Post on 13-Jan-2019
MARIA DE LOURDES COELHO
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES
UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE
APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Orientadora: Ana Lcia Amaral
Belo Horizonte 2001
Livros Grtis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grtis para download.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO: Conhecimento e Incluso Social em Educao
ATA DA 364a (Trlcentsima Sexagsima Quarta) DEFESA DE DISSERTAO NO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO: Conhecimento e Incluso Social em Educao DA FAE/UFMG.
Aos onze dias do ms de setembro do ano dois mil e um, realizou-se na sala 307 da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas Gerais, uma reunio para apresentao e defesa da dissertao: A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA, requisito final para obteno do Grau de Mestre em Educao. A banca examinadora, aprovada pelo Colegiado em 20/07/01, foi composta pelos seguintes professores: Ana Lcia Amaral - Orientadora, Glaura Vasques de Miranda e Angela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben. Os trabalhos iniciaram-se s 14 horas e 15 minutos com a sntese da dissertao feita pela mestranda. Em seguida cs membros da banca fizeram uma argio pblica candidata. Terminadas as argies, a banca examinadora se reuniu. sem a presena da candidata e do pblico, para fazer a avaliao final da defesa da dissertao apresentada. Em concluso, a banca examinadora considerou a dissertao aprovada tal como est posta, destacando a atualidade do tema, a competncia com que foi tratado, a riqueza e a contemporaneidade da bibliografia e a organicidade do trabalho. Sugere-se a sua publicao. O resultado final foi comunicado publicamente a MARIA DE LOURDES COELHO e ao pblico. concedendo aluna o ttulo de Mestre em Educao, devendo encaminhar Secretaria do Programa a verso final em 04 (quatro) exemplares. Nada mais havendo a tratar, eu Pura Lcia Oliver Martins. Professora do Programa de Ps-graduao em Educao, lavrei a presente ata que depois de lida e aprovada ser por mim assinada e pelos membros da banca examinadora. Belo Horizonte, 11 de setembro de 2001.
MARIA DE LOURDES COELHO
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES
UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE i
APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao
em Educao da Faculdade de Educao da
Universidade Federal de Minas Gerais - Linha de
Pesquisa: Ensino Superior: Formao de Professores,
Didtica e Avaliao.
Orientadora: Ana Lcia Amaral
Belo Horizonte
2001
Ao meu esposo Aerton e aos meus filhos Pedro, Paulo e Dalila,
pelo amor, carinho e incentivo.
A minha famlia, em especial, s mulheres - mes, irms, amigas e, sobretudo, educadoras -
Maria do Socorro (me), Salom, Maria, Celina (irms) e Cllia (cunhada).
Ao meu pai (ia memoriam) que faz parte desta caminhada.
AGRADECIMENTOS
Reconheo a manifestao dos Anjos orientadores e colaboradores, em todos que
compartilharam comigo os obstculos da jornada estudantil e profissional, e que, com
seus gestos, exemplos e palavras, conduziram-me concluso de mais uma etapa.
Portanto, agradeo:
- Ana Lcia Amaral, orientadora e professora da disciplina Didtica do Ensino
Superior, pelo atendimento carinhoso e incentivador, pelas indicaes das leituras e dos
caminhos trilhados, e pela reviso da escrita e reescrita desta dissertao e de outros
textos apresentados em seminrio, simpsio, congresso e encontro de pesquisa durante a
realizao do Mestrado;
- Juliane Corra (coordenadora da Ctedra da Unesco de Formao Docente na
Modalidade de Educao a Distncia/FaE/UFMG, durante o primeiro ano de realizao
do meu curso de mestrado) pela iniciao no estudo do tema desta dissertao, pelo
apoio e, sobretudo, pela amizade;
- Ao Renato Mesquita ( professor do Departamento de Engenharia Eltrica da Escola de
Engenha/UFMG) pelo incentivo e dedicao de tempo para entrevista, pela
disponibilizao de materiais e informaes para realizao desta pesquisa, e demais
organizadores do Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia";
- Aos professores Luiz Alberto Oliveira Gonalves, Maria de Lourdes Rocha Lima e
Pura Lcia Oliver Martins, colaboradores na elaborao do projeto de pesquisa, e aos
demais Professores do Programa de Ps-Graduao em Educao da FaE/UFMG;
- As professoras Glaura Vasques de Miranda e Lucola Licnio de Castro Paixo Santos, que aceitaram-me como aluna (disciplina isolada), antes do meu ingresso no Programa,
pelo incentivo na continuao dos estudos;
- Aos colegas Analise, Ana Marta, Mrcio, Maria Alice e Sandra (colaboradores na
elaborao do projeto de pesquisa), ao Daniel Mill e Shirley pelas trocas, ateno e
apoio, e a todos os colegas do Programa de Ps-Graduao em Educao;
- A Mary Elizabeth Dantas pelas indicaes de leituras, incentivo e amizade, e aos
demais servidores da Biblioteca/FaE;
- Aos colegas Jovanira Lzaro Pereira, Osana Coelho, Nilce Matos, Glucia Fernandes,
Marcos Evangelista Alves e a todos os demais servidores dessa Faculdade, pelo apoio,
atendimento e colaborao;
- A Maria Luiza Pereira Angelim pela concesso da bolsa para cursar o III Curso de
Especializao de Educao Continuada e a Distncia /UnB e aos demais professores da
Faculdade de Educao da UnB, pelo incentivo e acolhida;
- A Maria das Graas Pereira Costa pelos trabalhos e hospedagens compartilhadas em
Braslia e a todos os colegas do III Curso de Educao Continuada e a Distncia / UnB;
- Ao professor Paulo Roberto Bordoni, s colegas Cacilda, Ktia, Eula e demais
servidores da UTRAMIG, pelo companheirismo, carinho e ateno;
- A Senhorinha de Andrade, orientadora e incentivadora da minha atuao profissional,
Maria Guilhermina, pelo carinho e ateno, e aos demais ex-colegas de trabalho no
CEFET/MG;
- A Maria Lcia Ferreira Freitas pelo incentivo e amizade e aos outros colegas do Curso de Pedagogia/FaE;
- A Luciana Laender pela amizade e incentivo e demais colegas de Curso de Qumica
no CEFET/MG;
- A CAPES que, por meio do Programa de Apoio Pesquisa em Educao a Distncia, contribuiu financeiramente com o desenvolvimento deste trabalho.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
RESUMO
'Este trabalho investigou as causas da evaso e os fatores que contribuem para a permanncia de
participantes de cursos ofertados na modalidade de Educao a Distncia (EAD) via Internet,
tendo como foco o Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela
Escola de Engenharia da Universidade Federal v de Minas Gerais (EE / UFMG), que se constituiu em um curso de formao continuada de
docentes universitrios. Os objetivos especficos foram: buscar subsdios para o planejamento
de cursos promotores da modalidade de EAD; discutir possibilidades e limites da educao a
distncia, via Internet, como oportunidade de formao continuada do professor universitrio; e
verificar os possveis vnculos da evaso com os aspectos da estrutura metodolgica e a
dinmica da interatividade em cursos a distncia via Internet.
De cunho qualitativo, esta pesquisa desenvolveu-se atravs de um estudo de caso, e
foram utilizados questionrios on-line, entrevistas e consultas ao material didtico
utilizado, lista de discusso e s mensagens eletrnicas trocadas durante a realizao
. do Curso, para a coleta dos dados. Os dados foram tratados quantitativa e
qualitativamente, luz da bibliografia consultada.
Foram tomadas como base de apoio terico para as questes centrais de anlise desta pesquisa
as obras do filsofo contemporneo Pierre Lvy (professor do Departamento de Hipermdia da
Universidade de Paris Vili), referentes aos seguintes termos: aprendizagem em rede,
ciberespao, interatividade e a nova relao com o saber. Outros autores foram consultados
para as questes referentes formao do professor reflexivo, crtico e criativo, que busca
constante aprendizado e reflexo sobre suas aes e o emprego das novas tecnologias na
Educao.
A investigao ocorreu a partir de algumas suposies quanto evaso em cursos a distncia,
via Internet como: um dos grandes empecilhos para o acompanhamento dos cursos a distncia
a falta da tradicional relao face a face entre professor e alunos; a inabilidade em lidar com as
novas tecnologias cria dificuldades em acompanhar as atividades propostas pelos cursos a
distncia; a ausncia de reciprocidade da comunicao, inviabilizando a interatividade, contribui
para o alto ndice de evaso; e a
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
falta de um agrupamento de pessoas numa instituio fsica faz com que o aluno de
EAD no se sinta includo num sistema educacional. Embora estas suposies no
tenham sido totalmente contempladas, a investigao apontou outras causas da evaso e
emergiram alguns problemas inerentes ao uso das novas tecnologias da informao e
comunicao no meio universitrio como a "falta de tempo" do professor universitrio
para lidar com o ensino e a aprendizagem em ambientes virtuais e para dedicar sua
formao continuada.
