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SANTOS, Leonardo Soares dos. A luta contra os “tubarões do Mercado Municipal” do Rio de Janeiro: comércio de
gêneros e os pequenos lavradores do Sertão Carioca. Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia,
v.1, n. 1, p. 117-136, março de 2017. ISSN 2526-4702.
ARTIGO
http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/
A luta contra os “tubarões do Mercado Municipal” do Rio de Janeiro: comércio
de gêneros e os pequenos lavradores do Sertão Carioca (1945-1964)
The fight against Rio de Janeiro’s Public Market sharks: foods market and little planters of Sertão Carioca (1945-1964)
Leonardo Soares dos Santos1
Resumo: Esse artigo examina os conflitos, imprensa, políticos e grupos ligados ao
mercado de gêneros e abastecimento no Rio de Janeiro e os impactos em sua zona rural
(Sertão Carioca), especificamente. Durante 194-1964, o crescimento demográfico teve um
papel na expansão da demanda por comida e aumento da utilização da terra e trabalho (por
“pequenos lavradores”). Mas havia um enorme abismo entre a produção e os preços,
resultado do controle dos comerciantes (“intermediários”). Reduzir os aspectos
desastrosos do setor varejista sobre a economia rural era o objetivo dos pequenos
lavradores, comunistas e simpatizantes comunistas, classe média e camadas pobres
urbanas. Portanto, conquista a opinião pública era fundamental. Palavras-chave:
Sertão Carioca, Rio de Janeiro, mercado de gêneros.
Abstract: This article examines the conflicts, press, policies and groups connected to the
food market and supply in Rio de Janeiro and impacts on your rural zone (Sertão Carioca),
more specifically. During 1945-1964, the demographic growth played a role in the
demand expansion for more foods and more intensive use of land and labor (by little
farmers or “pequenos lavradores”). But there was a enormous gap between production and
prices, resulting from the control by merchants (“intermediaries”). To reduce the
disastrous aspects of the retailer sector on rural economy was the principal aim of little
farms, politics, communists and communist sympathizers, middle class and urban poor. Therefore, to pursue the public opinion was fundamental. Keywords: Sertão
Carioca, Rio de Janeiro, Foods Market.
Até a década de 1980, os estudos sobre abastecimento se concentravam sobre os
aspectos econômicos da atividade (capitais investidos, origem, liquidez, mecanismos de
comercialização, agentes principais da atividade etc.). A história do abastecimento nessa época
não era mais do que uma especialidade da história econômica.2
1Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense/Campos dos Goytacazes.
Também é professor dos Programas de Mestrado em Políticas Públicas da UFF e de Direitos Humanos da UFRJ.
E-mail do autor: leossga@gmail.com.br. 2Uma contundente crítica a esse respeito foi formulada por Sônia Regina Mendonça (1998, p. 13).
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Mapa do Distrito Federal de meados do século XX destacando a zona rural do Rio, o Sertão Carioca.
Fonte: Arquivo do Instituto Pereira Passos
Há cerca de duas décadas começaram a surgir - com exceção do detalhado estudo de
Eulália Lobo sobre as condições de vida das classes trabalhadoras do Brasil entre 1930 e 1970,
um estudo realizado ainda nos anos 80 - trabalhos que passaram a dar maior atenção às
dimensões social e política que atravessam a questão do abastecimento de alimentos. A saber:
as reações de setores da população diante das crises de escassez, a incorporação desse
problema na pauta e nos programas de movimentos (sindical, da sociedade civil) e de partidos,
as políticas e ações desenvolvidas pelos poderes públicos para contornar os problemas gerados
etc.
Aspectos da agricultura carioca. Fonte: Última Hora. Acervo: Arquivo Público do Estado do São Paulo.
Nesse sentido, dois trabalhos se destacam: o de Alberto Gawryszewski (2002) e o de
Marcela Fogagnoli (2011). No primeiro, o autor analisa como a sociedade carioca busca se
posicionar diante da séria crise de abastecimento que grassava no então Distrito Federal em
meados do século XX. No segundo, a autora procura conjugar uma história social com uma
história das políticas públicas de corte mais institucional. Fogagnoli demonstra, assim, como o
campo da Nutrição, enquanto ramo profissional do conhecimento, surge entre 1930 e 1940,
durante os esforços de modernização do país efetuados por Getúlio Vargas. Temos como pano
de fundo um contexto extremamente conturbado de carestia de alimentos e de aumento de
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custo de vida, conjugado a uma mobilização crescente das classes trabalhadoras. O que torna
os objetivos do Governo Vargas mais complicados (FOGAGNOLI, 2013).
O tempo das panelas vazias e seu “culpado”
A partir do final da II Guerra Mundial, simultaneamente ao processo de ascensão das
forças populares, a cidade do Rio, e o país como um todo, viveu um período de crise de
abastecimento. O trabalhador conheceu tempos de racionamento. Grande parte da população
carioca passaria por dificuldades frente ao consumo de alimentos: procura maior que a oferta,
mercado negro, os tubarões que eram os grandes comerciantes que não distribuíam os víveres
aos locais de vendas, fila para comprar pão e leite, alto custo de vida e a inoperância dos
governantes. Tradicionalmente associado ao período de redemocratização, o Governo Dutra,
diga-se de passagem, apoiado em uma forte repressão aos movimentos populares e sindicais
organizados e nos chamados movimentos espontâneos, também seria marcado pelo arrocho
salarial. E a população ainda testemunhava o agravamento da situação por conta de uma
inflação galopante (derivada, em grande parte, pelos sucessivos deficits fiscais do Governo, o
qual pagava com emissao de moeda). O salário, tambem corroído durante esses anos, tornava
o consumo de alimentos por parte das classes pobres e classe média um verdadeiro
suplício. Essa era uma arena das lutas sociais das mais sensiveis, o tema tinha ampla
repercussao entre todos os campos políticos, ideológicos e sociais.
Houve também um grande crescimento do noticiário sobre os conflitos de terra na
década de 1950. Através dessa oportunidade aberta pela imprensa, os lavradores e as
lideranças procuraram transformar questões como “despejos” e violências de “capangas”
numa questão social que dizia respeito a toda cidade do Rio de Janeiro (FOGAGNOLI, 2013).
