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© Renato Gomez, 2013

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode serutilizada, produzida, transmitida ou arquivada, sob quaisquermeios existentes, sem autorização por escrito do editor.

Revisão Projeto Gráfico Edição Ilustrações

VINÍCIUS LEANDRO P. DE SOUSA

RENAN ALFAIA

RENATO GOMEZ

BETI TIMM

1ª edição, 2013

GOMEZ, Renato

G633

ALITERAÇÕES. Porto Velho: O Autor, 2013.80p.

1. Literatura brasileira. 2. Poesia brasileira. I - Título.

ISBN 978-85-916544-0-6

CDD: B869.1CDU: 82(81)-1

Ficha elaborada pela Bibliotecária Sandra de Fátima Virginio da Silva CRB11/RO-298

Renato Gomezrenato.gomez@globomail.com

Aos meus filhos que são minhas obras primas. À minha esposa que sempre me apoiou incondicionalmente.

Aos meus pais pelo empenho e incentivo aos meus estudos.Aos amigos que colaboraram de alguma forma para a realização deste sonho.

“E qual de nós, poetas, não adulterou o seu vinho?Mais de uma mistura venenosa ocorreu nos nossos celeiros,

mais de uma coisa indescritível foi lá preparada.”

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra.Editora Escala. São Paulo, 2013. Pg. 184

06 apresentação

08 parte primeira: ali, ter ações!

26 parte segunda: alô! sim(n), ações

45 parte terceira: ali, ter amores!

59 parte quarta: nato reza

67 parte quinta: poemas, sou tu(s)

76 análise do livro

apresentaçãoNé?

Apresentar um livro de poesia é algo suspeito, pois, como é de praxe, sempre convidamos os amigos para nos apresentarem e estabelecemos o maravilhoso e confortável ciclo dos irmãos em versos. Não é bom e nem ruim: é só suspeito. Pois bem. Mesmo debaixo de tal suspeita apresento o inapresentável. Apresento com a voz do poeta que nos diz:

A poesia em que habito

O poetaque cá habita

caberiaem qualquer

beiramas escolheu

estacaveira!

O livro Aliterações, do Renato Gomez, foi pensado na forma de livro eletrônico, E-Book, o que, de cara, soa como um diferencial nas produções locais. O título faz jus ao conteúdo, pois o autor vai à caça de sonoridades próximas, utilizando para tal a repetição de consoantes e vogais em diferentes palavras. É a famosa rima ao contrário: palavras iniciadas por sílabas idênticas, do ponto de vista sonoro. As aliterações internas também acontecem. A busca é intermitente e, em meio às aliterações e assonâncias, algo de inaudito acontece. Os poemas percebem e reproduzem o desejo da voz do sujeito lírico:

Busca

Se querse achaSearch

O livro está dividido em cinco partes que apalpam diferentes horizontes de sentido: “Ali, ter ações”, “Alô! Sim(n), ações”, “Ali, ter amores”, “Nato reza” e “Poemas, sou tu(s)”. Porém, a técnica escolhida (aliteração) permanece como um bordão que insiste em soar o sonar dos versos. O pop e o minimalismo se entretecem em vagas de vocábulos cotidianos. A pluralidade, a transitividade, o anacronismo, a poética do olhar e a mediania são traços que distraem mas atraem: é a poesia do presente buscando uma identidade que sabe estar ligada à diversidade. A poesia do presente está no futuro:

O amanhã serO tecer

o não tecero anoitecer

o amanhã tecer...

6

Todo livro é um ensaio para o próximo. O livro de Renato Gomez, Aliterações, não foge a regra. Um poeta espanhol, António Machado, afirmou que “um caminho se faz ao caminhar”. Intuitivamente Renato entendeu o mote. Apresentamos então seu primeiro passo, no momento em que nos dá “Bom dia” e segue:

Bom diae o bonde iaia pra onde?

Pra quelugar

você querque vá

o bonde?

Ruben Vaz Cavalcante [Binho]Rondoniense da gema, nascido em Porto Velho, às margens do Rio Madeira, num dia ensolarado do século passado. Professor universitário e artífice arteiro (poeta,

cantador e violeiro).

