Post on 30-Nov-2018
RECICLAGEM VEGETAL E A SUA RELAÇÃO COM ARTE E EDUCAÇÃO
Evanisa Fátima Reginato Quevedo Melo – evanisa9@gmail.com
Branca Maria Aimi Severo – branca@upf.br
Mariane Mazzutti Adorian – mariane.adorian@gmail.com
RESUMOCom a globalização, torna-se evidente os problemas ambientais, uma vez que os mesmos
não são mais entendidos como situações localizadas. Atualmente, constata-se uma
crescente preocupação com o meio ambiente e o que fazer com a gama de resíduos, estes
são fonte de questionamentos e buscam-se soluções nos diversos níveis do âmbito
produtivo da sociedade. A grande demanda do processo produtivo causa impactos a
natureza, com isso, criou-se a prática do Ecodesign, ato de projetar produtos com a
preocupação focada no ambiente e em todo seu ciclo de vida. Buscando diminuir o
desperdício e a poluição ambiental, de forma a resolver o conflito entre o desenvolvimento
econômico e as questões referentes à preservação da natureza visando a sustentabilidade.
Por meio de oficinas de educação ambiental, envolvendo professores e alunos da
Universidade de Passo Fundo e da Fundação Beneficente Lucas Araújo, localizada na
cidade de Passo Fundo/RS, desenvolveram-se programas de reciclagem e educação
ambiental, através de oficinas artesanais, elaborando Ecodesing com ênfase nos resíduos
vegetais. As oficinas desempenharam papel socioambiental, estimulando a criatividade e
solidificando ações sustentáveis integrando a comunidade escolar e permitindo a
conscientização dos valores humanitários essenciais na vida social, para a cidadania e
universalização dos conceitos socioambientais.
Palavras chave: Ecodesing, Residuos , Reciclagem, Educação Ambiental.
VEGETAL RECYCLING AND ITS RELATION WITH THE ART AND EDUCATION
ABSTRATCWith the globalization, it is evident the environmental problems, since they are no longer
perceived as located situations. Today, there has been growing the concern about
environment and what should be done with the full range of waste, those are source for
questions and searches for solutions at various productive levels of society. The great
demand of the production process cause impacts to nature, with that, was created the
practice of Ecodesign, act of designing products with the concern focused on the
environment and in all their life cycle. Seeking to reduce wastage and environmental
pollution, in order to resolve the conflict between economic development and issues relating
the preservation of nature with a view to sustainability.Through environmental education
workshops involving teachers and students of the University of Passo Fundo and the
Beneficent Foundation Lucas Araujo, located in the city of Passo Fundo / RS, have
developed recycling and environmental education programs through craft workshops,
elaborating Ecodesing with emphasis on plant residues. The workshops plays an social and
environmental role, stimulating creativity and solidifying sustainable actions integrating the
school community and allowing awareness of the essential humanitarian values in social life,
for citizenship and universalization of social and environmental concepts.
Keywords: Ecodesing, Waste , Recycling, Environmental Education.
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais constata-se uma crescente preocupação com o meio ambiente e
com o que deve ser feito com toda a gama de resíduos líquidos e sólidos. Até mesmo os
resíduos orgânicos podem se tornar fonte de questionamentos e de busca de soluções nos
diversos níveis da sociedade.
No último século os problemas ambientais eram entendidos como situações
localizadas. No entanto, com a globalização, torna-se mais evidente que os problemas são
muito mais complexos e relacionados a todas as fases do ciclo de vida dos produtos
(LENNART & KEVIN, 2003; MANZINI & VEZZOLI, 2005).
A Educação Ambiental consta das recomendações de diversas conferências
internacionais como na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,
realizada em junho de 1972, conhecida como Conferência de Estocolmo que levou a
UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, a criarem, no
ano de 1975, o Programa Internacional de Educação Ambiental – 15 PIEA (IBAMA, 1996). A
realização, em 1977, do Primeiro Congresso Mundial de Educação Ambiental realizado em
Tbilisi, na Geórgia (ex–União Soviética), alertou o mundo para a questão ambiental
(CASCINO, 2000).