O “grileiro”, esse personagem cuja produção também se consolida nessa época, seria um
adversário não só dos lavradores do Sertão Carioca, mas de todos os cariocas, pois estaria
impedindo os lavradores de abastecer o mercado do DF com mais eficiência. E isso não era
um simples detalhe naqueles anos. A cidade passava por uma grave crise de abastecimento (o
que só seria contornado na década de 1980), os gêneros alimentícios eram escassos e
relativamente caros. Ao estabelecer uma relação causal entre esta crise e o problema da
instabilidade dos lavradores no Sertão Carioca, estes procuravam não só legitimar suas
pretensões como também demonstrar que a sua vitória era necessária para o bem-estar da
população da cidade.
A ideia que se tinha do intermediário como um agente cujas práticas eram nocivas à
economia popular era algo bem difundido como opinião de várias representantes dos poderes
públicos. Na verdade, desde o Estado Novo, o Governo tomaria algumas medidas com o fito
de consolidar a ideia de que ele estava “junto” com a população no “combate” aos agentes da
especulação de gêneros alimentícios. Com essa justificativa era decretada em 18 de novembro
de 1938 a Lei 869 sobre Crimes contra a Economia Popular, que punia todos aqueles que
destruíssem mercadorias, fraudassem pesos, contribuíssem para o aumento ou queda de preços
por notícias falsas. A atuação do “intermediário” no sentido de obter lucros acima do “normal”
era classificado, portanto, como crime, pelo qual era passível de prisão e julgamento pelo
Tribunal de Segurança Nacional (Gawryszewski, 2002, p. 30). Na década de 40 se assistiria a
criação de um considerável aparato jurídico e de órgãos governamentais estritamente voltados
para o controle da atuação dos “intermediário” nas diversas formas de venda e distribuição de
gêneros alimentícios.8 Muito embora fossem de eficácia duvidosa, as leis, portarias e
8 Ibidem, passim.
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resoluções então criadas contribuíram para consolidar a noção da atividade do “intermediário”
como um crime contra o bem-estar da população e, por consequência, contra a Nação. E a
principal consequência era o enquadramento dessa questão sob um viés criminal, mesmo
sendo algo eminentemente de ordem econômica e política. E mais: insistia ignorar os
meandros burocráticos que alimentavam a corrupção impregnava o circuito de
comercialização de gêneros.
Poucos anos mais tarde, o debate sobre a ação de tais intermediários mantinha esse tipo
de enfoque. Em discurso “aos trabalhadores” no dia do Trabalho em 1951, vemos mais uma
vez Getúlio Vargas, agora em sua segunda passagem pelo Palácio do Catete, tecer duros
comentários sobre os “negociantes de gêneros”:
A economia popular, fruto do trabalho, será defendida e protegida. É ao
próprio povo, em primeiro lugar, que cabe a vigilância do mais sagrado dos
direitos, que é o direito da necessidade. Os especuladores dos lucros ilícitos,
os exploradores da pobreza, os mercadores da miséria alheia ficam advertidos
de que a lei não os cerca de imunidades nem a justiça popular reconhece os
seus foros de impunidade. (Vargas, 1951, p.7).
Os poderes públicos, é importante que se frise, não agiam no vácuo. O enfoque da
imprensa contra os intermediários do comércio de gêneros também era severo. E já se
manifestava alguns anos antes. O governo Dutra procurava sinalizar algumas soluções, pois
lhe era impossível se manter indiferente, ao menos em relação a essa questão. Naquele mês de
maio, ele determinaria que o SAPS (Serviço de Alimentação Popular e Social) passaria a
"adquirir nas próprias fontes produtoras as mercadorias de que necessita". O Governo buscava
ele mesmo impor concorrência aos tradicionais intermediários do comércio de gêneros: os
representantes da autarquia eram incumbidos de adquirir alimentos nas Zonas da Mata (MG),
Sorocaba e Paulista (SP), Noroeste do Paraná e em Goiás. O SAPS, segundo o Governo,
deveria "descarregar, transportar e armazenar os produtos a ele diretamente oferecidos". Tudo
isso tinha um claro propósito: "libertar o povo da crise alimentar" (Diário Trabalhista,
28/05/1947, p. 1).
O próprio Mercado Municipal, sede maior da atuação dos “intermediários”, era
comumente representado como algo que tivesse vida própria: era um verdadeiro “sanguessuga
do bolso do trabalhador”, asseverava o Diário Popular em 1951 (Diário Popular, 25/03/1951.
p. 4.). Pouco mais de um ano depois o mesmo jornal classificava o Mercado Municipal de
“mercado dos Ali-Babás” (Diário Trabalhista, 21/09/1952, p. 4).
A imprensa da época consolidaria por meio de milhares de reportagens (reforçado por
centenas de editoriais) a imagem do Mercado Municipal como espaço por excelência de
práticas comerciais desonestas e desumanas. E isso se daria exatamente no início da década de
1950.
Em março de 1951, O Globo estampava em sua capa a enorme e garrafal manchete
“Aumento até de mil por cento em favor dos intermediários – De estarrecer!”. A matéria era
fruto de observações realizadas diretamente em Guaratiba; ela detalhava os meios pelos quais
um cacho de banana, entre outros produtos, chegava a ser vendido no Mercado Municipal por
um preço doze vezes maior do que aquele pelo qual foi obtido originalmente junto ao lavrador
da zona rural carioca. O retrato que o jornal traçava da região era até de certo modo elogioso:
“O Sertão Carioca aí está para quem quiser ver, agreste, melancólico, abandonado, mas
fecundo. E é dessas terras que vem grande parte dos legumes, das verduras e das frutas e que
se alimenta o carioca” (O Globo, 06/03/1951, p. 1). A região tinha tudo para se constituir num
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“verdadeiro celeiro”, capaz de abastecer “quitandeiros, feirantes e negociantes do Mercado
Municipal”. Mas a realidade dos lavradores era bem mais dura. Que o diga o português Daniel
da Silva Souza, que habitava a região há 20 anos e cultivava um terreno de 150 mil m². Dizia
não conseguir obter “nem 3% de juros sobre o capital empregado”. As causas disso, segundo o
jornal, residiriam no emprego de “métodos rotineiros” e, “principalmente, pelas imposições
daqueles que dominam o mercado de gênero alimentício” (O Globo, 06/03/1951, p. 1).
Por essas e outras, O Globo simplesmente clamava em manchete de capa no dia 2 de
março: “Necessidade Pública a demolição do Mercado Municipal” (O Globo, 02/03/1951, p.
1.). Tudo porque, conforme as palavras do mesmo jornal em matéria do dia 27 de março, a
“principal causa do encarecimento da vida” era sim a ação do “intermediário” (O Globo,
27/03/1951, p. 1).
Para o Correio da Manhã, a “eliminação” do intermediário resolveria um “grave
problema da vida carioca” – o alto custo de alimentos (Correio da Manhã, 02/05/1951. p. 5).
