Comportamento Humano no Trabalho
Florianpolis2010
Andra Martins AndujarFtima Regina Teixeira
Comportamento Humano no Trabalho
Andra Martins AndujarFtima Regina Teixeira
Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Florianpolis2010
2a edio - revista e atualizada1a reimpresso
A577c Andujar, Andra Martins Comportamento humano no trabalho / Andra Martins Andujar ; Ftima Regina Teixeira. 2. ed. rev. e atual. Florianpolis : Publicaes do IF-SC, 2010. 89 p. : il. ; 27,9 cm. Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-62798-35-1 1. Comportamento humano. 2. Motivao e percepo humana. 3. Comportamento humano contexto organizacional. I. Teixeira, Ftima Regina. II. Ttulo.
CDD: 658.3
Sistema de Bibliotecas Integradas do IF-SCBiblioteca Dr. Herclio Luz Campus FlorianpolisCatalogado por: Augiza Karla Boso CRB 14/1092
Elaine Santos da Silva CRB 14/1182
1a reimpresso - 2011
Copyright 2010, Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Santa Catarina / IF-SC. Todos os direitos reservados.A responsabilidade pelo contedo desta obra do(s) respectivo(s) autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Bra-sil, atravs do IF-SC. O leitor compromete-se a utilizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal. A reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos. O contedo desta obra poder ser citado em trabalhos acadmicos e/ou profissionais, desde que com a correta identificao da fonte. A cpia total ou parcial desta obra sem autorizao expressa do(s) autor(es) ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos 1o ao 3o, sem prejuzo das sanes cabveis espcie.
InSTITuTo FedeRAl deeduCAo, CInCIA e TeCnoloGIASAnTA CATArInA
Ficha tcnica
Organizao Andra Martins Andujar
Ftima Regina Teixeira
Comisso Editorial Paulo Roberto Weigmann
Dalton Luiz Lemos II
Coordenador do Curso Superior de Felipe Cantrio Soares
Tecnologia em Gesto Pblica
Coordenao de Produo Ana Paula Lckman
Produo e Design Instrucional Edson Burg
Capa, Projeto Grfico, Editorao Eletrnica Lucio Santos Baggio
Editorao Eletrnica Angelita Corra
reviso Gramatical Alcides Vieira de Almeida
Imagens Stock.XCHNG
Material produzido com recursos do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Sumrio
09 Apresentao
11 cones e legendas
13 unidade 1 Bases do comportamento humano
15 1.1 Comportamento humano e seus condicionantes
18 1.2 Personalidade e caractersticas do temperamento
35 unidade 2 A natureza da motivao humana
37 2.1 Origens da motivao humana
38 2.2 Conceituando motivao
40 2.3 A dinmica motivacional
47 unidade 3 A percepo humana
49 3.1 O estudo da percepo
51 3.2 Caractersticas da percepo
71 unidade 4 As emoes e o contexto organizacional
73 4.1 A compreenso das emoes e o seu gerenciamento
82 Consideraes finais
83 referncias
89 Sobre as autoras
Comportamento Humano no Trabalho - 9
Prezado estudante,
Esta unidade curricular vai proporcionar-lhe resposta para questes
do tipo:
Como formada a personalidade das pessoas? Quais os condicionan-
tes explicativos do comportamento humano? Por que os indivduos exer-
cem diferentes nveis de esforos em diferentes atividades? Como se pode
explicar que duas pessoas possam olhar para a mesma coisa e perceb-la
de forma diferente?
Essas questes proclamam um desafio: compreender o ser humano e
os fatores que influenciam o seu comportamento; ou, ainda: compreender o
comportamento humano e sua influncia nos resultados organizacionais.
Sem a pretenso de esgotar o tema, mas com a pretenso de fornecer-
lhe subsdios, os conhecimentos e as reflexes aqui apresentados vislum-
bram um (re)pensar e, em decorrncia, um novo olhar sobre aspectos do
comportamento humano.
desejvel que os elementos tericos aqui abordados sirvam de
trampolim para um competente diagnstico das questes interpessoais nos
ambientes organizacionais.
Bom aproveitamento!
Prof Andra Martins Andujar
Apresentao
10 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Comportamento Humano no Trabalho - 11
cones e legendas
GlossrioA presena deste cone representa a explicao de um termo utilizado durante o
texto da unidade.
lembre-seA presena deste cone ao lado do texto indicar que naquele trecho demarcado
deve ser enfatizada a compreenso do estudante.
Saiba maisO professor colocar este item na coluna de indexao sempre que sugerir ao
estudante um texto complementar ou acrescentar uma informao importante
sobre o assunto que faz parte da unidade.
link de hipertextoSe no texto da unidade aparecer uma palavra grifada em cor, acompanhada do cone da seta, no espao lateral da pgina, ser apresentado um contedo especfico relativo expresso
destacada.
destaqueparalelo
destaque de texto
A presena do retngulo com fundo colorido indicar trechos im-
portantes do texto, destacados para maior fixao do contedo.
O texto apresentado neste
tipo de box pode conter
qualquer tipo de informao
relevante e pode vir ou no
acompanhado por um dos
cones ao lado.
Assim, dessa forma, sero
apresentados os conte-
dos relacionados palavra
destacada.
Para refletirQuando o autor desejar que o estudante responda a um questionamento ou realize
uma atividade de aproximao do contexto no qual vive ou participa.
1unidade
Bases do comportamento humano
14 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Ao final desta unidade, voc entender o que significa perso-nalidade, conhecer as suas dimenses, suas caractersticas e as principais teorias associadas ao seu estudo, e, ainda, conscientizar-se- de que as diferenas individuais influen-ciam significativamente no contexto organizacional.
