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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO CORPORAL DE ALUNOS(AS) DO ENSINO MÉDIO
Rosane de Cássia Capilé
Resumo: Esse trabalho visa relatar minha experiência, sob a condição de professora da rede estadual de ensino do Paraná, na elaboração e implementação de um recurso didático-pedagógico voltado a alunos do ensino médio, com o intuito de promover a análise da influência dos veículos midiáticos na construção corporal. Ao entender que a noção de corpo é construída no seio da cultura e que, entre seus vários determinantes, destacam-se a mídia e seus múltiplos artefatos, percebi que, muitas vezes, esses sujeitos atrelam a sua auto-imagem àquelas veiculadas e reproduzidas pelos personagens de minisséries, novelas, revistas de moda e beleza, filmes e propagandas. Para isso elaborei um Caderno Pedagógico que contém textos, recortes de artigos e questões para reflexão dirigidas ao professor, bem como sugestões de atividades a serem desenvolvidas com os alunos; o qual objetiva promover reflexões sobre as contradições que envolvem o discursos midiáticos em relação à beleza. Nessa pesquisa utilizei o método da pesquisa-ação, que foi realizada no ano de 2009, no Colégio Estadual Campos Sales, situado em Campina Grande do Sul/ PR, com um grupo de 50 alunos. O bombardeio de informações veiculadas pela mídia invade a rotina dos adolescentes sugestionando-os seja na busca pelo corpo perfeito, seja disseminando a cultura de consumo voltadas ao embelezamento, o que reforça a necessidade de se demonstrar ao aluno o sentido das informações oferecidas pela mídia,de tal forma que o mesmo se torne crítico em relação ao conteúdo midiático, reconstruindo seu significado.
Palavras-chave: Adolescência; Corpo; Mídia; Ensino Médio; Material Didático-Pedagógico.
Abstract: This work takes aim at relate my experience, as a teacher of the state system of education of Paraná, in the elaboration and implementation of a didactic-pedagogic resource directed to high school students, with the intention of promote the analyses about influence of the media in the body construction. Understanding that the body conception is build y the culture and between your many determinants, detaching the media and your multiple artifacts, I notice that, many times, this fellows put to you own image that one transmitted and reproduced by the characters of miniseries, soap operas, fashion and beauty magazines, movies and advertisements. For this I elaborate a Pedagogic Book that contains texts, detaches of articles and questions to reflection directed for the teacher, as how suggestions of activities to be developed with the student; with the objective to promote reflections about the contradictions that involve the media speeches related to beauty. In this research I used the research-action method, which was done in the year of 2009, at the Colégio Estadual Campos Sales, placed in Campina Grande do Sul/PR, with a 50 students group. The bombardment of information transmitted by media invade the teenagers routine, suggesting
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them, being in he perfect body inquire, or diffusing the consume culture directed to embellishment, that strengthens the necessity of showing the student the point of the information given by the media, in way that the student become critic to the media cotent, rebuilding your point.
Introdução Ao longo de meu trabalho com a disciplina de Educação Física pude notar
que meninos e meninas vêm-se envoltos com as mudanças que ocorrem na fase da
adolescência, demonstrando certa insatisfação em relação a si e almejando a conquista
por “corpos perfeitos”. É crescente o número de jovens que desenvolvem doenças de
transtorno alimentar como a anorexia e a bulimia, assim como, aumenta
vertiginosamente a busca pelo “corpo perfeito” e a performance atlética entre os
adolescentes ampliando a procura por anabolizantes. Esse fenômeno pode ser
explicado pela valorização do culto ao corpo, juntamente com a urgência que os
adolescentes têm de obter resultados imediatos, sem no entanto atentarem-se para o
fato de que, aquilo que é belo hoje, amanhã poderá estar impresso ou noticiado como
uma prática inadequada.
Ao entender que a noção de corpo é construída no seio da cultura e que,
entre seus vários determinantes, destacam-se a mídia e seus múltiplos artefatos,
percebi que, muitas vezes, esses sujeitos atrelam a sua auto-imagem àquelas
veiculadas e reproduzidas pelos personagens de minisséries, novelas, revistas de
moda e beleza, filmes e propagandas. Desse modo, os alunos acabam desenvolvendo
um ideal que segue os padrões de beleza ditados pela indústria cultural. Nesse sentido,
preocupei-me em elaborar um material que pudesse abordar questões importantes tais
como: as mudanças que envolveram a noção de beleza ao longo da história; os
interesses comerciais que se escondem em torno dessa supervalorização do corpo; os
valores humanos que estão sendo esquecidos em detrimento da ditadura da beleza; os
reflexos dessa busca desenfreada pelo “corpo perfeito” e que se traduzem em efeitos
nocivos à própria saúde, entre eles distúrbios alimentares como a anorexia, a bulimia e
a vigorexia, bem como o uso indiscriminado de anabolizantes, diuréticos e outras
drogas; etc.
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Para isso elaborei um Caderno Pedagógico que contém textos, recortes de
artigos e questões para reflexão dirigidas ao professor, bem como sugestões de
atividades a serem desenvolvidas com os alunos; o qual objetiva promover reflexões
sobre as contradições que envolvem o discursos midiáticos em relação à beleza. Nessa
pesquisa utilizei o método da pesquisa-ação, que foi realizada no ano de 2009, no
Colégio Estadual Campos Sales, situado em Campina Grande do Sul/ PR, com um
grupo de 50 alunos. No decorrer do projeto tornou-se visível o grande interesse dos
alunos pelos temas abordados e nas atividades desenvolvidas, ainda que em
determinados momentos tenha ficado claro que a maioria deles sente-se atraído e
sugestionado por alguns programas e propagandas, mesmo afirmando o contrário,
evidenciando o fato, que o bombardeio de informações veiculadas pela mídia invade
a rotina dos adolescentes sugestionando-os seja na busca pelo corpo perfeito, seja
disseminando a cultura de consumo voltadas ao embelezamento, o que reforça a
necessidade de se demonstrar ao aluno o sentido das informações oferecidas pela
mídia,de tal forma que o mesmo se torne crítico em relação ao conteúdo midiático,
reconstruindo seu significado.