Com igual convicção o‟Globo afirmava ser o “intermediário” a principal causa do
“encarecimento da vida” (O Globo, 28/03/1951. p. 1.). “O Homem do campo está nas mãos de
intermediários gananciosos”, estamparia o mesmo jornal na edição de 18 de abril do mesmo
ano (O Globo, 18/04/1951, p. 1).
E práticas antes restritas ao Mercado Municipal se espraiavam pelas “feiras-livres”. O
Diário Trabalhista afirmava que tais feiras haviam se tornado “reduto de exploradores da
população”, os feirantes formando uma “caixinha” e fornecendo “com regularidade, o jabaculê
aos fiscais”. O jornal assegurava que isso ocorria em toda a cidade; “de Copa até Madureira,
do Leblon a Campo Grande” (Diário Trabalhista, 11/07/1952, p. 3). E um ano antes, o mesmo
reportava que “os tentáculos dos açambarcadores do Mercado Municipal se estendem a
milhares de quilômetros de distância, indo até os campos de cultura de modestos colonos e
pequenos produtores, que outra alternativa não têm senão suportar a ´proteção´ que lhes é
oferecida pelo odioso sindicato [de “rackteers”]” (Diário Trabalhista, 16/12/1951, p. 8).
Em julho de 1952, o Diário Trabalhista assim resumia a questão: “Gananciosos e
desumanos como sempre, os „tubarões‟, sobretudo os que exploram o comércio de gêneros
alimentícios, estão investindo contra a sacrificada população carioca” (Diário Trabalhista,
22/07/1952. p.1).
O rol de “bandidos” não parava por aí. Na verdade, o principal deles era mesmo o
“intermediário”. Sim, o “intermediário” tomado de forma ampla, geral e irrestrita. Ou seja, não
se resumindo àqueles que atuavam apenas no Mercado Municipal. E mais do que nunca, a
atuação desse tipo de agente será caracterizada pelo viés da criminalização. Tem-se a
impressão que o fenômeno seria plenamente resolvido caso o código criminal fosse
eficazmente cumprido. O Diário Trabalhista noticiava exultante a prisão “em flagrante” de
vários “tubarões”, estes “comerciantes gananciosos que sonegando ou majorando as
mercadorias vão matando pouco a pouco os cariocas, abusando de sua complacente índole”
(Diário Trabalhista, 14/12/1951. p. 3). Em janeiro do ano seguinte, o mesmo jornal assim
descreveria as atividades ligadas ao comércio de gêneros:
Os assaltos já não têm por palco as estradas desertas nem os becos escuros.
Ao contrário, são efetuados à luz do dia, à vista de todos. Pobre de quem se
vê forçado a entrar em contacto com uma parte considerável daqueles que
negociam com gêneros de primeira necessidade. São roubados, maltratados e,
quando procuram uma defesa legal, recebem de certas autoridades
demonstrações de pouco caso e menosprezo (Diário trabalhista, 13/01/1952.
p. 1).
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Um ano antes, o jornal O Radical produziu uma contundente reportagem sobre a
situação de penúria da zona agrícola da capital. A responsabilidade da crise era quase toda
debitada na conta dos intermediários de gênero. A matéria do jornal tinha como título “Os
tubarões mataram a produção de laranjas”. Nele lemos que
Há poucos anos, quando fizemos idêntico passeio àquela região, tudo era
digno de ser admirado. Vastos e bem cuidados laranjais, pejados de pomos
cor de ouro; gado leiteiro por toda parte e cultura variada de verduras,
legumes e até cereais. Dissemos, então: está aqui o futuro da terra carioca.
Terra abençoada, entregue aos cuidados de lavradores competentes, faltava-
lhe, tão somente, ajuda moral e material do governo... (O Radical,
25/11/1951, p. 1).
Passado um tempo, como se já não bastasse a falta de ajuda do governo, os pequenos
lavradores acabaram, segundo o jornal, “escravizados por atravessadores e negocistas”; as
“culturas” seriam abandonadas, resultado do “desânimo que se apoderou dos lavradores”. Daí
que tivéssemos um cenário social onde “os intermediários moram em palacetes de luxo, [e os]
lavradores vegetam nessas miseráveis choupanas”. E O Radical ainda vaticina que se
houvesse “um maior amparo da produção agrícola, o sertão ressurgiria como por encanto e o
povo passaria menos fome‟.
Atuação do SAP no Mercado Municipal na década de 50. Fonte: Última Hora. Acervo: Arquivo Público do
Estado do São Paulo
Mas para que tal discurso (ou narrativa) tivesse alguma coerencia, era necessário
qualificar (por meio do ato de classificar) o outro - os “Intermediários” ou “Atravessadores”
em termos das consequencias de suas ações para a sociedade mais ampla, a “população da
cidade”. Era preciso consolidar num discurso que visava mostrar as qualidades dos pequenos
lavradores como agente principal de uma atividade agrícola destinada ao abastecimento de
viveres a população do Distrito Federal, fazer ver quem era esse outro agente, pertencente ao
conjunto de Intermediários. E a esse respeito, o trabalho dos pequenos lavradores, em especial
as suas lideranças, e de boa parte da imprensa carioca, em construir uma imagem
extremamente negativa da figura do intermediário era bastante facilitada pelas próprias
autoridades públicas, além do gigantesco acúmulo de elementos negativos referidos aos
intermediários por parte da imprensa – como vimos bem nas linhas acima.
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A ideia que se tinha do intermediário como um agente cujas práticas eram nocivas à
economia popular era algo frisado por Getúlio Vargas, em seu discurso de posse como
presidente em 1951. Ele tentava convencer a opinião pública de que a defesa da “economia
popular” – o que incluía o controle dos preços – seria uma das maiores prioridades do seu
governo:
A economia popular, fruto do trabalho, será defendida e protegida. É ao
próprio povo, em primeiro lugar, que cabe a vigilância do mais sagrado dos
direitos, que é o direito da necessidade. Os especuladores dos lucros ilícitos,
os exploradores da pobreza, os mercadores da miséria alheia ficam advertidos
de que a lei não os cerca de imunidades nem a justiça popular reconhece os
seus foros de impunidade (Vargas, Getúlio. Op. cit., 1951, p. 73).
O problema da carestia de vida, herdada do Governo Dutra era bastante grave. Vargas
chegaria a prometer “freiar o alto custo de vida, estabelecendo um justo preço para os gêneros
de primeira necessidade” e deter “com medidas enérgicas, o avanço inflacionista” (Ibidem, p.
