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MARIA DE LOURDES COELHO A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASÃO E PERMANÊNCIA Orientadora: Ana Lúcia Amaral Belo Horizonte 2001

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MARIA DE LOURDES COELHO

A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES

UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE

APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA

Orientadora: Ana Lcia Amaral

Belo Horizonte 2001

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO: Conhecimento e Incluso Social em Educao

ATA DA 364a (Trlcentsima Sexagsima Quarta) DEFESA DE DISSERTAO NO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO: Conhecimento e Incluso Social em Educao DA FAE/UFMG.

Aos onze dias do ms de setembro do ano dois mil e um, realizou-se na sala 307 da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas Gerais, uma reunio para apresentao e defesa da dissertao: A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA, requisito final para obteno do Grau de Mestre em Educao. A banca examinadora, aprovada pelo Colegiado em 20/07/01, foi composta pelos seguintes professores: Ana Lcia Amaral - Orientadora, Glaura Vasques de Miranda e Angela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben. Os trabalhos iniciaram-se s 14 horas e 15 minutos com a sntese da dissertao feita pela mestranda. Em seguida cs membros da banca fizeram uma argio pblica candidata. Terminadas as argies, a banca examinadora se reuniu. sem a presena da candidata e do pblico, para fazer a avaliao final da defesa da dissertao apresentada. Em concluso, a banca examinadora considerou a dissertao aprovada tal como est posta, destacando a atualidade do tema, a competncia com que foi tratado, a riqueza e a contemporaneidade da bibliografia e a organicidade do trabalho. Sugere-se a sua publicao. O resultado final foi comunicado publicamente a MARIA DE LOURDES COELHO e ao pblico. concedendo aluna o ttulo de Mestre em Educao, devendo encaminhar Secretaria do Programa a verso final em 04 (quatro) exemplares. Nada mais havendo a tratar, eu Pura Lcia Oliver Martins. Professora do Programa de Ps-graduao em Educao, lavrei a presente ata que depois de lida e aprovada ser por mim assinada e pelos membros da banca examinadora. Belo Horizonte, 11 de setembro de 2001.

MARIA DE LOURDES COELHO

A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES

UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE i

APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao

em Educao da Faculdade de Educao da

Universidade Federal de Minas Gerais - Linha de

Pesquisa: Ensino Superior: Formao de Professores,

Didtica e Avaliao.

Orientadora: Ana Lcia Amaral

Belo Horizonte

2001

Ao meu esposo Aerton e aos meus filhos Pedro, Paulo e Dalila,

pelo amor, carinho e incentivo.

A minha famlia, em especial, s mulheres - mes, irms, amigas e, sobretudo, educadoras -

Maria do Socorro (me), Salom, Maria, Celina (irms) e Cllia (cunhada).

Ao meu pai (ia memoriam) que faz parte desta caminhada.

AGRADECIMENTOS

Reconheo a manifestao dos Anjos orientadores e colaboradores, em todos que

compartilharam comigo os obstculos da jornada estudantil e profissional, e que, com

seus gestos, exemplos e palavras, conduziram-me concluso de mais uma etapa.

Portanto, agradeo:

- Ana Lcia Amaral, orientadora e professora da disciplina Didtica do Ensino

Superior, pelo atendimento carinhoso e incentivador, pelas indicaes das leituras e dos

caminhos trilhados, e pela reviso da escrita e reescrita desta dissertao e de outros

textos apresentados em seminrio, simpsio, congresso e encontro de pesquisa durante a

realizao do Mestrado;

- Juliane Corra (coordenadora da Ctedra da Unesco de Formao Docente na

Modalidade de Educao a Distncia/FaE/UFMG, durante o primeiro ano de realizao

do meu curso de mestrado) pela iniciao no estudo do tema desta dissertao, pelo

apoio e, sobretudo, pela amizade;

- Ao Renato Mesquita ( professor do Departamento de Engenharia Eltrica da Escola de

Engenha/UFMG) pelo incentivo e dedicao de tempo para entrevista, pela

disponibilizao de materiais e informaes para realizao desta pesquisa, e demais

organizadores do Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia";

- Aos professores Luiz Alberto Oliveira Gonalves, Maria de Lourdes Rocha Lima e

Pura Lcia Oliver Martins, colaboradores na elaborao do projeto de pesquisa, e aos

demais Professores do Programa de Ps-Graduao em Educao da FaE/UFMG;

- As professoras Glaura Vasques de Miranda e Lucola Licnio de Castro Paixo Santos, que aceitaram-me como aluna (disciplina isolada), antes do meu ingresso no Programa,

pelo incentivo na continuao dos estudos;

- Aos colegas Analise, Ana Marta, Mrcio, Maria Alice e Sandra (colaboradores na

elaborao do projeto de pesquisa), ao Daniel Mill e Shirley pelas trocas, ateno e

apoio, e a todos os colegas do Programa de Ps-Graduao em Educao;

- A Mary Elizabeth Dantas pelas indicaes de leituras, incentivo e amizade, e aos

demais servidores da Biblioteca/FaE;

- Aos colegas Jovanira Lzaro Pereira, Osana Coelho, Nilce Matos, Glucia Fernandes,

Marcos Evangelista Alves e a todos os demais servidores dessa Faculdade, pelo apoio,

atendimento e colaborao;

- A Maria Luiza Pereira Angelim pela concesso da bolsa para cursar o III Curso de

Especializao de Educao Continuada e a Distncia /UnB e aos demais professores da

Faculdade de Educao da UnB, pelo incentivo e acolhida;

- A Maria das Graas Pereira Costa pelos trabalhos e hospedagens compartilhadas em

Braslia e a todos os colegas do III Curso de Educao Continuada e a Distncia / UnB;

- Ao professor Paulo Roberto Bordoni, s colegas Cacilda, Ktia, Eula e demais

servidores da UTRAMIG, pelo companheirismo, carinho e ateno;

- A Senhorinha de Andrade, orientadora e incentivadora da minha atuao profissional,

Maria Guilhermina, pelo carinho e ateno, e aos demais ex-colegas de trabalho no

CEFET/MG;

- A Maria Lcia Ferreira Freitas pelo incentivo e amizade e aos outros colegas do Curso de Pedagogia/FaE;

- A Luciana Laender pela amizade e incentivo e demais colegas de Curso de Qumica

no CEFET/MG;

- A CAPES que, por meio do Programa de Apoio Pesquisa em Educao a Distncia, contribuiu financeiramente com o desenvolvimento deste trabalho.

A FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES UNIVERSITRIOS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: EVASO E PERMANNCIA

RESUMO

'Este trabalho investigou as causas da evaso e os fatores que contribuem para a permanncia de

participantes de cursos ofertados na modalidade de Educao a Distncia (EAD) via Internet,

tendo como foco o Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela

Escola de Engenharia da Universidade Federal v de Minas Gerais (EE / UFMG), que se constituiu em um curso de formao continuada de

docentes universitrios. Os objetivos especficos foram: buscar subsdios para o planejamento

de cursos promotores da modalidade de EAD; discutir possibilidades e limites da educao a

distncia, via Internet, como oportunidade de formao continuada do professor universitrio; e

verificar os possveis vnculos da evaso com os aspectos da estrutura metodolgica e a

dinmica da interatividade em cursos a distncia via Internet.

De cunho qualitativo, esta pesquisa desenvolveu-se atravs de um estudo de caso, e

foram utilizados questionrios on-line, entrevistas e consultas ao material didtico

utilizado, lista de discusso e s mensagens eletrnicas trocadas durante a realizao

. do Curso, para a coleta dos dados. Os dados foram tratados quantitativa e

qualitativamente, luz da bibliografia consultada.

Foram tomadas como base de apoio terico para as questes centrais de anlise desta pesquisa

as obras do filsofo contemporneo Pierre Lvy (professor do Departamento de Hipermdia da

Universidade de Paris Vili), referentes aos seguintes termos: aprendizagem em rede,

ciberespao, interatividade e a nova relao com o saber. Outros autores foram consultados

para as questes referentes formao do professor reflexivo, crtico e criativo, que busca

constante aprendizado e reflexo sobre suas aes e o emprego das novas tecnologias na

Educao.

A investigao ocorreu a partir de algumas suposies quanto evaso em cursos a distncia,

via Internet como: um dos grandes empecilhos para o acompanhamento dos cursos a distncia

a falta da tradicional relao face a face entre professor e alunos; a inabilidade em lidar com as

novas tecnologias cria dificuldades em acompanhar as atividades propostas pelos cursos a

distncia; a ausncia de reciprocidade da comunicao, inviabilizando a interatividade, contribui

para o alto ndice de evaso; e a

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falta de um agrupamento de pessoas numa instituio fsica faz com que o aluno de

EAD no se sinta includo num sistema educacional. Embora estas suposies no

tenham sido totalmente contempladas, a investigao apontou outras causas da evaso e

emergiram alguns problemas inerentes ao uso das novas tecnologias da informao e

comunicao no meio universitrio como a "falta de tempo" do professor universitrio

para lidar com o ensino e a aprendizagem em ambientes virtuais e para dedicar sua

formao continuada.