7

ali, ter ações[parte primeira]

ALITERAÇÕES

9

AliteraçõesAo ler ter açõesao escrever, reaçõesver as liçõesfazer as alteraçõesviver as intençõesAli, ter ações!

[parte primeira]

TER O teréOut!TudoÉ nãoTerNada!Never!ForeverÉ ter na mente!

10

[parte primeira]

SER O seréUser:Use!Code:Cadê?Login:Lógico.Logoff:Próximo...

11

[parte primeira]

O AMANHÃ SER O tecero não tecero anoitecero amanhã tecer...

12

[parte primeira]

TECER SerTer sem ternão serTer Sertecero quequiser...

13

[parte primeira]

O ARABESCO NO TEARDA MOÇA

Arteno tearentrelaçarartelaçartecerarte sertecer no ar...A moça que teceum arabescoaéreoem seu tapetede realidadeimaginada...

14

[parte primeira]

DILEMA Poema ou Poesia?Rimar com a emaou com ironia?

15

[parte primeira]

ADMIRÁVEL POEMANOVO

métricamínimarima“arritma”formasáfonassílabasexplícitasversosdispersosestrofescatástrofesfiguras de linguagemde pensamentoe num momentoeu líricosonetoEnredoé cedoexcedoexpressoas margens

há margensàs margenslinguagenssó imagenssondagens

só ondas agemnum instante

na estanteum títuloum textoum testeuma tesedivididasínteses

e antítesesuma divida

uma vidauma poesiaum poemaadmirável

e novo:liberdade!

16

[parte primeira]

A POESIA EM QUEHABITO

O poeta que cá habitacaberiaem qualquerbeiramas escolheuesta caveira!

17

[parte primeira]

DROGAS Plantapedra,pó...PelomenosminhaPoesianão mata...

18

[parte primeira]

PÓ ÉS IA Do pó és…Ao pó… ia;Entreumeoutro:Poesia!!!

19

[parte primeira]

BILINGUITERAÇÕES Beautifulbutterflybateu asasebeijoutheblue sky

20

[parte primeira]

SÓ UM SONETO Não é que não goste de formalidadesAté acho de grande utilidadeMeu problema é não conseguir mesmoe olha que tentar eu até tento

então decidi aqui deixar só um sonetoum só, não por desleixo ou má vontade,mas por tentativa ao meu próprio apelode deixar um soneto para a posteridade

e não a toa faço uso da metalinguagemum soneto que fale de soneto é somenteum soneto só, neste livro de variedades

pode ser que nas sílabas eu erre a contagemmas o que não me faltou foi a coragemde ao classicismo formal prestar homenagem

21

[parte primeira]

EU, LÍRICO Nos meusversoscurtosocultoo cultoao quecurtoPoesia em cursoPalavrasno avulsoLeitorentre nas linhasnasentrelinhasleiaseentre leias...

22

[parte primeira]

PALAVRAS Eu creioEscrevoEscavoEscravo(d)as palavrase elas cravamno papel suaprofundidadeAté queo não ditocom sua entrelinhasfeche linhasretilíneasFormandoo quadradodo papelonde formomeu quadrode palavrasescrav[(e)i“s”-a-dor]as...

23

[parte primeira]

ABRIGO OUOBRIGAÇÃO?

Obrigada!Minha poesiaabrigadana madrugadase agradae agradeceintrigada:casonasçaaos diasestarádesobrigadaoudesabrigada?

24

[parte primeira]

MASTURBAÇÃOARTÍSTICA

RISCA, ROSNA E RASGARABISCA, RETRUCA E ESTRAGAESCREVE, REESCREVE E APAGAARRISCA, PETISCA E TRAGATRANSCREVE, TRANSCENDE E AFAGASE AFLIGE, SE AFOGA E NÃO LARGANÃO LÊ, ESCREVE E DESCARGA.

25

[parte primeira]

alô! sim(n), ações[parte segunda]

SILENCIANDO Silêncio!SonolentoSom lentoSonetoSurdoSomzumMudo...