1. Dialogando com a literatura
Em uma sociedade onde a aparência corporal é valorizada, o “fictício”
mundo da mídia cumpre o papel de levar as pessoas a adotarem algumas atitudes
arriscadas e impensadas na busca pelo corpo saudável, magro e malhado,
escravizando-as na ditadura da magreza ou do músculo bem definido, interpelando-as
com seu discurso persuasivo. De mãos dadas com a indústria da beleza, a qual lança
mão de muitas estratégias para convencer as pessoas de que elas podem e devem
buscar uma solução para os seus problemas estéticos, ainda que não tenham
condições para isso, apresentam ao público um ideal de beleza que se associa ao
sucesso, que garante a “felicidade” e é capaz de mudar a vida do indivíduo.
Desse modo, a idéia de belo e perfeito surge de diversas formas, por
intermédio das propagandas de fitness, de cosméticos, adereços, acessórios, clínicas,
spas, etc. No outdoor da “beleza”, não há censura, a única ditadura que impera é a do
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corpo sarado, “bonito” e desejado. Isso colabora para que a mídia veicule os produtos
da complexa indústria da beleza que cresce a cada dia persuadindo novos adeptos na
busca incessante por um estereótipo de beleza que nem sempre corresponde à
realidade.
Por todas essas razões seria pertinente, antes de tudo, indagar sobre os significados que, neste momento e nesta cultura, estão sendo atribuídos a uma dada aparência corporal; seria importante indagar sobre os processos históricos e culturais que possibilitaram que determinadas características se tornassem tão especiais; sobre os processos que permitiram, finalmente, que certas características passassem a “valer mais” do que outras. (Louro, 2000,p.62)
Ao longo da história do corpo, algumas coisas se tornaram ultrapassadas,
outras irão somar-se a este processo, inovando-o ou modificando-o. Stenzel, citado por
Simões, faz a seguinte abordagem:
“Os padrões estéticos foram, e ainda são, ditados por valores socioculturais –
cada época respondeu social e culturalmente aos padrões de beleza desejados.
Os padrões ditam norma do que é certo ou errado, do que é feio ou belo, do que
deve ser aceito ou rejeitado pela sociedade. (2004, p. 90)
Sob esta ótica é possível dizer que o corpo está sempre sofrendo mudanças
por conta das transformações culturais, influenciadas por interesses econômicos,
políticos e sociais. Daí verificamos que o conceito de beleza muda com o tempo e não é
igual ou permanece estagnado em todas as sociedades. “Por essa razão, podemos
pensar no corpo como algo que se produz historicamente, o que equivale dizer que o
nosso corpo só pode ser produto do nosso tempo, seja do que dele conhecemos, seja
do que ainda está por vir”. (Louro, 2003,p.38).
A idéia de humanidade está se perdendo através de coisas fúteis. Os
conteúdos expostos diariamente nas revistas de moda e beleza, nas novelas, nos
programas de TV, etc valorizam um certo padrão de beleza, onde se projeta a ilusão
que para ser belo ou ser feliz, precisa-se estar exatamente nesse padrão, reforçando o
desejo das pessoas em se sentirem atraentes e lançarem-se na busca de uma
aparência física idealizada. Desta maneira, a aparência física tem se tornado um fator
cada vez mais prioritário na vida das pessoas uma vez que existe uma pressão social
para que os indivíduos sejam “bonitos” e “fortes”. O exagero da vaidade, muitas vezes é
levado ao extremo para responder as exigências da moda. As pessoas querem ser
magras a qualquer custo, sem se importar com a saúde. As academias estão lotadas
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de homens musculosos, mulheres que passam o dia todo sem comer, pessoas se
expondo a riscos desnecessários e, por vezes, morrendo ao submeterem-se a cirurgias
plásticas, assim como é crescente o número de jovens que desenvolvem doenças de
distúrbios alimentares como a anorexia e a bulimia.
Diante dessa constante vigilância que corrobora para que projetemos um
único padrão de imagem corporal, devemos nos questionar sobre uma série de mitos
que não condizem com a realidade, assim como faz-se necessário atentar para o fato
de que existe uma disparidade quando se toma a magreza como exemplo de saúde e,
na contra mão disso, a gordura como sinônimo de doença. Uma pessoa pode ser
magra mas no entanto, não gozar de uma saúde perfeita,assim como uma pessoa que
está acima do peso, não significa necessariamente estar doente; até porque pessoas
magras também estão sujeitas a desenvolverem quadros clínicos associados à
doenças que teoricamente teriam relação direta com o excesso de peso. Entre algumas
indagações poderíamos avaliar: Até que ponto um corpo magro é sinônimo de saúde?
Só é gordo realmente quem quer? Qual o papel da mídia nessa ditadura do “corpo
perfeito”?