SUMRIO

RESUMO............................................................................................................... 1

CAPTULO 1. INTRODUO.............................................................................. 3 1.1. A escolha do objeto de pesquisa ...................................................................... 4 1.2. Suposies referentes ao objeto da pesquisa..................................................... 7

1.3. Delimitao do problema................................................................................. 9 1.4. Objetivos da pesquisa ....................................................................................... 12 1.5. Procedimento metodolgico ............................................................................ 12

1.5.1. A escolhas dos instrumentos e a coleta de dados............................................ 13

1.6. A estrutura da dissertao ................................................................................. 18

CAPTULO 2. A EDUCAO A DISTNCIA NO CONTEXTO DAS NOVAS

TECNOLOGIAS DA INFORMAO E COMUNICAO ................................. 20

2.1. Definio de Educao...................................................................................... 20

2.1.2. A educao emergente (ou necessria?) no tempo atual .................................. 21

2.2. A Educao a Distncia (EAD) ......................................................................... 25

2.2.1. A EAD e as novas tecnologias da informao e comunicao....................... 31

2.2.1.1. A Internet na educao................................................................................ 36

2.2.3. A EAD na legislao em vigor ...................................................................... 43

2.2.4. A EAD no ensino superior ............................................................................. 45

2.2.4.1. A EAD e a sua implementao na UFMG.................................................. 51

CAPTULO 3. O PROFESSOR UNIVERSITRIO E O DESAFIO DOS

AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM................................................. 57

3.1. A formao do professor universitrio .............................................................. 57

3.2. O papel do professor: de transmissor de informao a "animador da

inteligncia coletiva" ............................................................................................... 61

3.3. O trabalho docente nos novos tempos e espaos virtuais.................................. 67

CAPTULO 4. EVASO E PERMANNCIA NA LITERATURA

PERTINENTE ....................................................................................................... 77

4.1. A evaso escolar como parte do fenmeno da excluso social ........................ 77

4.2. As causas da evaso em cursos a distncia ....................................................... 83

4.3. Os fatores que contribuem para desistncia em cursos a distncia.................... 83

4.4. Os elos entre a literatura consultada e as suposies levantadas........................ 88

CAPTULO 5. PLANEJAMENTO DE CURSOS NA MODALIDADE DE EAD

VIA INTERNET.................................................................................................... 90

5.1. Consideraes acerca da escolha dos recursos tecnolgicos e metodolgicos

no planejamento ....................................................................................................... 90

5.1.1. A Internet como meio de concretizao da EAD............................................. 92

5.2. Os papis dos alunos e dos profissionais da educao via Internet ................... 93

5.3. A simulao do espao presencial no espao virtual......................................... 96

5.4. A comunicao interativa na EAD ................................................................... 99

5.5. A avaliao em cursos via Internet................................................................... 101

CAPTULO 6. UM ESTUDO DE CASO: O CURSO DE "TECNOLOGIA DE

ENSINO A DISTNCIA VIA INTERNET" .......................................................... 104

6.1. A escolha do ambiente de Rede usado no Curso.............................................. 104

6.2. A estrutura organizacional do Curso ................................................................. 106

6.2.1. O contedo trabalhado nos mdulos do Curso .............................................. 106

6.3. As comunicaes realizadas durante o Curso.................................................... 109

6.4. A avaliao no Curso ........................................................................................ 117

6.5. Consideraes a respeito do Curso................................................................... 118

CAPTULO 7. OS SUJEITOS DA PESQUISA ..................................................... 121

7.1. Caracterizao dos participantes do Curso ....................................................... 121

7.1.1. O sexo e a faixa etria ................................................................................... 126

7.1.2.0 estado civil e o sexo .................................................................................... 127

7.1.3. A formao acadmica................................................................................... 128

7.1.4. A carga horria de trabalho semanal.............................................................. 129

7.1.5. Tempo de docncia no ensino superior.......................................................... 130

7.2. A "voz" dos participantes ................................................................................. 132

7.2.1. Motivao e expectativa................................................................................. 132

7.2.2. Formas de participao ................................................................................. 136

7.2.3. Avaliao do Curso pelos participantes ......................................................... 138

CAPTULO 8. EVASO E PERMANNCIA DO CURSO EM FOCO.................. 145

8.1. Os fatores que contriburam para a permanncia no Curso................................ 145

8.2. As causas da evaso no Curso .......................................................................... 146

8.3. Apurao e anlise dos outros questionrios aplicados ..................................... 149

8.3.1. Resultados do questionrio aplicado "s para mulheres" ............................... 150

8.3.2. Resultado do questionrio aplicado para todos os homens do Curso ............. 152

8.3.3. Um caso singular............................................................................................. 154

8.4. O esperado e o constatado.................................................................................. 156

CAPTULO 9. CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 159

REFERNCIA BIBLIOGRFICA......................................................................... 171

GLOSSRIO .................................................................................................... ; .... 181

ANEXOS................................................................................................................. 184

Anexo I: Roteiro da entrevista com o professor-organizador do Curso de

"Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet" ................................ 184

Anexo II. Questionrio aplicado aos participantes do Curso de "Tecnologia de

Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela Escola de

Engenharia/UFMG .............................................................................. 185

Anexo III. 1. Questionrio enviado "s para mulheres"......................................... 188

2. Questionrio para Regina............................................................... 189 3. Questionrio "s para os homens" ................................................. 190

ABSTRACT............................................................................................................ 191

NDICE DAS TABELAS

1. Nmero de inscritos no curso, nmero de questionrios respondidos e o percentual

correspondente ........................................................................................................ 122

2. Codificao dos questionrios respondidos e situao dos participantes da pesquisa

.............................................................................................................. 124

3. Nomes das instituies, n." de inscritos e n. de questionrios respondidos ....... 125

4 . Diviso do n. de participantes da pesquisa por gnero e por faixa etria........... 126

5. Estado civil dos participantes concluintes e desistentes divididos por gnero ... 128

6. Formao acadmica dos concluintes e desistentes do Curso ............................. 128

7. Carga horria de trabalho semanal dos concluintes e desistentes ....................... 130

8. Tempo de docncia no ensino superior dos concluintes e desistentes ................ 130

9 - Motivos que levaram os participantes a se inscreverem no Curso .................... 133

10. Expectativas dos inscritos no Curso ................................................................ 134

11. Realizao das expectativas dos concluintes e desistentes do Curso ................. 134

12. Justificativas das expectativas .......................................................................... 135

13. Forma de participao no Curso dividida entre os grupos de concluinte e desistente

............................................................................................................. 136

14. Local de acesso ao Curso pelos concluintes e desistentes do Curso .................. 136

15. Forma de apresentao do material em que os concluintes e desistentes

preferencialmente realizavam as leituras ................................................................ 137

16. Forma de participao de concluintes e desistentes na lista de discusso........... 138

17. Atividades bem conceituadas na opinio dos participantes do Curso................. 139

18. Dificuldades no entendimento do Curso pelos concluintes e desistentes ........... 140

19. Dificuldades em cumprir as tarefas do Curso pelos concluintes e desistentes .. 141

20. Quantidade de desistentes por mdulo do Curso............................................... 147

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CAPTULO 1

INTRODUO

Este trabalho prope-se a investigar as causas da evaso e os fatores que contribuem

para a permanncia de participantes de cursos ofertados na modalidade de Educao a

Distncia (EAD) via Internet, a partir de um estudo de caso do Curso de "Tecnologia de

Ensino a Distncia Via Internet", oferecido pela Escola de Engenharia da Universidade

Federal de Minas Gerais (EE / UFMG), que se constituiu em um curso de formao

continuada de docentes universitrios. Participaram dele 55 professores de diversas

Escolas de Engenharia de Minas Gerais filiadas Coalizo Minas de Escolas de

Engenharia que solicitou e patrocinou a realizao do mesmo. O curso foi organizado

por dois professores: um do Departamento de Engenharia Eltrica e outro do

Departamento de Engenharia Eletrnica, ambos da UFMG, e por um graduando do

primeiro departamento citado.

A EE / UFMG uma das pioneiras nesta Universidade na adoo de cursos a distncia,

por meio da iniciativa bem sucedida do Ncleo de Ensino a Distncia que usa a Internet

para atender demanda interna e externa da comunidade acadmica, na aprendizagem

do uso das novas tecnologias computacionais. Entre outros, o Curso de "Tecnologia de

Ensino a Distncia Via Internet" foi ministrado nos meses de maio, junho e julho de

1.999 e teve como objetivo estudar a utilizao da Internet no ensino a distncia. Em

proposta interativa2, ao trmino do Curso, todos os participantes (55 professores de

vrias Escolas de Engenharia de Minas Gerais) deveriam ser capazes de elaborar seus

prprios cursos.

'O Ncleo de Educao a Distncia da EE/UFMG (Endereo eletrnico : www.eadl.eee.ufmg.br/), coordenado pelo professor Renato Mesquita, j atendeu a mais de 3.000 alunos de graduao e de extenso universitria para o Curso de "Programao em Linguagem C" oferecido totalmente via Internet. Outros cursos tambm oferecidos pelo Ncleo so: "Manual de Utilizao do UNIX ('UNIXhelp for users')"e "Curso Bsico de MOO".

'A expresso proposta interativa deve-se estrutura metodolgica do Curso em questo e ao recurso tecnolgico usado. Para Lvy (1999), o grau de interatividade proporcionado por um meio tecnolgico pode ser medido pela possibilidade de apropriao e de personalizao da mensagem recebida, pela reciprocidade da comunicao, pela virtualidade e pela telepresena.

http://www.eadl.eee.ufmg.br/

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O Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet", de carter experimental, foi criado

"de um dia para o outro", atendendo aos anseios dos professores em usar a modalidade de

Educao a Distncia, como relatou um dos professores-organizadores, em conversa informal. O

objetivo proposto foi atingido por aproximadamente 50% dos participantes que o concluram. A

falta de motivao e de disciplina para gerenciar o tempo de estudo com autonomia, de acordo

com esse professor, contribuiu para a desistncia de alguns participantes ao longo do Curso.

