type of patient. The objective of this study was to evaluate the different diagnostic techniques in the evaluation of renal function and integrity. We studied 61 healthy dogs, males and females of various breeds and 29 dogs with chronic renal disease (CRD group). The healthy dogs were divided into 3 groups. The C1 group had 10 animals aged 6 to 12 months, small and medium-sized and aged 6 to 18 months for large dogs, the C2 group had 40 animals aged 12 months to 8 years, small and medium-sized and 18 months to 7 years for large animals, the C3 group had 11 animals over 8 years old, small and medium-sized, and over 7 years old for large animals. The evaluation consisted of anamnesis, clinical examination, ultrasound, blood pressure measurement and laboratory tests: blood count, fibrinogen, urinalysis, assessment of serum creatinine, urea, total protein, albumin, globulin, cholesterol, calcium, phosphorus, sodium and potassium , evaluation of urinary gamma-glutamyl transferase (GGT) and ratio of protein/creatinine; fractional excretion of sodium and potassium. It was found that the most common clinical signs in the CRD group were polyuria/polydipsia, vomiting, weight loss and apathy. Dogs with CRD showed normocytic normochromic anemia, elevated serum creatinine, urea and phosphorus; reduction in albumin, increase of the UP/UC, urinary GGT, and fractional excretion of sodium and potassium; decreased urine density and decreased definition of the corticomedullary boundary.
Keywords: Canine, image diagnosis, nephropathy, renal function.
1
1 INTRODUO
A doena renal crnica que resulta em insuficincia renal crnica uma
das principais causas de morbidade e mortalidade em ces. Diversos estudos
realizados em animais que apresentam doena renal apontam para a importncia
de identificar, compreender e controlar os processos que desempenham um papel
na progresso desde o incio at a fase final da insuficincia renal.
A insuficincia renal ocorre quando trs quartos dos nfrons dos dois
rins se tornam afuncionais. Na insuficincia renal crnica (IRC) essa perda de
funo irreversvel. As variaes morfolgicas variam desde atrofia, substituio
por tecido fibroso cicatricial at hipertrofia. A IRC progride em semanas, meses e
anos e geralmente a causa difcil de ser determinada, porm sabe-se que
glomerulopatias primrias esto entre as maiores causas da IRC nos caninos
(WARE, 2006a).
NOTOMI et al. (2006) observaram que a maioria dos ces com IRC
possua idade superior a sete anos, com maior prevalncia do Cocker Spaniel entre
as raas definidas, tanto entre os jovens quanto os animais com idade mais
avanada. Entretanto, a doena tambm acomete adultos jovens (idade inferior a
trs anos) e pode ter origem congnita, hereditria e adquirida (RUBIN, 1997;
POLZIN et al., 2005).
O conjunto dos eventos clnicos varia com a progresso da doena
subjacente. Alguns ces nas fases iniciais da IRC podem apresentar-se
assintomticos (RUBIN, 1997). NOTOMI et al. (2006) em estudo retrospectivo de
casos de IRC em ces relataram como principais manifestaes clnicas a disorexia
(83%), mese (70%), apatia (70%), poliria/polidipsia (52%) e emagrecimento
progressivo (38%).
As alteraes nos resultados de exames laboratoriais mais comumente
encontradas em ces com IRC incluem azotemia, hiperfosfatemia, aumento srico
de paratormnio (PTH), acidose metablica, anemia no-regenerativa,
hipercalcemia ou hipocalcemia, isostenria, proteinria, hipercolesterolemia e
infeco do trato urinrio (KRONFELD,1993).
2
O reconhecimento das principais manifestaes clnicas e das
alteraes laboratoriais permite a definio do estadiamento da doena, bem como
o estabelecimento do prognstico. BROWN (2006) destacou a importncia de
realizar o estadiamento da doena, de modo a permitir a instituio do protocolo de
tratamento mais adequado.
Este estudo teve o propsito de avaliar os diferentes exames
complementares quanto eficincia no diagnstico da insuficincia renal crnica
em ces, considerando que a deteco precoce da doena aumenta as
possibilidades de estabilizao da enfermidade, o aumento da expectativa de vida,
acompanhada da melhoria na qualidade de vida.
3
2 REVISO DA LITERATURA
2.1 Morfologia do nfron
O rim formado por quatro componentes bsicos: glomrulos, tbulos,
interstcio e vasos sanguneos. A unidade funcional do rim, o nfron, composta
por um sistema de glomrulos e tbulos renais. O glomrulo um tufo capilar
revestido por endotlio fenestrado que est intimamente associado com as clulas
epiteliais tubulares. Componentes do glomrulo incluindo o endotlio, membrana
basal e clulas epiteliais especializadas, conhecidas como podcitos, compem a
barreira de filtrao renal (Figura 1). A funo dessa barreira selecionar a
passagem de macromolculas, de acordo com seu tipo, tamanho e carga eltrica
(JONES et al., 1997).
FIGURA 1 - Fotomicrografia eletrnica de transmisso da parede capilar glomerular de um co normal. MB: membrana basal; LC: lmen capilar; E: clulas endoteliais; P: podcitos; PM: podcitos maiores; EU: espao urinrio
Fonte: GRAUER (2007)
4
Os tbulos renais que constituem o nfron so o tbulo contornado
proximal, ala de Henle e tbulo contornado distal (Figura 2). A principal funo dos
tbulos contornados proximais a reabsoro de gua, solutos inorgnicos como
sdio, cloro, bicarbonato, potssio e clcio, e de solutos orgnicos, incluindo
glicose, aminocidos e protenas de baixo peso molecular. A ala de Henle
constituda de uma poro descendente, uma poro curva e uma poro
ascendente. Envolvida por amplo sistema vascular, a ala de Henle responsvel
pela absoro de gua na poro descendente e de sdio, cloreto e uria na poro
ascendente (JONES et al., 1997). A organizao anatmica das alas de Henle e
dos vasos retos proporciona um sistema de contracorrente, cuja funo
estabelecer uma alta osmolalidade nas partes mais internas da medula renal a fim
de concentrar o fluido tubular (REECE, 1996).
FIGURA 2 Fotomicrografia de crtex renal. P: tbulos contorcidos proximais; D: tbulos contorcidos distais; G: glomrulos
Fonte:http://pt.scribd.com/doc/15726548/ImagensHistologia-Basica-9
5
O tbulo contornado distal e os ductos coletores so importantes locais
de secreo de potssio e ons hidrognio (H+) (FINCO, 1995). A mcula densa
marca o incio do tbulo distal. As clulas do msculo liso das arterolas aferentes
e eferentes que fazem contato com a mcula densa so clulas musculares lisas e
especializadas e so denominadas clulas justaglomerulares. Estas clulas tm
grnulos secretrios que contm renina. O espao entre a mcula densa e as
arterolas aferentes e eferentes conhecido como regio mesangial, constituda
pelas clulas mesangiais. Estas clulas possuem atividade fagoctica e secretam
prostaglandinas. O aparelho justaglomerular constitui-se de mcula densa, clulas
justaglomerulares e clulas mesangiais. O aparelho justaglomerular est envolvido
em mecanismos de feedback que participam da regulao do fluxo sanguneo renal
e da taxa de filtrao glomerular (REECE, 1996).
O suprimento sanguneo do nfron fornecido por ramos das artrias
interlobulares. A arterola aferente conduz o sangue ao glomrulo e a arterola
eferente conduz o sangue para fora do glomrulo, redistribuindo-o para os capilares
peritubulares, responsveis pela perfuso dos tbulos do nfron. Os vasos retos
so ramos dos capilares peritubulares e esto associados aos nfrons de alas
longas. Aps a perfuso dos rins, o sangue retorna veia cava caudal pelas veias
renais (REECE, 1996).
2.2 Filtrao glomerular
Os trs processos envolvidos na formao da urina so filtrao
glomerular, reabsoro tubular e secreo tubular. A formao da urina inicia-se
quando o ultrafiltrado passa atravs do endotlio capilar glomerular, membrana
basal e epitlio da cpsula de Bowman para o espao urinrio da cpsula de
Bowman (FINCO, 1995).
Segundo OSBORNE & FLETCHER (1995), a filtrao atravs dos
capilares glomerulares influenciada por diversos fatores, entre eles: perfuso dos
capilares glomerulares; tamanho, configurao e carga das molculas; arquitetura
das paredes dos capilares glomerulares; carga negativa das sialoprotenas que
revestem as clulas endoteliais e epiteliais viscerais facilitando a passagem das
macromolculas catinicas e impedindo a passagem das aninicas; membrana
6
basal glomerular que impede a passagem das macromolculas sem carga; fendas
das membranas que impedem a passagem das molculas menores e clulas
epiteliais viscerais que podem recuperar as protenas que passaram atravs dos
filtros.
As protenas so relativamente excludas do filtrado devido ao seu
grande tamanho molecular. As protenas com peso molecular acima ou igual a
70.000 daltons (Da) no esto presentes no filtrado. A albumina, a menor das
protenas plasmticas, tem peso molecular mdio de 69.000 Da e
aproximadamente 0,3% de sua concentrao plasmtica pode estar presente no
filtrado (REECE, 1996). A permeabilidade seletiva da parede do capilar glomerular
restringe a filtrao da maioria das protenas plasmticas, de acordo com o peso
da protena e, em menor medida, com base na carga da protena e configurao
alostrica. As protenas menores e com carga eltrica positiva ou neutra so mais
facilmente filtradas do que as protenas maiores e com carga eltrica negativa
(GRAUER, 2007). Isso ocorre por causa da repulso eletrosttica pelos stios
aninicos na membrana basal glomerular que so compostos principalmente de
proteoglicanos e por possurem carga negativa repelem as molculas com carga
similar (REECE, 1996).
