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Revista InterteXto / ISSN: 1981-0601 v. 5, n. 2 (2012)
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SEMNTICA, PRAGMTICA E TRADUO
SEMANTICS, PRAGMATICS AND TRANSLATION
Albeiro Mejia Trujillo1
Resumo: A Semntica uma rea da Lingustica relativamente nova que tem por objeto desvendar o sentido dos termos no contexto proposicional e discursivo, dentro dos princpios de boa formao. A Semntica estabelece os princpios de semiose ou interpretao que as formaes Lgicas e Sintticas no conseguem definir, assim como tambm supera as limitaes de significao dos estudos etimolgicos e da Lexicologia. Aborda-se, ao longo do texto, alm de alguns elementos histricos relevantes, a sntese de trs vertentes da semntica que so: Semntica Interpretativa, Gerativa, e Estruturalista para, finalmente, estabelecer a relao entre Semntica, Pragmtica e Interpretao com um foco na anlise fenomenolgica.
Palavras-Chave: Expresso; Interpretao; Lxico; Sentido; Significao.
Abstract: Semantics is a relatively new area of Linguistics whose objective is to unveil the meaning of the terms in propositional and discursive context, within the principles of good formation. The Semantic lays the principles of semiosis or interpretation that Syntactic and Logical formations do not define, as well as overcomes the limitations of significance of Lexicology and etymological studies. It is approached in the text, in addition to some relevant historical elements, the synthesis of three aspects of semantics that are: Interpretive, Generative, and Structuralist Semantics, to finally establish the relationship between Semantics, Pragmatics, and Interpretation with a focus on the phenomenological analysis.
Keywords: Expression; Interpretation; Lexicon; Meaning; Significance.
Introduo
A linguagem humana tem sido objeto de ateno pelo prprio homem que buscando
entend-la fez, e continua a fazer, suposies e aplicaes que vo de conceitos
metafsicos, passando por teorias de diversa ordem, descries histricas e
historiogrficas, at exposies do funcionamento das lnguas particulares. Diante da
inexistncia de uma cincia da linguagem, no perodo anterior ao sculo XIX, os estudos
lingusticos eram domnio da Filosofia, Antropologia, Biologia, e at a Medicina. Com base
nos estudos aristotlicos e durante a idade mdia a Lgica, Gramtica e Retrica eram
tratadas como disciplinas que abrangiam o estudo da morfologia, sintaxe, lexicologia e,
at, a variao de sentido dos termos.
Desde suas origens, no sculo XIX, a Lingustica no tem conseguido reunir os
componentes essenciais compreenso do fenmeno lingustico, e vem oscilando entre 1 Formado em Filosofia/Sociologia e Letras, Mestre em Teoria Literria (UnB), Doutor em Literatura (UnB), e
Ps-Doutorado em Gramaticologia (PUC/SP). Instituio UNIPLAN-DF. E-mail: malbeiro@yahoo.com.br
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preocupaes tericas e a perda de sua identidade ao cair em abordagens correlatas a
domnios de outras cincias. A fontica e fonologia, morfologia e sintaxe tem sido uma
base relativamente estvel da Lingustica, sendo que campos como a neurolingustica,
psicolingustica, sociolingustica, variacionismo, gneros discursivos, anlise do discurso
entre outros campos de estudo da lngua tm levado ao abandono da historiografia
lingustica, filologia, semntica e, a mais rejeitada de todas que a gramaticologia.
As Escolas e/ou Crculos lingusticos de Praga, Copenhague, Moscou, Estados Unidos
entre outras, em muitos de seus aspectos, ficaram to prximas das anlises feitas pela
Filosofia que se torna difcil separar as teorias lingusticas, da filosofia da linguagem
desenvolvida, sobretudo, pelo Crculo de Viena e seus seguidores. A essa altura, salvo
alguns movimentos franceses e alemes, a preocupao lingustica era lgico-sinttica,
com uma reduo do sentido da lngua a meros termos lexicogrficos, fato fcil de se
entender se analisarmos a descrio positivista como so apresentados nos Dicionrios
os termos isolados de uma lngua.
A compreenso de que a Lgica, Sintaxe e Lexicologia no conseguem espremer o
potencial polissmico dos termos lingusticos nas funes expressivas, conforme os
contextos e circunstncias de cada poca e lugar, contribuiu para que a preocupao com
o sentido profundo dos enunciados lingusticos tivesse um instrumento prprio
denominado de Semntica e que aos poucos vem se firmando como um dos domnios da
Lingustica, embora haja movimentos que se refiram Semntica como uma cincia
autnoma, da mesma forma que o fazem com a Filologia, Gramaticologia, Lexicologia e a
Semitica.
Aspectos histricos da Semntica
H dois ramos importantes da lingustica que tratam diretamente das palavras: a
etimologia que o estudo da origem das palavras e, a lexicologia que o estudo do
significado das palavras. Com a limitao das descries lexicogrficas e etimolgicas
para a compreenso plena dos discursos surge, num perodo relativamente recente, um
novo campo de estudo da linguagem. No sculo XIX surgiu a necessidade de criar, dentro
da Lingustica, uma rea autnoma do significado, e ento que emerge a semntica
como uma diviso importante da Cincia da Linguagem.