[parte segunda]

27

UMA LEITURA DERODIN

O pensadorpensa na dordo pensaré um peso no lomboque lhe encurva os ombrosele apoiao dorsosobre o pulsar,que repousao queixo,quebrado ao joelhoenquanto pensa na dordo pensaro pensador

[parte segunda]

28

PROSTITUTA A prostitutana ruapostulaa batuta,o posto,o títulodepró astuta,protelaa tutelado ponto,mas noportode seuespíritoaspiraum outroposto:“do lar”

[parte segunda]

29

ADEUS O meninosentiana angústiada fomea asiade comero angu da tia,no pavorde estar sóo sabordo pavê da avó,no cheiro dos pãesda manhãsaudades da mãee a incertezado amanhã,nas variaçõesde sensaçõesindagoua Deuso porquêde tantoadeus...

[parte segunda]

30

MUDE O mundomudonão mudao mundoimundoo mundomudadoé à modada falada mudança.Quem tem medoda fala,moldaos falantese cala a falade quemmelhorariao mundo.Em algummomentoo mundomudohá degritar:MUDE!!!

[parte segunda]

31

PLANO CARTESIANO x e y = como somossexo = cromossomoseixos = que se cruzamsexy = querer-sese xy = parábolase x²y = triângulo retânguloAh! Viva Hipotenusa e seus catetos!!!olhando de outro ângulose xy² = triângulo anti-hipocrisóscelesRespeite o diferentese x²= linhas congruentes e se y²= intersecçãoLogo: 2x²3y³= vivendo livremente!!!

[parte segunda]

32

BUSCA Se querse acharSearch!

[parte segunda]

33

ACORDE Acordeso sol toca em você.Acordadostemosdódos que dó(rmem).Acordadoem siem mi(m),tanto fa(z)...Acordeme vãolá:fá(çam)a ré(volução)!!!Acordemmontemos acordesdo momentoe por músicamudemos acordesdormentes!!!

[parte segunda]

34

ANAGRAMA Ana vaiAmar Ganajáama Angrae sentiuamor (por) Romachorou poramar Naga(saki)e a políticano Brasilestáamargan(do)-a...

[parte segunda]

35

TEMPO DE VIDA Calendário,anuário,um horáriopassamvários:a vida é do berçárioao obituário.

[parte segunda]

36

O HOMEM É O LOBODO HOMEM

A carne putrefataa puta carnificadasomos canibaiscomo animaispeçonhentospessoas nojentasvivendo das mazelasminando os eloscom os Deusesnos alimentandouns dos outros...

[parte segunda]

37

JULGAMENTO DOSHIPÓCRITAS

AoserprocuradopeloPaido céuO próprio pensavaprosperar,pensavapoderterprivilégios,esquecendoas próprias

atitudespraguejadas

para o mundoe praticadasno obscuro,

porémao apalpara realidade

veioo impropério

a quedado império

:era

impuro!

[parte segunda]

38

UM SALTO Náuseas nas asasdo vooalçadopelo Asde espadasde doisgumescortandoo miranteante a mirado embrulhardo estomago...a queda livrenão livrou-lhe,embora livre,da sensaçãoe ao pôr-se ao chãovomitoutoda a vida...

[parte segunda]

39

PENSARES E PESARES Semeou-lheo púbiscom o sêmenda puberdadeceivou-lhea pélvispor sobreo púlpitoda selvasemeadapelo nobreservode pandoraquandoserrou-lhea caixacerceouo segredosagrado

e assoberbou-sesobre

o nobrepântano

que outrorafora

planíciesplanaltos

e cenáriospalacianos

para os palhaçosplantados

sobo solodo céu

solidificandoseu povosolitário

pra sempre...

[parte segunda]

40

NERVOS Nervoservasquebrotamnos espaçose espasmosentreo coraçãoe o cérebrorealizandoa fotossínteseno nóda faringecongestionandonossos brônquioscom purogás carbônico

[parte segunda]

41

NU E CRU Preto no brancoo prato no bancoo menino aos prantosa barriga roncandoo povo ignorando...a vida como ela é...o menino vivendona rua crescendoa roubar aprendendoacaba morrendoe o povo fingindoque nem está vendo...

[parte segunda]

42

VIVA LikeLiveLife

VerAo vivoé viver...

