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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
ALTERNATIVAS DE SANITIZAÇÃO EM OVOS COMERCIAIS
Maria Juliana Ribeiro Lacerda
Orientadora: Profa. Dra. Nadja Susana Mogyca Leandro
GOIÂNIA 2011
MARIA JULIANA RIBEIRO LACERDA
ALTERNATIVAS DE SANITIZAÇÃO EM OVOS COMERCIAIS
Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Curso de Doutorado do Programa de Pós – Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás.
Nível: Doutorado
Área de concentração: Produção Animal
Linha de Pesquisa: Biotecnologia e Eficiência Reprodutiva Animal
Orientadora: Profa. Dra. Nadja Susana Mogyca Leandro Comitê de Orientação: Profa. Dra. Maria Auxiliadora de Andrade - UFG
Profa. Dra. Heloísa Helena de Carvalho Mello - UFG
GOIÂNIA
2011
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS E TABELAS .................................................................... iii
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... iv
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5
2. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 7
2.1 Sanitização e sanitizantes químicos ............................................................. 7
2.1.1 Ácido Peracético ..................................................................................... 10
2.1.2 Glutaraldeído ........................................................................................... 12
2.1.3 Clorexidina .............................................................................................. 14
2.1.4 Cloro e derivados ................................................................................... 15
2.2 Sanitizantes “naturais” ................................................................................ 17
2.2.1 Atividade antimicrobiana de plantas medicinais brasileiras e exóticas .... 18
2.2.2 Uso do orégano como antimicrobiano ..................................................... 24
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 30
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 31
iii
LISTA DE QUADROS E TABELAS
QUADRO 1. Identificação botânica e dados de uso tradicional como
antimicrobiano e outras características. ...................................... 20
TABELA 1. Concentração Inibitória Mínima (CIM) (a/mL) para os produtos
naturais na forma de extrato ou óleo, testados frente a 16
linhagens de Staphylococus aureus. ........................................... 23
TABELA 2. Concentração Inibitória Mínima (CIM) (a/mL) para os produtos
naturais na forma de extrato ou óleo, testados frente a 16
linhagens de Escherichia coli. ..................................................... 23
TABELA 3. Valores de concentração Mínimia Inibitória (CMI 50) de alguns
princípios ativos extraídos de plantas sobre diferentes
bactérias. ..................................................................................... 26
TABELA 4. Desempenho de frangos de corte alimentados com rações
contendo diferentes extratos vegetais como promotores de
crescimento. ................................................................................ 28
iv
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Fórmula estrutural do ácido peracético .......................................... 10
FIGURA 2. Fórmula estrutural do glutaraldeído. .............................................. 13
FIGURA 3. Fórmula estrutural da clorexidina. .................................................. 14
FIGURA 4. Fórmula estrutural do dióxido de cloro ........................................... 15
FIGURA 5. Fórmula estrutural do hipoclorito de sódio ..................................... 16
FIGURA 6. Fórmula estrutural do hipoclorito de cálcio .................................... 16
FIGURA 7. Número de publicações indexadas sobre atividade
antimicrobiana por região do mundo na última década. (NA=
América do Norte; LA = América Latina (Brasil em branco);
AF = África; EU = Europa; AS = Ásia e OC = Oceania). ............. 18
FIGURA 8. Esquema a extração de óleo por hidrodestilação. ......................... 21
FIGURA 9. Esquema geral de participação e separação provável dos
principais metabólicos secundários presentes em plantas. ......... 22
1 INTRODUÇÃO
O ovo é um alimento de alto valor nutricional e biológico e de baixo
custo. Nesse alimento estão presente proteínas, vitamina e minerais podendo
atender parcialmente as exigências nutricionais do homem.
Pesquisas já comprovaram a importância da conservação da
qualidade do ovo desde a produção até o seu consumo, levando em
consideração o processamento de lavagem, tempo e temperatura de
armazenamento e a importância de minimizar o nível de contaminação do ovo
desde a produção até na comercialização do produto.
A avaliação da qualidade do ovo apresenta diferenças relacionadas
com fatores genéticos, dietas e ambientais, aos quais as galinhas são
submetidas ou também a qual o ovo é submetido durante o período de
armazenamento, em função das condições de estocagem. Na cadeia produtiva
do ovo comercial, cada setor avalia a qualidade do ovo de maneira distinta,
sendo que os produtores avaliam qualidade pelo peso do ovo, os
atravessadores priorizam a qualidade da casca e os consumidores verificam
somente o prazo de validade, aparência do produto e tamanho do ovo.
Em todas as fases, desde a produção, processamento,
comercialização e até o consumo, é necessário atender as exigências higiênico
- sanitárias para evitar a contaminação do produto e, principalmente, a
contaminação do consumidor devido à manipulação do ovo.
Devido aos riscos de contaminação, uma forma de reduzir a
proliferação de microrganismos é realizar a limpeza e desinfecção profilática
das instalações, biosseguridade na granja durante a fase de produção,
cuidados no manejo da coleta de ovos e durante o processamento dos ovos
para comercialização cuidados no processo de lavagem e sanitização dos
ovos, que são necessários para garantir a qualidade do ovo pós-postura.
Existem vários tipos sanitizantes e formas de utilização para a
lavagem dos ovos. É permitido diversos compostos para serem utilizados como
sanitizantes na água de lavagem dos ovos, entre esses estão os grupos
alcoóis, aldeídos (glutaraldeído), clorexidina, grupo dos halogênios, peróxidos e
surfactantes (MORGULIS & SPINOSA, 2005). Após lavagem, secagem,
6
embalagem e armazenamento dos ovos, deve-se observar os preceitos
higiênicos para evitar a recontaminação.
Existem polêmicas sobre a eficiência de processo de
sanitização/lavagem, no qual o procedimento de lavagem dos ovos pode
remover a cutícula da casca, facilitando a entrada de microrganismos.
Com respeito à saúde humana, há preocupação crescente em relação
aos alimentos com resíduos químicos. Naturalmente, compostos
biologicamente ativos de plantas são geralmente mais aceitáveis quando
conhecemos seu princípio ativo, do que os compostos sintéticos e representam
uma rica fonte de agentes potenciais de controle microbiano.
O uso de sanitizantes sobre a redução microbiana no ovo, inclui vários
fatores, como resistência dos microrganismos ao antimicrobiano usado,
quantidade e população mista de microrganismos.
