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Desirée C. Cassado, projeto de monografia realizado sob orientação do Doutorando Alex
Eduardo Gallo e da Prof. Dra. Lúcia C. A. Williams. Dezembro de 2003.
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INCIDÊNCIA DO DISTÚRBIO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO EM
MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Desirée da Cruz Cassado
No Ano 2000, a cidade de São Paulo registrou o que estatísticas vêm demonstrando há alguns
anos: o aumento significativo dos casos registrados de violência contra a mulher. Nesse ano,
segundo o Pró-Aim - órgão da prefeitura que contabiliza e classifica as mortes de moradores do
município - o assassinato transformou-se pela primeira vez na principal causa de morte entre
mulheres de 10 a 49 anos. Registraram-se 373 assassinatos de mulheres jovens (Psi - Jornal de
Psicologia, CRP/SP, jan./fev. 2002). Segundo Araújo (1998), os relatórios do Movimento nacional de
Direitos humanos referentes aos anos de 1995 e 1996 sobre ocorrências noticiadas em 17 estados
da federação demonstram que, dos 997 casos de homicídios cujos acusados forma identificados,
352 deles (35,3%) eram de vítimas mulheres que tinham relações de parentesco
(esposa/companheira) com o acusado.
Dados coletados e analisados pelos autores Oliveira, D. D. Geraldes, E. C.& Lima, R B. (1998)
indicam claramente esta relação de parentesco. Foram reunidas informações sobre os homicídios
ocorridos entre 1995 e 1996 e, abaixo, observamos a relação das vítimas mulheres com os
acusados:
Relação com o acusado
Companheiro e ex- companheiro Conhecido Parentesco Desconhecido Total*
Absoluto 660 146 161 27 994
Percentual 66,29 14,79 16,19 2,71 100,00
Fonte: Banco de Dados MNDH - *Total de acusados onde consta a informação
Há algum tempo estudos acadêmicos vêm demonstrando, com fortes evidências empíricas, de
que a casa, diferentemente da representação social e política dado ao núcleo familiar, é um espaço
de conflitos, tensões e negociações cotidianas. O crime familiar ou o homicídio que consiste na
morte de um membro da família causado por outro membro é muito comum: "há mais perigo de ser
morto no membro no seio do grupo familiar que em nenhum outro grupo social, salvo o exército e a
polícia" (Chesnais, 1991).
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Entre os anos 1991 e 1999, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher registrou um aumento
de 70% de queixas de lesão corporal e de maus tratos psicológicos - crescimento este que pode ter
sido causado apenas pelo aumento de denúncias ou pelo real aumento de violência intra-familiar
(Psi - Jornal de Psicologia, CRP/SP, jan./fev. 2002). Entretanto, podemos afirmar que casos de
violência contra a mulher têm se tornado cada vez mais foco de preocupações, tanto por sua
extensão quanto por sua gravidade. Durante as três últimas décadas, a consciência pública sobre a
violência doméstica tem aumentado significativamente tornando-a uma importante questão de
saúde pública (Ernest, A.A., Nick, T. G., Weiss, S.J., Houry, D., & Mills, T., 1997).
Williams (2001) cita as afirmações de Meichenbaum (1994), de que em 1989 o Worldwatch
Institute declarou ser a violência contra a mulher o crime mais freqüente do mundo, afetando
igualmente populações de grandes diferenças étnico-culturais, assim como países em processos
diversos de desenvolvimento. “Estima-se que um quarto das mulheres de todo o mundo sejam
vítimas de violência em seus próprios lares” (Williams, 2000). Dados americanos afirmam ser essa
a maior causa isolada de ferimentos em mulheres: há mais internações hospitalares causadas por
maus tratos e violência doméstica em geral do que por estupros, assaltos e acidentes de trânsito
juntos (Grant, 1995).
Violência Doméstica
Segundo Azevedo (1985), violência pode ser caracterizada como toda iniciativa que procura exercer
coação sobre a liberdade de alguém, que tenta impedir-lhe a liberdade de reflexão, de julgamento,
de decisão e que termina por rebaixar alguém ao nível de meio ou instrumento num projeto, que o
absorve e engloba, sem tratá-lo como parceiro livre e igual.
Pode-se destacar que há diferentes tipos de violência contra a mulher (Saffioti, 1997), as
agressões podem ser físicas, psicológicas (incluindo-se a destruição de propriedade) e/ou sexuais.
Entretanto possuem objetivos comuns de dominação, de exploração e de opressão, ação que trata
o ser humano não como sujeito, mas como coisa (Chauí, 1985).