[parte segunda]

43

MENTE mitosvindosde mentesque mentemmitificama únicaverdadeda humanidade:todosmentem!

[parte segunda]

44

ali, ter amores[parte terceira]

PASSIONAL Toda tardelhe viaà janelasentinelaesperandoum alguémpensavaser por mim.Quandonuma tardenum atrasoao passarme perpassei,era um Arlequimque tomavaminha Colombinacomo suaconcubinaPierrotque souchoreie morricom minhador...

[parte terceira]

46

O CALAR DOPASSARINHO

Lá estava eleacanhadonum cantoporque elacansadanão quisescutarque aquelacançãocantadapor eleera umacantatapra elaque elanão quisescutar,cansadaque estava.Agora láele estáacabrunhadoem seucanto:calou-se...

[parte terceira]

47

CHORANDO Um choroé um corode lágrimasorganizadaspara sairaos prantospor todosos cantosdo olhar...

[parte terceira]

48

SUPLÍCIO Olhos nos olhosBoca na BocaFrases batidasFrases de amorFases do amorFazes amor?Negas amorMata o amorMata-meAma-meSuplicoSúplicas...Súplicas...Entrega-teSuplicas!!!Ama-meMata-meFazes amorFases do amorFrases de amorBoca na bocaOlhos nos olhos

[parte terceira]

49

CONFUSÃO AmarAmar éVersinhos bonitos: piegasA maréO marO mar éVersinhos definidos: ondasOndar é???Odiar éAdiarSentimentos confusos: amódio, odior?

[parte terceira]

50

VOCÊ em suas vestes esquecidascheiro de vinhos e feridassuvenir de suas idas e vindas,de minha e de sua vidavai e volta sem fimevidenciando suas facesa cada ida e vindavárias vertentesde você...

[parte terceira]

51

AMOR TERMINAL Amoramo-te!a morteatormentaminhamente.Amortece-me o medo,mirarseumomentosublimede amarao medoda morte.

[parte terceira]

52

A PELE A peleapeleapelarà nudezà timidezao temero gemerao gemeralgeme!Altereao tero serserásóum sernum terum tendoo outrona alma gêmeaalgemano gemer no temerna pele

[parte terceira]

53

CONJUGAÇÃO Julgar a açãoCônjugeConjugueeu amotu amasele amaela ama elenós separamosvós amaiseles se casam

[parte terceira]

54

ABISMO INFINITO Abismo infinitoO ápice do fimcaindo pra cimame afundeino cume de mime no eco dos gritosde minh'almasubi para baixode meus anseiosAo olhar as nuvensquis me jogarSubi em queda livreamor, abismo infinito.

[parte terceira]

55

CADÊ? Olho à voltaolharesde voltaRespiro fundoreviroo mundoPerdido de novopor medodo novoO peito vazioo calafrioo arrepioTe buscono bruscodo escuroonde está você?Está aquiem mimando sem rumo

sem primonão assumo

te buscona claridade

me ofuscovocê se foise foi você

quem quis?Não sei

pra onde foi?Sei não

sei que foipra ondevocê quis

foi pra ondenão quis

que eu fosseAfinal,

cadêvocê?

[parte terceira]

56

NUANCE Num lanceum instanteno momentonem depoisnem antesnuanceno anseiodo nudo seio.

[parte terceira]

57

OB-CENA o arranho nas costaso aperto nas coxaso dorso no coloo sórdido loucoa língua na bocaa cama molhadao odor do suorardor sem pudorsem nexosexocenaob-cena

[parte terceira]

58

nato reza[parte quarta]

O RAIO Um instanteaté que seentrelaçasseno céumarcandono espaçoe no temposua formaenraizadaraízes quese fixamao soloe clareiamos olhosclaridadeque seadentra no corpochegandoao peitoeletrificandoo medoalterandoos sentidosnos alertandodo incertoda naturezapresente emum instante

[parte quarta]

60

BOM DIA Bom diae o bonde iaia pra onde?Pra quelugarvocê querque váo bonde?

[parte quarta]

61

NOITE Sóqueroquea noitecaiae cale onó em tervocêlongecomum sonhode vocêperto...Note, ónoite,e anote:Eu só, não tenhonorte!