O uso de plantas medicinais leva a necessidade de se desenvolver
métodos para a otimização e padronização, com finalidade de se obter
eficiência do uso de produtos naturais, sua pureza, identidade e estabilidade
material apropriada para o consumo, buscando analisar a qualidade, segurança
(VOLPATO, 2005). De acordo com VÁGI et al. (2005), o óleo essencial de
orégano possui propriedades antibacterianas entre outras características.
Objetivou-se com esta revisão de literatura, demonstrar a eficácia do
uso de sanitizantes químicos e biológicos de origem vegetal como
antimicrobianos na produção de ovos comerciais.
7
2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Sanitização e sanitizantes químicos
Atualmente, nos sistemas de criação e manejo de aves, mesmo
empregando medidas higiênicas rigorosas, ainda torna-se importante o uso de
desinfetantes. A desinfecção descreve o método capaz de eliminar muitos ou
todos os microorganismos patogênicos (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008),
pelo fato da desinfecção ser um tratamento físico ou químico que destrói a
maioria dos microrganismos na forma vegetativa e não da forma de esporos
(MORGULIS & SPINOSA, 2005).
Os produtos de origem animal podem ser veículos de importantes
patógenos responsáveis por infecções alimentares como a salmonelose
(OLIVEIRA & SILVA, 2007) causando surtos de toxinfecções alimentares de
maior ou menos gravidade (ANDRADE et al., 2004). A toxinfecções alimentares
ocorrem, na maioria dos casos, pelas condições impróprias de processamento
dos alimentos, tais como: higiene pessoal inadequada, de utensílios e de
ambiente; manutenção de alimentos em temperaturas que favorecem o
crescimento bacteriano; e emprego de matéria-prima contaminada (OLIVEIRA,
2006).
CARDOSO et al. (2001) relataram que o provável meio de
contaminação de ovos, para consumo, é o contato da casca do ovo com as
excretas das aves no momento da postura e a contaminação, ocorre com a
penetração do microrganismo através de rachaduras microscópicas e poros de
cascas após a lavagem. Outra maneira é a contaminação via transovariana, na
qual a contaminação é através da gema e, nesse caso, os processos de
desinfecção dos ovos não são eficientes (OLIVEIRA & SILVA, 2007).
Por outro lado, antes do processo de classificação, os ovos são
submetidos à lavagem e sanitização, na qual é permitido sanitizantes como o
cloro (em níveis inferiores a 50ppm) e compostos à base de iodo (AGÊNCIA
RURAL, 2003). LLOBERT et al. (1989) afirmaram que o processo de lavagem
resulta em ovos de melhor aparência para comercialização e influência na
aceitação do produto pelo consumidor. De acordo com LAUDANNA (1995),
outra vantagem da sanitização da casca é a redução da probabilidade da
penetração de microrganismos pelos poros e contaminação de seu conteúdo.
8
Existem polêmicas sobre a eficiência desse processo de sanitização, o qual o
pode provocar a remoção da cutícula da casca, como também, acelerar o
processo de decomposição, uma vez que ocorrerá a perda do CO2 dissolvido
na clara e facilitará a entrada de microrganismos (SARCINELLI et al., 2007).
Na tentativa de reduzir problemas decorrentes da contaminação por
microrganismos patogênicos e/ou deteriorantes, os ovos são submetidos a
processos como a lavagem da casca (ARAGON-ALEGRO et al., 2005). Estes
processos podem ser alterados conforme o destino de comercialização, como
ovo fresco, ovos frigorificado e conservas de ovos (SARCINELLI et al., 2007).
No estado de Goiás, é recomendado pela AGÊNCIA RURAL (2003)
que a temperatura da água utilizada na limpeza dos ovos seja de 35 a 45oC
para que haja uma expansão discreta do conteúdo do ovo, produzindo pressão
positiva evitando a sua contaminação. A temperatura de enxágue deve ser de
60 °C, ou seja, maior que a temperatura de lavagem, para garantir a remoção
total de resíduos dos sanitizantes e de outras bactérias que ainda estejam na
superfície da casca do ovo
Alguns sanitizantes são destinados à desinfecção de água de beber
e até mesmo para uso de lavagem de ovos e equipamentos de instalações
aviárias. Qualquer que seja o método de dimensionamento empregado para o
uso do sanitizante é preciso conhecer a dose aplicada, o residual desinfetante
(quando pertinente) e o tempo de exposição (MORGULIS & SPINOSA, 2005).
Existe diferentes terminologia e denominações para substâncias
químicas com atividade antimicrobiana, com conceitos abrangentes e confusos.
Neste sentido, PALERMO-NETO et al., (2005) padronizaram a terminologia e
conceitos:
Desinfetante: substância química que inibe ou mata
microorganismos presentes em superfícies ou objetos inanimados;
Anti-séptico: substância química que aplica se localmente em
tecidos vivos e que impede a proliferação de microrganismos, quer inibindo sua
multiplicação ou destruindo-os;
Esterilização: consiste na destruição de todas as formas de vida
existente em um material, realizada por meio físicos (calor, filtração, radiações)
ou químicos (desinfetantes);
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Descontaminação: destruição ou acentuada redução do número ou
atividade de microrganismos;
Desinfecção: tratamento físico ou químico que destrói a maioria dos
microrganismos na forma vegetativa (não os esporos) de superfícies
inanimadas;
Fumigação: dispersão em recintos, sob a forma de partículas, de
agentes desinfetantes como gases, líquidos ou sólidos;
Sanitização: redução de carga microbiana numa superfície
inanimada para um nível considerado aceitável para a saúde pública.
O uso de produtos e processos incorretos, como dose a ser
aplicada, resulta em problemas de dosagem sub ou hiperdimensionadas. No
primeiro caso (subdimensionadas), não será atendida a desinfecção
pretendida, colocando em risco a saúde humana, podendo contaminar a
própria granja e/ou ovo. Quando as instalações para desinfecção são
hiperdimensionadas, atende-se aos requisitos de desinfecção além do
requerido, resultando em consumo excessivo de reagentes, podendo danificar
o alimento e, consequentemente, a casca do ovo. O ideal é atingir as
condições ótimas de sanitização / higienização (DANIEL et al. 2001).
Para que o processo de sanitização seja eficiente, é necessário
uma avaliação complexa, incluindo vários fatores, como: limpeza do local,
concentração do desinfetante, tempo de ação, temperatura, pH, dureza da
água, umidade (GREZZI, 2008) e número de microrganismos (MORGULIS &
SPINOSA, 2005).
