Hipocampo setembro 8ª edição

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CLÍNICA MÉDICA: Considerações sobre retas, pontos e linhas por Denise Nova Cruz VIII Edição Copa do Mundo vista por outro ângulo por guilherme d. dilda 07 10 11 05 03 14 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO: Dúvida x Imprudência 04 Difícil relação entre médicos e planos de saúde na atualidade por Adriel Barbi Como será na Venezuela? Por Guilherme Kriger Você acha que está bom? Mas pode melhorar! Capevi convoca acadÊmicos a continuarem com os avanços e melhorias no curso de medicina Especialidade: Pneumologia 06 ? JOGANDO ABERTO: ? ? ? Gotinhas Milagrosas” por Analu Barleze 8-9

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8ª Edição -Jornal da Escola Itajaiense de Medicina. UNIVALI-SC

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CLÍNICA MÉDICA: Considerações sobre

retas, pontos e linhas por Denise Nova Cruz

VIII Edição

Copa do Mundo vista por outro ângulo por guilherme d. dilda

07

10

11

0503

14

DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO: Dúvida x Imprudência

04

Difícil relação entre médicos e planos de saúde na

atualidade por Adriel Barbi

Como será na Venezuela? Por Guilherme Kriger

Você acha que está bom? Mas pode melhorar! Capevi convoca acadÊmicos a continuarem com os avanços e melhorias no curso de medicina

Especialidade: Pneumologia

06

?

JOGANDO

ABERTO:

???

“Gotinhas Milagrosas” por Analu Barleze8-9

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02 Itajaí, setembro de 2014

JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Raquel Sogaiar 5º p.

EDITORIAL Atenção graduandos e professores!

Fez algo de interessante? Representou a Univali em

algum evento ou congresso? Publicou em uma revista? Entre em contato conosco! Há algum assunto que

você gostaria de ver na

próxima edição ou tem interesse de enviar

matérias para o jornal? Mande um

recado na página do Hipocampo, no

FACEBOOK, ou entre em contato com um dos

editores.

jornal da escola

itajaiense de medicina

Distribuição Gratuita Edição: Acadêmicos Renan Taborda e Raquel Sogaiar

Colaboradores: Analu Barleze, Cláudia Theis, Jacqueline Ladeia, Wellington Abdou, Apoio: Centro de Ciências da Saúde (CCS) UNIVALI

Tiragem: 200 exemplares

Distribuição: Local

Errata

O Professor Nelson Grisard se formou no ano de 1961 na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná.

O HIPOCAMPO deseja boas vindas aos acadêmicos, docentes e funcionários da Univali. Ao pessoal do internato que não chegou

a ter férias, mandamos o nosso “sinto muito” e “força aí!”. O segundo semestre de 2014 chegou muito rápido e o jornal já deu início a ele formando novas parcerias. É com muita satisfação que anunciamos o fato de nos voltarmos para um tema de importância geral: Responsabilidade Civil Médica. E então, o leitor, com todo o respeito, lê isso e começa a revirar os olhos e pensar nos oito (8) períodos de Ética Médica pelos quais passou ou está passando. Mas não, não se trata apenas de ética do papel que estamos falando. Trata-se da pergunta: o que você, médico formado, vai fazer quando a realidade massacrante do dia-a-dia aparecer ali e quando na pressão incontestável da rotina médica você for impelido a tomar uma atitude que pode ser errada? O que você, médico formado, vai fazer quando parecer que não existe nenhuma alternativa boa a se seguir? Essa é a proposta da nossa mais nova parceira e colega de curso Analu Barleze. Ela é advogada formada e trabalhou junto ao CRM/PR em processos que abordavam o erro médico. A ideia dela foi, ao contar uma história verídica, dar três possibilidades para você, leitor, escolher. Para cada opção, uma sanção, e de quebra, um compêndio jurídico pra nos orientarmos sobre o que acontece na prática. Essa edição do Hipocampo conta, ainda, com mais de tudo, onde procuramos sempre destacar temas da área da saúde com o olhar ímpar dos nossos acadêmicos. Buscar sempre o avanço pois estamos aqui, segundo as palavras da professora Rosálie Kupka Knoll para formar “gente séria, humana, sensível e competente”. Não nos contentarmos com o raso

é o mínimo que podemos fazer, afinal de contas: o que você, ser humano em formação, pequeno e grande dependendo do prisma em que se olha, cheio de benevolência e de fraquezas, polissêmico e por vezes aturdido, vai fazer quando precisar se posicionar?

Boa Leitura.

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

03Itajaí, setembro de 2014

Os felinos psicóticos de Louis Wain

A esquizofrenia (do grego “skhizein” [esquizo] que significa fender, rasgar, dividir, e “phrên” [frenia] que significa pensamento) é uma patologia causada pela alteração da estrutura básica dos processos de pensamento. Caracteriza-

se por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contato com o mundo exterior, o que se reflete no comportamento e nas emoções do paciente, apresentando-se como uma visível alteração de personalidade.

Quanto aos sintomas, podemos dividi-los em duas categorias: os sintomas positivos e os negativos. Os positivos são caracterizados pelos pensamentos delirantes e costumam aparecer na fase aguda da doença (os surtos psicóticos) como percepções irreais (podendo afetar todos os sentidos, mas principalmente causar alucinações visuais e auditivas), pensamento desorganizado, ansiedade e impulsos agressivos. Os negativos acompanham a evolução da doença e refletem-se na falta de motivação e afetividade. Caracterizam-se pelo isolamento social, apatia, indiferença emocional e desesperança profunda.

Louis Wain foi um artista britânico (1860-1939) famoso por seus desenhos que retratavam gatos, geralmente antropomorfizados. Com o tempo, e principalmente após a primeira guerra mundial, a demanda pelas suas ilustrações foi diminuindo e alguns sinais de desordem mental começaram a surgir, tanto na sua personalidade quanto na sua arte. Sua obra manteve-se em um nível normal até por volta dos seus 57 anos de idade, quando o mesmo foi diagnosticado esquizofrênico. A partir daí, os retratos dos gatos que pintava tomaram uma forma ameaçadora e progressivamente hiperdistorcida.

Os traços adotados que demonstram a fase psicótica do artista são evidenciados pelos olhos obsessivos dos gatos, que miram fixamente com hostilidade. Este detalhe é resultado do fato de que o psicótico geralmente acha que o mundo crave nele olhares hostis. Outro aspecto das pinturas é a fragmentação do corpo. Na psicose, as imagens do corpo sofrem uma estranha distorção, aproximando-se da forma de um fractal. Nos últimos estágios da esquizofrenia, os gatos de Wain são totalmente desintegrados do realismo, tornando-se gradativamente mais misteriosos, psicodélicos e, até mesmo, indecifráveis.

Catarse, segundo a psicanálise, é o despertar de emoções contidas e omitidas que precisam ser despertas e expostas para a liberação de bloqueios emocionais. É um estado já bem definido por Aristóteles como “purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.”. Wain substituiu o realismo por modelos simétricos num esforço desesperado para organizar e controlar suas funções mentais em desordem. O aspecto catársico de suas obras são carregadas do desespero e da angústia sentida pelo artista, sendo fantasticamente intensas, produtos de descargas emocionais visivelmente perturbadoras. Freud já dizia que o inconsciente fala muito mais por meio de imagens do que por palavras e que as imagens escapam com mais facilidade da censura da mente, portanto, nada mais rico do que poder observar a progressão de uma doença tão obscura e debilitante por meio de obras tão brilhantes e vigorosas.

O sofrimento intenso. O caos mental. A exteriorização dos sentimentos profundos e angustiantes de uma mente brilhante porém perturbada.

Tamyris Bertola - 5ºp.