De acordo com Pires,
Numa sociedade que se funda fortemente no valor da imagem, esse apelo à
estética constitui objetivo muito buscado e, logicamente, pouco conseguido, o
que acaba por revelar-se outra grande contradição, pois a frustração decorrente
das dificuldades em adequar-se ao padrão corporal social gera insatisfação e
falta de aderência a programas de atividade física, enfim, um resultado bastante
diverso daquele preconizado pela anunciada relação exercício
físico/beleza/saúde. (2002, p. 38)
Nesse sentido, a mídia reforça a imagem de que saúde e beleza estão
interligadas, independente de o sujeito ser realmente saudável ou não, reforçando o
desejo das pessoas em se sentirem atraentes e lançarem-se na busca de uma
aparência física idealizada, de onde é possível observar que a cultura de consumo
exerce uma forte influência nessa construção de corpos belos. Na colocação de André
(in GUACIRA),
Mídia e educação fazem parte do universo da cultura, produzindo modelos de vida, modos de ser, de viver, de ver o mundo, produzindo, reforçando e veiculando uma gama de ensinamentos às pessoas. Esses ensinamentos colocam em ação estratégias pedagógicas de interpelação dos sujeitos. Essas
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estratégias são chamadas, dentro da perspectiva teórica dos estudos culturais, de pedagogias culturais, e atuam diretamente sobre os corpos dos sujeitos, educando-os, moldando-os, governando-os. (2003, p.109)
Assim, avaliar criticamente os veículos midiáticos torna-se necessário e seria
importante não ignorar o grande potencial de abstração que a mídia oferece quando
distribui imagens e linguagens que contribuem para a construção deformada do
imaginário de muitos jovens. O bombardeio de informações por intermédio da
veiculação de imagens, palavras e sons midiáticos e a influência que isso exerce sobre
os saberes dos jovens, leva-nos a questionar se a escola não deveria buscar novas
estratégias e lançar novos olhares para essa manifestação que faz parte da formação
dos alunos. Nesse sentido, Guacira indica que “a escola é um espaço de relações
sociais e não somente um espaço cognitivo”. As relações sociais referem-se ao fato de
a escola ser tanto um local de encontro entre jovens, quanto um local que tem relações
com a mídia e outros espaços culturais. (2003, p. 90)
Ainda sobre a indagação acima, como a disciplina de Educação Física pode
se tornar esclarecedora a respeito de determinados aparatos midiáticos, auxiliando o
adolescente a entender como eles influenciam o processo de construção corporal. De
acordo com Darido,
No trato com o próprio corpo, devemos buscar uma visão ampla de que o mesmo é autônomo, mas também dependente dos outros. Essa relação entre autonomia e dependência deve significar para o aluno que ele É um corpo, e não que apenas TEM um corpo. E deve significar também que esse corpo está integrado ao meio, que é relacional, pois diz respeito às pessoas, e ambiental, pois diz respeito ao meio físico, social e cultural. Traçamos, assim, um novo mapa do corpo, que é indissociado e integrado, ao contrário do que se observa na mídia, que trata de fragmentar tudo aquilo que expõe, inclusive o próprio corpo. (2005, p.151)
Nesse cenário, demonstrar ao aluno o sentido das informações oferecidas
pela mídia faz-se necessário, de tal forma que o mesmo se torne crítico em relação ao
conteúdo midiático, reconstruindo seu significado. Caberia assim, na disciplina de
Educação Física a discussão acerca das verdades e dos mitos que permeiam o caráter
de exclusão e preconceito transmitidos pelos padrões corporais, os modismos, o
narcisismo exacerbado,o uso indiscriminado de anabolizantes, bem como a questão do
consumismo que exerce uma forte influência nessa construção de corpos “belos” se
atentarmos para o fato que o corpo hoje está diretamente relacionado ao crescimento
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do mercado de bens e serviços voltados ao embelezamento. Enfim, usar os artefatos
midiáticos para promover a crítica acerca destes valores, buscando na própria mídia
que difunde, propaga e influencia, os aparatos para reflexão sobre as informações nela
contidas. Desta maneira, ao mesmo tempo em que se faz essa análise critica da mídia,
dinamizar os conteúdos com a riqueza de informações que ela oferece na medida em
que desperta o interesse dos alunos, de modo a contribuir para que ele seja capaz de
construir sua opiniões sobre o mundo que o cerca.
Metodologia
1. Elaboração do Caderno Pedagógico
O projeto tanto quanto o caderno pedagógico foram produzidos no ano de
2008,após trabalho de pesquisa com fundamentação bibliográfica e como parte do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE1, tendo como objetivo geral
problematizar o modo como determinados veículos midiáticos influenciam o processo
de construção corporal de alunos do ensino médio.
É na fase da adolescência que os jovens afirmam suas crenças e valores. E
é nessa fase também que os sonhos se transportam para o imaginário mundo da TV e
das revistas de moda e beleza. As roupas, os acessórios, o charme, a elegância dos
artistas, enfim, refletem o que os jovens anseiam para sentirem-se realizados, ainda
que realizar esse sonho nunca venha a acontecer para a maioria deles.
Por considerar isso como um reflexo da valorização excessiva da aparência
e da padronização da beleza que afeta diretamente a adolescência, optei pela produção
didática, que resultou num Caderno Pedagógico, material que foi utilizado no decorrer
do projeto, e teve como objetivo promover a reflexão sobre questões tais como: as
mudanças históricas em torno da beleza, a origem com a preocupação com o corpo, os
valores humanos negligenciados em detrimento da ditadura da beleza, os distúrbios
alimentares tais como a anorexia e a bulimia, o crescente aumento dos casos de
vigorexia e do narcisismo exacerbado acerca do corpo.
1 Programa de Formação Continuada que visa ofertar ao Professor PDE, através do retorno às atividades acadêmicas de sua área de formação inicial, condições de atualização e aprofundamento de seus conhecimentos teórico-práticos, permitindo a reflexão teórica sobre a prática, possibilitando mudanças na prática escolar. (Programa de Desenvolvimento Educacional PDE – versão preliminar 3)
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Num primeiro momento foi aplicado um questionário aos alunos, cuja
finalidade foi a de investigar o sexo, a faixa etária, os artefatos midiáticos os quais esse
público tem acesso entre outras questões.
Os dados demonstraram um equilíbrio nas opiniões a respeito da
interferência dos artefatos midiáticos em torno da sua noção de beleza
masculina/feminina. Dos 65 alunos entrevistados, 32 responderam sim, referindo-se
principalmente à escolha de roupas, maquiagem, acessórios e destacando aspectos
tais como visual e aparência.
Para elucidar essa constatação, seguem abaixo alguns trechos das
respostas obtidas:
“Sempre ficamos impressionados com o modo que os artistas se portam, se vestem, e sempre estamos querendo nos igualar a eles na tentativa de nos sentir melhor”. (Belinha, 15 anos)
“As pessoas querem ficar iguais os artistas, sempre em forma, bem vestidas e bonitas”. (Cris,14 anos)
Também podemos verificar a existência de opiniões contrárias, com 33
respostas negativas em torno do mesmo questionamento. Por exemplo:
“Não sigo os padrões de beleza que a mídia tenta nos impor, tenho um estilo mais alternativo”. (Xisto,15)2
“Gosto de ser do jeito que eu sou, não quero imitar ninguém”. (Julie,15)
A intenção do Caderno Pedagógico “A influência da mídia no processo de
construção corporal de alunos do ensino médio” é levantar alguns questionamentos
acerca da imagem corporal, tendo em vista que muitas vezes o ideal de beleza é
imposto pelos artefatos midiáticos, de modo que a aparência exterior passa a ser
padronizada e, em nome dela excluem-se alguns e outros se auto-excluem. No entanto,
sabendo que o padrão de beleza não é imutável, sendo representado de diversas
maneiras em diferentes épocas, seria pertinente refletir sobre demasiados modismos
que estão sendo veiculados na mídia, ou seja, o que são verdades e o que são mitos.