SUMRIO
RESUMO............................................................................................................... 1
CAPTULO 1. INTRODUO.............................................................................. 3 1.1. A escolha do objeto de pesquisa ...................................................................... 4 1.2. Suposies referentes ao objeto da pesquisa..................................................... 7
1.3. Delimitao do problema................................................................................. 9 1.4. Objetivos da pesquisa ....................................................................................... 12 1.5. Procedimento metodolgico ............................................................................ 12
1.5.1. A escolhas dos instrumentos e a coleta de dados............................................ 13
1.6. A estrutura da dissertao ................................................................................. 18
CAPTULO 2. A EDUCAO A DISTNCIA NO CONTEXTO DAS NOVAS
TECNOLOGIAS DA INFORMAO E COMUNICAO ................................. 20
2.1. Definio de Educao...................................................................................... 20
2.1.2. A educao emergente (ou necessria?) no tempo atual .................................. 21
2.2. A Educao a Distncia (EAD) ......................................................................... 25
2.2.1. A EAD e as novas tecnologias da informao e comunicao....................... 31
2.2.1.1. A Internet na educao................................................................................ 36
2.2.3. A EAD na legislao em vigor ...................................................................... 43
2.2.4. A EAD no ensino superior ............................................................................. 45
2.2.4.1. A EAD e a sua implementao na UFMG.................................................. 51
CAPTULO 3. O PROFESSOR UNIVERSITRIO E O DESAFIO DOS
AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM................................................. 57
3.1. A formao do professor universitrio .............................................................. 57
3.2. O papel do professor: de transmissor de informao a "animador da
inteligncia coletiva" ............................................................................................... 61
3.3. O trabalho docente nos novos tempos e espaos virtuais.................................. 67
CAPTULO 4. EVASO E PERMANNCIA NA LITERATURA
PERTINENTE ....................................................................................................... 77
4.1. A evaso escolar como parte do fenmeno da excluso social ........................ 77
4.2. As causas da evaso em cursos a distncia ....................................................... 83
4.3. Os fatores que contribuem para desistncia em cursos a distncia.................... 83
4.4. Os elos entre a literatura consultada e as suposies levantadas........................ 88
CAPTULO 5. PLANEJAMENTO DE CURSOS NA MODALIDADE DE EAD
VIA INTERNET.................................................................................................... 90
5.1. Consideraes acerca da escolha dos recursos tecnolgicos e metodolgicos
no planejamento ....................................................................................................... 90
5.1.1. A Internet como meio de concretizao da EAD............................................. 92
5.2. Os papis dos alunos e dos profissionais da educao via Internet ................... 93
5.3. A simulao do espao presencial no espao virtual......................................... 96
5.4. A comunicao interativa na EAD ................................................................... 99
5.5. A avaliao em cursos via Internet................................................................... 101
CAPTULO 6. UM ESTUDO DE CASO: O CURSO DE "TECNOLOGIA DE
ENSINO A DISTNCIA VIA INTERNET" .......................................................... 104
6.1. A escolha do ambiente de Rede usado no Curso.............................................. 104
6.2. A estrutura organizacional do Curso ................................................................. 106
6.2.1. O contedo trabalhado nos mdulos do Curso .............................................. 106
6.3. As comunicaes realizadas durante o Curso.................................................... 109
6.4. A avaliao no Curso ........................................................................................ 117
6.5. Consideraes a respeito do Curso................................................................... 118
CAPTULO 7. OS SUJEITOS DA PESQUISA ..................................................... 121
7.1. Caracterizao dos participantes do Curso ....................................................... 121
7.1.1. O sexo e a faixa etria ................................................................................... 126
7.1.2.0 estado civil e o sexo .................................................................................... 127
7.1.3. A formao acadmica................................................................................... 128
7.1.4. A carga horria de trabalho semanal.............................................................. 129
7.1.5. Tempo de docncia no ensino superior.......................................................... 130
7.2. A "voz" dos participantes ................................................................................. 132
7.2.1. Motivao e expectativa................................................................................. 132
7.2.2. Formas de participao ................................................................................. 136
7.2.3. Avaliao do Curso pelos participantes ......................................................... 138
CAPTULO 8. EVASO E PERMANNCIA DO CURSO EM FOCO.................. 145
8.1. Os fatores que contriburam para a permanncia no Curso................................ 145
8.2. As causas da evaso no Curso .......................................................................... 146
8.3. Apurao e anlise dos outros questionrios aplicados ..................................... 149
8.3.1. Resultados do questionrio aplicado "s para mulheres" ............................... 150
8.3.2. Resultado do questionrio aplicado para todos os homens do Curso ............. 152
8.3.3. Um caso singular............................................................................................. 154
8.4. O esperado e o constatado.................................................................................. 156
CAPTULO 9. CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 159
REFERNCIA BIBLIOGRFICA......................................................................... 171
GLOSSRIO .................................................................................................... ; .... 181
ANEXOS................................................................................................................. 184
Anexo I: Roteiro da entrevista com o professor-organizador do Curso de
"Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet" ................................ 184
Anexo II. Questionrio aplicado aos participantes do Curso de "Tecnologia de
Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela Escola de
Engenharia/UFMG .............................................................................. 185
Anexo III. 1. Questionrio enviado "s para mulheres"......................................... 188
2. Questionrio para Regina............................................................... 189 3. Questionrio "s para os homens" ................................................. 190
ABSTRACT............................................................................................................ 191
NDICE DAS TABELAS
1. Nmero de inscritos no curso, nmero de questionrios respondidos e o percentual
correspondente ........................................................................................................ 122
2. Codificao dos questionrios respondidos e situao dos participantes da pesquisa
.............................................................................................................. 124
3. Nomes das instituies, n." de inscritos e n. de questionrios respondidos ....... 125
4 . Diviso do n. de participantes da pesquisa por gnero e por faixa etria........... 126
5. Estado civil dos participantes concluintes e desistentes divididos por gnero ... 128
6. Formao acadmica dos concluintes e desistentes do Curso ............................. 128
7. Carga horria de trabalho semanal dos concluintes e desistentes ....................... 130
8. Tempo de docncia no ensino superior dos concluintes e desistentes ................ 130
9 - Motivos que levaram os participantes a se inscreverem no Curso .................... 133
10. Expectativas dos inscritos no Curso ................................................................ 134
11. Realizao das expectativas dos concluintes e desistentes do Curso ................. 134
12. Justificativas das expectativas .......................................................................... 135
13. Forma de participao no Curso dividida entre os grupos de concluinte e desistente
............................................................................................................. 136
14. Local de acesso ao Curso pelos concluintes e desistentes do Curso .................. 136
15. Forma de apresentao do material em que os concluintes e desistentes
preferencialmente realizavam as leituras ................................................................ 137
16. Forma de participao de concluintes e desistentes na lista de discusso........... 138
17. Atividades bem conceituadas na opinio dos participantes do Curso................. 139
18. Dificuldades no entendimento do Curso pelos concluintes e desistentes ........... 140
19. Dificuldades em cumprir as tarefas do Curso pelos concluintes e desistentes .. 141
20. Quantidade de desistentes por mdulo do Curso............................................... 147
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
CAPTULO 1
INTRODUO
Este trabalho prope-se a investigar as causas da evaso e os fatores que contribuem
para a permanncia de participantes de cursos ofertados na modalidade de Educao a
Distncia (EAD) via Internet, a partir de um estudo de caso do Curso de "Tecnologia de
Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela Escola de Engenharia da Universidade
Federal de Minas Gerais (EE / UFMG), que se constituiu em um curso de formao
continuada de docentes universitrios. Participaram dele 55 professores de diversas
Escolas de Engenharia de Minas Gerais filiadas Coalizo Minas de Escolas de
Engenharia que solicitou e patrocinou a realizao do mesmo. O curso foi organizado
por dois professores: um do Departamento de Engenharia Eltrica e outro do
Departamento de Engenharia Eletrnica, ambos da UFMG, e por um graduando do
primeiro departamento citado.
A EE / UFMG uma das pioneiras nesta Universidade na adoo de cursos a distncia,
por meio da iniciativa bem sucedida do Ncleo de Ensino a Distncia que usa a Internet
para atender demanda interna e externa da comunidade acadmica, na aprendizagem
do uso das novas tecnologias computacionais. Entre outros, o Curso de "Tecnologia de
Ensino a Distncia Via Internet" foi ministrado nos meses de maio, junho e julho de
1.999 e teve como objetivo estudar a utilizao da Internet no ensino a distncia. Em
proposta interativa2, ao trmino do Curso, todos os participantes (55 professores de
vrias Escolas de Engenharia de Minas Gerais) deveriam ser capazes de elaborar seus
prprios cursos.
'O Ncleo de Educao a Distncia da EE/UFMG (Endereo eletrnico : www.eadl.eee.ufmg.br/), coordenado pelo professor Renato Mesquita, j atendeu a mais de 3.000 alunos de graduao e de extenso universitria para o Curso de "Programao em Linguagem C" oferecido totalmente via Internet. Outros cursos tambm oferecidos pelo Ncleo so: "Manual de Utilizao do UNIX ('UNIXhelp for users')"e "Curso Bsico de MOO".
'A expresso proposta interativa deve-se estrutura metodolgica do Curso em questo e ao recurso tecnolgico usado. Para Lvy (1999), o grau de interatividade proporcionado por um meio tecnolgico pode ser medido pela possibilidade de apropriao e de personalizao da mensagem recebida, pela reciprocidade da comunicao, pela virtualidade e pela telepresena.
http://www.eadl.eee.ufmg.br/
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIEN TES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
O Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet", de carter experimental, foi criado
"de um dia para o outro", atendendo aos anseios dos professores em usar a modalidade de
Educao a Distncia, como relatou um dos professores-organizadores, em conversa informal. O
objetivo proposto foi atingido por aproximadamente 50% dos participantes que o concluram. A
falta de motivao e de disciplina para gerenciar o tempo de estudo com autonomia, de acordo
com esse professor, contribuiu para a desistncia de alguns participantes ao longo do Curso.