A violência contra a mulher, no ambiente intrafamiliar é uma forma específica e muito comum de
violência interpessoal. Dados estatísticos afirmam ser o próprio lar o lugar mais perigoso para as
mulheres, das que já sofreram algum tipo de agressão, 65.8% afirmam tê-las sofrido dentro de seu
ambiente familiar (Saffioti, 1997).
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A violência física é a forma de agressão mais fácil de identificar por deixar seqüelas, muitas
vezes visíveis, de lesões. Esse dano físico pode ir desde a imposição de uma leve dor, passando
por um tapa até um assassinato, e são causados por beliscões, tapas, mordidas, uso de objetos
para ferir a vítima (como barras de madeira, de ferro, cintos, etc.), armas brancas (facas, estiletes,
machados, etc.) e armas de fogo (revólveres).
Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Trauma
Segundo o DSM-IV, são considerados eventos traumáticos, os vivenciados diretamente, como:
combate militar, agressão pessoal violenta (ataque sexual, ataque físico, assalto à mão armada,
roubo), seqüestro, ser tomado como refém, ataque terrorista, tortura, encarceramento, desastres
naturais ou causados pelo homem, acidentes automobilísticos ou receber o diagnóstico de uma
doença grave. Eventos testemunhados: observar sérios ferimentos ou morte não-natural de uma
outra pessoa devido a ataque violento; acidente; guerra ou desastre; e eventos os quais o indivíduo
toma conhecimento (ataque pessoal violento; conhecimento da morte súbita ou inesperada,
acidente ou ferimentos graves sofridos por um membro da família ou amigo íntimo; ou mesmo
conhecimento de uma doença com risco de vida em um dos filhos).
Para crianças, os eventos traumáticos podem incluir experiências sexuais inadequadas em
termos do desenvolvimento, sem necessariamente haver violência ou danos físicos reais ou
ameaçadores.
Segundo Figueira e Mendlowicz (2003), o conceito de evento traumático vem sido
constantemente revisto. Desde a oficialização do diagnóstico em 1980, houve uma expansão da
latitude do conceito e, consequentemente, o aumento da prevalência estimada de TEPT.
Afirmam que, inicialmente os eventos traumáticos eram classificados no DSM-III como raros,
externos e catastróficos, diferenciados “das experiências comuns de luto, doença crônica, perdas
comerciais e conflitos matrimoniais”. Entretanto, pesquisas subseqüentes demonstraram que tais
eventos não são raros - estudos epidemiológicos revelaram que 40% a 90% da população
americana já foi exposta a um evento traumático. Ainda, uma grande parcela dos indivíduos
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expostos não desenvolvem o transtorno, levando-nos a considerar que tais eventos não são apenas
externos.
Enfim, observou-se que sintomas característicos de TEPT também podem ser precipitados por luto,
doença crônica, perdas comerciais e conflitos matrimoniais.
TSPT
O TEPT é um transtorno de ansiedade precipitado por um trauma (Figueira, 2003). São
característicos ao Transtorno do Estresse Pós-Traumático o desenvolvimento de uma constelação
de sintomas característicos após a exposição a um estressor traumático extremo. Para o
diagnóstico de TEPT estes devem persistir por quatro semanas após a ocorrência do trauma e
comprometerem significativamente o funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes
da vida do indivíduo.
Tais sintomas subdividem-se em re-experiência do trauma, esquiva/entorpecimento emocional e
hiperestimulação autônoma As características diagnóstica do Transtorno apresentadas no DSM-IV,
listam os seguintes critérios (American Psychiatric Association, 1994):
a) exposição a um evento traumático caracterizado basicamente pela ameaça de
e/ou real dano à integridade física de si e/ou de outros, sendo que a resposta
emocional à esse evento envolve medo intenso, desamparo ou horror;
b) há experiência contínua do evento (revivência) através de pesadelos,
lembranças, ilusões e alucinações, angústia emocional intensa diante da
exposição a elementos evocativos do trauma. Estresse emocional e fisiológico
intensos diante a exposição interna ou externa de elementos que simbolizam
ou assemelham-se a algum aspecto do evento traumático;
c) entorpecimento e evitação persistente de estímulos associados ao trauma
perceptíveis através da evitação dos pensamentos, lembranças conversas
associados a este, assim como lugares, atividades e pessoas; Inabilidade de
lembrar-se do evento (amnésia psicogênica), participar em atividades
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significantes e sensação de desligamento em relação a outros (restrição de
afeto), falta de expectativas em relação a família, carreira, filhos etc.;
d) excitação aumentada e sintomas relacionados com distúrbios de sono,
irritabilidade, dificuldade em concentrar-se, hipervigilância e reação de susto
exagerada (pp. 404-408).