Desta forma, o caderno traz no seu conteúdo recortes de artigos, letras de músicas,
poesias, questões para reflexões e sugestões de atividades a serem desenvolvidas
com os alunos nas aulas.
2 Os nomes dos alunos são fictícios a fim de preservar a identidade dos mesmos.
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“Imagem é tudo sua cabeça não tem nada” Pitty
“Não use fantasia pra ser diferente
Seu figurino não condiz com sua mente
Debaixo da carcaça há uma idéia ultrapassada
Tudo tem limite, senão vira palhaçada
Você é uma barbie disfarçada e não se enxerga
Por fora é uma beleza, mas o recheio é uma merda”
(2x)
No primeiro capítulo “Imagem é tudo?” a indagação é proposital, de forma
que não é uma afirmação e tampouco uma negação, é uma provocação. Em uma
sociedade onde a aparência corporal é valorizada, o “fictício” mundo da mídia cumpre o
papel de levar as pessoas a adotarem algumas atitudes arriscadas e impensadas na
busca pelo corpo saudável, magro e malhado, escravizando-as na ditadura da magreza
ou do músculo bem definido, interpelando-as com seu discurso persuasivo. Até que
ponto a imagem corporal é tudo? Faz-se preciso e possível reflexões a fim de se
inverter esse fascínio pela aparência física.
“Ah beleza efêmera que não põe a mesa, que reina absoluta em seu reinado sem rei... que atravessa a história e nunca é igual.”
Rosane Capilé
O padrão corporal está sempre sofrendo mudanças por conta das
transformações culturais e nesse sentido acaba sendo influenciado por interesses
econômicos e sociais. No capítulo “E o vento levou” faço uma consideração sobre como
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os diferentes períodos históricos projetam uma forma de representação social em torno
do significado do que é beleza, e também sobre o que teria levado as sociedades
contemporâneas a intensificar a preocupação com o corpo. Com o passar do tempo, o
corpo cada vez mais a mostra, e os indivíduos sentem a necessidade de serem vistos e
notados. Para isso buscam-se alternativas e técnicas capazes de tornar o corpo uma
“máquina” cada vez mais eficiente e bela.
“Imagem...Daquilo que vejo... daquilo que vês...Se não me reconheço reflexo de mim mesmoEntão... sou o que?Um sonho... uma miragem...Um recorte apenasNão mais que isso...A imagemDaquilo que sonho... daquilo que queria ser!” Rosane Capilé
No capítulo “A imagem refletida”, enfatizo a questão da beleza exterior em
detrimento da beleza interior, dos valores que estão sendo deixados de lado em nome
de uma dada aparência corporal. As pessoas passam a valorizar um padrão de beleza
que cria uma série de ilusões, entre elas, a de que para ser belo ou para ser feliz é
preciso estar exatamente dentro dos padrões estabelecidos pela mídia. A questão do
Bullying é tratada neste capítulo como fator de exclusão social, uma vez que ele é
aplicado a todo momento pela sociedade, quando rotula as pessoas e promove, mesmo
que veladamente, o preconceito, criando padrões de beleza.
EstrelarMarcos Valle
“Tem que correr, tem que suar, tem que malhar (vamos lá!)Musculação, respiração, ar no pulmão (vamos lá!)Tem que esticar, tem que dobrar, tem que encaixar (vamos lá!)Um, dois e três; é sem parar, mais uma vez”
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As academias, poderíamos dizer, são os verdadeiros shoppings do corpo,
não basta estar lá com o intuito de entrar em forma e exibir o corpo, há que se exibir
também os diversos acessórios utilizados durante essa prática corporal, como tênis,
joggers, amarradores de cabelo, squizes, entre outros objetos estéticos voláteis, típicos
desse espaço que vem sendo transformado por apelos midiáticos de consumo de toda
ordem.
O capítulo “Tem que malhar... tem que suar...” traz uma reflexão acerca do
que são mitos e verdades em relação a cultura de consumo vastamente difundida pela
indústria da beleza e propagada pela mídia, os quais são os principais responsáveis
por transformarem o corpo e a auto-imagem num recurso mercadológico quando
enfatizam que beleza e qualidade de vida estão diretamente relacionados, daí a
proliferação das academias, centros estéticos, spas, vendas de aparelhos de ginástica
e produtos destinados às melhorarias da aparência corporal.
“Ah, meninas da moda, de rosto exangues, de pernas finas, com ar triste de pássaros
engaiolados, o que o mundo da moda fez com vocês?
... tristes meninas”Luiz Nacif
O capítulo “Semeando vento... colhendo tempestade...” discorre acerca da
ditadura estética a qual uma parcela significativa de jovens, na sua maioria, do sexo
feminino, parecem estar submetidos, dos efeitos para a saúde e para a própria vida do
indivíduo, bem como os riscos pela busca desenfreada por um ideal de beleza, onde a
malhação excessiva, o uso indiscriminado de anabolizantes e diuréticos, as dietas e
regimes tornaram-se práticas já disseminadas na rotina de muitos indivíduos
escravizando-as na ditadura da magreza ou do músculo exacerbado.
Ao final do caderno, em anexo, seguem algumas sugestões de filmes,
artigos e sites para enriquecer o trabalho dos professores, bem como para promover
um aprofundamento dos assuntos abordados.