Abaixo, obra de sua fase pré-psicótica. Ao lado, obras de sua fase psicótica

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Itajaí, setembro de 2014

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A Copa do Mundo vista por outro ângulo

Recentemente o mundo parou para assistir a um dos maiores eventos

esportivos do mundo: a Copa do Mundo FIFA. Milhões de pessoas espalhadas pelo planeta se envolveram profundamente, assistindo às partidas de seus televisores. Mas e como é o envolvimento daqueles que trabalham nos estádios, diretamente com os jogos? Desde o ano passado, quando prestei prova de Residência de Medicina Esportiva para a USP, já dizia para os colegas que meu objetivo este ano era estar presente na Copa do Mundo, trabalhando como médico. Como o chefe da minha residência era o coordenador médico da FIFA em São Paulo, sabia das reais possibilidades de poder sentir este gostinho. Durante os meses que antecederam a Copa, disseram-nos que seria muito difícil os residentes conseguirem algo, principalmente os R1. De qualquer forma, fiz os cursos de ACLS (Suporte Avançado da Vida em Cardiologia), PHTLS (Suporte Pré-Hospitalar de Vida no Trauma) e DMEP (Controle de Desastres e Preparação para Emergências), acreditando que dessa forma teria mais chances de estar presente. Chegando próximo à abertura, consegui o contato da pessoa que estava organizando a escala dos médicos na

Copa e entrei em contato diretamente para conseguir trabalhar nas partidas. Fui convocado para o jogo do Corinthians x Botafogo na Arena Corinthians, que já estava sob organização da FIFA como forma de teste para a Copa do Mundo. Chegando ao estádio, percebia-se que ainda faltava muita estrutura, principalmente para atendimento do público. Acabei ficando no posto de atendimento dos jogadores, ao lado dos vestiários, porém não foi necessário nenhum atendimento. Aproximadamente uma semana depois recebi a confirmação que estaria trabalhando nas partidas com diversos outros médicos. Trabalhamos em forma de escala fazendo rodízio entre treinos, ambulatórios de torcidas, vip, very vip, camarotes, posto dos jogadores e campo. Tínhamos o objetivo de acompanhar cada lance dos jogos para garantir que jogadores e torcedores recebessem atendimento imediato se passassem mal ou se machucassem. A FIFA havia estabelecido alguns protocolos e, por exemplo, em caso de parada cardíaca, tinham paramédicos treinados espalhados pelo estádio com objetivo de prestar atendimento em no máximo 2 minutos – a cada minuto que passa, a chance de sobrevivência sem seqüelas diminui 10%.

Os postos de atendimento na torcida eram sete, sendo todos devidamente equipados com pelo menos um leito, monitor cardíaco, ventilador, aspirador mecânico, entre outros equipamentos fundamentais. Havia um posto principal que possuía uma quantidade maior de leitos e materiais, para quem nos reportávamos quando havia um caso de maior complexidade. Chegávamos sempre quatro horas antes dos jogos e saíamos no mínimo duas horas depois de encerrados.

Fazíamos um monitoramento em tempo real sobre tudo que estava acontecendo de atendimento nos postos, com uma linha própria de rádio para conseguir manejar os casos da melhor maneira possível. Além dos médicos do estádio, tínhamos contato direto com a equipe do SAMU, caso fosse necessário uma remoção com maior urgência.

Qualquer atleta que sofria uma contusão em campo, o primeiro a abordar era o médico da equipe, mas à medida que era necessário um atendimento de remoção, as equipes médicas fora de campo faziam esta remoção. Caso fosse necessário, esse atleta poderia ir para o posto de atendimento dos jogadores, próximo aos vestiários, para um atendimento mais detalhado, ou ainda se fosse o caso, o atleta era removido pela ambulância direto para o hospital. Uma coisa que a FIFA preconizou desde a África do Sul, é que os “maqueiros” deveriam ser médicos e técnicos com experiência em emergência, de forma a aumentar a segurança do atleta e das outras pessoas que estão no campo (seguranças, fotógrafos). Aproximadamente 1% de torcedores necessita de algum cuidado médico, sendo que 99% costumam ser atendidos e resolvidos no próprio estádio. A maioria dos casos atendidos foi relacionada a ocorrências clínicas simples como dor de cabeça, mal estar súbito, hipertensão, lesões, torções e quedas de baixa gravidade. Tive alguns atendimentos um pouco mais complexos como, fratura por queda e descompensação de diabetes, por exemplo. Porém de forma geral tive sorte de ter ficado em postos tranqüilos e de poder assistir a todos os jogos sem maiores problemas. Pude estar em contato com pessoas de diferentes partes do mundo, cada povo com suas particularidades. Torcedores que chegam com empolgação altamente contagiante, algo para realmente guardar na memória. De longe, o momento mais emocionante foi poder ouvir o hino brasileiro a capela por 70 mil pessoas. Não tem explicação! Para o profissional de Medicina, uma participação em uma competição como a Copa do Mundo é algo que engrandece. A experiência vivida tem muito mais valor de que o dinheiro pago pelo trabalho. Agora é hora de buscar novos rumos! Os Jogos Olímpicos estão aí...

Guilherme D. Dilda durante o jogo Brasil x Croácia

Guilherme Dalcin Dilda, médico formado pela Univali

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05Itajaí, setembro de 2014

Qual a distância mais curta entre dois pontos? Uma reta. Esta é uma

asserção científica, baseada no bom e consagrado método. Se Medicina fosse uma ciência, então, também na clínica médica afirmaríamos que a menor distância entre dois pontos é uma reta. Mas, a Medicina não é uma ciência exata. Demoram-se anos de prática para alguns de nós, médicos, percebermos esta ideia. Alguns médicos e médicas intuem esta possibilidade muito cedo em suas formações: Medicina, especialmente a Clínica Médica não é uma ciência exata, dura, inflexível certa e certeira. A menor distância entre dois pontos, na clínica médica pode ser uma linha muito tortuosa, muitas linhas, incontáveis linhas, emaranhados delas. O diagnóstico sendo um dos pontos, o paciente e sua história será o outro. Partindo da narrativa que o paciente é capaz de elaborar durante uma consulta, o médico busca corajosa e sistematicamente fazer o diagnóstico. Fazer um diagnóstico, hipóteses diagnósticas, organizar possíveis diagnósticos diferenciais que norteiem a conduta adequada a ser tomada. O segundo ponto essencial de uma consulta médica é o exame físico. Examinamos o paciente desde o momento que este se levanta na sala de espera e encaminha-se ao nosso consultório. Examinamos o paciente enquanto ele fala, enquanto ele caminha até a maca. Depois, seguindo as pistas recolhidas durante a anamnese, inspecionamos seu corpo, seus olhos, sua pele. Palpamos seu abdome, auscultamos seus ruídos. Interessante. As habilidades de exame físico que adquirimos durante os anos de formação nos cursos de medicina, nos acompanham por toda a vida. Quem aprendeu a percutir o fígado direitinho, lá no segundo ou terceiro ano da faculdade nunca mais terá dificuldade em identificar um fígado congesto, aumentado de tamanho. Sempre estará pronto para palpar os bordos rombos, bem abaixo do gradeado costal direito. Quem aprendeu a reconhecer B1 e B2 na ausculta cardíaca e diferenciar um sopro mitral de um tricúspide jamais perderá a majestade e sempre repetirá a manobra de Rivero e Carvalho para deleite e brilho nos olhos dos colegas mais jovens, estudantes e médicos residentes. O diagnóstico ou uma suspeita diagnóstica é o terceiro ponto importante de um encontro entre médicos e pacientes. O primeiro é a narrativa do paciente. Sempre. Não há nada antes da narrativa

do paciente. Tudo o que segue durante a consulta é continuidade e consequência do que o paciente foi capaz de contar, daquilo que o médico pôde ouvir, das representações que ambos fazem do que foi narrado e das novas narrativas que sucedem o final da consulta. Ouvimos o paciente, com tempo, com atenção, com respeito. Entendemos que não há nada além do que o paciente nos conta que possa ser dito sobre a condição daquele que padece de algum sofrimento singular e que procura assistência médica. Está tudo ali, exposto da maneira que o paciente consegue, colocado diante do médico que presta atenção àquilo que pode e que a partir destes pontos realiza um exame físico bem feito: rápido, sistemático. Com a elegância de quem sabe o que faz. Examinar os pacientes com a mesma postura e técnica com a qual um ás do volante pilota seu carro de estimação. Com graça, com simplicidade, segurança e com prazer. Assim fica fácil. É fácil fazer medicina. Escutar cuidadosamente o paciente. Examiná-lo. Saber muito. Fazer hipóteses. Organizar um plano de manejo. Exames a serem solicitados, remédios e procedimentos a serem prescritos. Como bem se pode imaginar do que foi escrito acima, estes pontos: o paciente e sua narrativa, o exame físico e o diagnóstico não são, definitivamente, ligados por linhas retas e certas. As narrativas são confusas, tortuosas, complexas, engraçadas, difíceis, impossíveis! Os corpos escondem seus sopros, tumores, lesões... segredos. Os diagnósticos são múltiplos, também complexos, difíceis, demorados, misteriosos, algumas vezes insondáveis. Chegamos, então, à conclusão de que medicina não é somente ciência. E se não é uma ciência, tão somente, então o que é? Arte? Não, medicina também não é pura e simplesmente uma arte. Nem no sentido que os gregos antigos atribuíam ao termo, (arte=techné) arte como técnica, como a habilidade de um artesão que fabrica utensílios. Também não é – a Medicina – puramente arte no sentido estético. Estética trata daquela parte do pensamento humano relacionado com o belo, com a emoção que sentimos (todos, como um atributo humano, ligado à espécie) quando expostos diante de uma sinfonia de Beethoven (ou um solo de guitarra do Eric Clapton ou do Jimmy Page); ou diante de um quadro de Picasso, ou Dalí, ou Chong! Medicina