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O fato da Semntica haver-se firmado como rea da Lingustica h relativamente pouco
tempo, no quer dizer que os antigos gregos e latinos fossem indiferentes aos problemas
do significado, mas, pelo contrrio, os mesmos fizeram penetrantes observaes acerca
do emprego e do sentido das palavras e mencionaram diversos aspectos fundamentais da
mudana semntica, como feito por Plato em seu Dilogo: Crtilo ou da exatido dos
nomes. Na verdade, pode-se afirmar que muitos dos assuntos relevantes da semntica
moderna j foram enunciados em observaes de escritores gregos e latinos.
Uma das questes estudadas pelos gregos e latinos o fato das mudanas de significado
como reflexo de transformaes na mentalidade pblica: assim como em estados de
guerra e de invases, a audcia temerria passa a ser considerada como corajosa
lealdade enquanto, a hesitao prudente entendida como covardia. Conforme Ullmann
(1964), sobre a atitude tolerante para com a debatida questo da correo da linguagem,
Horcio assumiu a ascenso e a queda das palavras da seguinte forma: muitos vocbulos
que morreram, tero um segundo nascimento, e muitos daqueles que agora gozam de
honra cairo, se assim o quiser o USO, em cujas mos est o arbtrio, o direito e a lei da
fala.
Proclo, filsofo neo-platnico do sculo V, estudando o domnio semntico distinguiu certo
nmero de tipos bsicos como a mudana cultural, metfora, alargamento e restrio do
significado etc. Esses tipos de recursos continuam a fazer parte dos modernos
instrumentos da Semntica. O interesse dos antigos pela palavra no se restringiu s
mudanas de significado, pois tambm fizeram muitas observaes pertinentes sobre o
seu comportamento na fala efetiva.
O carter vago das palavras e a diversidade do seu emprego j foram notados na obra
homrica quando afirma que as palavras dos mortais tm muitos e variados sentidos, e o
mbito da fala extenso para um e outro lado. Demcrito assinala duas espcies
diferentes de significado mltiplo: a mesma palavra pode ter mais de um sentido e,
inversamente, pode haver mais de uma palavra para exprimir a mesma ideia. Para se
referir ao termo ou palavra Aristteles define esta como a menor unidade significativa da
fala. O filsofo grego tambm estabeleceu a distino entre duas espcies de palavras: as
que mantm o significado mesmo quando isoladas, e as que so meros instrumentos
gramaticais. Entretanto, aquelas palavras que para a semntica podem ser tidas apenas
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como instrumentos, em termos de estrutura so componentes constitutivos da formao
sinttica da lngua sem as quais o discurso fica sem sentido completo.
Embora as ideias greco-romanas a respeito das palavras e seu emprego tenham exercido
forte influncia sobre a semntica moderna foram, sobretudo, dois fatores que
desempenharam um papel decisivo no seu aparecimento na primeira metade do sculo
XIX: primeiro foi o nascimento da filologia comparada e, de modo mais geral, o
surgimento da lingustica cientfica no seu sentido moderno e; o segundo fator foi a
influncia do movimento romntico na literatura, haja vista que os escritores desse
movimento consagraram s palavras um interesse vivo e universal, que se estendia do
arcaico ao extico, fascinando-os o poder misterioso e estranho das palavras.
No sculo I a.C. Varro codificou a gramtica latina considerando a etimologia,
morfologia, e sintaxe como as trs principais divises dos estudos lingusticos. Em 1825
C. Reisig comea a criar uma nova concepo de gramtica, a qual era dividida em
etimologia, sintaxe, e semasiologia que considerava uma disciplina de carter histrico
que procuraria estabelecer os princpios que governam o desenvolvimento do significado.
Esta disciplina ser vista pelos alemes da poca como uma saudvel reao contra as
excessivas preocupaes formalistas dos estudos filolgicos. Esta primeira fase da
semntica (semasiologia) ficou restrita a um grupo reduzido de estudiosos do assunto.
Michel Bral em 1883 traou o programa da nova cincia, sendo que segundo ele as leis
que precedem transformao dos sentidos, escolha de expresses novas, ao
nascimento e morte das locues foram deixadas na sombra ou apenas mencionadas
acidentalmente. Bral afirma que este estudo merece um nome como a fontica e a
morfologia e o chama de semntica (), isto , a cincia das significaes. Tanto
Bral quanto Reisig consideravam a semntica como um estudo puramente histrico.
A orientao da semntica em suas duas primeiras fases teve como princpio orientador a
ideia de que a sua tarefa primordial era estudar as mudanas de significado, explorar as
suas causas, classifica-las de acordo com critrios lgicos, psicolgicos etc., e, se
possvel, formular leis gerais e investigar as tendncias subjacentes. Nas trs primeiras
dcadas do sculo XX, segundo Ullmann (1964), o estudo das mudanas de significado
teve considerveis progressos, voltando-se para disciplinas vizinhas como a filosofia,
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psicologia, sociologia, histria da civilizao etc. Esta aproximao dessas cincias visava
alcanar uma compreenso mais ampla dos processos semnticos.
Para melhor compreender as mudanas referentes terceira fase da semntica preciso
retomar a ruptura de Saussure com a orientao histrica da Lingustica do sculo XIX em
que mostra haver duas orientaes basicamente diferentes e igualmente justificveis nos
estudos da linguagem: uma descritiva ou sincrnica, que a registra tal como ela existe
num dado momento; outra histrica ou diacrnica que traa a evoluo de seus vrios
elementos. As duas orientaes so complementares, mas no devem ser confundidas.