Competncias
Comportamento Humano no Trabalho - 15
1 Bases do comportamento humano
1.1 Comportamento humano e seus condicionantes
O interesse sobre o comportamento das pessoas no ambiente de
trabalho remonta ao cenrio das teorias da administrao: a administrao
cientfica, tendo como base a concepo do homo economicus, postulava
que o comportamento das pessoas era motivado apenas pela recompen-
sa salarial e material do trabalho. Essa viso mudou com a experincia de
Hawthorne, desenvolvida por Elton Mayo e sua equipe.
As descobertas-chave dos estudos de Hawthorne foram as seguintes
(DUBrIn, 2006; CHIAVEnATO, 2004):
O comportamento das pessoas no ambiente de trabalho conse-
quncia no apenas de fatores econmicos, mas tambm de fatores
psicolgicos, pois os trabalhadores so dotados de sentimentos,
emoes, desejos e temores.
Lidar com os problemas humanos complicado e desafiador.
Quanto maior a integrao social no grupo de trabalho, tanto maior
a disposio de produzir.
Problemas pessoais podem influenciar fortemente a produtividade
do empregado.
As pessoas so motivadas pela necessidade de reconhecimento, de
aprovao social e participao nas atividades dos grupos sociais
nos quais convivem.
Comunicao eficaz com os empregados fator indispensvel para
o sucesso administrativo.
O comportamento das pessoas influenciado pelas atitudes e nor-
mas informais existentes nos grupos dos quais participam.
Georges Elton Mayo
(1880 - 1949): Socilogo
australiano, um dos funda-
dores e principais expoentes
da sociologia industrial dos
EUA. Formou-se em Me-
dicina na Universidade de
Adelaide, trabalhou na frica
e lecionou na Universidade
de Queensland. Ainda na
Austrlia, estudou as socieda-
des aborgines, que o tornam
sensvel s mltiplas dimen-
ses da natureza humana.
Durante a Primeira Guerra
Mundial, trabalhou na anlise
psicolgica de soldados em
estado de choque.
Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Elton_Mayo (2008)
16 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
O movimento das relaes Humanas enraza-se, ento, na crena de
que trabalhadores satisfeitos seriam trabalhadores mais produtivos. Desse
modo, o desafio para os gerentes era reconhecer as necessidades dos
trabalhadores e a influncia que os grupos de trabalho podem ter sobre a
produtividade individual e organizacional.
A Abordagem Comportamental, tambm conhecida como Teoria
Behaviorista, representa um desdobramento da Teoria das Relaes
Humanas e concebe o comportamento como a maneira pela qual um
indivduo age ou reage em suas interaes. A respeito da natureza e das
caractersticas do ser humano, devem-se levar em considerao, segundo
essa teoria que (CHIAVEnATO, 2004):
o homem um animal social dotado de necessidades: o homem
desenvolve relacionamentos cooperativos e interdependentes que
o levam a viver em grupos;
o ser humano dotado de um sistema psquico: processos afetivos,
emocionais e de raciocnio formam a personalidade de cada pessoa e seu
modo de perceber e de posicionar-se frente s vrias situaes da vida;
o homem tem capacidade de articular a linguagem com o
raciocnio abstrato: o homem tem capacidade de abstrao da
realidade e de comunicao com as outras pessoas;
o ser humano dotado de aptido para aprender: aprender
um fenmeno de transformao que permite ao homem adaptar-se
s mudanas que ocorrem no ambiente. Por meio da aprendizagem
adquirem-se novas formas de conduta que se entrelaam com os
comportamentos inatos;
o comportamento humano orientado para objetivos: sub-
jacente a todo comportamento, existe sempre um impulso, um
desejo, uma necessidade, uma tendncia, expresses que servem
para designar os motivos do comportamento;
o homem caracteriza-se por um padro dual de comportamen-
to: o ser humano coopera e compete.
na dcada de 1970, reafirmando a importncia do enfoque humanista
na organizao, surge a Teoria Contingencial que encoraja os gerentes a
Comportamento Humano no Trabalho - 17
prestarem ateno s diferenas individuais e situacionais, as quais interferem
no desempenho das tarefas.
Portanto, compreender as diferenas individuais ajuda a explicar o
comportamento humano. no obstante, as influncias ambientais tambm
so importantes e da deriva a equao:
C = f (P x A), onde:
C representa comportamento;
P representa pessoa; e
A representa o ambiente.
O comportamento de uma pessoa se d em funo de dois fatores: a realidade externa e a sua reali-dade interna. Por realidade externa entende-se o ambiente onde a pessoa se encontra. Isso quer dizer que nossos comportamentos no so inde-pendentes do ambiente onde nos encontramos; ao contrrio, so bastante influenciados por ele. O ambiente nos fornece uma srie de estmulos e gatilhos. Por realidade interna entende-se tudo o que no podemos perceber pelos sentidos e s sa-bemos quando se transforma em comportamento. a parte invisvel, mas que influencia diretamente o comportamento (WANDERLEY, 1998).
Esses fatores subjetivos que fazem parte do mundo interno de cada ser dizem respeito percepo, ex-pectativas, sentimentos, emoes, desejos, valores, conhecimentos, experincias, pressupostos que cada um tem sobre si mesmo, sobre o outro e sobre
o contexto, modelos mentais e necessidades que, em conjunto, determinam a forma de cada pessoa perceber, pensar, sentir e agir nos contextos em que esto inseridas (LEMOS, 2002).
Modelos mentais: so
imagens, pressupostos e
histrias que trazemos em
nossas mentes, acerca de
ns mesmos, de outras
pessoas, de instituies e
de todos os aspectos do
mundo. Diferenas entre
modelos mentais explicam
por que duas pessoas po-
dem observar o mesmo
acontecimento e descrev-
lo de forma diferente; elas
esto prestando ateno
a detalhes diferentes. Os
modelos mentais tambm
determinam a nossa forma
de agir.
18 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Compreender que o comportamento determinado por fatores inter-
nos do mundo subjetivo de cada pessoa e que sofre influncia do ambiente
remete a uma reflexo: alm da importncia que deve ser dada ao compor-
tamento expresso, deve-se compreender que motivos o impulsiona.
