A Escolha de Curso Superior Análise de Correspondência

download A Escolha de Curso Superior Análise de Correspondência

of 130

Transcript of A Escolha de Curso Superior Análise de Correspondência

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    1/130

    Mrcia Nascimento Henriques Knop

    A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de

    Correspondncia Mltipla

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul,como requisito

    parcial para obteno do ttulo de mestre em

    Sociologia.

    Orientadora: Prof. Dr. Mara BaumgartenCorra

    Porto Alegre

    2008

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    2/130

    II

    Universidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Cincias HumanasPrograma de Ps-graduao em Sociologia

    Mrcia Nascimento Henriques Knop

    A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de

    Correspondncia Mltipla

    Porto Alegre

    2008

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    3/130

    III

    Mrcia Nascimento Henriques Knop

    A escolha de curso superior dos vestibulandos da Universidade Federal do RioGrande do Sul: um estudo quantitativo com utilizao de Anlise de

    Correspondncia Mltipla

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul,como requisito

    parcial para obteno do ttulo de mestre em

    Sociologia.

    Orientadora: Prof. Dr. Mara BaumgartenCorra

    Aprovada em: 19 de fevereiro de 2008.

    Banca examinadora:

    Prof. Dr. Clarissa Eckert Baeta Neves

    Prof. Dr. lida Rubini Liedke

    Prof. Dr. Solange Maria Longhi

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    4/130

    IV

    AGRADECIMENTOS

    Concluir esta dissertao teria sido mais difcil no fosse o apoio de algumas pessoas e

    instituies. Meus sinceros agradecimentos...

    ...aos meus pais, Edna e Mrcio, pelo amor e pela formao que me proporcionaram;

    ...ao meu irmo, Eric, pelas ricas memrias da infncia e pelo divertido convvio atual;

    ...ao meu marido, Andr, pelas trocas acadmicas, mas sobretudo por este

    compreensivo amor, que no apenas resistiu a mais uma jornada, mas se revigorou;

    ...a todos os amigos, alguns em especial: ao casal Aline e Marco, pela hospitalidadeafetuosa; a Ana Lcia, pela ajuda tcnica e pelo incentivo; a rica e Fernanda, pela

    amizade e palavras de fora;

    ...aos colegas de mestrado, pelas discusses acadmicas e pelos bate-papos

    descontrados;

    ...aos meus antigos professores, Dora Leal Rosa, Lcia Maria Freire Beltro e Robert

    Evan Verhine, que serviram de inspirao para a minha escolha pelo mestrado;

    ...aos professores do Programa de Ps-graduao em Sociologia da UFRGS, emespecial: Mara Baumgarten (pela orientao) e Cinara Rosenfield (pelas inesquecveis

    aulas);

    ...a CAPES, pelo suporte dado em forma de bolsa de estudo.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    5/130

    V

    SUMRIO

    Lista de grficos.......................................................................................................VII

    Lista de quadros.......................................................................................................VIII

    Lista de tabelas..........................................................................................................IX

    Lista de abreviaturas e siglas...................................................................................XI

    Resumo......................................................................................................................XII

    Abstract....................................................................................................................XIII

    INTRODUO.......................................................................................................14CAPTULO 1 - Procedimentos metodolgicos.....................................................18

    1.1 Breve explanao sobre a Anlise de Correspondncia......................................18

    1.1.1 Principais conceitos..........................................................................................19

    1.1.2Outputsda ACM...............................................................................................20

    1.2 Fonte dos dados e amostra selecionada................................................................25

    1.3 Variveis do estudo..............................................................................................27

    1.4 Sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul...........................................29

    1.5 Retomando os principais pontos do captulo........................................................30

    CAPTULO 2 - Especificidades do ensino superior brasileiro.............................31

    2.1 Ensino superior brasileiro tipos de cursos e requisitos de acesso......................31

    2.2 Matrculas, vagas e demanda pelo ensino superior...............................................32

    2.3 A composio social das IES brasileiras...............................................................35

    2.4 Retomando os principais pontos do captulo.........................................................44

    CAPTULO 3 Escolha do curso superior uma incurso terica.....................46

    3.1 Estudos baseados na teoria da escolha racional.....................................................47

    3.2 Estudos baseados nas teorias disposicionalistas....................................................50

    3.3A teoria disposicionalista de Pierre Bourdieu........................................................52

    3.3.1 O conceito de habituse suas implicaes...........................................................53

    3.3.2 Capitais econmico, cultural e social..................................................................56

    3.4 Retomando os principais pontos do captulo..........................................................60

    CAPTULO 4 As relaes entre candidatos e curso escolhido............................62

    4.1 Variveis de capital econmico e cultural...............................................................64

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    6/130

    VI

    4.1.1 Grfico de ACM para as variveis de capital econmico e cultural.............64

    4.1.2 Tabelas de freqncia para as variveis de capital econmico e cultural....69

    4.2 Variveis de capital escolar....................................................................................78

    4.2.1 Grfico de ACM e tabelas para as variveis de capital escolar....................78

    4.3 Todas as variveis em jogo.....................................................................................84

    4.4 Retomando os principais pontos do captulo..........................................................88

    CONSIDERAES FINAIS.....................................................................................90

    REFERNCIAS..........................................................................................................94

    ANEXO A Tabelas de tabulao cruzada.....................................................................99

    ANEXO B Questionrio socioeconmico do vestibular da UFRGS 2007..................101

    ANEXO C Variveis e categorias................................................................................107

    ANEXO D Categorias das variveis principal ocupao do pai e da me................109

    ANEXO E Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO)...........................................110

    ANEXO FOutputsda ACM.........................................................................................116

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    7/130

    VII

    LISTA DE GRFICOS:

    GRFICO 1 ACM: varveis de capital econmico e cultural...................................65

    GRFICO 2 ACM: varveis de capital escolar.........................................................79

    GRFICO 3 ACM: todas varveis do estudo............................................................84

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    8/130

    VIII

    LISTA DE QUADROS:

    QUADRO 1 Cursos de graduao da UFRGS selecionados para a amostra.............27

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    9/130

    IX

    LISTA DE TABELAS:

    TABELA 1 - Relao candidato/vaga em vestibular e outrosprocessos seletivos nos cursos de graduao presenciais, porcategoria administrativa Brasil e Rio Grande do Sul 2005...................................33

    TABELA 2 Brasil: relao candidato/vaga em vestibular eoutros processos seletivos nos cursos de graduao presenciais - 1990-2004............33

    TABELA 3 Brasil: matrcula dos cursos de graduaopresenciais por gnero 2005....................................................................................35

    TABELA 4 Brasil: concluintes dos cursos de graduao

    presenciais por gnero 2005.....................................................................................35

    TABELA 5 Brasil: percentual de graduandos presentesao ENC 2003, por curso, segundo o sexo.....................................................................37

    TABELA 6 Brasil: renda mensal familiar dos estudantesuniversitrios das IES pblicas e privadas 2003........................................................38

    TABELA 7 Brasil: percentual de ingressantes no ensinosuperior por cor/raa 2004.........................................................................................39

    TABELA 8 Brasil: percentual da populao residente por cor/raa 2004..............39

    TABELA 9 Brasil: percentual de graduandos brancos noscursos oferecidos pelas IES 2003...............................................................................40

    TABELA 10 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por tipo de escola em que cursou o ensino mdio 2003..........41

    TABELA 11 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por nvel de escolaridade do pai 2003.....................................42

    TABELA 12 Brasil: percentual de graduandos dos cursosoferecidos pelas IES, por renda familiar mensal 2003...............................................43

    TABELA 13 UFRGS: Renda mensal familiar - %....................................................71

    TABELA 14 UFRGS: Principal ocupao do pai - %...............................................73

    TABELA 15 UFRGS: Principal ocupao da me - %..............................................74

    TABELA 16 UFRGS: Nvel de escolaridade do pai - %...........................................76

    TABELA 17 UFRGS: Nvel de escolaridade da me - %..........................................77

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    10/130

    X

    TABELA 18 UFRGS: Tipo de estabelecimento em que cursou o EM - %.............81

    TABELA 19 UFRGS: Tipo de curso de EM que cursou - %..................................82

    TABELA 20 UFRGS: Turno em que cursou o EM - %..........................................83

    TABELA 21 UFRGS: Curso x Exerce atividade remunerada.................................99

    TABELA 22 UFRGS: Exerce atividade remunerada x Renda mensal familiar.......99

    TABELA 23 UFRGS: Exerce atividade remunerada xNvel de escolaridade do pai........................................................................................100

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    11/130

    XI

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:

    ACM Anlise de Correspondncia MltiplaAndifes Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino

    Superior

    Deaes Diretoria de Estatstica e Avaliao da Educao Superior

    EF Ensino Fundamental

    EM Ensino Mdio

    ES Ensino Superior

    ENADE Exame Nacional de Desempenho de EstudantesENC Exame Nacional de Cursos

    ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio

    FIES Financiamento Estudantil

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IES Instituies de Ensino Superior

    IFES Instituies Federais de Ensino Superior

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    MEC Ministrio da Educao

    PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclio

    SPSS Statistical Package for the Social Sciences

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    12/130

    XII

    RESUMO

    Esta dissertao centrou-se sobre a questo: De que modo o volume de capitaiseconmico, cultural e escolar dos vestibulandos da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul influencia suas escolhas de curso de graduao. Para responder talpergunta foi realizado um estudo quantitativo, utilizando o software SPSS verso 13.0.Foi selecionada uma amostra de 21 cursos de graduao do vestibular da UFRGS 2007.O modelo estatstico formado por 8 variveis explicativas relacionadas aos capitaiseconmico, cultural e escolar dos vestibulandos da UFRGS. A hiptese principal dadissertao afirma que os candidatos com alto volume de capitais econmico, cultural eescolar tendem a escolher os cursos de maior prestgio, mais concorridos e que doacesso a profisses melhor remuneradas; e candidatos com baixo volume de capitais

    tendem a se inscrever, ao contrrio, nos cursos menos prestigiados, menos concorridose que formam para as profisses consideradas menos rentveis. A hiptese acessriaaponta a existncia de um outro fator que exerce influncia na escolha do cursosuperior que a estrutura e a poltica institucionais. Os resultados empricos apontarampara a confirmao das duas hipteses. H uma relao estatisticamente comprovadaentre o volume de capitais do indivduo e a escolha do curso de graduao. No entanto,no momento da escolha est tambm presente o aspecto institucional, ou seja, osincentivos e constrangimentos gerados pela instituio, e sua poltica referente, nestecaso, ao acesso e incluso de indivduos com origens sociais distintas. Assim, adissertao mostrou, por exemplo, que os cursos de Direito e Administrao,considerados de alto prestgio, apresentam um perfil de candidato diferente a dependerdo turno em que oferecido. O turno noturno atrai candidatos cujo volume de capitaiseconmico, cultural e escolar mais baixo quando comparado ao seu equivalentediurno.Deste modo, possvel afirmar que alm da influncia do volume de capitaiseconmico, cultural e escolar, h um aspecto referente estrutura e polticainstitucionais que tambm interfere na escolha do curso de graduao.