[parte quarta]

62

AO ANOITECER Aquele sorrisoMinguado,Minguante,BrilhouNa escuridãoE os olhosBrilhados,Brilhantes,OlhavamMinhaSolidão

[parte quarta]

63

MAR OndasOnda ondasOn das ondasOndas vindoOndas indoIn do marMar maré Amar éO marOn mar

AmorA morte

O marEm offO mar

Em ordemO mar mode onO mar modernoA maré mode onAmar é mode offAmar é demodêAmar ao outro

A maré é outAmar go go

AmargoÁgua

Do mar?SalgadaAmar éDoce?

A maréÉ difícil...

[parte quarta]

64

O QUE É O QUE É SecasImaturasCaídasPenduradasRespirandoGás CarbônicoVerdesClarasEscurasFalsas FrutasFolhas ou Pessoas?

[parte quarta]

65

O BESOURO O tesourodo besouroera cortar a folha;O demôniodo besouroera ser usadocomo saca rolhas;O devaneiodo besouroera ser tesoura;Pobredo besouronunca teveo ouroe de devaneiostolosrendeu-seao demônio!

[parte quarta]

66

PEGADAS NA AREIA pegadasapagadaspel'águaseriam pegadasque a água apagou?ou pegadasespalhadaspel'água?confusão!!!a água espalhou as pegadaspor ela apagadasou foi eu quem as deixou?

[parte quarta]

67

SE FOI... o pôr do solo pardo sóo par do solse foi...

a lua cheiaa lu alheiaa lu já cheiase foi...

o eclipseo elipseo êxtasese foi...

[parte quarta]

68

poemas sou tu(s)[parte quinta]

REDENÇÃO serviu o cháchamou o servosentou-se ao chãoxingou aos céuscalou o chorodeitou-se ao colodo servo tolotomou o chámorreu ao sono...

[parte quinta]

70

LIBERDADE Auto cravouo punhalno peitoescrafunchoupara tirá-lado leitoque seescondiano órgãoque batiaarrancou-asegurouo pulsanteautografouseu nomecom o objetocortantePronto!Era donode seuprópriorompante!

[parte quinta]

71

DESGOSTO quando eleacordana cordanão sabequemfez a voltano laçoenvoltoem seupescoçomas sabeque seráseu derradeirodilemae ao olharo vultoque seaproximapercebequem lhe fezvítimae morrede desgostoantes quea cordatenhao gostode lhedegolar

[parte quinta]

72

PORTAL Eu vazioEx-vazioE no espelhoMeu extremoEu na cadeira Olho a caveiraCadê a eira ?Cadê a beira?A navalhaNa cabeleiraE na falhaA estribeiraAssimetriaFusão da imagemHá simetriaFalta coragemA navalhaAgora barbeiaE na falha Há uma veia...

[parte quinta]

73

E.Q.M. insanoinssossosem sonosem ter o comasentei na camaolhei pra mimoutro de mimespasmoseu pasmoeu eu caminhoeu ele dormindoeu eu desesperadoeu ele despertadoeu eu sumindoeu ele sorrindoeu eu morrendoeu ele vivendo

[parte quinta]

74

SÓ (N)UM COPO DECERVEJA

sentimentosqueriasentir menos

amorcausaa dor

amizadepra mimarde

famíliadistantefaltam milhas

solidãocervejasal e limão

[parte quinta]

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Aliterações

Quando conheci Renato, ninguém era poeta neste mundo. Éramos todos jovens sonhadores, estudantes de uma época onde ainda se acreditava em um mundo melhor e que este, mais harmonioso e pacífico, estava bem próximo. A poesia se tornou em nós uma manifestação deste mundo que até os dias de hoje não chegou, mas faz parte de nossas lutas, de nossas crenças, de nosso amor à arte.

Desde então e mesmo assim, escolhemos caminhos diferentes para esta aproximação com a arte e a poesia. A poesia presente neste livro pode-se dizer livre porque se pretende, assim como a prosa de Balzac, estar flutuando acima da sociedade, preocupada em sua própria intencionalidade, inerente ao próprio discurso. Mas, se Engels afirmou que é impossível estudar a sociedade francesa sem ler Balzac e outros grandes pensadores, dentre eles Claude Lévi-Strauss passaram pela leitura deste grande autor francês, poderemos dizer que Renato Gomez também representa um espírito artístico de nossa época, uma grande vertente da arte pós-moderna.

