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Mrcia Nascimento Henriques Knop
A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de
Correspondncia Mltipla
Dissertao apresentada Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,como requisito
parcial para obteno do ttulo de mestre em
Sociologia.
Orientadora: Prof. Dr. Mara BaumgartenCorra
Porto Alegre
2008
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II
Universidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Cincias HumanasPrograma de Ps-graduao em Sociologia
Mrcia Nascimento Henriques Knop
A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de
Correspondncia Mltipla
Porto Alegre
2008
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III
Mrcia Nascimento Henriques Knop
A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de
Correspondncia Mltipla
Dissertao apresentada Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,como requisito
parcial para obteno do ttulo de mestre em
Sociologia.
Orientadora: Prof. Dr. Mara BaumgartenCorra
Aprovada em: 19 de fevereiro de 2008.
Banca examinadora:
Prof. Dr. Clarissa Eckert Baeta Neves
Prof. Dr. lida Rubini Liedke
Prof. Dr. Solange Maria Longhi
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IV
AGRADECIMENTOS
Concluir esta dissertao teria sido mais difcil no fosse o apoio de algumas pessoas e
instituies. Meus sinceros agradecimentos...
...aos meus pais, Edna e Mrcio, pelo amor e pela formao que me proporcionaram;
...ao meu irmo, Eric, pelas ricas memrias da infncia e pelo divertido convvio atual;
...ao meu marido, Andr, pelas trocas acadmicas, mas sobretudo por este
compreensivo amor, que no apenas resistiu a mais uma jornada, mas se revigorou;
...a todos os amigos, alguns em especial: ao casal Aline e Marco, pela hospitalidadeafetuosa; a Ana Lcia, pela ajuda tcnica e pelo incentivo; a rica e Fernanda, pela
amizade e palavras de fora;
...aos colegas de mestrado, pelas discusses acadmicas e pelos bate-papos
descontrados;
...aos meus antigos professores, Dora Leal Rosa, Lcia Maria Freire Beltro e Robert
Evan Verhine, que serviram de inspirao para a minha escolha pelo mestrado;
...aos professores do Programa de Ps-graduao em Sociologia da UFRGS, emespecial: Mara Baumgarten (pela orientao) e Cinara Rosenfield (pelas inesquecveis
aulas);
...a CAPES, pelo suporte dado em forma de bolsa de estudo.
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V
SUMRIO
Lista de grficos.......................................................................................................VII
Lista de quadros.......................................................................................................VIII
Lista de tabelas..........................................................................................................IX
Lista de abreviaturas e siglas...................................................................................XI
Resumo......................................................................................................................XII
Abstract....................................................................................................................XIII
INTRODUO.......................................................................................................14CAPTULO 1 - Procedimentos metodolgicos.....................................................18
1.1 Breve explanao sobre a Anlise de Correspondncia......................................18
1.1.1 Principais conceitos..........................................................................................19
1.1.2Outputsda ACM...............................................................................................20
1.2 Fonte dos dados e amostra selecionada................................................................25
1.3 Variveis do estudo..............................................................................................27
1.4 Sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul...........................................29
1.5 Retomando os principais pontos do captulo........................................................30
CAPTULO 2 - Especificidades do ensino superior brasileiro.............................31
2.1 Ensino superior brasileiro tipos de cursos e requisitos de acesso......................31
2.2 Matrculas, vagas e demanda pelo ensino superior...............................................32
2.3 A composio social das IES brasileiras...............................................................35
2.4 Retomando os principais pontos do captulo.........................................................44
CAPTULO 3 Escolha do curso superior uma incurso terica.....................46
3.1 Estudos baseados na teoria da escolha racional.....................................................47
3.2 Estudos baseados nas teorias disposicionalistas....................................................50
3.3A teoria disposicionalista de Pierre Bourdieu........................................................52
3.3.1 O conceito de habituse suas implicaes...........................................................53
3.3.2 Capitais econmico, cultural e social..................................................................56
3.4 Retomando os principais pontos do captulo..........................................................60
CAPTULO 4 As relaes entre candidatos e curso escolhido............................62
4.1 Variveis de capital econmico e cultural...............................................................64
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VI
4.1.1 Grfico de ACM para as variveis de capital econmico e cultural.............64
4.1.2 Tabelas de freqncia para as variveis de capital econmico e cultural....69
4.2 Variveis de capital escolar....................................................................................78
4.2.1 Grfico de ACM e tabelas para as variveis de capital escolar....................78
4.3 Todas as variveis em jogo.....................................................................................84
4.4 Retomando os principais pontos do captulo..........................................................88
CONSIDERAES FINAIS.....................................................................................90
REFERNCIAS..........................................................................................................94
ANEXO A Tabelas de tabulao cruzada.....................................................................99
ANEXO B Questionrio socioeconmico do vestibular da UFRGS 2007..................101
ANEXO C Variveis e categorias................................................................................107
ANEXO D Categorias das variveis principal ocupao do pai e da me................109
ANEXO E Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO)...........................................110
ANEXO FOutputsda ACM.........................................................................................116
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VII
LISTA DE GRFICOS:
GRFICO 1 ACM: varveis de capital econmico e cultural...................................65
GRFICO 2 ACM: varveis de capital escolar.........................................................79
GRFICO 3 ACM: todas varveis do estudo............................................................84
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VIII
LISTA DE QUADROS:
QUADRO 1 Cursos de graduao da UFRGS selecionados para a amostra.............27
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IX
LISTA DE TABELAS:
TABELA 1 - Relao candidato/vaga em vestibular e outrosprocessos seletivos nos cursos de graduao presenciais, porcategoria administrativa Brasil e Rio Grande do Sul 2005...................................33
TABELA 2 Brasil: relao candidato/vaga em vestibular eoutros processos seletivos nos cursos de graduao presenciais - 1990-2004............33
TABELA 3 Brasil: matrcula dos cursos de graduaopresenciais por gnero 2005....................................................................................35
TABELA 4 Brasil: concluintes dos cursos de graduao
presenciais por gnero 2005.....................................................................................35
TABELA 5 Brasil: percentual de graduandos presentesao ENC 2003, por curso, segundo o sexo.....................................................................37
TABELA 6 Brasil: renda mensal familiar dos estudantesuniversitrios das IES pblicas e privadas 2003........................................................38
TABELA 7 Brasil: percentual de ingressantes no ensinosuperior por cor/raa 2004.........................................................................................39
TABELA 8 Brasil: percentual da populao residente por cor/raa 2004..............39
TABELA 9 Brasil: percentual de graduandos brancos noscursos oferecidos pelas IES 2003...............................................................................40
TABELA 10 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por tipo de escola em que cursou o ensino mdio 2003..........41
TABELA 11 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por nvel de escolaridade do pai 2003.....................................42
TABELA 12 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por renda familiar mensal 2003...............................................43
TABELA 13 UFRGS: Renda mensal familiar - %....................................................71
TABELA 14 UFRGS: Principal ocupao do pai - %...............................................73
TABELA 15 UFRGS: Principal ocupao da me - %..............................................74
TABELA 16 UFRGS: Nvel de escolaridade do pai - %...........................................76
TABELA 17 UFRGS: Nvel de escolaridade da me - %..........................................77
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X
TABELA 18 UFRGS: Tipo de estabelecimento em que cursou o EM - %.............81
TABELA 19 UFRGS: Tipo de curso de EM que cursou - %..................................82
TABELA 20 UFRGS: Turno em que cursou o EM - %..........................................83
TABELA 21 UFRGS: Curso x Exerce atividade remunerada.................................99
TABELA 22 UFRGS: Exerce atividade remunerada x Renda mensal familiar.......99
TABELA 23 UFRGS: Exerce atividade remunerada xNvel de escolaridade do pai........................................................................................100
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XI
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:
ACM Anlise de Correspondncia MltiplaAndifes Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino
Superior
Deaes Diretoria de Estatstica e Avaliao da Educao Superior
EF Ensino Fundamental
EM Ensino Mdio
ES Ensino Superior
ENADE Exame Nacional de Desempenho de EstudantesENC Exame Nacional de Cursos
ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio
FIES Financiamento Estudantil
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IES Instituies de Ensino Superior
IFES Instituies Federais de Ensino Superior
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
MEC Ministrio da Educao
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
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XII
RESUMO
Esta dissertao centrou-se sobre a questo: De que modo o volume de capitaiseconmico, cultural e escolar dos vestibulandos da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul influencia suas escolhas de curso de graduao. Para responder talpergunta foi realizado um estudo quantitativo, utilizando o software SPSS verso 13.0.Foi selecionada uma amostra de 21 cursos de graduao do vestibular da UFRGS 2007.O modelo estatstico formado por 8 variveis explicativas relacionadas aos capitaiseconmico, cultural e escolar dos vestibulandos da UFRGS. A hiptese principal dadissertao afirma que os candidatos com alto volume de capitais econmico, cultural eescolar tendem a escolher os cursos de maior prestgio, mais concorridos e que doacesso a profisses melhor remuneradas; e candidatos com baixo volume de capitais
tendem a se inscrever, ao contrrio, nos cursos menos prestigiados, menos concorridose que formam para as profisses consideradas menos rentveis. A hiptese acessriaaponta a existncia de um outro fator que exerce influncia na escolha do cursosuperior que a estrutura e a poltica institucionais. Os resultados empricos apontarampara a confirmao das duas hipteses. H uma relao estatisticamente comprovadaentre o volume de capitais do indivduo e a escolha do curso de graduao. No entanto,no momento da escolha est tambm presente o aspecto institucional, ou seja, osincentivos e constrangimentos gerados pela instituio, e sua poltica referente, nestecaso, ao acesso e incluso de indivduos com origens sociais distintas. Assim, adissertao mostrou, por exemplo, que os cursos de Direito e Administrao,considerados de alto prestgio, apresentam um perfil de candidato diferente a dependerdo turno em que oferecido. O turno noturno atrai candidatos cujo volume de capitaiseconmico, cultural e escolar mais baixo quando comparado ao seu equivalentediurno.Deste modo, possvel afirmar que alm da influncia do volume de capitaiseconmico, cultural e escolar, h um aspecto referente estrutura e polticainstitucionais que tambm interfere na escolha do curso de graduao.