Itens marcantes da sociedade atual e importantes para o planejamento do futuro
podem ser abordados, segundo Bright (2003), em cinco aspectos, garantindo que, no
mundo: um número cada vez maior de pessoas não dispõe de meios para manter um
padrão decente de vida; encontra-se sob profundas mudanças geoquímicas e certas formas
de poluição estão alterando os ciclos químicos globais que regulam processos-chave do
ecossistema; está cada vez mais oprimido pelos riscos de longo prazo associados a
produtos químicos tóxicos; está sujeito a um grau sem precedentes de mistura biótica, está
num estado constante de declínio ecológico.
Além disso, a Rio 92 estabeleceu a Agenda 21, que definiu metas para o
desenvolvimento sustentável aos países signatários (MARTINS, 2006). A questão dos
resíduos sólidos passa a ser uma questão importante na discussão sobre a preservação do
meio ambiente, envolvendo problemas como a coleta, o transporte, o tratamento e a
disposição dos resíduos, buscando reduzir, reutilizar e reciclar estes resíduos (MARTINS,
2006).
O resíduo orgânico é todo resíduo de origem vegetal ou animal, ou seja, todo resíduo
originário de um ser vivo. Este tipo de resíduo é produzido nas residências, escolas,
empresas e pela natureza. Atualmente existe um descarte mundial de 30 bilhões de
toneladas de resíduos por ano e esta situação já assumiu os contornos de uma calamidade
civilizatória (WALDMAN, 2012).
O Ecodesign diz respeito ao ato de projetar produtos, com a preocupação focada no
ambiente e em todo seu ciclo de vida, evitando ou diminuindo agressões ao ecossistema, buscando, mediante a correta utilização e seleção dos materiais ou processos de
fabricação, facilitar, de alguma maneira, o reuso e a reciclagem dos materiais e produtos.
Desse modo, o emprego do Ecodesign busca diminuir o desperdício e a poluição ambiental,
tentando resolver o conflito entre o desenvolvimento econômico e as questões referentes à
preservação da natureza (ESCOREL, 1999).
O artesanato representa uma parte expressiva da economia, absorvendo mão-de-
obra e agregado valor social e cultural proveniente de técnicas passadas de geração em
geração, expressando o saber fazer popular (JOHANN, 2010). O conhecimento e o
aprendizado de técnicas e habilidades devem ser desenvolvidos desde cedo, para que o
indivíduo logo construa suas próprias formas de sustentabilidade econômica e se sinta
inserido na sociedade.
Cabe destacar a diferenciação do artesanato de referência cultural para o artesanato
tradicional e trabalhos manuais, pois este tipo de artesanato traz em si história e cultura de
uma região. Além disso, esse tipo de artesanato costuma ser apreciado por turistas e
consumidores em geral (JOHANN, 2010).
A prática do fazer, do construir o material com as próprias mãos, ao invés do uso
exclusivo do quadro ou até dos meios eletrônicos, transforma a sala de aula praticamente
numa espécie de jogo. Isto ajuda os jovens a construir novas descobertas, desenvolve e
enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor à
condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem (MORATORI, 2003).
O projeto buscou oportunizar o desenvolvimento de técnicas e habilidades, criar nova
visão sobre o que parece ser resíduo vegetal orgânico e possibilitar a utilização de materiais
alternativos, dando visual novo e agregando valor artístico, cultural, social e,
consequentemente, econômico.
Estes objetivos puderam ser alcançados com a confecção de peças como móbiles,
molduras e quadros, através de trabalho em grupo e socialização de recursos, promovendo
também uma percepção socioambiental dos alunos da Instituição Fundação Beneficente
Lucas Araújo, na cidade de Passo Fundo/RS.
METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido na Fundação Beneficente Lucas Araújo, voltado ao Lar
da Menina, na cidade de Passo Fundo/RS, e envolveu cerca de sessenta meninas que se
dedicaram para desenvolver as diversas atividades e propostas educativas, integrando
docentes e discentes da Universidade de Passo Fundo com a comunidade escolar.
Para que os resíduos vegetais pudessem ser utilizados, foram necessárias várias
etapas. A primeira foi à escolha e o conhecimento das partes da planta e até mesmo da
espécie vegetal mais interessante a fazer parte da peça a ser confeccionada. Neste caso,
houve a necessidade de saber o local adequado para a coleta do material.
O material escolhido envolveu raízes, ramos, folhas, flores, frutos e sementes de
diferentes espécies vegetais, selecionadas e apanhadas no Campus I da Universidade de
Passo Fundo – UPF.
Para a execução, foi preciso promover a limpeza ou a desinfestação das peças,
quando necessário. Após, os diferentes órgãos vegetais empregados passaram por
processos de secagem, adequados a cada necessidade específica (PEIXOTO; MAIA, 2013).
Algumas peças foram secadas entre papel absorvente e prensadas, de modo a
apresentarem-se perfeitamente planos ao final do processo. Este foi o caso aplicado a
folhas, flores e frutos. Outros, agrupados em feixes foram pendurados em cordas para
secagem natural e para não perderem suas formas e texturas, como para ramos com folhas,
com flores ou com frutos.
Com as peças vegetais preparadas, os estudantes foram levados à sala de trabalhos
manuais e puderam seguir modelos sugeridos para a confecção de móbiles, quadros e
molduras, sempre monitorados pelos acadêmicos e professores do projeto.
Para a elaboração de móbiles, foram empregados fios de cordão, cola quente e
amarração de peças naturais diversas, compreendendo órgãos com tamanhos, cores e
texturas diferentes, para valorizar formas e variedades.
A confecção de molduras teve por base pedaços de fibra de média densidade (MDF)
em cujo entorno foram colados arranjos com folhas, frutos e sementes secos (Figura 1).
Figura 1 – Professores e acadêmicos no fim da oficina das molduras para fotografia.
Para a confecção de quadros, as bases foram papéis reciclados e colagem de
rolinhos de folhas de revistas no entorno, para delimitação, previamente preparados e
consequente colagem com emprego de cola plástica (cola quente ou cola branca) para
fixação de arranjos florais (Figura 2).
Figura 2 – Alunas do Lar da Menina executando tarefa de confecções de quadros com
folhas, frutos e flores secas.
RESULTADOS
A tarefa possibilitou entrosamento social, com o compartilhamento e a troca de peças
vegetais secas, a colaboração e sugestão de melhorias na composição das peças. As
crianças relatavam a sua satisfação de oportunidade de criação, demonstrando interesse e
alegria, contudo, organizou-se uma exposição do trabalho final na Instituição, no dia 21 de
setembro, Dia da Árvore (Figura 1 a 3). O evento reuniu professores, funcionários,
acadêmicos, alunos e pais, no intuito de valorizar a dedicação das crianças, promover a
socialização e o apreço pelo trabalho do outro. O momento foi registrado pela UPF TV, a fim
de divulgar o Projeto de Extensão Paisagismo Produtivo e Educação Ambiental para a
sociedade, motivando-a a adotar uma melhor conduta e consciência de preservação
ambiental. O vídeo está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=3tBefC-
FGF8&feature=share.
Figura 1 – professores da UPF terminado de organizar a exposição do evento do Dia da
Árvore.
Figura 2 – Alunos e professores da UPF e do Lar da Menina prestigiando o evento.
Figura 3 – Meninas da Instituição tirando fotos das molduras confeccionadas com papel
reciclado e decorada com folhas e frutos secos.
Como o interesse do grupo foi despertado com o trabalho sugerido, houve produção
de 20 móbiles (Figura 4), 5 molduras e 18 quadros com motivos florais (Figura 5).
Figura 4 – Alguns móbiles expostos.