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Figura 1- Principais sintomas de TEPT: Critérios Diagnósticos Apresentados no DSM-IV. (Critério A) Exposição à evento traumático; acompanhado de sentimento de horror, medo e
impotência.
RE-EXPERIÊNCIA
(Critério B)
ENTORPECIMENTO EMOCIONAL
(Critério C)
HIPERSTIMULAÇÃO
AUTÔNOMA (Critério D)
- Lembranças intrusivas; Pesadelos traumáticos; - “Flashbacks” dissociativos; Sofrimento psíquico evocado por estímulos relacionados ao trauma; Reatividade fisiológica evocada por estímulos relacionados ao trauma;
- Esforços para evitar pensamentos e sentimentos associados ao trauma; - Esforços para evitar atividades, locais ou pessoas associadas ao trauma; - Redução de interesse em atividades antes consideradas interessantes/importantes; - Sensação de distanciamento em relação a out ras pessoas; - Restrição de expressão afetiva, entorpecimento emocional; - Sentimento de futuro abreviado ;
Insônia; Irritabilidade; Dificuldade em concentrar-se; Hipervigilância; Resposta de sobressalto exagerada;
Figura 1 - Características diagnosticas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Segundo o DSM-IV, segundo Figueira e Mendlowicz (2003).
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Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Violência d oméstica
Episódios recorrentes de violência doméstica são considerados por analistas do
comportamento e profissionais da saúde como eventos traumáticos a longo prazo,
caracterizados pela exposição contínua e prolongada a eventos de alto impacto
emocional, pouco predizíveis e/ou controláveis, reconhecidos por serem variáveis,
múltiplos, crônicos e de longa duração (Meichenbaum, 1994).
Sabe-se que mulheres vitimadas por seus companheiros apresentam altos
níveis de depressão, ideação e tentativas suicidas, abuso de substâncias e, mais
especificamente, sintomas do Distúrbio de Estresse Pós-Traumático –
entorpecimento, ansiedade crônica, desamparo, baixa auto-estima, distúrbios de
sono e/ou alimentação, entre outros (Meichenbaum, 1994).
Em sua revisão, Meichenbaum (1994) afirma que essas mulheres são vítimas de
constante sensação de perigo, tornam-se em geral, mais dependentes e
sugestionáveis, dificultando grandemente a tomada de decisões e, em
conseqüência à situação de desamparo em que vivem, apresentam grande
sentimento de culpa e dificuldade em fazer planos para o futuro em relação à
família, aos filhos, carreira, etc..
No trabalho de Houskamp e Foy (1991), a incidência do TSPT em mulheres
vítimas de violência conjugal foi avaliado através de um questionário de sintomas e
entrevista semi-estruturada baseados nos sintomas assinalados no DSM-III-R. Em
geral, os resultados afirmaram ser de 45% a incidência do transtorno nas
participantes envolvidas em relacionamento amoroso agressivo. As participantes
foram divididas em dois grupos de acordo com a intensidade de exposição aos
traumas (agressões em geral e ameaças graves à integridade física), identificou-se
então uma importante correlação entre a intensidade e freqüência dos eventos
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traumáticos e o aparecimento dos sintomas do TSPT. Das participantes do grupo
de baixa exposição a traumas, 14% apresentaram sintomas de TSPT; e no grupo
de alto nível de exposição, 60% das participantes foram diagnosticadas com TSPT.
Comorbidades
Câmara Filho e Sougey (2001), em um dos poucos trabalhos publicados no Brasil
sobre o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), abordam a
conceitualização e o diagnóstico do distúrbio, assim como a prevalência de
transtornos co-mórbidos. Cerca de 80% dos diagnósticos de TEPT apresentam
comorbidades como Transtorno de Pânico, Transtorno de Ansiedade Generalizada
e Transtorno Depressivo Maior. O autor questiona a imprecisão descritiva dos
critérios diagnósticos que permitiriam a sobreposição de sintomas de outros
transtornos.