Atendendo a novos pedidos, o mesmo poder ser repetido, mas exclusivamente para professores

da UFMG. Foi usado o ambiente "TopClass", um servidor de cursos para a Internet que oferece

grandes possibilidades de interao. Foram arquivadas todas as mensagens enviadas e recebidas

pelos alunos e organizadores do Curso. Esse arquivo foi utilizado como uma das fontes de dados

para analisar as dificuldades encontradas no percurso e como forma de interao que perdurou ao

longo do C urso. Para dar continuidade coleta de dados, a lista de endereos eletrnicos dos

inscritos, concluintes ou no, foi disponibilizada pelos organizadores do curso, o que possibilitou a

aplicao de questionrios via e-mails3. Ao longo da anlise do material coletado foi realizada

uma entrevista com o professor Renato Mesquita e este reforou o interesse pelos resultados desta

pesquisa para que se possa refletir sobre as questes referentes Educao, visando

melhoria no atendimento e na participao dos alunos, pois, sendo ele e os demais organizadores

da rea de Cincias Exatas, faltam-lhes subsdios para tal.

1.1. A escolha do objeto de pesquisa

O meu interesse pessoal e profissional pela Educao a Distncia, pela formao docente e pelo

uso das novas tecnologias da comunicao e da informao no processo de ensino e

aprendizagem, motivou-me a realizar esta pesquisa, pois sou pedagoga lotada na Ctedra cia

UNESCO cie formao docente na modalidade de Educao a Distncia na Faculdade de

Educao da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE / UFMG). Como o prprio nome

sugere, a Ctedra tem como objetivo promover a preparao de professores para utilizar a

modalidade de EAD em suas prticas docentes. Para este fim, tem o propsito de receber

professores visitantes de universidades do exterior, que tm experincias bem sucedidas em

EAD, para promover cursos,

E-mail correio eletrnico um mtodo de envio de mensagens via computadores.

i I

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seminrios e debates. Tendo participado da organizao do / Curso de EAD promovido

por um dos professores visitantes e oferecido aos docentes da UFMG, fiquei

incomodada com o nmero de pessoas que no concluram o curso, apesar do

entusiasmo inicial. Julguei necessrio investir na busca das causas desta evaso, bem

como identificar os fatores que contribuem para a permanncia dos alunos nos

programas, e para melhor entender os mecanismos da EAD, aprimorando tambm, a

minha atuao profissional, possivelmente na organizao de novos cursos nesta

modalidade.

Neste sentido, participei de dois cursos oferecidos a distncia, ministrados pela

Universidade de Braslia (UnB): o primeiro foi o Manual de Criao e Elaborao de

Materiais para o Ensino a Distncia, proporcionado inteiramente a distncia, via

Internet, com durao de seis meses. O segundo, o III Curso de Especializao em

Educao Continuada e a Distncia - 1999/2000, que utilizou a Internet, material

impresso, fitas de vdeo e teve dois momentos presenciais .

Alm dos vrios trabalhos individuais e em grupo exigidos em ambos os cursos, fiz

anotaes das dificuldades que enfrentei em funo da virtualidade das relaes com a

aquisio de conhecimentos, com os professores e com os colegas dispersos

geograficamente. Estas anotaes e reflexes foram ponto de partida para a construo

do objeto desta pesquisa, pois me permitiram fazer suposies a respeito das possveis

causas de evaso em cursos a distncia, como o / Curso de EAD, oferecido pela Ctedra

da UNESCO de formao docente na modalidade de Educao a Distncia na

Faculdade de Educao e o Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet"

promovido pelo Ncleo de Educao a Distncia da Escola de Engenharia Eltrica,

ambos da UFMG.

O / Curso de EAD

Durante a realizao do / Curso de EAD promovido pela Ctedra foi-me possvel fazer

as seguintes observaes: o primeiro momento presencial contou com o

4 Sobre a minha participao nesses cursos, conclui apenas o 2o. A presena (apoio) dos tutores, a existncia de fruns de discusso, as tcnicas de dinmica de grupo aplicadas para a consolidao das turmas e a realizao dos trabalhos em grupo contriburam para que eu levasse a cabo o 2o curso, promovido pela UnB.

it

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comparecimento de quase todos os inscritos; no segundo encontro estava presente

aproximadamente a metade, e, no terceiro, a presena no chegou a um tero do nmero

de inscritos. Tambm foi pequena a participao nos chats3 e nas comunicaes off-

line6. Os certificados de concluso foram conferidos a aproximadamente um tero dos

participantes, ou seja, aos que estiveram presentes em pelo menos dois momentos

presenciais.

possvel que vrios fatores externos tenham contribudo para que os 100 inscritos no

acompanhassem integralmente o curso, participando dos encontros presenciais, das

comunicaes on e off-line e da indicao de leituras. A falta de domnio tcnico dos

organizadores e a precariedade dos equipamentos tecnolgicos da instituio

dificultaram ainda mais a participao. Tambm no foi possvel arquivar ou obter o

controle da participao via Internet dos inscritos, o que dificultaria a coleta de dados

para a realizao de uma pesquisa. O contato, tanto presencial quanto a distncia, com os

concluintes e desistentes tornou-se invivel, devido falta de registro dos dados

referentes aos mesmos, como endereo residencial e unidade de origem (local de

trabalho), pois o curso foi oferecido a professores da UFMG. A matrcula foi realizada

atravs do correio eletrnico (e-mail) e presencialmente. Como o contato a distncia com

os participantes foi feito atravs da Internet, apenas foram registrados os endereos

eletrnicos dos mesmos; muitos deles no responderam s mensagens enviadas

posteriormente e muitas foram devolvidas, sendo possvel deduzir que os dados j

estavam desatualizados ou os endereos desativados.

O Curso de "Tecnologia de Ensino a Distncia Via Internet"

Ao contrrio do / Curso de EAD oferecido pela Ctedra, no Curso de "Tecnologia de

Ensino a Distncia Via Internet" ministrado pela EE / UFMG, que se tornou o estudo de

caso desta dissertao, a comunicao entre os participantes e os organizadores, a

princpio, no foi problema, devido ao preparo tcnico dos mesmos, ao equipamento e

ao ambiente de rede (TopClass) usados. Foi possvel a avaliao durante o processo, ou

5 Chat ( Internet Relay Chat) ou teleconferncia uma forma de comunicao on line, isto , so programas que possibilitam a conversa entre um ou mais usurios de computadores, ao mesmo tempo.

6 Off-litne so programas que permitem a comunicao entre computadores desconectados, tornando possvel o acesso mensagem em tempos diferentes, pois esta fica arquivada em um local apropriado.

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seja, a cada realizao das tarefas dos sucessivos mdulos e, ao final, foi avaliada a

produo de um curso a ser dado via Internet, desenvolvido individualmente ou em

grupo pelos concluintes. Tambm foi feito o controle das entradas dos alunos no site7 do

curso e foram arquivadas todas as mensagens trocadas, durante o mesmo, entre

organizadores e participantes. Ao aluno que no acessava o mdulo no tempo

programado eram enviadas mensagens de incentivo. Mesmo assim, o ndice de

desistncia dos participantes foi de aproximadamente 50%. Foi possvel entrar em

contato com a maioria dos inscritos atravs dos endereos eletrnicos e de outros dados

que foram arquivados, como as correspondncias eletrnicas trocadas entre alunos e

organizadores, tomando assim, vivel a investigao das causas da evaso, consoante a

proposta desta pesquisa.

Portanto, a escolha do Curso de "Educao a Distncia Via Internet", oferecido pela

EE/UFMG, como foco desta proposta de estudo de caso, se deve a vrias razes. A

primeira, porque o principal propsito desta investigar as causas da evaso em cursos

de formao continuada de professores na modalidade de EAD via Internet semelhante

formatao deste Curso. A segunda, porque um curso que surgiu da solicitao dos

professores interessados em utilizar esta modalidade de educao, aps conhecerem as

experincias bem sucedidas do Ncleo de Educao a Distncia da EE/UFMG.

Portanto, no foi um curso oferecido a curiosos ou imposto a um grupo qualquer.

Finalmente, este apresentou condies ideais para uma comunicao interativa: o

ambiente de rede usado ofereceu recursos variados; no houve falhas no funcionamento

dos equipamentos; durante o Curso foram enviadas mensagens de incentivo e de

chamamento aos ausentes; os esclarecimentos e as respostas s dvidas apresentadas

foram dados a contento. No entanto, apesar das condies favorveis ao funcionamento

deste Curso, o ndice de evaso, como j foi dito, foi de aproximadamente 50%.

1.2. Suposies referentes ao objeto da pesquisa

A EAD ganhou novo cenrio na dcada de 90 com o surgimento e a popularizao da

Internet, atualmente considerada como um recurso eficaz para a necessria continuidade

de aprendizagem e trocas de conhecimento entre os docentes do ensino superior. O

Site: qualquer uma das redes ou conjunto de pginas de uma organizao que est publicado na Internet.

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investimento que vem sendo feito pela UFMG em equipamentos, laboratrios, preparo

de pessoal como a formao continuada de professores, demonstra a preocupao desta

universidade para com o assunto e aponta a necessidade de investimento em pesquisas

visando melhor adequao e otimizao dos recursos humanos e tecnolgicos.

Nesta perspectiva, fao o seguinte questionamento:

Em um contexto em que a EAD de maior importncia, tendo ganhado espao nas

leis, nas mdias e no meio universitrio, porque ento os altos ndices de evaso?

