Agricultura familiar transforma vida, gera renda e melhora qualidade de vida no Semiárido...

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Na comunidade rural de Alto Quente, município de Conceição - PB, localizado na microrregião de Itaporanga, região conhecida também como Vale do Piancó, Gerson Carlos Rodrigues dos Santos ‐ Carlão, como é conhecido por todos, vem produzindo de forma sustentável, sem agredir o meio ambiente, gerando renda e qualidade de vida. Uma família composta por 6 pessoas.

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Na comunidade rural de Alto Quente, município de Conceição – PB, localizado na microrregião de Itaporanga, região conhecida também como Vale do Piancó, Gerson Carlos Rodrigues dos Santos ‐ Carlão, como é conhecido por todos, vem produzindo de forma sustentável, sem agredir o meio ambiente, gerando renda e qualidade de vida. Uma família composta por 6 pessoas. Carlão (38 anos), sua esposa, Francineide (39 anos), e seus filhos, Lais (17 anos), Lairton (15 anos), Laisa (10 anos) e Laise (10 anos), vem produzindo e comercializando hortaliças e fruteiras diversas. Porém, a família enfrentou muita dificuldade para que todo esse sonho de produzir no que é seu se tornasse realidade. Carlão conta que desde quando era adolescente, e que ainda era solteiro, sempre trabalhou na agricultura com seus pais e irmãos.

“Tudo começou quando eu ia pescar no açude Bartolomeu, em Bonito de Santa Fé, e eu gostava de observar seu Zé Félix, que morava la e produzia vários �pos de hortaliça e que muitas das vezes até ajudava nas plantações, ele me ensinou muito”, afirmou Carlão.

Em 1996, Carlão conheceu Francineide e logo casou. No ano seguinte �veram seu primeiro filho, com isso às dificuldades de sobrevivência da família só veio a aumentar. Mas ele nunca desis�u de lutar e de acreditar que tudo poderia mudar. Entre 1996 e 1998, Carlão relata que trabalhou na agricultura, mas sempre fazendo pequenos canteiros de hortas por onde morou.

Sendo que em 1999 teve que migrar para a cidade de São Paulo para trabalhar no corte de cana. Passando‐se apenas seis meses por lá, decidiu voltar para Conceição porque estava sendo bastante di�cil viver la, distante da família. O mesmo relata que no corte de cana ele observava as grandes plantações de hortaliças que exis�a na região, porém era muito u�lizada tecnologias com alta doses de veneno, onde os canteiros eram todos cobertos por conta das baixas temperaturas daquela região. Então, ele decidiu voltar e tentar viver com sua família produzindo hortaliças na região do vale do Piancó.

Nesse retorno ele começou numa pequena propriedade de seu pai onde exis�a uma pequena plantação de cajueiro, que no período da safra ele juntava e vendia essas frutas numa carroça porque ele não �nha nem se quer uma bicicleta para se locomover. Os frutos eram vendidos na cidade de Itaporanga ‐ PB, cerca de 60 km da comunidade até a cidade.

Inicialmente, Carlão contou com a ajuda da sua família e principalmente do seu irmão que morava na comunidade de Bartolomeu, município de Bonito de Santa Fé e lá cul�vava pequenos canteiros de coentros, com isso, ele aproveitava e levava os pequenos molhos de coentros juntamente com os cajus para a feira, sempre observando o comercio de hortaliças naquela cidade, e percebeu então que poderia ser uma boa alterna�va de gerar renda. Então ele foi vendo que poderia sobreviver naquela região, produzindo, gerando renda para garan�r a sobrevivência da sua família.

No ano de 2000, eles, com muita dificuldade, conseguiram comprar um pequeno motor bomba movido à óleo diesel e construíram um pequeno tanque na comunidade de Mata Grande. Ele iniciou plantando pequenos canteiros e irrigando com regadores, porém, enfrentaram uma época de forte es�agem e o poço de onde ele �rava água terminou secando, e �veram que sair para morar em outra comunidade, na esperança de con�nuar a pequena produção de hortaliças.

Mesmo com as dificuldades, ainda conseguiu passar dois anos nessa comunidade, porém o mesmo relata que notava aos poucos que o solo não estava mais produ�vo como antes e por não ter tanto conhecimento, acabou saindo de morar na comunidade Cardoso, durante esse período ele conta que além de um motor bomba conseguiu também compra todo o equipamento de manutenção desse motor, uma moto e a pequena propriedade de 3 hectares de terra na Comunidade de Alto Quente, onde hoje ele e sua família �ram o sustento.