Salvo futuras discussões sobre o assunto, neste trabalho será investigada apenas a incidência
do Transtorno Depressivo Maior a fim de relaciona-lo à incidência de TEPT, pois existem dados que
indicam ser alta a freqüência de Depressão Maior em mulheres que são agredidas por seus
parceiros/maridos (Meichenbaum, 1994
E, apesar de não se saber ao certo até que ponto o distúrbio de Depressão Maior precede ou se
segue ao início do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, investigar a incidência dos mesmos
tanto de forma independente, como de forma sobreposta é importante para a formulação
diagnóstica.
Justificativa
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Apesar extenso número de publicações internacionais sobre o transtorno do
estresse pós-traumático, há poucos textos do gênero na literatura brasileira, como
as dos autores Figueira, I. & Mendlowicz, M. (2003), e Câmara Filho, J.W.S. &
Sougey, E.B. (2001) que publicaram artigos sobre o diagnóstico do transtorno de
estresse pós-traumático e Questões sobre Comorbidade.
Estudos e dados estatísticos sobre o Transtorno na população em geral são
precários, assim como, não foram encontrados, pela autora, publicações sobre a
incidência do transtorno em mulheres vítimas de violência doméstica.
Neste sentido forma-se uma lacuna entre o conhecimento científico e a demanda
clínica. Pesquisas na área são de extrema necessidade no intuito de ampliar o
conhecimento apropriado das conseqüências de tais traumas proporcionando
condições para a elaboração de intervenções psicológicas eficazes no atendimento
à vítimas da violência intra-familiar.
Sendo assim este estudo objetiva-se a levantar dados empíricos sobre a
incidência do Transtorno do Estresse Pós-Traumático em mulheres vítimas de
agressões físicas por parte de seus maridos/companheiros.
E, mais especificamente, realizar um pequeno levantamento de dados acerca da incidência do
transtorno em mulheres agredidas por seus parceiros no âmbito nacional; revisar a literatura sobre o
tema; e elaborar, adaptar e avaliar possíveis métodos e instrumentos úteis na avaliação/diagnóstico
do TEPT.
Método e Procedimento
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Participantes:
Foram entrevistadas 5 mulheres, maiores de 18 anos, que prestaram queixa de violência física na
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM - São Carlos/SP), sofrida por parte de seus
maridos/companheiros. Enquadraram-se nos pré-requisitos, mulheres que possuíam um histórico de
violência psicológica (ou verbal) e agressões por , no mínimo, seis meses.
Materiais/Situação:
As entrevistas foram realizadas da própria D.D.M., numa sala reservada para atendimentos e
atividades de pesquisa ao Laboratório de Prevenção à Violência Doméstica da Universidade
Federal de São Carlos - com exceção de uma das participantes, onde a entrevista foi realizada na
casa da mesma.
Foram utilizados papel, lápis, caneta e borracha.
Instrumentos:
Primeiramente realizou-se a “Entrevista Inicial com Vítimas de Violência doméstica” - versão
simplificada - (ver Anexo 1 ) e então foram aplicados 3 instrumentos para verificar os índices de
depressão, a gravidade/freqüência dos episódios de agressão, e realizar o diagnóstico para o TEPT.
(Anexos 2, 3 e 4 ):
� Escala de Táticas de Conflitos – versão simplificada (tradução e adaptação realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 1999). Escala com 9 itens que como
objetivo analisar as formas de resolução de conflitos familiares. São nove questões que medem
a freqüência e a gravidade/forma das agressões sofridas nos últimos 6 meses e que atendem
ao Critério A dos critérios diagnósticos do DSM-IV.
� Inventário de Depressão (BDI) – (Beck, Rush, Shaw e Emery, 1979) escala com 63 itens
utilizada para levantar os sintomas físicos e cognitivos da depressão, e a intensidade dos
mesmos; utilizada neste estudo com o intuito de excluir o diagnóstico de portador do distúrbio
de estresse pós-traumático no caso da participante ser portadora de depressão maior,
identificar comorbidades e, ainda, correlacionar a porcentagem de mulheres vítimas de violência
conjugal que apresentam apenas sintomas de depressão.
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� Instrumento para o diagnóstico do Transtorno de Estresse Pós-Traumático - questionário de 19
questões elaborado pela autora e que pretende abranger os sintomas referentes aos critérios
diagnósticos do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) reunidos no DSM-IV.
Os itens reunidos nos critérios diagnósticos para o TEPT foram transformados em 19 afirmações
para as quais havia duas alternativas de respostas: "sim" ou "não".
O questionário foi analisado quanto ao conteúdo e pertinência dos itens (quanto à concordância
dos itens ao atributo que pretendiam medir), bem como à análise semântica (quanto à compreensão
dos itens do instrumento pela população alvo). Alcançando, desta forma, a validade aparente.