As formas de utilizao dos recursos tecnolgicos tm favorecido a interatividade entre

participantes e coordenadores dos cursos?

Considerando a evaso como um fator freqente em cursos a distncia, a prtica tem

apontado que o xito depende de programas bem definidos, material didtico adequado,

professores capacitados e conjugao de meios apropriados a facilitar a interatividade,

em conformidade com a realidade dos alunos a serem atendidos. Alm destes

elementos, somam-se o diagnstico das necessidades individuais e regionais e a

avaliao do curso durante e aps a sua realizao. A anlise destes fatores toma-se

necessria para a diminuio dos desperdcios de recursos, podendo ser preventiva para

a reduo do ndice de evaso que tem contribudo para o descrdito da EAD.

As minhas prticas e vivncias enquanto profissional e aluna de cursos a distncia e as

leituras de relatos de outras experiencias, levaram-me s seguintes suposies quanto

evaso em cursos a distncia, via Internet:

Um dos grandes empecilhos para o acompanhamento dos cursos a distncia a falta

da tradicional relao face a face entre professor e alunos, pois neste tipo de

relacionamento julga-se haver maior interao e respostas afetivas entre os

envolvidos no processo educacional;

H insuficiente domnio tcnico do uso do computador, principalmente da Internet,

ou seja, inabilidade em lidar com as novas tecnologias cria dificuldades em

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acompanhar as atividades propostas pelos cursos a distncia como: receber e enviar e-

mail, participar de chats, de lista de discusso, etc;

A ausncia de reciprocidade da comunicao, isto , a dificuldade em expor idias

numa comunicao escrita a distncia, inviabilizando a interatividade, contribui para

o alto ndice de evaso;

A falta de um agrupamento de pessoas numa instituio fsica, construda socialmente e destinada muitas vezes transmisso de saberes, assim como ocorre

no ensino presencial tradicional, faz com que o aluno de EAD no se sinta includo

num sistema educacional.

Ao investigar as causas da desistncia no Curso de "Tecnologia de Educao a

Distncia Via Internet", esta pesquisa buscou verificar a veracidade das suposies

supracitadas e ainda encontrar outras pistas que podero ser consideradas na

organizao de outros cursos de formao continuada de professores via Internet,

visando a um melhor aproveitamento e elevao do nmero de concluintes.

1.3. Delimitao do problema

A realidade da sociedade atual gera necessidade de reflexo e de mudanas,

especialmente na educao, a fim de que esta possa desempenhar seu papel na formao

do cidado. Para tanto, faz-se necessrio repensar a formao dos educadores, no

contexto das novas tecnologias da informao e da comunicao, bem como a

possibilidade desta formao acontecer via Internet, sendo mais um caminho que no

invalida as prticas pedaggicas tradicionais.

O emprego de novas tecnologias educacionais e o preparo do professor para inclu-las,

tanto no ensino presencial quanto a distncia ou em ambos combinados, constituem-se

em temas a serem investigados para a socializao e as intervenes na prtica

pedaggica. Conforme Lampert (1997), pesquisas na rea de formao continuada do

professor universitrio so necessrias, pois a bibliografia brasileira prioriza o professor

da educao bsica e os estudos estrangeiros divergentes em diferentes pases, nem

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sempre servem de parmetro e no so totalmente condizentes com a realidade do

Brasil.

Especificamente na rea da Educao a Distncia e formao continuada do professor, a

investigao cientfica se faz urgente devido premncia em acompanhar os cursos que

se proliferam nesta modalidade de educao: urge capacitar o professor universitrio,

terica e tecnicamente, no uso das tecnologias da comunicao e da informao, devido

s vrias mudanas surgidas no atual contexto scio-poltico, econmico e cultural no

mbito mundial.

Segundo Candau (1996), os projetos de implantao de novas tecnologias na educao,

em grande parte, so realizados por pessoas de formao tecnolgica e no pedaggica.

Como exemplo, a equipe de coordenadores do Curso de "Tecnologia de Ensino a

Distncia Via Internet", escolhido como campo para esta pesquisa, composta por

professores e um estudante da rea das Cincias Exatas. Como a proposta do curso foi

capacitar os participantes a construir cursos a distncia, no contou com uma reflexo

sobre a EAD e suas implicaes. Para Candau (1996: 17),

" necessrio que tais projetos sejam pensados, e, pelo menos na fase de planejamento, contem com a participao de educadores com uma formao atualizada e cientificamente bem preparada que atuariam tambm na esfera das decises. Importante colocar a tecnologia a servio da educao, mas partindo de uma concepo plenamente educacional".

Em outro trabalho, Candau (1997) comenta sobre os investimentos das universidades

em convnios com Secretarias de Educao para a formao continuada de professores

em servio, e questiona a concepo de formao presente nesse programas,

considerando que estes processos tambm ocorrem na prtica pedaggica cotidiana

reflexiva e critica.

A EAD, nos dias atuais, ganhou novo destaque e est crescendo como tema de debates

em seminrios e encontros de educadores, no meio acadmico, devido necessidade de

se extrapolar os muros da universidade, atendendo a um maior contingente de excludos

desta. Isto poder promover grandes benefcios sociais se no se limitar a uma mudana

quantitativa, mas tambm qualitativa, atravs de programas e pessoal preparados tcnica

e pedagogicamente para a utilizao das novas tecnologias educacionais.

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Entretanto, a avaliao de experincias nacionais e internacionais de cursos de EAD, via

Internet e outros meios, apresenta um ndice de evaso significativamente alto. A

respeito das causas de evaso em curso a distncia que utiliza especificamente a

Internet, no foi encontrado nenhum estudo exclusivo, o que aponta para a necessidade

de um tratamento mais especifico, de modo a preencher as lacunas desta modalidade de

educao cada vez mais presente nos meios universitrios. Alm disso, a relevncia

deste tema conferida pelo destaque que a EAD ganhou na lei de Diretrizes e Bases da

Educao em vigor ( Lei 9394/96).

A crescente utilizao da Internet, construindo novos espaos de ensino e aprendizagem

no mbito universitrio, justifica sobejamente esta pesquisa, neste momento de

mudanas advindas do processo de globalizao da economia e as conseqentes

intervenes no sistema educacional.

Com esta pesquisa, busquei conhecer alguns indicadores das causas e situaes mais

freqentes em que ocorrem a evaso. Investiguei tambm os fatores que colaboram para

a permanncia dos participantes nos cursos a distncia, em especial, nos cursos de

capacitao de professores. A partir de um estudo de caso, considerando as

possibilidades conferidas pela lei vigente e os recursos tecnolgicos disponveis para a

efetivao da Educao a Distncia, espero cobrir uma lacuna na literatura com

elementos tericos e prticos para esta temtica, carente de investimento por parte dos

pesquisadores.

Foram tomadas como base de apoio terico para as questes centrais de anlise desta

pesquisa as obras do filsofo contemporneo Pierre Lvy (professor do Departamento

de Hipermdia da Universidade de Paris VIII), referentes aos seguintes termos:

aprendizagem em rede, inteligncia coletiva, ciberespao, interatividade e a nova

relao com o saber. Outros autores foram consultados para as questes referentes

formao do professor reflexivo, crtico e criativo, que busca constante aprendizado e

reflexo sobre suas aes e o emprego das novas tecnologias na Educao, de acordo

com o paradigma educacional emergente defendido por Morais (1996: 65):

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"No haver espao para o professor que trabalha numa abordagem pedaggica tradicional, que enfatiza a transmisso, a cpia de cpia, onde contedos e informaes so passados diretamente do professor para o aluno, mediante um processo reprodutivo. (...) O modelo de formao de professores, de acordo com o novo referencial, pressupe continuidade, viso do processo, no buscando um produto completamente acabado e pronto, mas um movimento permanente de 'vir a ser'".

1.4. Objetivos da pesquisa

Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar as causas da evaso bem como os fatores que

favorecem a permanncia dos participantes em cursos oferecidos na modalidade de Educao a

Distncia, via Internet, a partir de um estudo de caso do Curso de "Tecnologia de Ensino a

Distncia Via Internet" promovido pelo Ncleo de Educao a distncia da Escola de

Engenharia Eltrica da UFMG, oferecido a professores de Escolas de Engenharia, membros da

Coalizo Minas de Escolas de Engenharia.

Os objetivos especficos deste trabalho so:

Buscar subsdios para o planejamento de cursos promotores da modalidade de EAD, de

acordo com os interesses dos professores da UFMG;

Discutir possibilidades e limites da educao a distncia, via Internet, como

oportunidade de formao continuada do professor universitrio;

Verificar os possveis vnculos da evaso com os aspectos da estrutura

metodolgica e a dinmica da interatividade em cursos a distncia via Internet.

1.5. Procedimento metodolgico

Esta pesquisa, de cunho qualitativo, desenvolveu-se atravs de um estudo de caso, devido

singularidade do que nos propomos investigar. Entende-se por estudo de caso, como o "estudo

profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado

conhecimento" (Gil, 1988: 45) . Para Ldke (1998), o caso, seja ele simples ou complexo e

abstrato, sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no

desenrolar do estudo, podendo ser similar a outro,

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mas distinto por ter interesse prprio. Portanto, tomaremos como unidade de estudo o

Curso de "Tecnologia de Educao a Distncia via Internet", promovido pelo Ncleo de

Educao a Distncia da Escola de Engenharia Eltrica / UFMG, visando a conhecer as

causas da evaso e os fatores que contribuem para a permanncia em cursos desta

natureza e suas possveis relaes com a interatividade entre professores e alunos,

localizados em espaos e tempos distintos.