    Palavras-chave: Ensino Superior. Escolhas educacionais. Capitais econmico, culturale escolar. Anlise de Correspondncia Mltipla.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    13/130

    XIII

    ABSTRACT

    This thesis has a central question: How the economic, cultural and academic capital ofuniversity applicants from Federal University of Rio Grande do Sul affects theirchoices of higher education degrees. To answer that question we made a quantitativeanalysis relying on the software SPSS 13.0. The research selected a sample of 21degrees of Federal University of Rio Grande do Sul. The statistical model has 8independent variables to account for the applicants economic, cultural and academiccapital. The main hypothesis is that applicants with a high level of economic, culturaland academic capital tend to choose the most disputed and prestigious degrees whereasapplicants with a low level of capital are more likely to choose the less disputed andprestigious degrees. The second hypothesis is that there is an additional factor that has

    an impact on applicants choice of a higher education course, relative to theinstitutional dimension. The results confirm both hypotheses. There is a statisticalcorrelation between the volume of economic, cultural and academic capital possessedby individuals and the choice of more prestigious degrees. However the institutionaldimension is also present. For instance the study shows that Law and Administrationdegrees both attract different applicant profiles depending on whether classes areoffered mainly at night or during daytimes. Night classes attract applicants with a lowervolume of economic, cultural and academic capital as compared to applicants thatchoose to attend daytime classes. Therefore we can say that besides the influence ofeconomic, cultural and academic capital there is an institutional dimension that alsointerferes with applicants choices.

    Key words: Higher Education. Choices of degree. Economic, cultural and academiccapital. Multiple Correspondence Analysis.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    14/130

    14

    INTRODUO

    As escolhas educacionais feitas pelos indivduos durante a sua trajetria tm sido objeto de

    estudo da sociologia da educao. Diversas pesquisas foram realizadas a fim de explicar os

    fatores que influenciam a escolha do curso superior dos vestibulandos. Muitas destas

    pesquisas analisaram as relaes entre as caractersticas socioeconmicas do indivduo e a

    escolha de curso superior.

    De modo geral, os estudos apontam alguns fatores que afetam a escolha dos estudantes por

    determinados cursos. Dentre tais fatores, destacam-se os de ordem socioeoconmica, s vezestratados como capital econmico e cultural (renda familiar, ocupao dos pais, nvel de

    escolaridade dos pais); de ordem acadmica, por vezes chamados de capital escolar

    (desempenho escolar, natureza da escola pblica ou privada, etc); de etnia (raa/cor) e de

    gnero (sexo masculino/feminino).

    A dissertao que me propus a fazer inspirou-se nos estudos acima citados a fim de analisar

    alguns fatores sociais que esto em cena no momento da escolha do curso superior feita pelosvestibulandos. Tomei como ponto de partida a teoria disposicionalista da ao de Pierre

    Bourdieu, atravs de uma discusso sobre o habituse os conceitos de capitais econmico,

    cultural e social para explicar o nvel socioeconmico das famlias.

    Assim, esta dissertao buscou responder seguinte questo: De que modo o volume de

    capitais econmico, cultural e escolar dos vestibulandos da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul influencia suas escolhas de curso superior?

    A relevncia desta questo torna-se evidente quando se considera que o carter elitista do

    ensino superior brasileiro tem sido objeto de discusso e de iniciativas de polticas pblicas

    de acesso e incluso. A expanso do ensino superior brasileiro, ocorrida principalmente a

    partir dos anos 90, reforou o interesse pelo tema sobre as escolhas de curso superior.

    Conforme Schwartzman (2004), apesar da expanso, os estudos mostram que o crescimento

    do ensino superior ainda no trouxe grandes mudanas na composio social do seu corpo

    discente. Logo, deduz-se que, de modo geral, a expanso deste nvel de ensino deu-se atravs

    da incorporao de indivduos do mesmo meio socioeconmico dos candidatos anteriores.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    15/130

    15

    Nos ltimos anos, porm, as instituies de ensino superior (IES) tm sido pressionadas a

    incluir alunos vindos de meios socioeconmicos menos privilegiados. Note-se, por exemplo,

    a implementao do FIES (Financiamento Estudantil) para os estudantes das IES particulares

    e das polticas de cotas em algumas IES pblicas1. Medidas deste tipo trazem tona uma

    srie de questes relevantes para a sociologia da educao, dentre elas, as escolhas dos

    vestibulandos referentes ao curso superior.

    Sendo assim, esta dissertao buscou entender de que forma determinados fatores sociais

    (capitais econmico, cultural e escolar) atuam no momento da escolha do curso superior,

    mostrando as diferenas/semelhanas de perfil social dos candidatos de diversos cursos. Osobjetivos principais foram: (a) verificar a influncia dos capitais econmico, cultural e

    escolar nas escolhas de curso superior dos vestibulandos; (b) analisar diferenas e

    semelhanas entre os perfis sociais dos candidatos por curso; (c) apontar as lacunas e os

    limites da perspectiva terica adotada; (d) contribuir para os estudos da sociologia da

    educao no Brasil, apresentando novas perspectivas de anlise do processo de escolha de

    curso superior.

    A hiptese principal da dissertao que h uma tendncia geral para que os candidatos com

    alto volume de capitais econmico, cultural e escolar escolham os cursos de maior prestgio,

    mais concorridos e que do acesso a profisses melhor remuneradas; e candidatos com baixo

    volume de capitais se inscrevam, ao contrrio, nos cursos menos prestigiados, menos

    concorridos e que formam para as profisses consideradas menos rentveis.

    No entanto, ao longo da dissertao, foi desenvolvida uma hiptese acessria: h um outrofator que exerce influncia na escolha do curso superior que chamei de estrutura e poltica

    institucionaisda universidade para qual o indivduo se candidata. Entende-se por estrutura e

    poltica institucionaisos incentivos e constrangimentos gerados pelas instituies, bem como

    a poltica adotada referente, neste caso, ao acesso e incluso de indivduos com origens

    sociais distintas. No caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fato de

    oferecer alguns cursos prestigiados no turno noturno tem atrado o interesse de candidatos

    1Cabe ressaltar que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) adotou a poltica de cotas para ovestibular de 2008. No entanto, os dados desta pesquisa so de 2007, quando ainda no havia sido implementadatal medida.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    16/130

    16

    que apresentam um nvel socioeconmico mais baixo quando comparado ao seu equivalente

    diurno. Portanto, a oferta de cursos noturnos um incentivo institucional para atrair

    candidatos de perfis sociais distintos.

    A fim de verificar a pertinncia das hipteses levantadas, foi realizado um estudo de cunho

    quantitativo. A partir do banco de dados fornecido pela COPERSE2, foi selecionada uma

    amostra de candidatos ao vestibular da UFRGS de 21 cursos de graduao presenciais. Em

    seguida, os dados foram analisados atravs de uma tcnica estatstica chamada Anlise de

    Correspondncia Mltipla (ACM). Para realizar esta anlise, utilizei o programa de

    computador SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na sua verso 13.0. A Anlise

    de Correspondncia Mltipla consiste basicamente na produo de grficos, a partir dos quais possvel tirar concluses acerca das relaes de associao ou oposio entre as variveis

    do estudo.

    O modelo estatstico apresentado formado por 8 variveis explicativas (renda mensal

    familiar, principal ocupao do pai, principal ocupao da me, nvel de escolaridade do pai,

    nvel de escolaridade da me, tipo de ensino mdio cursado, tipo de estabelecimento em que

    cursou o ensino mdio e turno em que cursou o ensino mdio) e 1 varivel dependente(curso).

    Os resultados apontaram para a confirmao das duas hipteses descritas acima. Por um lado,

    verifica-se, de modo geral, uma oposio de perfis de candidatos entre cursos considerados

    de alto prestgio e cursos considerados de baixo prestgio. Por outro lado, verificou-se que um

    mesmo curso, oferecido em turnos diferentes, capaz de atrair pblicos com perfis

    socioeconmicos distintos. A dissertao mostrou, por exemplo, que os cursos de Direito eAdministrao, considerados de alto prestgio, apresentam um perfil de candidato diferente a

    depender do turno em que oferecido. Assim, o turno noturno atrai candidatos cujo volume

    de capitais econmico, cultural e escolar mais baixo quando comparado ao seu equivalente

    diurno. Desta forma, a dissertao mostra que a estrutura e a poltica institucionais tambm

    influenciam a escolha de curso dos vestibulandos.

    2rgo da UFRGS responsvel pelos processos seletivos e pela organizao das informaes dos vestibulandos.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    17/130

    17

    A dissertao est organizada em 4 captulos, alm da introduo e das consideraes finais.

    O primeiro captulo trata dos procedimentos metodolgicos adotados, esclarecendo como a

    amostra foi construda, quais as variveis que compem o estudo e suas respectivas

    categorias, alm de apresentar uma breve explanao sobre a tcnica estatstica utilizada

    Anlise de Correspondncia e, por fim, uma breve seo sobre a UFRGS.

    O segundo captulo apresenta o cenrio geral em que esta dissertao se insere. feita uma

    discusso sobre o ensino superior brasileiro, apresentando os tipos de curso, os requisitos de

    acesso e os processos de seleo deste nvel de ensino. Alm disso, so discutidas questes

    referentes ampliao das vagas, evoluo da taxa de matrcula e demanda pelo ensino

    superior. Outro aspecto tambm debatido a composio social das IES brasileiras.

    O terceiro captulo consiste numa reviso da bibliografia sobre o tema, citando estudos

    baseados nas teorias da escolha racional e nas teorias disposicionalistas da ao. Ainda no

    mesmo captulo, apresentado e discutido o referencial terico utilizado nesta dissertao.

    O quarto captulo mostra os resultados empricos observados a partir da tcnica descrita no

    captulo 1. A fim de demonstrar as relaes entre os candidatos e o tipo de curso escolhido,todas as variveis explicativas so analisadas em relao varivel dependente. Neste

    captulo so apresentados trs grficos de ACM. Os resultados so analisados luz do

    referencial terico, ao mesmo tempo em que so apontados os seus limites e novos elementos

    so acrescentados para explicar os achados da dissertao.