1.2 Personalidade e caractersticas do temperamento
A palavra personalidade deriva-se do latim persona, que significa
mscara (usada no teatro), aquilo que parecemos aos outros. A aparncia
externa. Mas, no s isso que queremos dizer quando nos reportamos
personalidade de uma pessoa.
A personalidade refere-se marca da pessoa, quilo que a identifica. Inclui aspectos intelectuais, afetivos, impulsivos, volitivos, fisiolgicos e morfolgicos; uma forma de responder aos estmulos e s circunstncias da vida com um selo peculiar que d como resultado o comportamento (CORBELLA apud SOTO, 2002).
A personalidade nada mais do que a organizao dinmica dos traos
no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos,
das existncias singulares que suportamos e das percepes individuais que
temos do mundo, capazes de tornar cada indivduo nico em sua maneira
de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLOnE, 2003).
As principais dimenses da personalidade so:
dimenso fsica: refere-se constituio individual resultante da
herana gentica e das foras do meio;
dimenso do carter: compreende o conjunto de caractersticas que
se fazem necessrias para a pessoa adaptar-se ao meio em que vive. So
traos de carter a honradez, a honestidade, a sinceridade, dentre outros,
resultantes do meio e da cultura em que o indivduo est inserido;
dimenso subjetiva: corresponde aos interesses, aos ideais, aos
desejos e aspiraes, como tambm inteligncia e s aptides
especficas. Inclui o mundo subjetivo e ntimo de cada pessoa;
Volitivos: que provm da
volio, ou seja, ao de
escolher ou decidir. Capa-
cidade baseada na conduta
consciente, de se decidir por
certa orientao ou certo
tipo de conduta em funo
de motivaes. Fonte: Hou-
aiss (2001).
Carter: origina-se do gre-
go charakter, que significa
sinal, marca. Corresponde
aos aspetos gravados no
psiquismo do indivduo.
Portanto, conhecer o carter
de um indivduo significa
conhecer a forma como a
pessoa se mostra e se revela,
por meio de suas atitudes e
de seu padro consistente
de respostas para as vrias
situaes da vida.
Comportamento Humano no Trabalho - 19
dimenso do temperamento: corresponde s predisposies inatas,
decorrentes da estrutura do sistema nervoso e das glndulas de secreo
interna, expressas pelas atitudes tomadas diante das situaes da vida.
o temperamento o jeito de ser de cada um - que faz com que em
dada ocasio as pessoas reajam de modos diferentes.
Voc sabia que muito difcil encontrar um indivduo que tenha um
temperamento padro, ou seja, nico? normalmente, as pessoas tm
temperamentos misturados, contudo existe um tipo predominante.
Segundo Hipcrates, mdico e filsofo grego, existem quatro tipos
de temperamentos: colrico, sanguneo, melanclico e fleumtico. Vejamos
cada um deles:
Colrico: excita-se imediatamente e com veemncia a qualquer acon-
tecimento. reage violentamente e a impresso gravada em seu ps-
quico permanece por longo tempo. uma personalidade combativa.
Manifestam-se nele a aspirao e grandeza, o herosmo e a perfeio.
Despreza o comum e resoluto em seus empreendimentos. Encontra
prazer em superar obstculos, pois as dificuldades s fazem aumentar
a vontade de vencer. Faz tudo com rapidez, aplicao e ordem; fala
rpido e no aguenta ficar sem fazer nada. Tem inteligncia penetrante
e raciocnio seguro. dado a grandes paixes e no tolera a covardia
ou qualquer espcie de inferioridade. talhado para ser lder. Seu
desejo mandar organizar e dirigir grandes movimentos populares.
Tem estima de si mesmo e de suas qualidades pessoais. Justifica e
julga dignas de aprovao as prprias falhas. Acha que est sempre
com a razo, no gosta de que o contradigam e quer ter sempre a
ltima palavra. ambicioso e autoritrio e rejeita o auxlio dos outros.
Empenha-se em diminuir e perseguir os que se atravessam em seu
caminho. Sente-se ferido profundamente quando envergonhado ou
humilhado. Tem tambm como ponto fraco a ira. Por vezes, conduzi-
do ao furor e ao dio. Pode fazer recriminao injusta e interpretar mal
as intenes do outro. Jamais esquece as ofensas. Permanece, muitas
Temperamento: a palavra
tem sua origem no latim
temperamentum que sig-
nifica medida. Representa a
peculiaridade e intensidade
individual dos afetos psqui-
cos e da estrutura dominan-
te de humor e motivao
(VOLPI, 2008).
20 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
vezes, indiferente diante dos que sofrem e no vacila em espezinhar
a felicidade alheia.
Sanguneo: impressiona-se rapidamente e sua reao instantnea.
A superficialidade uma das suas caractersticas mais marcantes, por
isso suas impresses no duram muito tempo. A vida do sanguneo
se resume quase que exclusivamente aos sentidos. no tem facilida-
de para estudos, nem poder de concentrao. , antes de qualquer
coisa, inconstante: das lgrimas passa ao riso com a maior facilidade.
O mesmo ocorre com suas opinies. Por qualquer motivo abandona
seus propsitos. Sua afetividade aflorada, por isso muito inclinado
dedicao ao prximo. Os interesses do sanguneo fixam-se de pre-
ferncia nos objetivos exteriores. D ateno elegncia no vestir,
ordem na casa e polidez no trato. Fala com vivacidade e facilidade,
gosta de ver e ouvir e emitir opinies em todos os assuntos. otimista,
no liga muito para as dificuldades e confia no sucesso. Consola-se
facilmente quando fracassa. Gosta de pregar peas e julga que to-
dos tm que suportar suas brincadeiras. Procura afastar-se do que
pode entristec-lo e no dado a grandes paixes. A vaidade um
defeito capital. Gosta muito de exibir-se, narcisista. nada o faz mais
feliz do que receber elogios. o sanguneo, muito inclinado inveja
e ao cime. Procura sempre as companhias que mais o promovam.