é, também, Arte. Quando vemos um cirurgião em campo, reconstruindo um rosto desfigurado, removendo um tumor imenso, ressecando gentilmente o que há que ser ressecado, suturando a aorta, o intestino, transplantando órgãos, abrindo corações e crânios não há como não pensar na medicina como técnica e como beleza estética. Sim, medicina também é arte. Ciência, arte e o que mais? Uma autora norte-americana chamada Montgomery Hunter foi, de novo, aos gregos para trazer de Aristóteles (Ética a Nicomano) o conceito de fronese. Conhecimento fronético. Fronese não representa o conhecimento teórico, nem a arte de saber fazer as coisas. Fronese trata, justamente, do conhecimento prático, de tomar decisões acertadas. Para si, para o outro, para a comunidade. E não é justamente isto que fazemos, hora após hora, um dia depois do outro, todos os dias? Nos ambulatórios, consultórios e enfermarias dos hospitais. O que fazemos, nós médicos, a não ser tomar decisões? Ouvir, examinar, compreender, representar e... decidir. Fazer escolhas. Escolher caminhos. Idealmente, queremos, sempre, o melhor caminho. Para nós, para nossas famílias. Para nossos pacientes, nossos colegas, nosso ambulatório, hospital e comunidade. O que fazemos é tomar decisões, é puro conhecimento prático, fronético. Então, como diz sempre o Professor Celmo Celeno Porto, nosso mestre: Medicina, nem ciência, nem arte. Uma profissão. Uma prática, um ofício. Uma profissão maravilhosa que nos coloca diante das pessoas nos momentos mais importantes de suas existências : quando nascem, quando adoecem, quando precisam ser operadas, quando têm filhos, quando adoecem novamente, quando envelhecem e também quando precisam morrer.Fácil fazer medicina, é simplesmente uma questão de fronese: ouvir, examinar, pensar, supor diagnóstico e escolher caminhos para tratar, acolher, cuidar, assistir, se fazer presente. Como afirmamos acima, a distância mais curta entre os pontos da prática médica não é – definitivamente– uma linha reta. Pontos, fios e linhas não são tão simples (especialmente para mim que não tenho as habilidades necessárias nem nas mesas de cirurgia, quem dirá na prática da clínica!

Clínica Médica: Considerações sobre retas, pontos e linhas.

Denise Viuniski da Nova CruzProfessora de Clínica Médica

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Itajaí, setembro de 2014

O que você tem a ver com as pessoas que “foram pra rua” em

2013?Bastante! Ou talvez nada... Mas

já que o título da reportagem serviu para chamar sua atenção, leitor, pedimos que dê uma olhada rápida no que temos a dizer. Mais que ano de eleições. Ano de

eleições pós Copa do Mundo. Um certo pessimismo eleitoral... Já ano passado foi ano de revoluções. Vá-rios foram às ruas lutar pelo que acreditavam, pelo que não acre-ditavam e alguns foram pelo que gostariam de acreditar. Idéia linda essa de um sentimento coletivo (nem que seja uma insatisfação!) ser capaz de sincronizar várias pessoas. Aqui, na nossa rotina uni-valesca não foi diferente. Além dos que muitos que foram pra rua em nome do cenário nacional, pode--se dizer que quase que todos de

nós fomos também até outro lugar: fomos pra reitoria. E de lá fomos além. Depois de um longo proces-so de reinvindicações por parte dos acadêmicos, conseguimos o que queríamos. Tudo tem melhorado. Toda essa história que todos já sa-bem... De qualquer forma, o centro acadêmico está aqui pra dizer que acredita em você. Para dizer que precisamos de todos os acadêmi-cos para continuarmos avançan-do, e para que haja contínua bus-ca de melhorias em prol do curso. Sendo que o principal objetivo é fazer uma ponte entre acadêmi-cos e coordenação, visamos con-gregar os estudantes de Medicina da UNIVALI na busca de soluções para os problemas do curso, que são do interesse dos estudantes.

Para isso, convidamos a todos a comparecerem as reuniões

ordinárias do CA, ou que man-tenham contato com alguém do CAPEVI. Para que, assim, possa-mos juntos estimular o desen-volvimento científico e cultural, promovendo palestras, cursos de extensão, estágios e outras ativi-dades de interesse da formação profissional dos nossos. E ainda, para podermos representar os estudantes do curso de Medici-na da UNIVALI perante os órgãos do CCS e outras instituições, de-fendendo os interesses gerais do conjunto dos acadêmicos. Exercício livre do diálogo e da

representatividade, vamos fazer isso juntos, e precisamos de você!

CENTRO ACADÊMICO PROF. EDISON VILLELA CONVIDA:

REUNIÕES ORDINÁRIAS 2014.2:01/10 12h29/10 12h19/11 12h03/12 12h

ABERTAS PARA TODOS OS ACADÊMICOS DO CURSO DE MEDICINA LOCAL: SALA 301

(AO LADO DA SALA DOS CALOUROS)(Dependendo do número de acadêmicos presentes pode haver alteração do local)

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07Itajaí, setembro de 2014

O VENTOO dia era frio e o céu de um azul profundo, imitando o que eu sentia na-

quele momento. Enquanto tomo meu café quente e extremamente doce medito sobre o que me aconteceu nesses últimos dias, que mais pareceram anos. As vezes a tragédia toma rumos que nunca imaginamos e não consigo saber em que ponto exato que o caminho foi desviado e deixou-se tornar o que se tornou. Diogo e eu sempre fomos próximos e muito parecidos, am-bos parcialmente isolados num mundo pessoal que imaginávamos ser ina-tingível. Até aquele dia, o fatídico dia. Encontramos-nos como de costume a beira mar e compartilhávamos uma garrafa de vodka vagabunda quando ouvimos os gritos. A menina era loira e não aparentava ter muito mais que 20 anos. Já os 3 homens que a cercavam pareciam ser mais novos, não mais de 18 anos. Ela implorava para que não a machucassem e que levassem tudo que quisessem. Enquanto isso Diogo e eu nos encontrávamos petrificados, incapazes de fazer qualquer coisa para ajudar aquela mulher. Do local onde estávamos era impossível de sermos vistos. A praia estava deserta. Enquanto isso, os 3 homens jogavam a mulher no chão e arrancavam sua roupa violentamente. –O que a gente faz?- Perguntei. –Policia- disse ele enquanto digitava os números rapidamente em seu telefone. Sua voz tremia en-quanto ele contava do ocorrido e passava o endereço ao policial, que deu-nos ordem para não reagirmos pois seria perigoso caso os bandidos estivessem armados. Enquanto esperávamos ansiosos pelo brilho vermelho da sirene da viatura presenciamos a pior cena que eu já poderia ter visto. Naqueles minutos intermináveis os 3 homens abusaram e espancaram a garota. Quanto tempo ela ainda aguentaria? Embora desviasse meus olhos aquela cena permanecia impregnada em minha mente. Diogo e eu chorávamos em silencio enquanto a agonia nos consumia. Finalmente eles pararam. Ao fundo, ouvimos o som da sirene. Rapidamente os 3 homens correram em direção ao matagal no canto da praia por onde se embrenharam como se conhecessem aquele lugar como a palma de suas mãos. A viatura parou e um policial correu em direção a garota em uma visão digna de filme de terror, com sangue se mesclando a areia em contraste a tranquilidade do mar e do céu de fim de tarde. Levantamos e ainda atordoados fomos em direção dos dois policiais que se encontravam na viatura. Apenas quando falei que notei o quanto chorava. Aos prantos, contei aos policiais a direção em que os bandidos foram e rapidamente ambos foram em direção a mata com suas armas em punho. O policial que estava com a garota tentava reanimá-la quando a ambulância chegou e a levou. Fomos para a delegacia onde demos nosso depoimento. As imagens ainda não saíram da minha mente. No dia seguinte, a notícia estampava a primeira página do jornal. “Garota estuprada e brutalmente assassinada em praia deserta. Suspeitos não foram encontrados”. Imediatamente peguei meu celular e liguei para Diogo por di-versas vezes, porém ele não atendeu. Resolvi ir até sua casa. Chegando lá, bati a porta algumas vezes e não obtive resposta. Liguei novamente para ele e ouvi seu celular tocando dentro de casa. Forcei a porta,que encontrava-se trancada. Peguei a chave reserva que sabia que ele deixava dentro do vaso de flores ao lado da porta dos fundos enquanto pensava em como daria a noticia da morte daquela jovem a ele. Abri a porta dos fundos e me dirigi ao quarto dele, quando vi que meu pesadelo tinha apenas começado: encontrei o corpo inerte de Diogo pendu-rado pelo pescoço em uma corda. Ao seu lado encontrava-se o mesmo jornal que eu levava comigo, aberto na página estampada pela foto da jovem assassinada. Ao lado da foto, identifiquei a caligrafia de Diogo. “Desculpa”.