Atendendo a novos pedidos, o mesmo poder ser repetido, mas exclusivamente para professores
da UFMG. Foi usado o ambiente "TopClass", um servidor de cursos para a Internet que oferece
grandes possibilidades de interao. Foram arquivadas todas as mensagens enviadas e recebidas
pelos alunos e organizadores do Curso. Esse arquivo foi utilizado como uma das fontes de dados
para analisar as dificuldades encontradas no percurso e como forma de interao que perdurou ao
longo do C urso. Para dar continuidade coleta de dados, a lista de endereos eletrnicos dos
inscritos, concluintes ou no, foi disponibilizada pelos organizadores do curso, o que possibilitou a
aplicao de questionrios via e-mails3. Ao longo da anlise do material coletado foi realizada
uma entrevista com o professor Renato Mesquita e este reforou o interesse pelos resultados desta
pesquisa para que se possa refletir sobre as questes referentes Educao, visando
melhoria no atendimento e na participao dos alunos, pois, sendo ele e os demais organizadores
da rea de Cincias Exatas, faltam-lhes subsdios para tal.
1.1. A escolha do objeto de pesquisa
O meu interesse pessoal e profissional pela Educao a Distncia, pela formao docente e pelo
uso das novas tecnologias da comunicao e da informao no processo de ensino e
aprendizagem, motivou-me a realizar esta pesquisa, pois sou pedagoga lotada na Ctedra cia
UNESCO cie formao docente na modalidade de Educao a Distncia na Faculdade de
Educao da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE / UFMG). Como o prprio nome
sugere, a Ctedra tem como objetivo promover a preparao de professores para utilizar a
modalidade de EAD em suas prticas docentes. Para este fim, tem o propsito de receber
professores visitantes de universidades do exterior, que tm experincias bem sucedidas em
EAD, para promover cursos,
E-mail correio eletrnico um mtodo de envio de mensagens via computadores.
i I
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
seminrios e debates. Tendo participado da organizao do / Curso de EAD promovido
por um dos professores visitantes e oferecido aos docentes da UFMG, fiquei
incomodada com o nmero de pessoas que no concluram o curso, apesar do
entusiasmo inicial. Julguei necessrio investir na busca das causas desta evaso, bem
como identificar os fatores que contribuem para a permanncia dos alunos nos
programas, e para melhor entender os mecanismos da EAD, aprimorando tambm, a
minha atuao profissional, possivelmente na organizao de novos cursos nesta
modalidade.
Neste sentido, participei de dois cursos oferecidos a distncia, ministrados pela
Universidade de Braslia (UnB): o primeiro foi o Manual de Criao e Elaborao de
Materiais para o Ensino a Distncia, proporcionado inteiramente a distncia, via
Internet, com durao de seis meses. O segundo, o III Curso de Especializao em
Educao Continuada e a Distncia - 1999/2000, que utilizou a Internet, material
impresso, fitas de vdeo e teve dois momentos presenciais .
Alm dos vrios trabalhos individuais e em grupo exigidos em ambos os cursos, fiz
anotaes das dificuldades que enfrentei em funo da virtualidade das relaes com a
aquisio de conhecimentos, com os professores e com os colegas dispersos
geograficamente. Estas anotaes e reflexes foram ponto de partida para a construo
do objeto desta pesquisa, pois me permitiram fazer suposies a respeito das possveis
causas de evaso em cursos a distncia, como o / Curso de EAD, oferecido pela Ctedra
da UNESCO de formao docente na modalidade de Educao a Distncia na
Faculdade de Educao e o Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet"
promovido pelo Ncleo de Educao a Distncia da Escola de Engenharia Eltrica,
ambos da UFMG.
O / Curso de EAD
Durante a realizao do / Curso de EAD promovido pela Ctedra foi-me possvel fazer
as seguintes observaes: o primeiro momento presencial contou com o
4 Sobre a minha participao nesses cursos, conclui apenas o 2o. A presena (apoio) dos tutores, a existncia de fruns de discusso, as tcnicas de dinmica de grupo aplicadas para a consolidao das turmas e a realizao dos trabalhos em grupo contriburam para que eu levasse a cabo o 2o curso, promovido pela UnB.
it
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
comparecimento de quase todos os inscritos; no segundo encontro estava presente
aproximadamente a metade, e, no terceiro, a presena no chegou a um tero do nmero
de inscritos. Tambm foi pequena a participao nos chats3 e nas comunicaes off-
line6. Os certificados de concluso foram conferidos a aproximadamente um tero dos
participantes, ou seja, aos que estiveram presentes em pelo menos dois momentos
presenciais.
possvel que vrios fatores externos tenham contribudo para que os 100 inscritos no
acompanhassem integralmente o curso, participando dos encontros presenciais, das
comunicaes on e off-line e da indicao de leituras. A falta de domnio tcnico dos
organizadores e a precariedade dos equipamentos tecnolgicos da instituio
dificultaram ainda mais a participao. Tambm no foi possvel arquivar ou obter o
controle da participao via Internet dos inscritos, o que dificultaria a coleta de dados
para a realizao de uma pesquisa. O contato, tanto presencial quanto a distncia, com os
concluintes e desistentes tornou-se invivel, devido falta de registro dos dados
referentes aos mesmos, como endereo residencial e unidade de origem (local de
trabalho), pois o curso foi oferecido a professores da UFMG. A matrcula foi realizada
atravs do correio eletrnico (e-mail) e presencialmente. Como o contato a distncia com
os participantes foi feito atravs da Internet, apenas foram registrados os endereos
eletrnicos dos mesmos; muitos deles no responderam s mensagens enviadas
posteriormente e muitas foram devolvidas, sendo possvel deduzir que os dados j
estavam desatualizados ou os endereos desativados.
O Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet"
Ao contrrio do / Curso de EAD oferecido pela Ctedra, no Curso de "Tecnologia de
Ensino a Distncia Via Internet" ministrado pela EE / UFMG, que se tornou o estudo de
caso desta dissertao, a comunicao entre os participantes e os organizadores, a
princpio, no foi problema, devido ao preparo tcnico dos mesmos, ao equipamento e
ao ambiente de rede (TopClass) usados. Foi possvel a avaliao durante o processo, ou
5 Chat ( Internet Relay Chat) ou teleconferncia uma forma de comunicao on line, isto , so programas que possibilitam a conversa entre um ou mais usurios de computadores, ao mesmo tempo.
6 Off-litne so programas que permitem a comunicao entre computadores desconectados, tornando possvel o acesso mensagem em tempos diferentes, pois esta fica arquivada em um local apropriado.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
seja, a cada realizao das tarefas dos sucessivos mdulos e, ao final, foi avaliada a
produo de um curso a ser dado via Internet, desenvolvido individualmente ou em
grupo pelos concluintes. Tambm foi feito o controle das entradas dos alunos no site7 do
curso e foram arquivadas todas as mensagens trocadas, durante o mesmo, entre
organizadores e participantes. Ao aluno que no acessava o mdulo no tempo
programado eram enviadas mensagens de incentivo. Mesmo assim, o ndice de
desistncia dos participantes foi de aproximadamente 50%. Foi possvel entrar em
contato com a maioria dos inscritos atravs dos endereos eletrnicos e de outros dados
que foram arquivados, como as correspondncias eletrnicas trocadas entre alunos e
organizadores, tomando assim, vivel a investigao das causas da evaso, consoante a
proposta desta pesquisa.
Portanto, a escolha do Curso de "Educao a Distncia Via Internet", oferecido pela
EE/UFMG, como foco desta proposta de estudo de caso, se deve a vrias razes. A
primeira, porque o principal propsito desta investigar as causas da evaso em cursos
de formao continuada de professores na modalidade de EAD via Internet semelhante
formatao deste Curso. A segunda, porque um curso que surgiu da solicitao dos
professores interessados em utilizar esta modalidade de educao, aps conhecerem as
experincias bem sucedidas do Ncleo de Educao a Distncia da EE/UFMG.
Portanto, no foi um curso oferecido a curiosos ou imposto a um grupo qualquer.
Finalmente, este apresentou condies ideais para uma comunicao interativa: o
ambiente de rede usado ofereceu recursos variados; no houve falhas no funcionamento
dos equipamentos; durante o Curso foram enviadas mensagens de incentivo e de
chamamento aos ausentes; os esclarecimentos e as respostas s dvidas apresentadas
foram dados a contento. No entanto, apesar das condies favorveis ao funcionamento
deste Curso, o ndice de evaso, como j foi dito, foi de aproximadamente 50%.
1.2. Suposies referentes ao objeto da pesquisa
A EAD ganhou novo cenrio na dcada de 90 com o surgimento e a popularizao da
Internet, atualmente considerada como um recurso eficaz para a necessria continuidade
de aprendizagem e trocas de conhecimento entre os docentes do ensino superior. O
Site: qualquer uma das redes ou conjunto de pginas de uma organizao que est publicado na Internet.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
investimento que vem sendo feito pela UFMG em equipamentos, laboratrios, preparo
de pessoal como a formao continuada de professores, demonstra a preocupao desta
universidade para com o assunto e aponta a necessidade de investimento em pesquisas
visando melhor adequao e otimizao dos recursos humanos e tecnolgicos.
Nesta perspectiva, fao o seguinte questionamento:
Em um contexto em que a EAD de maior importncia, tendo ganhado espao nas
leis, nas mdias e no meio universitrio, porque ento os altos ndices de evaso?
As formas de utilizao dos recursos tecnolgicos tm favorecido a interatividade entre
participantes e coordenadores dos cursos?