A partir das experincias vividas em EAD foi possvel levantar algumas suposies

bsicas acerca das causas da evaso nos cursos na modalidade de EAD, conforme

descritas anteriormente. Esta investigao procurou aprofundar a compreenso destas

causas tendo como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, visando

torn-lo mais explcito. Pela prpria natureza do objeto da pesquisa, outras suposies

poderiam surgir durante o percurso deste trabalho e procuramos nos manter

constantemente atentos a novos elementos que emergiram, adequando os instrumentos

metodolgicos s eventualidades que se fizeram presentes.

Considerando que "a complexidade do estudo de caso est determinada pelo suporte

terico que serve de orientao ao pesquisador" (Ldke, 1998: 134), buscamos

complement-lo ao longo da pesquisa para bem fundament-la. Procuramos mapear a

literatura nacional existente relacionada com o tema e algumas indicaes de literatura

estrangeira, principalmente as que trazem relatos de experincias. Alm desta fonte,

continuamos a analisar os textos oficiais que regulamentam o estabelecimento da EAD,

principalmente os que se referem capacitao de professores. Como este tema tem

recebido especial ateno da mdia nos ltimos anos, tendo-se tornado assunto relevante

em seminrios educacionais, procuramos assistir e analisar os contedos das palestras,

bem como ler as publicaes surgidas durante o desenrolar desta pesquisa.

1.5.1. A escolhas dos instrumentos e a coleta de dados

A busca de informaes sobre o Curso de "Tecnologia de Educao a Distncia via

Internet" iniciou-se informalmente atravs de trocas de mensagens eletrnicas (e-mails)

e de uma entrevista livre com um dos organizadores do mesmo, tendo continuidade com

a utilizao de uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro se encontra anexado ao

final deste trabalho (ANEXO I) e que nos permitiu conhecer melhor o desenho do

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curso, as dificuldades encontradas e as estratgias utilizadas para a motivao dos

participantes. De posse dos dados sobre o curso em anlise, ampliamos as informaes

utilizando o arquivo das mensagens enviadas e recebidas pelos participantes e

organizadores durante os dois meses e meio de realizao do mesmo.

A escolha da entrevista semi-estruturada para formalizar o incio da coleta de dados

deveu-se a, de acordo com Trivinos (1987), ser esta uma das principais maneiras que o

investigador pode utilizar como tcnica de coleta de informao, pois, parte de certos

questionamentos bsicos, apoiando-se em teorias e hipteses, para se chegar a um

amplo campo de interrogativas e novas hipteses, a partir das respostas do informante.

Para prosseguir a investigao, elaboramos um questionrio semi-aberto, que foi o

primeiro instrumento para a coleta de dados junto aos participantes do curso, sujeitos

desta pesquisa. A elaborao do questionrio implicou o desenvolvimento de uma

pgina Web, para facilitar o preenchimento e a devoluo do mesmo, j que foi enviado

para os participantes por e-mail, numa linguagem familiar a eles, utilizada pelo Curso

em anlise, ou seja o HTML (Hipertext Markup Language). O questionrio foi

exaustivamente testado para que no ocorressem falhas tecnolgicas e para eliminar

dvidas quanto aos objetivos pretendidos com as perguntas. Para tanto, foi aplicado

experimentalmente a 6 voluntrios. So eles: um professor de Literatura e de Lngua

Portuguesa; dois pedagogos; um tcnico de informtica; um estudante do Curso de

Pedagogia e uma pesquisadora que cursa o doutorado e est investigando sobre o uso

das novas tecnologias na educao.

Os ajustes necessrios foram feitos e, como constatamos que, em determinados

aparelhos computacionais o questionrio em HTML foi recebido de forma inteligvel,

optamos em disponibiliz-lo tambm em WORD ( linguagem normalmente usada na

produo de textos utilizada pela maioria dos computadores disponveis no mercado

atualmente), seguindo anexado s mensagens enviadas, permitindo a escolha pelo uso

do formulrio, de acordo com a possibilidade do aparelho de cada participante.

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Este primeiro questionrio buscou desvendar os seguintes tpicos:

Dados de identificao: sexo, idade, estado civil, formao, instituies de ensino superior onde leciona, funo exercida e tempo de exerccio no cargo, e carga

horria semanal de trabalho;

Dados referentes ao curso: expectativas e motivos da inscrio, contribuies

recebidas para a prtica docente, atividades que mais contriburam para a prtica

docente e dificuldades encontradas, forma de participao e forma escolhida para

fazer as leituras do Curso ou seja, leituras na tela ou no material impresso;

Motivos da desistncia ou fatores que contriburam para a permanncia.

O questionrio foi composto de questes de mltipla escolha seguidas de espao com

indicao para o participante justificar a resposta, e no ltimo tpico, enumerar, por

ordem de importncia, os motivos da desistncia ou fatores que contriburam para a

permanncia no Curso.

O questionrio foi enviado a todos os 55 inscritos no curso, concluintes ou no, atravs

de um dos meios de comunicao usado durante a realizao do curso, ou seja, o correio

eletrnico {e-mail). Os endereos eletrnicos cedidos pela coordenao do curso

permitiram o envio da mensagem a todos ao mesmo tempo, atravs de uma lista

produzida para tal. A mudana ou desativao de alguns endereos impossibilitou o

recebimento por todos, pois a mensagem de 8 participantes retornou.

Para garantir o recebimento da mensagem pelo maior nmero de sujeitos, foram feitas

algumas ligaes telefnicas, a fim de atualizar os endereos eletrnicos. Em alguns

casos, pedimos a colaborao dos participantes para fazer chegar a mensagem at o seu

colega, ou seja, outro participante pertencente mesma instituio, com quem no

conseguimos nos conectar.

Os participantes do Curso eram provenientes de 11 instituies de ensino, sendo assim

distribudos: 13 participantes da Universidade Federal de Minas Gerais; 5 da

Universidade Federal de Uberlndia; 6 da Escola Federal de Engenharia de Itajub; 6 da

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Fundao Universidade de So Joo Del Rey; 2 da Faculdade de Agrimensura de Minas Gerais;

5 do Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais; 6 da Pontifcia Universidade

Catlica de Minas Gerais; 5 da Universidade Estadual de Minas Gerais de Passos; 5 da

Universidade Federal de Juiz de Fora; 1 do Instituto Catlico de Minas Gerais e 1 da

Universidade Federal de Ouro Preto.

O envio do questionrio foi feito no dia 12 de setembro de 2000, num horrio prximo das 18

horas e, surpreendentemente, at s 21 horas do dia seguinte, 17 questionrios j haviam sido

respondidos e enviados, via Internet. Conferimos a eficincia deste instrumento de coleta de

dados em pesquisa, ou seja, aplicao de questionrios, especialmente para professores

universitrios com experincias prvias no uso da Internet, como o caso dos sujeitos desta

pesquisa. Atribumos a agilidade de tempo em reenviar o questionrio preenchido por grande

parte dos participantes desta pesquisa, experincia prvia adquirida ou melhorada na

realizao do Curso. Ao final de uma semana da aplicao do questionrio conferimos o

recebimento de 24 questionrios, totalizando 37 aps o perodo de um ms. Os ltimos

questionrios recebidos foram enviados aps o pedido feito por telefonemas e mensagens

eletrnicas.

De um modo geral, os sujeitos desta pesquisa no tiveram dificuldades em preencher e nos

devolver o questionrio. A maioria utilizou o questionrio em HTML devido facilidade que o

mesmo ofereceu, pois, aps respondido, era s teclar em um boto especialmente destinado para

enviar a mensagem e a mesma seguia automaticamente para o destinatrio. Para resguardar a

privacidade do remetente, o mesmo no era identificado, pois a mensagem no chegava com o

endereo de quem havia remetido o questionrio. Desta forma, identificvamo-los pelos dados

de caracterizao, como sexo, faixa etria e ordem de envio do questionrio respondido. Ao

contrrio, os participantes que, por motivos tcnicos, remeteram o questionrio em WORD

tiveram revelados os seus endereos eletrnicos e, consequentemente os seus nomes, pois o

envio da mensagem foi feito via e-mail e no pela pgina Web. Estes ltimos, ao receberem o

questionrio em anexo, tiveram que salv-lo no computador de seu uso, para depois preench-lo

e reenvi-lo anexado em outro e-mail.

Para nos referirmos aos 37 participantes desta pesquisa durante a coleta e anlise dos dados do

primeiro questionrio aplicado, usamos letras e nmeros na codificao para

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nome-los, a fim de resguardar a identidade dos mesmos, da seguinte forma: a letra Q

seguida do nmero corresponde ao questionrio enumerado pela ordem em que foi

enviado por e-mail; a letra C ou D representa a situao do participante em relao ao

Curso: C para concluinte e D para desistente; a letra M ou F identifica o sexo do

participante: M para masculino e F para feminino; e os algarismos romanos dizem

respeito faixa etria a qual pertence o participante da pesquisa: I para os que tm de 31

a 40 anos de idade, II para os que esto entre 41 a 50 anos e III para os que tm mais de

50 anos de idade.

Quando nos referimos aos organizadores do Curso, usamos POE para o professor

organizador que foi entrevistado, PO para o professor organizador administrador do

ambiente de rede e AO para o aluno que participou da organizao.

Os 37 questionrios recebidos foram devidamente apurados, tabulados e analisados.