    Por fim, as consideraes finais do estudo retomam a pergunta e os objetivos propostos para

    mostrar a resposta a que cheguei. Deste modo, os achados so discutidos e apresentada umaexplicao para as escolhas de curso dos vestibulandos.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    18/130

    18

    CAPTULO 1 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    De acordo com o que foi dito na introduo, esta dissertao apresenta uma anlise

    quantitativa dos dados coletados, a partir da utilizao de uma tcnica estatstica intitulada

    Anlise de Correspondncia Mltipla. O programa de computador utilizado para realizao

    desta anlise foi o SPSS verso 13.0. Aproveito para ressaltar que o software utilizado est na

    lngua inglesa, portanto os resultados (outputs)so apresentados em ingls, exceto o nome

    das variveis e as abreviaturas de suas categorias que foram inseridas por mim.

    Alm disso, para auxiliar a interpretao dos dados, foram feitas tabelas de freqncia para

    cada varivel e trs tabelas de tabulao cruzada (essas ltimas esto no Anexo A). As tabelasde freqncia esto dispostas ao longo do captulo 4. importante lembrar que durante a

    construo da anlise houve missing data (dados faltantes). Portanto, nas tabelas em que

    aparecem os valores absolutos, possvel que haja diferena entre o total da amostra original

    e o total da amostra apresentado na tabela.

    A fim de elucidar os procedimentos metodolgicos adotados, este captulo far uma breve

    explanao sobre a Anlise de Correspondncia, alm de apresentar a fonte emprica dosdados, a amostra selecionada, as variveis do estudo e suas categorias e, por fim, uma seo

    sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    1.1 Breve explanao sobre a Anlise de Correspondncia

    A Anlise de Correspondncia (AC) uma tcnica multivariada para anlise exploratria dedados categorizados. As primeiras consideraes matemticas a respeito da AC foram feitas

    por Hirschfeld, em 1935. A partir da, os procedimentos numricos e algbricos foram

    aplicados em diferentes contextos, especialmente em ecologia e psicologia. No incio da

    dcada de 60, a tcnica foi redescoberta na Frana e, desde ento, tem sido utilizada naquele

    pas de forma extensiva como um mtodo grfico de anlise de dados. A partir de 1975, a

    tcnica passou a ser utilizada em diversas reas do conhecimento.

    Devido s diversas vantagens apresentadas na utilizao da AC, o seu uso tem sido

    recomendado para investigao de dados em cincias sociais. Segundo Carvalho (2004) este

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    19/130

    19

    tipo de abordagem apresenta como um dos seus requisitos a identificao de mltiplos fatores

    considerados pertinentes para captar a estrutura dos fenmenos em estudo. Portanto,

    plenamente aplicvel aos fenmenos sociais de complexidade multidimensional. Alm disso,

    uma tcnica descritiva e apropriada anlise de variveis categricas; tipos de mensurao

    muito comuns na pesquisa social. Ademais, este procedimento j havia sido utilizado em

    estudos que analisam questes de pesquisa comuns a esta dissertao, como Bourdieu

    (1998b) e Wynne, OConnor, Philips (1996), Ferreira (2003).

    1.1.1 Principais conceitos

    A AC uma tcnica de anlise exploratria de dados adequada para avaliar tabelas de duasou mltiplas entradas, levando em conta algumas medidas de correspondncia entre linhas e

    colunas. Simplificando, podemos dizer que a AC converte uma matriz de dados em um tipo

    particular de representao grfica, em que linhas e colunas da matriz so representadas de

    forma simultnea em dimenso reduzida, isto , por pontos no grfico.

    Este mtodo permite a visualizao das relaes mais importantes de um grande conjunto de

    variveis entre si. De forma resumida, a AC gera grficos onde os atributos categricos deuma varivel so dispostos num plano bidimensional. A associao, ou no, entre as

    categorias dada pela proximidade entre elas no grfico (Greenacre, 1981/1994; Lebart,

    Morineau e Warwick, 1984).

    Embora seja considerada uma tcnica descritiva e exploratria, a AC simplifica dados

    complexos e produz anlises de informaes que suportam concluses a respeito das mesmas.

    Um dos pontos relevantes desta tcnica que no h exigncia de normalidade para aresposta estudada. Em outras palavras, os testes estatsticos inferenciais no so aqui

    utilizados, estando a soluo sugerida pela distribuio grfica de seus resultados, o que se

    constitui na base da escola francesa para as anlises multivariadas (Benzcri, 1992).

    Em geral, o ponto de partida da AC uma matriz (da qual o grfico se origina) onde nas

    linhas temos os "casos" e nas colunas, as variveis. No nosso exemplo, as linhas so os

    candidatos ao vestibular da UFRGS, e as colunas, as variveis utilizadas: curso de graduao

    escolhido, nvel de escolaridade do pai e da me, principal ocupao do pai e da me, renda

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    20/130

    20

    mensal familiar, tipo de ensino mdio cursado, tipo de estabelecimento em que cursou o

    ensino mdio e turno em que cursou o ensino mdio.

    Assim, cada candidato (linha da matriz de dados) apresenta um "perfil" definido por suasrespostas em cada quesito do instrumento de coleta de informaes utilizado. Da mesma

    forma, cada varivel (coluna) ter um "perfil" em funo da distribuio dos candidatos.

    A AC pode ser aplicada na sua forma simples ou multivariada. A anlise de correspondncia

    simples gera um grfico de apenas duas variveis. A anlise de correspondncia mltipla

    capaz de gerar um grfico com diversas variveis ao mesmo tempo.

    Para os fins desta pesquisa, utilizamos a anlise de correspondncia mltipla (ACM). Em

    seguida sero apresentados os outputsdesta tcnica que nos ajudam a interpretar o resultado

    do grfico da ACM.

    1.1.2Outputsda ACM

    H algumas medidas de anlise dos resultados produzidos para auxiliar a interpretao do

    grfico. Nesta seo, abordarei essas medidas utilizando um exemplo para ilustrao.

    vlido ressaltar que essas medidas apenas reforam o que j est aparente no grfico. Os

    outputs costumam ser anexados em trabalhos acadmicos em respeito ao princpio de

    transparncia da pesquisa.

    Uma das medidas o valor prprio (eigenvalue), tambm chamado de inrcia, que avalia a

    qualidade das dimenses do grfico. Em seguida, verificam-se as medidas de discriminao

    que quantificam a variao de cada varivel. E por fim, realiza-se a quantificao das

    categorias de uma varivel.

    O valor prprio (eigenvalue) ou inrcia indica a variao explicada por cada dimenso do

    grfico, e varia entre 0 e 1. Quanto mais prximo de 1, mais variao explicada na

    dimenso. No caso desta pesquisa e do exemplo abaixo, utilizamos 2 dimenses. No exemplo

    seguinte, possvel ver o valor prprio (que aparece como Inertia) de duas dimenses,

    extrado de um modelo qualquer.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    21/130

    21

    Model Summary

    Variance Accounted For

    Dimensio

    n

    Cronbach's

    Alpha

    Total

    (Eigenvalue) Inertia

    1 ,602 1,671 ,557

    2 ,214 1,167 ,389

    Total 2,838 ,946

    Mean ,443(a) 1,419 ,473

    Conforme o exemplo, verificou-se que a dimenso 1 explica 0,557 da variao, o quetambm pode ser codificado em percentagem 55,7%. A dimenso 2 explica 0,389 ou 38,9%

    da variao.

    Aps verificar os valores prprios das dimenses, hora de dar o passo seguinte, que

    observar as medidas de discriminao das variveis (discrimination measures). As medidas

    de discriminao calculam a variao das variveis em cada dimenso. Quanto mais alto for o

    seu valor (sendo o valor mximo igual a 1), melhor discrimina os objetos em anlise. Ummodelo que tenha variveis com valores prximos a 1 (em uma ou outra dimenso) consegue

    definir melhor os grupos de objetos distintos. Por questes de ordem prtica, o modelo que

    utilizei apenas como ilustrao formado por apenas 3 variveis nvel de escolaridade do

    pai, renda mensal familiare turnoem que cursou o ensino mdio. Assim temos:

    Discrimination Measures

    Dimension

    1 2 Mean

    Nvel de

    escolaridade do pai,641 ,568 ,605

    Renda mensal

    familiar,609 ,521 ,565

    Turno em que

    cursou o EM

    ,421 ,077 ,249

    Active Total 1,671 1,167 1,419

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    22/130

    22

    As medidas de discriminao apontam em qual dimenso a varivel melhor explicada (ou

    seja, melhor discrimina os objetos em anlise). No quadro acima, observou-se que a

    dimenso 1 explica melhor todas as variveis. No entanto, as duas primeiras variveisapresentam valores muito prximos nas duas dimenses, o que indica que podem ser

    explicadas em ambas dimenses. J a terceira varivel, apresenta um valor muito baixo,

    prximo a zero, na dimenso 2, portanto, s explicada pela dimenso 1. Alm do quadro

    das medidas de discriminao, a ACM tambm apresenta um grfico com as mesmas:

    Por fim, oportuno verificar a quantificao das categorias das variveis. No exemplo

    utilizado, as categorias da varivel nvel de escolaridade do paiso: ensino fundamental (ef),ensino mdio (em), ensino superior (es) e ps-graduao (pg). As categorias da varivel

    renda mensal familiarso: at 1 salrio mnimo (at 1 sm), de 1 a 5 salrios mnimos (1 5

    sm), de 5 a 10 salrios mnimos (5 10 sm) e mais de 10 salrios mnimos (mais de 10 sm).

    As categorias da varivel turno em que cursou o ensino mdio so: todo ou maior parte

    diurno (diu) e todo ou maior parte noturno (not).

    A quantificao ir mostrar as associaes e oposies ao comparar as categorias das

    variveis do modelo. As associaes so traduzidas por quantificaes com o mesmo sinal; as

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    23/130

    23

    oposies correspondem s quantificaes com sinais contrrios. A seguir, apresentarei os

    quadros com as quantificaes das categorias de cada varivel:

    Nvel de escolaridade do pai

    Centroid Coordinates

    Dimension

    Category Frequency 1 2

    ef 4014 1,266 -,653

    em 5659 ,354 ,758

    es 7618 -,559 ,318

    pg 2692 -1,153 -1,478

    Missing 452

    .