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2. A aplicação do projeto e os resultados obtidos
Tendo como público alvo alunos da 1º série do ensino médio do Colégio
Estadual Campos Sales, no município de Campina Grande do Sul, PR, o projeto “A
interferência da mídia no processo de construção corporal de alunos(as) do ensino
médio” foi construído após trabalho de pesquisa com fundamentação bibliográfica e
como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), tendo
como objetivo geral problematizar o modo como determinados veículos midiáticos
influenciam o processo de construção corporal de alunos do ensino médio.
O projeto foi apresentado aos professores, à equipe pedagógica e aos
funcionários na semana pedagógica que antecede o início das aulas em fevereiro, por
meio de uma conversa informal na qual foram repassadas as informações principais ,
tais como a problemática e a opção por se trabalhar com alunos do ensino médio, haja
vista ser um grupo composto por indivíduos que passam por transformações físicas e
emocionais, o que de certa forma gera ansiedade e certas contrariedades acerca da
imagem corporal, o que os torna susceptíveis ao turbilhão de informações lançadas
diariamente na mídia, entre eles, a falsa idéia de que “imagem corporal é tudo”. Em
conseqüência disso, o que se vê é o aumento abusivo no número de cirurgias plásticas
que vem se tornando uma prática comum entre o público adolescente, principalmente o
feminino, além dos casos de distúrbios alimentares gerados pelo medo da obesidade e
do aumento significativo do uso de anabolizantes.
O desenvolvimento das atividades transcorria seu rumo esperado. Com os
alunos participando das discussões e demonstrando interesse nas atividades
propostas, mas havia uma pedra no meio do caminho! Diga-se de passagem...
algumas.
A freqüência no ensino médio era de duas aulas semanais e a expectativa do
aluno em torno da aula de educação física se tornava quase sempre sinônimo de
“quadra e bola”. Portanto, conciliar o conteúdo programático do trimestre e inserir as
atividades do projeto sem ferir o planejamento e tão pouco transformar “aliados” em
inimigos não foi tarefa fácil.
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O calendário escolar, os dias de aula e a escala de quadra também foram
fatores que interferiram no andamento do projeto.
A solução encontrada foi agendar atividades com os alunos no contraturno.
Mas de repente o que parecia uma luz no fim do túnel, não se mostrou tão viável e
efetivo assim, pois a maioria dos alunos dependia de transporte escolar. Ou seja, ir
para casa e voltar para o colégio estavam fora de cogitação para alguns tendo em vista
a distância. Por outro lado, ficar em tempo integral no colégio trazia, além do transtorno
de não ter uma alimentação por falta de pessoal disponível para fazer merenda para
esses alunos, também a restrição espacial que envolvia a questão de ensalamento,
pois não havia sala disponível para trabalhar com os alunos no contraturno.
Mesmo assim foi possível agendar uma ou outra atividade no período da
tarde, ainda que nem todos os alunos pudessem estar presentes por outros motivos,
que não o da distância, tendo em vista o trabalho ou outros cursos. No entanto, o fator
que nos favoreceu no contraturno foi o fato de que as atividades rendiam com mais
tranquilidade pois não se trabalhava contra o relógio, ou seja, não havia o fator
“50minutos/aula”, o que, por vezes, se mostrou impraticável a partir do planejamento
inicial na aplicação de todas as atividades sugeridas no Caderno Pedagógico e no
cronograma estabelecido.
Afora as pedras no caminho, uma boa surpresa se deu no início do projeto.
Os professores de Inglês e Sociologia estavam desenvolvendo a questão do Bullying
com os alunos e houve uma troca significativa de experiências com ambos, o que me
possibilitou abordar esse tema com mais segurança, e, ainda, um retorno significativo
dos alunos nas questões propostas à respeito desse assunto.
Nesse sentido, além das atividades propostas no Caderno Pedagógico foi
possível enriquecer as discussões com o filme “Bang bang você morreu” 3 que me foi
sugerido e emprestado pelo professor da disciplina de inglês.
O Caderno Pedagógico traz no seu primeiro capítulo um recorte da música
da cantora Pity, “Imagem é tudo sua cabeça não tem nada”. Por ter uma linguagem
mais despojada com a qual os adolescentes se identificam eu a utilizei como uma forma
mais descontraída de dar início ao projeto. A letra da música na íntegra faz uma crítica
3 Direção: Guy Ferland, 2003
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ao fato dos jovens se importarem tanto com a aparência, com roupas de marca, em
serem aceitos no grupo e isso inclui ter que beber, usar droga, fazer tatuagens, usar
piercings, enfim, se quiser entrar pra tribo tem que aderir aos rituais. Dentre as
atividades sugeridas para essa unidade, há um questionamento acerca da letra da
música, além da análise de revistas e vídeos do You Tube acerca de propagandas a fim
de se avaliar o conteúdo, se a imagem condizia com o produto, o que era real, o que
era fictício. Nesta unidade deu-se início ao “Memorial”, um caderno onde os alunos
iriam anotar no decorrer do projeto suas impressões e opiniões acerca das atividades
desenvolvidas e discussões propostas.
Uma viagem no tempo e o assunto do capítulo “E o vento levou...” traçou um
panorama dos fatores que influenciaram as sociedades contemporâneas na intensa
preocupação com o corpo, desde a década de 20 até a atualidade, evidenciando o fato
de que cada padrão de beleza respondeu aos valores impostos em cada sociedade e
sempre atendendo às exigências dos valores econômicos, políticos e sociais vigentes
na época. Propus aos alunos a construção de um mural retratando os padrões de
beleza de outras épocas, de forma que fosse possível levantar questões acerca do
vestuário, maneira de se portar e linguagem, a fim de que os mesmo pudessem avaliar
a beleza de outros tempos fazendo uma contraposição com a beleza atual, a partir daí
iniciamos uma discussão acerca dos estereótipos de beleza midiáticos exibidos em
novelas, filmes e seriados e propagandas.