Jéssica Lajús - 6ºp.

Há alguns anos que o Brasil procura ampliar sua produção de equipamentos e máquinas para a área médica. Após a crise econômica mundial, em 2008, o país ganhou novo impulso, ao se transformar em um dos mercados mais atrativos do

setor, segundo a SBPPC (Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica. Dentre as “bugigangas tecnológicas” produzidas aqui, ou no exterior, confira no iMeds uma das invenções que tem auxiliado:ESTETOSCÓPIOS ELETRÔNICOS: Alguns possuem modo de amplificação com ajuste de volume que amplifica em até 50x os sons da ausculta, sendo útil para bulhas abafadas, paciente obesos ou ruídos ambientes.Como o som é eletrônico, não há a perda com o ar ou comprimento dos tubos de condução. Os modos Bell/Diaphragm possibilitam mudar de sons de baixa frequência, adequando tanto para sons cardíacos quanto pulmonares. Com o Ambient Noise Rejection, os sons ambientes são eliminados em locais de muito ruído.Também é possível colocar no modo mute para silenciar o estetoscópio.A liga de aluminínio e aço inoxidável tornam o equipamento bem leve.

Fonte: TI Medicina

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Itajaí, setembro de 2014

GOTINHAS MILAGROSAS

A noite estava fria e o PS de São Ju-das Tadeu, estava movimentado no

setor de pediatria. Crianças com gripe, falta de ar, tosse, asma, bronquite, pneu-monia, muito choro e correria da equipe do PS para atender a todos. A Dra. Malu, médica plantonista da noite, terminava o último atendimento e antes que novas fichas fossem lhe entregues, iria dar um pulo na cantina do Hospital pra tomar um café e comer um sanduíche.

Quando saia de seu consultório, a en-fermeira do plantão lhe chamou e pediu atenção à criança que chegara, pois pa-recia um caso atípico e de urgência. A Dra. pediu que a enfermeira trouxesse a criança. Logo na porta do consultó-rio, surgiu à mãe com um bebê de um ano aproximadamente no colo, a Dra. Malu não compreendeu de imediato a urgência do atendimento, uma vez que, a criança aparentava estar dormindo no colo da mãe, enrolada na manta. Pediu que a mãe sentasse, e relatasse os fatos.

A mãe da criança começou a contar, e aparentava um certo nervosismo, infor-mando que o menor estava dormindo há mais de 8h (oito horas) seguidas. O primeiro impulso da médica, foi colocar o bebe na maca e examinar sinais clíni-cos, a criança não possuía reflexo, apa-rentava relevância clínica respiratória , depressão cardiovascular, sedação grave e acentuada. De imediato a Dra chamou a enfermagem e o bebê foi levado para o procedimento necessário a ser realiza-do. Após a estabilização do menor, com o internamento do bebê, foi requisitado a presença dos responsáveis no consul-tório da Dra. Malu. Sentada com o prontuário médico a sua frente, aguardava pelos pais. Entraram no consultório juntos, um homem, apa-rentando seus 45 anos, alto, magro, ves-tido com um terno preto e gravata cin-za, que prontamente estendendo a mão apresentou-se como, Eduardo, o pai do

do procedimento praticado e o interna-mento. Pediu-me que liberasse seu filho,

menor. Logo atrás a mulher, de uns 28 anos, morena de cabelos longos, olhos verdes, alta e magra, usando roupa de academia, sentou-se calada. Questionados o que havia acontecido com o bebê, pois os sinais clínicos evi-denciavam maus- tratos, o pai iniciou a conversa, muito calmo e controlado, dizendo que o ocorrido não era culpa da mulher, mas que era o primeiro filho dela, e que ela andava um pouco estres-sada com a dedicação integral ao me-nor. Que ele era empresário, do ramo de farmácias, e por conta do trabalho, o bebê ficava muito com a mãe. A mãe, muito nervosa, apertava as mãos com-pulsivamente, e, permanecia calada de cabeça baixa. A Dra. Malu, foi direta e perguntou, qual de vcs dois deu a me-dicação ao bebê ? Nesse momento, a mãe começou a chorar e dizer que não era pra ter acon-tecido dessa forma, que deu algumas gotinhas de rivotril ao bebê, para que ele dormisse um pouco, e ela pudesse fazer coisas que não conseguia mais. Quantas gotas, perguntou Malu? Pou-cas disse o marido. Não Senhor, rispida-mente cortou a Dra, pois o bebê chegou com insuficiência respiratória e outros sinais clínicos que configuram sedação grave. Novamente a mãe, começou a chorar e pedir perdão e que não sabia que isso poderia acontecer. Contou en-fim que, iniciou dando 8 gotas a sema-na passada, dias atrás aumentou a dose para 12 gotas, e que o bebê dormiu a noite toda, sem dar um pio!!! Finalmente a mãe, alegou que estava confiante com a medicação, e queria fazer seu treino na academia e depois sair com algu-mas amigas, coisas que ela fazia antes do nascimento do bebê, quando então, aumentou a dose para 36 gotas. Falava baixo e não olhava diretamente a médi-ca. O Marido apressou-se em acalmar a mulher, que num misto de culpa mater-na e abandono moral, acreditava que seu comportamento era adequado, e não fazia mal ao seu bebe, afinal a me-dicação era pra isso mesmo!!! A Dra. Malu não questionou como ha-viam conseguido a medicação, certa que o próprio pai havia pego, em uma de suas farmácias. Após o testemunho e do esclareci-mento dos fatos, o pai enfim, perguntou sobre o filho. Passei-lhe a informação

pois cuidariam do menor em casa, não concordavam com a internação. Avisei -os que necessitavam assinar um termo de responsabilidade e fariam as tratati-vas com o diretor clínico do Hospital . Prontamente o pai levantou, e avisando que falaria com seu amigo, Carlos, dire-tor clínico do hospital, puxou a mulher pelo braço, e saiu do consultório.Neste instante, a Dra. Malu, deveria to-mar algumas decisões éticas e legais que a colocariam como protagonista de uma problemática social, com influencia em sua própria carreira. Caro leitor, gostaria que neste momen-to da narrativa, vocês escolhessem qual a conduta que vocês tomariam neste caso, escolhendo entre os fins A, B e C. Dependendo de sua escolha o fim terá diferentes sanções para todos os envol-vidos.

Escolha A A Dra Malu informou aos pais que iria comunicar e notificar o conselho Tu-telar da Cidade, pois relatou no prontu-ário médico do menor, abuso de benzo-diazepinico. O Sr. Eduardo, a ameaçou de retira-la do hospital, alegou erro mé-dico, e negligência no trato dispensado a um bebê em urgência.