Palavras-chave: Ensino Superior. Escolhas educacionais. Capitais econmico, culturale escolar. Anlise de Correspondncia Mltipla.
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ABSTRACT
This thesis has a central question: How the economic, cultural and academic capital ofuniversity applicants from Federal University of Rio Grande do Sul affects theirchoices of higher education degrees. To answer that question we made a quantitativeanalysis relying on the software SPSS 13.0. The research selected a sample of 21degrees of Federal University of Rio Grande do Sul. The statistical model has 8independent variables to account for the applicants economic, cultural and academiccapital. The main hypothesis is that applicants with a high level of economic, culturaland academic capital tend to choose the most disputed and prestigious degrees whereasapplicants with a low level of capital are more likely to choose the less disputed andprestigious degrees. The second hypothesis is that there is an additional factor that has
an impact on applicants choice of a higher education course, relative to theinstitutional dimension. The results confirm both hypotheses. There is a statisticalcorrelation between the volume of economic, cultural and academic capital possessedby individuals and the choice of more prestigious degrees. However the institutionaldimension is also present. For instance the study shows that Law and Administrationdegrees both attract different applicant profiles depending on whether classes areoffered mainly at night or during daytimes. Night classes attract applicants with a lowervolume of economic, cultural and academic capital as compared to applicants thatchoose to attend daytime classes. Therefore we can say that besides the influence ofeconomic, cultural and academic capital there is an institutional dimension that alsointerferes with applicants choices.
Key words: Higher Education. Choices of degree. Economic, cultural and academiccapital. Multiple Correspondence Analysis.
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INTRODUO
As escolhas educacionais feitas pelos indivduos durante a sua trajetria tm sido objeto de
estudo da sociologia da educao. Diversas pesquisas foram realizadas a fim de explicar os
fatores que influenciam a escolha do curso superior dos vestibulandos. Muitas destas
pesquisas analisaram as relaes entre as caractersticas socioeconmicas do indivduo e a
escolha de curso superior.
De modo geral, os estudos apontam alguns fatores que afetam a escolha dos estudantes por
determinados cursos. Dentre tais fatores, destacam-se os de ordem socioeoconmica, s vezestratados como capital econmico e cultural (renda familiar, ocupao dos pais, nvel de
escolaridade dos pais); de ordem acadmica, por vezes chamados de capital escolar
(desempenho escolar, natureza da escola pblica ou privada, etc); de etnia (raa/cor) e de
gnero (sexo masculino/feminino).
A dissertao que me propus a fazer inspirou-se nos estudos acima citados a fim de analisar
alguns fatores sociais que esto em cena no momento da escolha do curso superior feita pelosvestibulandos. Tomei como ponto de partida a teoria disposicionalista da ao de Pierre
Bourdieu, atravs de uma discusso sobre o habituse os conceitos de capitais econmico,
cultural e social para explicar o nvel socioeconmico das famlias.
Assim, esta dissertao buscou responder seguinte questo: De que modo o volume de
capitais econmico, cultural e escolar dos vestibulandos da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul influencia suas escolhas de curso superior?
A relevncia desta questo torna-se evidente quando se considera que o carter elitista do
ensino superior brasileiro tem sido objeto de discusso e de iniciativas de polticas pblicas
de acesso e incluso. A expanso do ensino superior brasileiro, ocorrida principalmente a
partir dos anos 90, reforou o interesse pelo tema sobre as escolhas de curso superior.
Conforme Schwartzman (2004), apesar da expanso, os estudos mostram que o crescimento
do ensino superior ainda no trouxe grandes mudanas na composio social do seu corpo
discente. Logo, deduz-se que, de modo geral, a expanso deste nvel de ensino deu-se atravs
da incorporao de indivduos do mesmo meio socioeconmico dos candidatos anteriores.
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Nos ltimos anos, porm, as instituies de ensino superior (IES) tm sido pressionadas a
incluir alunos vindos de meios socioeconmicos menos privilegiados. Note-se, por exemplo,
a implementao do FIES (Financiamento Estudantil) para os estudantes das IES particulares
e das polticas de cotas em algumas IES pblicas1. Medidas deste tipo trazem tona uma
srie de questes relevantes para a sociologia da educao, dentre elas, as escolhas dos
vestibulandos referentes ao curso superior.
Sendo assim, esta dissertao buscou entender de que forma determinados fatores sociais
(capitais econmico, cultural e escolar) atuam no momento da escolha do curso superior,
mostrando as diferenas/semelhanas de perfil social dos candidatos de diversos cursos. Osobjetivos principais foram: (a) verificar a influncia dos capitais econmico, cultural e
escolar nas escolhas de curso superior dos vestibulandos; (b) analisar diferenas e
semelhanas entre os perfis sociais dos candidatos por curso; (c) apontar as lacunas e os
limites da perspectiva terica adotada; (d) contribuir para os estudos da sociologia da
educao no Brasil, apresentando novas perspectivas de anlise do processo de escolha de
curso superior.
A hiptese principal da dissertao que h uma tendncia geral para que os candidatos com
alto volume de capitais econmico, cultural e escolar escolham os cursos de maior prestgio,
mais concorridos e que do acesso a profisses melhor remuneradas; e candidatos com baixo
volume de capitais se inscrevam, ao contrrio, nos cursos menos prestigiados, menos
concorridos e que formam para as profisses consideradas menos rentveis.
No entanto, ao longo da dissertao, foi desenvolvida uma hiptese acessria: h um outrofator que exerce influncia na escolha do curso superior que chamei de estrutura e poltica
institucionaisda universidade para qual o indivduo se candidata. Entende-se por estrutura e
poltica institucionaisos incentivos e constrangimentos gerados pelas instituies, bem como
a poltica adotada referente, neste caso, ao acesso e incluso de indivduos com origens
sociais distintas. No caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fato de
oferecer alguns cursos prestigiados no turno noturno tem atrado o interesse de candidatos
1Cabe ressaltar que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) adotou a poltica de cotas para ovestibular de 2008. No entanto, os dados desta pesquisa so de 2007, quando ainda no havia sido implementadatal medida.
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que apresentam um nvel socioeconmico mais baixo quando comparado ao seu equivalente
diurno. Portanto, a oferta de cursos noturnos um incentivo institucional para atrair
candidatos de perfis sociais distintos.
A fim de verificar a pertinncia das hipteses levantadas, foi realizado um estudo de cunho
quantitativo. A partir do banco de dados fornecido pela COPERSE2, foi selecionada uma
amostra de candidatos ao vestibular da UFRGS de 21 cursos de graduao presenciais. Em
seguida, os dados foram analisados atravs de uma tcnica estatstica chamada Anlise de
Correspondncia Mltipla (ACM). Para realizar esta anlise, utilizei o programa de
computador SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na sua verso 13.0. A Anlise
de Correspondncia Mltipla consiste basicamente na produo de grficos, a partir dos quais possvel tirar concluses acerca das relaes de associao ou oposio entre as variveis
do estudo.
O modelo estatstico apresentado formado por 8 variveis explicativas (renda mensal
familiar, principal ocupao do pai, principal ocupao da me, nvel de escolaridade do pai,
nvel de escolaridade da me, tipo de ensino mdio cursado, tipo de estabelecimento em que
cursou o ensino mdio e turno em que cursou o ensino mdio) e 1 varivel dependente(curso).
Os resultados apontaram para a confirmao das duas hipteses descritas acima. Por um lado,
verifica-se, de modo geral, uma oposio de perfis de candidatos entre cursos considerados
de alto prestgio e cursos considerados de baixo prestgio. Por outro lado, verificou-se que um
mesmo curso, oferecido em turnos diferentes, capaz de atrair pblicos com perfis
socioeconmicos distintos. A dissertao mostrou, por exemplo, que os cursos de Direito eAdministrao, considerados de alto prestgio, apresentam um perfil de candidato diferente a
depender do turno em que oferecido. Assim, o turno noturno atrai candidatos cujo volume
de capitais econmico, cultural e escolar mais baixo quando comparado ao seu equivalente
diurno. Desta forma, a dissertao mostra que a estrutura e a poltica institucionais tambm
influenciam a escolha de curso dos vestibulandos.
2rgo da UFRGS responsvel pelos processos seletivos e pela organizao das informaes dos vestibulandos.
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A dissertao est organizada em 4 captulos, alm da introduo e das consideraes finais.
O primeiro captulo trata dos procedimentos metodolgicos adotados, esclarecendo como a
amostra foi construda, quais as variveis que compem o estudo e suas respectivas
categorias, alm de apresentar uma breve explanao sobre a tcnica estatstica utilizada
Anlise de Correspondncia e, por fim, uma breve seo sobre a UFRGS.
O segundo captulo apresenta o cenrio geral em que esta dissertao se insere. feita uma
discusso sobre o ensino superior brasileiro, apresentando os tipos de curso, os requisitos de
acesso e os processos de seleo deste nvel de ensino. Alm disso, so discutidas questes
referentes ampliao das vagas, evoluo da taxa de matrcula e demanda pelo ensino
superior. Outro aspecto tambm debatido a composio social das IES brasileiras.
O terceiro captulo consiste numa reviso da bibliografia sobre o tema, citando estudos
baseados nas teorias da escolha racional e nas teorias disposicionalistas da ao. Ainda no
mesmo captulo, apresentado e discutido o referencial terico utilizado nesta dissertao.
O quarto captulo mostra os resultados empricos observados a partir da tcnica descrita no
captulo 1. A fim de demonstrar as relaes entre os candidatos e o tipo de curso escolhido,todas as variveis explicativas so analisadas em relao varivel dependente. Neste
captulo so apresentados trs grficos de ACM. Os resultados so analisados luz do
referencial terico, ao mesmo tempo em que so apontados os seus limites e novos elementos
so acrescentados para explicar os achados da dissertao.
Por fim, as consideraes finais do estudo retomam a pergunta e os objetivos propostos para
mostrar a resposta a que cheguei. Deste modo, os achados so discutidos e apresentada umaexplicao para as escolhas de curso dos vestibulandos.