A semntica contempornea difere das escolas anteriores em dois aspectos importantes:
abandonou a orientao unilateralmente histrica e, embora as mudanas de significado
continuem a receber certa ateno, houve uma inequvoca alterao na importncia
concedida semntica descritiva. Em segundo lugar, fizeram-se nos ltimos anos
diversas tentativas de estudo da estrutura interna do vocabulrio.
O aparecimento nos primeiros anos do sculo XX de uma nova cincia da estilstica teve
uma influncia profunda nos estudos semnticos. A relao da estilstica com a semntica
demonstrou que todos os grandes problemas da semntica tm implicaes estilsticas.
Outro trao distintivo da ltima semntica o fato de o centro de interesse ter passado
dos princpios gerais para o estudo das lnguas particulares.
A semntica contempornea, como exposto por Ullmann (1964), caracteriza-se, tambm,
por um interesse marcado pelas relaes entre a linguagem e o pensamento. J no se
considera a linguagem como mero instrumento de expresso dos nossos pensamentos,
mas, sim, como uma influncia especial que os molda e pr-determina, dirigindo-os para
vias especficas.
Semntica Interpretativa:
O processo de semiose ou interpretao de cdigos de um mesmo sistema lingustico
deve distinguir a dimenso sinttica da linguagem que se refere s relaes dos signos
entre si; a dimenso semntica que diz respeito s relaes entre os signos ou
complexos de signos e os objetos por eles designados; e a dimenso pragmtica que
trata das relaes entre os signos e os seus utilizadores.
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Ao excluir as questes que surgem quando se tenta traduzir o problema das relaes
entre palavras e objetos no referente s relaes recprocas entre os signos, na
perspectiva de muitos linguistas europeus, resolve-se o problema semntico ao conseguir
reduzi-lo a problemas lexicogrficos, isto , quando sistematicamente se estudaram
problemas como os da homonmia, polissemia, campos semnticos etc. No interessa
neste contexto partir de uma noo intuitiva de significado, entendido, por exemplo, como
unidade cultural, e estudar, por assim dizer, a vida dos significados, isto , o complexo
de relaes, cdigos, valores, que venha a ser instaurado, num contexto social, a partir de
tais entidades. Interessa aqui problematizar a noo de significado e individuar uma srie
de pr-requisitos para sua definio adequada. Interessa, igualmente, tratar o problema
semntico na base de uma abordagem transformacional da sintaxe. Em outras palavras,
torna-se necessrio discutir a estrutura que deve assumir o componente semntico de
uma gramtica transformacional para satisfazer condies de adequao descritiva.
O termo semntica interpretativa tomado como simples componente semntico de
uma gramtica gerativa transformacional. Se para Chomsky a possibilidade de construir
uma gramtica no est vinculada a consideraes relativas ao significado dos
enunciados, isto , que para descobrir uma gramtica no necessria nenhuma
informao semntica porque existe uma tomada de posio chomskiana em que de
acordo com a construo geral do discurso, a afirmao da independncia da gramtica
tinha um carter metodolgico preliminar ao estudo efetivo das estruturas sintticas.
A tentativa de assumir a independncia da gramtica tendo como corolrio uma ntida
demarcao das fronteiras entre sintaxe e semntica, no impediu de constatar que
existia uma correspondncia definida entre a estrutura e os elementos descobertos pela
anlise gramatical formal, e especficas funes semnticas. Entre os traos formais e os
traos semnticos da lngua subsiste uma inegvel, ainda que imperfeita
correspondncia. Primeiro se afirmava que os problemas semnticos no eram tratveis
antes dos sintticos, porm nos trabalhos chomskianos posteriores passa-se a afirmar
que semntico tudo aquilo que permanece no explicado pelos estudos sintticos.
A semntica enquanto uma srie de questes metatericas trata de explicar a capacidade
do falante de usar e compreender um nmero infinito de enunciados a partir de uma
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experincia necessariamente limitada, isto , fundada em um nmero finito de
enunciados. Essa capacidade do falante deve-se a sua habilidade lingustica de formar
um conjunto de regras recursivas que projetam o conjunto finito de enunciados
encontrados por ele, no conjunto infinito de enunciados da lngua. Isto , a compreenso
dos enunciados nunca antes vistos pelo falante composicional, o que implica dizer que
as regras conhecidas pelo usurio de uma lngua lhe permitem determinar o significado
de novos enunciados, que constituem uma nova combinao de elementos conhecidos.
(...) nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que no apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas tambm nem sempre reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar formas e aparncias incongruentes no causam imaginao mais embarao do que conceber os objetos mais naturais e mais familiares. (...) Pode-se conceber o que ainda no foi visto ou ouvido, porque no h nada que esteja fora do poder do pensamento, exceto o que implica absoluta contradio. Entretanto, embora nosso pensamento parea possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, atravs de um exame mais minucioso, que ele est realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do esprito no ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experincia (HUME, 1992, p. 70).
O processo de interpretao dos enunciados por parte do falante/ouvinte permite
conceber o significado dos enunciados da lngua como sendo o resultado da associao
dos elementos atmicos da linguagem. Esse posicionamento atribui ao significado dos
elementos atmicos da lngua a natureza definvel de modo completo e autnomo,
independentemente de suas relaes recprocas. O componente semntico apresenta
duas partes: um dicionrio, que fornece a significao a cada elemento lexical e; um
conjunto finito de regras de projeo, que atribuem uma interpretao semntica a cada
sequncia gerada pelo componente sinttico. O componente semntico estritamente
interpretativo e no gerativo, pois ele no acrescenta nenhuma informao nova quelas
j contidas nos indicadores sintagmticos gerados pelos componentes sintticos, mas
simplesmente traduz em complexos significantes entidades formais abstratas.