O capítulo “A imagem refletida...”traz uma reflexão sobre a beleza exterior
em detrimento da beleza interior e também sobre a não aceitação da sua imagem
corporal de muitas pessoas e principalmente dos adolescentes, por estarem num
momento de mudanças internas e externas. A dinâmica onde os alunos desenhariam
seu corpo e o que não gostavam nele não correspondeu ao esperado. A maioria dos
alunos não sentiu-se a vontade e houve até recusa em participar. Ainda que essa
recusa fosse atribuída ao pouco tempo de convívio com os colegas de sala e até
comigo, a atividade evidenciou o fato de como é difícil falar de si mesmo e mais ainda
expor as angústias referentes à imagem corporal em público. Um recorte do filme Shrek
e A bela e fera foi exibido com a intenção de se discutir acerca da dor da feiúra e em
contrapartida gerar uma reflexão sobre a docilidade e gentileza dos personagens
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principais. Ao isolar-se no pântano, Shrek adota a postura que muitas pessoas vítimas
do Bullying adotam para fugir do preconceito. Assim, esse tema é abordado e discutido
como fator de exclusão social. Muitos alunos após a exibição do filme “Bang bang você
morreu” e posteriores discussões acerca do assunto, espantaram-se ao perceber que
“brincadeiras inocentes” expõem as pessoas tornando-as vítimas de apelidos vexatórios
e brincadeiras de mal gosto, pois não estabeleciam uma relação entre esse fenômeno e
tais práticas.
Compensando o mal estar da atividade proposta no capítulo anterior, os
assuntos abordados no capítulo “Tem que malhar... tem que suar...”, fizeram brilhar os
olhos dos alunos, do sexo masculino em especial, com a exibição dos vídeos
envolvendo propagandas sobre produtos de artigos esportivos nos quais os craques do
futebol ou outro esporte mais popular anunciavam o produto. Como proposta de
atividade os alunos “criaram” um produto com fins estéticos, tais como: chá
emagrecedor, suplemento alimentar para aumentar a massa muscular, esmalte para
crescimento rápido das unhas, prancha com íons especiais para facilitar o alisamento
dos cabelos, etc. Após, os grupos exibiram o produto para os demais gerando uma
discussão sobre o que são verdades e mitos em relação às propagandas exibidas em
revistas e na tv. A tão famigerada cultura de consumo ganhou uma nova roupagem com
as informações e discussões sobre os mitos e verdades que são veiculados pela mídia
em parceria com a indústria publicitária quando exploram a imagem do artista muitas
vezes numa exposição desnecessária do corpo para vender o produto, onde a idéia de
“belo” e “perfeito” surge de diversas formas por intermédio das propagandas de fitness,
de cosméticos, adereços, clínicas de estética, etc, impulsionando o mercado de
produtos destinados às melhorias da aparência corporal, como aparelhos de ginástica,
alimentos ligths, suplementos alimentares, esteróides anabolizantes, artigos esportivos
entre outros.
A busca pelo corpo perfeito e a performance atlética juntamente com a
urgência e o imediatismo em querer ganhar massa muscular ou “entrar em forma” num
curto espaço de tempo refletem a urgência dos adolescentes em conseguir o que
desejam, foram motivo de discussões no capítulo “E o vento levou...”. Da mesma forma
que no capítulo anterior, a exibição de vídeos sobre o uso de anabolizantes e vigorexia
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bem como da anorexia e da bulimia despertou grande interesse dos alunos em geral,
promovendo reflexões e o esclarecimento acerca dos efeitos para a saúde e para a
própria vida do indivíduo, bem como os riscos na busca desenfreada por um ideal de
beleza, onde a malhação excessiva, o uso indiscriminado de anabolizantes e diuréticos,
as dietas e regimes tornaram-se práticas já disseminadas na rotina de muitos indivíduos
escravizando-as na ditadura da magreza e do músculo “bem definido” Assim como
chamou a atenção das meninas vídeos exibindo o “antes” e o “depois” de sessão de
fotos de modelos famosas e o uso do aplicativo do photoshop, que gerou uma
discussão acerca da “beleza produzida”. Entre outras atividades sugeri a leitura da
Lenda de Narciso com o intuito de chamar a atenção dos alunos sobre o narcisismo
exacerbado. Uma atividade que chamou a atenção dos alunos foi a análise de revistas
de moda e beleza. Os alunos foram separados em quatro grupos que procederam da
seguinte maneira: Grupo 1 fez uma análise das capas das revistas, observando e
procurando descrever o biotipo das(os) modelos, as roupas que geralmente usam nas
fotos, o que estaria mais em evidência nas capas, e se as modelos das capas eram
conhecidas ou desconhecidas. O grupo 2 analisou a capa das revistas observando as
“frases de chamadas” mais comuns, se as informações contidas atrelavam as
prescrições anunciadas nas frases com os corpos de artistas em evidência na
atualidade e das palavras que mais aparecem bem como das matérias anunciadas com
mais ênfase; o grupo 3 analisou as matérias mais comuns, o que geralmente se
discute nessas matérias e as atividades físicas mais indicadas, as dietas, as dicas de
beleza, etc e por fim, o grupo 4 fez a análise sobre as propagandas mais veiculadas e
se havia mais matérias ou mais propagandas nessas revistas. Os alunos observaram
que a maioria das modelos das capas de revistas dessa natureza são magras, de cor
branca mas bronzeadas, ainda que não fosse verão na época da tiragem; as frases de
chamadas na sua maioria atrelam o conteúdo à imagem/opinião de artistas famosos,
como por exemplo: “Siga a dieta recomendada pela atriz ...e entre em forma
rapidamente” ou ainda “ A atriz ... seguiu e aprovou a série de exercícios para ficar com
tudo em cima para o verão”. No conteúdo matérias destinadas a melhorar a aparência
corporal sem, no entanto orientar que deve-se observar alguns cuidados na execução
de determinadas práticas e propagandas ocupando muito mais espaços que matérias.
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Posteriormente, cada grupo organizou cartazes acerca do seu tema de discussão e
expôs para os demais grupos da classe. Finalizando a atividade, propus uma discussão
acerca desse veículo midiático promovendo uma reflexão sobre como essas revistas
interpelam as pessoas na ditadura do “corpo perfeito”.