Considerando a evaso como um fator freqente em cursos a distncia, a prtica tem
apontado que o xito depende de programas bem definidos, material didtico adequado,
professores capacitados e conjugao de meios apropriados a facilitar a interatividade,
em conformidade com a realidade dos alunos a serem atendidos. Alm destes
elementos, somam-se o diagnstico das necessidades individuais e regionais e a
avaliao do curso durante e aps a sua realizao. A anlise destes fatores toma-se
necessria para a diminuio dos desperdcios de recursos, podendo ser preventiva para
a reduo do ndice de evaso que tem contribudo para o descrdito da EAD.
As minhas prticas e vivncias enquanto profissional e aluna de cursos a distncia e as
leituras de relatos de outras experiencias, levaram-me s seguintes suposies quanto
evaso em cursos a distncia, via Internet:
Um dos grandes empecilhos para o acompanhamento dos cursos a distncia a falta
da tradicional relao face a face entre professor e alunos, pois neste tipo de
relacionamento julga-se haver maior interao e respostas afetivas entre os
envolvidos no processo educacional;
H insuficiente domnio tcnico do uso do computador, principalmente da Internet,
ou seja, inabilidade em lidar com as novas tecnologias cria dificuldades em
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS OE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
acompanhar as atividades propostas pelos cursos a distncia como: receber e enviar e-
mail, participar de chats, de lista de discusso, etc;
A ausncia de reciprocidade da comunicao, isto , a dificuldade em expor idias
numa comunicao escrita a distncia, inviabilizando a interatividade, contribui para
o alto ndice de evaso;
A falta de um agrupamento de pessoas numa instituio fsica, construda socialmente e destinada muitas vezes transmisso de saberes, assim como ocorre
no ensino presencial tradicional, faz com que o aluno de EAD no se sinta includo
num sistema educacional.
Ao investigar as causas da desistncia no Curso de "Tecnologia de Educao a
Distncia Via Internet", esta pesquisa buscou verificar a veracidade das suposies
supracitadas e ainda encontrar outras pistas que podero ser consideradas na
organizao de outros cursos de formao continuada de professores via Internet,
visando a um melhor aproveitamento e elevao do nmero de concluintes.
1.3. Delimitao do problema
A realidade da sociedade atual gera necessidade de reflexo e de mudanas,
especialmente na educao, a fim de que esta possa desempenhar seu papel na formao
do cidado. Para tanto, faz-se necessrio repensar a formao dos educadores, no
contexto das novas tecnologias da informao e da comunicao, bem como a
possibilidade desta formao acontecer via Internet, sendo mais um caminho que no
invalida as prticas pedaggicas tradicionais.
O emprego de novas tecnologias educacionais e o preparo do professor para inclu-las,
tanto no ensino presencial quanto a distncia ou em ambos combinados, constituem-se
em temas a serem investigados para a socializao e as intervenes na prtica
pedaggica. Conforme Lampert (1997), pesquisas na rea de formao continuada do
professor universitrio so necessrias, pois a bibliografia brasileira prioriza o professor
da educao bsica e os estudos estrangeiros divergentes em diferentes pases, nem
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITARlOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
sempre servem de parmetro e no so totalmente condizentes com a realidade do
Brasil.
Especificamente na rea da Educao a Distncia e formao continuada do professor, a
investigao cientfica se faz urgente devido premncia em acompanhar os cursos que
se proliferam nesta modalidade de educao: urge capacitar o professor universitrio,
terica e tecnicamente, no uso das tecnologias da comunicao e da informao, devido
s vrias mudanas surgidas no atual contexto scio-poltico, econmico e cultural no
mbito mundial.
Segundo Candau (1996), os projetos de implantao de novas tecnologias na educao,
em grande parte, so realizados por pessoas de formao tecnolgica e no pedaggica.
Como exemplo, a equipe de coordenadores do Curso de "Tecnologia de Ensino a
Distncia Via Internet", escolhido como campo para esta pesquisa, composta por
professores e um estudante da rea das Cincias Exatas. Como a proposta do curso foi
capacitar os participantes a construir cursos a distncia, no contou com uma reflexo
sobre a EAD e suas implicaes. Para Candau (1996: 17),
" necessrio que tais projetos sejam pensados, e, pelo menos na fase de planejamento, contem com a participao de educadores com uma formao atualizada e cientificamente bem preparada que atuariam tambm na esfera das decises. Importante colocar a tecnologia a servio da educao, mas partindo de uma concepo plenamente educacional".
Em outro trabalho, Candau (1997) comenta sobre os investimentos das universidades
em convnios com Secretarias de Educao para a formao continuada de professores
em servio, e questiona a concepo de formao presente nesse programas,
considerando que estes processos tambm ocorrem na prtica pedaggica cotidiana
reflexiva e critica.
A EAD, nos dias atuais, ganhou novo destaque e est crescendo como tema de debates
em seminrios e encontros de educadores, no meio acadmico, devido necessidade de
se extrapolar os muros da universidade, atendendo a um maior contingente de excludos
desta. Isto poder promover grandes benefcios sociais se no se limitar a uma mudana
quantitativa, mas tambm qualitativa, atravs de programas e pessoal preparados tcnica
e pedagogicamente para a utilizao das novas tecnologias educacionais.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Entretanto, a avaliao de experincias nacionais e internacionais de cursos de EAD, via
Internet e outros meios, apresenta um ndice de evaso significativamente alto. A
respeito das causas de evaso em curso a distncia que utiliza especificamente a
Internet, no foi encontrado nenhum estudo exclusivo, o que aponta para a necessidade
de um tratamento mais especifico, de modo a preencher as lacunas desta modalidade de
educao cada vez mais presente nos meios universitrios. Alm disso, a relevncia
deste tema conferida pelo destaque que a EAD ganhou na lei de Diretrizes e Bases da
Educao em vigor ( Lei 9394/96).
A crescente utilizao da Internet, construindo novos espaos de ensino e aprendizagem
no mbito universitrio, justifica sobejamente esta pesquisa, neste momento de
mudanas advindas do processo de globalizao da economia e as conseqentes
intervenes no sistema educacional.
Com esta pesquisa, busquei conhecer alguns indicadores das causas e situaes mais
freqentes em que ocorrem a evaso. Investiguei tambm os fatores que colaboram para
a permanncia dos participantes nos cursos a distncia, em especial, nos cursos de
capacitao de professores. A partir de um estudo de caso, considerando as
possibilidades conferidas pela lei vigente e os recursos tecnolgicos disponveis para a
efetivao da Educao a Distncia, espero cobrir uma lacuna na literatura com
elementos tericos e prticos para esta temtica, carente de investimento por parte dos
pesquisadores.
Foram tomadas como base de apoio terico para as questes centrais de anlise desta
pesquisa as obras do filsofo contemporneo Pierre Lvy (professor do Departamento
de Hipermdia da Universidade de Paris VIII), referentes aos seguintes termos:
aprendizagem em rede, inteligncia coletiva, ciberespao, interatividade e a nova
relao com o saber. Outros autores foram consultados para as questes referentes
formao do professor reflexivo, crtico e criativo, que busca constante aprendizado e
reflexo sobre suas aes e o emprego das novas tecnologias na Educao, de acordo
com o paradigma educacional emergente defendido por Morais (1996: 65):
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
"No haver espao para o professor que trabalha numa abordagem pedaggica tradicional, que enfatiza a transmisso, a cpia de cpia, onde contedos e informaes so passados diretamente do professor para o aluno, mediante um processo reprodutivo. (...) O modelo de formao de professores, de acordo com o novo referencial, pressupe continuidade, viso do processo, no buscando um produto completamente acabado e pronto, mas um movimento permanente de 'vir a ser'".
1.4. Objetivos da pesquisa
Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar as causas da evaso bem como os fatores que
favorecem a permanncia dos participantes em cursos oferecidos na modalidade de Educao a
Distncia, via Internet, a partir de um estudo de caso do Curso de "Tecnologia de Ensino a
Distncia Via Internet" promovido pelo Ncleo de Educao a distncia da Escola de
Engenharia Eltrica da UFMG, oferecido a professores de Escolas de Engenharia, membros da
Coalizo Minas de Escolas de Engenharia.
Os objetivos especficos deste trabalho so:
Buscar subsdios para o planejamento de cursos promotores da modalidade de EAD, de
acordo com os interesses dos professores da UFMG;
Discutir possibilidades e limites da educao a distncia, via Internet, como
oportunidade de formao continuada do professor universitrio;
Verificar os possveis vnculos da evaso com os aspectos da estrutura
metodolgica e a dinmica da interatividade em cursos a distncia via Internet.
1.5. Procedimento metodolgico
Esta pesquisa, de cunho qualitativo, desenvolveu-se atravs de um estudo de caso, devido
singularidade do que nos propomos investigar. Entende-se por estudo de caso, como o "estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento" (Gil, 1988: 45) . Para Ldke (1998), o caso, seja ele simples ou complexo e
abstrato, sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no
desenrolar do estudo, podendo ser similar a outro,
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
mas distinto por ter interesse prprio. Portanto, tomaremos como unidade de estudo o
Curso de "Tecnologia de Educao a Distncia via Internet", promovido pelo Ncleo de
Educao a Distncia da Escola de Engenharia Eltrica / UFMG, visando a conhecer as
causas da evaso e os fatores que contribuem para a permanncia em cursos desta
natureza e suas possveis relaes com a interatividade entre professores e alunos,
localizados em espaos e tempos distintos.