Coincidentemente, quase a metade (18) dos que o responderam compem o quadro dos

concluintes do Curso e pertencem ao sexo masculino. Entre os 19 restantes, 9 eram

mulheres. Quanto causa da evaso, verificamos que a grande maioria das respostas

revelava a "falta de tempo" como um dos fatores determinantes da desistncia. Os

demais dados sero analisados no captulo 8, mas estamos antecipando tais informaes

para justificar a aplicao de novos questionrios a grupos distintos de participantes.

Instigados com os resultados deste primeiro questionrio, elaboramos outros para

grupos de participantes distintos: um s para as mulheres, outro para os homens

concluintes e no concluinte do Curso. Semelhante experincia anterior e apesar da

poca de frias, pois estes questionrios foram enviados no ms de janeiro, as respostas

chegaram em tempo hbil. As respostas de algumas professoras incitaram-nos a elaborar

outras questes e novas mensagens foram enviadas e respondidas com brevidade e

ateno.

Ao verificar a lista dos aprovados, deparamo-nos com o fato de que apenas uma mulher

havia concludo o Curso e que a mesma no havia respondido ao primeiro questionrio.

Enviamos uma mensagem especialmente para ela, solicitando o preenchimento do

primeiro questionrio, pois ela havia se tornado uma pessoa especial para a nossa

anlise.

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Devido pontualidade com que recebemos as respostas dos questionrios aplicados

atravs do correio eletrnico, no sentimos necessidade de utilizar outro instrumento de

coleta de dados. Reservamos a entrevista semi-estruturada para um dos organizadores

do Curso e esta foi gravada, transcrita e analisada. Com este mesmo professor foram

trocados vrios e-mails e telefonemas durante a coleta de dados, e tivemos a

colaborao do mesmo durante toda a pesquisa, disponibilizando materiais e

informaes, sempre que solicitvamos. O mesmo remeteu-nos uma senha para que

pudssemos acompanhar o Curso atravs da Internet. Como o Curso j havia sido

retirado da rede, este professor providenciou a reativao do mesmo para que se

tornasse fonte de dados desta pesquisa. Desta forma foi possvel a leitura e anlise do

material do Curso, assim como do ambiente de rede utilizado (TopClass).

Entre os materiais disponveis no TopClass encontramos uma extensa lista de discusso

com as mensagens em off-line trocadas pelos participantes entre si e destes com a

equipe de organizadores durante o Curso. Optamos por imprimir todos os materiais para

facilitar a leitura e para a reteno das informaes, considerando que o site estaria

disponibilizado por tempo limitado. Todos eles serviram para nos familiarizarmos com

o contedo, a forma de comunicao e as caractersticas dos participantes do Curso.

Os dados colhidos foram tratados estatisticamente e qualitativamente e buscamos

relacion-los com as suposies levantadas e as teorias referidas no corpo desta

dissertao, que vierem a auxiliar-nos na anlise das causas da evaso e dos fatores que

contribuem para a permanncia dos participantes nos cursos, via Internet, de formao

continuada de professores universitrios.

1.6. A estrutura da dissertao

Na tentativa de "contar" da melhor maneira como se desenvolveu o trabalho de

pesquisa, organizamos a dissertao da seguinte forma: no captulo 1 apresentamos o

objeto da pesquisa, as suposies referentes ao objeto, a delimitao do problema, os

objetivos da pesquisa e o procedimento metodolgico; no captulo 2 partimos de

algumas definies para falar da Educao a Distncia sua origem, suas implicaes e

as possibilidade do uso das novas tecnologias da informao e da comunicao no

ensino superior e na UFMG; no captulo 3 trabalhamos a questo da formao, do papel

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e do trabalho docente no contexto da educao via Internet; no captulo 4 apresentamos

a contribuio da literatura consultada sobre a causa e os fatores que contribuem para a

permanncia dos participantes em cursos a distncia; no captulo 5 foram abordadas as

implicaes do planejamento de cursos na modalidade de Educao a Distncia via

Internet, referentes escolha do meio, aos papis dos alunos e do professor,

comunicao e avaliao; no captulo 6 analisamos o Curso de "Tecnologia de Ensino

a Distncia", o contedo do mesmo e das mensagens trocadas durante a sua realizao e

o avaliamos, luz da contribuio da literatura; no captulo 7 trabalhamos a

caracterizao dos concluintes e evadidos do Curso, a motivao, a expectativa, a forma

de participao e a avaliao do Curso pelos participantes, a partir da anlise dos dados

apurados no primeiro questionrio; no captulo 8 continuamos a trabalhar os dados

colhidos por meio deste e dos demais questionrios aplicados, referentes especialmente

s causas da evaso e aos fatores que contribuem para a permanncia dos participantes

do Curso em foco; finalmente, no captulo 9, apresentamos as consideraes finais bem

como as limitaes do estudo e as contribuies para o campo. Para facilitar a

compreenso do texto desta dissertao, acrescentamos um glossrio com os termos

especficos da linguagem usada na Internet.

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CAPTULO 2

A EDUCAO A DISTNCIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO

Considerando a especificidade do tema desta pesquisa e dos elementos relativamente novos

inerentes ao mesmo, julgamos necessrio comear a situ-lo historicamente, a partir de algumas

definies de Educao a Distncia, sua origem, suas implicaes, as possibilidade do uso das

novas tecnologias da informao e da comunicao no ensino superior e sua implantao na

UFMG.

2.1. A Educao

Inicialmente faz-se mister discutir o termo Educao. Para tanto, recorremos aos clssicos e

entre eles, a definio apresentada por Durkheim (1978), no final do see. XIX e incio do see.

XX, pois alguns dos critrios propostos por ele continuam dignos de reflexo e, a partir deles,

inmeros pensadores passaram a formular pontos de vista semelhantes (Brando, 1994).

Socilogo e pedagogo, Durkheim considerava a educao como fenmeno "eminentemente

social" e resultante da ao exercida por uma gerao sobre a gerao seguinte a fim de adapt-

la sociedade em que vive. Atravs da ao educativa, "cada sociedade constri, para seu uso,

um tipo ideal de homem", no havendo ideais e princpios que tornem universal a ao

educativa. Avaliando idias pedaggicas de seus antecessores, Durkheim fez referncia a Kant,

destacando dele a seguinte citao: "o fim da educao desenvolver, em cada indivduo toda a

perfeio de que ele seja capaz", mas em seguida questiona o termo perfeio, verificando que

os ideais de perfeio diferem de uma cultura para outra. Alm disso, indivduos em uma mesma

comunidade tm diferentes aptides e funes a exercer. Portanto, o ser humano no segue um

nico modelo de perfeio e de desenvolvimento, pois, para que cada sociedade seja harmnica,

"ser preciso que haja homens de sensibilidade e homens de ao" (Durkheim, 1978: 34).

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Fazendo uma retrospectiva histrica e ilustrando a tese acima defendida, Durkheim

afirmou que:

"A educao tem variado infinitamente com o tempo e o meio. Nas cidades gregas e latinas a educao conduzia o indivduo a subordinar-se cegamente coletividade, a tornar-se uma coisa da sociedade. Hoje esfora-se para fazer dele uma personalidade autnoma. Em Atenas procurava-se formar espritos delicados, prudentes, sutis, embebidos de graa e harmonia, capazes de gozar o belo e os prazeres da pura especulao; em Roma desejava-se que especialmente as crianas se tomassem homens de ao, apaixonados pela glria militar, indiferentes no que tocasse s letras e s artes. Na idade mdia a educao era crist, antes de tudo; na Renascena toma carter mais leigo; nos dias de hoje, a cincia tende a ocupar o lugar que a arte outrora preenchia." (Durkheim, 1978: 35)

Dessa forma, Durkheim infere que a educao ideal construda considerando as

condies de tempo e lugar, tornando indispensvel a observao histrica, pois "todo o

passado da humanidade contribuiu para estabelecer esse conjunto de princpios que

dirigem a educao de hoje" (1978: 37). Por fim, ele apresenta a seguinte definio para

a Educao:

"A educao a ao exercida pelas geraes adultas sobre as geraes que no se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criana certo nmero de estados fsicos, intelectuais e morais, reclamadas pela sociedade poltica, no seu conjunto, e pelo meio especial em que a criana particularmente se destine." (Durkheim, 1978: 41)

Por conseguinte, de acordo com esta concepo de educao, a funo das aes

educativas transformar o ser individual em ser social, considerando as crenas e

prticas religiosas e morais e as tradies e profisses da coletividade. Durkheim (1978)

no ignorou o carter econmico da educao, pois, segundo ele, a educao busca

atender aos interesses da economia interna para o equilbrio da sociedade e conclui:

"Quer que se trate dos fins a que se vise, quer que se trate dos meios que empregue,

sempre s necessidades sociais que a educao atende; so idias e sentimentos

coletivos que ela exprime"; e ainda prenuncia: "as transformaes profundas que as

sociedades contemporneas tm experimentado e esto para experimentar, necessitam

de transformaes correspondentes nos planos da educao" (Durkheim, 1978: 90).