Aborrece-lhe tudo o que exige esforo e gozar a vida seu lema.
Melanclico: os acontecimentos exteriores no impressionam
muito um indivduo de temperamento melanclico. Ama a solido
e gosta de trancar-se dentro de si e fugir do barulho do mundo.
no inclinado a observar pessoas, nem a saudar os amigos na rua.
Considera o mundo e seus acontecimentos de modo
pessimista. A saudade uma disposio constante de
seu estado de esprito. reservado e tem pouco poder
de comunicao, mas considera-se feliz quando encon-
tra algum que o saiba ouvir e compreend-lo. Gosta
de adiar as decises por temer o fracasso. o homem
das oportunidades perdidas. desanimado e abdica
facilmente das dificuldades. Tem como pontos fortes
Comportamento Humano no Trabalho - 21
a afetividade e a reflexo. Sempre volta a considerar o passado e
busca a explicao dos fatos at as ltimas causas. Seu corao
est sempre cheio de afetos e desejos indefinveis, contudo no os
deixa transparecer.
Fleumtico: se impressiona pouco e reage pouco ou nada. Se
alguma impresso fica, de pouca durao. Tem forte dose de
afetividade, mas no gosta de demonstr-la. o temperamento da
lentido. Seu desinteresse pelas coisas que acontecem ao seu redor
quase completo. Trabalha morosamente, mas com assiduidade e
constncia. no se perturba, nem se irrita com facilidade. no se
preocupa em organizar sua vida, nem em organizar suas atividades.
Pode ser levado a excessos na comida e na bebida, pois sua vontade
fraca. no entanto, geralmente permanece tranquilo e discreto
em seu canto. dotado de inteligncia com propenso anlise,
reflexo e crtica. Gosta de trabalhos cientficos que exigem pa-
cincia e longas investigaes. Sua memria bem desenvolvida.
A sensibilidade lenta e mesmo tendo bom corao, faltam-lhe
entusiasmo e coragem para expandir-se. Evita mudanas repentinas
e facilmente pode tornar-se um tipo egosta. no raro, comporta-se
como adolescente, embora seja adulto.
O temperamento biologicamente determinado, no aprendido, nem
pode ser educado; apenas pode ser abrandado em sua maneira de ser.
O carter o conjunto de reaes e hbitos de comportamento
que vo sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo
individual de cada pessoa.
Strelau e Angleitner (apud VOLPI, 2008) elencam algumas caracters-
ticas que diferenciam o temperamento da personalidade. Veja:
1. O temperamento inato e faz parte da personalidade que produto
tambm do ambiente social.
2. Caractersticas do temperamento podem ser identificadas desde
cedo, na infncia; ao passo que a personalidade moldada durante
os perodos do desenvolvimento infantil.
22 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
3. Diferenas individuais com caractersticas temperamentais como
ansiedade, extroverso e introverso tambm so observadas em ani-
mais; ao passo que personalidade prerrogativa de seres humanos.
1.2.1 Caractersticas da personalidadeno estudo da personalidade, trs caractersticas distintas so de impor-
tncia central (SCHIFFMAn; KAnUK, 2000): a personalidade reflete diferenas
individuais; constante e duradoura e evolui. Veja:
a personalidade reflete diferenas individuais: a personalidade
uma varivel individual que permite identificar o indivduo como
ser nico e distinto. Determina os seus modelos de comportamen-
to, incluem as interaes dos estados de nimo, atitudes, motivos
e mtodos, de modo que cada pessoa responde de forma distinta
s mesmas situaes.
a personalidade constante e duradoura: em situaes variadas,
por meio de diferentes formas comportamentais, encontram-se
subjacentes uma ou mais tendncias pessoais peculiares, atravs
das quais a pessoa reconhecida.
a personalidade evolui: a personalidade desenvolve-se e diferen-
cia-se sem alterar essencialmente a singularidade de seu ser.
1.2.2 Teorias da personalidadeExistem mltiplas correntes de pensamento que realam determinados as-
pectos concretos da personalidade e que buscam a explicao do comportamento
humano. Tais correntes ou abordagens sob alguns aspectos se convergem e, em
outros, podem ser conflitantes, mas todas elas servem como ponto de partida para
o avano da investigao cientfica. Trataremos aqui de algumas delas.
o enfoque PsicanalticoA psicanlise foi o primeiro enfoque formal do estudo da personalida-
de. Cabe a Sigmund Freud o mrito de ter estabelecido as bases cientficas
dessa compreenso.
Segundo Freud, a personalidade est dividida em trs nveis: cons-
ciente, inconsciente e pr-consciente:
S i g m u n d
Freud (1856-
1939) nasceu
em Freiberg,
na Moravia.
considerado o pai da psica-
nlise, mtodo de tratamen-
to psquico e de investigao
dos processos mentais in-
conscientes. Estudou me-
dicina na Universidade de
Viena e se especializou em
neurologia. Seus estudos
foram os pioneiros acerca
do inconsciente humano e
das motivaes do compor-
tamento. O pensamento de
Freud est principalmente
em trs obras: Interpretao
dos Sonhos, Psicopatologia
da Vida Cotidiana e Trs
Ensaios Sobre a Teoria da
Sexualidade.
Fonte: SCHULTZ & SCHULTZ
(2002).
Comportamento Humano no Trabalho - 23
Consciente: somente uma pequena parte da mente e inclui tudo
do que estamos cientes num dado momento.
Inconsciente: onde se encontram os impulsos primitivos que
influenciam o comportamento e dos quais no se tem conscincia
e, tambm, um grupo de ideias, carregadas emocionalmente, que
uma vez foram conscientes, mas em vista de seus aspectos intole-
rveis foram expulsas da conscincia para um plano mais profundo,
de onde no podero vir tona voluntariamente.