A partir das experincias vividas em EAD foi possvel levantar algumas suposies
bsicas acerca das causas da evaso nos cursos na modalidade de EAD, conforme
descritas anteriormente. Esta investigao procurou aprofundar a compreenso destas
causas tendo como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, visando
torn-lo mais explcito. Pela prpria natureza do objeto da pesquisa, outras suposies
poderiam surgir durante o percurso deste trabalho e procuramos nos manter
constantemente atentos a novos elementos que emergiram, adequando os instrumentos
metodolgicos s eventualidades que se fizeram presentes.
Considerando que "a complexidade do estudo de caso est determinada pelo suporte
terico que serve de orientao ao pesquisador" (Ldke, 1998: 134), buscamos
complement-lo ao longo da pesquisa para bem fundament-la. Procuramos mapear a
literatura nacional existente relacionada com o tema e algumas indicaes de literatura
estrangeira, principalmente as que trazem relatos de experincias. Alm desta fonte,
continuamos a analisar os textos oficiais que regulamentam o estabelecimento da EAD,
principalmente os que se referem capacitao de professores. Como este tema tem
recebido especial ateno da mdia nos ltimos anos, tendo-se tornado assunto relevante
em seminrios educacionais, procuramos assistir e analisar os contedos das palestras,
bem como ler as publicaes surgidas durante o desenrolar desta pesquisa.
1.5.1. A escolhas dos instrumentos e a coleta de dados
A busca de informaes sobre o Curso de "Tecnologia de Educao a Distncia via
Internet" iniciou-se informalmente atravs de trocas de mensagens eletrnicas (e-mails)
e de uma entrevista livre com um dos organizadores do mesmo, tendo continuidade com
a utilizao de uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro se encontra anexado ao
final deste trabalho (ANEXO I) e que nos permitiu conhecer melhor o desenho do
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
curso, as dificuldades encontradas e as estratgias utilizadas para a motivao dos
participantes. De posse dos dados sobre o curso em anlise, ampliamos as informaes
utilizando o arquivo das mensagens enviadas e recebidas pelos participantes e
organizadores durante os dois meses e meio de realizao do mesmo.
A escolha da entrevista semi-estruturada para formalizar o incio da coleta de dados
deveu-se a, de acordo com Trivinos (1987), ser esta uma das principais maneiras que o
investigador pode utilizar como tcnica de coleta de informao, pois, parte de certos
questionamentos bsicos, apoiando-se em teorias e hipteses, para se chegar a um
amplo campo de interrogativas e novas hipteses, a partir das respostas do informante.
Para prosseguir a investigao, elaboramos um questionrio semi-aberto, que foi o
primeiro instrumento para a coleta de dados junto aos participantes do curso, sujeitos
desta pesquisa. A elaborao do questionrio implicou o desenvolvimento de uma
pgina Web, para facilitar o preenchimento e a devoluo do mesmo, j que foi enviado
para os participantes por e-mail, numa linguagem familiar a eles, utilizada pelo Curso
em anlise, ou seja o HTML (Hipertext Markup Language). O questionrio foi
exaustivamente testado para que no ocorressem falhas tecnolgicas e para eliminar
dvidas quanto aos objetivos pretendidos com as perguntas. Para tanto, foi aplicado
experimentalmente a 6 voluntrios. So eles: um professor de Literatura e de Lngua
Portuguesa; dois pedagogos; um tcnico de informtica; um estudante do Curso de
Pedagogia e uma pesquisadora que cursa o doutorado e est investigando sobre o uso
das novas tecnologias na educao.
Os ajustes necessrios foram feitos e, como constatamos que, em determinados
aparelhos computacionais o questionrio em HTML foi recebido de forma inteligvel,
optamos em disponibiliz-lo tambm em WORD ( linguagem normalmente usada na
produo de textos utilizada pela maioria dos computadores disponveis no mercado
atualmente), seguindo anexado s mensagens enviadas, permitindo a escolha pelo uso
do formulrio, de acordo com a possibilidade do aparelho de cada participante.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Este primeiro questionrio buscou desvendar os seguintes tpicos:
Dados de identificao: sexo, idade, estado civil, formao, instituies de ensino superior onde leciona, funo exercida e tempo de exerccio no cargo, e carga
horria semanal de trabalho;
Dados referentes ao curso: expectativas e motivos da inscrio, contribuies
recebidas para a prtica docente, atividades que mais contriburam para a prtica
docente e dificuldades encontradas, forma de participao e forma escolhida para
fazer as leituras do Curso ou seja, leituras na tela ou no material impresso;
Motivos da desistncia ou fatores que contriburam para a permanncia.
O questionrio foi composto de questes de mltipla escolha seguidas de espao com
indicao para o participante justificar a resposta, e no ltimo tpico, enumerar, por
ordem de importncia, os motivos da desistncia ou fatores que contriburam para a
permanncia no Curso.
O questionrio foi enviado a todos os 55 inscritos no curso, concluintes ou no, atravs
de um dos meios de comunicao usado durante a realizao do curso, ou seja, o correio
eletrnico {e-mail). Os endereos eletrnicos cedidos pela coordenao do curso
permitiram o envio da mensagem a todos ao mesmo tempo, atravs de uma lista
produzida para tal. A mudana ou desativao de alguns endereos impossibilitou o
recebimento por todos, pois a mensagem de 8 participantes retornou.
Para garantir o recebimento da mensagem pelo maior nmero de sujeitos, foram feitas
algumas ligaes telefnicas, a fim de atualizar os endereos eletrnicos. Em alguns
casos, pedimos a colaborao dos participantes para fazer chegar a mensagem at o seu
colega, ou seja, outro participante pertencente mesma instituio, com quem no
conseguimos nos conectar.
Os participantes do Curso eram provenientes de 11 instituies de ensino, sendo assim
distribudos: 13 participantes da Universidade Federal de Minas Gerais; 5 da
Universidade Federal de Uberlndia; 6 da Escola Federal de Engenharia de Itajub; 6 da
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Fundao Universidade de So Joo Del Rey; 2 da Faculdade de Agrimensura de Minas Gerais;
5 do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais; 6 da Pontifcia Universidade
Catlica de Minas Gerais; 5 da Universidade Estadual de Minas Gerais de Passos; 5 da
Universidade Federal de Juiz de Fora; 1 do Instituto Catlico de Minas Gerais e 1 da
Universidade Federal de Ouro Preto.
O envio do questionrio foi feito no dia 12 de setembro de 2000, num horrio prximo das 18
horas e, surpreendentemente, at s 21 horas do dia seguinte, 17 questionrios j haviam sido
respondidos e enviados, via Internet. Conferimos a eficincia deste instrumento de coleta de
dados em pesquisa, ou seja, aplicao de questionrios, especialmente para professores
universitrios com experincias prvias no uso da Internet, como o caso dos sujeitos desta
pesquisa. Atribumos a agilidade de tempo em reenviar o questionrio preenchido por grande
parte dos participantes desta pesquisa, experincia prvia adquirida ou melhorada na
realizao do Curso. Ao final de uma semana da aplicao do questionrio conferimos o
recebimento de 24 questionrios, totalizando 37 aps o perodo de um ms. Os ltimos
questionrios recebidos foram enviados aps o pedido feito por telefonemas e mensagens
eletrnicas.
De um modo geral, os sujeitos desta pesquisa no tiveram dificuldades em preencher e nos
devolver o questionrio. A maioria utilizou o questionrio em HTML devido facilidade que o
mesmo ofereceu, pois, aps respondido, era s teclar em um boto especialmente destinado para
enviar a mensagem e a mesma seguia automaticamente para o destinatrio. Para resguardar a
privacidade do remetente, o mesmo no era identificado, pois a mensagem no chegava com o
endereo de quem havia remetido o questionrio. Desta forma, identificvamo-los pelos dados
de caracterizao, como sexo, faixa etria e ordem de envio do questionrio respondido. Ao
contrrio, os participantes que, por motivos tcnicos, remeteram o questionrio em WORD
tiveram revelados os seus endereos eletrnicos e, consequentemente os seus nomes, pois o
envio da mensagem foi feito via e-mail e no pela pgina Web. Estes ltimos, ao receberem o
questionrio em anexo, tiveram que salv-lo no computador de seu uso, para depois preench-lo
e reenvi-lo anexado em outro e-mail.
Para nos referirmos aos 37 participantes desta pesquisa durante a coleta e anlise dos dados do
primeiro questionrio aplicado, usamos letras e nmeros na codificao para
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
nome-los, a fim de resguardar a identidade dos mesmos, da seguinte forma: a letra Q
seguida do nmero corresponde ao questionrio enumerado pela ordem em que foi
enviado por e-mail; a letra C ou D representa a situao do participante em relao ao
Curso: C para concluinte e D para desistente; a letra M ou F identifica o sexo do
participante: M para masculino e F para feminino; e os algarismos romanos dizem
respeito faixa etria a qual pertence o participante da pesquisa: I para os que tm de 31
a 40 anos de idade, II para os que esto entre 41 a 50 anos e III para os que tm mais de
50 anos de idade.
Quando nos referimos aos organizadores do Curso, usamos POE para o professor
organizador que foi entrevistado, PO para o professor organizador administrador do
ambiente de rede e AO para o aluno que participou da organizao.
Os 37 questionrios recebidos foram devidamente apurados, tabulados e analisados.
Coincidentemente, quase a metade (18) dos que o responderam compem o quadro dos
concluintes do Curso e pertencem ao sexo masculino. Entre os 19 restantes, 9 eram
mulheres. Quanto causa da evaso, verificamos que a grande maioria das respostas
revelava a "falta de tempo" como um dos fatores determinantes da desistncia. Os
demais dados sero analisados no captulo 8, mas estamos antecipando tais informaes
para justificar a aplicao de novos questionrios a grupos distintos de participantes.