Escolha B A Dra. Malu, coagida pelo pai do menor, que possuía certo grau de inti-midade com o diretor clínico do hospi-tal,não comunicou o Conselho Tutelar, mas não alterou o prontuário. Contudo, pediu que o bebê permanecesse inter-nado até o dia seguinte.

Escolha C

A Dra. Malu, certa de sua condu-ta ética, foi conversar sobre o caso com o diretor clínico, que a explicou que os pais do menor são seus amigos de longa data, e, lhe pediu que, não comunicas-se o Conselho Tutelar, pois os dois eram pessoas esclarecidas e diante do sus-to tomado, NUNCA mais repetiriam ta-manho infortúnio. Comentou sobre sua

Analu Barleze, 2op.

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Itajaí, setembro de 2014

competência profissional e a intenção em promovê-la.

Assim temos os seguintes desfechos:

Aos que escolheram o final C

A Dra. Malu tinha absoluta cons-ciência de sua responsabilidade em de-nunciar ao Conselho Tutelar os maus tra-tos reincidentes com o menor impúbere. Contudo, confiou no Diretor do Hospital e atendendo seu pedido alterou o pron-tuário e liberou os pais e o menor, ne-gociou sua promoção e fez aqueles pais comprometerem-se informalmente a nunca mais fazer uso de medicamentos e calmantes com o bebê. Acordo sela-do, todos regressaram as sua funções. Semanas depois, soube que o mesmo bebe internou em coma medicamentoso com outro médico.

Aos que escolheram o final B

A Dra. Malu, ficou reticente entre a escolha ética e as supostas coações legais administrativas de sua escolha. A falta de uma consciência social, a fez descaracte-rizar como sua a obrigação de notificar a tutelar, escondendo-se em preceitos éti-cos do sigilo médico-paciente. Contudo, não alterou o prontuário médico, mas não notificou a Tutelar, liberando os pais e o menor após o procedimento. Sema-nas depois, ficou sabendo que o bebe internara em coma medicamentoso com outro médico, que com base no pron-tuário existente, conseguiu configurar os maus tratos e notificar o Conselho Tute-lar , que tomou as devidas providências.

Aos que escolheram o final A

A Dra. Malu, notificou o Conselho Tutelar da Cidade, entregou uma cópia do prontuário médico, que estava com-pleto, com a descrição dos fatos, exames clínicos, procedimento realizado, bem como, relato do depoimento da mãe que assumia medicar o bebê com o ben-zodiazepinico de forma reincidente. Fez constar a assinatura das enfermeiras que a auxiliaram. Entregou uma cópia ao Di-retor Clínico do Hospital, cujo mostrou certo descontentamento, mas não to-mou medidas punitivas contra a médica.

O Código de ética Médica é claro em seu art. 74 * . Como não houve alteração do prontuário se houver reincidência, o não encaminhamento por parte do profissional médico acarretará sanções legais por parte do código penal art. 136 , e , estatuto da criança e adolescente art. 3 e 5. Artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, regula a necessi-dade de notificar a autoridade competente no caso de maus-tratos. Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qual-quer instituição na qual esteja recolhido, independentemente da própria vontade.Parágrafo único. Caso ocorram quaisquer atos lesivos à personalidade e à saúde física ou mental dos pacientes confiados ao médico, este estará obri-gado a denunciar o fato à autoridade competente e ao Conselho Regional de Medicina.É vedado ao médico: Art. 74. Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente. O Código Penal conceitua e incrimina a conduta de maus tratos em seu artigo 136. Segundo este dispositivo, entende-se como maus tratos a exposição a perigo de vida ou saúde de pessoa subordinada ao agente cau-sador, já que está sob sua autoridade, guarda ou vigilância com finalidade de educação, ensino, tratamento ou custódia. Além disso, a conformação desse tipo penal se vincula as condutas de privação absoluta ou relativa de alimentação ou de cuidados indispensáveis; trabalho excessivo ou inade-quado; abuso de meios físicos ou morais de correção ou disciplina, sendo que para a caracterização da infração basta que apenas um desses compor-tamentos seja praticado pelo agente causador. O Estatuto da Criança e do Adolescente define a prática de maus tratos em seus artigos 3º e 5º. Conforme os dispositivos referidos, depreen-de-se que toda ação ou omissão que prejudique o desenvol vimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de dignidade e de liberda-de, configura maus tratos. Portanto, a criança e o adolescente não devem ser objeto de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, sendo coibida tanto a prática omissiva quanto a comissiva. Trata-se da infração administrativa prevista no artigo 245 do ECA, que estabelece pena de multa de 03 a 20 salários referências àqueles que dei-xam de comunicar a autoridade competente da suspeita ou confirmação de maus tratos. A referida norma tem como destinatários o médico que atende a criança ou adolescente, professor ou responsável por estabelecimento de atenção a saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche. Estes in-correm na penalidade prevista no ECA ao praticarem a conduta omissiva consistente em “deixar de comunicar,” permanecendo inertes frente a sus-peita ou confirmação de maus tratos. Vale ressaltar que a notificação de maus tratos é obrigatória para as pessoas apontadas neste dispositivo.

Após a comunicação da conduta tomada aos pais, estes foram liberados, pois o menor estava em condições estáveis para retornar a casa. O pai do menor, a ameaçou com impropérios e futuros ajuizamento de ações legais, as quais nunca foram tomadas.

Vale a pena se orientar...

compêndio Jurídico

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“Todos pensamos, porque ficar e arriscar a vida lutando contra uma praga incurável? Cada um deve encontrar sua própria resposta.”, disse mestre Ibn

Sina para os “hakims” (conceituados como os médicos da época) em meio à uma epidemia de peste negra retratada no século XI. Mais do que procurar uma razão para ficar naquela situação em especial, essa indagação nos remete para a razão que encontramos todos os dias para escolhermos exercer a medicina. O filme “O Físico” é baseado no livro de Noah Gordon, que apresenta a trajetória de Rob Cole (Tom Payne) durante o período da Idade Média. Em sua infância pobre, Rob encanta-se pela apresentação de chegada do barbeiro-cirurgião Bader (Stellan Skarsgård). Na mesma noite, sua mãe padece do “mal da barriga” que segundo a Igreja Católica não pode ser curada por ninguém. Órfão, Rob segue o barbei-ro-cirurgião com o intuito de aprender e poder ajudar as pessoas, como ele gos-taria que pudessem ter ajudado sua mãe. Durante anos ele acompanha Bader nos serviços que, vão desde retirar um dente até a amputação de um dedo. O mestre barbeiro-cirurgião não desejava que o menino traçasse os mesmos pas-sos na profissão, no entanto, Rob continuava com a curiosidade e vontade que o levavam sempre a imaginar o que estaria dentro do corpo humano – questão que era condenada pelas religiões predominantes do período. Quando Bader se apresenta quase cego, Rob assume os trabalhos como barbeiro-cirurgião e decide procurar um médico judeu que é capaz de curar “a cegueira” – em reali-dade, o que seria a catarata. Após a cura de Bader, o órfão sonhador se encanta pelas possibilidades da medicina e viaja para encontrar uma renomada escola de medicina na Pérsia, que apresentava uma medicina avançada cientificamente em contraste com o obscurantismo característico da Idade Média na Europa. Com o mestre da escola de medicina da Pérsia – Ibn Sina (Ben Kingsley ), Rob en-contra situações que defrontam com a tradicional arte médica da época, que é submissa às crenças das religiões. Ainda nesse contexto, Rob encontra coragem para formular questionamentos e ideias que ajudaram a desenvolver uma nova medicina. O Físico, além de uma viagem na medicina, provoca uma viagem pela história no cenário das religiões, preconceitos, crenças e dificuldades dos estu-diosos da época. E sobretudo, nos remete ao mesmo questionamento que Ibn Sina fez na primeira noite da epidemia da peste negra: Qual a razão de querer exercer a medicina hoje? Na humildade que nos cabe hoje, diria que acreditar em uma medicina melhor, da mesma forma que no século XI muitos acreditaram e assim, nos apresentaram a medicina que conhecemos hoje, mas que, com cer-teza, precisa em muito ser lapidada.

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Jacqueline Ladeia 5ºp.