Os desinfetantes utilizados na avicultura visam prevenir o
aparecimento de doenças, e reduzir contaminantes durante o abate e/ou no
processamento dos ovos, antes da comercialização.
Em um programa de desinfecção devem ser ainda considerados
alguns aspectos para se garantir o êxito da mesma. Não se deve misturar, ou
combinar desinfetantes, pois esse procedimento pode causar efeitos negativos,
como a neutralização do poder desinfetante, reação química produzindo
subprodutos tóxicos; e ainda por poder incrementar a resistência de
determinados microrganismos (MORGULIS & SPINOSA, 2005).
A Portaria nº 113 da normatização da ANVISA (1993), relata que os
produtos químicos utilizados nos processos de limpeza e desinfecção deverão
10
possuir registro no órgão competente do Ministério da Saúde (DPROD/SVS). A
validade de cada registro é de cinco anos, Após tal período, para não terem
sua comercialização proibida, tal registro deve ser renovado.
Dentro do grupo aldeídos, é importante ressaltar que tem a
proibição do uso do gás formaldeído como desinfetante, ou qualquer
associação à formulas de outras substâncias (ANVISA, 1993).
Entre os sanitizantes químicos, os que serão relatados nesta revisão
com ação antimicrobiana em ovos são os ácidos peracéticos, glutaraldeído,
clorexidina e o cloro.
2.1.1 Ácido Peracético
O ácido peracético (CH3–COOOH), também chamado de peróxido
de ácido acético ou ácido peroxiacético (Figura 1) é um agente utilizado como
sanitizante, principalmente nos Estados Unidos, sendo preparado
comercialmente a partir do peróxido de hidrogênio a 90%. Sua reação é obtida
do ácido acético ou anidrido acético com o peróxido de hidrogênio
(SREBERNICH, 2007). A reação desses compostos proporciona a
potencialização da ação (TOMAZELLI & SANTOS, 2000).
FIGURA 1: Fórmula estrutural do ácido peracético Fonte: Google imagem
Trata-se de um excelente sanitizante pela grande capacidade de
oxidação dos componentes celulares dos microrganismos, possui ação rápida
sobre bactérias, fungos, vírus, algas e esporos, inclusive em baixas
concentrações (0,0001% a 0,2%). É esporicida em baixas temperaturas e
continua efetivo na presença de material orgânico sendo, portanto, um biocida
efetivo sem residual tóxico. Sua ação biocida é influenciada pela concentração,
temperatura e tipo de microrganismos (SILVA, 2008).
O ácido peracético promove oxidação dos grupos sulfidrila e
ligações dissulfeto das enzimas microbianas, interrompendo os processos
11
metabólicos. Altera o equilíbrio químico-osmótico da membrana microbiana,
oxida a membrana citoplasmática do microrganismo podendo causar o
rompimento de sua parede celular (TOMAZELLI & SANTOS, 2000). Uma
desvantagem ou limitação do ácido peracético é que ele apresenta uma baixa
estabilidade da solução de uso em temperatura ambiente (PETRUS et al.,
2001).
As vantagens do ácido peracético consistem no fato de permanecer
ativo mesmo na presença de matéria orgânica, apresentar como produto de
decomposição substâncias não tóxicas (ácido acético e oxigênio) e não-
mutagênicas, possuir baixa dependência de pH e necessitar de pouco tempo
de contato para promover uma efetiva desinfecção (SILVA, 2008).
Outras vantagens do ácido peracético são: facilidade de implantação
no ambiente ou alimento (sem a necessidade de elevado investimento) e
desnecessária descoloração. O ácido peracético possui outras vantagens
como: eficiência a baixas temperaturas, concentração facilmente determinada e
facilidade de manuseio da solução de uso, já que não é irritante e pouco
corrosiva. (SOUSA & DANIEL, 2005).
Além disso, o ácido também tem vantagens de poder ser utilizado
em amplo intervalo de temperatura (0 – 40 ºC), com água dura, e é mais
eficiente em pH de 3,0 – 7,5, além disso, os resíduos de proteína não afetam a
sua eficiência, e ainda não foi observada nenhuma resistência microbiana ao
ácido peracético. O uso do ácido peracético foi eficiente para a redução dos
microorganismos Staphylococcus aureus e Escherichia coli (KUNIGK &
ALMEIDA, 2001).
No estudo realizado por JAENISCH et al. (2010), foram avaliadas as
atividades antibacterianas de ácido peracético, amônia quaternária, hipoclorito
de sódio, cloro ativo e do composto de ácidos orgânicos (cítrico, lático e
ascórbico), em Escherichia coli, Salmonella enteritidis e Staphylococcus
aureus, na presença e ausência de matéria orgânica, sob duas diferentes
temperaturas e tempo de contato de 20 minutos. O ácido peracético, na
ausência de matéria orgânica, mostrou-se mais eficaz frente à S. Enteritidis e
igualmente efetivo, independente da matéria orgânica, frente ao S. aureus e E.
coli, revelando-se uma opção válida para desinfecção na avicultura.
12
Os produtos resultantes da decomposição do acido peracético são
água, oxigênio, e traços de ácido acético, o ácido peracético o que pode ser
descartado sem dano ao meio ambiente, não afetando, portanto os sistemas de
tratamento biológico de efluentes (aeróbio e anaeróbio) na concentração de
uso indicadas (TOMAZELLI & SANTOS, 2000).
De acordo com a ANVISA (2003), a utilização do ácido peracético,
do ponto de vista da tecnologia industrial, foi avaliada tecnicamente e aprovada
para lavagem de ovos e carcaças condicionado seu uso ao enquadramento
nos parâmetros estabelecidos em legislação vigente.
MOUSTAFA (2004), estudando a utilização de diferentes
desinfetantes no processamento de sanitização em ovos de incubação,
comparou cinco desinfetantes: peróxido de hidrogênio; composto de amônia
quaternária; ácido peracético; glutaraldeído, formaldeído e glutaraldeído em
combinação com quaternário de amônia e métodos de aplicação: imersão, e
fumigação com formaldeído. O autor concluiu que a redução completa da
contagem total bacteriana da casca dos ovos foi obtida nos tratamentos com
peróxido de hidrogênio e amônia quaternária, utilizados associados e em altas
concentrações, e na fumigação com formaldeído 24 horas após a fumigação. A
utilização de altas concentrações de amônia quaternária associada ao peróxido
de hidrogênio resultou em uma maior mortalidade embrionária (7,8%), e a
fumigação com formaldeído resultou em uma porcentagem maior de refugos
(4,9%) durante a primeira semana de vida dos pintos.