A reabsoro tubular envolve o transporte de gua e solutos do fluido
tubular para os capilares peritubulares (FINCO, 1995). O restante do filtrado
continua ao longo do tbulo e submetido a vrios mecanismos passivos e ativos
que resultam na reteno ou excreo de solutos e gua. A quantidade de solutos
excretada determinada pela dieta, limiar renal de reabsoro, influncia hormonal,
ou uma combinao desses fatores. Alguns solutos, como a creatinina, so
livremente filtrados e no reabsorvidos, enquanto que outras substncias so
liberadas pelo rim em resposta a uma leso, tais como as enzimas da borda em
escova dos tbulos (WALDROP, 2008).
Aproximadamente 99% das substncias filtradas so reabsorvidas pelos
epitlios tubulares. Quanto reabsoro pelos tbulos, aproximadamente 75%
ocorre nos tbulos proximais, 5% na ala de Henle, 15% no tbulo distal e 4% no
ducto coletor (FINCO, 1995). Como grande parte do filtrado reabsorvida no tbulo
proximal, os processos de transporte esto sujeitos a pequeno grau de controle. Os
hormnios (antidiurtico e aldosterona) atuam nos processos reguladores por meio
7
de suas aes no nfron ajustando a reabsoro e regulando o equilbrio
eletroltico. A secreo tubular transporta substncias dos capilares peritubulares
para o lmen tubular. O transporte renal de potssio ocorre por reabsoro no
tbulo contornado proximal e distal e por secreo no tbulo contornado distal
(REECE, 1996).
2.3 Etiopatogenia da doena glomerular
A doena glomerular ou glomerulonefrite no co a principal causa de
insuficincia renal crnica. A presena de imunocomplexos nas paredes dos
capilares glomerulares uma das maiores causas de doena glomerular (VADEN,
2011). Outras causas incluem anormalidades estruturais, como por exemplo, nefrite
hereditria; anormalidades hemodinmicas como hipertenso intraglomerular e
deposio glomerular de amilide (GRAUER, 2011).
Vrias doenas infecciosas e inflamatrias tm sido associadas
deposio glomerular de complexos imunes (Quadro 1). Em muitos casos a doena
de base ou a fonte de antgeno no identificada. Em estudo retrospectivo com
137 ces que apresentavam doena glomerular, 48% no apresentavam doena
previamente identificada, 20% tinham neoplasia, 12% tinham infeco e 15%
tinham doena inflamatria (COOK & COWGILL, 1996).
Alm das glomerulopatias, dentre outras causas potenciais de IRC em
ces esto a pielonefrite bacteriana, clculo renal, leptospirose, linfoma renal,
doenas hereditrias ou congnitas e isquemia renal (OSBORNE & FLETCHER,
1995; GRAUER, 2005a).
8
QUADRO 1 Doenas associadas s glomerulonefrites em ces
Infecciosas
Adenovrus canino I, Endocardite bacteriana, Brucelose, Dirofilariose,
Erliquiose, Leishmaniose, Piometra, Borreliose, Infeces bacterianas crnicas,
Febre maculosa das montanhas rochosas, Tripanossomase, Sepse.
Inflamatrias
Pancreatite, Lpus eritematoso sistmico e outras doenas imunomediadas,
Prostatite, Hepatite, Doena intestinal inflamatria.
Neoplasia
Leucemia linfoctica, Carcinoma clulas transicionais, Linfoma,
Adenocarcinoma broncognico.
Outras
Idioptica, Familiar (raas Doberman Pinsher, Bernese, Beagle, Samoieda,
Golden Retriever e Cocker Spaniel).
Fonte: GRANT & FORRESTER (2001), GRAUER (2005a)
A diminuio do nmero de nfrons funcionais aumenta o risco de
doena renal progressiva. Na IRC os nfrons so lentamente destrudos de forma
progressiva e irreversvel. Com a perda de nfrons a taxa de filtrao glomerular
(TGF) diminui, resultando em aumento das concentraes de substncias que em
condies normais so eliminadas pela excreo renal (GRAUER, 2006). Os
nfrons intactos hipertrofiam-se na tentativa de aumentar a taxa de filtrao
glomerular, ocorrendo assim hiperfiltrao glomerular, hipertenso intraglomerular
e sistmica e proteinria (GRAUER, 2005a).
9
2.3.1 Proteinria
A proteinria, na ausncia de um sedimento urinrio ativo, o principal
marcador de leso glomerular, podendo indicar a presena de doena renal crnica
antes do incio da azotemia ou a presena de doena renal crnica avanada aps
o aparecimento da azotemia (Figura 3) (COUSER, 1993; VADEN, 2011). A
proteinria ocorre devido ao aumento da filtrao glomerular das protenas
plasmticas associada com hipertenso intraglomerular ou com a presena de
complexos imunes e de inflamao vascular dos capilares glomerulares (GRAUER,
2007).
FIGURA 3 - Esquema representativo dos mecanismos de leso glomerular imune que levam proteinria
Fonte: COUSER (1993)
Evidncias indicam que as protenas podem causar prejuzo para as
clulas mesangiais glomerulares e para as clulas dos tbulos proximais. As
protenas plasmticas que cruzaram a parede capilar glomerular podem acumular-
se dentro do tufo glomerular e estimular a proliferao de clulas mesangiais
(GRAUER, 2005a). A leso das clulas mesangiais tem sido atribuda aos
Clulas
mesangiais
Complemento
Deposio glomerular de anticorpos
Neutrfilos --
Plaquetas
MacrfagosClulas epiteliais
glomerulares
Oxidantes -- Proteases
C5b-9 C5a
Clulas sensibilizadas
Proteinria
InflamatriaNo-inflamatria
10
componentes das lipoprotenas de baixa densidade (LDL) ou aos produtos de sua
oxidao, os quais podem causar aumento da matriz mesangial, atuar como
agentes quimiotticos para moncitos e aumentar a gerao de fatores de
crescimento que estimulam a esclerose (FINCO et al., 1999).
Excessivas quantidades de protenas no filtrado glomerular danificam as
clulas epiteliais tubulares, levando inflamao intersticial, fibrose e morte celular.
Alm disso, protenas do complemento que passam atravs da barreira glomerular,
juntamente com outras protenas sricas, podem tornar-se ativadas na borda em
escova do epitlio tubular e levar a uma cascata de eventos que culminam em leso
celular (TANG et al., 2002).
A leso tubular tambm pode ocorrer por obstruo tubular pelas
protenas. Aumento da permeabilidade glomerular s protenas do plasma permite
o contato de clulas tubulares com transferrina, complemento e lipoprotenas
(FINCO et al., 1999). A transferrina aumenta a absoro do ferro por clulas
epiteliais. Uma vez dentro da clula, ons de ferro catalisam a formao de espcies
de oxignio reativo que podem causar leso peroxidativa (GRAUER, 2005a).
Uma vez que qualquer parte do nfron est irreversivelmente danificada,
todo o nfron torna-se afuncional e substitudo por tecido fibroso (GRAUER et al.,
2000). Os nfrons remanescentes viveis compensam a diminuio do nmero total
de nfrons com aumento da taxa de filtrao glomerular. A hiperfiltrao aliada
proteinria resulta em perdas progressivas de nfrons (Figura 4) (GRAUER,
2005a).
Os danos s clulas tubulares ocorrem por diversos processos. As
clulas tubulares normalmente reabsorvem as protenas do filtrado glomerular por
endocitose. As protenas acumulam-se nos lisossomos e so degradadas em
aminocidos. Em condies de proteinria, os lisossomos se rompem causando
leso enzimtica ao citoplasma (FINCO et al., 1999).
11
FIGURA 4 - Patognese da perda de nfrons na doena renal progressiva
Fonte: GRAUER (2005a)
2.3.2 Hipertenso sistmica
A hipertenso sistmica provavelmente resulta da combinao de
reteno de sdio, cicatrizao dos capilares e das arterolas glomerulares,
diminuio da produo renal de vasodilatadores, alteraes na funo endotelial
com sntese prejudicada do xido ntrico e ativao do sistema renina-angiotensina
(BORTOLOTTO, 2008).
Diferentes valores tm sido propostos para definir a hipertenso em
ces. Presses arteriais com valores acima de 160 ou de 180 mmHg foram
sugeridas (COOK & COWGILL, 1996; FINCO, 2004).
A hipertenso sistmica contribui para a perda progressiva de funo
renal e falncia renal (GRAUER, 2005a). Em estudo modelo, FINCO (2004)
demonstrou uma associao entre hipertenso arterial e leso renal. A proteinria
foi diretamente relacionada extenso do aumento da presso arterial sistmica e
diminuio da taxa de filtrao glomerular em ces.
COWGILL (1991) descreveu que 84% dos ces com doenas
glomerulares eram hipertensos. Outros estudos citaram a prevalncia de
hipertenso sistmica em at 93% dos ces acometidos por doena renal crnica
(BROWN et al., 2007).