    Renda mensal familiar

    Category

    Frequenc

    y Centroid Coordinates

    Dimension

    1 2

    at 1 sm 600 1,427 -1,677

    1 - 5 sm 7531 ,845 ,027

    5 - 10 sm 6194 -,209 ,901

    mais de 10 sm 5957 -,968 -,812

    Missing 153

    Turno em que cursou o EM

    Centroid Coordinates

    Dimension

    Category Frequency 1 2

    diu 18380 -,209 ,090

    not 2012 1,968 -,844

    Missing 43

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    24/130

    24

    Observando os valores com sinais negativos, o modelo sugere uma associao entre as

    categorias: diurno, de 5 a 10 sm, mais de 10 sm, ensino superior e ps-graduao. Em relao

    s categorias que apresentam sinais positivos, encontra-se uma outra associao: noturno, at

    1 sm, de 1 a 5 sm, ensino fundamental e ensino mdio. Se for o caso, dentro de uma mesma

    associao, podemos buscar sub-grupos, ou seja, categorias que apresentem os mesmos

    sinais e valores muito prximos.

    Aps estas verificaes, possvel partir para uma interpretao do grfico com mais

    segurana. Segue abaixo o grfico de ACM para o modelo em questo:

    Como bem indicaram as medidas de discriminao, a dimenso 1 consegue distribuir melhor

    as variveis, e assim, tornar mais evidente as relaes entre elas. Desta forma, o lado

    esquerdo do grfico possui apenas as categorias negativas, e o lado direito, as positivas. O

    primeiro e o segundo quadrantes apresentam grupos distintos, bem como o terceiro e quarto

    quadrantes. O primeiro e o terceiro quadrantes apresentam grupos em oposio, bem como o

    segundo e o quarto quadrantes.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    25/130

    25

    1.2Fonte dos dados eamostra selecionada

    A dissertao utilizou dados referentes aos candidatos ao vestibular da UFRGS de 2007.

    Cabe esclarecer que a UFRGS foi escolhida devido ao fato de ser uma das instituies de

    ensino superior mais importantes da regio sul. Alm disso, a escolha de estudar essa

    instituio tambm ocorreu devido permisso de acesso aos dados, concedida com menos

    dificuldade por ser um estudo dissertativo dentro de uma programa de ps-graduao da

    prpria instituio.

    Utilizei como fonte emprica as respostas ao questionrio socioeconmico do Manual do

    Candidato ao vestibular da UFRGS de 2007. Este questionrio aplicado aos candidatos nomomento da inscrio ao vestibular. O preenchimento do questionrio feito pelo prprio

    candidato e enviado junto ficha de cadastro.

    De modo geral, as perguntas do questionrio so relativas s caractersticas demogrficas dos

    candidatos; caractersticas socioeconmicas das famlias; origem escolar do candidato

    (referente ao Ensino Fundamental e ao Ensino Mdio); e percepo e expectativas quanto

    ao curso e instituio escolhidos (verAnexo B Questionrio socioeconmico do vestibularda UFRGS 2007). A partir deste questionrio, algumas perguntas foram selecionadas e

    utilizadas para construo das variveis explicativas da dissertao, que sero apresentadas

    ainda neste captulo.

    As respostas ao questionrio socioeconmico do vestibular da UFRGS 2007 esto reunidas

    num banco de dados, organizado pela COPERSE - rgo da UFRGS responsvel pelos

    processos seletivos e organizao das informaes dos vestibulandos.

    O banco de dados apresenta um total de 37.652 casos, sendo este, portanto, o valor da

    populao total. Desta populao foi extrada uma amostra de 20.447 casos. A amostra foi

    selecionada levando em considerao o nmero de inscritos por curso. Verificou-se que este

    nmero variava de 68 a 5.056 inscritos. Desta forma, todos os cursos3 foram classificados em

    3 grupos de acordo com o nmero de inscritos: at 450 inscritos; de 451 a 950 inscritos; mais

    de 951 inscritos. Dentro de cada um destes grupos foram sorteados 7 cursos, compondo uma

    3O nmero total de cursos oferecidos pelo vestibular da UFRGS de 2007 65.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    26/130

    26

    amostra formada por 214cursos de graduao presenciais que variam em relao ao grau de

    prestgio. Cabe ressaltar que embora a amostra dos cursos tenha sido construda atravs de

    sorteio, os cursos de Administrao, Direito e Cincias Sociais foram intencionalmente

    selecionados para a amostra porque apresentavam 2 opes de turno (diurno e noturno).

    Nesse caso, a inteno foi verificar diferenas/semelhanas no perfil dos candidatos por

    turno.

    O critrio utilizado para definir o prestgio de cada curso foi o nmero de candidatos

    inscritos, ou seja, a procura pelo curso. Como informao adicional verificou-se a quantidade

    de vagas para cada curso e a concorrncia dos cursos (relao candidato/vaga). Na maioria

    dos casos os cursos com menor quantidade de candidatos inscritos apresentam as menoresconcorrncias e o oposto costuma ocorrer com os cursos de maior procura. Todavia h

    excees, pois alguns cursos apresentam uma relao candidato/vaga um pouco maior que os

    outros cursos do seu grupo. Esse o caso dos cursos de Histria noturno, Relaes

    Internacionais, Comunicao Social publicidade e propaganda, Comunicao Social

    jornalismo, Psicologia. Isso pode ser explicado pela variao na quantidade de vagas

    disponveis para cada curso. Alguns cursos dispem apenas de 40 vagas (Psicologia e

    Relaes Internacionais), enquanto outros cursos tm o dobro 80 vagas (Administraodiurno), e o mximo chega a 160 vagas (Administrao noturno).

    O quadro abaixo apresenta a amostra por estrato, indo dos cursos considerados menos

    prestigiados aos mais prestigiados.

    4A deciso por escolher 21 cursos de um universo de 65 justifica-se pelo fato do grfico produzido pela ACMter sua visibilidade comprometida caso fosse escolhida uma amostra maior.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    27/130

    27

    Quadro 1 Cursos de graduao da UFRGS selecionados para a amostra (dispostos emordem crescente de inscritos)

    Relao

    candidato/vagaat 450Geografia noturno 169 30 5,7Cincias Sociais diurno 260 65 4,02Biblioteconomia 285 75 3,87Filosofia 306 60 5,15Letras bacharelado 328 83 4,01Histria noturno 380 45 8,47Cincias Sociais noturno 441 100 4,42

    de 451 a 950Engenharia Qumica 557 75 7,47

    Engenharia Eltrica 646 100 6,48Relaes Internacionais 789 40 19,77Com. Social - Publicidade e Propaganda 799 50 16,04Farmcia 856 110 7,8Com. Social - Jornalismo 886 50 17,8Psicologia 935 40 23,55

    mais de 951Administrao diurno 952 80 11,95Arquitetura e Urbanismo 1159 100 11,66Odontologia 1165 88 13,26Direito noturno 1306 70 18,81

    Direito diurno 1542 70 22,13Administrao noturno 1630 160 10,21Medicina 5056 140 36,28Total 20.447 1.631

    Cursos Candidatos inscritos Vagas

    Fonte: Questionrio socioeconmico do Manual do candidato ao vestibular da UFRGS - 2007

    1.3 Variveis da dissertao

    A dissertao apresenta como varivel dependente o curso superior escolhido. As 8 variveis

    explicativas esto logo abaixo, classificadas por tipos:

    Variveis de capital cultural:

    - nvel de escolaridade do pai

    - nvel de escolaridade da me

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    28/130

    28

    Variveis de capital econmico:

    - renda mensal familiar

    - principal ocupao do pai

    - principal ocupao da me

    Variveis de capital escolar5(ou de ordem acadmica):

    - tipo de estabelecimento em que cursou o ensino mdio

    - tipo de curso de ensino mdio

    - turno em que cursou o ensino mdio

    Conforme dito anteriormente, as variveis foram selecionadas com base no questionriosocioeconmico do manual do candidato ao vestibular da UFRGS de 2007. O questionrio

    apresentou um total de 21 questes (ver Anexo B), dentre as quais algumas foram

    selecionadas para compor as variveis. Foram escolhidas as questes que representavam os

    indicadores mais relacionados aos capitais econmico, cultural e escolar, uma vez que este

    o foco da dissertao. Consequentemente, as questes referentes s caractersticas

    demogrficas (raa/cor, gnero) dos candidatos, bem como sua percepo e expectativa em

    relao ao curso e instituio foram excludas.

    No h dvida de que as 8 variveis explicativas selecionadas no esgotam a possibilidade de

    indicadores de capitais econmico, cultural e escolar. No entanto, considerando os limites da

    fonte utilizada (o questionrio), estes foram os melhores indicadores que consegui extrair

    para cada tipo de varivel. Alm disso, estudos semelhantes a este costumam utilizar estas

    variveis para operacionalizao da teoria.

    A partir das opes de resposta do questionrio, foram criadas as categorias de cada varivel

    de forma sinttica, a fim de permitir uma melhor visualizao do grfico. Deste modo, por

    exemplo, a questo referente ao nvel de escolaridade do pai que apresentava 8opes de

    resposta foi transformada na varivel nvel de escolaridade do pai apresentando 5

    categorias. Procedimento semelhante foi realizado com as outras variveis (ver Anexo C

    Variveis e categorias).

    5O termo capital escolar no est conceituado no captulo terico (terceiro captulo), pois essa denominaofoi criada por mim.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    29/130

    29

    Ainda em relao s categorias das variveis, interessante esclarecer a forma como foram

    criadas as categorias para as variveis: principal ocupao do pai e principal ocupao da

    me (ver Anexo D Categorias das variveis principal ocupao do pai e principal

    ocupao da me ). A partir da Classificao Brasileira de Ocupaes (ver Anexo E

    Classificao Brasileira das Ocupaes CBO) e levando em conta os aspectos de status e

    remunerao prevista das ocupaes, foram criadas 5 categorias para as variveis principal

    ocupao do pai eprincipal ocupao da me.

    Todas variveis foram analisadas a fim de compreender a associao ou no das

    caractersticas dos candidatos ao tipo de curso escolhido. Assim, foi possvel atingir os

    objetivos propostos por esta dissertao(descritos naIntroduo), alm de testar as hipteses(principal e acessria) levantadas e analisar a questo central proposta.

    1.4 Sobre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Conforme j dito, os dados desta dissertao referem-se Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul (UFRGS). A ttulo de esclarecimento, esta seo apresenta a instituio de

    ensino referida, tecendo um breve histrico e o statusatual da universidade.

    A Universidade Federal do Rio Grande do Sul sediada na cidade de Porto Alegre, capital do

    estado do Rio Grande do Sul, conhecida nacional e internacionalmente. uma instituio

    centenria, cuja histria comea com a fundao da Escola de Farmcia e Qumica, em 1895,

    e logo em seguida, a Escola de Engenharia. Assim era iniciada a educao superior no Rio

    Grande do Sul. Nesse perodo a instituio ainda no havia sido federalizada.