Apesar das dificuldades já citadas durante a aplicação do projeto, tornou-se
visível o grande interesse dos alunos pelos temas abordados e pelas atividades
desenvolvidas. Em determinados momentos ficou clara a confusão que alguns alunos
faziam a respeito da opinião que afirmavam ter e tornava-se evidente que mesmo
dizendo que não se deixavam influenciar pela mídia, de certa forma eles sentiam-se
atraídos e até sugestionados por algumas propagandas.
Durante a exibição dos vídeos ou nas atividades em que se trabalhava com
revistas de moda e beleza ou, ainda aquelas que traziam fatos ligados à rotina de
ídolos de novelas, cinema e minisséries, era comum nos comentários dos alunos
expressões tais como “gatinha(o)”, “lindo(a)”, “sarado”, “gostoso(a)”, usadas
espontaneamente e transparecendo a intenção dos(as) mesmos(as) de querer ser ou
parecer igual, seja em relação a imagem corporal,seja em torno da propriedade de
roupas e acessórios dos sujeitos de referência.
Quanto ao Memorial, no início do projeto, deixei a critério dos alunos a forma
como fariam os registros, apenas propus que fossem criativos e críticos. O resultado foi
superior ao esperado tanto na elaboração quanto nas opiniões registradas. A maioria
deles indicou a tv e a Internet como sendo os veículos midiáticos que mais levam as
pessoas a valorizar demasiadamente a imagem corporal, assim como também
sugestionam as pessoas a querer tudo aquilo que é veiculado. Alguns utilizaram
trechos de músicas, recortes de revistas e gravuras para ilustrar as discussões, a
maioria deles foi crítico em relação à maneira como os veículos midiáticos influenciam
as pessoas nos padrões de beleza e comportamentais, outros acreditam que as
pessoas não se deixam influenciar tão facilmente, e alguns adotaram uma postura
neutra.
Finalizando o projeto, propus aos alunos uma exposição das atividades
desenvolvidas, de forma que eles elaboraram cartazes e murais relativos aos temas
discutidos lançando questões de reflexões e alertando sobre os riscos os quais as
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pessoas podem ser submetidas como reflexo ao exagero da vaidade para responder as
exigências da mídia quando apregoa um ideal de beleza estereotipada.
Do ponto de vista das equipes gestora e pedagógica ao final do projeto, foi
emitido um parecer favorável ao projeto no que se refere a relevância do mesmo, bem
como na articulação do professor com os segmentos envolvidos na execução das
ações de implementação da proposta. Assim como houve uma confirmação do
cumprimento das etapas o que levou ao cumprimento do cronograma e culminou numa
excelente análise dos resultados alcançados com a implementação do projeto na
escola. Tal como ficou expressado pela pedagoga que acompanhou os trabalhos:
“Se percebeu que houve uma pesquisa e critério na seleção e na distribuição
dos temas abordados, bem como uma ótima utilização dos recursos, os quais
instigaram os alunos a posicionar-se de forma lúdica, crítica e interativa nas
atividades propostas abordando temas tão presentes no cotidiano dos alunos. É
notável a tônica reflexiva que permeia todas as ações do projeto, no qual a
“prática pela prática” (fenômeno recorrente nas aulas de Educação Física) é
substituída por uma prática reflexiva em torno da educação do corpo.”
2.1 O trabalho com o GTR
Paralelamente à implementação do projeto, fui tutora do curso GTR, como
requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE. A princípio tornar-se
tutora me pareceu assustador e trabalhoso, mas no decorrer do curso foi se
transformando num valioso aliado. A participação dos cursistas nos fóruns e a troca de
experiências que foi se estabelecendo a cada nova unidade favoreceu a todos,
alicerçando e enriquecendo as discussões nas atividades propostas. O Grupo de
Trabalho em Rede – GTR foi desenvolvido através da utilização da plataforma
MOODLE, um ambiente virtual destinado a promover uma interação dos professores
PDE com os demais professores da rede Estadual de Ensino que não haviam ainda
ingressado no programa, possibilitando a inclusão dos mesmos nas reflexões,
discussões e elaborações realizadas pelo professor PDE. O curso foi composto de 6
unidades e a interação aconteceu através dos fóruns, onde os alunos postavam suas
opiniões, argumentavam, faziam interações entre eles e relatavam experiências.
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Por considerar relevante a experiência e o resultado, mencionei o curso e
sinto-me a vontade para transcrever os comentários de alguns cursistas em relação à
produção didático-pedagógica e também da avaliação do curso:
“A Proposta de Implementação Pedagógica da prof Rosane é bastante pertinente, tal proposta não fica delimitada a considerações referente a realidade de cada região, pois todos podem desenvolver essa discussão acerca do corpo em qualquer realidade escolar. O Tema não somente abrange a realidade escolar do nosso Estado, como é uma questão mundial. Com relação ao título "A influência da mídia no processo de construção corporal de alunos do ensino Médio, é um título bastante coerente, com o que a autora pretende expor ao longo do seu trabalho. Sua justificativa é clara e objetiva, pois por várias vezes ela deixa claro suas intenções, aponta o porque da necessidade de se efetuar esse tipo de estudo, e consequentemente a importância que o mesmo dará a ponto de contribuir, até em questões materiais para o trabalho prático e teórico do professor em sala.” (Ana Paula Silvestre dos Santos - Sarandi - PR)
“Após leitura da proposta e da produção apresentada, vejo que a produção está sim coerente com a proposta, está embasada, clara, objetiva. A leitura é acessível e muito atraente, tem recursos diferenciados o que é muito prazeroso trabalhar tanto para alunos como para os professores. Além disso, tem ótimo resultado na apredizagem. Há uma sequência lógica e didática sim na minha opinião, facilitando o entendimento e conseguentemente a aprendizagem”. (Luciane Souza Martins – Palmital - PR)
“Achei que o encaminhamento metodológico adotado por ti sensacional. No primeiro momento você leva os teus alunos a pensarem uma determinada situação num determinado contexto. Num segundo momento traz a reflexão, onde todos podem falar e mais importante ouvem os seus colegas. E finalmente considerando o que foi discutido vocês no coletivo elaboram estratégias que implicam novos posicionamentos”. (Lílian Luciane Lerner – Laranjeiras do Sul - PR)