A utilização de um instrumento não validado tornou-se necessária pela ausência de
instrumentos para o diagnóstico do distúrbio em vítimas de violência doméstica no Brasil.
Vale ressaltar que outros instrumentos foram consultados para a elaboração deste, dentre eles
destacam-se:
♦ Escala de Impacto de Eventos (“IES”) – (Horowitz, M. J., 1976) – uma escala de
4 termos que visa identificar a presença dos principais sintomas de ansiedade pós-
traumática revivências, hiperexitação e esquiva/entorpecimento;
♦ Sintomas de Estresse Pós-Traumático em Crianças – Geffer, R.A., Jaffe, P.G.,
Sudermann, M. (2000) - questionário que visa avaliar a presença dos sintomas
associados aos critérios B, C e D do DSM-IV (pensamentos intrusivos/re-
experiências, evitação e hiper-excitação) em crianças.
Procedimento
As participantes foram identificadas através de prestação de queixa e/ou Termo Circunstanciado na
Delegacia de Defesa da Mulher de São Carlos sob autorização da Delegada responsável (ver
anexo 5 ). A abordagem das mesmas foi feita no momento de prestação da queixa, ou através dos
estagiários do serviço de psicologia do Laboratório de Prevenção à Violência Doméstica da
Universidade Federal de São Carlos.
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As mulheres que se encaixaram nos pré-requisitos necessários foram convidadas a participar da
entrevista na própria delegacia, se possível, logo após ser prestada a queixa ou em horário marcado
com a entrevistadora
Foi realizado um único encontro com cada participante, com duração de 1 (uma) hora e 20
(vinte) minutos, realizados na sala reservada ao serviço de Psicologia na DDM – São Carlos/SP,
com exceção de uma das participantes, onde a entrevista foi realizada na residência da mesma.
Os questionários foram realizados mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, conforme instruções do Comitê de Ética em Pesquisas (CEP-UFSCAr – ver
autorização em Anexo 6 ). Os mesmos foram lidos em voz alta pela entrevistadora.
A sessão teve a seguinte ordem: Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 7 ), Entrevista
Inicial com Vítimas de Violência Doméstica, Escala de Táticas de Conflitos, Inventário Beck de
Depressão e o Instrumento para o Diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
As participantes ficavam livres para interromper o(a) entrevistador(a) caso houvesse dúvidas ou
desistência.
Análise dos Resultados e Discussão
I - ANAMNESE E CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES Tabela 2 – Caracterização/anamnese das participantes.
Part. Idade / Escolaridade Profissão Tempo de Relacionamento
Tempo de Agressão
P. 1 55 / 4º ano primário Aposentada (invalidez) 28 anos 3 anos
P. 2 29 / 8o ano ginásio Diarista 5 anos 1ano e 6 meses
P. 3 48 / 2o grau Do Lar 31 anos 2 anos
P. 4 21 / 7º ano ginásio Desempregada 6 anos 4 anos
P. 5 24 anos/supletivo 2ºgrau (cursando)
Vendedora 1 ano e 6 meses 1 ano
As idades das participantes variaram de 21 a 55 anos; 2 (duas) das participantes têm idade acima
de 45 anos. O tempo de relacionamento com o marido/companheiro atual (agressor) variou entre 1
ano e 6 meses a 31 anos. Em contrapartida, o tempo de exposição à agressão nesses
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relacionamentos (contado a partir do primeiro episódio de agressão), foi de 1 a 4 anos (P.5 e P.4,
respectivamente).
Das mulheres entrevistadas, apenas 2 trabalham. 3 (três) participantes não possuíam atividade: P.4
estava desempregada; e P.1 é aposentada por invalidez (Figura 1 ).
O nível de escolaridade varia entre o primário e o colegial: 2 (duas) das participantes possuem o 2º
grau completo (ou cursando); 1 (uma) participante completou apenas o estudo primário; as
participantes 4 e 2 atenderam ao ginásio, sendo que a primeira interrompeu os estudos no 7o ano
ginásio.
Figura 1 - Anamnese das participantes: idade, escolaridade, tempo (em anos) de relacionamento e
de exposição à agressão
Figura 1 - dados gerais das participantes: Idade, tempo de relacionamento; tempo de
exposição à agressão e escolaridade.