Itajaí, setembro de 2014

Nome: Pedro Pinheiro Barbosa

Idade: 26

Turma: XX

Naturalidade: Brasília

Onde reside atualmente: Balneário CamboriúQual especialidade pretende seguir:

PsiquiatriaDisciplina preferida:

Clínica MédicaProfessor marcante:

Luis GustavoO que achou do curso: Em relação à qualidade e comparando com antigos

colegas de colégio que fizeram medicina em

outras universidades, o curso é muito bom, com

potencial para ser um dos melhores.

Importância da Medicina na sua vida:

Me possibilitou entender as pessoas de uma forma

mais completa.O que vai deixar saudade: Convivência diária com as pessoas excepcionais da

minha turma.

BATE- BOLA

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

11Itajaí, setembro de 2014

Esse espaço objetiva informar os acadêmicos e esclarecer suas dúvidas sobre as mais variadas residências existentes no país. Em cada edição, o HIPOCAMPO vai procurar dar desta-que para uma área de residência. PNEUMOLOGIA

Especialista entrevistada: Dra. Renata Viana

Olá pessoal! Me formei em Teresópolis, região serrana do esta-do do Rio de Janeiro em dezembro de 2007. Antes de finalizar

a graduação, já tinha bastante vontade de sair do Rio de Janeiro. Em-bora seja uma das cidades mais bonitas para se visitar, infelizmente a cidade do Rio de Janeiro acaba perdendo quando o assunto é quali-dade de vida. Portanto prestei prova de residência para Clínica Médi-ca no Hospital Universitário (UFSC) em Floripa e acabei vindo morar em Santa Catarina. Após os 2 anos de residência em Clínica Médica, tive bastante dificuldade de decidir minha especialidade, já que gos-tava bastante de todas as áreas clínicas. Durante os estágios de es-pecialidades como residente de Medicina Interna, uma das áreas que mais gostei foi a Pneumologia. Nos ambulatórios e enfermarias de Pneumo, fui me identificando com os pneumopatas crônicos e per-cebi o quanto podemos ajudá-los, mesmo nas fases mais avançadas das doenças. Acabei optando por essa especialidade também pelo fato de abrir um leque de opções de trabalho (enfermaria, ambulató-rio, UTI, exames complementares como espirometria, broncoscopia, pletismografia, teste de broncoprovocação, entre outros, além de sono que é uma subespecialidade dentro da Pneumologia, na qual o interesse vem crescendo bastante atualmente). Conversei com vários pneumologistas na época e todos me incentivaram bastante! Fiz a prova e fiquei mais 2 anos no Hospital Universitário. Comparativa-mente à residência de Clínica Médica, Pneumologia é bem mais tran-quilo no que diz respeito ao número de plantões (Emergência e An-dar – enfermaria) e carga horária total. No primeiro ano, as manhãs

eram na enfermaria (10-12 pacientes da Pneumo + pareceres do hospital todo) e as tardes nos ambulatórios (doenças intersti-ciais pulmonares, hipertensão pulmonar e ambulatório geral). O pneumologista, em geral, também gosta bastante de Radiolo-gia, então tínhamos semanalmente um en-contro entre Pneumo – Radio – Patologia e discutíamos casos interessantes engloban-do as três especialidades. No segundo ano, as manhãs eram nos estágios (Radiologia de tórax, Laboratório de função pulmonar básica e avançada, Sono, UTI), e aprenden-do a realizar broncoscopia e, as tardes no ambulatório. Gostei bastante da residência e gosto cada dia um pouco mais da mi-nha especialidade, afinal: “Respiramos sem nos darmos conta, até que falte oxigênio” adaptado de Daltri Barros.

Desafio do balde de gelo faz sucesso na internet

A campanha que foi criada pela ALS Associa-tion (associação que financia pesquisas dedica-das a encontrar uma cura para doença), tinha como objetivo de arrecadar doações para insti-tuições ligadas à ELA (esclerose lateral amiotró-fica). O desafio do balde de gelo já arrecadou mais de US$ 100 milhões, segundo os organiza-dores. ELA é uma doença neurodegenerativa de caráter progressivo e fatal, que afeta os neurô-nios motores, não prejudicando a sensibilidade nem a capacidade cognitiva do indivíduo.

Radiação de celular causa danos hepáticos em roedores

Segundo estudo realizado no Laboratório de Biologia Celular e Molecular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a exposição à radiação de telefones celulares provocou dano hepático em roedoras grávidas. Foi desenvolvi-do um método que os celulares (que estavam dentro das gaiolas blindadas dos roedores) fos-sem acionados ao mesmo tempo, com a mes-ma frequência, e então era medida a radiação no local para verificar se ela realmente estava sendo emitida. Após 5 dias de experimentos os animais foram eutanasiados e tiveram fígado e sangue avaliados, e então concluíram que havia índices de toxicidade para o fígado. A bióloga responsável pela pesquisa, Tatianne Rosa dos Santos, explicou que os dados são preliminares e que não se pode concluir que, em seres huma-nos os efeitos da radiação seriam os mesmos.

ZMapp: nova versão da droga experimen-tal obteve 100% de eficiência contra ebolaA droga experimental curou 18 macacos infec-

tados com o vírus, inclusive os que estavam per-to do óbito, obtendo resultado de 100% de cura em sua última pesquisa. Uma versão anterior do ZMapp foi utilizada em dois trabalhadores ame-ricanos que contraíram o ebola na Libéria, mas os médicos ainda não conseguem afirmar se o medicamento realmente ajudou, já que um mé-dico e um padre receberam a medicação que não fez efeito. O ZMapp é uma mistura de três anticorpos que se prendem às proteínas do ví-rus do ebola então ativando o sistema imuno-lógico para que este o destrua. Não há vacinas ou tratamento para o ebola, mas em algumas semanas serão iniciados testes de segurança de algumas empresas farmacêuticas.

Cláudia Theis, 4op

BATE- BOLA

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“Timóteo Oligúria é estudante dos últimos períodos de me-dicina. O verde pistache do

uniforme hospitalar samba nos pas-sos do seu caminhar: Acadêmicos da Med, enredo que embala suas manhãs/tardes/algumas noites até. O tipo esguio – longilíneo, como aprendeu em semiologia – faz com que pareça, dentro da larga roupa, que brigam dois Timóteos a cada movimento. Ao vencedor, a gola. Talvez a única parte estreita da ves-timenta. Entre um balaio e outro, o sono atrasado, nosso herói se en-contrava de plantão no centro ob-stétrico. Uma pequena olhadela pra ficha de consulta, enquanto ajeitava os equipamentos necessários a um atendimento de rotina. Era um nome difícil, foram necessárias mais duas espiadas para acerta. Com algumas palavras, Timóteo derreteu o gelo do momento, mais uma vez conferin-do a ficha, desta vez para confirmar um dado que pensou ter lido erra-do* “15 anos..” mentalizou. “com 15

anos eu ainda..” antes que sua mente fosse povoada de lembranças nostál-gicas de quaisquer naturezas, permi-tiu se cortar com algumas palavras.: -Então.. em casa, quem está mais ansioso? - Ah, acho que sou eu – respondeu a mãezinha, com um sorriso orgul-hoso pela vontade de sua condição. - Coisa boa, né? – esparrama um pouco de gel na ponta do sonar. - É, é sim!! – aprova com um sorriso. E quantos anos tem seu parceiro? Imagi-no que ele também deva estar ansioso.e - Ele tem 25. Está quase igual eu! - Pri-meiro filho, né. Sim sim! Eu imagino! - E, assim, foi planejado? Vocês já esperavam? – um som se interpôs entre a conversa. Como um barul-ho de chicote, o sonar desenhava no ar ondas audíveis oriundas da placenta. Escorregando a ponteira lambuzada em gel, Timóteo busca-va o galope dos batimentos fetais. - Foi, foi sim! – um breve silêncio preencheu o ar, tornando abafado até mesmo o som, agora mais nítido, de

um coração ainda virgem de angús-tias – sabe que... essa vida de casa-da – em uma calma sobreposição, Timóteo não deixou de arguir, como que pra enfatizar atenção até aquele momento: “ah, mas então vocês são casados”. Calmamente, a meni-na anuiu com um leve menear da cabeça, prosseguindo ao seu discur-so: essa vida de casada, então, não é muito fácil. É meio sozinho, ainda mais agora que ele tá trabalhando.. e ele queria me dar uma companhia. Eu queria um cachorrinho, alguém pra poder brincar. E aí a gente de-cidiu que não podia ser melhor hora. Timóteo posicionou a fita métrica na sínfise púbica da paciente com a mão direita, a esquerda escor-regou em direção cranial até o fun-do uterino; rente ao corpo, contando centímetro por centímetro. Termi-nou de examinar e fazer suas ano-tações. A paciente foi liberada com orientações. Falso trabalho de parto. Timóteo nasceu de novo.”