    Ainda no sculo XIX, foram fundadas a Faculdade de Medicina de Porto Alegre e a

    Faculdade de Direito que, em 1900, marcou o incio dos cursos humansticos no Estado. No

    entanto, somente em novembro de 1934, foi criada a Universidade de Porto Alegre, integrada

    inicialmente pelas Escola de Engenharia, com os Institutos de Astronomia, Eletrotcnica e

    Qumica Industrial; Faculdade de Medicina, com as Escolas de Odontologia e Farmcia;

    Faculdade de Direito, com sua Escola de Comrcio; Faculdade de Agronomia e Veterinria;

    Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras e pelo Instituto de Belas Artes.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    30/130

    30

    Outro grande momento de transformao dessa Universidade foi em 1947, quando passou a

    ser denominada Universidade do Rio Grande do Sul, a URGS, incorporando as Faculdades de

    Direito e de Odontologia de Pelotas e a Faculdade de Farmcia de Santa Maria.

    Posteriormente, essas unidades deixaram de fazer parte da URGS, com a criao, da

    Universidade de Pelotas e da Universidade Federal de Santa Maria. Em dezembro de 1950, a

    Universidade foi federalizada, passando esfera administrativa da Unio. Desde ento, a

    UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, passou a ocupar posio importante no

    cenrio nacional, com um dos maiores oramentos do estado do Rio Grande do Sul.

    A UFRGS uma instituio pblica dedicada ao ensino, pesquisa e extenso. Em

    levantamento feito pela prpria instituio no segundo semestre de 2005, haviam 20.583alunos efetivamente matriculados na UFRGS. Esse mesmo levantamento apontou um corpo

    docente formado por 2.508 professores, com diferentes regimes de trabalho (20h, 40h,

    dedicao exclusiva).

    1.5 Retomando os principais pontos do captulo

    Este captulo apresentou uma breve explanao sobre a tcnica de anlise de dados aplicadanesta dissertao Anlise de Correspondncia. Alm disso, mostrou a fonte dos dados (o

    banco de dados da COPERSE, alimentado pelo Questionrio socioeconmico do vestibular

    da UFRGS 2007), a forma de seleo da amostra (formada por 21 cursos de graduao da

    UFRGS), as variveis do estudo e suas categorias, e uma breve apresentao referente

    UFRGS.

    No captulo seguinte, intitulado Especificidades do ensino superior brasileiro, sero feitasconsideraes sobre este nvel de ensino no Brasil e no Rio Grande do Sul em particular.

    Discutiremos questes referentes ao processo de seleo das universidades, s matrculas,

    vagas e demandas pelo ensino superior e composio social da IES brasileiras.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    31/130

    31

    CAPTULO 2ESPECIFICIDADES DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

    Este captulo tem por objetivo discutir o ensino superior brasileiro, apresentando os tipos de

    curso, os requisitos de acesso e os processos de seleo deste nvel de ensino. Alm disso,

    sero discutidas questes referentes ampliao das vagas, evoluo da taxa de matrcula e

    demanda pelo ensino superior. Outro aspecto a ser debatido, a partir de dados sobre os

    universitrios, a composio social das IES brasileiras.

    Antes de prosseguir importante ressaltar que a seo 2.3 deste captulo utiliza-se de dados

    do Exame Nacional de Cursos (ENC) de 2003 que avaliou 26 cursos de graduao:Administrao, Agronomia, Arquitetura, Cincias Biolgicas, Cincias Contbeis,

    Comunicao Social, Direito, Economia, Enfermagem, Eng. Civil, Eng. Eltrica, Eng.

    Mecnica, Eng. Qumica, Farmcia, Fsica, Fonoaudiologia, Geografia, Histria, Letras,

    Matemtica, Medicina, Medicina veterinria, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Qumica.

    No entanto, os cursos selecionados na amostra do ENC 2003 no so necessariamente os

    mesmos selecionados para a amostra desta dissertao.

    2.1 Ensino superior brasileiro tipos de cursos e requisitos de acesso

    Em relao aos tipos de cursos, o ensino superior brasileiro oferece duas principais opes:

    os cursos seqenciais (com at 2 anos de durao) e os cursos de graduao (a maioria com

    durao de 4 anos). So tambm oferecidos cursos de formao tecnolgica, com 2 ou 3 anos

    de durao e cursos com 5 ou 6 anos de durao, como engenharia, medicina, direito.

    Para ingressar no ES brasileiro, o mais comum fazer o exame vestibular, realizado todo ano,

    por cada instituio, sendo o nmero de vagas para cada curso estabelecido pela

    administrao das instituies. O vestibular consiste em provas que cobrem as disciplinas

    cursadas no ensino mdio lngua portuguesa, literatura, lngua estrangeira moderna,

    matemtica, histria, geografia, qumica, fsica, biologia e redao.

    Atualmente h outras formas de ingresso, como o ENEM (Exame Nacional do Ensino

    Mdio), a avaliao seriada do ensino mdio, teste ou prova de conhecimentos, avaliao de

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    32/130

    32

    dados pessoais ou profissionais, entrevistas, exame curricular ou de histrico escolar

    (SOARES, 2002).

    Portanto, para iniciar um curso superior, o estudante deve ter concludo o ensino mdio e ser

    aprovado no exame vestibular ou no processo de seleo adotado pela instituio em que se

    candidatou.

    2.2 Matrculas, vagas e demanda pelo ensino superior

    De acordo com os dados do MEC/INEP (Sinopse do censo da educao superior - 2005), onmero de matrculas no ES6brasileiro de 4.453.156. Dessas, 1.192.189 (26,7%) esto na

    rede pblica (federal, estadual e municipal) e 3.260.967 (73,3%) esto na rede privada

    (particular e comunitria/ confessionria/ filantrpica). De acordo com a mesma fonte de

    dados, o estado do Rio Grande do Sul possui 338.913 matrculas no ES, sendo 49.647

    (14,6%) na rede pblica, e 289.266 (85,4%) na rede privada.

    O aumento significativo das vagas do ES verificado na dcada de 90 ocorreu principalmentevia rede privada. De acordo com dados do INEP (Evoluo do Ensino Superior Graduao

    1990-2000), a taxa de crescimento das vagas oferecidas em vestibular entre 1990 e 2000 foi

    de 62,2% na rede federal, 70,7% na rede estadual, -2,1% na rede municipal e 147,9% na rede

    privada. Esses dados apontam que embora tenha havido um aumento no nmero de vagas na

    rede pblica durante a dcada de 90, o maior percentual ocorreu na rede privada (147,9%).

    Logo, um nmero significativo de jovens continua no tendo acesso ao ensino pblico e

    gratuito.

    Dados mais recentes do MEC/INEP (Sinopse do censo da educao superior 2005)

    mostram que foram oferecidas 313.368 (12,8%) vagas na rede pblica brasileira de ES, e

    2.122.619 (87,2%) na rede privada.

    Outro dado importante a relao candidato/vaga no ES. Neste caso, as instituies pblicas

    apresentam um nmero bem mais elevado, sendo a concorrncia de 7,4 candidatos por vaga

    6 O ES (Ensino Superior) inclui as seguintes categorias: universidades, centros universitrios, faculdadesintegradas, faculdades isoladas, institutos superiores de educao, escolas e centros de educao tecnolgica.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    33/130

    33

    nestas instituies (MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005). Nas

    instituies privadas a concorrncia de 1,3. No Rio Grande do Sul, a relao candidato/vaga

    segue a tendncia nacional. Na rede pblica, esta relao de 8,9, e na rede privada de 1,2

    (MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005).

    Tabela 1 - Relao candidato/vaga em vestibular e outros processos seletivos nos cursosde graduao presenciais, por categoria administrativa Brasil e Rio Grande do Sul 2005

    Brasil Rio Grande do SulPblica 7,4 8,9

    Federal 10,0 9,6Estadual 7,4 3,6Municipal 1,5 -

    Privada 1,3 1,2Particular 1,2 1,2Comun/Confes/Filant 1,6 1,2

    Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior 2005)

    Relao candidato/vagaInstituio

    importante ressaltar que, no decorrer dos ltimos anos, as diferenas na relao

    candidato/vaga se acentuaram, de modo que a concorrncia foi aumentando na rede pblica e

    diminuindo na rede privada (ver tabela abaixo).

    Tabela 2 Brasil: relao candidato/vaga em vestibular e outros processos seletivos noscursos de graduao presenciais - 1990-2004

    Ano Inst. Federal Inst. Estadual Inst. Municipal Inst. Privada*1990 6,2 6,7 2,2 2,91992 7 7 2,2 2,11994 8 8,9 2,5 2,31996 8,7 8,6 2,6 2,51998 9,4 8,9 2,3 2,22000 9,6 10 2,1 1,92002 9,9 9,9 2 1,62004 10,4 8 1,6 1,3

    Fonte: MEC/INEP/Deaes (Evoluo do Ensino Superior Graduao 1990-2000. Sinopses doscensos da educao superior 2000, 2002, 2004)

    * Inst. Privada inclui as categorias: particular, comunitria, confessionria e filantrpica.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    34/130

    34

    Tal fato pode ser explicado pela j citada expanso da oferta de vagas na rede privada,

    ocorrida a partir dos anos 90. Com a expanso, a disputa por vagas em cursos oferecidos

    pelas instituies privadas tende a diminuir.

    A demanda por ES no Brasil cresceu nos ltimos anos aps ter ficado estagnada na dcada de

    1980 (SOARES, 2002). A progresso do nmero de candidatos no vestibular um indicador

    deste aumento. Em 1990, esse nmero era de 1.905.293 inscritos passando para 5.060.956,

    em 2005 (MEC/INEP, Sinopse do censo da educao superior - 2005).

    De acordo com Schwartzman (2001) e Martins (2001), alguns fatores que explicam a

    demanda por ES so: a) a quase universalizao do ensino fundamental e o aumento das taxasde promoo e concluso do ensino mdio (embora estas taxas ainda deixem muito a

    desejar); b) as exigncias do mercado de trabalho por nveis mais elevados de escolaridade e;

    c) as vantagens sociais e econmicas proporcionadas pela obteno de um diploma de curso

    superior.

    Grande parte da demanda pelo ES ainda no pde ser atendida pelo sistema, apesar do

    aumento no nmero de matrculas verificado desde os anos 90. Ciente disto, pode parecercontraditrio a existncia de vagas ociosas no sistema. Na verdade, estas podem ser

    explicadas por alguns fatores: a) o baixo desempenho acadmico dos alunos nas provas de

    seleo, no atingindo a classificao mnima; b) a incapacidade dos alunos de custearem

    seus estudos em instituies privadas; c) um descompasso na oferta e procura dos cursos ps-

    secundrios pblicos e privados, considerando que a ampliao das matrculas no setor

    pblico cresce lentamente quando comparada ao privado (SOARES, 2002).