A tentativa de reduzir uma construo semntica ao estudo das relaes que intercorrem
entre signos j tomados como significantes leva, necessariamente, da construo de uma
teoria semntica construo de uma lexicografia em que o problema central no mais
a estrutura do significado, mas a estrutura da interpretao, sendo assim o ponto de
partida dessa semntica , pois, um significante lexical, e o problema que aqui se pe
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o da interpretao, isto , o da identificao de seu significado. Uma teoria desse tipo se
reduziria a um arranjo dos significados e das acepes correspondentes a um
significante, isto , a um aspecto da prxis lexicolgica.
Uma perspectiva lexicogrfica conduz convico de que os elementos lexicais da lngua
so definidos independentemente de suas relaes recprocas e, portanto, induz na
recusa em considerar o enunciado como o verdadeiro objeto de uma teoria semntica. O
significado de um enunciado pode ser tratado, afinal, como o significado de um signo, e
no como um legtimo nvel de organizao da linguagem. Se a explicitao do significado
lexical de uma palavra se d por meio de outras palavras, desencadeia-se um processo
circular de interdefinies no qual, para definir o significado de um termo, se recorre a
termos que, por sua vez, devem ser definidos, chegando-se, no melhor dos casos a uma
sequncia de definies por sinonmia.
Semntica Gerativa:
A Semntica Gerativa dirige sua principal crtica teoria chomskiana que se fundamenta
na noo de estrutura profunda, que um conceito central e rico de implicaes
epistemolgicas. A estrutura profunda satisfaz a dois postulados tericos fundamentais: a
separao de sintaxe e semntica, em virtude da qual a estrutura profunda uma
entidade exclusivamente sinttica tendo como contrapartida a interpretao semntica e;
a forte caracterizao da estrutura profunda como entidade sinttica, razo pela qual
nela que se aplicam todas as operaes sintticas semanticamente relevantes.
A separao entre sintaxe e semntica na qual se funda a noo de estrutura profunda se
revela inadequada para explicar vrios fenmenos lingusticos, haja vista que as
propriedades sintticas de determinadas entidades lingusticas s se explicam atravs do
recurso s suas propriedades semnticas. Um dos indicadores da boa formao na
gramtica transformacional o nvel semntico no qual as restries seletivas funcionam
como condio dessa boa formao. As restries seletivas no podem deter um status
independente dos significados, quando cada diferena de restrio seletiva reconduzvel
a uma diferena de significado. Nenhum trao no-semntico associado aos nomes
desempenha qualquer papel na seleo, mas as restries so fundadas na propriedade
semntica que designa tanto o unitrio quanto o conjunto na construo do sentido
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gramatical, sendo que as representaes semnticas garantiro a boa formao dos
enunciados.
Quando as representaes semnticas so expressas em categorias sintticas, a
distino entre sintaxe e semntica torna-se sem sentido. Quando a estrutura sinttica do
enunciado se identifica com a sua representao semntica, esta passa a ser identificada
com o objeto formal gerado pela base do componente semntico da gramtica e, no,
sinttico. O significado dos elementos individuais em unidades mnimas s pode ser
decomposto a partir da estrutura semntica do enunciado, pois os termos lexicais isolados
carregam possveis sentidos que uma determinada construo sinttica, embora bem
formulada, pode mudar conforme suas referncias e determinantes.
Sero aceitos como gramaticais os enunciados intuitivamente definveis como
verdadeiros e falsos, pois os elementos ltimos das representaes semnticas no
correspondem necessariamente s palavras que comparecem na estrutura superficial do
enunciado. Isto significa que as representaes semnticas no contm material lexical,
mas material semntico e, desse modo, estabelece-se uma distino de princpio entre
lexicografia e semntica.
Os postulados de significao devem oferecer condies semnticas de boa formao
para as formas lgicas dos enunciados e, em consequncia, decorre a exigncia de
construir uma semntica em que, como premissa para a explicitao da noo de
significado, seja possvel dar conta das condies de verdade dos enunciados. Essa
exigncia pressupe a existncia de uma estrutura sinttica do enunciado, cuja
identificao no coincide imediatamente com a representao da estrutura semntica do
prprio enunciado, embora a estrutura sinttica seja parte da representao semntica do
mesmo. Nas relaes lgico-sintticas se estabelecem regras de funcionalidade
gramatical que fixam a existncia ou no de significado dos enunciados, porm, nem a
lgica nem a sintaxe conseguem individuar qual o significado do enunciado por ser
domnio da semntica que, por sua vez, no est restrita funo associativa e
referencial do lxico.
Semntica Estrutural:
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Estrutura uma entidade autnoma de dependncias internas. A Estrutura, longe de ser
uma simples combinao de elementos, um todo formado de fenmenos solidrios tais,
que cada um depende dos demais e s pode ser o que em e por sua relao com os
demais. Do ponto de vista estrutural o domnio do vocabulrio apresentado num
espectro ctico, pois o mesmo instvel, muda constantemente, num estado de lngua h
um vaivm incessante de novas palavras que se forjam vontade e segundo as
necessidades, assim como palavras antigas que caem em desuso e desaparecem. Enfim,
o vocabulrio se apresenta, numa abordagem inicial, como a negao mesma de um
estado, de uma estabilidade, de uma sincronia, de uma estrutura.