Instigados com os resultados deste primeiro questionrio, elaboramos outros para
grupos de participantes distintos: um s para as mulheres, outro para os homens
concluintes e no concluinte do Curso. Semelhante experincia anterior e apesar da
poca de frias, pois estes questionrios foram enviados no ms de janeiro, as respostas
chegaram em tempo hbil. As respostas de algumas professoras incitaram-nos a elaborar
outras questes e novas mensagens foram enviadas e respondidas com brevidade e
ateno.
Ao verificar a lista dos aprovados, deparamo-nos com o fato de que apenas uma mulher
havia concludo o Curso e que a mesma no havia respondido ao primeiro questionrio.
Enviamos uma mensagem especialmente para ela, solicitando o preenchimento do
primeiro questionrio, pois ela havia se tornado uma pessoa especial para a nossa
anlise.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Devido pontualidade com que recebemos as respostas dos questionrios aplicados
atravs do correio eletrnico, no sentimos necessidade de utilizar outro instrumento de
coleta de dados. Reservamos a entrevista semi-estruturada para um dos organizadores
do Curso e esta foi gravada, transcrita e analisada. Com este mesmo professor foram
trocados vrios e-mails e telefonemas durante a coleta de dados, e tivemos a
colaborao do mesmo durante toda a pesquisa, disponibilizando materiais e
informaes, sempre que solicitvamos. O mesmo remeteu-nos uma senha para que
pudssemos acompanhar o Curso atravs da Internet. Como o Curso j havia sido
retirado da rede, este professor providenciou a reativao do mesmo para que se
tornasse fonte de dados desta pesquisa. Desta forma foi possvel a leitura e anlise do
material do Curso, assim como do ambiente de rede utilizado (TopClass).
Entre os materiais disponveis no TopClass encontramos uma extensa lista de discusso
com as mensagens em off-line trocadas pelos participantes entre si e destes com a
equipe de organizadores durante o Curso. Optamos por imprimir todos os materiais para
facilitar a leitura e para a reteno das informaes, considerando que o site estaria
disponibilizado por tempo limitado. Todos eles serviram para nos familiarizarmos com
o contedo, a forma de comunicao e as caractersticas dos participantes do Curso.
Os dados colhidos foram tratados estatisticamente e qualitativamente e buscamos
relacion-los com as suposies levantadas e as teorias referidas no corpo desta
dissertao, que vierem a auxiliar-nos na anlise das causas da evaso e dos fatores que
contribuem para a permanncia dos participantes nos cursos, via Internet, de formao
continuada de professores universitrios.
1.6. A estrutura da dissertao
Na tentativa de "contar" da melhor maneira como se desenvolveu o trabalho de
pesquisa, organizamos a dissertao da seguinte forma: no captulo 1 apresentamos o
objeto da pesquisa, as suposies referentes ao objeto, a delimitao do problema, os
objetivos da pesquisa e o procedimento metodolgico; no captulo 2 partimos de
algumas definies para falar da Educao a Distncia sua origem, suas implicaes e
as possibilidade do uso das novas tecnologias da informao e da comunicao no
ensino superior e na UFMG; no captulo 3 trabalhamos a questo da formao, do papel
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
e do trabalho docente no contexto da educao via Internet; no captulo 4 apresentamos
a contribuio da literatura consultada sobre a causa e os fatores que contribuem para a
permanncia dos participantes em cursos a distncia; no captulo 5 foram abordadas as
implicaes do planejamento de cursos na modalidade de Educao a Distncia via
Internet, referentes escolha do meio, aos papis dos alunos e do professor,
comunicao e avaliao; no captulo 6 analisamos o Curso de "Tecnologia de Ensino
a Distncia", o contedo do mesmo e das mensagens trocadas durante a sua realizao e
o avaliamos, luz da contribuio da literatura; no captulo 7 trabalhamos a
caracterizao dos concluintes e evadidos do Curso, a motivao, a expectativa, a forma
de participao e a avaliao do Curso pelos participantes, a partir da anlise dos dados
apurados no primeiro questionrio; no captulo 8 continuamos a trabalhar os dados
colhidos por meio deste e dos demais questionrios aplicados, referentes especialmente
s causas da evaso e aos fatores que contribuem para a permanncia dos participantes
do Curso em foco; finalmente, no captulo 9, apresentamos as consideraes finais bem
como as limitaes do estudo e as contribuies para o campo. Para facilitar a
compreenso do texto desta dissertao, acrescentamos um glossrio com os termos
especficos da linguagem usada na Internet.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
CAPTULO 2
A EDUCAO A DISTNCIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO
Considerando a especificidade do tema desta pesquisa e dos elementos relativamente novos
inerentes ao mesmo, julgamos necessrio comear a situ-lo historicamente, a partir de algumas
definies de Educao a Distncia, sua origem, suas implicaes, as possibilidade do uso das
novas tecnologias da informao e da comunicao no ensino superior e sua implantao na
UFMG.
2.1. A Educao
Inicialmente faz-se mister discutir o termo Educao. Para tanto, recorremos aos clssicos e
entre eles, a definio apresentada por Durkheim (1978), no final do see. XIX e incio do see.
XX, pois alguns dos critrios propostos por ele continuam dignos de reflexo e, a partir deles,
inmeros pensadores passaram a formular pontos de vista semelhantes (Brando, 1994).
Socilogo e pedagogo, Durkheim considerava a educao como fenmeno "eminentemente
social" e resultante da ao exercida por uma gerao sobre a gerao seguinte a fim de adapt-
la sociedade em que vive. Atravs da ao educativa, "cada sociedade constri, para seu uso,
um tipo ideal de homem", no havendo ideais e princpios que tornem universal a ao
educativa. Avaliando idias pedaggicas de seus antecessores, Durkheim fez referncia a Kant,
destacando dele a seguinte citao: "o fim da educao desenvolver, em cada indivduo toda a
perfeio de que ele seja capaz", mas em seguida questiona o termo perfeio, verificando que
os ideais de perfeio diferem de uma cultura para outra. Alm disso, indivduos em uma mesma
comunidade tm diferentes aptides e funes a exercer. Portanto, o ser humano no segue um
nico modelo de perfeio e de desenvolvimento, pois, para que cada sociedade seja harmnica,
"ser preciso que haja homens de sensibilidade e homens de ao" (Durkheim, 1978: 34).
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM; EVASO E PERMANNCIA
Fazendo uma retrospectiva histrica e ilustrando a tese acima defendida, Durkheim
afirmou que:
"A educao tem variado infinitamente com o tempo e o meio. Nas cidades gregas e latinas a educao conduzia o indivduo a subordinar-se cegamente coletividade, a tornar-se uma coisa da sociedade. Hoje esfora-se para fazer dele uma personalidade autnoma. Em Atenas procurava-se formar espritos delicados, prudentes, sutis, embebidos de graa e harmonia, capazes de gozar o belo e os prazeres da pura especulao; em Roma desejava-se que especialmente as crianas se tomassem homens de ao, apaixonados pela glria militar, indiferentes no que tocasse s letras e s artes. Na idade mdia a educao era crist, antes de tudo; na Renascena toma carter mais leigo; nos dias de hoje, a cincia tende a ocupar o lugar que a arte outrora preenchia." (Durkheim, 1978: 35)
Dessa forma, Durkheim infere que a educao ideal construda considerando as
condies de tempo e lugar, tornando indispensvel a observao histrica, pois "todo o
passado da humanidade contribuiu para estabelecer esse conjunto de princpios que
dirigem a educao de hoje" (1978: 37). Por fim, ele apresenta a seguinte definio para
a Educao:
"A educao a ao exercida pelas geraes adultas sobre as geraes que no se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criana certo nmero de estados fsicos, intelectuais e morais, reclamadas pela sociedade poltica, no seu conjunto, e pelo meio especial em que a criana particularmente se destine." (Durkheim, 1978: 41)
Por conseguinte, de acordo com esta concepo de educao, a funo das aes
educativas transformar o ser individual em ser social, considerando as crenas e
prticas religiosas e morais e as tradies e profisses da coletividade. Durkheim (1978)
no ignorou o carter econmico da educao, pois, segundo ele, a educao busca
atender aos interesses da economia interna para o equilbrio da sociedade e conclui:
"Quer que se trate dos fins a que se vise, quer que se trate dos meios que empregue,
sempre s necessidades sociais que a educao atende; so idias e sentimentos
coletivos que ela exprime"; e ainda prenuncia: "as transformaes profundas que as
sociedades contemporneas tm experimentado e esto para experimentar, necessitam
de transformaes correspondentes nos planos da educao" (Durkheim, 1978: 90).
2.1.2. A educao emergente (ou necessria?) no tempo atual
A educao, desde a sua institucionalizao, vem ocorrendo das seguintes maneiras:
formal, informal e no-formal. A primeira d-se atravs das instituies de ensino
regidas por leis especficas; a segunda refere-se ao processo educativo do meio scio-
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
cultural e se realiza atravs de processos espontneos e naturais, no convvio familiar e
com os amigos, nas atividades recreativas e associativas; a ltima, tambm chamada de
educao para a vida, ocorre de maneira organizada e sistemtica atravs de diversos
tipos de entidades e instituies, tendo por objetivo o desenvolvimento humano,
podendo capacitar para o trabalho, ou para a resoluo de problemas individuais ou
coletivos. As atividades da educao no-formal tm sido desenvolvidas em diversos
espaos da sociedade, como igrejas, sindicatos, associaes e utilizam a mdia, como
programa de rdio, de televiso e das redes de computadores (Fidalgo & Machado,
1999). Em todas as maneiras citadas a educao poder se realizar presencialmente, a
distncia ou com a conjugao destas modalidades de ensino e aprendizagem.
l A respeito do sistema formal e no-
formal de educao, Wenzel (1991) relaciona-os com as modalidades e esclarece que
aquela continua sendo fundamental para o desenvolvimento da educao e
indispensvel para os alunos da faixa de obrigatoriedade escolar e necessita da relao
presencial entre professor e aluno, de salas de aula instaladas, de horrios rgidos e de
espaos determinados para a execuo global das atividades.