2.1.2 Glutaraldeído
É uma molécula da classe dos Aldeídos, que são originados a partir
da oxidação de um álcool (RUSSEL, 1994) têm a fórmula química (C5H8O2) e
fórmula estrutural (Figura 2) possuindo um amplo espectro germicida, e é de
maior importância na avicultura (MORGULIS & SPINOSA, 2005). Os
glutaraldeídos são bactericidas, viricidas, fungicidas e, em altas concentrações
2% e longo tempo de contato é mais eficaz contra esporos, que é uma rara
característica de desinfetantes químicos. Têm atividade residual moderada e
são eficazes na presença de matéria orgânica (CONY, 2007), mas pode ser
pouco afetada (MORGULIS & SPINOSA, 2005).
13
FIGURA 2. Fórmula estrutural do glutaraldeído. Fonte: Google imagem
SCOTT & SWERNAM (1993) verificaram que a molécula de
glutaraldeído atua nos microrganismos interagindo com as proteínas de suas
células, causando uma aglutinação destas devido à abertura na parede celular
. O glitaraldeído também causa um efeito inibitório no DNA, RNA e síntese
proteica da célula. Segundo DEMASI (1991), em altas concentrações este
precipita o conteúdo citoplasmático.
O glutaraldeído é mais ativo em pH alcalino (7,4 a 8,5) que ácido.
Quanto mais o pH externo passar de ácido a alcalino, mais sítios reativos se
formarão na superfície da célula, levando a um efeito bactericida mais rápido.
Por outro lado, a estabilidade do glutaraldeído é maior em pH mais baixo.
Vários desinfetantes à base de glutaraldeído são formulados com compostos
de amônia quaternária para melhorar sua capacidade detergente (GREZZI,
2008).
Em incubatórios, o glutaraldeído é pouco eficiente por ser muito
sensível às variações de pH. Por exemplo, uma pequena variação de pH pode
resultar no aumento de até cinco horas para que o glutaraldeído destrua um
microrganismo como a E. coli. (MORGULIS & SPINOSA, 2005).
SCOTT & SWETNAM (1993), ao compararem a redução
microbiológica na casca de ovos incubáveis, encontraram no grupo desinfetado
com glutaraldeído redução semelhante aos grupos desinfetados com
formaldeído, fenóis, clorexidina e amônia quartenária, ou seja, não houve
diferença entre os diferentes sanitizantes. No entanto, em outro trabalho, os
mesmos autores realizaram uma análise econômica para a utilização desses
desinfetantes, considerando um processamento para 10.000 ovos desinfetados
e observaram que o glutaraldeído foi o que apresentou maior custo entre os
produtos avaliados.
GAMA et al. (2004) testaram a eficácia de quatro desintantes, sendo
os compostos a base de iodo, glutaraldeído associado à amônia, clorexidina e
amônia quartenária contra E. coli isolada da água de bebida de galinhas
poedeiras, sendo que o iodo foi o que apresentou melhor resultado, seguido do
14
glutaraldeído e clorexidina. Na avaliação foram considerados a eficiência do
produto em menos tempo quando mais concentrados, necessitando de mais
tempo para inibir o crescimento bacteriano em maiores diluições.
2.1.3 Clorexidina
Segundo DEMASI (1991), a clorexidina é uma biguanida, ou seja, à
sua estrutura química possui porções hidrofóbicas e hidrofílicas na molécula
com fórmula química C22H30Cl2N10 . 2 C6H12O7 e estrutural, conforme a Figura
3.
FIGURA 3. Fórmula estrutural da clorexidina. Fonte: Google imagem
As soluções de clorexidina são solúveis, incolores e normalmente
inodoras. São mais estáveis em pH entre 5 a 8, mas sua atuação ótima está
entre 5,5 e 7. Acima de pH 8 ocorre sua precipitação e, abaixo de 5, ocorre
deterioração da atividade devido à perda da estabilidade do composto. Por ser
uma molécula catiônica, é compatível com outras substâncias não iônicas
como detergentes que reduzem sua atuação dependendo da concentração
utilizada (CONY, 2007).
Quando em baixas concentrações, a clorexidina atua como
bacteriostática, já em concentrações altas, como bactericidas (CONY, 2007).
De acordo com DEMASI (1991), a clorexidina possui um amplo espectro contra
bactérias gram-positivas e gram-negativas, sendo pouco ativa contra
Pseudomonas e Proteus.
STRINGHINI (2008) realizou uma avaliação de ovos comerciais
lavados ou não lavados para verificação da concentração microbiana na casca
do ovo de poedeiras comerciais antes e após o processamento de sanitização.
15
Na avaliação, o sistema de lavagem era mecanizado com água contendo
hipoclorito de cálcio 65% (130g de Ca(ClO)2/20L de água ) e aquecida a 10oC
acima da temperatura ambiente. Em outra granja, realizava o procedimento de
lavagem dos ovos para a comercialização também de forma mecanizada com
água a 10oC acima da temperatura ambiente e sanitizado com clorexidina 20%
e teor ativo 8%. Os resultados obtidos foram as contagens de mesófilos nas
cascas dos ovos, sendo observado que os ovos lavados com hipoclorito de
cálcio e clorexidina, apresentram uma menor contagem de mesófilos na sala de
classificação. Por outro lado, a contagem de bactérias mesófilas observadas na
sala de classificação em Granjas que não utilizavam o processo de lavagem,
encontrou 3,1 e 4,7 log UFC/g que foi um indicativo de que o processamento foi
insatisfatório, sob o ponto de vista higiênico-sanitário.
De acordo com VICENTE & TOLEDO (2003), a clorexidina é um
sanitizante mais eficiente que o hipoclorito de cálcio sobre as formas
vegetativas bacterianas presentes nas cascas dos ovos, além de possuir ação
praticamente imediata e baixo potencial de toxidade.
2.1.4 Cloro e derivados
Os derivados do cloro podem ser inorgânicos, como o dióxido de
cloro (ClO2) e o hipoclorito de sódio (NaOCl) e cálcio (Ca(OCl)2), (Figuras 4, 5 e
6 respectivamente) e podem ser orgânicos, como as cloraminas, que
atualmente está em desuso, por serem consideradas concerígenas
(MORGULIS & SPINOSA, 2005).
FIGURA 4. Fórmula estrutural do dióxido de cloro Fonte: Google imagem.