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CAPTULO 1 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
De acordo com o que foi dito na introduo, esta dissertao apresenta uma anlise
quantitativa dos dados coletados, a partir da utilizao de uma tcnica estatstica intitulada
Anlise de Correspondncia Mltipla. O programa de computador utilizado para realizao
desta anlise foi o SPSS verso 13.0. Aproveito para ressaltar que o software utilizado est na
lngua inglesa, portanto os resultados (outputs)so apresentados em ingls, exceto o nome
das variveis e as abreviaturas de suas categorias que foram inseridas por mim.
Alm disso, para auxiliar a interpretao dos dados, foram feitas tabelas de freqncia para
cada varivel e trs tabelas de tabulao cruzada (essas ltimas esto no Anexo A). As tabelasde freqncia esto dispostas ao longo do captulo 4. importante lembrar que durante a
construo da anlise houve missing data (dados faltantes). Portanto, nas tabelas em que
aparecem os valores absolutos, possvel que haja diferena entre o total da amostra original
e o total da amostra apresentado na tabela.
A fim de elucidar os procedimentos metodolgicos adotados, este captulo far uma breve
explanao sobre a Anlise de Correspondncia, alm de apresentar a fonte emprica dosdados, a amostra selecionada, as variveis do estudo e suas categorias e, por fim, uma seo
sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
1.1 Breve explanao sobre a Anlise de Correspondncia
A Anlise de Correspondncia (AC) uma tcnica multivariada para anlise exploratria dedados categorizados. As primeiras consideraes matemticas a respeito da AC foram feitas
por Hirschfeld, em 1935. A partir da, os procedimentos numricos e algbricos foram
aplicados em diferentes contextos, especialmente em ecologia e psicologia. No incio da
dcada de 60, a tcnica foi redescoberta na Frana e, desde ento, tem sido utilizada naquele
pas de forma extensiva como um mtodo grfico de anlise de dados. A partir de 1975, a
tcnica passou a ser utilizada em diversas reas do conhecimento.
Devido s diversas vantagens apresentadas na utilizao da AC, o seu uso tem sido
recomendado para investigao de dados em cincias sociais. Segundo Carvalho (2004) este
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tipo de abordagem apresenta como um dos seus requisitos a identificao de mltiplos fatores
considerados pertinentes para captar a estrutura dos fenmenos em estudo. Portanto,
plenamente aplicvel aos fenmenos sociais de complexidade multidimensional. Alm disso,
uma tcnica descritiva e apropriada anlise de variveis categricas; tipos de mensurao
muito comuns na pesquisa social. Ademais, este procedimento j havia sido utilizado em
estudos que analisam questes de pesquisa comuns a esta dissertao, como Bourdieu
(1998b) e Wynne, OConnor, Philips (1996), Ferreira (2003).
1.1.1 Principais conceitos
A AC uma tcnica de anlise exploratria de dados adequada para avaliar tabelas de duasou mltiplas entradas, levando em conta algumas medidas de correspondncia entre linhas e
colunas. Simplificando, podemos dizer que a AC converte uma matriz de dados em um tipo
particular de representao grfica, em que linhas e colunas da matriz so representadas de
forma simultnea em dimenso reduzida, isto , por pontos no grfico.
Este mtodo permite a visualizao das relaes mais importantes de um grande conjunto de
variveis entre si. De forma resumida, a AC gera grficos onde os atributos categricos deuma varivel so dispostos num plano bidimensional. A associao, ou no, entre as
categorias dada pela proximidade entre elas no grfico (Greenacre, 1981/1994; Lebart,
Morineau e Warwick, 1984).
Embora seja considerada uma tcnica descritiva e exploratria, a AC simplifica dados
complexos e produz anlises de informaes que suportam concluses a respeito das mesmas.
Um dos pontos relevantes desta tcnica que no h exigncia de normalidade para aresposta estudada. Em outras palavras, os testes estatsticos inferenciais no so aqui
utilizados, estando a soluo sugerida pela distribuio grfica de seus resultados, o que se
constitui na base da escola francesa para as anlises multivariadas (Benzcri, 1992).
Em geral, o ponto de partida da AC uma matriz (da qual o grfico se origina) onde nas
linhas temos os "casos" e nas colunas, as variveis. No nosso exemplo, as linhas so os
candidatos ao vestibular da UFRGS, e as colunas, as variveis utilizadas: curso de graduao
escolhido, nvel de escolaridade do pai e da me, principal ocupao do pai e da me, renda
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mensal familiar, tipo de ensino mdio cursado, tipo de estabelecimento em que cursou o
ensino mdio e turno em que cursou o ensino mdio.
Assim, cada candidato (linha da matriz de dados) apresenta um "perfil" definido por suasrespostas em cada quesito do instrumento de coleta de informaes utilizado. Da mesma
forma, cada varivel (coluna) ter um "perfil" em funo da distribuio dos candidatos.
A AC pode ser aplicada na sua forma simples ou multivariada. A anlise de correspondncia
simples gera um grfico de apenas duas variveis. A anlise de correspondncia mltipla
capaz de gerar um grfico com diversas variveis ao mesmo tempo.
Para os fins desta pesquisa, utilizamos a anlise de correspondncia mltipla (ACM). Em
seguida sero apresentados os outputsdesta tcnica que nos ajudam a interpretar o resultado
do grfico da ACM.
1.1.2Outputsda ACM
H algumas medidas de anlise dos resultados produzidos para auxiliar a interpretao do
grfico. Nesta seo, abordarei essas medidas utilizando um exemplo para ilustrao.
vlido ressaltar que essas medidas apenas reforam o que j est aparente no grfico. Os
outputs costumam ser anexados em trabalhos acadmicos em respeito ao princpio de
transparncia da pesquisa.
Uma das medidas o valor prprio (eigenvalue), tambm chamado de inrcia, que avalia a
qualidade das dimenses do grfico. Em seguida, verificam-se as medidas de discriminao
que quantificam a variao de cada varivel. E por fim, realiza-se a quantificao das
categorias de uma varivel.
O valor prprio (eigenvalue) ou inrcia indica a variao explicada por cada dimenso do
grfico, e varia entre 0 e 1. Quanto mais prximo de 1, mais variao explicada na
dimenso. No caso desta pesquisa e do exemplo abaixo, utilizamos 2 dimenses. No exemplo
seguinte, possvel ver o valor prprio (que aparece como Inertia) de duas dimenses,
extrado de um modelo qualquer.
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Model Summary
Variance Accounted For
Dimensio
n
Cronbach's
Alpha
Total
(Eigenvalue) Inertia
1 ,602 1,671 ,557
2 ,214 1,167 ,389
Total 2,838 ,946
Mean ,443(a) 1,419 ,473
Conforme o exemplo, verificou-se que a dimenso 1 explica 0,557 da variao, o quetambm pode ser codificado em percentagem 55,7%. A dimenso 2 explica 0,389 ou 38,9%
da variao.
Aps verificar os valores prprios das dimenses, hora de dar o passo seguinte, que
observar as medidas de discriminao das variveis (discrimination measures). As medidas
de discriminao calculam a variao das variveis em cada dimenso. Quanto mais alto for o
seu valor (sendo o valor mximo igual a 1), melhor discrimina os objetos em anlise. Ummodelo que tenha variveis com valores prximos a 1 (em uma ou outra dimenso) consegue
definir melhor os grupos de objetos distintos. Por questes de ordem prtica, o modelo que
utilizei apenas como ilustrao formado por apenas 3 variveis nvel de escolaridade do
pai, renda mensal familiare turnoem que cursou o ensino mdio. Assim temos:
Discrimination Measures
Dimension
1 2 Mean
Nvel de
escolaridade do pai,641 ,568 ,605
Renda mensal
familiar,609 ,521 ,565
Turno em que
cursou o EM
,421 ,077 ,249
Active Total 1,671 1,167 1,419
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As medidas de discriminao apontam em qual dimenso a varivel melhor explicada (ou
seja, melhor discrimina os objetos em anlise). No quadro acima, observou-se que a
dimenso 1 explica melhor todas as variveis. No entanto, as duas primeiras variveisapresentam valores muito prximos nas duas dimenses, o que indica que podem ser
explicadas em ambas dimenses. J a terceira varivel, apresenta um valor muito baixo,
prximo a zero, na dimenso 2, portanto, s explicada pela dimenso 1. Alm do quadro
das medidas de discriminao, a ACM tambm apresenta um grfico com as mesmas:
Por fim, oportuno verificar a quantificao das categorias das variveis. No exemplo
utilizado, as categorias da varivel nvel de escolaridade do paiso: ensino fundamental (ef),ensino mdio (em), ensino superior (es) e ps-graduao (pg). As categorias da varivel
renda mensal familiarso: at 1 salrio mnimo (at 1 sm), de 1 a 5 salrios mnimos (1 5
sm), de 5 a 10 salrios mnimos (5 10 sm) e mais de 10 salrios mnimos (mais de 10 sm).
As categorias da varivel turno em que cursou o ensino mdio so: todo ou maior parte
diurno (diu) e todo ou maior parte noturno (not).
A quantificao ir mostrar as associaes e oposies ao comparar as categorias das
variveis do modelo. As associaes so traduzidas por quantificaes com o mesmo sinal; as
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oposies correspondem s quantificaes com sinais contrrios. A seguir, apresentarei os
quadros com as quantificaes das categorias de cada varivel:
Nvel de escolaridade do pai
Centroid Coordinates
Dimension
Category Frequency 1 2
ef 4014 1,266 -,653
em 5659 ,354 ,758
es 7618 -,559 ,318
pg 2692 -1,153 -1,478
Missing 452
.
Renda mensal familiar
Category
Frequenc
y Centroid Coordinates
Dimension
1 2
at 1 sm 600 1,427 -1,677
1 - 5 sm 7531 ,845 ,027
5 - 10 sm 6194 -,209 ,901
mais de 10 sm 5957 -,968 -,812
Missing 153
Turno em que cursou o EM
Centroid Coordinates
Dimension
Category Frequency 1 2
diu 18380 -,209 ,090
not 2012 1,968 -,844
Missing 43
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Observando os valores com sinais negativos, o modelo sugere uma associao entre as
categorias: diurno, de 5 a 10 sm, mais de 10 sm, ensino superior e ps-graduao. Em relao
s categorias que apresentam sinais positivos, encontra-se uma outra associao: noturno, at
1 sm, de 1 a 5 sm, ensino fundamental e ensino mdio. Se for o caso, dentro de uma mesma
associao, podemos buscar sub-grupos, ou seja, categorias que apresentem os mesmos
sinais e valores muito prximos.