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A propriedade compõe‐se de 3 hectares, onde Carlão produz em 2 hectares e deixa um hectare de área de preservação para a recuperação da Caa�nga, pois quando comprou o terreno, a área era totalmente desmatada e não exis�a nenhum �po de vegetação.

“Quando eu comecei, só �nha uma bomba de ferro pra trabalhar” Relatou Carlão.

A família conta que eles pra�camente foram os precursores em produzir hortaliças para comercialização na cidade de Conceição, na feira exis�am pouquíssimas hortaliças naquela cidade, segundo Carlão, foram eles que levaram os primeiros pés de alface para a feira de conceição, em torno de quinze pés por feira, e as vezes nem vendia por que o povo não conhecia. Hoje a família leva para a feira em torno de duzentos a trezentos pés de alface por semana e consegue vender tudo, além de entregar em supermercados da região de Cajazeiras.

“No inicio o povo passa aqui na pista parava, olhava e dizia, homem você está ficando doido, mas eu con�nuei insis�ndo e produzindo”, Disse Carlão.

Carlão conta que produzir suas hortas era bastante di�cil, na região do vale do Piancó chovia pouco e a dificuldade por água era imensa, mas como a sua força de vontade de produzir era maior, ele resolveu copiar um método que viu em uma reportagem na região da Bahia, onde lá a irrigação em algumas plantações era feita u�lizando a cabeça de um prego, subs�tuindo um aspersor convencional. Daí ele percebeu logo que era uma forma barata e econômica de fazer irrigação, com isso, logo tratou de adaptar a sua propriedade para ver se daria certo, e hoje tem uma experiência em 6 hortas de alface irrigadas com esse sistema de irrigação feita por prego, subs�tuindo os aspersores normais.

Para produzir, ele procura munir‐se dos recursos da sua própria terra, u�lizando todos os restos de palha, esterco, bagaços, cascas tudo é fonte natural e adubo orgânico. Boa parte da água u�lizada na maior parte da irrigação é aproveitada de vazamento existente em um açude do governo. Ele percebeu que era vantajoso comprar aquela propriedade, naquele local, justamente porque ali era um local produ�vo e ele �nha a intenção de produzir hortaliças reaproveitando o resto de água que vinha da revê daquele açude.

Toda a família tem a preocupação com a conservação dos seus poucos recursos, principalmente com a água, já que naquela região é tão escassa, porém, com o solo, essa preocupação não é diferente, Carlão conta que faz os seus canteiros todos em curva de nível, já que sua propriedade apresenta relevo muito acidentado, e ele tem a consciência de que se plantar de acordo com o desnível do terreno corre o risco de em pouco tempo toda a propriedade se tornar erodida.

Para garan�r uma produção uniforme, Carlão tem sempre à preocupação de não u�lizar o agrotóxico, uma prá�ca que é u�lizada por ele é a rotação de culturas dentro do próprio canteiro, onde ele afirma não ter problemas nenhum com ataque de pragas e muito menos doenças em seus canteiros, ele afirma que não tem o costume de produzir a cultura do tomate justamente por conta de ser uma hortaliça que requer aplicações intensas de veneno.

Ele acredita muito também no método de rotação de cultura, como exemplo a rotação do jerimum, essa cultura reduz a quan�dade excessiva de matéria orgânica no solo, auxiliando o fornecimento das quan�dades certas e adequadas dessa matéria orgânica para a alface, dentre outras culturas, outra prá�ca ro�neira dele é plantar seis meses a macaxeira e seis meses depois plantando canteiros, com isso contribui no melhoramento do solo com relação à fer�lidade. “Ou eu faço isso, ou vou ter que usar o veneno e isso eu não quero usar” Afirma Carlão.

Dentre toda essa produção, Carlão afirma que ainda encontra um entrave em sua produção, destacando que uns dos seus principais desafios hoje é a questão do incen�vo a comercialização: “a gente depende só unicamente de si, eu nunca �ve uma visita de assistência técnica, porque aqui produzir é fácil, o problema é vender toda a produção”, Afirma.

A produção da família cresceu muito. Dependendo da época, já chegou a entregar 1.500 pés de alface por semana, além de couve e cheiro verde, caju, feijão, milho, fava, limão, goiaba, alguns pés de manga, romã dentre outras, que fortalece muito a alimentação de toda a família.