Por sua vez, os sistemas no-formais de ensino, na sua modalidade de Educao a
Distncia, representam uma extraordinria possibilidade de ampliao do campo de
atendimento educacional a jovens e adultos que no se escolarizam na chamada "idade
prpria" e tambm de atendimento s atuais exigncias da educao permanente.
Crescem as necessidades do aperfeioamento profissional e do enriquecimento cultural
das pessoas, da atualizao profissional e do treinamento de recursos humanos para as
mais variadas atividades profissionais (Wenzel, 1991).
Voltando a nos valer de Durkeim (1978: 58), buscamos o que ele tem a dizer sobre a
reflexo humana: "o homem no reflete sempre, mas somente quando lhe necessrio".
A respeito do papel da educao, podemos deduzir que a necessidade de reflexo sobre
o mesmo tem sido constante, pois "intelectuais, educadores e estudantes fazem todos os
dias as criticas da prtica educativa" (Brando, 1994: 56). Neste sentido, visando a uma
reflexo globalizada, a UNESCO criou a Comisso Internacional sobre Educao para o
Sculo XXI que elaborou um documento conhecido como Relatrio Jacques Delors,
iniciado em maro de 1993 e concludo em setembro de 1996. O Ministro da Educao
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Paulo Renato de Souza escreveu a apresentao da edio brasileira do documento, e
ressaltou que a elaborao do mesmo contou com a contribuio de especialistas de
todo o mundo, e, segundo ele, esta uma "caracterstica que o toma imprescindvel
diante do processo de globalizao das relaes econmicas e culturais que. estamos
vivendo" (Delors, 1999: 11).
A educao para o sculo XXI, de acordo com a Comisso que elaborou o Relatrio,
assenta-se sobre quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos e aprender a ser. Para que a educao cumpra este papel, preciso ultrapassar as
principais tenses que constituem o cerne da problemtica do sculo que se inicia. So
elas: as tenses entre o local e o global, entre o universal e o singular, entre a tradio e
a modernidade, entre a soluo em curto prazo e em longo prazo, entre a indispensvel
contradio e a igualdade de oportunidades, e entre o extraordinrio desenvolvimento
dos conhecimentos e a capacidade de assimilao dos homens. Portanto,
"cabe educao a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradies e convices de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, a elevao do pensamento e do esprito para o universal e para uma espcie de superao de si mesmo" (Delors, 1999: 16).
Para o cumprimento da tarefa educacional defendida anteriormente, impe-se cada vez
mais o conceito de "educao ao longo da vida" dadas as vantagens que esta oferece em
matria de diversidade, flexibilidade e acessibilidade no tempo e no espao" (Delors,
1999: 18). Amplia-se a idia da educao permanente, encarada nesta transio de
milnio, no s com as alteraes da vida profissional, mas como uma construo
humana continuada. Pressupondo que a prtica educativa seja histrica e que tenha
historicidade, Freire j dizia que "enquanto prtica social, a prtica educativa em sua
riqueza, em sua complexidade um fenmeno tpico da existncia e, por isto mesmo,
um fenmeno exclusivamente humano" (Freire, 1996a: 54).
Por sua vez, D'Ambrsio defende que a meta da educao numa sociedade em transio
(como a que estamos vivenciando nesse incio de sculo) a "formao de um indivduo
tico, criativo e crtico, preparado para viver participativamente da sociedade tendo
conscincia da sua cidadania".8
8 Anotao feita na aula ministrada pelo professor e escritor Ubiratan de D'Ambrsio durante o primeiro momento presencial do III Curso de Especializao em Educao Continuada e a Distncia / UnB, em Braslia, no dia 26/07/1999.
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS OS APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Portanto, bem mais do que defendia Durkheim, o processo educativo no se limita a transformar
o ser individual no ser social, mas combina-se a formao de ambos, ou seja, capacitar o
indivduo a tomar conscincia de si prprio e do papel social que lhe cabe como cidado. Dessa
forma, as idias humanistas de Kant no se opem s funcionalista-positivistas de Durkheim,
antes, as complementam, pois a vida pessoal e social progrediro no saber, saber ser e no saber
fazer, Concomitantemente. Assim, caminha-se para a formao de "uma sociedade educativa", e
a educao no estar limitada no tempo e no espao, pois consiste em um processo
desenvolvido ao longo da vida.
I
A "comunidade educativa" baseia-se na aquisio, atualizao e utilizao dos conhecimentos.
Conforme destacado no Relatrio Jacques Delors (1999), so estas as trs funes relevantes no
processo educativo. Com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicao e
informao, o aumento das possibilidades de acesso a dados e a fatos, e o conseqente
desenvolvimento da sociedade da informao, "caber educao permitir que todos possam
recolher, selecionar, ordenar, gerir e utilizar as mesmas informaes" (Delors, 1999: 21). Da a
necessidade da educao ao longo de toda a vida. Para que este processo educativo rompa as
barreiras de tempo e espao, imprescindvel ampliar a atuao da Educao a Distncia com a
utilizao adequada dos meios de comunicao e de informao, visando sempre a uma
educao de qualidade.
"Cada vez nos convencemos de que educao e qualidade de vida esto intimamente associados.
E no se pode falar em uma sociedade democrtica, sem que se priorize a educao, em seus
diferentes nveis e modalidades" (Santana, 1999: 15). Acreditamos, como j foi previsto por
Lvy (1999), que, com o passar dos tempos e com a intensificao do uso das novas tecnologias
de comunicao e informao pelas escolas e pela sociedade em geral, a distino entre as
modalidades de educao presencial e a distncia ser cada vez menos pertinente, pois o uso das
redes de telecomunicaes e dos suportes multimdia interativos vem sendo progressivamente
integrado s formas tradicionais de ensino. Uma modalidade complementar a outra e juntas,
como descreve Alves (1999: 37), formaro verdadeiras "redes de conhecimento, em um
processo que poderamos chamar de tessitura de conhecimento em rede", considerando
que a
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
construo do conhecimento se realiza atravs do convvio, do dilogo e das trocas nas
relaes sociais, como Freire (1978) defendia.
Assim sendo, na Educao a Distncia prevalecer o carter educativo, pois o que
"seguramente no podemos mudar a sua definio de educao e a busca de produzir
um bom ensino do mesmo modo que em qualquer outra proposta educativa" (Litwin,
2001: 11).
2.2. A Educao a Distncia (EAD)
A Educao a Distncia (EAD) definida de formas diversificadas e em diferentes
fontes (documentos oficiais ou no) os conceitos apresentam singulares diferenas. No
existe consenso nas definies apresentadas: algumas consideram a EAD como
modalidade, outras, como forma, estratgia, processo educativo ou metodologia de
ensino. Umas focalizam o lado inovador proporcionado pela utilizao das tecnologias
da comunicao, outras privilegiam a relao professor/aluno marcada pela separao
entre espao e tempo. "Sem dvida, as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de
aula, de espao e de tempo, estabelecendo novas pontes entre o estar juntos fisicamente
e virtualmente" (Moran, 2000: 08).
O conceito oficialmente usado pela legislao brasileira em vigor est contido no Artigo
Io do Decreto n.u 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta a EAD no Brasil,
da seguinte forma:
"Educao a Distncia uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediao de recursos didticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informao, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicao".
Nessa definio observa-se que a EAD tida como forma de ensino e no como
educao. Ora, entre esses dois termos subjazem distintas concepes pedaggicas.
Enquanto ensinar d nfase aos contedos e sua transmisso como repasse de
informao, a educao um processo mais abrangente. Para Moran (2000), no ensino
so organizadas vrias atividades didticas para ajudar os alunos a compreender reas
especficas do conhecimento, como cincias, histria ou matemtica. Na educao
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS SM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM; EVASO E PERMANNCIA
busca-se integrar ensino e vida, conhecimento e tica, reflexo e ao, a ter uma viso
de totalidade, alm de ensinar. Enfim,
Educar colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizaes -transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. ajudar os alunos na construo da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habilidades de compreenso, emoo e comunicao que lhes permitem encontrar seus espaos pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidados realizados e produtivos. (Moran, 2000: 13)
Portanto, ensinar est relacionado transmisso enquanto que o termo educao mais
abrangente, pois diz respeito construo do conhecimento e esta realizada
socialmente na interao entre educando e educador. Alves (1998), acredita que
preciso reconhecer que o termo 'educador' como o termo 'educao9' bastante
amplo, uma vez que todo ser humano torna-se um educador no seu contato com os
outros. De acordo com Freire, para um educador ou educadora,
"ensinar no um ato mecnico de transferir aos educandos o perfil do conceito do objeto. Ensinar sobretudo fazer possvel que os educandos, epistemologicamente curiosos, vo se apropriando do significado profundo do objeto, j que somente atravs da sua apreenso podem aprend-lo." (Freire, 1996a: 56)
A transmisso ou a construo do conhecimento, tanto em cursos presenciais quanto a
distncia, depender da orientao terico-metodolgica adotada, e no do meio
tecnolgico escolhido. Tradicionalmente, privilegiava-se o repasse de conhecimento, a
atitude passiva do aluno, a memorizao e a quantidade de elementos apreendidos de
um contedo previamente escolhido. Para tal fim, o material impresso, o rdio e a
televiso, enquanto veculos de comunicao de via nica, so satisfatrios. Mas, isto
transmisso de informao e no podemos confundi-la com o processo educativo a
distncia, pois este implica a participao e a comunicao como se do, por exemplo,
numa proposta construtivista. Nesta, a escolha e a combinao dos meios prevem a
possibilidade de uma comunicao interativa e os proponentes tcnicos devem favorecer
o dilogo e as discusses. No podemos confundir os meios e instrumentos com o
processo de comunicao e a estratgia didtica, pois "no interessa uma informao em
si mesma, mas uma informao mediada pedagogicamente" (Gutirrez e Prieto, 1994:
62).
