A Ordem Oculta Da Arte.23.11

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Visão Sincrética

ORDEM NO CAOS1 . Como a criança vê o mundo

PG 19Conceito clássico do processo primário (que forma a fantasia inconsciente) nega-lhe qualquer estrutura. A fantasia inconsciente não distingue entre os opostos, deixa de articular o espaço e o tempo da maneira que os conhecemos e permite que todos os limites firmes se fundam em uma livre e caótica mistura de formas.A arte, por outro lado, parece ser a corporificação de uma rigorosa organização.

PG 20Psicologia psicanalítica do ego – o estudo do trabalho criador pertence a esse campo de pesquisa – tem sido alimentada pelas análises de Freud sobre os sonhos, o que, certamente nada tinha de clínico. Depois de um longo período de estagnação, essa psicologia do ego começou novamente a chamar a atenção geral, e não seria de estranhar se a análise da arte fosse uma continuação da análise dos sonhos.Antes de Freud o sonho era considerado como um produto de acaso de uma mente meio paralisada. O seu feito consistiu em demonstrar seus significados ocultos, ligando-o a um sonho latente de fantasia que tinha seu curso por baixo do sonho não-vinculado. Embora defendesse os conteúdos insensatos do sonho, Freud nunca defendeu a sua estrutura aparentemente caótica. Como eu já disse, ele atribuía aquilo a um processo primário que se ressentia da falta de uma diferenciação apropriada dos opostos, do espaço e tempo, e também, na verdade, de qualquer outra estrutura firme. A análise formal da arte pode vir a preencher essa lacuna.Mostrarei que a complexidade de uma busca criadora, que tenha que explorar um sem-número de caminhos, necessita de um avanço numa frente mais ampla que deixe em aberto as opções contraditórias. Na solução de propósitos complexos a não-diferenciação da visão inconsciente se transforma em um instrumento de rigorosa precisão e leva a resultados que são plenamente aceitáveis pela racionalidade consciente. Está claro que nas doenças mentais o material não-diferenciado desperta do inconsciente apenas para perturbar os modos de pensamento discursivo consciente mais nitidamente focalizados; acontece então que o caos e a destruição que estamos acostumados a associar às fantasias dos processos primários não-diferenciados passam a dominar a razão do paciente. Em contraste com a doença, o trabalho criador consegue coordenar os resultados entre a indiferenciação inconsciente e a diferenciação consciente e assim deixa a descoberto a ordem oculta do inconsciente. O trabalho clínico pouco sabe como funciona a sublimação criadora, porque ele se limita a interpretar e traduzir o conteúdo da fantasia incosciente. Uma vez resolvidos os conflitos do inconsciente, compete à ação automática do ego sublimar as tendências reveladas do inconsciente para um trabalho útil e criador.

PG 21

Esse procedimento deixa obscuro o trabalho criador do ego. O estudo da subestrutura inconsciente da arte e dos processos de triagem na ciência oferece a oportunidade necessária para observar as técnicas criadora do ego e o modo pelo qual este faz uso da estrutura dispersa e da percepção do inconsciente. O caos do inconsciente é tão desalentador quanto o da realidade externa.