12
Os ces e gatos hipertensos e doentes renais crnicos podem
apresentar ausncia de azotemia ou azotemia leve independentemente do estgio
da doena. Ces e gatos azotmicos possuem maior probabilidade de adquirir
leso renal quando a presso sangunea atinge valores maiores que 160 mmHg
(BROWN et al., 2007).
JACOB et. al. (2003) descobriram que o aumento da presso sistmica
em decorrncia de crise urmica diminui a funo renal, estando associada com a
magnitude da proteinria.
As leses oculares so comuns em ces hipertensos. Esta sndrome
denominada retinopatia hipertensiva e as leses comumente encontradas no
exame de fundo de olho so leses de retina, como descolamento retinal
exsudativo, hemorragia, edema multifocal, edema perivascular, tortuosidade
vascular, papiledema, degenerao da retina (sequela tardia), alm de hemorragia
vtrea, hifema e glaucoma (SANSOM & BODEY, 1997).
2.3.3 Sndrome nefrtica
A proteinria persistente pode levar aos sinais clnicos de sndrome
nefrtica, em que se associa ascite, edema, hipoalbuminemia e
hipercolesterolemia (BROWN, 1995; BUEMI et al., 2005). Em adio a esses sinais
clnicos, hipertenso sistmica e hipercoagulabilidade so complicaes frequentes
em ces com sndrome nefrtica (WARE, 2006a).
Em estudo experimental modelo para a sndrome nefrtica canina, CHOI
& LEE (2003) confirmaram o desenvolvimento de glomerulonefrite e sndrome
nefrtica em cinco ces entre nove estudados. Aumento da PU/CU (>1,0),
hipoalbuminemia (240 mg/dl) e edema foram
observados. A albumina foi a protena predominante na urina (48%). Um
decrscimo significante na albumina srica foi acompanhado por aumento das
concentraes da frao -2 globulinas. Todos os ces apresentaram edema na
presena de hipoalbuminemia.
O edema ou ascite ocorrem como resultado da diminuio da presso
onctica plasmtica e reteno de sdio pelo aumento da atividade da aldosterona
13
(BROWN, 1995).H tambm a hiptese de que mecanismos intra-renais
independentes da concentrao circulante de aldosterona contribuam para o
desenvolvimento de reteno de sdio em alguns casos (GRAUER, 2005a).
A hipercolesterolemia atribuda ao aumento na sntese heptica de
protenas e lipoprotenas e reduo no catabolismo das protenas e lipoprotenas
ricas em triglicrides, resultando em acmulo de lipoprotenas ricas em colesterol
que no so facilmente perdidas atravs das paredes dos capilares glomerulares.
Esses transtornos lipdicos e lipoproticos que ocorrem na sndrome nefrtica
produzem um mecanismo de auto manuteno que pode acelerar a progresso da
insuficincia renal crnica (BUEMI et al., 2005).
Secundariamente s vrias anormalidades no sistema de coagulao,
tais como elevao do fibrinognio e dos fatores V e VIII, deficincia de antitrombina
III, hipersensibilidade plaquetria e alterao na fibrinlise, ocorrem
hipercoagulabilidade e tromboembolismo (CAVALCANTE et al, 2006). A
antitrombina III uma protena de baixo peso molecular e facilmente perdida na
urina. Sua funo inibir a cascata de coagulao e sua deficincia a explicao
mais comumente proposta na instituio da doena tromboemblica em pacientes
com glomerulonefrite (GRANT & FORRESTER, 2001). Alm disso, estudos de
agregao plaquetria em ces com sndrome nefrtica demonstraram aumento da
sensibilidade das plaquetas em situaes de hipoproteinemia. Esta
hipersensibilidade plaquetria faz com que a adeso e agregao aumentem em
proporo da magnitude da hipoalbuminemia (GREEN et al., 1985).
2.4 Diagnstico da insuficincia renal crnica
Os indicadores bioqumicos comumente utilizados no diagnstico da IRC
em ces so a uria, creatinina, colesterol, fsforo, assim como a avaliao do
equilbrio cido-bsico, o acompanhamento da presso sangunea, dos ndices
eritrocitrios e dos sinais clnicos da insuficincia renal (KRONFELD, 1994).
As alteraes laboratoriais normalmente encontradas em ces com
insuficincia renal crnica incluem azotemia, hiperfosfatemia, aumento srico de
paratormnio (PTH), acidose metablica, anemia no regenerativa, hipercalcemia
14
ou hipocalcemia, isostenria, proteinria, hipercolesterolemia e infeco do trato
urinrio (POLZIN et al., 2005).
De acordo com o protocolo de tratamento institudo, ces com IRC
apresentam mdia de sobrevida de 594 dias (VADEN, 2007). A IRIS (International
Renal Interest Society) props um sistema de classificao da IRC em
estadiamentos a fim de facilitar o tratamento e acompanhamento do paciente. A
classificao baseia-se na concentrao plasmtica de creatinina e divide-se em
quatro estgios. Aps, os animais so divididos em subcategorias por meio da
mensurao da proteinria e presso arterial (BROWN, 2006):
Estgio I: animal no-azotmico e geralmente no apresentam sinais clnicos;
creatinina < 1,4 mg/dl; presena de proteinria e/ou hipertenso;
Estgio II: animal apresenta azotemia renal discreta, geralmente com ausncia
de sinais clnicos; creatinina entre 1,4 2,0 mg/dl; presena de proteinria e/ou
hipertenso;
Estgio III: animal apresenta azotemia renal moderada devido ao declnio da
taxa de filtrao glomerular e sinais de uremia. creatinina entre 2,1 5,0 mg/dl;
presena de proteinria e/ou hipertenso;
Estgio IV: animal apresenta sinais clnicos referentes ao quadro de sndrome
urmica; creatinina > 5,0; presena de proteinria e/ou hipertenso.
Ces e gatos com IRC so mais susceptveis a infeces do trato
urinrio. A perda da capacidade em concentrar urina ocasiona diminuio da
funo antibacteriana da urina (GRAUER, 2005b). Alm disso, o animal urmico
mais susceptvel a infeces em consequncia de uma resposta inflamatria
alterada e diminuio da imunidade celular (WARE, 2006b).
A anemia no regenerativa resultante de uma combinao de fatores,
incluindo produo diminuda de eritropoetina, menor sobrevida das hemcias,
perda de sangue pelo trato gastrointestinal e efeitos das toxinas urmicas sobre a
eritropoese (WARE, 2006b).
A acidose metablica pode associar-se a doena renal progressiva,
perda de massa muscular e desenvolvimento de osteodistrofia (VADEN, 2007).
NASSAR (2000) observou que 60% dos ces com IRC apresentavam acidose
metablica.
15
A hiperfosfatemia ocorre frequentemente em ces com IRC. LAZARETTI
et al. (2006) determinaram concentraes sricas de paratormnio intacto, fsforo
e clcio em ces com IRC. Observaram correlao entre PTH e fsforo, o que no
ocorreu entre PTH e clcio. O aumento srico na quantidade de PTH est
relacionado hiperfosfatemia, indicando o hiperparatireoidismo secundrio renal.
A hipercalcemia apresentada em ces com aumento srico de PTH, no presente
estudo, sugeriu hiperparatireoidismo tercirio, devido estimulao persistente da
paratireide que secreta PTH mesmo em presena da hipercalcemia, o que pode
ocorrer em estgios avanados da IRC.
A excreo fracionada dos eletrlitos pode ser utilizada na avaliao da
funo tubular, sendo definida como a relao entre o eletrlito em questo e a
eliminao de creatinina (DIBARTOLA, 2000). O valor de excreo fracional de
sdio em ces sadios
16
urina sobre a concentrao de protena em uma nica amostra anulado. A
condio para realizao dessa relao o sedimento urinrio estar inativo. Ces
hgidos apresentam ndice PU/CU menor que 0,5, sendo valores acima de 0,5
indicativos de leso glomerular (GRAUER, 2007).
JACOB et al. (2003) avaliaram a relao protena: creatinina urinria de
45 ces e demonstraram que ces com IRC que apresentaram relao protena:
creatinina >1,0 apresentaram maior risco de desenvolver crise urmica do que ces
com IRC com relao protena: creatinina
17
utilizada para avaliar o tamanho, a posio e o dimetro dos rins. Alm disso,
permite a mensurao qualitativa da funo renal (HEUTER, 2005).
Por meio da utilizao de todas as ferramentas laboratoriais citadas
possvel realizar o diagnstico da doena precocemente. Em estgios iniciais, o
tratamento da IRC se realizado adequadamente estabiliza os sinais clnicos,
melhora a qualidade de vida e consequentemente aumenta a sobrevida do
paciente.
2.5 Justificativa
A longevidade dos animais de companhia tem aumentado com o passar
dos anos. Este fato deve-se ao maior cuidado dos donos em relao sade de
seus animais, principalmente no que se diz respeito alimentao. A
disponibilidade no mercado de ampla variedade de formulaes dietticas
especficas, que variam de acordo com a idade, porte fsico, raa e sexo, permite
um melhor aporte nutricional e qualidade de vida. Assim, doenas que acometem
animais senis esto mais freqentes. A doena renal crnica, com evoluo para
insuficincia renal crnica, uma das principais afeces que acometem ces de
meia idade. Pelo fato de ser uma doena insidiosa, na maioria dos casos, o
diagnstico feito tardiamente. As chances de sucesso no tratamento so
inversamente proporcionais ao estgio em que a doena se encontra.