9 A autora destaca que o termo 'educador' foi recuperado nos fins da dcada de 70 e incio da de 80 e tem o sentido de um chamamento tico sobre a responsabilidade social do profissional da educao (Alves, 1998).
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
Gutirrez e Prieto (1994) destacam as vantagens da EAD, que so: massividade espacial, menor
custo por estudante, populao escolar diversificada, individualizao da aprendizagem,
quantidade sem diminuio da qualidade, e autodisciplina de estudo.
A massividade espacial deve-se falta de limitaes territoriais da EAD e s possibilidades de
atender aos alunos dispersos geograficamente, isto , residentes em locais onde no haja
instituies tradicionais de ensino. Essa uma vantagem interessante, pois os alunos podero
permanecer no seu meio cultural e natural, no precisando mudar-se para os grandes centros
urbanos em busca de escolarizao, mas a efetivao da EAD para este pblico depender do
recurso tecnolgico escolhido e da adequao deste s condies scio-culturais e financeiras
do usurio, podendo variar da correspondncia Internet, usando apenas um ou mais recursos
conjugados.
A questo do menor custo possibilita o acesso de um nmero maior de estudantes, que no
tiveram acesso educao pelas escolas convencionais. Porm, sabemos que a EAD exige
grande investimento financeiro na preparao de pessoal, na produo de materiais e na
assistncia ao aluno. Para EAD via Internet, por exemplo, necessrio um grande investimento
para a compra e manuteno de laboratrios de informtica, por parte da instituio, e de
investimentos pessoais por parte do aluno, na aquisio de computador pessoal equipado
adequadamente, pois se trata de um recurso ainda pouco acessvel para a maioria da populao
brasileira.
O atendimento a uma populao escolar diversificada , sem dvida, uma grande vantagem
diante da necessidade da educao permanente dos trabalhadores, mas alguns programas que
propem atender a um grande nmero de pessoas indiscriminadamente, ou seja, sem alguns
requisitos bsicos para a compreenso necessria, esbarram no problema da evaso, pois
permanecem aqueles que j estiverem preparados.
A individualizao da aprendizagem traduzida no respeito ao ritmo individual do aluno;
porm, percebe-se que trazemos como herana do ensino tradicional, o cumprimento de
horrios, de calendrios e de programas pr-determinados; portanto, isso faz parte da nossa
cultura escolar, e, na EAD, embora possamos adequar nossos horrios de estudo ao nosso
tempo, necessitamos de orientaes sobre o gerenciamento do mesmo e do estabelecimento de
datas de incio e trmino das atividades, alm de
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS PE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
uma comunicao bilateral com freqentes mensagens de incentivo para evitar o
isolamento e a desistncia.
Por ltimo, a EAD no pode perder de vista a questo da qualidade da educao e esta,
sem dvida deve superar a quantidade, ao atender s demandas educativas e culturais.
Alm das vantagens da EAD, Gutierrez e Prieto (1994) enumeram alguns riscos que
esto relacionados com os ensinos industrializado, consumista, institucionalizado,
autoritrio e massificante.
O ensino industrializado "leva consigo a mecanizao, despersonalizao, padronizao
e institucionalizao" e "exige a diviso de trabalho, economias de escala, controle de
qualidade, uniformidade de distribuio, avaliao objetiva e algumas outras
caractersticas que so tpicas da produo industrial" (Gutierrez e Prieto, 1994: 15). A
EAD assim praticada contrria ao ato educativo e desqualifica o trabalho do professor,
pois, segundo os autores, alm de desencadear os ensinos consumista, autoritrio e
massificante, que podero bem atender aos interesses financeiros da instituio que os
oferecem e aquisio de certificados dos que a praticam, mas contribuem
sobremaneira para o descrdito dessa modalidade de educao.
Esses fatores, sem dvida, contriburam para a depreciao e pela falta de crdito aos
certificados adquiridos atravs de cursos a distncia. Outros fatores como o uso
demasiado de tcnicas e a mediatizao10 do ensino feita atravs de materiais tidos
como auto-suficientes reforaram a descrena na EAD, muitas vezes concebida como
uma segunda oportunidade aos jovens ou adultos que abandonaram a escola ou se
encontravam fora da faixa etria normal de escolarizao".
A respeito da mediatizao do ensino feita atravs da elaborao de materiais tidos como auto-suficientes para aprendizagem, Litwin (2001: 14) contesta: "Se os materiais substituem as aulas convencionais e estas nunca so suficientes para o xito da aprendizagem, difcil que o material o assegure." A autonomia dos estudantes no deve ser confundida com o autodidatismo, pois o papel do professor na EAD no substitudo pelos materiais.
" Apesar do descrdito do ensino por correspondncia e das crticas feitas ao "Instituto Universal Brasileiro", ele vem exercendo um importante papel social no Brasil, tendo uma atuao efetiva h mais de 50 anos, oferece cursos profissionalizantes e supletivos, formando e certificando pessoas que no teriam chances de curs-los presencialmente. (Informaes obtidas no site http://www.uniiib.com.br. acessado em 30/03/2001)
http://www.uniiib.com.br/
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
O preconceito contra a EAD, segundo Corra (2001), constitui-se no primeiro impasse
para a sua consolidao no Brasil: o preconceito oriundo de uma cultura escolar
baseada na transmisso do conhecimento sem considerar o aluno como sujeito desse
processo de aprendizagem.
Com o uso adequado das novas tecnologias para uma prtica educativa de qualidade, a
distncia fsica no serve de parmetro para a definio de EAD, pois esta poder ser
superada pelas formas interativas que unem alunos e professores em redes de
aprendizagem. O destaque dado questo da distncia tornou a expresso 'Educao a
Distncia' condizente com inmeras definies encontradas, como defende Belloni
(1999) ao afirmar que os parmetros essenciais usados para definir EAD so a
separao professor/aluno aliada ao uso de meios tcnicos para compensar esta
separao.
No atual contexto, porm, as possibilidades de vencer as barreiras de tempo e espao
oferecidas pelas novas tecnologias, atravs dos encontros virtuais, da interatividade e da
comunicao entre docentes e alunos, caracteriza a modalidade a distncia mais pela
flexibilidade em torno da proposta educativa do que pela separao territorial entre os
sujeitos participantes do processo (Litwin, 2001). Ento, a EAD j no se define pela
distncia e deixa de ser fiel ao prprio nome. Tambm no se define pelos meios
utilizados como foi denominada a partir das primeiras experincias, pois, no incio,
eram chamadas de 'ensino por correspondncia'12 (Niskier, 1999). Essas experincias
foram registradas h mais de um sculo, como descreveu Litwin (2001), pois desde o
final do sculo XIX, nos Estados Unidos e na Europa, j existiam instituies
particulares que ofereciam cursos por correspondncia, que trabalhavam temas e
problemas vinculados a ofcios de menor valor acadmico.
Litwin (2001) afirma que foram necessrias vrias dcadas at que a EAD se
estabelecesse no mundo dos estudos como uma modalidade competitiva perante as
ofertas de educao presencial. A autora destaca que, a partir da dcada de 60, vrias
12 De acordo com Niskier (1999: 53), a respeito da histria da origem do termo Educao a Distncia: "Um dos pioneiros h de ter sido o educador sueco Borje Holmberg, numa regio que valoriza muito esta forma de aprendizagem. Ele mesmo confessou que ouviu a expresso na universidade alem de Tbingen. Em vez de citar 'estudo por correspondncia' os alemes usavam o termo 'Fernstudium' (educao a distncia) ou 'Fernunterricht' (ensino a distncia). O mundo ingls ter conhecido a expresso a partir de Desmond Keegan, em 1966, ou Charles Wedemeyer, que foi quem a introduziu na Universidade Aberta da Gr-Bretanha, no final da dcada de 60".
A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORS UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA
universidades a distncia foram criadas, como a Universidade de Wisconsin, nos Estados
Unidos; a Open University, na Inglaterra; a Fer Universitat, na Alemanha e a Universidade
Nacional de Educao a Distncia, na Espanha, possibilitando aos seus egressos competirem
por postos de trabalho com os graduados nas universidades presenciais, contribuindo assim para
a superao de muitos preconceitos a respeito da EAD. Isto vem ao encontro das idias
defendidas por Lvy (1999), pois, para ele, a aprendizagem a distncia deixa de ser o 'estepe' do
ensino, devendo, em breve, tornar-se, seno a norma, ao menos a ponta da lana.
No relatrio da Conferncia Mundial sobr