“Neste GTR tive a oportunidade de obter leituras sobre este assunto que sempre me interessou, mas nunca tive a oportunidade de colocá-lo em prática, tive a oportunidade de obter resultados com as atividades propostas no caderno pedagógico, e também criar atividades com subsídio do caderno pedagógico. O tema foi envolvente nos colocando a par de assuntos do presente como bulling, modismo, beleza. Parabenizo a tutora pela dedicação e preocupação durante as unidades, foi a primeira vez que participei do GTR e foi uma experiência muito construtiva ( pessoal e profissionalmente)”. (Michelle do Nascimento – Londrina - PR)
“Foi um curso bem produtivo, ocorreu vários debates, discussões a respeito da influência da mídia na construção dos valores dos adolescentes, o que propiciou um momento para refletir sobre a nossa prática pedagógica e novas formas de conceber a Educação Física que vai além dos esportes. Quero parabenizar a professora Rosane pelo trabalho desenvolvido que é muito relevante para a nossa área, que carece de produções pedagógicas. O caderno pedagógico foi muito bem elaborado, destacando a linguagem bem acessível a todos não deixando a fundamentação teórica e científica a desejar. Outro aspecto positivo foi o uso de imagens, figuras tornando-o também atrativo.” (Márcia Shiratsu – Maringá – PR)
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Considero que fui muito feliz enquanto tutora, e poder contribuir para o trabalho
e a prática pedagógica dos professores da rede foi muito gratificante, apesar da
constante vigilância que havia de ser feita sobre a participação efetiva dos cursistas, e o
esforço contínuo para que eles não desistissem da empreitada. Fato este que considero
relevante pois obtive um retorno muito positivo dos mesmos quando sentiam-se
encorajados a não desistirem do curso o que veio a se tornar uma via de mão dupla,
pois o retorno que obtinha dos mesmos refletia-se como um estímulo pra que eu
também não desanimasse diante das dificuldades que surgiam durante a aplicação do
projeto.
Ao término do curso eu me senti com a sensação de missão cumprida e muito
gratificada por essa experiência que enriqueceu minha prática pedagógica, tanto como
tutora como quanto aprendiz, pois o GTR é uma troca constante, aprende-se e ensina-
se de uma forma valiosa e inovadora.
Considerações finais
As informações através das novas tecnologias se propagam numa rapidez
incontrolável e inevitável nos diversos segmentos da sociedade, de forma que muitas
escolas estão lançando novos olhares e buscando maneiras de promover a integração
dos processos educativos com o uso das tecnologias de informação e comunicação .
Os alunos de hoje não são os mesmos e são significativamente influenciados por essas
informações haja visto terem crescidos envoltos numa cultura midiática. Nesse sentido,
meninos e meninas que vêm-se envoltos com as mudanças que ocorrem na fase da
adolescência, num momento em que regras e conceitos são questionados ou
valorizados ao extremo, muitas vezes acabam atrelando sua imagem àquelas
reproduzidas pelos personagens de programas de TV e modelos de revistas.
Meninos e meninas que vêm-se envoltos com as mudanças que ocorrem na
fase da adolescência, num momento em que regras e conceitos são questionados ou
valorizados ao extremo, muitas vezes acabam atrelando sua imagem àquelas
reproduzidas pelos personagens de programas de TV e modelos de revistas. Nesse
sentido, a reflexão e o esclarecimento acerca dos efeitos para a saúde, e para a própria
vida do indivíduo, a respeito dessa perseguição em torno de um ideal de beleza,
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sobretudo para o público adolescente, vai de encontro à necessidade da escola e mais
especificamente da disciplina de Educação Fìsica, em promover a integração dos
processos educativos com o uso das tecnologias de informação e comunicação, de
forma que não é mais possível ignorar a forte influencia que a mídia exerce sobre os
saberes do educando por meio de contínuos e variados modismos.
Ao fazer parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, tive a
oportunidade de lançar mão de alguns elementos que me possibilitaram colocar em
prática ações pedagógicas no sentido de problematizar como os alunos do ensino
médio deixam-se influenciar pela mídia no seu processo de construção corporal. Como
já citado na metodologia aplicada na implementação pedagógica algumas dificuldades
surgiram, de forma que me refiro a elas como pontos negativos, quais foram: o fator
hora/aula; a inserção do projeto sem ferir o planejamento, devido ao fato de serem duas
aulas semanais na grade curricular da disciplina de Educação Fisica no ensino.
Eu considero a experiência da implementação do projeto, bem como da
produção didático-pedagógica gratificante. É prazeroso ter a oportunidade de colocar
em prática um projeto, as estratégias de ações, ver os objetivos atingidos, superar as
dificuldades de adequação tempo/espaço, utilizando um recurso que você mesmo
produziu, certificando-se da sua utilidade e versatilidade. Assim, atribuo como pontos
positivos à essa experiência, o programa PDE como estímulo aos professores com a
inserção acadêmica; o GTR propiciando a articulação dos professores PDE com os
professores da rede possibilitando uma troca de experiências enriquecendo a prática
pedagógica dos envolvidos; o fato de tornar a disciplina de Educação Física
esclarecedora acerca das verdades e mitos que permeiam as informações veiculadas
pela mídia; a elaboração de um material didático-pedagógico que tem a intenção de
colaborar no trabalho dos professores da rede nas aulas com a finalidade de orientar os
alunos sobre as influências que a mídia exerce sobre o processo de construção
corporal; a receptividade dos alunos e equipe gestora e pedagógica na implementação
e desenvolvimento das atividades do projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LOURO, Guacira Lopes. CORPO, ESCOLA E IDENTIDADE. In: Educação & Realidade, Julho/Dez, 2000
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PIRES, Giovane De Lorenzi. Educação Física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijui: Unijui, 2002
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VAZ, Alexandre Fernandez. Corpo, educação e indústria cultural na sociedade contemporânea: notas para reflexão. In: Pro-posições, v. 1 n.2 – maio/agosto, 2003
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