Quanto pesa um estetoscópio?Facilmente alguns responderiam que

seu peso é de aproximadamente 120g, porém poucos saberiam explicar sobre o peso que realmente me refiro, aquele que passa de 120g sobre seus om-bros, aquele que te torna responsável por vidas e carregado de cobranças, exigên-cias e inaceitavelmente passível de erros.

Ao pensarmos em médicos (até mes-mo nós, antes de ingressarmos no curso de medicina), os imaginamos como semi Deuses (ou coisa que o valha), que estão disponíveis para o trabalho a qualquer momento, que não precisam comer ou não têm fadiga e que principalmente não cometem erros, mantendo seus pa-cientes livres das imperfeições humanas.

Certamente na maior parte do tempo os médicos estão rodeados de acertos e diagnósticos indubitáveis, estão dispos-tos e dedicados ao trabalho de maneira ética, porém pequenos erros acontecem frequentemente e estão constantemen-te sendo corrigidos, aliviando o peso que o jaleco branco e o estetoscó-pio no pescoço lhes proporcionam.

Em algum momento de nossas carreiras lamentavelmente seremos iatrogênicos, porém esse peso é aliviado ao deixar-mos de lado a negligência, a imperícia e

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Fernando Chong - 11º p.

JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

a imprudência. Mas e nós, ainda acadê-micos, rodeados de insegurança, o que faremos com o peso de nossos jalecos brancos que nutre nosso ego ao cami-nharmos pelos corredores do hospital?

A mim, a nós, cabe adquirir “horas de voo” (com a licença da Professora Deni-se Viuniski Nova Cruz, atrevo-me fazer uso da analogia mencionada por ela), nos dedicarmos as horas nas salas de

aula, as horas nos hospitais e ainda ab-dicar das horas de folga, para mais horas de aprendizado, esse é o único jeito que nos tornaremos médicos seguros. Essas “horas de voo” nos afastarão da iatroge-nia, nos direcionará a correção dos er-ros e fará dos nossos estetoscópios ob-jetos mais leves. E será isso talvez, que afastará o medo de em algum momento deixa-lo cair, por achar pesado demais.

Itajaí, setembro de 2014

Carla Ribas, 4o p.

Eu parto

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Carla Ribas, 4o p.

13Itajaí, setembro de 2014

A difícil relação entre médicos e planos de saúde na atualidade

No período de férias costumo retornar a minha cidade que tem em média 140.000 habitantes e como grande parte dos alunos de medicina, costumo

aproveitar o tempo livre e acompanhar alguns serviçoes médicos, assistindo cirurgias e passando visitas em pacientes internados. São experiências que nos proporcionam aprendizado extra, aquele que muitas vezes nos falta no início do curso. No entanto, em alguns diálogos que presenciei nos corredores e cafés dos hospitais, aprendi algo incomum e que embora pareça insignificante pode interferir fortemente na vida do médico depois de formado: a relação desses profissionais com os planos de saúde. Já havia lido acerca das dificuldades financeiras do plano de saúde com maior número de vidas da minha região. Perguntei a um médico conhecido o motivo. Um único exemplo foi suficiente para esclarecer este fato. Por exemplo, todos sabemos que não é tão simples mas, generalizando, se tivermos um paciente com dor no estômago qual seria a conduta? Fazer a anamnese, exame físico e se indicado receitar um inibidor de bomba de prótons e monitorar o quadro clínico em 30 dias. No caso da dor não amenizar poder-se-ia recorrer a exames mais complexos e caros como um endoscopia digestiva alta. Ouvi que alguns médicos já indicavam esta endoscopia na primeira consulta, às vezes, inclusive acresecentando ecografia abdominal. Muitas vezes estes exames são realizados na própria clínica do médico (exame auto-gerado). Em outra situação, agora pessoal, de litíase reno-ureteral, durante uma consulta com um urologista, uma ressonância magnética foi-me solicitada como exame diagnóstico inicial. No entanto, ao realizar uma nova avaliação com um segundo especialista, meu problema pode ser solucionado com um simples raio-x de abdôme.Sabemos que as empresas dos planos de saúde pagam valores irrisórios pelos serviços médicos, os quais não são proporcionais à responsabilidade e conhecimento técnico que a profissâo demanda para que o direito universal à saúde seja garantido à população. Qual seria o real motivo da baixa remuneração médica? A resposta não se restringe à lucratividade das operadoras de saúde e sim, também, aos crescentes gastos com exames complementares e procedimentos inapropriados para o caso do paciente. Exemplos disso são: cirurgiões que adicionam códigos de procedimentos que não foram realizados e profissionais que por falta de treinamento e adequada avaliação clínica do paciente, passam a solicitar exames mal indicados e onerosos. Em suma, o maior plano de saúde da cidade está financeiramente comprometido, descredenciando vários médicos e clínicas de diagnóstico por imagem por excesso de gastos e postura ética inadequada.Por outro lado, sabe-se que o Brasil possui uma medicina de ponta e muitos médicos de alta qualidade e conduta inquestionável. Contudo, alguns profissionais acabam prejudicando a imagem da classe de forma geral por não preencherem estes requisitos de qualidade técnica e conduta ética. Faltam, nas faculdades de medicina, disciplinas que conscientizem os acadêmicos sobre gastos financeiros bem como um direcionamento maior à semiologia médica e consequente humanização do atendimento do paciente. Na minha cidade de origem 90% da população conta com a assistência de planos de saúde devido ao caráter industrial da cidade, que fornece a assistência de saúde através das operadoras locais. Assim percebe-se, que, se os planos de saúde iniciarem um descredenciamento em massa desses médicos, para corte de gastos, haverá duas alternativas: SUS ou atendimento particular, o que poderá nao ser suficiente para garantir a estabilidade financeira destes profissionais da saúde.

Adriel Barbi - 4ºp.

Fala moçada! Aqui é o Alexandre do sétimo período e novo presidente da Associação Atlética Acadêmica Odemari Miranda Ferrari (AAAOMF). Para quem está chegando agora e ainda não conhece, a Atlética foi fundada em 10 de maio de 2004, sendo a primeira Atlética de Medicina do sul do Brasil, completando nesse ano, portanto, 10 anos de história! Ela é responsável pela integração entre os estudantes, seja através de eventos esportivos, festas e diversos outros. Nessa nova gestão, a Atlética visará a prática esportiva, sendo o evento foco o INTERMED 2015. Treinos das modalidades e ensaios da CAVOCA –Bateria da Medicina Itajaí – estarão acontecendo ao longo do ano para todos os interessados. Também será resgatada a lojinha da atlética, com produtos sendo disponibilizados - camisetas, moletons, canecas, adesivos e chaveiros personalizados - para mostrar uma união dentro do nosso curso ainda maior! Trabalharemos com transparência, sendo que nossas contas estarão à disposição para quem quiser tirar qualquer dúvida.

Nos esbarramos pelos corredores, um grande abraço!

Atlética Medicina ItajaíGestão 2014/2015

Caixa inicial R$ 1078,25 (10/08/2014)Presidência: Alexandre Goularte da Silva

Vice-Presidência: Guilherme KrigerTesouraria: Aline Marin Bresolini

Secretário Geral: Hiann KleisDiretoria Técnica: Bruno Holz

Diretoria de Marketing e Eventos: Renan Taborda

Diretoria do Departamento do Patrimônio: Felipe Carneiro de Oliveira

Recado daAtlética!