16
FIGURA 5. Fórmula estrutural do hipoclorito de sódio Fonte: Google imagem.
FIGURA 6. Fórmula estrutural do hipoclorito de cálcio Fonte: Google imagem.
A atividade do cloro (Cl) aumenta na presença de água quente ou
fervente. Mesmo em altas diluições o cloro é efetivo contra grande variedade
de microrganismos, sendo relativamente atóxico nas concentrações
recomendadas, fato esse que o torna útil para tratamento da água para
consumo humano e animal. Além disso, o cloro é relativamente barato, tem
ação rápida e há facilidade de preparação, aplicação e na determinação de sua
concentração (MORGULIS & SPINOSA, 2005) .
O cloro em solução aquosa, mesmo em quantidades muita
pequenas, tem ação bactericida rápida. O mecanismo de ação ainda não foi
bem elucidado, apesar da grande quantidade de pesquisas. Quando o cloro é
adicionado à água, forma ácido hipocloroso (HOCl) (GREZZI, 2008), que por
sua vez, tem a capacidade de penetrar na célula bacteriana e liberar o
oxigênio, o qual oxida componentes essenciais do protoplasma bacteriano,
causando a morte celular. O mesmo autor, relata que o cloro possa inibir certos
sistemas enzimáticos vitais do metabolismo bacteriano, em particular, oxidando
grupos sulfidrila de aminoácidos da bactéria ou, ainda ligando-se a proteínas
da membrana celular ou do protoplasma da bactéria formando compostos
tóxicos para a bactéria (MORGULIS & SPINOSA, 2005). Já DOMINGUES,
descreveu que todos os compostos clorados, com exceção do dióxido de cloro,
apresentam o mesmo mecanismo de ação. Quando estes produtos estão em
17
solução aquosa, libera-se o ácido hipocloroso, em sua forma não dissociada,
que apresenta capacidade de penetrar na célula bacteriana e destruí-la.
A eficácia desinfetante do cloro diminui com o aumento do pH e vice-
versa. Isto está relacionado a alterações na concentração de ácido hipocloroso
não-dissociado. Os desinfetantes à base de hipoclorito são corrosivos e
afetados por matéria orgânica (consume o cloro disponível), temperatura e pH,
mas não pela dureza da água, ou seja presença de íons como cálcio, magnésio
e bicabornato (GREZZI, 2008) .
Os compostos à base de cloro mais comuns são: cloro líquido,
hipocloretos e dióxidos de cloro. Os hipocloretos são líquidos e sólidos.
Comumente usados em granjas no processo de limpeza e na desinfecção do
sistema de água. O dióxido de cloro é usado para a desinfecção da água,
tratamento da água servida e como desinfetantes em abatedouros avícolas e
processamento de lavagem de ovos (GREZZI, 2008).
LACERDA (2011) estudando o efeito da sanitização em ovos de
codornas com a utilização de solução de cloro a 5 g/ton contaminados com
Salmonella enterica serovar Typhimurium, verificou interação entre
contaminação da casca e sanitização para pH de albume de ovos
armazenados por 27 dias. O autor verificou que quando os ovos foram
inoculados e depois sanitizados, houve um menor valor de pH de albume e
concluiu que houve efeito do sanitizante reduzindo as bactérias no interior do
ovo.
Dentre os grupos de desinfetantes usados em avicultura além dos
que foram citados acima, ainda existem os grupos dos halogênios: iodo e
iodóforos; peróxidos de hidrogênios; permanganato de potássio; surfactantes
aniônicos: sabões e os surfactantes catiônicos: compostos de amônia
quartenária (MORGULIS & SPINOSA, 2005).
2.2 Sanitizantes “naturais”
As pesquisas sobre a atividade antimicrobiana de produtos naturais
tem se destacado em alguns países da América Latina, como é o caso de
Cuba (MARTÍNEZ et al., 1996), Honduras (LENTZ et al., 1998), México
(ROJAS et al., 2001) e Brasil (DUARTE et al., 2006).
18
As pesquisas sobre investigação de produtos naturais ativos contra
microrganismos aumentaram consideravelmente nos últimos anos tendo um
aumento na América Latina, Europa e Ásia (Figura 7).
Fonte: DUARTE et al., (2006).
FIGURA 7. Número de publicações indexadas sobre atividade antimicrobiana por região do mundo na última década. (NA= América do Norte; LA = América Latina (Brasil em branco); AF = África; EU = Europa; AS = Ásia e OC = Oceania).
Muitas plantas dos biomas brasileiros, tais como o cerrado, a floresta
amazônica e a mata atlântica têm sido utilizadas como fármacos naturais pelas
populações locais no tratamento de várias doenças tropicais, incluindo
infecções fúngicas e bacterianas (ALVES et al., 2000).
No Brasil, a investigação sobre produtos naturais com atividade
antimicrobiana têm aumentado consideravelmente nos últimos anos.
Entretanto, apesar da rica biodiversidade, somente estão disponíveis dados
sobre 44 espécies de plantas pertencentes a 20 famílias, com atividade
positiva, incluindo espécies nativas e exóticas (DUARTE et al., 2006). Portanto,
a avaliação da atividade biológica de alguma substância natural deve ser
complementada com a determinação de sua composição química (BOUHDID
et al., 2008).
2.2.1 Atividade antimicrobiana de plantas medicinais brasileiras e exóticas
Muitas plantas medicinais bastante populares não têm sua eficácia
comprovada e podem até ser tóxicas (ANVISA, 2009). Podemos chamar de
19
plantas “medicinais” aquelas que possuem características que ajudam no
tratamento de doenças ou que melhorem as condições microbiológicas na
saúde das pessoas e dos animais. Fitoterápicos são medicamentos feitos de
partes de plantas cujos princípios ativos não foram purificados, como chás e
tinturas (FOGLIO et al, 2006).
A homeopatia utiliza muitos remédios feitos de plantas e ervas
medicinais. Exemplos de plantas medicinais: camomila, camellia sinensis (chá
verde), boldo-do-chile, alecrim, alho, arnica, arruda, cânfora, capim-limão,
carqueja, cominho, erva-cidreira, funcho, gengibre, ginseng, hortelã, jaborandi,
jojoga, losna, louro, mava, salsa, sálvia, stevia e urucum (FOGLIO et al, 2006).
Sua aplicação é vasta e abrange desde o combate ao câncer até
microrganismos patogênicos (SILVA & CARVALHO, 2004).