Figura 5 – Alguns dos quadros decorativos com motivos florais.
Embora a questão do ensino e da aprendizagem da arte, continue se desenvolvendo
como cópia e repetição de modelos propostos pelo professor, isto se dá com o objetivo de
desenvolver a coordenação motora e a percepção visual do aluno, que se exercita ao tentar
copiar fielmente, o mais completo possível, do modelo original. Segundo Luzuriaga (1980)
por educação nova entende-se a corrente que trata de mudar o rumo da educação
tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo, sendo também
denominado esse movimento de “escola ativa”.
Às alunas foram explicadas as razões do trabalho com aproveitamento de rejeitos
vegetais, incluindo dados sobre os procedimentos ambientais considerando a redução, o
reaproveitamento e a reciclagem.
Segundo Martins (2006) é importante que ao se falar em reutilização, se tenha claro
qual dos processos está presente, para que se possa avaliar corretamente qual a prática a
ser adotada em cada caso, tendo em vista o melhor rendimento possível, buscando valorizar
a redução e o reuso como práticas factíveis no âmbito doméstico e escolar e transferindo o
termo reciclagem mais para o universo industrial.
Ao desenvolver os produtos foram resgatados conhecimentos da área de biologia e
botânica, aproveitando o momento lúdico para ensinar conceitos teóricos na pratica, facilitando
a aprendizagem de conteúdos didáticos de forma informal.
Com ações simples interdisciplinares e integradoras foi possível desenvolver
importante papel no trabalho pedagógico, enfatizando a importância da educação ambiental no
desenvolvimento sustentável possibilitando o aproveitamento de diversos materiais.
CONCLUSÃO
A oportunidade de mudança de visão sobre as partes vegetais, agregando valores e
possibilitando outros usos mexeu com a sensibilidade, acrescentou habilidades e abriu
caminhos para futuras aplicações e oportunidades. As atividades permitiram a integração da
comunidade escolar em diversas faixas etárias desenvolvendo valores humanitários
essenciais na vida social, para a cidadania e universalização dos conceitos socioambientais.
Atos inovadores mostram a relevância da educação ambiental, podendo ser exercida
com ações ambientais na escola, na família e na sociedade a partir de uma nova percepção
da realidade na relação ser humano e meio ambiente.
Buscando alternativas próprias e adequadas com criatividade, inovação e efetividade
para obter os melhores resultados nas atividades propostas inserindo educação ambiental e
o desenvolvimento sustentavel.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASCINO, Fabio. Educação ambiental: princípios, história e formação de professores. 2.ed. São Paulo: SENAC, 2000.
ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multiplicador do design. 2.ed. São Paulo: SENAC,1999.IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis. Diretrizes para operacionalização do Programa Nacional de Educação, Série Meio Ambiente, n.9, 27 pag. Brasília, 1996.
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LENNART, Y. Ljungberg; KEVIN, L. Edwards. Design, materials selection and marketing of successful products. Materials & Design, Surrey, v. 24, n. 7, p. 519-529, 2003.LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 12. ed. São Paulo: Nacional, 1980.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. 1. ed. São Paulo, SP: Ed. da USP, 2005.
MARTINS, Vanda Buzgaib. Reutilizar: nova proposta ou retorno (in)viável a práticas antigas? Dissertação (Educação Ambiental). Universidade Federal Fluminense, Niterói: 2006. Disponível em: <http://www.uff.br/cienciaambiental/dissertacoes/VBMartins.pdf> Acesso em: março, 2016.
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PEIXOTO, Ariana Luna; MAIA, Leonor Costa. Manual de procedimentos para herbários. Recife, Editora Universidade UFPE, 2013. Disponível em: <inct.florabrasil.net/wp-content/uploads/2013/11/Manual_Herbario.pdf> Acessado em: agosto, 2015.
WALDMAN, Maurício. A civilização do resíduo. Entrevista por e-mail à IHU On-Lin. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/516032-a-civilizacao-do-resíduo > Acessado em: março, 2016.