Se a lexicologia entendida como um compartimento vazio na sistemtica da Lingustica,
forosamente passar a ser uma simples lexicografia, ou enumerao de um amontoado
de empregos diferentes e aparentemente arbitrrios de significados. Eis por que a
semntica, fruto tardio entre as disciplinas lingusticas, nasceu de um diacronismo e, em
parte, de um psicologismo exclusivos, tendo dificuldades para encontrar suas bases no
quadro da lingustica estrutural. Porm, a semntica clssica tendeu a perder-se em
ensaios literrios, enquanto a semntica estrutural ainda se encontra em fase de
consolidao, suscitando interesses diversos.
A substncia semntica apresenta, conforme Hjelmslev (1991), dois nveis hierrquicos
que so: o nvel fsico cuja descrio das coisas significadas no consegue caracterizar o
uso semntico adotado em uma comunidade lingustica pertencente lngua que se
deseja descrever e; o nvel da percepo e avaliao ou apreciao coletiva, sendo que
para dar uma descrio exaustiva do conjunto preciso descrever todos os nveis e suas
relaes mtuas, cabendo descrio por avaliao a primazia na hierarquia dos nveis
adotados por uma comunidade. A descrio semntica deve consistir numa aproximao
da lngua s demais instituies sociais e constituir o ponto de contato entre a lingustica e
os demais ramos da antropologia social, pois uma s coisa fsica pode receber
descries semnticas bem diversas segundo a civilizao considerada, e isso no
vlido s para os termos de apreciao imediata como bom ou ruim, nem somente
para as coisas diretamente criadas pela civilizao, mas tambm para as coisas da
natureza.
No apenas cavalo, cachorro, montanha, pinheiro etc., sero definidos diferentemente numa sociedade que os conhece (e os
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reconhece) como coisas nativas e numa outra para a qual permanecem como fenmenos estranhos. Mas o elefante algo muito diferente para um hindu ou um africano que o utilizam e o cultuam, que o temem ou amam, e, por outro lado, para uma sociedade europeia ou americana, para a qual o elefante existe apenas como um objeto de curiosidade exposto num jardim zoolgico e nos circos ou exposies. O cachorro receber uma definio semntica inteiramente diversa entre os esquims, onde um animal de trao, entre os parses, de quem o animal sagrado, numa sociedade hindu, onde renegado como pria, e nas sociedades ocidentais, onde sobretudo o animal domstico para a caa ou vigilncia. Em todos esses casos a definio zoolgica seria, do ponto de vista lingustico, nitidamente insuficiente. Cumpre compreender que no se trata de uma diferena de grau, mas de uma diferena essencial e profunda (HJELMSLEV, 1991, p. 125).
Alm dos nveis da substncia semntica existem nveis nas prprias unidades: signos
mais extensos (palavras), signos mnimos (raiz, afixos), partes de signos. Ao nvel do
signo (palavra) o quantitativo das unidades frequentemente ilimitado, sendo que os
nomes substantivos de uma lngua normalmente constituem uma classe aberta. As
classes abertas, contudo, opem-se s classes fechadas: palavras-instrumentos, afixos,
desinncias etc. Mencionamos como exemplo as preposies, as conjunes e, de modo
geral, tudo o que se conhece sob a designao de classes gramaticais. As classes
fechadas encontram-se no domnio prprio do lxico: entre os adjetivos primrios
frequentemente h pequenas classes fechadas, em geral com dois membros (feio/bonito).
Uma descrio estrutural s se poder efetuar sob a condio de poder reduzir as classes
abertas s classes fechadas. Na descrio estrutural do plano da expresso, tem-se
conseguido operar essa reduo, concebendo-se os signos como compostos de
elementos, dos quais, um efetivo relativamente baixo, basta para levar a cabo a
descrio. A descrio semntica no se reduz pura descrio semntica dos
elementos de contedo separados pela anlise, mas subsiste a necessidade de descrever
a manifestao das unidades maiores. A significao da palavra, antes como depois da
anlise, permanece como um assunto essencial da semntica, e a palavra semntica, a
palavra lexical ou a palavra pura e simples reclamam os seus direitos.
No estudo das classes fechadas que, em geral, constituem a Estrutura de uma lngua,
verifica-se que as preposies, entre outros instrumentos gramaticais, apresentam
diferentes acepes que partem desde um significado material, desdobrado em forma de
uma cadeia de gradaes e matizes semntica at alcanar um sentido imaterial e
abstrato, manifestado no discurso construdo pelo falante. No fcil apreender a
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diversidade de relaes expressas por uma mesma preposio, porque sabemos que
muitas acepes primitivas desaparecem ou so substitudas por outras que se
distanciam muito da significao original. importante considerar as alteraes
semnticas ocasionadas pelas influncias externas e temporais que a lngua portuguesa
vem sofrendo no decorrer da sua histria, pois nos permite observar que o carter estvel
destas partculas se encontra na prpria estrutura do idioma.
Said Ali (1964) afirma que algumas preposies vieram para o portugus e continuaram a
ser usadas da mesma forma do latim, outras, no entanto, tiveram novas aplicaes de
significado alm das antigas. Originariamente cada preposio teve um sentido
delimitado, mas a associao de ideias tornou possvel o alargamento do domnio
semntico de algumas a ponto de invadirem umas o domnio das outras e confundirem a
aplicao na prtica. As preposies tm sua referncia de significao na estrutura
interna da lngua, visto que a base de sua constituio de vocbulos que no possuem
significado quando aparecem isolados. So elementos gramaticais que contribuem para
dar sentido orao:
Tal como seria expresso por uma escola moderna de pensamento, as palavras plenas so auto-semnticas, significativas por si prprias, enquanto que os artigos, preposies, conjunes, pronomes, advrbios e outros so sinsemnticos, significativos apenas quando aparecem acompanhados por outras palavras (ULLMANN, 1964, p. 94).