Anamnese das Participantes
0
10
20
30
40
50
60
P.1 P.2 P.3 P.4 P.5
Participantes
Tem
po (
em a
nos)
IdadeT.de RelacionamentoT. de agressãoEscolaridade
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II - ESCALA DE TÁTICAS DE CONFLITO - Análise dos Resultados
Tabela 3 – Resultado do Instrumento aplicado: Escala de Táticas de Conflito
Freqüência
1 1 vez
2 2 vezes
3 3 a 5 vezes
4 6 a 10 vezes
5 mais de 10 vezes
- Nenhuma vez
Formas de resolução de Conflitos P.1 P.2 P. 3 P.4 P.5
1. Insultou/xingou a vítima 5 4 5 5 5
2. Recusou-se a conversar e saiu batendo a porta 5 5 5 3 3
3. Gritou com a vítima 5 5 5 5 5
4. Ameaçou bater ou atirar alguma coisa 5 4 4 5 2
5. Jogou, amassou, bateu ou chutou alguma coisa 3 2 4 4 3
6. Atirou alguma coisa na vítima 4 - - 2 -
7. Empurrou, bateu, chutou ou feriu a vítima 4 1 2 5 1
8. Espancou ou tentou estrangular a vítima 1 - 1 2 -
9. Ameaçou com faca/arma de fogo ou usou-as contra a vítima 1 - - 1 -
Freqüência relativa das respostas das participantes 73% 47% 60% 71% 42%
Na Tabela 3 acima, referente à freqüência de respostas das participantes em relação à ocorrência de episódios de agressão conjugal, temos: P.1 (73%) > P.4 (71%) > P.3 (60%) > P.2
(47%) > P.5 (42%)
Fórmula para o cálculo = __No. de pontos assinalados pela participante__ da percentagem da ETC No. TOTAL DE PONTOS NA ESCALA (45)
Todas as participantes relatam ter sofrido agressões físicas e psicológicas. Podemos observar que
as participantes 1 e 4 relataram ter sofrido episódios de agressões com maior freqüência e
intensidade (observar itens 8 e 9 e freqüência relativa de respostas), em relação à freqüência
relativa de respostas do grupo; enquanto que as participantes 2 e 5, apresentam uma menor
freqüência e intensidade das agressões sofridas (ver Figura 2) .
Figura 2 - Escala de Táticas de Conflito: freqüência relativa das respostas das
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participantes em relação ao tipo e intensidade das agressões sofridas
Figura 2 - referente à freqüência de respostas das participantes em relação à ocorrência de episódios de agressão conjugal, temos: P.1 (73%) > P.4 (71%) > P.3 (60%) > P.2 (47%)
> P.5 (42%)
III - INVENTÁRIO BECK DE DEPRESSÃO - Análise dos Resultados
Tabela 4 – Inventário Beck de Depressão (BDI): Levantamento dos sintomas
depressivos e avaliação de sua intensidade.
Participantes Sintomas Freqüência relativa das respostas
P. 1 Depressão Moderada 41% (26/63 = 0,41)
P. 2 Depressão Ausente/mínima 11% (07/63 = 0,11)
P. 3 Depressão Moderada 38% (24/63 = 0,38)
P. 4 Depressão moderada-profunda 49% (31/63 = 0,49)
P. 5 Depressão Ausente/mínima 14% (09/63 = 0,14)
Na Tabela 4 acima, referente à freqüência de respostas das participantes em relação aos sintomas apresentados, temos: P.4 (49%) > P.1 (41%) > P.3 (38%) > P.5 (14%) > P.2
(11%)
Fórmula para o cálculo = __ No. de pontos assinalados pela participante___ da freqüência relativa No. TOTAL DE PONTOS NO QUESTIONÁRIO (63) As participantes 2 e 5 não apresentaram sintomas de depressão; enquanto que as participantes
1, 3 e 4 apresentaram sintomas de depressão moderada e moderada-profunda (participante 4).
Escala de Tática de Conflitos
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
P.1 P.2 P.3 P.4 P.5Participantes
Fre
q. r
elat
iva
ETC
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Os resultados encontrados estão de acordo com Meichenbaum (1994), que afirma serem altos
os níveis de depressão apresentados por mulheres vitimadas por seus companheiros.
Estes sintomas são usualmente acompanhados de ideações e tentativas suicidas, abuso de
substâncias, sintomas do TEPT, sentimento de culpa e dificuldade em fazer planos para o futuro em
relação à família, aos filhos, carreira, etc..