16).
Mas não bastava apontar os desafios a serem enfrentados. Era preciso dizer como
seriam enfrentados. E mais importante ainda: era necessário aclarar contra quem se daria os
enfrentamentos. Para o pensamento corporativista varguista, permeado por argumentos
nacionalistas, como carestia e corrupção não eram fenômenos puramente sociais (ou
econômicos), determinado por estruturas frias e invisíveis. Era sempre fruto de artimanhas,
má-intensões e manipulações. Era sempre resultado de conspiratas de agentes inescrupulosos
que atentavam contra o bem-estar da Nação e do seu povo, “humilde e trabalhador”. E entre os
principais “inimigos” das classes trabalhadoras - as maiores fiadoras desse segundo governo
Vargas - figurava o “intermediário”. Embora não o citasse explicitamente, Vargas deixaria
clara a sua estratégia de mobilização da opinião pública, que consistia em explorar ao máximo
os antagonismos entre o povo e o governo, de um lado, e os agentes que se beneficiavam com
as mazelas que afligiam a população. O discurso presidencial do Dia do Trabalhador de 1951 é
bastante elucidativo a esse respeito:
[...] para a luta contra a carestia da vida e os especuladores, e nos ingentes
esforços pela elevação dos salários e a conquista do bem-estar social, é
preciso que os trabalhadores e o povo em geral se organizem em volta do
Governo como um grande bloco, forte e coeso. Assim será possível levar
avante o vasto programa de recuperação econômica nacional, que o meu
Governo pretende realizar. E é também esta a única maneira eficiente do
povo defender-se, para não ser explorado, e como força de opinião
organizada, ajudar o Governo a lutar contra os elementos negativos da
sociedade e contra os que não colaboram, os que prejudicam, contra os
autores das fraudes, os sabotadores, os exploradores do povo e seus
advogados, ostensivos ou disfarçados.
As classes produtoras, que realmente contribuem para a grandeza e a
prosperidade nacional, o comerciante honesto, o industrial operoso e
equitativo, o agricultor que fecunda a terra, estes não têm razão para temores,
nem para inquietações descabidas. Jamais devem receiar(sic) a força do povo
os que trabalham com o povo e para o povo. O que a lei não protege nem
tolera, é o abuso, a especulação desenfreada, a usura, o crime, a iniquidade, a
ganancia de todas as castas de favoritos e de todos os tipos de traficantes, que
corvejam sobre a miséria alheia, mercadejam com a fome dos seus
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semelhantes e dão até a alma ao diabo para acumular riquezas, à custa do
suor, da angústia e do sacrifício da maioria da população. O que é
insuportável é que dentro da sociedade onde tudo deve ser harmonia,
equidade e cooperação para o bem comum, uns reservem para sí todos os
benefícios e outros carreguem apenas o fardo das privações e dos
sofrimentos. Queiram ou não queiram ouvir-me os inimigos do povo,
continuarei proclamando em voz alta que não é possível manter a sociedade
dividida manter a sociedade dividida em zonas de miséria e zonas de
abundância, em que uns dispõem do supérfluo e outros falta o indispensável
para subsistência [...] (Ibidem, p. 28.).
Em certas localidades do Sertão Carioca, a causa do enfraquecimento da agricultura
será posto na conta dos “gananciosos” intermediários. Em inícios da década de 50, os
“bananeiros” de Jacarepaguá diziam-se “tomados pelo desânimo”, apesar da alta dos preços.
Eram apontadas como as causas principais dessa situação as chuvas de granizo de outubro de
52 e as “transações dos intermediários” (Nogueira, s/d, p. 21). Assim como muitos lavradores
de Jacarepaguá, os de Mendanha também procuraram “eliminar” a influência dos
intermediários transformando-se em “feireiros” ao adquirir caminhões e “fazendo, então, o
transporte e a venda de seus produtos nas feiras dos subúrbios” (Silva, 1958, p. 457). Os
lavradores de Jacarepaguá também conseguiam se manter livres das “garras” dos
intermediários. J.G. de Souza afirmava que a proximidade do centro da cidade facilitava a
venda de seus produtos diretamente ao consumidor: “Mas o restante dos lavradores -
acrescenta ele - a grande massa, se entrega a atravessadores, ao dono do caminhão que lhe vai
ter à chácara, ou ao agente do Mercado Municipal” (Souza, 1951, p. 40). A situação era tão
grave aos seus olhos, que ele chegaria a dizer que a simples posse de um meio de transporte
naqueles dias era o mesmo que ter em mãos um instrumento de “libertação”, não tê-lo,
consequentemente, era o mesmo que estar entregue à “escravização”. Um indicador desta
última condição, segundo Souza, era o fato da “exploração” sobre os lavradores não acontecer
apenas na Praça XV, onde se localizava o Mercado Municipal, mas também nos mercados
regionais, mercadinhos e quitandas, para onde se dirigiam os lavradores que buscavam fugir
dos “intermediários”.
Diante da construção de representações negativas sobre a figura do “intermediário” no
contexto da crise de abastecimento, destacando sobremaneira a ilegalidade e ilegitimidade de
suas ações, os lavradores cariocas extrairiam elementos que reforçariam a legitimidade de sua
luta pela terra no Sertão Carioca.
“Um (outro) inimigo da agricultura carioca”
Mas a vilanizacao da figura do intermediario nao se restringia a discursos. Parte dele se
materializava em atos, em ações públicas dos poderes políticos. Coerente com tal abordagem
(policialesca) do problema, o então secretário de agricultura da cidade, João Luiz de Carvalho,
promoveria um “cerco” ao Mercado Municipal com o apoio de “35 homens armados”. No
entender do Diário Trabalhista, aquele (o Mercado) sendo “dominado, a cidade terá melhor
abastecimento” (Diário Trabalhista, 11/04/1953, p. 2).
No caso específico do Sertão Carioca, a preocupação com a atuação dos intermediários
no comércio de alimentos era mais antiga do que aquela referente ao gradativo
desaparecimento da sua área agrícola. No início da década de 1940, o Governo Federal
acreditava que essa região ainda era a melhor zona produtora de alimentos para a capital. Com
o núcleo agrícola de Santa Cruz funcionando como o esperado, tinha o Governo “a firme
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convicção que dentro de pouco a zona rural” poderia “abastecer com fartura, a preços
módicos, frutas, legumes e produtos da roça, à cidade do Rio” (Apud Pechman, 1987, p. 76).