ALIGIANIS et al. (2001) propuseram uma classificação para
materiais vegetais com base nos resultados de concentração mínima inibitória
(CIM), considerando como: forte inibição - CIM até 500 μg/mL; inibição
moderada – CIM entre 600 e 1500 μg/mL e como fraca inibição - CIM acima de
1600 μg/mL. Os resultados obtidos nesse trabalho mostraram que os óleos
essenciais apresentaram ação sobre um maior número de microrganismos do
que os extratos etanólicos estudados, com melhor atividade antimicrobiana. No
Quadro 1, estão representados algumas plantas medicinais que possuem ação
antimicrobiana, incluindo plantas nativas do Brasil e exóticas.
O extrato ou o óleo vegetal podem ser obtidos a partir das sementes,
folhas e/ou raízes. Estes óleos podem ser obtidos por métodos de compressão,
extração, fermentação ou, mais comumente, por destilação a vapor (VAN DE
BRAAK & LEIJTEN, 1999).
Existem diferentes formas de processamento de extração de óleos,
como extração com solvente e prensagem, ultra-som, extração com líquidos
pressurizado, extração com fluido supercrítico FREITAS (2007). Os mais
comuns, que serão mencionados nesta revisão, são a extração de óleo
essencial por hidrodestilação e obtenção de extratos vegetais por maceração.
Em forma de esquema a extração de óleo por hidrodestilação está
representada na Figura 8.
20
QUADRO 1. Identificação botânica e dados de uso tradicional como antimicrobiano e outras características.
Nome Botânico Nome Popular Família Origem Uso tradicional
Achillea colina L. mil-folhas Asteraceae E antimicrobiano,
antiinflamatório
Casearia sylvestris
SW guaçatonga Leguminoseae
s.d. antimicrobiana,
fungicida, afrodisíaca
Cymbopogon
citratus capim-limão Poaceae
s.d. bactericida,
analgésico, calmante
C. flexuosus capim cidreira Poaceae N bactericida,
analgésico, calmante
Petiveria alliaceae
L. guiné Phytolacaceae
N antimicrobiano,
imunoestimulante
Origanum vulgare orégano Lamiaceae
E antimicrobiano,
antifúngico,
inseticida,
antihelmíntica
Copaifera
langsdorffii Desf. copaíba Fabaceae
N antimicrobiano
antiinflamatória
Stryphnodendron
adstringens
(Martius)
barbatimão Leguminosae
N Antimicrobiano, antifúngico e anti-
séptico
Stryphnodendron
adstringens (Mart.) coville Fabaceae
N Antimicrobiano
Lafoensia pacari A.
St.-Hill pacari Lythraceae
N antimicrobiano
antiinflamatória
Aetemisia absintbium
losna Asteraceae E antimicrobiano
Mentha pulegium poejo Lamiaceae E antimicrobiano,
expectorante
Syzygim cuminii jambolão Myrtaceae E antimicrobiano
antioxidante
Punica granatum romã Lythraceae
E antimicrobiano, anti-séptico,
antiinflamatório, antioxidante
Caryophilus aromaticus
cravo da índia Myrtaceae E antimicrobiano anti-
séptico
N = nativo do Brasil; E = exótica; s.d. = sem definição. Adaptado de DUARTE (2006)
21
FIGURA 8. Esquema da extração de óleo por hidrodestilação.
De acordo com FOOD INGREDIENTS BRASIL (2010), os extratos
são preparações concentradas, de diversas consistências, obtidas a partir de
matérias-primas vegetais secas, que passaram ou não por tratamento prévio
(inativação enzimática, secagem e moagem) e preparado por processos
envolvendo um solvente. Isso implica basicamente em duas etapas no
processo de fabricação: 1) a separação dos compostos específicos em um
meio complexo (droga, ou parte da planta utilizada, raiz, caule e/ou folha) com
a utilização de um solvente; 2) a concentração, por eliminação mais ou menos
completa dos solventes.
É possível definir tradicionalmente um extrato pela relação entre a
quantidade de drogas e a qualidade de extrato obtida. Mas existe a polêmica
de onde fica a divisão entre um extrato purificado, a vocação terapêutica (um
princípio ativo) e um extrato incorporado em algum alimento ou complemento
alimentar (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2010).
22
De acordo com CECHINEL FILHO & YUNES (1998), estudaram
estratégias para a obtenção de compostos farmacologicamente ativos a partir
de plantas medicinais e ilustraram-se os procedimentos descritos que indica as
prováveis classes de compostos separadamente (Figura 9).
Fonte: CECHINEL FILHO & YUNES (1998).
FIGURA 9. Esquema geral de participação e separação provável dos principais metabólicos secundários presentes em plantas.
SILVA (2010), para analisar a Concentração Inibitória Mínima (CIM)
de produtos naturais com ação antimicrobiana, em duas formas de extração
(óleo e extrato vegetal), testou 16 cepas das bactérias Staphylococus aureus e
Escherichia coli com metodologia in vitro (Tabela 1 e 2). O autor verificou que a
ação antimicrobiana do assa peixe foi mais eficiente na forma de óleos do que
23
na forma de extrato sobre as linhagens de S.aureus, sendo que para as demais
plantas estudadas, as formas de extratos essenciais apresentaram melhor
ação antimicrobiana em relação aos óleos (Tabela 1).
TABELA 1. Concentração Inibitória Mínima (CIM) (mg/mL) para os produtos naturais na forma de extrato ou óleo, testados frente a 16 cepas de Staphylococus aureus.
Plantas Mediana CIM (Extratos) Mediana CIM (Óleos)
Alecrim do campo 6,08 a 2,58 ab
Assa Peixe 1,24 b 21,5 c
Camomila 4 ac 2,82 a
Pitanga 2,9 bc 0,92 b
Letras diferentes nas colunas representam diferenças significativas de atividade antimicrobiana
entre produtos quando p ≤0,05. Fonte: SILVA, 2010
Todas as plantas, apresentadas na Tabela 1 apresentaram ação
antimicrobiana, seja na forma de extrato bruto ou óleo essencial, e essa ação
variou conforme a espécie de bactéria testada, confirmando o uso destas
plantas como agente antimicrobiano. Um aspecto importante foi as diferenças
entre os valores CIM obtidos para S.aureus e E.coli; além da diferenças para a
eficiência dos antimicrobianos vegetais na forma de óleos essenciais ou de
extratos brutos (Tabela 2).