Aps estas verificaes, possvel partir para uma interpretao do grfico com mais
segurana. Segue abaixo o grfico de ACM para o modelo em questo:
Como bem indicaram as medidas de discriminao, a dimenso 1 consegue distribuir melhor
as variveis, e assim, tornar mais evidente as relaes entre elas. Desta forma, o lado
esquerdo do grfico possui apenas as categorias negativas, e o lado direito, as positivas. O
primeiro e o segundo quadrantes apresentam grupos distintos, bem como o terceiro e quarto
quadrantes. O primeiro e o terceiro quadrantes apresentam grupos em oposio, bem como o
segundo e o quarto quadrantes.
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1.2Fonte dos dados eamostra selecionada
A dissertao utilizou dados referentes aos candidatos ao vestibular da UFRGS de 2007.
Cabe esclarecer que a UFRGS foi escolhida devido ao fato de ser uma das instituies de
ensino superior mais importantes da regio sul. Alm disso, a escolha de estudar essa
instituio tambm ocorreu devido permisso de acesso aos dados, concedida com menos
dificuldade por ser um estudo dissertativo dentro de uma programa de ps-graduao da
prpria instituio.
Utilizei como fonte emprica as respostas ao questionrio socioeconmico do Manual do
Candidato ao vestibular da UFRGS de 2007. Este questionrio aplicado aos candidatos nomomento da inscrio ao vestibular. O preenchimento do questionrio feito pelo prprio
candidato e enviado junto ficha de cadastro.
De modo geral, as perguntas do questionrio so relativas s caractersticas demogrficas dos
candidatos; caractersticas socioeconmicas das famlias; origem escolar do candidato
(referente ao Ensino Fundamental e ao Ensino Mdio); e percepo e expectativas quanto
ao curso e instituio escolhidos (verAnexo B Questionrio socioeconmico do vestibularda UFRGS 2007). A partir deste questionrio, algumas perguntas foram selecionadas e
utilizadas para construo das variveis explicativas da dissertao, que sero apresentadas
ainda neste captulo.
As respostas ao questionrio socioeconmico do vestibular da UFRGS 2007 esto reunidas
num banco de dados, organizado pela COPERSE - rgo da UFRGS responsvel pelos
processos seletivos e organizao das informaes dos vestibulandos.
O banco de dados apresenta um total de 37.652 casos, sendo este, portanto, o valor da
populao total. Desta populao foi extrada uma amostra de 20.447 casos. A amostra foi
selecionada levando em considerao o nmero de inscritos por curso. Verificou-se que este
nmero variava de 68 a 5.056 inscritos. Desta forma, todos os cursos3 foram classificados em
3 grupos de acordo com o nmero de inscritos: at 450 inscritos; de 451 a 950 inscritos; mais
de 951 inscritos. Dentro de cada um destes grupos foram sorteados 7 cursos, compondo uma
3O nmero total de cursos oferecidos pelo vestibular da UFRGS de 2007 65.
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amostra formada por 214cursos de graduao presenciais que variam em relao ao grau de
prestgio. Cabe ressaltar que embora a amostra dos cursos tenha sido construda atravs de
sorteio, os cursos de Administrao, Direito e Cincias Sociais foram intencionalmente
selecionados para a amostra porque apresentavam 2 opes de turno (diurno e noturno).
Nesse caso, a inteno foi verificar diferenas/semelhanas no perfil dos candidatos por
turno.
O critrio utilizado para definir o prestgio de cada curso foi o nmero de candidatos
inscritos, ou seja, a procura pelo curso. Como informao adicional verificou-se a quantidade
de vagas para cada curso e a concorrncia dos cursos (relao candidato/vaga). Na maioria
dos casos os cursos com menor quantidade de candidatos inscritos apresentam as menoresconcorrncias e o oposto costuma ocorrer com os cursos de maior procura. Todavia h
excees, pois alguns cursos apresentam uma relao candidato/vaga um pouco maior que os
outros cursos do seu grupo. Esse o caso dos cursos de Histria noturno, Relaes
Internacionais, Comunicao Social publicidade e propaganda, Comunicao Social
jornalismo, Psicologia. Isso pode ser explicado pela variao na quantidade de vagas
disponveis para cada curso. Alguns cursos dispem apenas de 40 vagas (Psicologia e
Relaes Internacionais), enquanto outros cursos tm o dobro 80 vagas (Administraodiurno), e o mximo chega a 160 vagas (Administrao noturno).
O quadro abaixo apresenta a amostra por estrato, indo dos cursos considerados menos
prestigiados aos mais prestigiados.
4A deciso por escolher 21 cursos de um universo de 65 justifica-se pelo fato do grfico produzido pela ACMter sua visibilidade comprometida caso fosse escolhida uma amostra maior.
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Quadro 1 Cursos de graduao da UFRGS selecionados para a amostra (dispostos emordem crescente de inscritos)
Relao
candidato/vagaat 450Geografia noturno 169 30 5,7Cincias Sociais diurno 260 65 4,02Biblioteconomia 285 75 3,87Filosofia 306 60 5,15Letras bacharelado 328 83 4,01Histria noturno 380 45 8,47Cincias Sociais noturno 441 100 4,42
de 451 a 950Engenharia Qumica 557 75 7,47
Engenharia Eltrica 646 100 6,48Relaes Internacionais 789 40 19,77Com. Social - Publicidade e Propaganda 799 50 16,04Farmcia 856 110 7,8Com. Social - Jornalismo 886 50 17,8Psicologia 935 40 23,55
mais de 951Administrao diurno 952 80 11,95Arquitetura e Urbanismo 1159 100 11,66Odontologia 1165 88 13,26Direito noturno 1306 70 18,81
Direito diurno 1542 70 22,13Administrao noturno 1630 160 10,21Medicina 5056 140 36,28Total 20.447 1.631
Cursos Candidatos inscritos Vagas
Fonte: Questionrio socioeconmico do Manual do candidato ao vestibular da UFRGS - 2007
1.3 Variveis da dissertao
A dissertao apresenta como varivel dependente o curso superior escolhido. As 8 variveis
explicativas esto logo abaixo, classificadas por tipos:
Variveis de capital cultural:
- nvel de escolaridade do pai
- nvel de escolaridade da me
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Variveis de capital econmico:
- renda mensal familiar
- principal ocupao do pai
- principal ocupao da me
Variveis de capital escolar5(ou de ordem acadmica):
- tipo de estabelecimento em que cursou o ensino mdio
- tipo de curso de ensino mdio
- turno em que cursou o ensino mdio
Conforme dito anteriormente, as variveis foram selecionadas com base no questionriosocioeconmico do manual do candidato ao vestibular da UFRGS de 2007. O questionrio
apresentou um total de 21 questes (ver Anexo B), dentre as quais algumas foram
selecionadas para compor as variveis. Foram escolhidas as questes que representavam os
indicadores mais relacionados aos capitais econmico, cultural e escolar, uma vez que este
o foco da dissertao. Consequentemente, as questes referentes s caractersticas
demogrficas (raa/cor, gnero) dos candidatos, bem como sua percepo e expectativa em
relao ao curso e instituio foram excludas.
No h dvida de que as 8 variveis explicativas selecionadas no esgotam a possibilidade de
indicadores de capitais econmico, cultural e escolar. No entanto, considerando os limites da
fonte utilizada (o questionrio), estes foram os melhores indicadores que consegui extrair
para cada tipo de varivel. Alm disso, estudos semelhantes a este costumam utilizar estas
variveis para operacionalizao da teoria.
A partir das opes de resposta do questionrio, foram criadas as categorias de cada varivel
de forma sinttica, a fim de permitir uma melhor visualizao do grfico. Deste modo, por
exemplo, a questo referente ao nvel de escolaridade do pai que apresentava 8opes de
resposta foi transformada na varivel nvel de escolaridade do pai apresentando 5
categorias. Procedimento semelhante foi realizado com as outras variveis (ver Anexo C
Variveis e categorias).
5O termo capital escolar no est conceituado no captulo terico (terceiro captulo), pois essa denominaofoi criada por mim.
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Ainda em relao s categorias das variveis, interessante esclarecer a forma como foram
criadas as categorias para as variveis: principal ocupao do pai e principal ocupao da
me (ver Anexo D Categorias das variveis principal ocupao do pai e principal
ocupao da me ). A partir da Classificao Brasileira de Ocupaes (ver Anexo E
Classificao Brasileira das Ocupaes CBO) e levando em conta os aspectos de status e
remunerao prevista das ocupaes, foram criadas 5 categorias para as variveis principal
ocupao do pai eprincipal ocupao da me.
Todas variveis foram analisadas a fim de compreender a associao ou no das
caractersticas dos candidatos ao tipo de curso escolhido. Assim, foi possvel atingir os
objetivos propostos por esta dissertao(descritos naIntroduo), alm de testar as hipteses(principal e acessria) levantadas e analisar a questo central proposta.
1.4 Sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Conforme j dito, os dados desta dissertao referem-se Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). A ttulo de esclarecimento, esta seo apresenta a instituio de
ensino referida, tecendo um breve histrico e o statusatual da universidade.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul sediada na cidade de Porto Alegre, capital do
estado do Rio Grande do Sul, conhecida nacional e internacionalmente. uma instituio
centenria, cuja histria comea com a fundao da Escola de Farmcia e Qumica, em 1895,
e logo em seguida, a Escola de Engenharia. Assim era iniciada a educao superior no Rio
Grande do Sul. Nesse perodo a instituio ainda no havia sido federalizada.