2.1.2. A educao emergente (ou necessria?) no tempo atual

A educao, desde a sua institucionalizao, vem ocorrendo das seguintes maneiras:

formal, informal e no-formal. A primeira d-se atravs das instituies de ensino

regidas por leis especficas; a segunda refere-se ao processo educativo do meio scio-

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cultural e se realiza atravs de processos espontneos e naturais, no convvio familiar e

com os amigos, nas atividades recreativas e associativas; a ltima, tambm chamada de

educao para a vida, ocorre de maneira organizada e sistemtica atravs de diversos

tipos de entidades e instituies, tendo por objetivo o desenvolvimento humano,

podendo capacitar para o trabalho, ou para a resoluo de problemas individuais ou

coletivos. As atividades da educao no-formal tm sido desenvolvidas em diversos

espaos da sociedade, como igrejas, sindicatos, associaes e utilizam a mdia, como

programa de rdio, de televiso e das redes de computadores (Fidalgo & Machado,

1999). Em todas as maneiras citadas a educao poder se realizar presencialmente, a

distncia ou com a conjugao destas modalidades de ensino e aprendizagem.

l A respeito do sistema formal e no-

formal de educao, Wenzel (1991) relaciona-os com as modalidades e esclarece que

aquela continua sendo fundamental para o desenvolvimento da educao e

indispensvel para os alunos da faixa de obrigatoriedade escolar e necessita da relao

presencial entre professor e aluno, de salas de aula instaladas, de horrios rgidos e de

espaos determinados para a execuo global das atividades.

Por sua vez, os sistemas no-formais de ensino, na sua modalidade de Educao a

Distncia, representam uma extraordinria possibilidade de ampliao do campo de

atendimento educacional a jovens e adultos que no se escolarizam na chamada "idade

prpria" e tambm de atendimento s atuais exigncias da educao permanente.

Crescem as necessidades do aperfeioamento profissional e do enriquecimento cultural

das pessoas, da atualizao profissional e do treinamento de recursos humanos para as

mais variadas atividades profissionais (Wenzel, 1991).

Voltando a nos valer de Durkeim (1978: 58), buscamos o que ele tem a dizer sobre a

reflexo humana: "o homem no reflete sempre, mas somente quando lhe necessrio".

A respeito do papel da educao, podemos deduzir que a necessidade de reflexo sobre

o mesmo tem sido constante, pois "intelectuais, educadores e estudantes fazem todos os

dias as criticas da prtica educativa" (Brando, 1994: 56). Neste sentido, visando a uma

reflexo globalizada, a UNESCO criou a Comisso Internacional sobre Educao para o

Sculo XXI que elaborou um documento conhecido como Relatrio Jacques Delors,

iniciado em maro de 1993 e concludo em setembro de 1996. O Ministro da Educao

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Paulo Renato de Souza escreveu a apresentao da edio brasileira do documento, e

ressaltou que a elaborao do mesmo contou com a contribuio de especialistas de

todo o mundo, e, segundo ele, esta uma "caracterstica que o toma imprescindvel

diante do processo de globalizao das relaes econmicas e culturais que. estamos

vivendo" (Delors, 1999: 11).

A educao para o sculo XXI, de acordo com a Comisso que elaborou o Relatrio,

assenta-se sobre quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver

juntos e aprender a ser. Para que a educao cumpra este papel, preciso ultrapassar as

principais tenses que constituem o cerne da problemtica do sculo que se inicia. So

elas: as tenses entre o local e o global, entre o universal e o singular, entre a tradio e

a modernidade, entre a soluo em curto prazo e em longo prazo, entre a indispensvel

contradio e a igualdade de oportunidades, e entre o extraordinrio desenvolvimento

dos conhecimentos e a capacidade de assimilao dos homens. Portanto,

"cabe educao a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradies e convices de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, a elevao do pensamento e do esprito para o universal e para uma espcie de superao de si mesmo" (Delors, 1999: 16).

Para o cumprimento da tarefa educacional defendida anteriormente, impe-se cada vez

mais o conceito de "educao ao longo da vida" dadas as vantagens que esta oferece em

matria de diversidade, flexibilidade e acessibilidade no tempo e no espao" (Delors,

1999: 18). Amplia-se a idia da educao permanente, encarada nesta transio de

milnio, no s com as alteraes da vida profissional, mas como uma construo

humana continuada. Pressupondo que a prtica educativa seja histrica e que tenha

historicidade, Freire j dizia que "enquanto prtica social, a prtica educativa em sua

riqueza, em sua complexidade um fenmeno tpico da existncia e, por isto mesmo,

um fenmeno exclusivamente humano" (Freire, 1996a: 54).

Por sua vez, D'Ambrsio defende que a meta da educao numa sociedade em transio

(como a que estamos vivenciando nesse incio de sculo) a "formao de um indivduo

tico, criativo e crtico, preparado para viver participativamente da sociedade tendo

conscincia da sua cidadania".8

8 Anotao feita na aula ministrada pelo professor e escritor Ubiratan de D'Ambrsio durante o primeiro momento presencial do III Curso de Especializao em Educao Continuada e a Distncia / UnB, em Braslia, no dia 26/07/1999.

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Portanto, bem mais do que defendia Durkheim, o processo educativo no se limita a transformar

o ser individual no ser social, mas combina-se a formao de ambos, ou seja, capacitar o

indivduo a tomar conscincia de si prprio e do papel social que lhe cabe como cidado. Dessa

forma, as idias humanistas de Kant no se opem s funcionalista-positivistas de Durkheim,

antes, as complementam, pois a vida pessoal e social progrediro no saber, saber ser e no saber

fazer, Concomitantemente. Assim, caminha-se para a formao de "uma sociedade educativa", e

a educao no estar limitada no tempo e no espao, pois consiste em um processo

desenvolvido ao longo da vida.

I

A "comunidade educativa" baseia-se na aquisio, atualizao e utilizao dos conhecimentos.

Conforme destacado no Relatrio Jacques Delors (1999), so estas as trs funes relevantes no

processo educativo. Com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicao e

informao, o aumento das possibilidades de acesso a dados e a fatos, e o conseqente

desenvolvimento da sociedade da informao, "caber educao permitir que todos possam

recolher, selecionar, ordenar, gerir e utilizar as mesmas informaes" (Delors, 1999: 21). Da a

necessidade da educao ao longo de toda a vida. Para que este processo educativo rompa as

barreiras de tempo e espao, imprescindvel ampliar a atuao da Educao a Distncia com a

utilizao adequada dos meios de comunicao e de informao, visando sempre a uma

educao de qualidade.

"Cada vez nos convencemos de que educao e qualidade de vida esto intimamente associados.

E no se pode falar em uma sociedade democrtica, sem que se priorize a educao, em seus

diferentes nveis e modalidades" (Santana, 1999: 15). Acreditamos, como j foi previsto por

Lvy (1999), que, com o passar dos tempos e com a intensificao do uso das novas tecnologias

de comunicao e informao pelas escolas e pela sociedade em geral, a distino entre as

modalidades de educao presencial e a distncia ser cada vez menos pertinente, pois o uso das

redes de telecomunicaes e dos suportes multimdia interativos vem sendo progressivamente

integrado s formas tradicionais de ensino. Uma modalidade complementar a outra e juntas,

como descreve Alves (1999: 37), formaro verdadeiras "redes de conhecimento, em um

processo que poderamos chamar de tessitura de conhecimento em rede", considerando

que a

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construo do conhecimento se realiza atravs do convvio, do dilogo e das trocas nas

relaes sociais, como Freire (1978) defendia.

Assim sendo, na Educao a Distncia prevalecer o carter educativo, pois o que

"seguramente no podemos mudar a sua definio de educao e a busca de produzir

um bom ensino do mesmo modo que em qualquer outra proposta educativa" (Litwin,

2001: 11).

2.2. A Educao a Distncia (EAD)

A Educao a Distncia (EAD) definida de formas diversificadas e em diferentes

fontes (documentos oficiais ou no) os conceitos apresentam singulares diferenas. No

existe consenso nas definies apresentadas: algumas consideram a EAD como

modalidade, outras, como forma, estratgia, processo educativo ou metodologia de

ensino. Umas focalizam o lado inovador proporcionado pela utilizao das tecnologias

da comunicao, outras privilegiam a relao professor/aluno marcada pela separao

entre espao e tempo. "Sem dvida, as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de

aula, de espao e de tempo, estabelecendo novas pontes entre o estar juntos fisicamente

e virtualmente" (Moran, 2000: 08).

O conceito oficialmente usado pela legislao brasileira em vigor est contido no Artigo

Io do Decreto n.u 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta a EAD no Brasil,

da seguinte forma:

"Educao a Distncia uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediao de recursos didticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informao, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicao".

Nessa definio observa-se que a EAD tida como forma de ensino e no como

educao. Ora, entre esses dois termos subjazem distintas concepes pedaggicas.

Enquanto ensinar d nfase aos contedos e sua transmisso como repasse de

informao, a educao um processo mais abrangente. Para Moran (2000), no ensino

so organizadas vrias atividades didticas para ajudar os alunos a compreender reas

especficas do conhecimento, como cincias, histria ou matemtica. Na educao

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busca-se integrar ensino e vida, conhecimento e tica, reflexo e ao, a ter uma viso

de totalidade, alm de ensinar. Enfim,

Educar colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizaes -transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. ajudar os alunos na construo da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento de habilidades de compreenso, emoo e comunicao que lhes permitem encontrar seus espaos pessoais, sociais e profissionais e tornar-se cidados realizados e produtivos. (Moran, 2000: 13)

Portanto, ensinar est relacionado transmisso enquanto que o termo educao mais

abrangente, pois diz respeito construo do conhecimento e esta realizada

socialmente na interao entre educando e educador. Alves (1998), acredita que

preciso reconhecer que o termo 'educador' como o termo 'educao9' bastante

amplo, uma vez que todo ser humano torna-se um educador no seu contato com os

outros. De acordo com Freire, para um educador ou educadora,

"ensinar no um ato mecnico de transferir aos educandos o perfil do conceito do objeto. Ensinar sobretudo fazer possvel que os educandos, epistemologicamente curiosos, vo se apropriando do significado profundo do objeto, j que somente atravs da sua apreenso podem aprend-lo." (Freire, 1996a: 56)

A transmisso ou a construo do conhecimento, tanto em cursos presenciais quanto a

distncia, depender da orientao terico-metodolgica adotada, e no do meio

tecnolgico escolhido. Tradicionalmente, privilegiava-se o repasse de conhecimento, a

atitude passiva do aluno, a memorizao e a quantidade de elementos apreendidos de

um contedo previamente escolhido. Para tal fim, o material impresso, o rdio e a

televiso, enquanto veculos de comunicao de via nica, so satisfatrios. Mas, isto

transmisso de informao e no podemos confundi-la com o processo educativo a

distncia, pois este implica a participao e a comunicao como se do, por exemplo,

numa proposta construtivista. Nesta, a escolha e a combinao dos meios prevem a

possibilidade de uma comunicao interativa e os proponentes tcnicos devem favorecer

o dilogo e as discusses. No podemos confundir os meios e instrumentos com o

processo de comunicao e a estratgia didtica, pois "no interessa uma informao em

si mesma, mas uma informao mediada pedagogicamente" (Gutirrez e Prieto, 1994:

62).