TABELA 2. Concentração Inibitória Mínima (CIM) (mg/mL) para os produtos naturais na forma de extrato ou óleo, testados frente a 16 cepas de Escherichia coli.
Plantas Mediana CIM (Extratos) Mediana CIM (Óleos)
Alecrim do campo 33,44 ab 25,8 a
Assa Peixe 27,28 ac 25,8 a
Camomila 44 b 28,2 b
Pitanga 23,2 c 27,6 c
Letras diferentes nas colunas representam diferenças significativas de atividade antimicrobiana entre produtos quando p ≤ 0,05. Fonte: SILVA, 2010
Os óleos apresentam uma maior eficiência em relação ao extrato.
Porém, sua extração exige equipamentos especiais, além da necessidade de
grande quantidade de plantas para obter volumes pequenos dos respectivos
24
óleos. Entretanto, existem formas de aumentar a produção de óleo essencial
de determinadas plantas, dependendo da forma de cultivo, da época e horário
da colheita. Com maior rendimento dos óleos essenciais, estes representam
uma alternativa econômica mais viável que o extrato devido sua ação
antimicrobiana mais efetiva, ou seja, necessidade de menores valores de CIM
sobre os microrganismos testados.
2.2.2 Uso do orégano como antimicrobiano
O orégano é mundialmente usado como um condimento e é
caracterizado por uma larga diversidade morfológica e química. Quarenta e
duas espécies ou 49 tipos (espécie, subespécie e variedades) pertencem a
este gênero, sendo a maioria dela distribuídas pelo Mediterrâneo e Oriente
Médio (KOKKINI, 1991).
Além disso, numerosos relatórios científicos têm destacado uma
importante atividade antimicrobiana de óleos essenciais Estas atividades
biológicas depende sobre a composição química (CHUN et al., 2005), que
variam de acordo com a origem geográfica, o ambiente e condições
agronômicas, o estágio de desenvolvimento do material vegetal e método de
extração (GOODNER et al., 2006).
Os óleos essenciais são líquidos obtidos a partir de materiais da
planta como flores, brotos, sementes, folhas, ramos, córtex, caules, frutos e
raízes (GUENTHER, 1948).
O carvacrol e o timol (óleos essenciais do orégano) apresentam
grande perspectiva de substituir os antibióticos. Desses, é mais efetivo o
carvacrol, que possui amplo espectro antibacteriano atuando em leveduras,
fungos e bactérias gram-positivas e gram-negativas (SUZUKI et al., 2008). A
viabilidade econômica é outro fator a ser considerado na escolha de um aditivo
alternativo para uso na produção animal, e estudos nesse sentido ainda são
escassos e contraditórios.
Embora os sanitizantes químicos sejam muito úteis e cientificamente
aceitáveis, seu uso tem sido muito criticado pelo público consumidor devido ao
possível risco de resistência às drogas por bactérias patogênicas humanas,
resultando em um crescente interesse por alimentos produzidos
25
organicamente, que os consumidores em geral associam como alimentos
saudáveis (MOREIRA et al., 2005). Estes alimentos “verdes”, tanto de origem
animal como vegetal, possuem um valor agregado que se reflete em um maior
ganho para o produtor (JAENISCH, 2010).
De acordo HELANDER et al. (1998), as bactérias Gram-positivas
são mais sensíveis ao efeito dos óleos essenciais do que as Gram-negativas.
Isso pode ser explicado pelo fato das Gram-negativas possuírem uma
membrana lipolissacarídica formando uma superfície hidrofílica que constitui
uma barreira à ação das substâncias hidrofóbicas dos óleos essenciais,
exercendo atividade antibacteriana alterando a permeabilidade da parede
celular bacteriana, como a parede celular das bactérias. Esse fato pode ser
explicado porque existe a combinação de princípios ativos tornando mais
eficiente que os mesmos utilizados isoladamente (BRUGALLI, 2003). Já outros
autores relataram que o óleo essencial de orégano, particularmente, apresenta
grande potencial antimicrobiano tanto para bactérias Gram-positivas quanto
para Gram-negativas (MARTINO et al., 2009).
Em estudos realizados com galinhas poedeiras, o óleo essencial de
orégano em concentrações de 300 mg/kg de ração demonstrou ser eficiente no
combate da hemoparasitos (Eimeria tenella) (GIANNENAS et al., 2003).
De acordo com BRUGALLI (2003), avaliando diferentes princípios
ativos por meio de teste in vitro, com efeito antimicrobiano para algumas
bactérias, observaram que o eugenol obteve uma maior concentração mínima
inibitória e o efeito depois foi do carvacrol. Mas quando associaram três
princípios ativos, obtiveram efeito inferior, quando testados isoladamente
(Tabela 3).
26
TABELA 3. Valores de concentração Mínimia Inibitória (CMI 50) de alguns princípios ativos extraídos de plantas sobre diferentes bactérias.
Princípio Ativo E. coli S. typhimutium Campilobacter C. perfringens
Concentração em g/ton.
Alicina Sem efeito Sem efeito Sem efeito 100
Eugenol 500 500 2000 5000
Capsaicina (A) Sem efeito Sem efeito Sem efeito 50
Carvacrol (B) 200 500 500 1000
Cinemaldeído © 400 200 500 1000
A+B+C 100 100 200 50
Adaptado por BRUGALLI (2003).
Alguns estudos, como os de ZHOU et al. (2007), que encontraram
resultados contraditórios aos de BRUGALLI (2003), revelaram que melhores
resultados são encontrados com a associação de diferentes princípios dos
óleos essenciais, pois suas ações são potencializadas pelo sinergismo entre
eles. Esses pesquisadores associaram diferentes princípios ativos, como o
cinamaldeido mais timol; cinamaldeido mais carvacrol e timol mais carvacrol e
observaram que a associação dos princípios ativos apresentou maior inibição
contra Salmonella Typhimurium do que quando utilizados sozinhos.
BOUHDID, et al. (2008), ao avaliarem a espécie de orégano O.
compactum como óleo essencial agindo como antimicrobiano, e a composição
química de forma qualitativa e quantitativa dessa planta, encontraram valores
mais indicados para o uso do princípio ativo carvacrol (30,53%), timol (27,50%)
e o ˠ -terpinene (18,20%) para serem os principais componentes do Origanum
compactum.