Ou seja, o Governo mostrava-se tranquilo quanto à questão da produção agrícola; o que na
verdade lhe preocupava era pôr “os produtores em comunicação direta com os consumidores
para frustrar os abusos da ganância intermediária...” (Apud Pechman, 1987, p. 76).
Diante de tal quadro, desde a década de 1940 a prefeitura do DF buscava implementar
medidas que ajudassem a contornar a crise de abastecimento da cidade e que, por tabela,
livrasse não só os lavradores como também a população carioca da “ganância” dos
intermediários do comércio de gêneros. A primeira delas foi o sistema de licenciamento dos
caminhões de gêneros. Estes teriam a tarefa de fazer com que os produtos do Sertão Carioca
saíssem direto dos sítios dos lavradores para as bancas do Mercado Municipal. No entanto,
em pouco tempo, o sistema deixou de corresponder ás nobres intenções que o
inspiraram. Os caminhões não mais percorreram os bairros. Pas[s]aram a
estacionar em cruzamentos de ruas, praças ou outros logradouros de maior
influência da população. Transformaram-se em barracas permanentes,
montadas sobre rodas. Já não iam aos limites da zona rural buscar as frutas e
legumes do lavrador. Eram abastecidas nos entrepostos e dali partiam para os
pontos de estacionamentos, até, não saiam desses pontos e aí recebiam de
outros veículos a mercadoria que expunham à venda. Não concorreram para a
baixa dos preços. Ao contrário, beneficiados por toda a sorte de facilidade,
inclusive pela isenção de impostos e taxas, acompanharam a alta e a
especulação participando de tôdas as flutuações descontroladas, ora de
fartura ora de escassez de mercadorias que caracterizam o comércio, nesta
capital, a partir do início da última guerra (Grillo, 1947, p. 301).
Uma segunda tentativa, já na segunda metade da década, foi a construção de onze
mercados regionais, de modo a descentralizar o comércio de gêneros. Mas seu próprio criador,
o secretário de agricultura Heitor Grilo, admitia que em “regra geral” os lavradores
“espontânea ou forçadamente” estavam “comprometidos” com o Mercado Municipal. Este era,
nas palavras do Diário Trabalhista, uma “verdadeira rêde de exploração e especulação da
fome do povo carioca”, dominada por um sindicato de “rackteers” (os asseclas do eminente
contraventor norte-americano Al Capone); para o jornal, este verdadeiro “empório da
exploração”, não era, na época, mais do que uma “boca que devora 2 milhões de quilos de
legumes, frutas e verduras” (Diário Trabalhista, 16/12/1951, p. 8.). Detalhe: o referido jornal
escrevia isso em fins de 1951, o que demonstra que o secretário de agricultura citado acima
tinha lá as suas razões para tanto desânimo. Porém, em que pese os persistentes insucessos, a
prefeitura continuava a elaborar novas medidas para combater os intermediários. A outra
medida foi a construção junto aos mercados regionais de quatro empórios, que receberiam a
produção diretamente dos lavradores, eliminando – assim entendiam - a interferência dos
intermediários. No entanto, a fatia que os intermediários continuavam a ter nos lucros do
comércio de gêneros, mesmo depois de todas as medidas da municipalidade, era
surpreendente. Se os lucros dos lavradores na comercialização dos principais produtos do
Sertão Carioca (banana, laranja, couve, agrião e tomate) eram em torno de 460%, o dos
intermediários era de quase 1.300% (Souza, 1953, p. 22).
Mas passado tanto tempo, os “pequenos lavradores” do Mendanha não tinham muito o
que celebrar a respeito do tema dos transportes. Muito pelo contrário, a questão suscitava
protestos ainda em 1959. Numa audiência junto ao Ministro do Trabalho Fernando Nóbrega,
os lavradores relataram a situação na qual se encontravam, “à mercê dos intermediários e dos
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especuladores, que lhes toma[va]m a produção a baixo custo”, por isso pediam “a criação de
silos e o estabelecimento de um sistema de transporte para escoamento da produção” (Terra
Livre, março de 1959, p. 1).
Além da escassez, era grande o encarecimento dos poucos produtos que chegavam às
feiras e aos mercados, conforme lemos em algumas passagens da imprensa. Silvio de Abreu,
um dos maiores estudiosos da zona rural na época, acreditava que tal valorização esteve muito
longe de favorecer aos lavradores cariocas, pois a quase totalidade dos lucros ficava em mãos
que não as deles e sim na dos intermediários. Lembrava ainda que a renda per capita dos
lavradores era muito baixa, devido àquilo que lhe pagava “o ganancioso intermediário, no
atual regime de extorsão” (Idem). Sendo os ganhos obtidos com a produção de gêneros muito
inferior àquele obtido com a atividade de circulação, alguns lavradores, como o de Vargem
Grande (Jacarepaguá), tornaram-se “intermediários-feirantes”, “abandonando suas lavouras e
adquirindo produtos de outros lavradores para revendê-los nas feiras do DF”.
João Luiz de Carvalho fiscalizando a venda de produtos da lavoura numa feira de Campo Grande. Fonte:
Última Hora. Acervo: Arquivo Público do Estado do São Paulo.
Entretanto, não era apenas a falta de eficácia das medidas que mais preocupavam esses
pequenos lavradores. O próprio apoio direto dos governos (notadamente as esferas municipal e
federal) à atividades agrícolas do Sertão Carioca era importantíssimo. Claro: o apoio à
agricultura promovida pelos pequenos lavradores em bases que não àquelas ligadas à grande
propriedade. Tendo isso em mente, vários desses pequenos lavradores se dirigiriam a imprensa
pedindo por mais recursos e assistência às atividades agrícolas da zona rural: sementes, adubo,
equipamentos, ração, garantia da posse da terra, cadastro das propriedades rurais etc.
O problema do abastecimento na medida em que se ampliava, estimulava uma série de
grupos e indivíduos a se manifestarem sobre ela, indicando e propondo medidas que a
solucionassem. O Radical, por exemplo, proporia em suas páginas de 13 de setembro de 1951
“medidas severas para assegurar o abastecimento da cidade: restauração do Entreposto Geral
de Gêneros Alimentícios no cais do Porto; controle dos preços no atacado; aumento do
número dos caminhões-feira e revisão do contrato do Mercado Municipal” (O Radical,
13/09/1951, p.1).
Um conjunto de propostas que ganharia vulto no início da década de 1950 seria o do
cooperativismo. Medidas para a melhoria do abastecimento que passassem pela adoção de
cooperativas eram muito bem vistas pelos segmentos patronais ligados à grande propriedade
rural.