Porque nosso mundo é líquido, pode-se dizer Zygmund. Nesta liquidez, aparentemente não há mais a hegemonia e divisória dos grandes muros, tudo se movimenta por todas as coisas, cercando todos os discursos. É um elemento presente em nossa história e cultura, que passa pelas artes, para as ciências. É a mistura de todas as coisas em uma só, que sem certo cuidado, pode estar apenas no caos não diretivo. Este é o grande dilema dos escritores na modernidade: o que há para enfrentar além do caos.

Além deste pós-modernidade, desta fluidez presente nos versos aqui encontrados, temos também a forte presença de uma formação acadêmica, com eixos direcionados à teoria da literatura, teoria da língua, presença da biografia e trajetória acadêmica de nosso autor. Fator este, pela sociologia da literatura que sigo, importante para a definição do autor e da obra. Esta formação se mistura com uma veia política, existencialista, ideológica de Renato, fazendo com que sua obra seja, sua.

Nestas poesias lidas à seguir, há o misto da modernidade: há Baudelaire, há hipocrisia de certas profissões, multidões, desabafos de angústia, desejos, misturas de línguas. Aliás, falando em desejos, na terceira parte, "ali, ter amores" há um Renato apaixonado. E que me faz pensar: quem de nós, desde Páris de Homero até o "seu João" da esquina nunca esteve apaixonado.

Todos nós estivemos, todos estes homens e mulheres morreram e mataram por paixão, por um sentimento louco de posse, por uma necessidade de reprodução animal. Mas, nesta mesma sociedade de amor líquido, de expressões maquinizadas, de "shows de realidade", de músicas de amor para qualquer uma ou um, temos neste livro uma apresentação do amor diferente, que me fez lembrar aquele que achei que senti, aquele que senti ao ver os olhos verdes de meus filhos brilharem, aqueles ao ver uma mulher chorar de amor por mim e me fazer chorar em seguida, me arrependendo de todos os pecados. Não apenas o lado romântico, de fábula do amor, mas também o sexo, a rejeição, o desejo

análise do livro

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incontrolável. Afinal, tudo faz parte do amor, não apenas o que diz a televisão, mas o que diz o bar!

Na quarta parte, "Nato Reza", Renato apresenta uma questão. Se antes era o outro que era solúvel, basta ler "A uma Passante" de Charles Baudelaire, em As Flores do Mal, agora o poeta que se dissolve em ondas e pensamentos noturnos. Na sociedade ainda mais desmistificada do que foi na época de Allan Poe, não há nenhum corvo, apenas o poeta abandonado que se apoia em sua palavra e em seus versos para conceber significado à sua existência, submersa pelo trabalho e pela alienação imposta a todos nós.

Quais as contribuições do livro Aliterações para o leitor? Primeiro, podemos afirmar que mesmo na sociedade controlada em que vivemos (e de aparente calma, de aparente liberdade) ainda há indivíduos que buscam uma afirmação de sua própria expressão social, política, cultural, de seus momentos pessoais mais íntimos. É extremamente comum delegar às mídias massificadas (telenovelas e músicas do momento) a intenção de acessar e exprimir nossos sentimentos, o que é, de fato, um grande pecado artístico – se é que isso existe – e mais uma forma de nos dominar, tendo controle sobre nossos sentimentos mais íntimos.

Mesmo Renato sendo professor e pesquisador na área de Letras e Literatura, não cabe a ele, nem a ninguém, dizer como se faz arte. O livro "Aliterações" é uma manifestação da literatura pós-moderna, que eu não concordo, concordo com a literatura politizada e revolucionária, firmada em uma intencionalidade crítica. Mas o belo da arte é isto: instaurar múltiplos sentidos para as coisas, destoar do discurso único. Assim, minha leitura, extremamente social e crítica, é apenas uma das leituras possíveis para este livro. A verdade é que em todo livro há modernidade, política, amor, pós-modernidade, está ali para os olhos de quem ler – não podemos esquecer que existem apaixonados e desejosos pela revolução, ou pelos revolucionários, revolucionárias. Falo que Aliterações é pós-moderno porque eu vejo o mundo dessa forma: há quem diga que é uma boa leitura para um dia de cerveja e churrasco!