Com a evoluo das metodologias de diagnstico laboratorial possvel
realizar o diagnstico em estgios iniciais. Diante desses aspectos, o presente
estudo visa colaborar para uma melhor compreenso das alteraes laboratoriais
resultantes de mecanismos que desencadeiam a insuficincia renal por meio de
exames complementares que ainda no fazem parte da rotina clnica na Medicina
Veterinria.
18
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar as diferentes
tcnicas de diagnstico como mtodos de avaliao da funo e da integridade
renal em ces sadios e doentes renais crnicos.
3.2 Objetivos especficos
Os objetivos especficos consistiram em avaliar a funo e integridade
renal de ces sadios e com doena renal crnica, por meio da realizao de:
Exame clnico;
Hemograma e fibrinognio;
Bioqumica srica: uria, creatinina, protenas totais, albumina, globulinas,
fsforo, clcio, sdio, potssio, e colesterol;
Bioqumica urinria: sdio, potssio, GGT, protena e creatinina;
Urinlise;
Determinao da relao protena/creatinina urinria;
Ultrassonografia do sistema urinrio;
Determinao da presso arterial sistmica.
19
4 MATERIAL E MTODOS
4.1 Planejamento do estudo
O estudo foi desenvolvido no Hospital Veterinrio da Escola de
Veterinria e Zootecnia da Universidade Federal de Gois (HV-UFG), Goinia. O
estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da UFG.
Os animais selecionados para o grupo controle pertenciam a
proprietrios (domiciliados) e a Associao Protetora e Amiga dos Animais
(ASPAAN), que consentiram a colheita das amostras. Os ces de proprietrios
foram atendidos na rotina do HV-UFG, no perodo de 24 meses (agosto 2009 a
junho 2011). Os que pertenciam ao abrigo ASPAAN foram atendidos no local em
junho de 2011. Foram estudados 61 ces sadios, machos e fmeas de variadas
idades e raas e 29 ces doentes renais crnicos (grupo DRC). Os ces sadios
foram subdivididos em trs subgrupos. O subgrupo C1 compreendeu dez animais
com idades variando entre seis e 12 meses para ces de pequeno e mdio porte,
e seis e 18 meses para ces de grande porte; o subgrupo C2 compreendeu 40
animais entre 12 meses e oito anos para ces de pequeno e mdio porte, e 18
meses e sete anos para animais de grande porte e finalmente o subgrupo C3 foi
composto por 11 animais com idade acima de oito anos para animais de pequeno
e mdio porte, e acima de sete anos para animais de grande porte.
A avaliao dos animais constou de anamnese, exame clnico,
ultrassonografia, mensurao da presso arterial e da realizao dos seguintes
exames laboratoriais: hemograma, urinlise, fibrinognio, dosagem srica de
creatinina, uria, protena total, albumina, globulinas, colesterol, clcio, fsforo,
sdio e potssio e determinao da relao protena/creatinina na urina,
determinao da atividade urinria da gama glutamiltransferase (GGT) e excreo
fracional de sdio e de potssio (Figura 5). Foi includo no presente estudo uma
avaliao laboratorial de cada animal estudado em ambos os grupos. Para os
animais doentes foram realizadas demais avaliaes laboratoriais para
acompanhamento clnico e tratamento.
20
FIGURA 5 - Procedimento de mensurao de presso arterial (A), de colheita de urina por cistocentese (B) e de tosquia para realizao de ultrassonografia (C), Goinia, 2011
4.2 Anamnese e exame clnico
Os animais sadios foram selecionados de acordo com os dados da
anamnese e exame clnico obtidos em fichas prprias e dos exames laboratoriais,
excluindo-se enfermidades pr-existentes e doena de origem renal. Aps os
exames de triagem e avaliao clnica realizada por veterinrios do HV-UFG, os
animais doentes foram encaminhados para o estudo e avaliados com anamnese,
exame clnico (Figura 6), ultrassonografia, mensurao da presso arterial e
exames laboratoriais. As amostras foram colhidas no momento que o paciente era
levado ao consultrio. Os animais no estavam em jejum hdrico e alimentar.
FIGURA 6 Animal sadio pertencente ao grupo C1 em bom escore corporal (A) e animal pertencente ao grupo DRC apresentando caquexia (B), Goinia, 2011
A B C
21
4.3 Critrios de incluso no grupo DRC
Foram utilizados como critrios de incluso a concentrao srica de
creatinina acima de 1,4 mg/dL ou a presena de relao protena/creatinina urinria
>0,5. Como critrios de excluso, foi considerada a existncia de outras
enfermidades concomitantes, clinicamente detectadas.
4.4 Avaliaes laboratoriais
As anlises foram realizadas no Laboratrio Multiusurio do Programa
de Ps-Graduao em Cincia Animal da Escola de Veterinria e Zootecnia da
UFG.
Para o hemograma e fibrinognio foram obtidos 2,0 mL de sangue por
venopuno jugular em tubo com etilenodiaminotetracetato (EDTA). A contagem
das clulas sanguneas foi determinada pelo mtodo automtico utilizando-se o
aparelho BC 2800 vet (Auto Hematology Analyzer, Mindray Bio-Medical
Electronics Co. Ltda, Shenzhen - Guangdong), adaptado com o carto prprio de
leitura para a espcie canina. O fibrinognio foi determinado pela tcnica de
precipitao no tubo de microhematcrito a 56oC (JAIN, 1993).
Para as provas de bioqumica srica foi obtido 5,0 mL de sangue por
venopuno jugular em tubo sem anticoagulante, que foi centrifugado aps retrao
do cogulo. Em seguida, o soro foi dividido em alquotas, armazenadas em
microtubos de polipropileno de 1,5 mL (Eppendorf, Alemanha) e submetidas ao
congelamento (-20 C) at o momento da realizao dos exames.
Para cada metablito analisado, exceto sdio e potssio, foram
utilizados reagentes comerciais padronizados (Labtest - Labtest Diagnstica S.A.,
Lagoa Santa-MG), com metodologias cinticas, enzimticas ou colorimtricas, em
temperatura de 37C, sendo a leitura realizada em espectrofotmetro semi-
automtico (Analisador Bioqumico Bio-Plus, Produtos para Laboratrios Ltda,
Barueri-SP).
22
O sdio e o potssio foram determinados por meio de fotometria de
chama (Fotmetro de Chama FC-180 CELM, Cia Equipadora de Laboratrios
Modernos, Barueri-SP), utilizando-se um padro de calibrao especfico.
A quantidade de uria foi determinada por meio de mtodo enzimtico
colorimtrico, por reao com a urease e a leitura feita utilizando-se um
comprimento de onda de 610 nm. A creatinina srica e urinria foi determinada por
mtodo colorimtrico, por reao com o picrato alcalino, sendo realizada a leitura
em um comprimento de onda de 510 nm. Para a mensurao da creatinina urinria
utilizou-se diluio da urina nas propores de 1:25 sendo os resultados da leitura
multiplicados por 25.
A protena total srica foi determinada por mtodo colorimtrico, por
reao com o biureto, utilizando-se na leitura um comprimento de onda de 510 nm.
A albumina foi avaliada por meio de mtodo colorimtrico, por reao com o verde
de bromocresol, em um comprimento de onda de 610 nm. As globulinas foram
calculadas pela diferena entre o valor de protena total e albumina. A determinao
da concentrao de protena urinria foi realizada utilizando-se mtodo
colorimtrico, por reao com o vermelho de pirogalol, a uma absorbncia de 610
nm.
Os nveis sricos de sdio e potssio foram determinados aps a
calibrao do fotmetro com gua destilada (ajustada em zero) e com o padro
ajustado em 140 mmol/L para o sdio e 5 mmol/L para o potssio. As amostras e o
padro foram diludos em soluo de gua destilada numa proporo de 1:100. Os
valores urinrios de sdio e potssio foram determinados da mesma forma. As
amostras de urina foram anteriormente diludas em gua destilada nas propores
de 1:11 e posteriormente em 1:100, sendo os resultados da leitura multiplicados
por 11.
A determinao da GGT urinria foi realizada logo aps a colheita e o
resultado calculado segundo DeSCHEPPER et al. (1989), que utilizaram a
densidade urinria de 1.025 como fator de correo para o fluxo urinrio de uma
nica amostra colhida de cada animal, por meio da seguinte frmula:
X= Y x 25
Z
23
onde: X a atividade de GGT urinria calculada; Y a atividade da GGT urinria
da amostra e Z corresponde aos ltimos dois dgitos da densidade urinria da
amostra.
O clcio srico foi analisado pelo mtodo colorimtrico, por reao com
a prpura de ftalena, em um comprimento de onda de 570 nm. Os nveis de fsforo
srico foram obtidos por meio de mtodo colorimtrico, por reao com o
molibdnio, utilizando-se um comprimento de onda de 640 nm.
O colesterol foi determinado por mtodo enzimtico, por reao com a
aminoantipirina, em um comprimento de onda de 600 nm.