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A proposta da cooperativização não era nova. Ela foi muito difundida pelas elites
agrárias e políticas nos anos 1930 e 1940. E desde aquela época o cooperativismo também era
pensado como solução para problemas mais concretos, como os efeitos da atuação dos
atravessadores sobre os preços dos alimentos. Sobre o assunto, escrevia o agrônomo em 1926 -
e um dos maiores ideólogos do cooperativismo - Luz Filho e Brito:
O cooperativismo é contra o lucro, que ele considera como uma subtração
efetuada ilegalmente pelo intermediário em prejuízo de produtores e
consumidores. Abolindo o lucro sem abolir o capital, que é formado pelo
trabalho e acumulado pela economia, combate o cooperativismo os abusos do
capitalismo [...]. Fica assim subordinado o capital aos interesses legítimos
daqueles que constituem a mola vital das associações cooperativas, todas elas
repousando na pessoa de seus associados, na sua força de ação [...]
(Mendonça, 1998, p. 45-46).
Para tais elites, a bandeira do Cooperativismo tinha outra importante função,
eminentemente politica, de rechaçar qualquer possibilidade dos agricultores, especialmente os
mais pobres, recorrerem aos sindicatos.35
A Cooperação enquanto discurso ideológico fundamentava assim a ideia de relações
pacíficas e harmônicas entre grandes proprietários e trabalhadores rurais.
A própria campanha do Globo em nada tocava a questão da propriedade e das terras do
Sertão Carioca. Mais do que solucionar os problemas de abastecimento, a adoção do
Cooperativismo visava neutralizar os efeitos nefastos à difícil manutenção da harmonia social.
Na reportagem de 26 de abril daquele ano, o Globo lembrava que a falta de medidas mais
efetivas que impedisse a “sufocação do pequeno agricultor ante a ganância” do intermediário,
poderia provocar sérias consequências políticas. O jornal dava destaque ao pronunciamento do
presidente da Caixa de Crédito Cooperativo: “Ou procuramos no cooperativismo a solução do
problema econômico-social, ou as massas serão levadas ao Comunismo” (O Globo,
26/04/1951, p. 1).
Receios como aquele revelavam com nitidez o caráter de classe de tais campanhas. Era
muito comum que alguns jornais, em suas campanhas em prol do cooperativismo, divulgassem
falas elogiososas sobre o mesmo por parte de grandes proprietários rurais. Numa delas, vemos
um “fazendeiro de Macaé”, que teria vindo daquela cidade para levar “seu apoio à campanha
d‟O Globo”. E fazia questão de ressaltar que esse apoio não era apenas individual, mas “em
nome de inúmeros agricultores do município fluminense.” E, por sua vez, o jornal detalhava as
características desse apoiador: “Possue três fazendas contíguas e as explora com fibra e
tenacidade invejáveis.... homem simples, franco, habituado ao mais dignificante trabalho a que
se pode dedicar o homem, que é o da terra” (O Globo, 18/04/1951, p. 1).
Mas o cooperativismo, apesar dos esforços, pouco avançou ao longo dos anos. E ao
contrário do prognóstico, as massas não se voltaram ao comunismo. Muito embora, é preciso
destacar, os comunistas e militantes e políticos de outras correntes políticas continuassem se
engajando no tema da crise do abastecimento. Até porque, tal crise, só aumentava.
Mas se a carestia de vida, as ações dos intermediários, as dificuldades de transporte, a
falta de recursos a serem empregados na agricultura, a perda de terras agricultáveis para a
expansão imobiliária e outros problemas relativos ao abastecimento parecessem se ampliar ao
longo da década de 1950, as ações de protesto dos pequenos lavradores também se faziam
35
Em abril de 1951, uma grande reunião envolvendo as cooperativas de consumo do Rio teria lugar exatamente
na sede da Sociedade Nacional de Agricultura (O Radical, 04/07/1951, p. 5).
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sentir de maneira ampliada. Muitos deles pediriam providências aos vários membros da
Câmara Municipal carioca.
Vereador Miécimo da Silva, do PSP. Fonte: Última Hora. Acervo: Arquivo Público do Estado do São
Paulo.
Além de demandar soluções e medidas que provessem assistência concreta aos
pequenos lavradores, estes procuraram reafirmar a sua visão sobre o que realmente poderia
solucionar não apenas a situação de crise da agricultura do Sertão Carioca, de maneira geral,
mas a própria atuação abusiva dos intermediários do comércio de gêneros. Os pequenos
lavradores buscavam consolidar a visão de que o problema do intermediário não era apenas
moral ou de cometimento de crimes: a ação deletéria daquele era indissociável da questão do
precário acesso à terra por parte desses pequenos lavradores. Nesse sentido, o “intermediário”
também era visto pelos lavradores e lideranças camponesas como o outro responsável pela
crise agrícola do Sertão Carioca e não apenas pelo encarecimento dos gêneros nos mercados
da cidade.
Novos Rumos, 1 a 7 de fevereiro de 1952, p. 10.
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Junto com o problema da instabilidade da posse da terra (cuja responsabilidade recaia
sobre os pretensos proprietários), a ação dos intermediários também era vista como uma das
causas da difícil situação por qual passavam os lavradores do Sertão Carioca. Isso estaria
presente em diversas reivindicações e protestos realizados nas duas décadas seguintes.
Era de vital importância afirmar esse nexo entre o problema da instabilidade da posse
da terra no Sertão Carioca e a exploração vivenciada por esses lavradores no trato com os
intermediários. Um e outro eram como que faces da mesma moeda. O incremento das atuações
de ambos contribuía para a fragilização da agricultura carioca.
E isso era algo que vinha sendo ensaiado desde a década de 1940. Fundamental para
tanto foi a influência do Partido Comunista do Brasil, através da atuação dos seus militantes
(em especial os advogados) e da sua imprensa (jornais como Tribuna Popular, Imprensa
Popular, Terra Livre e Novos Rumos) junto aos pequenos lavradores.
O Semanário, 23 a 29 de maio de 1959, p. 5.