    De acordo com Soares (2002), os dados referentes demanda e oferta educativa de ES

    levam concluso de que no existe competio entre as instituies pblicas e privadas por

    alunos. Grande parte do alunado da rede privada faz parte de uma demanda no atendida pela

    rede pblica. A competio por alunos no ocorre entre as redes, mas basicamente dentro da

    rede privada. As instituies privadas tm procurado atrair e ampliar a sua participao no

    mercado educativo fazendo uso de diversas estratgias, como o investimento em propaganda

    e facilidades na forma de ingresso instituio (SAMPAIO, 2000; SOARES, 2002).

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    35/130

    35

    2.3 A composio social do ensino superior

    Ao se estudar o ensino superior no pas, interessante observar alguns dados demogrficos

    (gnero, cor/raa) sobre os estudantes e informaes sobre suas condies socioeconmicas

    (renda familiar, nvel de escolaridade do pai) e sua escola de origem (pblica ou privada).

    Em relao ao gnero, observa-se, conforme a tabela abaixo, que, considerando os cursos de

    graduao presenciais, h uma predominncia de mulheres que se matriculam no ensino

    superior. No total, elas representam 56% das matrculas, contra 44% de homens (MEC/INEP,

    Sinopse do censo da educao superior 2005).

    Tabela 3 Brasil: matrcula dos cursos de graduao presenciais por gnero 2005

    Totaln absoluto % n absoluto % n absoluto

    Pblica 554.125 46 638.064 54 1.192.189Federal 288.359 50 291.228 50 579.587Estadual 205.082 43 272.267 57 477.349Municipal 60.684 45 74.569 55 135.253

    Privada 1.410.104 43 1.850.863 57 3.260.967

    Particular 769.672 44 983.512 56 1.753.184Comum/Confes/Filan 640.432 42 867.351 58 1.507.783

    Total 1.964.229 44 2.488.927 56 4.453.156Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior - 2005)

    Natureza da instituioGnero

    Masculino Feminino

    Ao observar os concluintes do ensino superior, considerando os cursos de graduao

    presenciais, a diferena entre os gneros torna-se ainda mais evidente. Dos concluintes, 62%

    so mulheres (ver tabela abaixo).

    Tabela 4 Brasil: concluintes dos cursos de graduao presenciais por gnero 2005

    Totaln absoluto % n absoluto % n absoluto

    Pblica 75.659 39 119.895 61 195.554Federal 37.145 43 48.866 57 86.011Estadual 30.252 35 57.424 65 87.676Municipal 8.262 38 13.605 62 21.867

    Privada 195.475 37 326.829 63 522.304Particular 110.931 39 170.842 61 281.773

    Comum/Confes/Filan 84.544 35 155.987 65 240.531Total 271.134 38 446.724 62 717.858Fonte: MEC/INEP/Deaes (Sinopse do censo da educao superior - 2005)

    Natureza da instituioGnero

    Masculino Feminino

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    36/130

    36

    Uma das explicaes para a predominncia das mulheres no ES que elas permanecem mais

    no sistema de ensino, alcanando, em maior nmero, as sries finais (HONORATO, 2005). A

    mdia de anos de estudo entre as mulheres no Brasil tambm maior que a dos homens. De

    acordo com dados da IBGE (PNAD Sntese de indicadores 2002), as mulheres tm 6,7 anos

    de estudo, contra 6,4 dos homens para a populao de 15 anos ou mais.

    No entanto, conforme a tabela seguinte (dados do MEC/INEP/Deaes - Relatrio sntese do

    ENC 20037), ao observar a distribuio das mulheres nas IES brasileiras por curso, possvel

    perceber que elas se concentram em determinadas reas, havendo uma tendncia a uma

    proporo maior de mulheres nos cursos que oferecem habilitao em licenciatura

    Pedagogia (93,6%), Letras (86,5%), Cincias biolgicas (72%), Histria (65,2%), Geografia(60,9%).

    Ainda de acordo com a mesma tabela, de forma inversa, os estudantes do sexo masculino so

    predominantes em alguns cursos, a exemplo: Engenharia mecnica (94,9%), Engenharia

    eltrica (89,7%), Engenharia civil (75,6%), Fsica (73,9%), Agronomia (72,5%).

    possvel observar distribuies mais eqitativas entre os gneros nos cursos de Direito(50,6% mulheres e 49,4% homens), Cincias contbeis (49,4% mulheres e 50,6% homens) e

    Administrao (48,9% mulheres e 51,1% homens).

    7O ENC 2003 avaliou 26 cursos: administrao, agronomia, arquitetura, cincias biolgicas, cincias contbeis,comunicao social, direito, economia, enfermagem, eng. civil, eng. eltrica, eng. mecnica, eng. qumica,farmcia, fsica, fonoaudiologia, geografia, histria, letras, matemtica, medicina, medicina veterinria,odontologia, pedagogia, psicologia e qumica.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    37/130

    37

    Tabela 5 Brasil: percentual de graduandos presentes ao ENC 2003, por curso,segundo o sexo

    Feminino MasculinoFonoaudiologia 95 5

    Pedagogia 93,6 6,4Psicologia 88,6 11,4

    Enfermagem 88,4 11,6Letras 86,5 13,5

    Cincias biolgicas 72 28Farmcia 68,2 31,8

    Arquitetura e urbanismo 66,8 33,2Comunicao social 66,4 33,6

    Histria 65,2 34,8

    Odontologia 63,6 36,4Geografia 60,9 39,1

    Matemtica 58,2 41,8Medicina veterinria 55,3 44,7

    Qumica 53,8 46,2Direito 50,6 49,4

    Cincias contbeis 49,4 50,6Administrao 48,9 51,1

    Medicina 46,1 53,9Engenharia Qumica 45,6 54,4

    Economia 43,6 56,4Agronomia 27,5 72,5Fsica 26,1 73,9

    Engenharia civil 24,4 75,6Engenharia eltrica 10,3 89,7

    Engenharia mecnica 5,1 94,9Total 63,6 36,4

    Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC 2003)

    SexoCurso

    Em relao renda dos estudantes, h dados interessantes presentes num estudo realizado

    pelo Frum Nacional de Pr-Reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis e com o apoio

    da Andifes (Associao Nacional dos Dirigentes das Instituies Federais de Ensino

    Superior) e do MEC (Ministrio da Educao). O estudo8 foi realizado com 33.958

    estudantes matriculados entre 2003-4 em 47 IFES. De acordo com o levantamento, 57% dos

    estudantes das IFES pertencem s classes A e B (renda mdia familiar entre R$1.669 e

    R$7.793). Conforme a pesquisa, em 1996-7, esse percentual era de 56%, o que demonstra a

    8Os dados relatados foram publicados na Folha de So Paulo do dia 15 de maro de 2005, na matria intitulada"Classes A e B so maioria em universidade federal".

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    38/130

    38

    pouca evoluo da heterogeneidade do alunado. O percentual de estudantes das IFES que

    cursaram o ensino mdio privado (total ou em sua maior parte) tambm alto 52, 9%.

    No entanto, levando em considerao as IES pblicas e privadas (ver tabela abaixo), verifica-

    se que h um percentual maior de estudantes de baixa renda na rede pblica (26,5%) do que

    na rede privada (12,9%). A renda familiar de maior incidncia nas duas redes pertence

    mesma faixa salarial de R$721 a R$2400 e os percentuais so bastante prximos em

    ambas, sendo um pouco mais elevado na rede privada (44,3% nas IES pblicas e 45,5% nas

    IES privadas). Alm disso, a segunda renda familiar de maior incidncia na rede privada

    pertence faixa salarial de R$2401 a R$4800 (respondendo por 26,3%). J na rede pblica, a

    segunda renda familiar mais freqente est na faixa salarial de at R$720 (respondendo por26,5%).

    Contudo, importante ressaltar as diferenas entre as IES pblicas. O perfil socioeconmico

    dos estudantes destas instituies pode variar conforme a sua localizao (regio geogrfica)

    e a categoria administrativa da instituio (federal, estadual ou municipal).

    Tabela 6 Brasil: renda mensal familiar dos estudantes universitrios das IES pblicase privadas 2003

    Renda familiar IES pblicas IES privadasat R$720 26,5% 12,9%de R$721 a R$2400 44,3% 45,5%de R$2401 a R$4800 17,5% 26,3%de R$4801 a R$7200 7,1% 10,3%mais de R$7200 4,5% 7,7%Fonte: MEC/INEP/Deaes (Resumo tcnico do ENC - 2003)

    Ao observar estes dados possvel afirmar que o acesso e a permanncia no ES no Brasil so

    marcados por grave desigualdade entre ricos e pobres. Dados do INEP (Informativo 40,

    25/05/04) revelam que entre os 10% mais ricos da populao brasileira, 23,4% freqentam

    cursos de ES. J entre os 40% mais pobres, apenas 4% esto matriculados neste nvel de

    ensino. De acordo com os mesmos dados, em relao etnia, 59,4% dos estudantes das IES

    pblicas se auto-declaram brancos, 23,3% pardos e 5,9% negros.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    39/130

    39

    Segundo dados do MEC/INEP (Resumo tcnico do ENADE 20049) e os dados do IBGE

    (PNAD Sntese de indicadores 2004), entre os ingressantes no ES houve quase 20% de

    brancos a mais do que na populao brasileira geral (ver tabelas abaixo). Por outro lado, tanto

    a populao negra quanto a parda/mulata est sub-representada no ES brasileiro.

    Tabela 7 Brasil: percentual de ingressantes no ensino superior por cor/raa 2004

    Cor/Raa ENADE 2004Branca 70,8%Negra 4,8%

    Parda/Mulata 21,4%Amarela (oriental) 2,1%

    Indgena 1,0%

    Fonte: MEC/INEP/Deaes (Resumo tcnico do ENADE - 2004)

    Tabela 8 Brasil: percentual da populao residente por cor/raa - 2004

    Cor/Raa PNAD 2004Branca 51,4%Negra 5,9%

    Parda/Mulata 42,1%Outra 0,6%

    Fonte: IBGE (PNAD - Sntese de indicadores 2004)

    Conforme os dados do MEC/INEP (Relatrio sntese do ENC - 2003), os estudantes brancos

    ocupam boa parte dos cursos com maior interesse de mercado. De acordo com a tabela

    seguinte, os dez cursos de graduao com os maiores percentuais de estudantes brancos so

    Arquitetura (83,9%), Odontologia (81,2%), Medicina Veterinria (81,2%), Engenharia

    Mecnica (80,6%), Direito (79,9%), Farmcia (79,8%), Psicologia (79,5%), Administrao

    (78,3%), Comunicao social (78,2%) e Medicina (78%). Os cursos com os menores

    percentuais de estudantes brancos so Histria (55,5%), Geografia (56,4%), Matemtica

    (61,8%), Letras (61,9%), Fsica (64,4%), Pedagogia (64,9%), Enfermagem (67,6%), Cincias

    biolgicas (69%), Qumica (70,8%) e Cincias Contbeis (71,9%).