As amostras de 10 mL de urina foram obtidas por cistocentese. A anlise
da urina foi realizada logo aps a colheita e compreendeu exame fsico, qumico e
microscpico. O exame fsico avaliou volume, cor, aspecto e densidade. O exame
qumico consistiu na avaliao do pH, de protena, glicose, cetonas, bilirrubina,
hemcias, hemoglobina, urobilinognio, nitrito e leuccitos empregando tiras
reagentes (Biocolor, Bioeasy Diagnstica Ltda, Belo Horizonte-MG). A densidade
urinria foi determinada em refratmetro porttil. Aps a centrifugao da urina, o
sedimento urinrio foi examinado aps sua ressuspenso em uma gota do
sobrenadante, disposto entre lmina e lamnula e observado em microscopia ptica
com objetiva de 40 vezes, antes do congelamento. O exame microscpico avaliou
o sedimento quanto aos componentes: hemcias, leuccitos, cilindros, bactrias,
leveduras, parasitos, cristais, filamentos de muco e artefatos.
Para os testes bioqumicos na urina, as amostras foram centrifugadas,
subdivididas em microtubos de polipropileno de 1,5 mL (Eppendorf, Alemanha) e
congeladas (-20 C) at o momento da realizao dos exames, exceto a alquota
destinada determinao da atividade urinria de GGT.
Para realizar a interpretao estatstica da sedimentoscopia, criou-se um
ndice representativo da gravidade da leso renal observada no exame de urina de
rotina. Foram utilizados valores atribudos a cada componente do exame como est
explicitado no Quadro 2. O valor final dado a cada co foi o somatrio de pontos de
cada item avaliado.
24
QUADRO 2 - Escore de gravidade da leso renal observada no exame de urina de rotina
Urinlise Escore
Protena + 1 ponto para cada +
Cilindros
Hialinos + 1 ponto para cada +
Granulosos finos + 2 pontos para cada +
Granulosos grossos + 3 pontos para cada +
Epitelial + 4 pontos para cada +
Hematnico + 4 pontos para cada +
Leucoctico + 4 pontos para cada +
Cereos + 4 pontos para cada +
Clulas Epitelial transicional + 1 ponto para cada +
Renal + 2 pontos para cada +
Leuccitos e hemcias
1-5 1 ponto
6-10 2 pontos
11-20 3 pontos
Acima de 20 4 pontos
4.4.1 Relao protena/creatinina urinria (PU/CU)
A mensurao da PU/CU foi realizada somente nas amostras de urina que
continham sedimento urinrio inativo.
Os valores obtidos nas mensuraes de protena e creatinina na urina foram
aplicados na seguinte frmula:
PU/CU = Protena total (mg/dL)
Creatinina (mg/dL)
4.4.2 Excreo fracional de sdio e potssio
A excreo fracional (EF) de sdio e potssio foi calculada para a
avaliao da funo tubular, a partir dos resultados obtidos na bioqumica srica e
urinria. A EF, frao de depurao urinria dos eletrlitos em relao creatinina,
foi calculada a partir da frmula proposta por FLEMING et al. (1991), representada
a seguir.
EF (%) = EU x CrS x 100
ES CrU
25
onde: E: eletrlito; Cr: creatinina; U: urinrio; S: srico.
4.5 Ultrassonografia
Para realizao do exame ultrassonogrfico os ces foram tricotomizados
na regio hipocndrica abdominal, ventral aos msculos sublombares e caudal
ltima costela esquerda e aos dois ltimos espaos intercostais direitos. Uma
espessa camada de gel acstico foi aplicada na pele para facilitar o contato do
transdutor com o stio do exame. As imagens sonogrficas em tempo real foram
obtidas com o uso do equipamento de ultrassonografia (Mylab 320 Esaote,
Biosound Esaote Inc., Indianapolis, USA). Os planos de seco longitudinal e
transversal foram utilizados para a mensurao das medidas lineares.
Para a interpretao do tamanho renal (normal, aumentado ou diminudo) foi
utilizada a descrio de BARR et al. (1990) que citou valores de normalidade
conforme a variao do peso corpreo (Quadro 3).
QUADRO 3 - Parmetros renais em 100 ces hgidos, de raas variadas e sem distino sexual
Peso corpreo (kg) Comprimento (cm) Volume mdio (mL)
0 - 4 3,2 - 3,3 3,3 - 3,7
5 - 9 3,2 - 5,2 6,6 - 18,0
10 - 14 4,8 - 6,4 14,1 - 39,6
15 - 19 5,0 - 6,7 19,0 - 40,1
20 - 24 5,2 - 8,0 26,2 - 51,3
25 - 29 5,3 - 7,8 25,2 - 64,0
30 - 34 6,1 - 8,7 30,5 - 75,5
35 - 39 6,6 - 9,3 44,4 - 102,1
40 - 44 6,3 - 8,4 41,2 - 87,7
45 - 49 7,6 - 9,1 58,2 - 98,6
50 - 59 7,5 - 10,6 56,7 - 120,9
60 - 69 8,3 - 9,8 80,0 - 124,9
90 - 99 8,6 - 10,1 133,8 - 149,6
Fonte: BARR et al. (1990)
26
4.6 Presso arterial sistmica
Foram monitoradas as presses arteriais sistlicas nas artrias da regio
do metacarpo atravs de esfigmomanmetro e aparelho de Doppler (Doppler
Vascular Porttil Veterinrio Modelo DV 610, Medmega Indstria de Equipamentos
Mdicos Ltda, Franca, Brasil). Os manguitos utilizados tinham larguras de
aproximadamente 30 a 40% da circunferncia do membro no stio de colocao
dos mesmos. Para cada co foram realizadas, no mnimo, trs determinaes e
registradas as mdias destas. A primeira determinao foi descartada. Foram
considerados como hipertensos, ces com valores de presso sistlica igual ou
acima de 160 mmHg (FINCO, 2004).
4.7 Anlise estatstica
Aps a tabulao dos dados foram avaliados os valores de mdia,
desvio-padro, coeficiente de variao, mediana e intervalo de confiana. Aps
esta avaliao, optou-se por aplicar os testes no-paramtricos para comparao
das mdias, pelo fato dos dados obtidos no apresentarem normalidade e
homogeneidade.
Para comparao entre os grupos foram utilizados o teste de Kruskal-
Wallis (p < 0,05) e o teste de correlao de Spearman de acordo com SAMPAIO
(1998), exceto para a ultrassonografia que foi avaliada por anlise descritiva.
Adicionalmente foi realizado o clculo da matriz de distncias euclidianas entre os
quatro grupos (C1, C2, C3 e IRC) e foi construdo um dendrograma pelo mtodo de
agrupamento UPGMA.
Todos os testes acima citados foram calculados por meio do programa
computacional BIOESTAT 5.0 (AYRES et al., 2007).
27
5 RESULTADOS E DISCUSSO
A seleo dos animais do grupo controle foi criteriosa, procurando-se
escolher apenas aqueles realmente sadios, preocupao fundamentada no fato de
que muitas doenas podem acarretar uma srie de alteraes clnicas e
laboratoriais, refletindo nos exames. Portanto, os animais do grupo controle que
apresentaram enfermidades pr-existentes e doenas de origem renal foram
excludos do experimento.
Quanto ao nmero de ces utilizados no estudo, a definio da amostra
baseou-se na quantidade mnima de animais por grupo que permitiu a adequada
comparao estatstica. O grupo DRC comps-se de 29 animais devido ao fato de
quatro animais doentes terem vindo a bito anteriormente realizao de todas as
anlises propostas.
Em relao ao sexo, 65% dos ces eram fmeas, enquanto os machos
representaram 35% dos casos. A distribuio racial predominante de animais
doentes renais crnicos, neste estudo, foi a raa Pit Bull (17%), seguida de outras
raas como a Basset Hound, Poodle, Cocker Spaniel, Pastor Alemo, Boxer,
Teckel, Pinscher, Shih-tzu, Yorkshire Terrier e Blue Heeler (3% cada). Os animais
sem raa definida totalizaram 45%.
Em relao faixa etria dos animais doentes renais crnicos, 7% (n =
2) tinham idade inferior a dois anos, 41% (n = 12) variaram entre dois e seis anos
e onze meses, 31% (n = 9) entre sete e dez anos e 21% (n = 6) tinham idade
superior a dez anos. A maior freqncia dos casos de DRC em ces com idade
superior a sete anos foi relatada por NOTOMI et al. (2006). Segundo POLZIN
(1995) a incidncia da IRC aumenta com a idade. POMEROY et al. (2004)
demonstrou em um estudo a correlao entre leses renais de origem no-
infecciosa e idade, comprovando que importantes leses renais como fibrose
intersticial, cistos tubulares e glomeruloesclerose aumentam em freqncia e
severidade em ces mais velhos. Neste estudo uma parcela significativa de animais
(48%) apresentou a DRC antes dos sete anos, sugerindo a importncia de
diagnstico mais cuidadoso em animais jovens.
Os ces sobreviveram em mdia trs meses aps o primeiro
28
atendimento. Dos 29 animais doentes estudados, 22 vieram a bito. A alta
mortalidade deveu-se ao fato de que todos os ces que vieram a bito, no momento
do diagnstico, encontravam-se em estgios avanados da doena (estgios III e
IV). O estgio I incluiu 10% (n = 3) dos ces; o estgio II 10% (n = 3); o estgio III,
42% (n = 12) e o estgio IV representou 38% (n = 11) dos animais. VADEN (2007)
citou mdia de sobrevida de 594 dias para ces no estgio III da IRC, sendo o
protocolo de tratamento institudo um fator importante no aumento da sobrevida dos
animais. Entretanto, o sucesso no tratamento menor nos estgios finais, onde as
manifestaes clnicas so exacerbadas e refratrias terapia (WAKI et al., 2010).