Page 14: Hipocampo setembro 8ª edição

Update: Venezuela

QuestõesResidênciamédica

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JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

Itajaí, setembro de 2014

A Venezuela é um lugar lindo, com diversas oportunidades

não aproveitadas e um povo sofrido. Não parece muito diferente do Brasil? Eu pensava isso daqui, mas de certa maneira hoje vejo que reclamamos de barriga cheia. Ao chegar na Venezuela a sensação já não é boa, cerca de 50 soldados da Guardia Nacional, uma espécie de sub-exército, estão na saída do aeroporto. Todos bem armados e com nenhuma simpatia. Os poucos minutos aguardando ali deu para ver o quanto eles impõem suas vontades perante a população e que o suborno acontece com freqüência.

Militarização, Câmbio e Golpe Para entender esse Chavismo sem Chavez, como eles mesmos falam por lá, deve entender o principal pilar de sustentação do regime. Há diversas forças policiais e militares, todas com grande força perante os demais cidadãos. Contudo há dois grupos principais, a Guardia e o Exército. A remuneração militar é alta, cerca de BvS. 30.000(trinta mil bolívares) para um soldado. Segundo câmbio oficial: R$10.638,29. Em termos práticos não passa de R$1100,00. O salário mínimo venezuelano é 10 vezes menor que o salário de um soldado, que não necessita nenhuma formação acadêmica. Após dois anos de serviço no exército, o soldado é premiado com um carro(Chinês, Cherry preferencialmente). Com tantas regalias por que se opor a Nicolas Maduro? Como dito anteriormente, o câmbio oficial é um e nas ruas, outro. Oficialmente R$1,00 é capaz de comprar BvS. 2,82; contudo nas ruas você consegue trocar 1 para 28. O mesmo vale para o dólar, que oficialmente não passa de 7 bolívares e nas ruas chega a valer 80 bolívares. Isso se deve a falta de dólar nos cofres públicos, que muito impede transações internacionais. Com isso a população tem a compra de dóla restringida: lei de oferta e procura. O dólar se tornou escasso nos últimos 3 ou 4 anos e nas ruas ele está supervalorizado. Sim, eu pensei no golpe também. Comprar 1000 dólares aqui no Brasil(por volta de 2400 reais), trocar em bolívares nas ruas. Teria cerca de 80.000 bolívares nas mãos. Poderia então trocar por real em uma casa de câmbio. Seria cerca de 28.000 reais, segundo o câmbio

oficial. Pois é, mas casas de câmbio não vendem moedas estrangeiras na Venezuela para estrangeiros. Mesmo para um venezuelano o valor máximo de transação seria 10.000 bolívares. No Brasil, as casas de câmbio não compra bolívares, a menos que você tenha comprado deles antes. E no câmbio negro brasileiro é uma moeda sem expressão. Petróleo, ouro, diamantes e outras riquezas Outro pilar de sustentação do regime é o petróleo. Do qual o governo venezuelano viveu por muito tempo. Antes de Chavez os EUA eram o principal cliente venezuelano; chegando ao poder Chavez declarou guerra ao imperialismo, mas jamais deixou de Vender petróleo ao Tio Sam. Contudo a China virou grande parceiro comercial, e hoje boa parte do petróleo tem como destino a China. Em resposta as nacionalizações os EUA diminuíram em muito a entrada de bens de consumo na Venezuela. Mas com petróleo sobrando a Venezuela acabou negociando com a China a entrada de bens de consumo em troca de produtos de base: petróleo, alumínio, aço e etc. Resumindo: você não acha produtos de marcas americanas, e sobra marcas chinesas. Você não acha por exemplo Gilete nos mercados, e quando acha uma concorrente: é chinesa. Quando fui comprar o xampu da Pantene, tinha restrição de uma unidade para estrangeiros e duas para venezuelanos. Como os bens de consumo rápido estão escassos ou a preços elevados o governo subsidia a gasolina. Com BvS. 3,00 você enche o tanque de seu carro, e meio litro de água sai 5 vezes o valor de um tanque de gasolina. GNV é gratuito, você apenas dá gorjetas ao frentista. Quanto ao alumínio, é proibido vender alumínio bruto; exceto para a China. O preço do KG do alumínio no Brasil hoje está próximo a 8 reais, quando na Venezuela não passa de 3 reais. O alumínio produzido aqui alimenta uma indústria nanica e é dada de graça aos chineses. Há fundições(produtoras de alumínio bruto) comandadas por chineses. O pais desperdiça suas riquezas para se manter “socialista”. Já o ouro é explorado apenas pelo governo; oficialmente. O mercado negro detém 90% do ouro explorado, o mesmo ocorrendo com os diamantes. Em duas semanas, recebi três propostas para compra de ouro e uma para compra

de diamantes. Ou seja, o petróleo é dado aos chineses e não vale nada no próprio pais. O alumínio, ferros e o aço tem como destino a China, em troca dos bens de consumo de baixa qualidade. O ouro e o diamante correm no mercado negro, e estão sob controle do exército. As riquezas venezuelanas desaparecem da mesma forma que a esperança do povo.

Saúde O sistema de saúde é baseado na atenção primária, com foco na família e na comunidade. “É o velho papinho comunista do PT e de Cuba”; que tem boa funcionalidade. Assim como o Brasil, a Venezuela tem recebido médicos Cubanos para suprir a falta de médicos - que na Venezuela é real. Estive em um posto médico, que se assemelha as nossas UBS’s, contudo a questão sanitária é muito mais prezada. Mesmo carecendo de alta tecnologia a arquitetura do posto médico é pensada para se evitar doenças. Não há cantos ou “quinas”, obviamente para se evitar a deposição de sujeira e microrganismos. Os postos médicos contam com tudo aquilo que um ambulatório necessita para um bom atendimento. A atenção secundária e terciária é que carece de investimentos. Os hospitais públicos possuem pouca estrutura, e possuem filas enormes. Já o atendimento privado é excelente. Tanto ambulatorialmente quanto na esfera hospitalar. Os custos são baixos, para os venezuelanos e baixíssimos para os brasileiros. Não a toa muitos brasileiros da região norte optam por realizar procedimentos eletivos na Venezuela. Alia-se o turismo ao tratamento médico. Curiosamente os médicos não marcam hora em seus consultórios, o atendimento é por ordem de chegada. Um ponto negativo é a falta de remédios no comércio, já que o governo desvia as cargas para suprir o sistema público. Na prática falta remédios de primeira linha nas farmácias, contudo os preços são baixos. Uma caixa de antibióticos não passa de 3 bolívares, seja qual classe for.

Opinião Não há sustentação para o regime venezuelano, sua economia está na UTI. A oposição está acuada, contudo os jovens serão maioria nas próximas eleições. Não há apenas erros e incoerências no país, mas a Venezuela necessita urgentemente atualizar-se frente a um mundo muito mais plural.

Guilherme Kriger, 6ºp.

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Itajaí, setembro de 2014 15

PALAVRAS-CRUZADAS

Across1) Incapacidade do coração de bombear sangue suficiente para suprir o organismo. 6) Nome de um instrumento de diérese. Existe em diversos tamanhos e curvaturas; 8) Conjunto de transformações que substâncias químicas sofrem no interior de um organismo vivo; 9) Normalmente constituídas de proteínas, essas substâncias tem função de catalisar e acelerar reações químicas;

Down2) Um dos principais fármacos para o tratamento da epilepsia. Possui interação medicamentosa com anticoncepcionais. 3) Projeção da espinha da escápula que se articula com a clavícula; 4) Válvula cardíaca localizada no lado direito; 5) Pressão do ventrículo esquerdo na parede torácica;7) Osso leve, esponjoso e situa-se na região anterior do crânio. A lâmina cribriforme faz parte desse osso.10) Acidente vascular cerebral;

RESPOSTAS: 1) IC 2) Carbamazepina 3) Acrômio 4) Tricúspide 5) IctusCordis 6) Metzenbaum 7) Etmóide 8) Metabolismo 9) Enzimas 10) AVC

Maria Carolina Patiño, 5ºp.

Page 16: Hipocampo setembro 8ª edição

JORNAL DA ESCOLA ITAJAIENSE DE MEDICINA

convites

A Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) promoverá, no período de 31 de outubro a 03 de novembro de 2014, o 52º CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MÉDICA (COBEM) em

Joinville, SC.O tema central “As Escolas Médicas como Transformadoras da

Sociedade” do COBEM 2014 foi escolhido conforme os anseios do público participante das atividades da ABEM.