    9 O ENADE 2004 avaliou 13 cursos: agronomia, educao fsica, enfermagem, farmcia, fisioterapia,fonoaudiologia, medicina veterinria, medicina, nutrio, odontologia, servio social, terapia ocupacional ezootecnia.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    40/130

    40

    Tabela 9 Brasil: percentual de graduandos brancos nos cursos oferecidos pelas IES 2003

    Curso Cor/raa Branca

    Arquitetura e urbanismo 83,9Odontologia 81,2

    Medicina veterinria 81,2Engenharia mecnica 80,6

    Direito 79,9Farmcia 79,8Psicologia 79,5

    Administrao 78,3Comunicao social 78,2

    Medicina 78Engenharia qumica 77,8

    Engenharia civil 77,6Engenharia eltrica 77,4

    Agronomia 75,8Fonoaudiologia 74,5

    Economia 72,9Cincias contbeis 71,9

    Qumica 70,8Cincias biolgicas 69

    Enfermagem 67,6Pedagogia 64,9

    Fsica 64,4Letras 61,9

    Matemtica 61,8Geografia 56,4Histria 55,5Total 72,9

    Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)

    Ao observar, alm da tabela anterior, as duas seguintes (Tabelas 10 e 11), verifica-se, em

    geral, que nos cursos com maior nmero de brancos (comumente os mais concorridos)

    encontram-se, igualmente, os percentuais mais elevados de alunos que concluram o ensino

    mdio todo em escola privada e cujos pais apresentam maior nvel de escolaridade. Os cursos

    em que o percentual de brancos menor so os menos concorridos, os que apresentam pais

    com menor escolaridade e uma maior concentrao de alunos que concluram o ensino mdio

    em escola pblica. A nica exceo o curso de Administrao, que embora tenha um alto

    percentual de brancos (78,3%), boa parte dos estudantes concluiu o ensino mdio na rede

    pblica (44,1%).

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    41/130

    41

    Tabela 10 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, por tipode escola em que cursou o ensino mdio 2003

    Cursosde graduao Todo em Todo emescola pblica escola privada

    Medicina 9,9 73,8Odontologia 13 68,1

    Arquitetura e urbanismo 19,2 64,4Fonoaudiologia 20,7 58,3

    Medicina veterinria 21,8 56,9Comunicao social 27,5 55,7Engenharia qumica 31,6 52,3

    Engenharia civil 32,4 52,2Psicologia 30 50,9

    Farmcia 27,9 49Engenharia eltrica 37,7 47,3Engenharia mecnica 38,8 46,6

    Direito 32,5 45,6Economia 41,9 40,3Agronomia 35,9 39,2

    Administrao 44,1 36,3Cincias biolgicas 48,3 34,8

    Enfermagem 43,9 34,4Fsica 57,4 27,9

    Qumica 55,6 27,4Cincias contbeis 55,2 26,3

    Histria 61,1 20,4Letras 65 18,8

    Geografia 63,6 18,7Pedagogia 65,8 18,1

    Matemtica 69,3 17,1Total 40,9 39,5

    Fonte: Deaes/INEP/MEC (Relatrio sntese do ENC - 2003)

    Tipo de escola em que

    cursou o ensino mdio

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    42/130

    42

    Tabela 11 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, por nvelde escolaridade do pai 2003

    Escolaridade do pai

    Cursos Ensino Fundamental Ensino Fundamental Ensino Superiorat a 4 entre a 4 e a 8Medicina 6,3 19,6 66,3

    Arquitetura e urbanismo 8,6 25,4 55,3Odontologia 9,3 25,5 54,7

    Medicina veterinria 10,5 26,5 51,1Engenharia civil 13,8 28 45

    Comunicao social 14,2 27 44,1Engenharia eltrica 13,6 28,7 43,5Engenharia qumica 15 29,7 39,6

    Fonoaudiologia 13,4 32,2 39,5

    Engenharia mecnica 17,2 28,1 39,1Direito 20,8 23,9 37,9Psicologia 20,2 25,8 37,8Farmcia 17,6 30,6 33,8

    Agronomia 20,6 28,6 32,1Economia 26,2 26,6 26,3

    Administrao 29 25,8 22,9Cincias biolgicas 29,3 24,9 21,1

    Fsica 28 27,8 19,3Enfermagem 28,6 28,9 18,1

    Qumica 33 26,3 15,3

    Cincias contbeis 37,9 22,6 14,4Histria 43,7 16,5 9,5Letras 44,3 16,5 8,7

    Geografia 44,7 15,1 8,5Matemtica 44,3 16,5 7,3Pedagogia 50,1 13,7 6,8

    Total 27 22,6 29,2Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)

    Alm disso, os dados sobre renda familiar dispostos na tabela abaixo mostram que os cursos

    comumente mais concorridos so tambm os que apresentam, de modo geral, os maiores

    percentuais da faixa de renda mais alta. Sendo assim, os cinco maiores percentuais da faixa

    de renda acima de R$7.200 competem aos seguintes cursos: Medicina (24,3%), Odontologia

    (16%), Arquitetura e urbanismo (15,4%), Direito e Engenharia civil (ambos com 12,4%) e

    Medicina veterinria (10,8%). J na faixa de renda at R$720, os cinco cursos que

    apresentam os maiores percentuais esto associados s licenciaturas: Histria (37,9%),

    Geografia (37,4%), Matemtica (33,1%), Letras (32,2%) e Pedagogia (31,3%).

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    43/130

    43

    Tabela 12 Brasil: percentual de graduandos dos cursos oferecidos pelas IES, porrenda familiar mensal 2003

    Renda familiar mensal

    Cursos At De R$721 De R$2.401 Mais deR$720 a R$2.400 a R$4.800 R$7.200

    Medicina 5,1 22,4 26,5 24,3Odontologia 3,6 25,5 33,6 16

    Arquitetura e urbanismo 5 30,2 29,2 15,4Direito 6,7 36,7 27,7 12,4

    Engenharia civil 7,9 36,9 27,7 12,4Medicina veterinria 7,9 34 29,1 10,8Comunicao social 8 38,1 28,5 10,5

    Psicologia 8,2 39,8 27,7 9,6

    Economia 10 43,3 25,7 9,4Engenharia eltrica 5,9 38,5 31,5 9,3Engenharia mecnica 6,6 35,2 33 9,3

    Administrao 7,5 44,1 27,7 8,8Engenharia qumica 10,3 40,1 28,5 8,6

    Agronomia 16,8 41,3 21,2 7,8Fonoaudiologia 7,8 42,6 28,3 7,5

    Farmcia 8,3 43,6 29,4 5,6Cincias contbeis 12,2 54,4 22,9 3,5Cincias biolgicas 23,9 50,3 16,8 2,3

    Fsica 26,6 48,7 16,5 2,2Enfermagem 16,1 56,2 19,1 2Qumica 22,5 54,5 17,2 1,8Histria 37,9 46 10,6 1,4

    Geografia 37,4 48,4 10,3 1,1Letras 32,2 50,7 11,6 1,1

    Pedagogia 31,3 52,3 11,9 1Matemtica 33,1 53 10,6 0,7

    Total 16,8 41,8 21,8 7,9Fonte: MEC/INEP/Deaes (Relatrio sntese do ENC - 2003)

    Enfim, nos ltimos anos, principalmente a partir dos anos 90, as oportunidades na rea de

    educao aumentaram de forma significativa no Brasil. Houve um crescimento no nmero de

    vagas abertas matrcula em todos os nveis de ensino e reduo da distoro srie-idade10.

    No entanto, embora haja grande oferta de vagas nas IES privadas e tambm nos cursos de

    10Segundo os dados educacionais do INEP (Informativo 69, 14/12/2004), na 8 srie do EF, a distoro srie-idade, em 2000, era de 48,6%, caindo para 40,6 % em 2003. A distoro no EM, em 2000, alcanava 54,9% dosestudantes, passando para 49,3% em 2003.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    44/130

    44

    graduao distncia11, persiste uma demanda no atendida por cursos de graduao

    presenciais nas IES pblicas. Diante disso, possvel afirmar que a tenso entre oferta e

    demanda um problema dos estabelecimentos pblicos, e no do sistema como um todo.

    2.4 Retomando os principais pontos do captulo

    Este captulo teve por objetivo elucidar alguns aspectos caractersticos do ensino superior

    brasileiro. Deste modo, foram apresentados os tipos de curso e os requisitos de acesso ao ES.

    Alm disso, foram tambm discutidas questes referentes s matrculas, vagas e demanda

    pelo ES. Por fim, foram apresentados alguns indicadores relativos composio social dasIES brasileiras. A visualizao desses indicadores importante porque as variveis desta

    dissertao so compostas por indicadores semelhantes.

    Conforme os dados apresentados, inegvel a expanso do ES brasileiro a partir da dcada

    de 90. No entanto, verifica-se que tal crescimento ocorreu em grande parte via rede privada.

    Nas instituies pblicas, o crescimento tem sido mais lento. Deste modo, persiste um

    nmero significativo de jovens que no tem acesso ao ensino pblico e gratuito.

    A discrepncia entre a oferta de vagas nas redes pblica e privada tambm expressa pela

    relao candidato/vaga. Conforme foi mostrado, esta relao bastante elevada nas IES

    pblicas quando comparada s IES privadas (7,4 candidatos/vaga e 1,3 candidatos/vaga,

    respectivamente).

    Alm disso, verificou-se que um grande nmero de alunos da rede privada faz parte de umademanda no atendida pela rede pblica. Sendo assim, no existe competio por alunos

    entre as redes, mas apenas entre as instituies da rede privada.

    11De acordo com dados do Inep (Informativo 75, 02/02/05), a oferta de cursos de graduao distncia deu umsalto nos ltimos quatro anos. Em 2000, havia 1.682 matrculas, oferecidas por IES pblicas. Apenas trs anosdepois, havia no Brasil 39.804 matrculas. At 2001, s havia oferta de cursos de graduao distncia no setor

    pblico. O setor privado comea a se interessar pela rea somente a partir de 2002, quando as IES privadasaparecem oferecendo 6.392 matrculas, 15,6% do total. Em 2003, 16 cursos de graduao distncia eramoferecidos pelo setor privado, somando 10.107 matrculas, 20% do total de 49.911 matrculas.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    45/130

    45

    Em relao composio social do ES brasileiro, observou-se que h um maior nmero de

    mulheres cursando este nvel de ensino. No entanto, h uma tendncia concentrao das

    mulheres em cursos que oferecem a habilitao de licenciatura. J os homens, tendem a se

    concentrar em alguns cursos de engenharia e cincias exatas.