Os principais sintomas e sinais clnicos apresentados pelos animais
doentes renais crnicos esto apresentados na Tabela 1.
TABELA 1 - Frequncia absoluta e relativa dos sintomas e sinais clnicos observados em ces (n = 29) com doena renal crnica, Goinia, 2011
Sinais Clnicos Frequncia
Absoluta Relativa
Poliria/polidipsia 24/29 82,8%
Emagrecimento 23/29 79,3%
mese 23/29 79,3%
Apatia 21/29 72,4%
Disorexia 13/29 44,8%
Desidratao 13/29 44,8%
Anorexia 11/29 38,0%
Alterao na cor e consistncia das fezes 8/29 27,6%
Sensibilidade abdominal 7/29 24,1%
A presena de poliria e polidipsia (PU/PD) foram relatadas em 82,8%
dos casos. Segundo RUBIN (1997), a PU/PD esto entre as primeiras
manifestaes clnicas da insuficincia renal crnica em ces. Sua ocorrncia se
d quando h perda de funo de aproximadamente 66% dos nfrons (GRANT &
FORRESTER, 2001). Alm disso, foi observada uma relao entre a presena de
PU/PD e a diminuio da densidade urinria. A perda de capacidade em concentrar
urina e a presena de PU/PD ocorrem anteriormente a azotemia, cuja ocorrncia
se d apenas quando 75% dos nfrons esto comprometidos (REINE &
LANGSTON, 2010).
29
A desidratao, presente em 44,8% dos animais com IRC, ocorre como
consequncia da poliria, mese e diarria. A desidratao intensa pode ocasionar
a hipoperfuso dos rins agravando a funo renal (DiBARTOLA, 1997).
Complicaes gastrointestinais incluindo nuseas, vmitos, disorexia, diarria e
sangramento gastrointestinal, esto entre os sinais mais frequentes da sndrome
urmica. Associam-se a esses sinais emagrecimento e anorexia, que so achados
inespecficos e podem preceder outros sinais de uremia (POLZIN, 2010). O
emagrecimento, observado em 79,3% dos casos, subseqente gastrenterite
urmica, reduo na ingesto de nutrientes, transtornos metablicos e catablicos
em decorrncia da uremia, principalmente a acidose metablica (POLZIN &
OSBORNE, 1995).
5.1 Avaliao da funo e doena renal
5.1.1 Perfil hematolgico
O perfil do eritrograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC e a
comparao entre os grupos esto apresentados na Tabela 2. Os valores mdios
de hemcia nos grupos C1, C2, C3 e DRC foram 5,51 x 1012/L, 5,97 x 1012/L, 6,61
x 1012/L e 4,51 x 1012/L, respectivamente. Foi observada diferena estatstica (p<
0,05) entre os grupos C2 e DRC e C3 e DRC.
Os valores de hemcia, hemoglobina, hematcrito e CHCM no grupo
DRC estiveram abaixo dos valores de referncia descritos para a espcie canina.
Os valores de VCM e HCM mostraram-se dentro da faixa de normalidade, indicando
anemia normoctica normocrmica. Segundo POLZIN (2010) ces e gatos com
doena renal crnica geralmente tm anemia normoctica normocrmica no-
regenerativa, cuja gravidade proporcional diminuio da funo renal. Outras
causas da anemia na DRC incluem deficincia de ferro, deficincia de cido flico
e vitamina B12 (ABENSUR, 2004).
30
TABELA 2 - Perfil do eritrograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC, com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011
Eritrograma Grupos n Mdia DP Mediana CV(%) IC (0,95)
Hemcias C1 10 5,5ABC 1,1 5,4 19 4,7 6,3
(106/L) C2 40 5,9AB 1,0 6,0 16 5,7 6,3
C3 11 6,6A 1,5 6,4 23 5,6 7,6
DRC 29 4,5C 1,4 4,5 31 4,0 5,0
Hemoglobina C1 10 12,19BC 2,7 12,0 22 10,8 13,6
(g/dL) C2 40 13,23B 2,5 14,2 19 12,4 14,0
C3 11 16,03A 3,5 16,1 22 13,6 18,4
DRC 29 10,20C 4,2 10,8 41 8,6 11,8
Hematcrito C1 10 36,4AB 7,4 35,3 20 31,2 41,7
(%) C2 40 46,7A 46,0 40,6 99 32,0 61,5
C3 11 43,7A 11,3 44,6 26 36,1 51,3
DRC 29 30,9B 12,7 31,6 41 26,1 35,7
VCM C1 10 66,2A 3,4 65,9 5 63,8 68,6
(fL) C2 40 65,5A 6,6 66,9 10 63,4 67,6
C3 11 67,3A 2,8 67,6 4 65,5 69,2
DRC 29 68,4A 7,5 67,3 11 65,5 71,2
HCM C1 10 19,7A 7,0 21,5 36 14,7 24,7
(g/dL) C2 40 22,0A 1,7 22,3 8 21,7 22,8
C3 11 24,3C 1,9 24,8 8 23,0 25,6
DRC 29 21,2AB 2,3 21,7 11 20,3 22,0
CHCM C1 10 29,9AC 10,5 33,65 35 22,4 37,4
(%) C2 40 33,8A 2,2 33,90 7 33,1 34,5
C3 11 36,2B 2,6 36,00 7 34,4 37,9
DRC 29 31,3C 4,1 32,40 13 29,8 32,8
Plaquetas C1 10 357,1A 122,6 378,0 34 269,4 444,8
(103/L) C2 40 263,5A 125,0 260,5 47 223,5 303,5
C3 11 306,9A 130,6 315,0 43 219,2 394,7
DRC 29 291,3A 187,3 245,0 64 220,1 362,5
Mdias seguidas de letras diferentes, dentro da mesma coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05).
A anemia observada nos ces com DRC deste estudo uma
complicao freqentemente encontrada nos pacientes portadores de doena renal
crnica como consequncia de diversas causas, principalmente pela reduo da
sntese de eritropoetina (EPO). A sntese de EPO ocorre primariamente pela
liberao do fator eritropoitico renal, tambm chamado de eritrogenina, pelas
31
clulas do aparelho justaglomerular no rim, sendo responsvel pela ativao do
eritropoietinognio em EPO (KHURANA, 2009). Secundariamente a EPO
produzida por uma pequena frao no fgado pelas clulas de Kupffer e por outros
macrfagos (FELDMAN et al., 2006). Acredita-se que no co a nica fonte de
eritropoietina se d pela liberao do fator eritropoitico renal. Em outras espcies
e seres humanos a produo extra-renal de EPO ajuda a manter a eritropoiese em
casos de anemia provocada por doena renal grave (SWENSON & REECE, 1996).
A contagem de plaquetas estava dentro da faixa de normalidade em
todos os grupos. A produo de plaquetas e dos fatores de coagulao normal
em pacientes com DRC, exceto nos casos de sndrome nefrtica (POLZIN &
OSBORNE, 1995).
O perfil do leucograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC e a
comparao entre os grupos esto apresentados na Tabela 3. Os valores de
leuccitos estavam dentro da faixa de normalidade em todos os grupos e no
diferiram estatisticamente (p>0,05).
Os valores de bastonetes, segmentados, eosinfilos e linfcitos estavam
dentro da faixa de normalidade em todos os grupos. Os neutrfilos segmentados
do grupo DRC apresentaram valores maiores do que os outros grupos, diferindo
dos grupos C1 e C2 (p
32
TABELA 3 - Perfil do leucograma dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC, com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011
Leucograma Grupos n Mdia DP Mediana CV(%) IC (0,95)
Leuccitos Totais
C1 10 8780,0A 2614,8 8200 30 6909,6 10650,4
C2 40 9110,0A 3196,2 8350 35 8087,6 10132,4
(103/L) C3 11 8972,7A 4198,6 7700 47 6152,2 11793,2
DRC 29 11708,6A 7491,5 9500 64 8859,5 14557,6
Bastonetes C1 10 36,2B 47,3 0 131 2,4 70,0
(/L) C2 40 175,2A 150,2 124 86 127,2 223,3
C3 11 96,6AB 51,5 96 53 62,0 131,3
DRC 29 121,7B 208,9 70 172 42,2 201,1
Segmentados C1 10 4866,0A 1443,3 4396 30 3833,6 5898,4
(/L) C2 40 5535,0AB 2286,7 5373 41 4803,6 6266,4
C3 11 6257,1B 3271,4 5250 52 4059,4 8454,5
DRC 29 9077,6B 6392,5 8112 70 6646,4 11508,6
Eosinfilos C1 10 311,7A 267,0 267 86 120,7 502,7
(/L) C2 40 393,3A 447,6 314 114 250,2 536,6
C3 11 286,91AB 331,0 81 115 64,6 509,3
DRC 29 144,0B 312,6 0 217 25,1 262,9
Linfcitos C1 10 2955,1A 1754,2 2763 59 1700,3 4209,9
(/L) C2 40 2294,6A 1609,3 1852 70 1779,8 2809,4
C3 11 1512,54AB 827,04 1608 55 956,9 2068,1
DRC 29 1486,53B 1198,25 1309 81 1030,8 1942,2
Moncitos C1 10 521,4A 317,7 447 61 294,1 748,7
(/L) C2 40 689,7A 556,9 510 81 511,6 867,9
C3 11 712,4A 576,5 432 81 325,1 1099,7
DRC 29 812,5A 920,8 574 113 462,3 1162,7
Mdias seguidas de letras diferentes, dentro da mesma coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05).