O autor mencionado ao conceituar as palavras-formas afirma ser a sua funo muito
mais sinttica do que lexical, porque, no contexto, elas se aproximam mais das flexes
que do significado das palavras plenas. Enquadram-se, as primeiras, na categoria de
instrumentos gramaticais, palavras-instrumentos segundo a denominao de Hjelmslev
(1991) diferentes dos termos independentes.
As palavras, no contexto do discurso, alm do seu sentido prprio, podem apresentar
sentido metafrico, ou seja, transferncia de uma acepo para outra. Segundo
Nascentes (1960), estas mudanas de significao geralmente so devidas a dois fatores:
generalizao do especial e especializao do geral. Nesse trocadilho o autor considera a
gramatizao que as palavras sofrem ao longo do tempo. Como exemplos ele utiliza o
verbo britar que possua o sentido genrico de quebrar e tomou um sentido mais
restrito quebrar pedras ou, a palavra cavalo que antes era utilizada para caracterizar
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cavalo ruim, e passou a significar qualquer tipo de cavalo, sendo que neste ltimo caso,
houve uma generalizao do significado.
Said Ali (1951) utiliza conceito semelhante ao de Nascentes para indicar alterao
semntica, e o faz ao definir este processo como extenso de um termo de sentido
especial que passa a ter sentido geral e vice-versa. As mudanas de significao que
ocorrem nos vocbulos ao longo do tempo e do espao fazem parte do domnio da
semntica e podem ser observadas pela metonmia que, segundo Dubois (1997), o
fenmeno lingustico pelo qual uma noo designada por um termo diferente do que
seria necessrio, estando as duas noes ligadas por uma relao de causa e efeito,
sendo um exemplo de metonmia o seguinte: Joo avistou uma vela no horizonte (ao
invs de avistar um barco); pela analogia: entendida como o carter de regularidade
atribudo lngua; pelo eufemismo: maneira suavizada de exprimir fatos ou ideias cuja
denotao pode ferir como se depreende do seguinte exemplo: Maria muito cautelosa
(ao invs de medrosa).
Ao observar, numa perspectiva estruturalista, o caso da lngua portuguesa falada no
mundo, percebe-se que esta nica, possui a mesma estrutura, no entanto o seu lxico
sofre alteraes no tempo e no espao, fato constatado ao compararmos o lxico da
lngua portuguesa utilizado no espao geogrfico da Amrica (Brasil) e Europa (Portugal).
Nesta diferena observa-se que a mesma palavra rapariga, no primeiro assume uma
conotao pejorativa (prostituta) e no segundo, moa de boa famlia. No Brasil,
dependendo da regio, temos palavras com significao diferenciada como se constata
na palavra canjica que, enquanto no Sul indica o milho branco cozido em gua ou leite
com acar, amendoim e coco, no Norte um pur de milho verde. Todavia, preciso
salientar que: por muitas que sejam as significaes de um vocbulo, s uma delas entra
de cada vez em cena, de modo que podemos considerar cada acepo como vocbulo
independente (SAID ALI, 1951, p. 84).
Antenor Nascentes (1960) examina algumas mudanas de significao das palavras e
como este processo se d em relao fontica, morfologia e sintaxe. H palavras que
mudam de sentido conforme a acentuao: vlido e valido; conforme o timbre: frma e
forma. Na morfologia a alterao de significado se relaciona ao nmero: ar e ares; ao
gnero: o moral e a moral. Na sintaxe a regncia acarreta mudanas: o julgamento em
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Nuremberg no o mesmo que o julgamento de Nuremberg. A sintaxe de colocao,
tambm altera a significao das palavras: pequena mulher no o mesmo que mulher
pequena. Estes so alguns exemplos de mudanas semnticas que podem ocorrer em
um idioma quando se usam modos permitidos dentro de sua estrutura. Isto implica em
afirmar que a mudana da ordem sinttica, nas lnguas analticas, impe transformaes
de natureza semntica.
Semntica e Pragmtica:
Entende-se que linguagem somente existe enquanto cdigo, sendo que este como meio
de comunicao constitudo por um conjunto de regras que orientam o processo de
codificao/decodificao, na medida em que direciona as funes dos signos. Os
cdigos que se combinam mediante certas regras tm por finalidade a ativao do signo
que se constitui como a associao de um contedo a uma expresso: o contedo a
mensagem, a informao e a imagem mental; , por conseguinte, algo abstrato. A
expresso, por sua vez, a sua manifestao exterior e, como tal, algo sensorial e
concreto.
O estudo do significado das formas lingusticas apresenta dois problemas: primeiro, a
pergunta sobre qual a poro do significado oriundo da interpretao das estruturas e dos
itens lxicos (semntica); segundo, saber qual a poro que provm do conhecimento
que o falante tem das formas extralingusticas (pragmtica). A compreenso dos
enunciados no funo exclusiva de um processamento das estruturas lingusticas
contidas nelas, mas a compreenso tambm uma funo parcial de nossa percepo da
situao em que nos encontramos.