Pr-Consciente: relaciona-se aos contedos que podem facilmente
chegar memria.
Fazendo-se uso da visualizao da imagem de um iceberg, pode-se
explicar a estrutura da personalidade da seguinte forma:
Consciente:Contato com o mundo exterior
EGOPrincpio de realidade.Processo secundrio
IDPrincpio do Prazer.Processo primrio
SUPEREGOImperativos Morais.
Pr-Consciente:Material um pouco abaixo da superfcie da conscincia
Inconsciente:Material difcil de recuperar; bem abaixo da superfcie da conscincia
Figura 1: Nveis e estruturas da personalidade.Fonte: Schultz & Schultz (2002, p. 49)
O Id contm tudo o que herdado. refere-se aos instintos, impulsos
e desejos inconscientes. Esses impulsos so movidos pelo princpio
do prazer, que busca e exige satisfao imediata. O id como o
reservatrio de energia de toda a personalidade, sendo a estrutura
original, bsica e central do ser humano.
Instintos: so presses
que dirigem um organismo
para determinados fins par-
ticulares.
24 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
O Ego o controle consciente do indivduo. Tenta equilibrar as neces-
sidades impulsivas do id e as restries scioculturais do superego.
Opera de acordo com o princpio da realidade, pois determina os
momentos, lugares e objetos adequados e socialmente aceitos para
a satisfao das necessidades da pessoa. O Ego , portanto, o aspecto
racional da personalidade, pois percebe e manipula o ambiente de
modo prtico e realista. O Ego tem, ainda, por funo a criao dos
mecanismos de defesa. So eles: projeo, identificao, formao
reativa, racionalizao, regresso, negao, deslocamento e outros:
Projeo: o ato de atribuir a outra pessoa, animal ou objeto as qua-
lidades, sentimentos ou intenes que se originam em si prprio.
Identificao: a associao real ou imaginria com algum.
Formao reativa: significa comportamento contrrio ao verda-
deiro, por motivo de culpa. Trata-se de uma inverso clara e, em
geral, inconsciente do verdadeiro desejo.
Racionalizao: a redefinio de uma situao frustrante por
meio da inveno de razes plausveis para justificar determinada
atitude ou determinado comportamento.
Regresso: um retorno a um nvel de desenvolvimento anterior
ou a um modo de expresso mais simples ou mais infantil. um
modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realstico
para comportamentos que reduzem a ansiedade.
Negao: consiste no bloqueio de certas percepes do mundo
externo, ou seja, o indivduo frente a determinadas situaes
intolerveis da realidade externa, inconscientemente, nega sua
existncia para proteger-se do sofrimento.
Deslocamento: atravs desse mecanismo, um impulso ou sen-
timento inconscientemente deslocado de um objeto original
para um objeto substituto.
Voc sabia que todos esses mecanismos podem ser encontrados
em indivduos saudveis? no entanto, a presena excessiva desses me-
canismos , via de regra, indicao de possveis sintomas neurticos.
Mecanismos de defesa:
so operaes psquicas
inconscientes, empregadas
pelo Ego para se livrar da
angstia; uma espcie de
sinal de alarme que informa
ao Ego sobre a existncia de
um conflito interno.
Comportamento Humano no Trabalho - 25
O Superego o aspecto moral da personalidade: a introjeo dos
valores e padres dos pais e da sociedade. Desenvolve-se a partir do
Ego e atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamen-
tos do Ego; o depsito dos cdigos morais, modelos de conduta e
dos parmetros que constituem as inibies da personalidade.
A meta fundamental da personalidade manter e recuperar, quan-
do perdido, um nvel aceitvel de equilbrio dinmico que maximiza
o prazer e minimiza o desprazer. A energia que usada para acionar
o sistema nasce no Id, que de natureza primitiva, instintiva. O ego,
emergindo do Id, existe para lidar realisticamente com as pulses b-
sicas do Id e tambm age como mediador entre as foras que operam
no Id e no Superego e as exigncias da realidade externa. O Superego,
emergindo do Ego, atua como um freio moral ou fora contrria aos
interesses prticos do Ego. Ele fixa uma srie de normas que definem
e limitam a flexibilidade deste ltimo (BALLOnE, 2003).
o enfoque neopsicanaltico da PersonalidadeFreud centralizou a formao da personalidade infncia, sendo
esta determinante na constituio do sujeito, deixando marcas que,
profundas ou no, afetam o carter do indivduo e, consequentemente,
as decises tomadas na fase adulta. Os neopsicanalistas, no entanto,
destacam a importncia das relaes sociais para a formao e o de-
senvolvimento da personalidade. Enfatizam que se deve considerar a
vasta influncia do ambiente interpessoal que envolve o indivduo e
que, durante toda a vida, molda a estrutura do carter. Os tericos ne-
ofreudianos mais conhecidos so: Carl Jung, Alfred Adler, Erich Fromm,
Henry Murray e Karen Horney.
Carl Gustav Jung A ideia de introverso e extroverso: Jung descobriu que cada
indivduo pode ser caracterizado como sendo orientado para seu
interior ou para o seu exterior, sendo que a energia dos intro-
vertidos se dirige em direo a seu mundo interno, enquanto a
Carl Gustav Jung (1875
- 1961): foi um dos maiores
estudiosos da vida interior
do homem e tomou a si
mesmo como matria prima
de suas descobertas suas
experincias e suas emoes
esto descritas no livro Me-
mrias, Sonhos e Reflexes.
Fonte: http://educacao.uol.
com.br/biografias/
26 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
energia dos extrovertidos mais focalizada no mundo externo.
nas palavras de Jung (apud rICCO, 2004, p. 27):
Falamos de extroverso sempre que o indivduo volta seu interesse todo para o mundo externo, para o objeto, e lhe confere importncia e valores extraordinrios. No caso contrrio, quando o ho-mem se torna o centro de seu prprio interesse e aparece como nico a seus olhos, quando o mun-do objetivo fica praticamente na sombra e pouca ateno recebe, temos, ento, a introverso.