5.1.2 Fibrinognio
Os valores de fibrinognio (Tabela 4) apresentaram-se dentro dos
valores de referncia para a espcie canina e no houve diferena estatstica entre
os grupos (p>0,05).
Para ces, o valor de normalidade do fibrinognio compreendido entre
100 e 500 mg/dL (SCHALM et al., 1970). O fibrinognio considerado uma protena
de fase aguda que se eleva nas primeiras horas aps o incio da inflamao,
33
entretanto, diferentemente dos bovinos e eqinos, nos ces a hiperfibrinogemia de
origem inflamatria persiste apenas 24 a 72 horas (VECINA, 2006).
TABELA 4 - Parmetros de fibrinognio dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011
Grupos n Mdia DP Mediana CV(%) IC (0.95)
Fibrinognio C1 10 240,0 A 96,6 200 40 170,9 309,1
(mg/dL) C2 40 255,0 A 161,6 200 63 203,3 306,7
C3 11 227,3 A 100,9 200 44 159,5 295,0
DRC 29 400,0 A 268,6 300 67 297,8 502,1
Mdias seguidas de letras iguais, dentro da mesma coluna, no diferem estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p > 0,05).
5.1.3 Perfil bioqumico sanguneo
A) Creatinina e uria
Os nveis mdios de creatinina srica nos grupos foram de 0,89 mg/dL
(C1), 0,91 mg/dL (C2), 0,79 mg/dL (C3) e 5,36 mg/dL (DRC), sendo o grupo DRC
significativamente maior que os demais (p
34
TABELA 5 - Perfil bioqumico sanguneo dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC, com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011
Bioqumica srica
Grupos n Mdia DP Mediana CV(%) IC (0,95)
Creatinina (mg/dL)
C1 10 0,89A 0,34 0,84 38 0,6 1,1 C2 40 0,91A 0,18 0,92 20 0,8 1,0
C3 11 0,79A 0,25 0,90 31 0,6 1,0 DRC 29 5,36B 4,11 4,40 77 3,8 6,9
Uria C1 10 34,62A 7,80 35,60 22 29,0 40,2 (mg/dL) C2 40 39,68A 15,33 35,75 39 34,8 44,6 C3 11 46,30A 15,02 40,50 32 36,2 56,4 DRC 29 206,68B 218,36 155,00 106 123,6 289,7
Protena total (g/dL)
C1 10 6,01C 1,20 5,53 20 5,2 6,9 C2 40 9,25A 1,72 8,92 19 8,6 9,7
C3 11 8,48AB 1,45 8,38 17 7,5 9,4 DRC 29 7,88B 1,97 7,21 25 7,1 8,6
Albumina C1 10 2,33AC 0,63 2,39 27 1,9 2,8 (g/dL) C2 40 2,70BC 0,60 2,57 22 2,5 2,9 C3 11 2,97C 0,94 2,76 32 2,3 3,6 DRC 29 2,35A 1,06 2,13 45 1,9 2,7
Globulina (g/dL)
C1 10 3,70C 1,30 3,34 35 2,8 4,6 C2 40 6,56A 1,92 6,37 29 6,0 7,2
C3 11 5,51AB 1,63 5,11 30 4,4 6,6 DRC 29 5,54B 1,92 5,05 35 4,8 6,3
Colesterol (mg/dL)
C1 10 154,80AB 65,99 131,01 43 107,6 202,0 C2 40 156,70B 94,05 132,00 60 126,6 186,8
C3 11 232,34BC 172,28 168,00 74 116,6 348,1 DRC 29 227,05AC 118,91 210,00 52 181,8 272,3
Clcio C1 10 10,74A 2,11 10,15 20 9,2 12,2 (mg/dL) C2 40 10,89A 1,93 10,65 18 10,3 11,5 C3 11 10,01A 0,87 10,02 9 9,4 10,6 DRC 29 12,96A 10,95 9,70 84 8,8 17,1
Fsforo (mg/dL)
C1 10 6,48A 2,85 6,55 44 4,5 8,5 C2 40 4,09B 1,71 4,30 42 3,5 4,6
C3 11 3,78BC 1,40 3,80 37 2,8 4,7 DRC 29 10,94A 8,80 9,10 80 7,6 14,3
Sdio C1 10 137,90A 10,57 139,50 8 130,3 145,5 (mEq/L) C2 40 129,85B 8,10 129,50 6 127,3 132,5 C3 11 135,10AB 16,34 137,00 12 124,1 146,1 DRC 29 139,10A 13,70 139,00 10 133,9 144,3
Potssio (mEq/L)
C1 10 4,42A 0,52 4,65 12 4,1 4,8 C2 40 4,34A 0,51 4,30 12 4,1 4,5
C3 11 4,46A 0,95 4,20 21 3,8 5,1 DRC 29 5,03A 1,15 4,70 23 4,6 5,5
Mdias seguidas de letras diferentes, dentro da mesma coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05).
35
Para CHEW & DiBARTOLA (1992) a concentrao de creatinina pode
ser influenciada pela idade, sexo e massa muscular; animais jovens apresentam
concentraes mais baixas, enquanto indivduos adultos, de massa muscular
desenvolvida, tendem a apresentar concentraes sricas mais elevadas. Nos
animais deste estudo os valores de creatinina no foram influenciados pela idade
(Tabela 5). Segundo POLZIN (2010) preciso considerar essas variaes de
creatinina no momento da interpretao dos resultados laboratoriais a fim de evitar
uma classificao errnea.
A creatinina mais eficiente que a concentrao plasmtica de uria
para o diagnstico de IRC. Estudos relataram altas ou baixas correlaes entre as
concentraes de creatinina e uria plasmticas (BRAUN et al, 2003). Neste
estudo, houve uma alta correlao (r= 0,73; p= 0.0002) entre as concentraes de
creatinina e uria sricas no grupo IRC.
Os nveis sricos de uria no grupo IRC (Tabela 5) tambm excederam
os valores de referncia. As mdias entre os grupos foram 34,62 mg/dL (C1), 39,68
mg/dL (C2), 46,30 mg/dL (C3) e 206,68 mg/dL (DRC) sendo o estatisticamente
superior aos demais (p
36
B) Protena total, albumina e globulina
Os maiores valores de protena total foram observados nos grupos C2 e
C3 (Tabela 5).
Na avaliao dos ces saudveis, os menores valores de protena foram
observados no grupo C1, composto pelos animais mais jovens, e foi o reflexo dos
baixos valores de albumina. FELDMAN et al. (2006) afirmaram que o nvel de
protena total menor em animais mais jovens. A hipoproteinemia tambm pode
ocorrer em deficincias de protena diettica, podendo haver hipoproteinemia e
hipoalbuminemia concomitantes em caso de inadequada ingesto calrica protica.
FERREIRA (2006) avaliando dietas com diferentes valores de protena bruta (PB)
encontrou valores menores de protena e albumina em grupo de ces que ingeriram
uma dieta com PB de 12% em comparao s outras com 22% e 32% de PB. No
foi possvel estabelecer o histrico alimentar dos ces deste estudo, mas como uma
parcela importante pertencia a um abrigo (AASPAN), no se pode descartar a
possibilidade de m-nutrio calrico-protica.
Os valores mdios de albumina estavam diminudos no grupo DRC,
sendo significativamente inferior aos valores dos grupos C2 e C3 (p
37
glomerulopatias com envolvimento imunolgico.
C) Colesterol, fsforo e clcio
Os valores mdios de colesterol diferiram entre os grupos C2 e DRC.
Todos os grupos apresentaram valores mdios dentro da normalidade.
A hipercolesterolemia tem sido relatada em ces com sndrome nefrtica
(BUEMI et al., 2005). No presente estudo trs ces do grupo DRC apresentaram
hipercolesterolemia associada proteinria e hipoalbuminemia, sendo
estabelecido o diagnstico de sndrome nefrtica. Estudos iniciais sobre o assunto
detectaram prevalncia da sndrome nefrtica em ces com doena glomerular
variando entre 6% e 15%. Estudos recentes em oito instituies veterinrias de
ensino americanas detectaram a prevalncia de 0,5 caso por ano em um perodo
de 17 anos. Este fato deve-se crescente conscientizao sobre a necessidade de
uma avaliao mais completa e precoce no diagnstico e interveno desses
pacientes (KLOSTERMAN & PRESSLER, 2011).
Os valores mdios de fsforo dos grupos C1 e DRC foram superiores
aos valores de referncia (Tabela 5). Os grupos C1 e C2, C1 e C3, C2 e DRC, e
C3 e DRC diferiram significativamente entre si (p
38
Os valores mdios de clcio no diferiram entre os grupos (p>0,05),
embora os valores mdios de clcio no grupo DRC estivessem discretamente
elevados (Tabela 5). Esses resultados mostraram que os mecanismos
homeostticos foram eficientes na manuteno dos nveis sricos de clcio prximo
da normalidade na maioria dos animais do grupo DRC, inclusive naqueles em
estgios avanados da doena. Resultados semelhantes foram descritos por
MARTINZ & CARVALHO (2010) em estudo com ces com DRC e GIOVANINNI
(2003) em estudo com gatos com DRC. Entretanto, quatro ces apresentaram os
valores de clcio acima da referncia, indicando uma possvel presena do
hiperparatireiodismo tercirio, resultado semelhante ao descrito por LAZARETTI et
al. (2006) que atriburam essas alteraes estimulao persistente da paratireide
que secreta PTH mesmo em presena da hipercalcemia, o que pode ocorrer em
estgios avanados da IRC.