Ainda no sculo XIX, foram fundadas a Faculdade de Medicina de Porto Alegre e a
Faculdade de Direito que, em 1900, marcou o incio dos cursos humansticos no Estado. No
entanto, somente em novembro de 1934, foi criada a Universidade de Porto Alegre, integrada
inicialmente pelas Escola de Engenharia, com os Institutos de Astronomia, Eletrotcnica e
Qumica Industrial; Faculdade de Medicina, com as Escolas de Odontologia e Farmcia;
Faculdade de Direito, com sua Escola de Comrcio; Faculdade de Agronomia e Veterinria;
Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras e pelo Instituto de Belas Artes.
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Outro grande momento de transformao dessa Universidade foi em 1947, quando passou a
ser denominada Universidade do Rio Grande do Sul, a URGS, incorporando as Faculdades de
Direito e de Odontologia de Pelotas e a Faculdade de Farmcia de Santa Maria.
Posteriormente, essas unidades deixaram de fazer parte da URGS, com a criao, da
Universidade de Pelotas e da Universidade Federal de Santa Maria. Em dezembro de 1950, a
Universidade foi federalizada, passando esfera administrativa da Unio. Desde ento, a
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, passou a ocupar posio importante no
cenrio nacional, com um dos maiores oramentos do estado do Rio Grande do Sul.
A UFRGS uma instituio pblica dedicada ao ensino, pesquisa e extenso. Em
levantamento feito pela prpria instituio no segundo semestre de 2005, haviam 20.583alunos efetivamente matriculados na UFRGS. Esse mesmo levantamento apontou um corpo
docente formado por 2.508 professores, com diferentes regimes de trabalho (20h, 40h,
dedicao exclusiva).
1.5 Retomando os principais pontos do captulo
Este captulo apresentou uma breve explanao sobre a tcnica de anlise de dados aplicadanesta dissertao Anlise de Correspondncia. Alm disso, mostrou a fonte dos dados (o
banco de dados da COPERSE, alimentado pelo Questionrio socioeconmico do vestibular
da UFRGS 2007), a forma de seleo da amostra (formada por 21 cursos de graduao da
UFRGS), as variveis do estudo e suas categorias, e uma breve apresentao referente
UFRGS.
No captulo seguinte, intitulado Especificidades do ensino superior brasileiro, sero feitasconsideraes sobre este nvel de ensino no Brasil e no Rio Grande do Sul em particular.
Discutiremos questes referentes ao processo de seleo das universidades, s matrculas,
vagas e demandas pelo ensino superior e composio social da IES brasileiras.
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CAPTULO 2ESPECIFICIDADES DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO
Este captulo tem por objetivo discutir o ensino superior brasileiro, apresentando os tipos de
curso, os requisitos de acesso e os processos de seleo deste nvel de ensino. Alm disso,
sero discutidas questes referentes ampliao das vagas, evoluo da taxa de matrcula e
demanda pelo ensino superior. Outro aspecto a ser debatido, a partir de dados sobre os
universitrios, a composio social das IES brasileiras.
Antes de prosseguir importante ressaltar que a seo 2.3 deste captulo utiliza-se de dados
do Exame Nacional de Cursos (ENC) de 2003 que avaliou 26 cursos de graduao:Administrao, Agronomia, Arquitetura, Cincias Biolgicas, Cincias Contbeis,
Comunicao Social, Direito, Economia, Enfermagem, Eng. Civil, Eng. Eltrica, Eng.
Mecnica, Eng. Qumica, Farmcia, Fsica, Fonoaudiologia, Geografia, Histria, Letras,
Matemtica, Medicina, Medicina veterinria, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Qumica.
No entanto, os cursos selecionados na amostra do ENC 2003 no so necessariamente os
mesmos selecionados para a amostra desta dissertao.
2.1 Ensino superior brasileiro tipos de cursos e requisitos de acesso
Em relao aos tipos de cursos, o ensino superior brasileiro oferece duas principais opes:
os cursos seqenciais (com at 2 anos de durao) e os cursos de graduao (a maioria com
durao de 4 anos). So tambm oferecidos cursos de formao tecnolgica, com 2 ou 3 anos
de durao e cursos com 5 ou 6 anos de durao, como engenharia, medicina, direito.
Para ingressar no ES brasileiro, o mais comum fazer o exame vestibular, realizado todo ano,
por cada instituio, sendo o nmero de vagas para cada curso estabelecido pela
administrao das instituies. O vestibular consiste em provas que cobrem as disciplinas
cursadas no ensino mdio lngua portuguesa, literatura, lngua estrangeira moderna,
matemtica, histria, geografia, qumica, fsica, biologia e redao.
Atualmente h outras formas de ingresso, como o ENEM (Exame Nacional do Ensino
Mdio), a avaliao seriada do ensino mdio, teste ou prova de conhecimentos, avaliao de
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dados pessoais ou profissionais, entrevistas, exame curricular ou de histrico escolar
(SOARES, 2002).
Portanto, para iniciar um curso superior, o estudante deve ter concludo o ensino mdio e ser
aprovado no exame vestibular ou no processo de seleo adotado pela instituio em que se
candidatou.
2.2 Matrculas, vagas e demanda pelo ensino superior
De acordo com os dados do MEC/INEP (Sinopse do censo da educao superior - 2005), onmero de matrculas no ES6brasileiro de 4.453.156. Dessas, 1.192.189 (26,7%) esto na
rede pblica (federal, estadual e municipal) e 3.260.967 (73,3%) esto na rede privada
(particular e comunitria/ confessionria/ filantrpica). De acordo com a mesma fonte de
dados, o estado do Rio Grande do Sul possui 338.913 matrculas no ES, sendo 49.647
(14,6%) na rede pblica, e 289.266 (85,4%) na rede privada.
O aumento significativo das vagas do ES verificado na dcada de 90 ocorreu principalmentevia rede privada. De acordo com dados do INEP (Evoluo do Ensino Superior Graduao
1990-2000), a taxa de crescimento das vagas oferecidas em vestibular entre 1990 e 2000 foi
de 62,2% na rede federal, 70,7% na rede estadual, -2,1% na rede municipal e 147,9% na rede
privada. Esses dados apontam que embora tenha havido um aumento no nmero de vagas na
rede pblica durante a dcada de 90, o maior percentual ocorreu na rede privada (147,9%).
Logo, um nmero significativo de jovens continua no tendo acesso ao ensino pblico e
gratuito.
Dados mais recentes do MEC/INEP (Sinopse do censo da educao superior 2005)
mostram que foram oferecidas 313.368 (12,8%) vagas na rede pblica brasileira de ES, e
2.122.619 (87,2%) na rede privada.
Outro dado importante a relao candidato/vaga no ES. Neste caso, as instituies pblicas
apresentam um nmero bem mais elevado, sendo a concorrncia de 7,4 candidatos por vaga
6 O ES (Ensino Superior) inclui as seguintes categorias: universidades, centros universitrios, faculdadesintegradas, faculdades isoladas, institutos superiores de educao, escolas e centros de educao tecnolgica.
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nestas instituies (MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005). Nas
instituies privadas a concorrncia de 1,3. No Rio Grande do Sul, a relao candidato/vaga
segue a tendncia nacional. Na rede pblica, esta relao de 8,9, e na rede privada de 1,2
(MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005).
Tabela 1 - Relao candidato/vaga em vestibular e outros processos seletivos nos cursosde graduao presenciais, por categoria administrativa Brasil e Rio Grande do Sul 2005
Brasil Rio Grande do SulPblica 7,4 8,9
Federal 10,0 9,6Estadual 7,4 3,6Municipal 1,5 -
Privada 1,3 1,2Particular 1,2 1,2Comun/Confes/Filant 1,6 1,2
Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior 2005)
Relao candidato/vagaInstituio
importante ressaltar que, no decorrer dos ltimos anos, as diferenas na relao
candidato/vaga se acentuaram, de modo que a concorrncia foi aumentando na rede pblica e
diminuindo na rede privada (ver tabela abaixo).
Tabela 2 Brasil: relao candidato/vaga em vestibular e outros processos seletivos noscursos de graduao presenciais - 1990-2004
Ano Inst. Federal Inst. Estadual Inst. Municipal Inst. Privada*1990 6,2 6,7 2,2 2,91992 7 7 2,2 2,11994 8 8,9 2,5 2,31996 8,7 8,6 2,6 2,51998 9,4 8,9 2,3 2,22000 9,6 10 2,1 1,92002 9,9 9,9 2 1,62004 10,4 8 1,6 1,3
Fonte: MEC/INEP/Deaes (Evoluo do Ensino Superior Graduao 1990-2000. Sinopses doscensos da educao superior 2000, 2002, 2004)
* Inst. Privada inclui as categorias: particular, comunitria, confessionria e filantrpica.
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Tal fato pode ser explicado pela j citada expanso da oferta de vagas na rede privada,
ocorrida a partir dos anos 90. Com a expanso, a disputa por vagas em cursos oferecidos
pelas instituies privadas tende a diminuir.
A demanda por ES no Brasil cresceu nos ltimos anos aps ter ficado estagnada na dcada de
1980 (SOARES, 2002). A progresso do nmero de candidatos no vestibular um indicador
deste aumento. Em 1990, esse nmero era de 1.905.293 inscritos passando para 5.060.956,
em 2005 (MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005).
De acordo com Schwartzman (2001) e Martins (2001), alguns fatores que explicam a
demanda por ES so: a) a quase universalizao do ensino fundamental e o aumento das taxasde promoo e concluso do ensino mdio (embora estas taxas ainda deixem muito a
desejar); b) as exigncias do mercado de trabalho por nveis mais elevados de escolaridade e;
c) as vantagens sociais e econmicas proporcionadas pela obteno de um diploma de curso
superior.
Grande parte da demanda pelo ES ainda no pde ser atendida pelo sistema, apesar do
aumento no nmero de matrculas verificado desde os anos 90. Ciente disto, pode parecercontraditrio a existncia de vagas ociosas no sistema. Na verdade, estas podem ser
explicadas por alguns fatores: a) o baixo desempenho acadmico dos alunos nas provas de
seleo, no atingindo a classificao mnima; b) a incapacidade dos alunos de custearem
seus estudos em instituies privadas; c) um descompasso na oferta e procura dos cursos ps-
secundrios pblicos e privados, considerando que a ampliao das matrculas no setor
pblico cresce lentamente quando comparada ao privado (SOARES, 2002).