O signo um valor mentalizado por cada indivduo pertencente a um grupo, e dotado de
uma manifestao fsica construda consensualmente pelos diversos indivduos de uma
comunidade comunicativa que estabelece conjuntos de signos com suas regras
combinatrias, as quais instituem os cdigos que definiro as regras de entendimento dos
textos de diferente natureza. O maior ou menor grau de exatido no processo de
decodificao que ocorre na atividade da traduo est associado, em parte,
importncia atribuda aos sub-cdigos lingusticos de ordem pragmtica e que podem ser:
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Diatpicos: sub-cdigos de ordem geogrfica que mostram, por exemplo, como
apesar de Angola, Moambique, Portugal, Brasil etc., possurem o mesmo cdigo
lingustico, cada pas apresenta peculiaridades nacionais prprias.
Diatrtico: sub-cdigo de nvel de formalidade ou classe social. Uma comunidade
lingustica apresenta trs sub-cdigos caracterizados como A ou modelo ideal de
uma comunidade lingustica, caracterizado pela formalidade e sua predominncia na
modalidade escrita; C ou oposto ao modelo de ideal lingustico, e se realiza mais
na fala do que na escrita; B o sub-cdigo menos marcado por situar-se no meio
termo entre os sub-cdigos A e B.
Diacrnico: sub-cdigo temporal que remete ao fato de que os membros de uma
comunidade lingustica reconhecem as variaes intergeracionais, alm de entender
que entre perodos de tempo pode-se identificar as modificaes ocorridas na
lngua. Os arcasmos e os neologismos pertencem a este tipo de sub-cdigo.
Grupais: sub-cdigos que identificam certos grupos sociais como acontece com os
jarges tcnicos e profissionais, e grias de grupos sociais especficos.
Idioletais: sub-cdigos que identificam na estrutura fonolgica, lexical e, s vezes, na
sintaxe da fala, principalmente, os sujeitos de regies demarcadas no s
geograficamente, mas tambm por traos histricos e culturais comuns.
O processo de interpretao compreende duas etapas: a primeira consiste em extrair do
enunciado o que possvel depreender a partir da estrutura formal (morfossinttica), e o
resultado uma representao semntica chamada de significado literal do enunciado;
na segunda etapa a representao semntica se associa a fatores ligados ao contexto da
comunicao e ao conhecimento prvio existente na memria do falante e do ouvinte,
sendo que da resulta o que se chama de significado composicional ou final.
Em muitos casos o significado literal vem tona, sem interferncia de fatores
pragmticos. Em outros casos, o significado literal no mais do que um estgio na
composio do significado final. O componente que produz o significado literal denomina-
se semntica, enquanto o componente que computa o significado final com base no
significado literal, mais fatores extralingusticos, chama-se pragmtica. Esta ltima
concerne s caractersticas da utilizao da linguagem, tais como motivaes
psicolgicas dos falantes, reaes dos interlocutores, tipos socializados da fala, objeto da
fala etc., por oposio aos aspectos sintticos como so as propriedades formais das
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construes lingusticas; e aspectos semnticos constitudos pela relao entre as
unidades lingusticas e o mundo.
Pode-se supor que a semntica e a pragmtica podem ser descritas separadamente e ao
lado da sintaxe, morfologia, fonologia etc., embora a hiptese da separao da semntica
e da pragmtica em componentes distintos no seja universalmente aceita. As formas
lingusticas so interpretadas por um componente semntico que, por sua vez,
composto por regras chamadas regras de interpretao semntica, alm de outros
mecanismos tais como filtros e restries vrias ou, restries seletivas como
propriedades semnticas, segundo Chomsky.
O resultado da aplicao das regras de interpretao s formas lingusticas uma
representao semntica, que corresponde ao significado literal. Essa representao
semntica poder ser ainda alterada por razes pragmticas, antes que se obtenha o
significado composicional ou final. As representaes semnticas apresentam dois
aspectos da descrio semntica de uma lngua que so: a semntica dos itens lexicais
que se ocupa do significado individual dos itens lxicos, isto , da descrio dos traos
semnticos que caracterizam o significado de cada um deles e; a semntica das formas
gramaticais que descreve a contribuio da estrutura morfossinttica interpretao
semntica, sendo que, a semntica das formas gramaticais descrita atravs de regras
semnticas que se aplicam a estruturas morfossintticas e lhes atribuem uma
interpretao.
O componente semntico da gramtica constitui um conjunto de regras que atribuem s
estruturas certas representaes semnticas. Cada item lxico compreende, ao lado da
matriz fonolgica, sinttica, e morfolgica, tambm traos semnticos. A matriz semntica
compreende, por sua vez, traos bastante gerais, isto , que tambm se aplicam a outros
itens como ao, evento, compatibilidade etc. Assim compreendido, o componente
semntico tem a funo de derivar representaes de sentido a partir dos itens lxicos e
das funes sintticas.
A mal-formao lgica da frase pode ser uma representao sinttica e morfologicamente
correta. Mas a representao semntica que desobedece s condies de um termo da
orao (beber papel) marcada como mal-formada. As regras semnticas, como as
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demais, podem funcionar como uma espcie de filtro, bloqueando frases que apresentam
uma m formao.
A traduo ato de transpor uma mensagem cifrada em um cdigo de origem para outro
denominado de cdigo destino. Essa transposio do cdigo de origem exige um
profundo conhecimento dos sub-cdigos da lngua de origem, mas essa passagem de um
sistema cifrado para outro nem sempre possvel que acontea de modo literal, exigindo
do tradutor uma alta dose de interpretao, mesmo que as regras da hermenutica no
sejam suficientes para realizar uma traduo plenamente confivel, e seja exigido um
domnio lgico, semntico e pragmtico da lngua para que essa tarefa possa se
aproximar de um ideal de credibilidade.