A personalidade formada por sistemas e estruturas que
podem influenciar uns aos outros: na viso de Jung, a psique
ou personalidade total composta pelo ego (aspecto conscien-
te da personalidade, responsvel pela execuo das atividades
normais da vida), inconsciente pessoal ( o reservatrio de ma-
terial que j foi consciente, mas foi esquecido ou reprimido) e
inconsciente coletivo (nvel mais profundo da personalidade,
que contm o acmulo de experincias herdadas de espcies
humanas).
Alfred Adler O homem como um todo, uma unidade funcional, reagindo
ao seu meio: Adler procurou compreender cada pessoa como
uma totalidade integrada num sistema social - cada ser humano
uma entidade nica, indivisvel, coerente e unificada que tem
sempre de ser considerada em relao ao contexto do qual
parte integrante.
A busca pela perfeio: o principal motivo para o compor-
tamento humano uma busca pela perfeio, mas que pode
tornar-se uma busca por superioridade como compensao
para sentimentos de inferioridade. A opinio do indivduo so-
bre si prprio e sobre o mundo influencia todo o seu processo
psicolgico.
Inconsciente coletivo:
um conjunto de sentimen-
tos, pensamentos e lem-
branas compartilhados por
toda a humanidade; no se
desenvolve individualmente,
ele herdado e passa de ge-
rao a gerao. Por exem-
plo, o medo de cobras pode
ser transmitido por meio das
geraes anteriores, criando
uma predisposio para que
uma pessoa tema cobras,
mesmo sem ter tido uma
experincia pessoal prvia
que lhe causasse tal medo.
Fonte: Schultz & Schultz,
(2002).
Alfred Adler (1870 - 1937):
aluno e colaborador de
Sigmund Freud, Adler o
fundador da psicologia do
desenvolvimento indivi-
dual, exposta na sua obra
Teoria e Prtica da Psicologia
Individual (1912). Fonte:
http://educacao.uol.com.br/
biografias/
Comportamento Humano no Trabalho - 27
Erich Fromm O dilema humano: liberdade versus isolamento: Fromm prope
a tese de que o homem, paralelamente liberdade material
que tem conquistado atravs da histria, tem se isolado cada
vez mais de seus semelhantes, na busca por espao e por su-
cesso material. E, em paradoxo, a mesma liberdade material
torna-se uma condio que assusta, e da qual tende a escapar,
maquiando-a em situaes de posse e de poder, ou de submis-
so passiva s autoridades e/ou de conformao sociedade,
o que lhe daria a iluso de TEr algo ou de PErTEnCEr a algo
que lhe permita sentir-se menos solitrio (FrOMM, 1989).
Henry Murray A motivao do comportamento: de acordo com Murray, a
motivao tem dois componentes essenciais: o impulso, que
se refere ao processo interno que incita uma pessoa ao, e o
motivo, que gera o comportamento e termina quando atingido
o objetivo que a pessoa tinha em vista. O objetivo visado a
recompensa que sacia o incitamento interno do indivduo. A mo-
tivao, portanto, relaciona-se intimamente com a personalidade
do indivduo e com o seu desenvolvimento mental, emocional,
profissional e social. Constitui-se no impulso interno que levar
o indivduo a canalizar esforos para satisfazer um desejo, uma
necessidade, uma meta estabelecida.
Karen Horney Comportamentos e atitudes dos indivduos: Horney susten-
tou que o desenvolvimento da personalidade resulta da intera-
o de foras biolgicas e psicossociais que so singulares para
cada pessoa e props que os indivduos fossem classificados
em trs grupos de personalidade:
Personalidade submissa: a pessoa exibe atitudes e comporta-
mentos que refletem um desejo de caminhar em direo s outras
pessoas, uma necessidade intensa de afeto, amor e aprovao.
Erich Pinchas Fromm
(1900 - 1980): influenciado
por Freud e Marx, consi-
derado um dos principais
expoentes do movimento
psicanalista do Sculo XX.
Dono de uma carreira con-
troversa e polmica, ele
estudou principalmente a
influncia da sociedade e da
cultura no indivduo. Fonte:
http://educacao.uol.com.br/
biografias/
Henr y Murray (1893
- 1988) psiclogo norte-
americano. Foi professor
de Psicologia na Universi-
dade de Harvard nos EUA.
Em 1928, passou a dirigir
a clnica psicolgica dessa
instituio, dedicando-se
ao estudo da personalidade.
Nas suas pesquisas recorre
a vrios mtodos: clnico,
experimental, histrico e
psicanaltico. Foi um dos
fundadores do Instituto de
Psicanlise de Boston. O de-
senvolvimento das suas pes-
quisas sobre a personalidade
levou-o ao estabelecimento
de uma teoria que denomi-
nou personalogia.
28 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Personalidade agressiva: a pessoa apresenta atitudes e compor-
tamentos associados tendncia de ir contra as outras pessoas:
movidas a superar os outros, julgam tudo em termos de benefcios
que recebero do relacionamento com os demais.
Personalidade desprendida: a pessoa apresenta atitudes e
comportamentos que esto associados tendncia de afastar-
se das pessoas como uma necessidade intensa de privacidade,
mantendo distncia emocional.
o enfoque dos TraosA Teoria dos Traos representa um afastamento das medidas qua-
litativas que tipificam os movimentos freudianos e neofreudianos. Sua
orientao quantitativa ou emprica; enfoca a medio da personalidade
em termos de caractersticas psicolgicas especficas, denominadas traos.
a predominncia de alguns traos e a atenuao de outros que acabam
por constituir a personalidade de cada um.