9 A autora destaca que o termo 'educador' foi recuperado nos fins da dcada de 70 e incio da de 80 e tem o sentido de um chamamento tico sobre a responsabilidade social do profissional da educao (Alves, 1998).

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Gutirrez e Prieto (1994) destacam as vantagens da EAD, que so: massividade espacial, menor

custo por estudante, populao escolar diversificada, individualizao da aprendizagem,

quantidade sem diminuio da qualidade, e autodisciplina de estudo.

A massividade espacial deve-se falta de limitaes territoriais da EAD e s possibilidades de

atender aos alunos dispersos geograficamente, isto , residentes em locais onde no haja

instituies tradicionais de ensino. Essa uma vantagem interessante, pois os alunos podero

permanecer no seu meio cultural e natural, no precisando mudar-se para os grandes centros

urbanos em busca de escolarizao, mas a efetivao da EAD para este pblico depender do

recurso tecnolgico escolhido e da adequao deste s condies scio-culturais e financeiras

do usurio, podendo variar da correspondncia Internet, usando apenas um ou mais recursos

conjugados.

A questo do menor custo possibilita o acesso de um nmero maior de estudantes, que no

tiveram acesso educao pelas escolas convencionais. Porm, sabemos que a EAD exige

grande investimento financeiro na preparao de pessoal, na produo de materiais e na

assistncia ao aluno. Para EAD via Internet, por exemplo, necessrio um grande investimento

para a compra e manuteno de laboratrios de informtica, por parte da instituio, e de

investimentos pessoais por parte do aluno, na aquisio de computador pessoal equipado

adequadamente, pois se trata de um recurso ainda pouco acessvel para a maioria da populao

brasileira.

O atendimento a uma populao escolar diversificada , sem dvida, uma grande vantagem

diante da necessidade da educao permanente dos trabalhadores, mas alguns programas que

propem atender a um grande nmero de pessoas indiscriminadamente, ou seja, sem alguns

requisitos bsicos para a compreenso necessria, esbarram no problema da evaso, pois

permanecem aqueles que j estiverem preparados.

A individualizao da aprendizagem traduzida no respeito ao ritmo individual do aluno;

porm, percebe-se que trazemos como herana do ensino tradicional, o cumprimento de

horrios, de calendrios e de programas pr-determinados; portanto, isso faz parte da nossa

cultura escolar, e, na EAD, embora possamos adequar nossos horrios de estudo ao nosso

tempo, necessitamos de orientaes sobre o gerenciamento do mesmo e do estabelecimento de

datas de incio e trmino das atividades, alm de

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uma comunicao bilateral com freqentes mensagens de incentivo para evitar o

isolamento e a desistncia.

Por ltimo, a EAD no pode perder de vista a questo da qualidade da educao e esta,

sem dvida deve superar a quantidade, ao atender s demandas educativas e culturais.

Alm das vantagens da EAD, Gutierrez e Prieto (1994) enumeram alguns riscos que

esto relacionados com os ensinos industrializado, consumista, institucionalizado,

autoritrio e massificante.

O ensino industrializado "leva consigo a mecanizao, despersonalizao, padronizao

e institucionalizao" e "exige a diviso de trabalho, economias de escala, controle de

qualidade, uniformidade de distribuio, avaliao objetiva e algumas outras

caractersticas que so tpicas da produo industrial" (Gutierrez e Prieto, 1994: 15). A

EAD assim praticada contrria ao ato educativo e desqualifica o trabalho do professor,

pois, segundo os autores, alm de desencadear os ensinos consumista, autoritrio e

massificante, que podero bem atender aos interesses financeiros da instituio que os

oferecem e aquisio de certificados dos que a praticam, mas contribuem

sobremaneira para o descrdito dessa modalidade de educao.

Esses fatores, sem dvida, contriburam para a depreciao e pela falta de crdito aos

certificados adquiridos atravs de cursos a distncia. Outros fatores como o uso

demasiado de tcnicas e a mediatizao10 do ensino feita atravs de materiais tidos

como auto-suficientes reforaram a descrena na EAD, muitas vezes concebida como

uma segunda oportunidade aos jovens ou adultos que abandonaram a escola ou se

encontravam fora da faixa etria normal de escolarizao".

A respeito da mediatizao do ensino feita atravs da elaborao de materiais tidos como auto-suficientes para aprendizagem, Litwin (2001: 14) contesta: "Se os materiais substituem as aulas convencionais e estas nunca so suficientes para o xito da aprendizagem, difcil que o material o assegure." A autonomia dos estudantes no deve ser confundida com o autodidatismo, pois o papel do professor na EAD no substitudo pelos materiais.

" Apesar do descrdito do ensino por correspondncia e das crticas feitas ao "Instituto Universal Brasileiro", ele vem exercendo um importante papel social no Brasil, tendo uma atuao efetiva h mais de 50 anos, oferece cursos profissionalizantes e supletivos, formando e certificando pessoas que no teriam chances de curs-los presencialmente. (Informaes obtidas no site http://www.uniiib.com.br. acessado em 30/03/2001)

http://www.uniiib.com.br/

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O preconceito contra a EAD, segundo Corra (2001), constitui-se no primeiro impasse

para a sua consolidao no Brasil: o preconceito oriundo de uma cultura escolar

baseada na transmisso do conhecimento sem considerar o aluno como sujeito desse

processo de aprendizagem.

Com o uso adequado das novas tecnologias para uma prtica educativa de qualidade, a

distncia fsica no serve de parmetro para a definio de EAD, pois esta poder ser

superada pelas formas interativas que unem alunos e professores em redes de

aprendizagem. O destaque dado questo da distncia tornou a expresso 'Educao a

Distncia' condizente com inmeras definies encontradas, como defende Belloni

(1999) ao afirmar que os parmetros essenciais usados para definir EAD so a

separao professor/aluno aliada ao uso de meios tcnicos para compensar esta

separao.

No atual contexto, porm, as possibilidades de vencer as barreiras de tempo e espao

oferecidas pelas novas tecnologias, atravs dos encontros virtuais, da interatividade e da

comunicao entre docentes e alunos, caracteriza a modalidade a distncia mais pela

flexibilidade em torno da proposta educativa do que pela separao territorial entre os

sujeitos participantes do processo (Litwin, 2001). Ento, a EAD j no se define pela

distncia e deixa de ser fiel ao prprio nome. Tambm no se define pelos meios

utilizados como foi denominada a partir das primeiras experincias, pois, no incio,

eram chamadas de 'ensino por correspondncia'12 (Niskier, 1999). Essas experincias

foram registradas h mais de um sculo, como descreveu Litwin (2001), pois desde o

final do sculo XIX, nos Estados Unidos e na Europa, j existiam instituies

particulares que ofereciam cursos por correspondncia, que trabalhavam temas e

problemas vinculados a ofcios de menor valor acadmico.

Litwin (2001) afirma que foram necessrias vrias dcadas at que a EAD se

estabelecesse no mundo dos estudos como uma modalidade competitiva perante as

ofertas de educao presencial. A autora destaca que, a partir da dcada de 60, vrias

12 De acordo com Niskier (1999: 53), a respeito da histria da origem do termo Educao a Distncia: "Um dos pioneiros h de ter sido o educador sueco Borje Holmberg, numa regio que valoriza muito esta forma de aprendizagem. Ele mesmo confessou que ouviu a expresso na universidade alem de Tbingen. Em vez de citar 'estudo por correspondncia' os alemes usavam o termo 'Fernstudium' (educao a distncia) ou 'Fernunterricht' (ensino a distncia). O mundo ingls ter conhecido a expresso a partir de Desmond Keegan, em 1966, ou Charles Wedemeyer, que foi quem a introduziu na Universidade Aberta da Gr-Bretanha, no final da dcada de 60".

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universidades a distncia foram criadas, como a Universidade de Wisconsin, nos Estados

Unidos; a Open University, na Inglaterra; a Fer Universitat, na Alemanha e a Universidade

Nacional de Educao a Distncia, na Espanha, possibilitando aos seus egressos competirem

por postos de trabalho com os graduados nas universidades presenciais, contribuindo assim para

a superao de muitos preconceitos a respeito da EAD. Isto vem ao encontro das idias

defendidas por Lvy (1999), pois, para ele, a aprendizagem a distncia deixa de ser o 'estepe' do

ensino, devendo, em breve, tornar-se, seno a norma, ao menos a ponta da lana.

No relatrio da Conferncia Mundial sobr