Figura 3 - Inventário Beck de Depressão: freqüência relativa das respostas das participantes em
relação ao tipo e intensidade dos sintomas apresentados
Figura 3 - referente à freqüência de respostas das participantes em relação aos sintomas apresentados, temos: P.4 (49%) > P.1 (41%) > P.3 (38%) > P.5 (14%) > P.2 (11%)
IV - DIAGNÓSTICO DO TEPT EM MULHERES VÍTIMAS DE VIO LÊNCIA
DOMÉSTICA
Tabela 5 - Instrumento para o diagnóstico do TEPT: levantamento dos sintomas.
Participantes Critérios preenchidos/ provável diagnóstico
P. 1 Preenche todos os critérios para o diagnóstico de TEPT
Inventário Beck de Depressão
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
P.1 P.2 P.3 P.4 P.5Participantes
Fre
quên
cia
rela
tiva
Inv.de depressão
Desirée C. Cassado, projeto de monografia realizado sob orientação do Doutorando Alex
Eduardo Gallo e da Prof. Dra. Lúcia C. A. Williams. Dezembro de 2003.
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P. 2 Não preenche critérios para o diagnóstico de TEPT
P. 3 Preenche todos os critérios para o diagnóstico de TEPT
P. 4 Preenche todos os critérios para o diagnóstico de TEPT
P. 5 Não preenche critérios para o diagnóstico de TEPT
As participantes 1, 3 e 4 preenchem todos os critérios para o diagnóstico do Transtorno de
Estresse Pós-Traumático, ao contrário das participantes 2 e 5.
Tal resultado está de acordo com o encontrado por Houskamp e Foy (1991), no qual afirmam ser
de 45% a incidência do TSPT em mulheres envolvidas em relacionamento amoroso agressivo.
V - TEMPO DE AGRESSÃO X TEMPO DE RELACIONAMENTO X I DADE DA PARTICIPANTE
Também podemos observar nesta pequena amostra, que as participantes com
maior tempo de relacionamento relataram, proporcionalmente, menor tempo de
exposição à violência doméstica – contados a partir do primeiro e último episódio
de agressão.
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Eduardo Gallo e da Prof. Dra. Lúcia C. A. Williams. Dezembro de 2003.
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Na Figura 4 está representado a razão entre o tempo de relacionamento e o tempo de exposição à
agressão relatado pelas participantes:
Figura 4: Tempo de Relacionamento e Agressão em Anos e Razão em Porcentagem
Na figura 4 podemos observar que quanto maior o tempo de relação, menor é o
tempo relatado de exposição à violência. Estes dados podem nos levar a crer que
casais de união recente tendem a lidar com mais situações de agressão doméstica
do que casais de união com mais de 20 anos. Entretanto, Tal resultado não está de
acordo com o esperado ou com o encontrado na comunidade científica. Estudos
afirmam que uniões menos recentes tendem a ter um histórico proporcionalmente
maior de violência doméstica.
Razão entre Tempo de Relacionamento e Tempo de Agre ssão
0
5
10
15
20
25
30
35
P 1 P.2 P.3 P.4 P.5
Participantes
T.anos
0%
10%20%
30%
40%
50%60%
70%
80%90%
100%T. relacionamento (A)T. de agressão (B)Razao entre A e B
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Na Figura 5 abaixo, podemos relacionar a idade da participante, o tempo de
relacionamento e a razão (em percentagem de tempo) com o relato do tempo de
exposição à agressão.
Figura 5 - Relação entre idade, tempo de relacionamento e a razão (em
percentagem de tempo) com o relato do tempo de exposição à agressão.
Idade e T. de relacionamento X Razão entre T. de R elacionamento e T. de Agressão
0
10
20
30
40
50
60
P 1 P.2 P.3 P.4 P.5
Participantes
Tem
po (
em a
nos)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Por
cent
agem
Idade T. RelacionamentoRazão
Figura 5 - Idade por Tempo de Relacionamento e Razão dos tempos de Relacionamento e
Agressão em Porcentagem
Pode-se observar que quanto maior a idade da participante e tempo de
relacionamento, menor é o tempo relativo de exposição à violência doméstica
relatado. O que pode levar-nos às possíveis hipóteses:
a) mulheres mais jovens sofrem mais violência de seus maridos/companheiros;
b) há falhas no método de avaliação ou instrumento utilizado, ou
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b) há distorções no relato: mulheres mais velhas tendem a não discriminar ações
de violência/agressão cometidas por seus maridos/companheiros (amenizando os
episódios, ou não os considerando como de agressão).