D) Sdio e potssio
Considerando os limites de normalidade preconizados por KANECO et
al. (1997), os valores mdios de sdio estavam diminudos em todos os grupos
(Tabela 5). Entretanto ficaram dentro do intervalo de normalidade considerando os
achados de FERREIRA (2006), que relata valores de sdio entre 128,8 mEq/L a
145,6 mEq/L em ces saudveis alimentados com teores de 22% de protena bruta.
Os valores numericamente muito prximos entre os grupos indicaram que os
mecanismos de regulao do sdio so mantidos at os estgios avanados da
IRC, o que corroborado por observao de CHEW & DIBARTOLA (1992).
Os resultados deste estudo diferiram dos de MARTNEZ & CARVALHO
(2010) que observaram hiponatremia em ces em estgios avanados da IRC. Para
LANGSTON (2008) a concentrao de sdio srico pode estar normal, aumentada
ou diminuda na insuficincia renal e para MARTNEZ & CARVALHO (2010) a perda
da capacidade de manter o balano de sdio na IRC ocorre quando a TFG cai para
menos do que 10% do valor normal.
Os valores mdios de potssio (Tabela 5) no diferiram entre os grupos
(p>0,05) e estavam dentro da normalidade. Similarmente aos achados aqui
encontrados MARTNEZ & CARVALHO (2010) no encontraram diferenas
significativas entre ces com IRC e ces sadios. Conforme os resultados descritos,
39
observou-se que mesmo em estgios avanados da IRC os mecanismos tubulares
compensatrios conseguiram manter a homeostasia do potssio. Esses resultados
diferiram de NOTOMI et al. (2006) que observaram hipercalemia na maioria dos
ces que apresentavam IRC.
A associao entre insuficincia renal polirica e hipocalemia
reconhecida em gatos. Entre 20% e 30% dos gatos com doena renal crnica tm
hipocalemia. Mltiplos mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de
hipocalemia, incluindo a perda renal excessiva associada poliria (LANGSTON,
2008). Em contraste, a hipocalemia parece ser uma manifestao incomum em
ces com IRC, exceto por complicaes iatrognicas, como por exemplo,
fluidoterapia (PHILLIPS & POLZIN, 1998). Os resultados deste estudo confirmam a
menor ocorrncia da hipocalemia em ces com IRC.
5.1.4 Perfil bioqumico urinrio
A) Relao PU/CU
As mdias da relao PU/CU nos grupos (Tabela 6) foram de 0,13 (C1),
0,12 (C2), 0,18 (C3) e 1,53 (DRC), sendo o ltimo significativamente maior que os
demais (p
40
que apresentava doena renal crnica (DRC) e que 36,7% apresentavam relao
PU/CU acima de 0,4.
TABELA 6 - Parmetros urinrios e de excreo fracional de eletrlitos dos ces dos grupos C1, C2, C3 e DRC com valores de mdia, desvio-padro (DP), mediana, coeficiente de variao (CV) e intervalo de confiana (IC), Goinia, 2011
Parmentros urinrios
Grupos n Mdia DP Mediana CV(%) IC (0,95)
Relao PU/CU C1 10 0,13A 0,07 0,10 54 0,1 0,2
C2 40 0,12A 0,10 0,09 79 0,07 0,13
C3 11 0,18A 0,17 0,14 93 0,06 0,29
DRC 29 1,53B 1,75 0,86 114 0,86 2,19
GGT (UI/L) C1 10 36,93A 12,63 38,28 34 27,9 45,96
C2 40 43,84A 44,38 32,71 101 29,6 58,0
C3 11 46,40A 45,87 28,98 99 15,59 77,21
DRC 29 80,49B 45,50 76,94 57 63,19 97,79
Excreo fracional de sdio (%)
C1 10 0,84A 1,04 0,47 125 0,1 1,58
C2 40 0,89A 1,62 0,56 183 0,38 1,42
C3 11 0,44A 0,35 0,35 78 0,2 0,67
DRC 29 8,40B 10,21 6,46 121 4,52 12,3
Excreo fracional de potssio (%)
C1 10 11,35A 11,33 8,75 100 3,24 19,45
C2 40 11,39A 12,63 10,06 111 7,36 15,44
C3 11 9,11A 5,56 8,75 61 5,37 12,84
DRC 29 103,34B 204,43 48,66 198 25,60 181,1
pH C1 10 6,20A 0,89 6,00 14 5,6 6,8
C2 40 6,83B 1,06 6,50 16 6,5 7,1
C3 11 6,45AB 0,93 6,00 14 5,9 7,1
DRC 29 5,90A 0,57 6,00 10 5,7 6,1
Densidade C1 10 1,041A 11,0 1,041 1 1,034 1,050
C2 40 1,041A 13,1 1,042 1 1,036 1,045
C3 11 1,039A 19,8 1,044 2 1,025 1,052
DRC 29 1,014B 7,3 1,013 1 1,011 1,016
Mdias seguidas de letras diferentes, dentro da mesma coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05).
Embora no tenha sido encontrada uma correlao altamente positiva
(r= 0,17) e significativa (p=0,45) entre relao PU/CU e creatinina srica, uma
parcela significativa (52,4%) dos ces que apresentavam relao PU/CU elevada
tinham altas concentraes sricas de creatinina. Esses achados foram diferentes
41
dos observados por CASTRO et al. (2009), que encontraram correlao
significativa entre proteinria e concentrao srica de creatinina em gatos com
DRC. KING et al. (2007) em estudo com gatos apresentando DRC e tratados com
benazepril ou placebo, no relataram correlao significativa entre creatinina e
relao PU/CU, porm consideraram estes como fatores independentes de risco
para menor sobrevida de gatos com DRC. Diante dos resultados aqui observados,
percebeu-se que a intensidade da proteinria esteve relacionada ao decrscimo da
funo renal, conforme descrito por GRAUER (2007).
B) GGT urinria
As mdias da atividade urinria da GGT (Tabela 6) nos grupos foram de
36,93 UI/L (C1), 43,84 UI/L(C2), 46,40 UI/L (C3) e 80,49 UI/L (DRC). O grupo DRC
apresentou valores significativamente superiores em relao aos demais grupos
(p
42
ces saudveis deste estudo (36,93 UI/L a 46,40 UI/L), o que refora a necessidade
de reviso dos valores de normalidade para os ces.
C) Excreo fracional de sdio e potssio
As mdias dos valores de excreo fracional de sdio foram 0,84% (C1),
0,89% (C2), 0,44% (C3) e 8,40% (DRC). As mdias dos valores de excreo
fracional de potssio foram 11,35% (C1), 11,39% (C2), 9,11% (C3) e 103,34%
(DRC). Os ces com DRC apresentaram valores significativamente superiores de
excreo fracional de sdio e potssio (Tabela 6) em relao aos demais grupos
(p1.0, principalmente no grupo com valores de creatinina acima
de 6 mg/dL. A excreo fracional de eletrlitos (Na+, K+, Cl- e Mg2+) foi elevada
principalmente nos grupos com valores de creatinina entre 2,5 a 6,0 mg/dL e acima
de 6,0 mg/dL, apresentando-se como um timo marcador de diminuio da funo
renal.
O presente trabalho tambm obteve resultados similares a TOLEDO
(2001) que estudou o perfil eletrofortico de protenas sricas e urinrias de ces
sadios e portadores de IRC, constatando valores de EF de sdio inferiores a 1%
nos animais normais (0,40% a 0,56%) e superiores a 7% nos animais doentes
(7,24% a 7,79%), refletindo a diminuio da capacidade de conservao da gua e
de sdio, que se manifesta clinicamente pela poliria (POLZIN & OSBORNE, 1995).
5.1.5 Urinlise
43
A) Densidade
A densidade urinria mdia nos diferentes grupos (Tabela 6) foi de 1,041
(C1), 1,041 (C2), 1,039 (C3) e 1,014 (DRC). O grupo IRC apresentou densidade
significativamente menor que os demais grupos (p
44
clulas tubulares proximais e distais em situaes de diminuio do pH extracelular
(intersticial e sanguneo) e da diminuio da absoro de bicarbonato pelos tbulos
proximais (STOCKHAM & SCOTT, 2011).
C) Protena
A protena nos grupos C1, C2 e C3 variou de traos a 1+. A urina de
ces hgidos apresenta ocasionalmente traos ou no mximo 1+ de protena
(KERR, 2003).
O ndice de protenria urinria foi obtido utilizando o escore de
gravidade da leso renal observada no exame de urina de rotina. O grupo DRC
apresentou proteinria moderada que variou entre traos at 3+. O ndice de
proteinria deste grupo foi significativamente superior (p
45
Os achados no grupo DRC confirmaram leso glomerular, que uma
das maiores causas de proteinria em ces (REINE & LANGSTON, 2010). O
aumento da excreo urinria de protenas de alto peso molecular (>100.000 Da),
e de albumina indicativo de transtorno severo da permeabilidade seletiva
glomerular, reabsoro tubular proximal diminuda, ou ambas (TOLEDO, 2001).
D) Cilindros e clulas
Foi observada em alguns animais a presena de cilindros hialinos e de