    Alm disso, os dados revelaram que o ES ainda bastante elitista. Exemplo disso so os

    dados das IFES referentes s classes sociais do seu alunado (57% dos seus alunos pertencem

    s classes A e B; e 52,9% so provenientes do EM privado). No entanto, h um percentual

    maior de estudantes de baixa renda na rede pblica de ES. Todavia, vlido ressaltar as

    diferenas entre as IES da rede pblica, de modo que o perfil socioeconmico do seu alunado

    varia conforme a categoria administrativa da instituio e a sua localizao.

    Em relao s questes tnicas, foi visto que a populao branca est super-representada no

    ES brasileiro, enquanto que as populaes negra e parda/mulata esto sub-representadas.

    De forma resumida, os dados mostraram que os cursos socialmente mais valorizados tendem

    a concentrar estudantes brancos, provenientes do EM privado, cujos pais possuem maior

    nvel de escolaridade e uma renda familiar mais alta. O inverso ocorre com os cursossocialmente menos valorizados, que tendem a registrar estudantes no-brancos, oriundos do

    EM pblico, cujos pais apresentam um nvel de escolaridade menor e uma renda familiar

    mais baixa.

    Portanto, verificou-se, de forma geral, que no ES brasileiro h uma clara distino de perfis

    socioeconmicos entre os cursos. Dois grupos aparecem em destaque: de um lado, um grupo

    formado pelos cursos considerados socialmente valorizados (exs.: Arquitetura e urbanismo,Medicina, Medicina veterinria, Odontologia), de outro lado, um grupo composto pelos

    cursos considerados pouco prestigiados (exs.: Geografia, Histria, Matemtica, Pedagogia)

    A discusso sobre os perfis dos cursos ser retomada mais adiante, uma vez que a pesquisa

    emprica realizada nesta dissertao coletou informaes referentes ao perfil socioeconmico

    dos candidatos aos cursos de graduao da UFRGS.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    46/130

    46

    CAPTULO 3 ESCOLHA DO CURSO SUPERIOR UMA INCURSO TERICA

    Diversos estudos tm sido realizados para discutir as escolhas realizadas pelos indivduos ao

    longo da carreira educacional. Na literatura referente ao assunto, destacam-se duas

    perspectivas que buscam explicar as escolhas de curso superior dos indivduos. De um lado, a

    teoria da escolha racional, e de outro, as teorias disposicionalistas.

    A teoria da escolha racional foi originalmente aplicada ao contexto educacional por Boudon

    (1974), como uma alternativa s explicaes culturalistas dos efeitos das diferenas iniciais

    de habilidade entre as classes. Aps Boudon, diversos autores passaram a utilizar a mesmateoria para explicar escolhas realizadas no contexto educacional Erikson e Jonsson (1996),

    Goldthorpe (1996), Gambetta (1987).

    Segundo a teoria da escolha racional, as pessoas agem de acordo com seus interesses, na

    tentativa de maximizar a utilidade de suas decises. As escolhas feitas durante a carreira

    educacional so baseadas em clculos de custos, benefcios e probabilidades de sucesso

    diante de vrias opes. O sucesso definido em termos de retorno econmico (medido pelarenda e posio social de classe). Como resultado da desigualdade econmica da sociedade,

    diferentes posies sociais do origem a diferentes custos, benefcios e probabilidades de

    sucesso. Portanto, a avaliao racional disto, mais do que os fatores culturais de classe, que

    geram diferenas na escolha feita pelos indivduos de classes sociais distintas.

    As teorias disposicionalistas, dentre as quais se destaca a abordagem de Bourdieu, levam em

    considerao o passado incorporado dos indivduos, na anlise das prticas ou doscomportamentos sociais. A socializao compreendida como um processo de incorporao

    de disposies para sentir, pensar, avaliar, agir.

    De acordo com as teorias disposicionalistas, os prprios critrios a partir dos quais os

    indivduos percebem e avaliam a estrutura de oportunidades so socialmente constitudos. A

    realidade social no meramente algo externo ao indivduo, mas, ao contrrio, configuraria

    sua prpria subjetividade, ou mais especificamente, suas disposies para pensar, avaliar e

    agir.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    47/130

    47

    Conforme Bourdieu (2003), as percepes, apreciaes e aes dos indivduos so

    decorrentes de um habitus, ou seja de disposies adquiridas nos processos de socializao.

    O habitusorienta os indivduos em suas aes e escolhas, inclusive na carreira educacional.

    luz das duas perspectivas tericas citadas, algumas pesquisas foram realizadas para discutir

    as escolhas educacionais feitas pelo indivduo referentes sua carreira no ensino superior.

    3.1 Estudos baseados na teoria da escolha racional

    Dentro da teoria da escolha racional, Duru e Mingat (apud Nogueira, 2005) observaram oprocesso de auto-seleo acadmica e socioeconmica dos indivduos. Quanto auto-seleo

    acadmica, os autores argumentam que, no caso francs, os indivduos tm probabilidades

    diferentes de sucesso nas diversas carreiras do ensino superior conforme o tipo de seu

    baccalaurat12

    (letras, cincias, economia, etc.)e o grau de excelncia com que ele foi obtido

    (atestado por uma nota). De acordo com esta realidade, os indivduos tendem, ento, a

    escolher as carreiras mais adequadas ao tipo e mais compatveis com a nota do seu

    baccalaurat, ou seja, aquelas nas quais suas possibilidades de sucesso so maiores.

    Em relao auto-seleo socioeconmica, os autores observaram que quanto menos

    favorvel o perfil socioeconmico dos candidatos, maior tende a ser a sua cautela na escolha

    do curso superior. Assim, os indivduos com um mesmo perfil escolar tendem a escolher

    cursos de acesso mais ou menos difcil dependendo de sua posio socioeconmica.

    Desta forma, os indivduos de origem social mais baixa seriam mais "sensveis ao risco", o

    que faria com que eles escolhessem cursos com um grau de dificuldade de acesso compatvel

    ou mesmo inferior ao que, em tese, seu perfil escolar permitiria. Os indivduos de origem

    social mais elevada, ao contrrio, estariam mais dispostos a correr o risco de se inscrever

    numa carreira universitria mais seletiva - normalmente associada a profisses mais

    prestigiosas e rentveis - mesmo quando seu perfil escolar no fosse muito favorvel.

    12 Significa tanto os exames quanto o certificado conferido ao final do equivalente ao ensino mdio no sistema deensino francs.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    48/130

    48

    Algo semelhante observado por Gambetta (1987), em estudo feito no sistema educacional

    italiano, tambm fundamentado na perspectiva da escolha racional. O estudo aponta que as

    famlias de classe baixa so mais sensveis s chances de sucesso do que as famlias de classe

    mdia. Estas so mais ambiciosas e se expem mais ao risco do que aquelas, quanto s

    escolhas realizadas na carreira educacional de seus filhos.

    No Brasil, Sampaio (2000) afirma que o processo de deciso do estudante por um

    determinado curso, numa determinada instituio parece ser o resultado de um clculo. Neste

    clculo, "o estudante mede sua prpria competncia acadmica e sua possibilidade de xito

    em ingressar na carreira pretendida" (SAMPAIO, 2000, p.274).

    A pesquisa de Paul e Silva (1998), que analisa os dados do vestibular de 1990 de quatro

    instituies pblicas de ensino superior do Rio de Janeiro, ressalta que a preparao

    acadmica do indivduo (atestada pelos resultados na primeira etapa do vestibular, comum a

    todos os candidatos) influencia sua inscrio em cursos de acesso mais ou menos difcil. As

    mdias alcanadas pelos candidatos na primeira etapa tendem a ser maiores ou menores

    dependendo do grau de seletividade dos cursos para os quais eles esto inscritos.

    Os autores brasileiros citados chegaram concluso semelhante ao estudo de Duru e Mingat,

    qual seja, os alunos mais novos e com melhor perfil socioeconmico e acadmico tendem a

    escolher os cursos de acesso mais difcil, de maior prestgio e que abrem maiores

    perspectivas de ganhos financeiros. Os alunos com perfil e idade menos favorveis tendem,

    ao contrrio, a se candidatar aos cursos de acesso mais fcil, menos prestigiosos e que

    formam para as profisses menos rentveis.

    Para exemplificar o que foi dito, interessante observar alguns dados trazidos pelo estudo de

    Paul e Silva. Os autores compararam o perfil socioeconmico dos candidatos aprovados em

    medicina e odontologia com o perfil dos candidatos que obtiveram a pontuao necessria

    para o ingresso nestes cursos, mas optaram por cursos na rea de arte e educao. O

    percentual dos aprovados em medicina e odontologia que tem pais com curso superior era de

    72%, contra apenas 37,5% daqueles que obtiveram a pontuao necessria, mas escolheram

    arte e educao. Da mesma forma, enquanto apenas 13% dos futuros mdicos e dentistas

    pretendiam trabalhar durante o curso superior, essa era a inteno de 75% daqueles que

    poderiam ter optado por essas carreiras de prestgio, mas se inscreveram em arte e educao.

  • 7/23/2019 A Escolha de Curso Superior Anlise de Correspondncia

    49/130

    49

    Em estudo brasileiro mais antigo, Gouveia (1968, 1970) j apontava a existncia de uma

    estreita correlao entre a origem social dos estudantes e o campo do ensino superior no qual

    estavam matriculados. Gouveia mostrava a relao entre a situao socioeconmica doestudante e o curso escolhido, a concentrao dos alunos com perfil socioeconmico mais

    elevado na rea de cincias e tecnologia, incluindo-se a os cursos de Medicina, Odontologia

    e Arquitetura.

    Outra constatao das pesquisas, tanto nacionais quanto estrangeiras, que os indivduos se

    auto-selecionam baseados no gnero e na rea/cor. Em relao primeira dessas dimenses, a

    bibliografia aponta a tendncia das mulheres de evitarem os cursos da rea de exatas, comexceo daqueles voltados para o magistrio.

    Braga, Peixoto e Bogutchi (2001) mostraram que 30% dos candidatos do sexo masculino

    inscritos no vestibular da UFMG, em 1999, optaram pelos cursos da rea de exatas. Entre as

    mulheres, esse percentual foi de apenas 10,2%. O estudo de Gouveia (1970), j citado,

    mostrou tambm que as mulheres (exceto as descendentes de japone