De acordo com Soares (2002), os dados referentes demanda e oferta educativa de ES
levam concluso de que no existe competio entre as instituies pblicas e privadas por
alunos. Grande parte do alunado da rede privada faz parte de uma demanda no atendida pela
rede pblica. A competio por alunos no ocorre entre as redes, mas basicamente dentro da
rede privada. As instituies privadas tm procurado atrair e ampliar a sua participao no
mercado educativo fazendo uso de diversas estratgias, como o investimento em propaganda
e facilidades na forma de ingresso instituio (SAMPAIO, 2000; SOARES, 2002).
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2.3 A composio social do ensino superior
Ao se estudar o ensino superior no pas, interessante observar alguns dados demogrficos
(gnero, cor/raa) sobre os estudantes e informaes sobre suas condies socioeconmicas
(renda familiar, nvel de escolaridade do pai) e sua escola de origem (pblica ou privada).
Em relao ao gnero, observa-se, conforme a tabela abaixo, que, considerando os cursos de
graduao presenciais, h uma predominncia de mulheres que se matriculam no ensino
superior. No total, elas representam 56% das matrculas, contra 44% de homens (MEC/INEP,
Sinopse do censo da educao superior 2005).
Tabela 3 Brasil: matrcula dos cursos de graduao presenciais por gnero 2005
Totaln absoluto % n absoluto % n absoluto
Pblica 554.125 46 638.064 54 1.192.189Federal 288.359 50 291.228 50 579.587Estadual 205.082 43 272.267 57 477.349Municipal 60.684 45 74.569 55 135.253
Privada 1.410.104 43 1.850.863 57 3.260.967
Particular 769.672 44 983.512 56 1.753.184Comum/Confes/Filan 640.432 42 867.351 58 1.507.783
Total 1.964.229 44 2.488.927 56 4.453.156Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior - 2005)
Natureza da instituioGnero
Masculino Feminino
Ao observar os concluintes do ensino superior, considerando os cursos de graduao
presenciais, a diferena entre os gneros torna-se ainda mais evidente. Dos concluintes, 62%
so mulheres (ver tabela abaixo).
Tabela 4 Brasil: concluintes dos cursos de graduao presenciais por gnero 2005
Totaln absoluto % n absoluto % n absoluto
Pblica 75.659 39 119.895 61 195.554Federal 37.145 43 48.866 57 86.011Estadual 30.252 35 57.424 65 87.676Municipal 8.262 38 13.605 62 21.867
Privada 195.475 37 326.829 63 522.304Particular 110.931 39 170.842 61 281.773
Comum/Confes/Filan 84.544 35 155.987 65 240.531Total 271.134 38 446.724 62 717.858Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior - 2005)
Natureza da instituioGnero
Masculino Feminino
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Uma das explicaes para a predominncia das mulheres no ES que elas permanecem mais
no sistema de ensino, alcanando, em maior nmero, as sries finais (HONORATO, 2005). A
mdia de anos de estudo entre as mulheres no Brasil tambm maior que a dos homens. De
acordo com dados da IBGE (PNAD Sntese de indicadores 2002), as mulheres tm 6,7 anos
de estudo, contra 6,4 dos homens para a populao de 15 anos ou mais.
No entanto, conforme a tabela seguinte (dados do MEC/INEP/Deaes - Relatrio sntese do
ENC 20037), ao observar a distribuio das mulheres nas IES brasileiras por curso, possvel
perceber que elas se concentram em determinadas reas, havendo uma tendncia a uma
proporo maior de mulheres nos cursos que oferecem habilitao em licenciatura
Pedagogia (93,6%), Letras (86,5%), Cincias biolgicas (72%), Histria (65,2%), Geografia(60,9%).
Ainda de acordo com a mesma tabela, de forma inversa, os estudantes do sexo masculino so
predominantes em alguns cursos, a exemplo: Engenharia mecnica (94,9%), Engenharia
eltrica (89,7%), Engenharia civil (75,6%), Fsica (73,9%), Agronomia (72,5%).
possvel observar distribuies mais eqitativas entre os gneros nos cursos de Direito(50,6% mulheres e 49,4% homens), Cincias contbeis (49,4% mulheres e 50,6% homens) e
Administrao (48,9% mulheres e 51,1% homens).
7O ENC 2003 avaliou 26 cursos: administrao, agronomia, arquitetura, cincias biolgicas, cincias contbeis,comunicao social, direito, economia, enfermagem, eng. civil, eng. eltrica, eng. mecnica, eng. qumica,farmcia, fsica, fonoaudiologia, geografia, histria, letras, matemtica, medicina, medicina veterinria,odontologia, pedagogia, psicologia e qumica.
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Tabela 5 Brasil: percentual de graduandos presentes ao ENC 2003, por curso,segundo o sexo
Feminino MasculinoFonoaudiologia 95 5
Pedagogia 93,6 6,4Psicologia 88,6 11,4
Enfermagem 88,4 11,6Letras 86,5 13,5
Cincias biolgicas 72 28Farmcia 68,2 31,8
Arquitetura e urbanismo 66,8 33,2Comunicao social 66,4 33,6
Histria 65,2 34,8
Odontologia 63,6 36,4Geografia 60,9 39,1
Matemtica 58,2 41,8Medicina veterinria 55,3 44,7
Qumica 53,8 46,2Direito 50,6 49,4
Cincias contbeis 49,4 50,6Administrao 48,9 51,1
Medicina 46,1 53,9Engenharia Qumica 45,6 54,4
Economia 43,6 56,4Agronomia 27,5 72,5Fsica 26,1 73,9
Engenharia civil 24,4 75,6Engenharia eltrica 10,3 89,7
Engenharia mecnica 5,1 94,9Total 63,6 36,4
Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC 2003)
SexoCurso
Em relao renda dos estudantes, h dados interessantes presentes num estudo realizado
pelo Frum Nacional de Pr-Reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis e com o apoio
da Andifes (Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino
Superior) e do MEC (Ministrio da Educao). O estudo8 foi realizado com 33.958
estudantes matriculados entre 2003-4 em 47 IFES. De acordo com o levantamento, 57% dos
estudantes das IFES pertencem s classes A e B (renda mdia familiar entre R$1.669 e
R$7.793). Conforme a pesquisa, em 1996-7, esse percentual era de 56%, o que demonstra a
8Os dados relatados foram publicados na Folha de So Paulo do dia 15 de maro de 2005, na matria intitulada"Classes A e B so maioria em universidade federal".
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pouca evoluo da heterogeneidade do alunado. O percentual de estudantes das IFES que
cursaram o ensino mdio privado (total ou em sua maior parte) tambm alto 52, 9%.
No entanto, levando em considerao as IES pblicas e privadas (ver tabela abaixo), verifica-
se que h um percentual maior de estudantes de baixa renda na rede pblica (26,5%) do que
na rede privada (12,9%). A renda familiar de maior incidncia nas duas redes pertence
mesma faixa salarial de R$721 a R$2400 e os percentuais so bastante prximos em
ambas, sendo um pouco mais elevado na rede privada (44,3% nas IES pblicas e 45,5% nas
IES privadas). Alm disso, a segunda renda familiar de maior incidncia na rede privada
pertence faixa salarial de R$2401 a R$4800 (respondendo por 26,3%). J na rede pblica, a
segunda renda familiar mais freqente est na faixa salarial de at R$720 (respondendo por26,5%).
Contudo, importante ressaltar as diferenas entre as IES pblicas. O perfil socioeconmico
dos estudantes destas instituies pode variar conforme a sua localizao (regio geogrfica)
e a categoria administrativa da instituio (federal, estadual ou municipal).
Tabela 6 Brasil: renda mensal familiar dos estudantes universitrios das IES pblicase privadas 2003
Renda familiar IES pblicas IES privadasat R$720 26,5% 12,9%de R$721 a R$2400 44,3% 45,5%de R$2401 a R$4800 17,5% 26,3%de R$4801 a R$7200 7,1% 10,3%mais de R$7200 4,5% 7,7%Fonte: MEC/INEP/Deaes (Resumo tcnico do ENC - 2003)
Ao observar estes dados possvel afirmar que o acesso e a permanncia no ES no Brasil so
marcados por grave desigualdade entre ricos e pobres. Dados do INEP (Informativo 40,
25/05/04) revelam que entre os 10% mais ricos da populao brasileira, 23,4% freqentam
cursos de ES. J entre os 40% mais pobres, apenas 4% esto matriculados neste nvel de
ensino. De acordo com os mesmos dados, em relao etnia, 59,4% dos estudantes das IES
pblicas se auto-declaram brancos, 23,3% pardos e 5,9% negros.
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Segundo dados do MEC/INEP (Resumo tcnico do ENADE 20049) e os dados do IBGE
(PNAD Sntese de indicadores 2004), entre os ingressantes no ES houve quase 20% de
brancos a mais do que na populao brasileira geral (ver tabelas abaixo). Por outro lado, tanto
a populao negra quanto a parda/mulata est sub-representada no ES brasileiro.
Tabela 7 Brasil: percentual de ingressantes no ensino superior por cor/raa 2004
Cor/Raa ENADE 2004Branca 70,8%Negra 4,8%
Parda/Mulata 21,4%Amarela (oriental) 2,1%
Indgena 1,0%
Fonte: MEC/INEP/Deaes (Resumo tcnico do ENADE - 2004)
Tabela 8 Brasil: percentual da populao residente por cor/raa - 2004
Cor/Raa PNAD 2004Branca 51,4%Negra 5,9%
Parda/Mulata 42,1%Outra 0,6%
Fonte: IBGE (PNAD - Sntese de indicadores 2004)
Conforme os dados do MEC/INEP (Relatrio sntese do ENC - 2003), os estudantes brancos
ocupam boa parte dos cursos com maior interesse de mercado. De acordo com a tabela
seguinte, os dez cursos de graduao com os maiores percentuais de estudantes brancos so
Arquitetura (83,9%), Odontologia (81,2%), Medicina Veterinria (81,2%), Engenharia
Mecnica (80,6%), Direito (79,9%), Farmcia (79,8%), Psicologia (79,5%), Administrao
(78,3%), Comunicao social (78,2%) e Medicina (78%). Os cursos com os menores
percentuais de estudantes brancos so Histria (55,5%), Geografia (56,4%), Matemtica
(61,8%), Letras (61,9%), Fsica (64,4%), Pedagogia (64,9%), Enfermagem (67,6%), Cincias
biolgicas (69%), Qumica (70,8%) e Cincias Contbeis (71,9%).