Como expoentes dessa teoria, tm-se os autores Gordon Allport,
raymond Cattell e Hans Eysenck. Veja o que pensam:
Gordon AllportDe acordo com Allport, cada pessoa tem certo nmero de tra-
os especficos, como a agressividade e a simpatia, que constituem e
predominam em sua personalidade. A estes, ele denominou de traos
centrais. Os traos menos importantes e menos notados em uma pes-
soa so chamados de traos secundrios. Os traos que se referem a
caractersticas dominantes que orientam a maioria das atividades da
pessoa so considerados traos cardinais.
Raymond Cattell Para Cattell, somente quando se conhecem os traos de algum que
se pode predizer como esse algum se comportar numa dada situao. Des-
se modo, para que se entenda plenamente uma pessoa, preciso descrever,
em termos precisos, o padro de traos que a definem como um indivduo.
O autor props, dentre outros, os seguintes traos de personalidade:
Karen Horney (1885-
1952) mdica psicanalistam
enfatizou a preeminncia de
influncias sociais e culturais
sobre o desenvolvimento
psicossexual, focalizou sua
ateno sobre as psicologias
divergentes de homens e
mulheres e explorou as vicis-
situdes dos relacionamentos
maritais. Fonte: http://www.
psiquiatriageral.com.br/psi-
coterapia/karen.html
Traos: so os elementos
individuais, mas comuns a
diferentes pessoas.
Gordon Allport (1897-
1967): Psiclogo americano.
Dentre seus diversos experi-
mentos, destaca-se o estudo
da psicologia humana com
base nos estudos das escritas
pessoais e das criaes arts-
ticas dos indivduos. Fonte:
http://www.netsaber.com.
br/biografias/
Comportamento Humano no Trabalho - 29
traos comuns: traos que, em algum grau, todas as pessoas
possuem;
traos singulares: traos que uma ou poucas pessoas possuem;
traos de habilidade: descrevem a destreza ou capacidade de atuar
para o alcance de objetivos;
traos de temperamento: descrevem o estilo geral e o tom emo-
cional do comportamento em resposta ao ambiente;
traos dinmicos: foras que impulsionam o comportamento e
fundamentam as motivaes pessoais;
traos constitucionais: elementos que tm origens em condies
biolgicas;
traos moldados: provenientes do ambiente.
Hans Eysenck O psiclogo Hans Eysenck sugeriu que as dimenses da personalidade
seriam trs:
extroverso: referindo-se s experincias emocionais positivas
e sociais;
neurotismo: referindo-se s experincias emocionais negativas; e
psicotismo: referindo-se ao controle dos impulsos emocionais. Por
isso, seu modelo ficou conhecido como P-E-N.
o enfoque HumansticoAs caractersticas da personalidade avaliadas no enfoque humanstico
dizem respeito no apenas ao modo como a pessoa se apresenta no mundo,
conforme vimos em relao aos traos; mas maneira como a pessoa sente
o mundo e se relaciona com ele. Dois autores se destacam nessa abordagem:
Carl rogers e Abraham Maslow. Veja:
Carl Rogers Carl rogers parte do pressuposto de que as pessoas usam sua expe-
rincia para se definirem. Os principais conceitos da teoria da personalidade
rogeriana so: o organismo, o campo fenomenolgico, o self e o ego:
Raymond Cattell (1905
- 1998): Psiclogo norte-ame-
ricano. Trabalhou nas Univer-
sidades de Columbia, Clark e
Harvard. Em 1944 tornou-se
investigador na Universidade
de Illinois. Retomou a teoria
de Allport sobre a personali-
dade, definindo-a como uma
estrutura de traos. Elaborou
um teste, designado por 16
PF (Personality Factors), que
tem por objetivo avaliar e dis-
tinguir os indivduos segundo
os fatores de personalidade.
Fonte: http://www.infopedia.
pt/$raymond-cattell
Hans Eysenck (1916 - 1997):
psiclogo alemo. Abandonou
o seu pas em 1936 para fugir
do Nazismo, fixando-se na In-
glaterra. Debruou-se sobre o
estudo da personalidade, apre-
sentando uma concepo en-
quadrada no modelo da teoria
dos traos de Allport. Identifica
quatro dimenses da persona-
lidade: introverso-extroverso
e estabilidade-instabilidade.
Fonte: http://www.infopedia.
pt/$hans-eysenck
Carl Ranson Rogers (1902
1987): psicoterapeuta norte-
americano, criador do mtodo
no-diretivo em psicologia. Em
seus ensinamentos, enfatizava
os aspectos pessoais do relacio-
namento entre psicoterapeuta
e o paciente e defendia que a
este coubesse os rumos e a
durao do tratamento. Fonte:
http://www.dec.ufcg.edu.br/
biografias/CarlRaRo.html
30 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Organismo: o indivduo na sua totalidade (Psique + Biolgico).
Campo Fenomenolgico: todas as experincias do indivduo tanto
conscientes como inconscientes.
Self: consiste no conjunto de percepes conscientes de valores
do eu .
Ego: acessvel conscincia. Consiste nas percepes das carac-
tersticas e relaes individuais.
Abraham MaslowAutor da Teoria da Hierarquia das necessidades, Maslow, referiu que
as necessidades humanas esto organizadas e dispostas em nveis, numa
hierarquia de importncia e de influncia, em cuja base esto as necessidades
mais baixas e, no topo, as necessidades mais elevadas. Atendidas as neces-
sidades da base (fisiolgicas, de segurana e sociais), os indivduos partem
para as necessidades mais elevadas (status e auto-realizao).
o enfoque CognitivoO Enfoque Cognitivo enfatiza que o desenvolvimento cognitivo
resulta numa capacidade crescente de adquirir e usar o conhecimento
sobre o mundo. Prope que o indivduo, por meio de sua histria, e, com
base em experincias relevantes desde a infncia, desenvolve um sistema
de esquemas que influencia a forma de comportamento. George Kelly se
destaca nessa abordagem:
A teoria da personalidade proposta por Kelly diz que a aprendizagem
ocorre pela reorganizao do campo cognitivo, que permite a compreenso
de um problema e a sua soluo, estruturando as partes e percebendo-o
como um todo.