Representantes de pequenos lavradores, em memorial entregue a Assembléia
Constituinte em 1946 não perderam a oportunidade de reforçar os liames entre os dois
aspectos. Na parte do documento destinado a explicitar as propostas para "salvar" a agricultura
carioca, vemos que a solução dos principais problemas, ou, "as reivindicações mais
necessárias e urgentes que pleiteiam os camponeses do Distrito Federal" passavam por
combater as ações de "atravessadores" e "grileiros":
O camponês quer trabalhar, mas, para tanto, necessário se torna que se lhe
distribua terras, sob forma gratuita ou `a base de um sistema de pagamento ao
seu alcance, que essas terras sejam produtivas e próximas `as vias de
comunicação e centros consumidores, que lhe seja assegurada a posse dos
tratos de terra por longos anos trabalhado e que lhes sejam concedidos
credito fácil, barato e a longo prazo, assistência técnica gratuita,
fornecimento de ferramentas agrícolas e sementes, melhoramentos das
estradas existentes e abertura de novas, criação de mercados livres com a
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abolição dos intermediários, abolição das taxas e impostos que incidem sobre
a locação de terras atualmente desordenada, escorchante e realizadas a base
de contratos unilaterais, quando não apenas verbais; extinção da poderosa
Instituição dos Grileiros, incentivo e amparo `as cooperativas de Produção e
Consumo, criação de escolas técnicas rurais e de alfabetização, postos de
higiene, serviços de saneamento e tantas outras providencias complementares
(Tribuna Popular, 24/08/1945, p. 1.).
Os anos foram se passando, e a crise de abastecimento ia se tornando crônica. E o
problema da posse das terras do Sertão Carioca, junto com a manutenção de sua agricultura,
também. Grileiros e Atravessadores/Intermediários, “tubarões” de terra e do Mercado
Municipal seguiam sendo tratados quase que como um único personagem.
Vereador Osmar Resende, do PSD, bastante atuante nas questões da agricultura carioca. Fonte: Última
Hora. Acervo: Arquivo Público do Estado do São Paulo.
Uma década depois lá estavam os “pequenos lavradores” de Jacarepaguá subscrevendo
um documento junto a várias “personalidades” (Roland Corbisier, Hércules Correia, Adalgisa
Néri e outros), a ser enviado ao II Congresso de Lavradores em Belo Horizonte, e que listava a
certa altura as razões do gradativo desaparecimento do cinturão verde carioca: “É o lamentável
resultado de uma política de liquidação de nossa atividade agropecuária, em proveito do
tubaronato imobiliário. Não há assistência técnico-financeira ao homem do campo; não há
mercado garantido, o „atravessador‟ é o senhor absoluto da situação” (Novos Rumos,
11/10/1961, p. 1.).
Seguindo esse entendimento, o Novos Rumos escreveria exatamente um editorial
equiparando os dois agentes, num editorial intitulado significativamente de “O latifundiário e
os atravessadores”: “lugar de destaque na lista dos ladrões do povo cabe aos latifundiários e
intermediários que dominam a produção e venda de produtos alimentícios” (Novos Rumos, 25-
31/01/1963, p. 8).
Um ano depois o jornal O Semanário voltava ao tema entrevistando algumas
lideranças dos pequenos lavradores como Antonio Ferreira Caseiro, presidente da Associação
Rural, e Manoel Agapito, presidente da Associação Rural de Mendanha. “Na longa palestra”
que tiveram com o jornalista, eles teriam reafirmado a ideia de “que o custo de vida é em
grande parte decorrente do maior ou menor índice de produção. E, se é certo que a nossa
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lavoura encontra-se tremendamente desorganizada e em completo abandono, claro é que se
torna pouco provável uma melhoria do custo de vida para toda a nossa população, se assim
continuar” (O Semanário, 23 a 29 de maio de 1959, p. 5).
Pequenos lavradores do Sertão Carioca em audiência com o então secretário de Agricultura João Luiz de
Carvalho. Fonte: Última Hora. Acervo: Arquivo Público do Estado do São Paulo.
A solução da grave crise do abastecimento não se resumia à repressão dos
intermediários. Era preciso reorganizar a agricultura da zona rural, resolvendo
fundamentalmente a questão da posse da terra em favor dos pequenos lavradores.
Tem-se falado muito em “planos”, “diretrizes”, de abastecimento, etc., mas
as providencias de fundo, seguras, ou seja – a organização da lavoura no
Distrito Federal – têm sido silenciadas. É essa colaboração real e positiva que
os lavradores do Distrito Federal querem dar, como trabalhadores e patriotas
que são (O Semanário, 23 a 29 de maio de 1959, p. 5).
Bastante emblemáticas eram as medidas iniciais propostas pelos representantes da
pequena lavoura carioca, e que já haviam sido formuladas quando da I Conferência de
Lavradores do Distrito Federal de 1958. O jornal O Semanário tratou de citar um trecho do
manifesto desse conclave, e que havia sido enviado aos “representantes do povo nas Câmaras
Federal e Municipal”. Note-se que além das propostas sobre construção de um novo Mercado
Municipal, de mais postos de venda e de armazéns – medidas tendentes a barrar os efeitos da
ação dos intermediários – a preocupação central parecia ser a reorganização da estrutura
fundiária do Sertão Carioca:
Para enfrentar o problema do abastecimento e da lata dos preços, os
lavradores do Distrito Federal propõem as seguintes medidas:
1 – Criação da pequena propriedade, o Banco da Prefeitura financiará, a
longo prazo, (nunca inferior a 10 anos) a aquisição da pequena propriedade
rural, bem como o seu equipamento mecanizado;
2 – Granjas, estímulo e auxílio à instalação de Granjas Mistas de produção
para a criação de gado leiteiro, aves, suínos, proporcionando-lhes assistência
veterinária completa;
3 – Criação efetiva do Cadastro Rural;
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4 – Aprovação, pela Câmara Municipal, de Lei proibindo o loteamento (lotes
residenciais), de terras de lavoura e estabelecendo uma faixa periférica de
terras destinadas exclusivamente para a agricultura a fim de garantir o futuro
abastecimento do Distrito Federal; [...] (O Semanário, 17 a 26 de abril de
1958, p. 5).
A Crise de abastecimento nos anos 60
A carestia de gêneros alimentícios se agravaria nos anos finais do Governo de
Juscelino Kubitschek – ou seja, a situação do abastecimento conseguia se deteriorar (O
Semanário, 17 a 26 de abril de 1958, p. 5). Enorme parcela do movimento sindical já tinha
incorporado a questão da luta contra a carestia como um dos principais pontos de sua pauta de
reivindicações, mormente aquelas de conteúdo econômico (Tribuna da Imprensa, 13/01/1960,
p. 5).
A Noite, 13/04/1961, p. 2.
Se a população dos centros urbanos se sentia bastante afetada por essa situação, os
pequenos lavradores de zonas produtoras como o Sertão Carioca, ficavam mais ainda: perdiam
não apenas no momento da venda dos produtos, mas corriam o risco de perder as suas terras.
Em suma: a expansão urbana se intensificava, devorando imensas fatias de terra antes
dedicadas à produção agrícola.