SUZUKI et al. (2008) comparando a utilização de óleos essenciais
(carvacrol e timol) com os antibióticos em um estudo conduzido com leitões nas
fases pré-inicial e inicial concluíram que, em relação ao desempenho animal,
os óleos essenciais apresentaram efeito similar aos antibióticos e a utilização
dos óleos reduziu em aproximadamente seis vezes o custo do programa de
crescimento por leitão alojado.
PAVEL et al. (2010) avaliando propriedades antimicrobianas de
óleos essenciais isolados a partir de duas espécies silvestres de tomilho da
região da Romênia (Thymus pulegioides L. e Thymus glabrescens Willd.),
27
notaram inibição de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, além da
inibição do fungo Candida albicans.
COPUR et al. (2010) compararam o processo de desinfecção de
ovos de matrizes utilizando o óleo essencial de orégano como desinfetante e
observaram redução do número de microrganismos, com o incremento da
concentração de óleo essencial. Os autores ressaltaram que, estes resultados
implicam que o óleo essencial de orégano tem um grande potencial para
desinfestação de ovos para incubação e pode ser usado como desinfetante de
ovo natural, ou seja, ovos comerciais.
Em pesquisa realizada para avaliar a atividade antimicrobiana dos
óleos essenciais de orégano, tomilho, canela, orégano mexicano, gengibre,
sálvia, alecrim e manjericão frente a amostras de Escherichia coli isoladas de
fezes de aves e de bovinos, SANTURIO et al. (2011) concluíram que os óleos
essenciais de orégano, orégano mexicano, tomilho e canela apresentaram
satisfatória atividade bactericida, e que o óleo essencial de orégano apresentou
atividade antimicrobiana superior aos demais. Reforçando as evidências que o
óleo essencial de orégano, particularmente possui grande potencial de
atividade antimicrobiana tanto para bactérias gram-positivas como gram-
negativas.
WIEST et al. (2009) avaliaram a atividade antimicrobiana dos óleos
essenciais com Salmonella sp. e observaram que de 86 extratos de plantas
utilizados, 50 apresentaram atividade de inibição e de inativação sobre
Salmonella spp in vitro. Já BOUHDID et al. (2008) investigaram a atividade
antimicrobiana in vitro em meio sólido, e constataram que o óleo foi efetivo para
todas as cepas testadas, exceto Pseudomonas que mostrou resistência. Em
meio líquido, a concentração inibitória mínima e a concentração bactericida
mínima variou de 0,078 a 0,25%, respectivamente. Neste mesmo estudo, os
autores verificaram que a bactéria mais sensível a ação antimicrobiana do óleo
de orégano foi Staphylococcus aureus com 0,0078%.
Também SANTURINO et al. (2007), testando óleos essenciais de
orégano, tomilho e canela com 20 sorovares de Salmonella, observaram que o
orégano apresentou maior atividade antimicrobiana em relação aos demais
óleos testados.
28
No entanto, existem dificuldades para adequar os efeitos observados
in vitro para avaliações in vivo. Porém, a possibilidade de se obter resultados
diferentes em condições de produção comercial de galinhas poedeiras não
pode ser descartada, já que este extrato poderá ser amplamente utilizado,
quando for comprovada sua eficiência a campo.
HAO et al. (1998) observaram atividade antimicrobiana de extrato
alcoólico de orégano em carne de frango e de peru, contra Aeromonas
Hydrophilia e Listeria monocytogenes, compatível a vários antibióticos
comumente utilizados contra esses microrganismos. Em carne crua de frango,
houve uma redução no crescimento de semeadura de Yarrowia lipolpytica
submetida ao tratamento com orégano, embora outros tratamentos
(manjericão, angerona, salva e tomilho) fossem iguais ou mais eficazes
(ISMAIL et al., 2001).
BRUGALLI (2003) citou que na prática a maioria dos extratos de
plantas deveria ser incluída na ração em altíssimas doses para ter o mesmo
efeito antibacteriano como observado in vitro. Porém, BARRETO et al (2007),
confirmaram a teoria anterior ao estudarem extratos vegetais de quatro
plantas, e não observaram diferença para peso vivo, consumo de ração e
conversão alimentar (Tabela 4).
TABELA 4. Desempenho de frangos de corte alimentados com rações
contendo diferentes extratos vegetais como promotores de crescimento.
Tratamentos Peso vivo (g) Cons. Ração (g) Conversão Alimentar (g/g)
Controle negativo 3039 4559 1,521
Controle positivo 3045 4529 1,509
Canela 3079 4621 1,523
Cravo 3012 4530 1,526
Orégano 3071 4572 1,510
Pimenta 3028 4572 1,532
CV (%) 2,05 2,77 1,48
Fonte: BARRETO et al., (2007).
JESUS (2007) estudou o efeito do óleo de orégano na alimentação
de codornas e verificou que a carga parasitária das excretas, ou seja,
quantidade de oocistos por grama (OPG) de Eimeria sp, pertencentes ao grupo
29
controle foi de 3045 ± 938,7 e para o grupo que recebeu orégano na ração
havia 6920 ± 3848,1. Apesar do grupo controle ser numericamente inferior ao
grupo tratado com óleo de orégano, os valores não diferiram significamente.
SUZUKI et al. (2008), comparando a utilização de óleos essenciais
(carvacrol e timol) aos antibióticos em um estudo conduzido com leitões nas
fases pré-inicial e inicial, concluíram que em relação ao desempenho animal os
óleos essenciais apresentaram efeito similar aos antibióticos e a utilização dos
óleos reduziu em aproximadamente seis vezes o custo do programa de
promotores de crescimento por leitão alojado.
RIZZO et al. (2010) verificaram que frangos de corte alimentados
com dietas que com aditivo comercial, composto pela mistura de óleo essencial
sintético de orégano, canela e pimenta (100 g/ton), apresentaram melhor
conversão alimentar que aqueles cuja dieta foi suplementada com 10 g/ton de
avilamicina.
30
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sanitizantes sintéticos e os de origem biológica, reduzem a ação
e a multiplicação microbiana do ambiente, assim como dos alimentos.
Porém, como existem exigências pelo consumidor visando a
qualidade do alimento a melhor forma de sanitização seria com óleos e/ou
extratos vegetais essenciais, já que várias espécies de plantas possuem ação
antimicrobiana, podendo ser utilizadas na cadeia avícola, como em outras
espécies de criação.
Na perspectiva de uso dos antimicrobianos (compostos por extratos
de plantas essenciais), deve ser observado, antes de sua aplicação, a sua
composição, para certificar que a planta escolhida não é tóxica, para o
consumidor e os animais.
31
REFERÊNCIAS
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