9 O ENADE 2004 avaliou 13 cursos: agronomia, educao fsica, enfermagem, farmcia, fisioterapia,fonoaudiologia, medicina veterinria, medicina, nutrio, odontologia, servio social, terapia ocupacional ezootecnia.
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Tabela 9 Brasil: percentual de graduandos brancos nos cursos oferecidos pelas IES 2003
Curso Cor/raa Branca
Arquitetura e urbanismo 83,9Odontologia 81,2
Medicina veterinria 81,2Engenharia mecnica 80,6
Direito 79,9Farmcia 79,8Psicologia 79,5
Administrao 78,3Comunicao social 78,2
Medicina 78Engenharia qumica 77,8
Engenharia civil 77,6Engenharia eltrica 77,4
Agronomia 75,8Fonoaudiologia 74,5
Economia 72,9Cincias contbeis 71,9
Qumica 70,8Cincias biolgicas 69
Enfermagem 67,6Pedagogia 64,9
Fsica 64,4Letras 61,9
Matemtica 61,8Geografia 56,4Histria 55,5Total 72,9
Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)
Ao observar, alm da tabela anterior, as duas seguintes (Tabelas 10 e 11), verifica-se, em
geral, que nos cursos com maior nmero de brancos (comumente os mais concorridos)
encontram-se, igualmente, os percentuais mais elevados de alunos que concluram o ensino
mdio todo em escola privada e cujos pais apresentam maior nvel de escolaridade. Os cursos
em que o percentual de brancos menor so os menos concorridos, os que apresentam pais
com menor escolaridade e uma maior concentrao de alunos que concluram o ensino mdio
em escola pblica. A nica exceo o curso de Administrao, que embora tenha um alto
percentual de brancos (78,3%), boa parte dos estudantes concluiu o ensino mdio na rede
pblica (44,1%).
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Tabela 10 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, por tipode escola em que cursou o ensino mdio 2003
Cursosde graduao Todo em Todo emescola pblica escola privada
Medicina 9,9 73,8Odontologia 13 68,1
Arquitetura e urbanismo 19,2 64,4Fonoaudiologia 20,7 58,3
Medicina veterinria 21,8 56,9Comunicao social 27,5 55,7Engenharia qumica 31,6 52,3
Engenharia civil 32,4 52,2Psicologia 30 50,9
Farmcia 27,9 49Engenharia eltrica 37,7 47,3Engenharia mecnica 38,8 46,6
Direito 32,5 45,6Economia 41,9 40,3Agronomia 35,9 39,2
Administrao 44,1 36,3Cincias biolgicas 48,3 34,8
Enfermagem 43,9 34,4Fsica 57,4 27,9
Qumica 55,6 27,4Cincias contbeis 55,2 26,3
Histria 61,1 20,4Letras 65 18,8
Geografia 63,6 18,7Pedagogia 65,8 18,1
Matemtica 69,3 17,1Total 40,9 39,5
Fonte: Deaes/INEP/MEC (Relatrio sntese do ENC - 2003)
Tipo de escola em que
cursou o ensino mdio
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Tabela 11 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, por nvelde escolaridade do pai 2003
Escolaridade do pai
Cursos Ensino Fundamental Ensino Fundamental Ensino Superiorat a 4 entre a 4 e a 8Medicina 6,3 19,6 66,3
Arquitetura e urbanismo 8,6 25,4 55,3Odontologia 9,3 25,5 54,7
Medicina veterinria 10,5 26,5 51,1Engenharia civil 13,8 28 45
Comunicao social 14,2 27 44,1Engenharia eltrica 13,6 28,7 43,5Engenharia qumica 15 29,7 39,6
Fonoaudiologia 13,4 32,2 39,5
Engenharia mecnica 17,2 28,1 39,1Direito 20,8 23,9 37,9Psicologia 20,2 25,8 37,8Farmcia 17,6 30,6 33,8
Agronomia 20,6 28,6 32,1Economia 26,2 26,6 26,3
Administrao 29 25,8 22,9Cincias biolgicas 29,3 24,9 21,1
Fsica 28 27,8 19,3Enfermagem 28,6 28,9 18,1
Qumica 33 26,3 15,3
Cincias contbeis 37,9 22,6 14,4Histria 43,7 16,5 9,5Letras 44,3 16,5 8,7
Geografia 44,7 15,1 8,5Matemtica 44,3 16,5 7,3Pedagogia 50,1 13,7 6,8
Total 27 22,6 29,2Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)
Alm disso, os dados sobre renda familiar dispostos na tabela abaixo mostram que os cursos
comumente mais concorridos so tambm os que apresentam, de modo geral, os maiores
percentuais da faixa de renda mais alta. Sendo assim, os cinco maiores percentuais da faixa
de renda acima de R$7.200 competem aos seguintes cursos: Medicina (24,3%), Odontologia
(16%), Arquitetura e urbanismo (15,4%), Direito e Engenharia civil (ambos com 12,4%) e
Medicina veterinria (10,8%). J na faixa de renda at R$720, os cinco cursos que
apresentam os maiores percentuais esto associados s licenciaturas: Histria (37,9%),
Geografia (37,4%), Matemtica (33,1%), Letras (32,2%) e Pedagogia (31,3%).
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Tabela 12 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, porrenda familiar mensal 2003
Renda familiar mensal
Cursos At De R$721 De R$2.401 Mais deR$720 a R$2.400 a R$4.800 R$7.200
Medicina 5,1 22,4 26,5 24,3Odontologia 3,6 25,5 33,6 16
Arquitetura e urbanismo 5 30,2 29,2 15,4Direito 6,7 36,7 27,7 12,4
Engenharia civil 7,9 36,9 27,7 12,4Medicina veterinria 7,9 34 29,1 10,8Comunicao social 8 38,1 28,5 10,5
Psicologia 8,2 39,8 27,7 9,6
Economia 10 43,3 25,7 9,4Engenharia eltrica 5,9 38,5 31,5 9,3Engenharia mecnica 6,6 35,2 33 9,3
Administrao 7,5 44,1 27,7 8,8Engenharia qumica 10,3 40,1 28,5 8,6
Agronomia 16,8 41,3 21,2 7,8Fonoaudiologia 7,8 42,6 28,3 7,5
Farmcia 8,3 43,6 29,4 5,6Cincias contbeis 12,2 54,4 22,9 3,5Cincias biolgicas 23,9 50,3 16,8 2,3
Fsica 26,6 48,7 16,5 2,2Enfermagem 16,1 56,2 19,1 2Qumica 22,5 54,5 17,2 1,8Histria 37,9 46 10,6 1,4
Geografia 37,4 48,4 10,3 1,1Letras 32,2 50,7 11,6 1,1
Pedagogia 31,3 52,3 11,9 1Matemtica 33,1 53 10,6 0,7
Total 16,8 41,8 21,8 7,9Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)
Enfim, nos ltimos anos, principalmente a partir dos anos 90, as oportunidades na rea de
educao aumentaram de forma significativa no Brasil. Houve um crescimento no nmero de
vagas abertas matrcula em todos os nveis de ensino e reduo da distoro srie-idade10.
No entanto, embora haja grande oferta de vagas nas IES privadas e tambm nos cursos de
10Segundo os dados educacionais do INEP (Informativo 69, 14/12/2004), na 8 srie do EF, a distoro srie-idade, em 2000, era de 48,6%, caindo para 40,6 % em 2003. A distoro no EM, em 2000, alcanava 54,9% dosestudantes, passando para 49,3% em 2003.
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graduao distncia11, persiste uma demanda no atendida por cursos de graduao
presenciais nas IES pblicas. Diante disso, possvel afirmar que a tenso entre oferta e
demanda um problema dos estabelecimentos pblicos, e no do sistema como um todo.
2.4 Retomando os principais pontos do captulo
Este captulo teve por objetivo elucidar alguns aspectos caractersticos do ensino superior
brasileiro. Deste modo, foram apresentados os tipos de curso e os requisitos de acesso ao ES.
Alm disso, foram tambm discutidas questes referentes s matrculas, vagas e demanda
pelo ES. Por fim, foram apresentados alguns indicadores relativos composio social dasIES brasileiras. A visualizao desses indicadores importante porque as variveis desta
dissertao so compostas por indicadores semelhantes.
Conforme os dados apresentados, inegvel a expanso do ES brasileiro a partir da dcada
de 90. No entanto, verifica-se que tal crescimento ocorreu em grande parte via rede privada.
Nas instituies pblicas, o crescimento tem sido mais lento. Deste modo, persiste um
nmero significativo de jovens que no tem acesso ao ensino pblico e gratuito.
A discrepncia entre a oferta de vagas nas redes pblica e privada tambm expressa pela
relao candidato/vaga. Conforme foi mostrado, esta relao bastante elevada nas IES
pblicas quando comparada s IES privadas (7,4 candidatos/vaga e 1,3 candidatos/vaga,
respectivamente).
Alm disso, verificou-se que um grande nmero de alunos da rede privada faz parte de umademanda no atendida pela rede pblica. Sendo assim, no existe competio por alunos
entre as redes, mas apenas entre as instituies da rede privada.
11De acordo com dados do Inep (Informativo 75, 02/02/05), a oferta de cursos de graduao distncia deu umsalto nos ltimos quatro anos. Em 2000, havia 1.682 matrculas, oferecidas por IES pblicas. Apenas trs anosdepois, havia no Brasil 39.804 matrculas. At 2001, s havia oferta de cursos de graduao distncia no setor
pblico. O setor privado comea a se interessar pela rea somente a partir de 2002, quando as IES privadasaparecem oferecendo 6.392 matrculas, 15,6% do total. Em 2003, 16 cursos de graduao distncia eramoferecidos pelo setor privado, somando 10.107 matrculas, 20% do total de 49.911 matrculas.