Ainda, estas mulheres são, em sua maioria, dependentes do agressor; têm
filhos/netos e uma ampla rede de relação social que pode desencorajá-la a
descrever, classificar e emitir respostas de contra controle à agressão. Pode haver
ainda, prejuízo no julgamento e perdas sociais com a denúncia.
Sabe-se que mulheres vitimadas por seus maridos/cônjuges tendem a minimizar os episódios de
agressão. Desta forma, a violência psicológica - como chantagens, ofensas, destruição de
propriedade -, e violência sexual – relação sexual forçada, por exemplo – muitas vezes não são
consideradas atos de agressão. A vítima classifica apenas como episódios de violência, aqueles
considerados de agressão física grave ou que acarretam em ameaça séria à sua integridade ou a
de filhos e familiares.
VI - COMORBIDADES
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Como citado anteriormente cerca de 80% dos diagnósticos de TEPT apresentam comorbidades
como Transtorno de Pânico, Transtorno de Ansiedade Generalizada e, mais especificamente,
Transtorno Depressivo Maior.
Segundo Meichenbaum (1994), mulheres vitimadas por seus companheiros apresentam altos
níveis de depressão, ideação e tentativas suicidas. Autores como Houskamp e Foy (1991) também
afirmam que tanto a incidência do TEPT, quanto de Depressão maior, está diretamente relacionado
à intensidade, freqüência e tempo de exposição à agressões. assim como a prevalência de
transtornos co-mórbidos.
O levantamento feito por meio desta pequena amostra indica que: 3, das 5
participantes, preenchem os critérios para o diagnóstico de TEPT. Dessas, todas
relataram alguns sintomas de depressão, que variam em intensidade, da
depressão moderada à depressão profunda (ver Tabela 6 ).
Tabela 6 – Índice de Depressão: porcentagem relativa das respostas – ETC. e Diagnóstico para TEPT
Participantes Sintomas ETC TSPT
P. 1 Depressão Moderada 73% SIM
P. 2 Depressão Ausente/mínima 47% NÃO
P. 3 Depressão Moderada 60% SIM
P. 4 Depressão moderada-profunda 71% SIM
P. 5 Depressão Ausente/mínima 42% NÃO
Tabela 6 - índice de depressão, porcentagem relativa das respostas na Escala de Táticas de Conflito e diagnóstico para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Pode-se observar ainda, uma importante correlação entre a intensidade e
freqüência dos eventos traumáticos e o aparecimento dos sintomas do TSPT,
também citado pelos autores (ver Figura 6 ).
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Figura 6 - relação entre a freqüência de resposta: Inventário Beck de Depressão e
ETC
Figura 6 - relação entre as porcentagens relativas dos resultados do Inventário Beck de Depressão e da Escala de Táticas de Conflitos
CONCLUSÃO
Apesar do pequeno número de participantes, os resultados obtidos neste estudo
apontam, de forma geral, para a alta incidência de TEPT e comorbidades - como
Depressão Maior - nas mulheres vítimas de violência doméstica entrevistadas.
Inventário Beck e ETC
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
P.1 P.2 P.3 P.4 P.5
Participantes
Por
cent
agem
rel
ativ
a
Inv. BeckETC
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Pode-se ainda constatar uma relação direta entre a freqüência e intensidade
das agressões sofridas com a intensidade dos sintomas de Depressão Maior
apresentados e diagnóstico do Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Resultados estes que estão de acordo com os dados encontrados por
Houskamp e Foy (1991), que afirmam que a incidência do transtorno em mulheres
envolvidas em relacionamento amoroso agressivo pode chegar a 45%, e está
diretamente relacionado ao tempo de exposição e à gravidade das agressões
sofridas.
De acordo com Câmara Filho e Sougey (2001), cerca de 80% dos diagnósticos
de TEPT apresentam comorbidades como Transtorno de Pânico, Transtorno de
Ansiedade Generalizada e Transtorno Depressivo Maior. Meichenbaum (1994)
afirma também alta a freqüência de Depressão Maior em mulheres que são agredidas por seus
parceiros/maridos.
Desta forma os resultados obtidos neste estudo estão de acordo com a predição teórica.
Para futuras discussões sobre a incidência do Transtorno do Estresse Pós-Traumático sobre a
população em geral e, mais especificamente, sobre mulheres vítimas de violência doméstica, faz-se
necessário a mobilização da comunidade científica no sentido de produzir maior conhecimento na
área e uma melhor compreensão do diagnóstico, tratamento e prevenção do transtorno.
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