Novos Rumos, 14 a 20/08/1959, p. 10.
Foi com esse precário contexto diante de si que o governo municipal de Carlos Lacerda
implementou algumas medidas que ao contrário de fortalecer a zona rural carioca, acabou por
fragiliza-la mais ainda.
Os anos 60 se abrem e a situação da lavoura carioca continua sendo considerada de
grande crise. A chegada de Carlos Lacerda ao posto de governador do agora estado da
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Guanabara, representa para os lavradores o aumento da força de um projeto que visa a
destruição de suas lavouras. Além de facilitar as condições de ação dos agentes imobiliários,
este governo procura se constituir ele próprio num promotor da expansão imobiliária no Sertão
Carioca, implementando um vasto programa de construção de loteamentos populares (os quais
dariam origem aos bairros Cidade de Deus, Curicica e Gardênia Azul). Outras iniciativas
emblemáticas são a extinção da secretária de agricultura e o novo zoneamento da cidade, pelo
qual se atribui um novo nome (Zona Oeste) e novas funções (residenciais e industriais) à
região. Como nas outras décadas, os lavradores continuariam resistindo, em que pese as
enormes dificuldades. Procurando fortalecer suas entidades, tentariam transformar suas
Associações (que dependiam de um simples registro em cartório) em Sindicatos reconhecidos
pelo ministério do trabalho.
Considerações finais
De certa maneira, o amplo enquadramento negativo da figura do intermediário era
benéfica ao movimento dos pequenos lavradores por melhorias da agricultura do Sertão
Carioca. Eles conseguiam com isso afirmar uma imagem perante a opinião pública muito mais
positiva, de trabalhadores honrados, produtivos, dispostos a trabalhar pelo bem comum, em
contribuir para minorar o problema da carestia, por exemplo. Isso possibilitou que os
“pequenos lavradores” cariocas pudessem consolidar o discurso de que seu trabalho também
seria voltado para o bem-estar da população carioca ao abastecer seus mercados e feiras com
produtos de sua lavoura. Esse discurso, por sinal, seria bastante recorrente justamente por
ocasião do agravamento do abastecimento de gêneros alimentícios da Capital da República.
Assim procedendo, os “pequenos lavradores” firmavam uma espécie de laço de solidariedade
com os trabalhadores urbanos e, especialmente, as “donas-de-casa”, já que eram sem dúvida o
setor mais sensível às questões envolvendo a crise do comércio de alimentos. Daí também que
estes lavradores também investissem na desqualificação da figura do “intermediário” do
comércio de gêneros, aquele que com sua “cobiça” e “ganância” desenfreadas escorchavam os
consumidores do Distrito Federal, comprando preços altíssimos e pagando ao produtor da
zona rural quantias irrisórias. E era nesta questão do abastecimento da cidade que os
“pequenos lavradores” - não esquecendo do grande incentivo dado para isso pela imprensa e
pelo legislativo da cidade (idem) – tentavam tecer as linhas de uma comunidade moral (contra
a ganância e por preços justos) com o “povo do Distrito Federal” (Santos, 2006, p. 1).
Ao longo de todo o período estudado, os lavradores, as lideranças e boa parte da
imprensa utilizariam a figura do “intermediário” para afirmar uma idéia de que os interesses
dos lavradores eram indissociáveis do bem-estar da população da cidade. Em maio de 1951,
quinze “agricultores em Campo Grande e adjacências” visitavam a redação do‟Globo para
reclamar da falta de transporte adequado dos seus produtos até o centro da cidade, fazendo
com que gêneros como alface, couve, agrião, abacate, laranja, banana, “que o carioca paga
muito caro nas feiras, mercadinhos e quitandas”, apodrecessem na própria terra. Reclamavam
também do alto imposto cobrado na “barreira” de Campo Grande pela banana e da “ganância
dos intermediários”, que “compram a laranja por 6,00 o cento e o revendem por 80,00”. Mas
não eram somente os lavradores a sofrerem com esses problemas, eles acreditavam que a
“outra vítima” era o “povo da capital”, “que não têm o que comer ou paga caríssimo” (O
Globo, 09/05/1951. p. 1).
O “grileiro” era para os “pequenos lavradores” assaltantes de terras, quando não
públicas, terras que proviam o sustento de humildes e laboriosas famílias. No mesmo plano
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simbólico (e político) figurava o “intermediário”, ganancioso, que extorquia a população de
todo o Distrito Federal e assaltava o indefeso “lavrador”.
“Grileiro” de um lado, “Intermediário” de outro: os dois, cada qual a sua maneira,
impediam que a população da cidade consumisse os gêneros necessários de maneira
proveitosa. Ambos punham em xeque a própria sobrevivência material do “pequeno lavrador”.
Tal era a ideia veiculada pelos principais meios de comunicação da cidade. E ela foi
fundamental para fornecer legitimidade à causa envolvendo os “pequenos lavradores” ou
“posseiros”. Categorias essas forjadas não somente em função de princípios jurídicos (a posse
efetiva da terra), mas que expressava princípios, valores, concepções sobre a terra e trabalho.
Ou seja, o discurso denuncista contra os “intermediários” não tinham um fim em si (a
denúncia pela denúncia), na medida em que objetivava formalizar (por meio da perspectiva do
manifesto) as demandas de um grupo social bem determinado, que almejava ter reconhecidos
sua existência e, consequentemente, sua legitimidade em reivindicar medidas dos poderes
públicos e direitos sobre o território, como era o caso dos “pequenos lavradores”.
E em que pese o tradicional apelo ao artificialismo por parte dos jornais da imprensa
carioca – com a clara tendência de reduzir o problema a uma questão de caráter (ou falta dele)
ou um mero caso de polícia, a imprensa mais ligada aos partidos políticos de esquerda,
mormente o PCB, procuraram complexificar o debate. De um lado, apresentando o problema
da escassez de gêneros dentro de um contexto mais amplo de interesses envolvendo poder
público, partidos e elite de empresários e comerciantes; de outro, defendendo a ideia de que os
“intermediários” em nada se diferenciavam no que se refere à destruição do cinturão verde e
fragilização da própria classe de lavradores.
Ao equiparar as ações dos “intermediários” e “grileiros”, destacando os impactos
prejudiciais sobre a atividade agrícola, em geral, e sobre a vida das famílias dos “pequenos
lavradores”, em particular, a imprensa comunista os igualavam. Nesse sentido o Partido
intentava realizar assim a conexão entre o problema da carestia/escassez de alimentos e da
apropriação ilegal das terras do Sertão Carioca.
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