Este livro inicial seria lembrado, se um dia algum de nós tiver as obras lidas como escritores do passado, como um livro da juventude literária de Renato, esboços primeiros, análises que determinarão, ou não, seu futuro enquanto escritor. Com o andar de sua vida, ele e todos nós poderemos mudar nossa escrita ou pensamento. Não posso esquecer das obras de Oswald de Andrade que compõem a trilogia do Exílio, escritas em décadas de diferença: da primeira para a terceira obra, vemos um Oswald jovem e descompromissado, amando uma jovem parisiense, para terminar amargurado com o capitalismo que o sustentara e amando Pagu, uma militante comunista ao escrever "A Escada Vermelha", que antes só se chamava "A Escada", esta escada vermelha sobe para onde? Para algo melhor? Vejam as mudanças.

Eu recomendo esta breve leitura, recomendo a leitura de toda produção realizada em nosso Estado de Rondônia, mas sempre com um olhar crítico e compromissado com o desenvolvimento da autonomia de nossa escrita. Creio, agora é o Rafael militante da arte que vos fala, que o caminho para a tal

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autonomia é a produção além da "arte de edital" e esta obra que você está tendo acesso é uma iniciativa neste caminho. Parabéns ao Renato, parabéns para todos nós.

Rafael Ademir Oliveira de Andrade Cientista social, mestrando em Educação pela Universidade Federal de Rondônia.

Professor da Disciplina de Sociologia e Sociologia da Educação na rede particular de ensino superior de Porto Velho. Escreve contos, poesias e crônicas. Como crítico, já escreveu os artigos: O manifesto madeirista: uma leitura sociológica da literatura em

Rondônia; Baudelaire e a modernidade: leituras da modernidade e multidão; Modernidade e cenário urbano em Alma de Oswald de Andrade: traços do

modernista brasileiro; Romance e Sociedade: apontamentos teóricos; dentre outros.

78

Renato Gomez é nascido em Santo André – SP, aos 13 anos veio para Rondônia,onde se formou em Letras Português pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR.É Mestrando em Estudos Literários também pela UNIR e escritor de contos e crônicas

nos sites www.gentedeopiniao.com.br e www.newsrondonia.com.br

Beti Timm, 57 anos, é movida pela intensidade à vida. Sua arte representa o momentoque vive. Suas obras são baseadas em corpos humanos, rostos e suas expressões, imagens

sensuais e envolventes, as quais revelam a si e aos outros nas suas pinturas. As figurasmostram uma artista em ascensão e inquieta, que se descobre a cada instante.

Blog: aartedoprazer.blogspot.com.br

Ouvi por diversas vezes durante a faculdade que quando o texto literário, a arte de um modo geral, precisa de legendas, precisa ser explicada, é porque não atingiu o seu objetivo enquanto arte, enquanto literatura, portanto não busco aqui explicar meus poemas.

Eu acredito na poesia como forma de desenvolvimento da linguagem, gosto da poesia provocativa, que visa fazer o leitor pensar em seu sentido, não sendo esse sentido necessariamente o que o autor pretendeu, pois esse é o que menos importa. O importante é o sentido que o leitor leva pra si de cada poema. Misturando os significantes e os significados; a fonética e a morfologia das estruturas lexicais das palavras, fazendo elas dizerem muito mais do que realmente dizem.

Quanto ao título, digo que o livro o leva não só em função da minha predisposição poética para utilização de tal recurso, mas também pela característica de brincar com os significados e significantes, conforme dito acima. Em algumas oportunidades, através de redes sociais, amigos, poetas e leitores enfatizaram a forma como meus poemas propunham um novo conceito para as aliterações. É nesse conceito que a presente obra se baseia: ALITERAÇÕES como recursos linguísticos e poéticos.

Renato Gomez

9 788591 654406

ISBN 978-85-916544-0-6