A ideia de uma gramtica universal que fixe as formas de significao indispensveis a
qualquer linguagem, e permitam pensar com toda a clareza as lnguas empricas como
realizaes embaralhadas da linguagem essencial supe que esta seja um dos objetos
que a conscincia constitui soberanamente e, as lnguas atuais, casos muito particulares
de uma linguagem possvel cujo segredo a conscincia detm: sistemas de signos ligados
significao delas por relaes unvocas e suscetveis, tanto em sua estrutura como em
seu funcionamento, de uma explicao total.
A linguagem colocada como um objeto diante do pensamento no poderia desempenhar
com relao a ele seno o papel de acompanhante, de substituto, de auxiliar ou meio
secundrio de comunicao. Em contrapartida, em textos mais recentes a linguagem
aparece como uma maneira original de visar certos objetos como o corpo do pensamento
ou mesmo como a operao pela qual pensamentos, que sem ela permaneceriam
fenmenos privados, adquiririam valor intersubjetivo e finalmente existncia ideal.
A fenomenologia da linguagem no pretende objetivar todas as lnguas possveis perante
uma conscincia constituinte universal e intemporal, mas, contrariamente, busca trat-la
como uma volta do sujeito falante ao contato com a lngua que fala. As diversas cincias
que tm a linguagem como objeto de estudo tendem a v-la no passado, considerando a
longa histria de uma lngua, com seus acasos e revolues de sentido que a constituem
naquilo que no presente. O estudo do sentido de uma lngua que tenha como alicerce
um conjunto de incidentes e processos histricos torna incompreensvel que a lngua
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possa significar seja o que for sem equvocos. Considerar a linguagem como fato
consumado e resduo de atos de significao do passado implica em deixar escapar a
clareza prpria da fala e a fecundidade da expresso.
Pensar numa semntica histrica nos leva associao de constructos fragmentrios de
interpretaes possveis resultantes do conjunto das perspectivas fornecidas pela
Antropologia, Histria, Filosofia, Filologia, Lexicologia etc. Uma lngua vista como simples
amontoado de signos incapaz de expressar qualquer coisa, de onde decorre a
necessidade da individuao pelo uso, das necessidades de expresso, pois assim como
X pode significar xis, tambm pode ser indicador de multiplicao, de indeterminao (x
quantidade), numeral romano, marcador de alternativas ou de interdies etc. Tal
exemplo nos conduz a aceitar a afirmao de Merleau-Ponty (1991), de que no h na
lngua seno diferenas de significado e, ainda em referncia a Saussure afirma:
Se finalmente ela (a lngua) quer dizer e diz algo, no porque cada signo veicule uma significao que lhe pertenceria, porque fazem todos juntos aluso a uma significao sempre protelada quando os consideramos um a um, e na direo da qual os ultrapasso sem que eles nunca a contenham (Merleau-Ponty: 1991, p. 94) (grifo meu).
A Semntica enquanto domnio da Lingustica vai ocupando novos espaos na pesquisa
acadmica e se torna cada vez mais clara a diferena da semntica com a Lexicologia,
Filologia, Lgica entre outros domnios do conhecimento; enquanto se firma a convico
de que a fonologia, morfologia, sintaxe tanto quanto a antropologia, histria, filosofia etc.,
so partes de um todo que ajudam a constituir os sentidos da lngua que a semntica
desvenda seguindo as regras da boa formao determinadas pelo carter funcional
atribudo pelas exigncias comunicacionais da sociedade.
Consideraes Finais:
A Semntica uma rea importante da Lingustica que surgiu de uma sntese da
etimologia (estudo da origem das palavras), e da lexicologia (estudo do significado das
palavras). O sentido dos termos e sentenas de uma lngua no se restringe ao
conhecimento da origem das palavras individuais do idioma, como tampouco se reduz ao
domnio de um nmero expressivo do lxico usado em certo espao e tempo social, pois
termos deixam de existir, outros mudam de sentido ou adquirem novas conotaes, e
outras palavras so incorporadas ao vocabulrio utilizado por grupos de falantes.
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A Semntica emerge como uma alternativa ao problema da correo das regras lgico-
sintticas que apresentam normas de boa composio formal, mas que no satisfazem
aos princpios de significao real. A anlise profunda (interna) dos termos e das
proposies de um discurso deve ser acrescida do valor externo atribudo s sentenas
que cumprem as normas de formao sinttica. Isto , os filtros que corrigem a mal-
formao sinttica tm de servir de reforo para os filtros que previnem a mal-formao
semntica para, desse modo, alcanar-se uma significao final que no sobreponha
forma e contedo real.
Pode-se afirmar que o sentido final do discurso, apresentado pela Semntica, somente se
concretiza depois de identificar o valor externo decorrente da anlise sinttica, alm do
significado lexical, aliado analise profunda obtida das relaes textuais, contextuais e
extra-textuais como so os fatores culturais, econmicos, histricos, polticos,
geogrficos, de gnero e demais circunstncias crono-tpicas que envolvem o fenmeno
da linguagem. Estes e outros elementos ajudaro no processo de interpretao, e que
so fundamentais para a determinao do sentido do discurso, haja vista que a
Semntica no define significaes com valores fixos como o faz a lexicografia, mas
desvenda sentidos possveis dos termos dentro de determinados contextos.
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