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Em relao composio social do ES brasileiro, observou-se que h um maior nmero de
mulheres cursando este nvel de ensino. No entanto, h uma tendncia concentrao das
mulheres em cursos que oferecem a habilitao de licenciatura. J os homens, tendem a se
concentrar em alguns cursos de engenharia e cincias exatas.
Alm disso, os dados revelaram que o ES ainda bastante elitista. Exemplo disso so os
dados das IFES referentes s classes sociais do seu alunado (57% dos seus alunos pertencem
s classes A e B; e 52,9% so provenientes do EM privado). No entanto, h um percentual
maior de estudantes de baixa renda na rede pblica de ES. Todavia, vlido ressaltar as
diferenas entre as IES da rede pblica, de modo que o perfil socioeconmico do seu alunado
varia conforme a categoria administrativa da instituio e a sua localizao.
Em relao s questes tnicas, foi visto que a populao branca est super-representada no
ES brasileiro, enquanto que as populaes negra e parda/mulata esto sub-representadas.
De forma resumida, os dados mostraram que os cursos socialmente mais valorizados tendem
a concentrar estudantes brancos, provenientes do EM privado, cujos pais possuem maior
nvel de escolaridade e uma renda familiar mais alta. O inverso ocorre com os cursossocialmente menos valorizados, que tendem a registrar estudantes no-brancos, oriundos do
EM pblico, cujos pais apresentam um nvel de escolaridade menor e uma renda familiar
mais baixa.
Portanto, verificou-se, de forma geral, que no ES brasileiro h uma clara distino de perfis
socioeconmicos entre os cursos. Dois grupos aparecem em destaque: de um lado, um grupo
formado pelos cursos considerados socialmente valorizados (exs.: Arquitetura e urbanismo,Medicina, Medicina veterinria, Odontologia), de outro lado, um grupo composto pelos
cursos considerados pouco prestigiados (exs.: Geografia, Histria, Matemtica, Pedagogia)
A discusso sobre os perfis dos cursos ser retomada mais adiante, uma vez que a pesquisa
emprica realizada nesta dissertao coletou informaes referentes ao perfil socioeconmico
dos candidatos aos cursos de graduao da UFRGS.
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CAPTULO 3 ESCOLHA DO CURSO SUPERIOR UMA INCURSO TERICA
Diversos estudos tm sido realizados para discutir as escolhas realizadas pelos indivduos ao
longo da carreira educacional. Na literatura referente ao assunto, destacam-se duas
perspectivas que buscam explicar as escolhas de curso superior dos indivduos. De um lado, a
teoria da escolha racional, e de outro, as teorias disposicionalistas.
A teoria da escolha racional foi originalmente aplicada ao contexto educacional por Boudon
(1974), como uma alternativa s explicaes culturalistas dos efeitos das diferenas iniciais
de habilidade entre as classes. Aps Boudon, diversos autores passaram a utilizar a mesmateoria para explicar escolhas realizadas no contexto educacional Erikson e Jonsson (1996),
Goldthorpe (1996), Gambetta (1987).
Segundo a teoria da escolha racional, as pessoas agem de acordo com seus interesses, na
tentativa de maximizar a utilidade de suas decises. As escolhas feitas durante a carreira
educacional so baseadas em clculos de custos, benefcios e probabilidades de sucesso
diante de vrias opes. O sucesso definido em termos de retorno econmico (medido pelarenda e posio social de classe). Como resultado da desigualdade econmica da sociedade,
diferentes posies sociais do origem a diferentes custos, benefcios e probabilidades de
sucesso. Portanto, a avaliao racional disto, mais do que os fatores culturais de classe, que
geram diferenas na escolha feita pelos indivduos de classes sociais distintas.
As teorias disposicionalistas, dentre as quais se destaca a abordagem de Bourdieu, levam em
considerao o passado incorporado dos indivduos, na anlise das prticas ou doscomportamentos sociais. A socializao compreendida como um processo de incorporao
de disposies para sentir, pensar, avaliar, agir.
De acordo com as teorias disposicionalistas, os prprios critrios a partir dos quais os
indivduos percebem e avaliam a estrutura de oportunidades so socialmente constitudos. A
realidade social no meramente algo externo ao indivduo, mas, ao contrrio, configuraria
sua prpria subjetividade, ou mais especificamente, suas disposies para pensar, avaliar e
agir.
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Conforme Bourdieu (2003), as percepes, apreciaes e aes dos indivduos so
decorrentes de um habitus, ou seja de disposies adquiridas nos processos de socializao.
O habitusorienta os indivduos em suas aes e escolhas, inclusive na carreira educacional.
luz das duas perspectivas tericas citadas, algumas pesquisas foram realizadas para discutir
as escolhas educacionais feitas pelo indivduo referentes sua carreira no ensino superior.
3.1 Estudos baseados na teoria da escolha racional
Dentro da teoria da escolha racional, Duru e Mingat (apud Nogueira, 2005) observaram oprocesso de auto-seleo acadmica e socioeconmica dos indivduos. Quanto auto-seleo
acadmica, os autores argumentam que, no caso francs, os indivduos tm probabilidades
diferentes de sucesso nas diversas carreiras do ensino superior conforme o tipo de seu
baccalaurat12
(letras, cincias, economia, etc.)e o grau de excelncia com que ele foi obtido
(atestado por uma nota). De acordo com esta realidade, os indivduos tendem, ento, a
escolher as carreiras mais adequadas ao tipo e mais compatveis com a nota do seu
baccalaurat, ou seja, aquelas nas quais suas possibilidades de sucesso so maiores.
Em relao auto-seleo socioeconmica, os autores observaram que quanto menos
favorvel o perfil socioeconmico dos candidatos, maior tende a ser a sua cautela na escolha
do curso superior. Assim, os indivduos com um mesmo perfil escolar tendem a escolher
cursos de acesso mais ou menos difcil dependendo de sua posio socioeconmica.
Desta forma, os indivduos de origem social mais baixa seriam mais "sensveis ao risco", o
que faria com que eles escolhessem cursos com um grau de dificuldade de acesso compatvel
ou mesmo inferior ao que, em tese, seu perfil escolar permitiria. Os indivduos de origem
social mais elevada, ao contrrio, estariam mais dispostos a correr o risco de se inscrever
numa carreira universitria mais seletiva - normalmente associada a profisses mais
prestigiosas e rentveis - mesmo quando seu perfil escolar no fosse muito favorvel.
12 Significa tanto os exames quanto o certificado conferido ao final do equivalente ao ensino mdio no sistema deensino francs.
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Algo semelhante observado por Gambetta (1987), em estudo feito no sistema educacional
italiano, tambm fundamentado na perspectiva da escolha racional. O estudo aponta que as
famlias de classe baixa so mais sensveis s chances de sucesso do que as famlias de classe
mdia. Estas so mais ambiciosas e se expem mais ao risco do que aquelas, quanto s
escolhas realizadas na carreira educacional de seus filhos.
No Brasil, Sampaio (2000) afirma que o processo de deciso do estudante por um
determinado curso, numa determinada instituio parece ser o resultado de um clculo. Neste
clculo, "o estudante mede sua prpria competncia acadmica e sua possibilidade de xito
em ingressar na carreira pretendida" (SAMPAIO, 2000, p.274).
A pesquisa de Paul e Silva (1998), que analisa os dados do vestibular de 1990 de quatro
instituies pblicas de ensino superior do Rio de Janeiro, ressalta que a preparao
acadmica do indivduo (atestada pelos resultados na primeira etapa do vestibular, comum a
todos os candidatos) influencia sua inscrio em cursos de acesso mais ou menos difcil. As
mdias alcanadas pelos candidatos na primeira etapa tendem a ser maiores ou menores
dependendo do grau de seletividade dos cursos para os quais eles esto inscritos.
Os autores brasileiros citados chegaram concluso semelhante ao estudo de Duru e Mingat,
qual seja, os alunos mais novos e com melhor perfil socioeconmico e acadmico tendem a
escolher os cursos de acesso mais difcil, de maior prestgio e que abrem maiores
perspectivas de ganhos financeiros. Os alunos com perfil e idade menos favorveis tendem,
ao contrrio, a se candidatar aos cursos de acesso mais fcil, menos prestigiosos e que
formam para as profisses menos rentveis.
Para exemplificar o que foi dito, interessante observar alguns dados trazidos pelo estudo de
Paul e Silva. Os autores compararam o perfil socioeconmico dos candidatos aprovados em
medicina e odontologia com o perfil dos candidatos que obtiveram a pontuao necessria
para o ingresso nestes cursos, mas optaram por cursos na rea de arte e educao. O
percentual dos aprovados em medicina e odontologia que tem pais com curso superior era de
72%, contra apenas 37,5% daqueles que obtiveram a pontuao necessria, mas escolheram
arte e educao. Da mesma forma, enquanto apenas 13% dos futuros mdicos e dentistas
pretendiam trabalhar durante o curso superior, essa era a inteno de 75% daqueles que
poderiam ter optado por essas carreiras de prestgio, mas se inscreveram em arte e educao.
7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia
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Em estudo brasileiro mais antigo, Gouveia (1968, 1970) j apontava a existncia de uma
estreita correlao entre a origem social dos estudantes e o campo do ensino superior no qual
estavam matriculados. Gouveia mostrava a relao entre a situao socioeconmica doestudante e o curso escolhido, a concentrao dos alunos com perfil socioeconmico mais
elevado na rea de cincias e tecnologia, incluindo-se a os cursos de Medicina, Odontologia
e Arquitetura.
Outra constatao das pesquisas, tanto nacionais quanto estrangeiras, que os indivduos se
auto-selecionam baseados no gnero e na rea/cor. Em relao primeira dessas dimenses, a
bibliografia aponta a tendncia das mulheres de evitarem os cursos da rea de exatas, comexceo daqueles voltados para o magistrio.
Braga, Peixoto e Bogutchi (2001) mostraram que 30% dos candidatos do sexo masculino
inscritos no vestibular da UFMG, em 1999, optaram pelos cursos da rea de exatas. Entre as
mulheres, esse percentual foi de apenas 10,2%. O estudo de Gouveia (1970), j citado,
mostrou tambm que as mulheres (exceto as descendentes de japone