Para ele, o ser humano capaz de interpretar comportamentos
e eventos e fazer uso dessa compreenso para orientar o seu compor-
tamento e prever o comportamento dos outros. Cada indivduo cria,
portanto, um sistema de constructos, que se referem maneira singular
de ver a vida, uma hiptese intelectual elaborada para explicar e inter-
pretar a realidade.
O eu ou o autoconceito
constitudo por um conjun-
to de crenas a respeito de
si, comportamentos tpicos
e qualidades nicas que
o ser humano possui. Diz
respeito conscincia que
o indivduo tem do mundo
e de si prprio.
Esquemas: so estruturas
cognitivas que codificam,
avaliam e interpretam, im-
pondo um padro de per-
cepo da realidade, numa
espcie de filtro cognitivo.
Fonte: Beck (1997)
Comportamento Humano no Trabalho - 31
o enfoque Comportamentalna abordagem comportamental, no se encontra referncia
a impulsos, motivaes, necessidades ou mecanismos de defesa,
processos mencionados pela maioria dos tericos da personalidade.
Para os estudiosos dessa teoria, a personalidade um acmulo de
respostas aprendidas por meio de estmulos, padres de comporta-
mento observveis e manipulveis de maneira objetiva (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2002).
Esse enfoque define a aprendizagem como a associao entre um
estmulo (acontecimento externo ao indivduo) e a resposta (um ato de
comportamento exibido pelo indivduo) e est representado aqui pelo
trabalho de B.F. Skinner.
Para Skinner, o comportamento dos indivduos pode ser mode-
lado por meio da administrao de reforos positivos e negativos. Um
reforador, conforme o autor, qualquer coisa que fortalea a resposta
desejada. Eis alguns conceitos-chave da abordagem skinneriana:
Comportamento Respondente: respostas produzidas ou
originadas a partir de estmulos ambientais. Depende do refor-
amento e est diretamente relacionado a um estmulo fsico.
Ex: dilatao e contrao da pupila dos olhos em contato com
a mudana da iluminao.
Comportamento Operante: comportamento emitido espon-
taneamente que atua sobre o ambiente e modifica-o. Ex: dirigir
um carro.
Reforo positivo: todo estmulo que, quando est presente,
aumenta a probabilidade de se produzir uma conduta. Ex: elogio
de um chefe.
Reforo negativo: todo estmulo aversivo que, ao ser retirado, au-
menta a probabilidade de se produzir a conduta. Ex: colocar a mo
no ouvido, tapando-o, para eliminar um determinado rudo.
Extino: quando um estmulo que previamente reforava a
conduta deixa de atuar.
Reforamento: ato de
fortalecer uma resposta com
adio de uma recompensa,
aumentando a probabilida-
de de que a resposta seja
repetida. Fonte: Schultz &
Schultz (2002).
Burrhus Frederic Skin-
ner (1904-1990), nasceu em
Susquehanna, Pensilvnia.
Graduou-se em Psicologia e
sua obra a expresso mais
clebre do behaviorismo,
corrente que dominou o
pensamento e a prtica da
psicologia, em escolas e con-
sultrios, at os anos 1950. O
behaviorismo restringe seu
estudo ao comportamento
(behavior, em ingls), tomado
como princpio que s poss-
vel teorizar e agir sobre o que
cientificamente observvel.
Fonte: http://www.centrore-
feducacional.com.br).
32 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
O psiclogo B.F. Skinner postula que o comportamento ao qual
se seguem consequncias satisfatrias, tende a ser repetido, enquanto
que o comportamento de consequncias insatisfatrias tende a no se
repetir (MEGGInSOn, 1998, p. 361).
Comportamento Humano no Trabalho - 33
Sntese
Ao longo dessa primeira unidade, voc estudou que o comporta-
mento de uma pessoa decorre de dois fatores: a realidade externa e a sua
realidade interna.
A personalidade faz parte da realidade interna do indivduo e pode
ser descrita como o conjunto de caractersticas inatas e adquiridas que di-
ferencia um indivduo do outro e que determina a forma de reao diante
das vrias situaes da vida.
As teorias da personalidade constituem tentativas de descrever e
explicar o modo como os indivduos se distinguem na sua personalidade e
no seu comportamento.
A psicanlise um corpo terico explicativo da estrutura psquica do
indivduo.
Os neopsicanalistas destacam a importncia das relaes sociais para
a formao e o desenvolvimento da personalidade.
Os behavioristas ou comportamentalistas enfatizam a ao do meio
e dos processos de aprendizagem no comportamento, minimizando as
variveis internas e pessoais. Tornando claro que essa teoria argumenta
que o comportamento pode ser influenciado ou dirigido da maneira que o
ambiente (organizao) deseja.
A perspectiva humanista concentra sua ateno na pessoa inteira,
numa tentativa de evitar concepes comportamentalistas que reduzissem
a experincia humana a termos mecnicos, desprezando a essncia da hu-
manidade e da experincia.
A teoria dos traos postula que os indivduos possuem traos psico-
lgicos inatos. Portanto, vislumbra a personalidade como o resultado das
caractersticas internas que so baseadas na gentica.
34 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
A abordagem cognitiva da personalidade focaliza-se exclusivamente
em atividades mentais conscientes.
Agora, voc vai aprender as principais teorias da motivao humana.
Bons estudos!
2unidade
A natureza da motivao humana
36 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Ao concluir o estudo desta unidade, voc ser capaz de entender a influncia da motivao no comportamento das pessoas; compreender a origem dos estudos do tema, entender o que motivao e como ocorre o processo motivacional, alm de conhecer as principais teorias da motivao no trabalho.
Competncias
Comportamento Humano no Trabalho - 37
2.1 origens da motivao humanaOs primeiros estudos sobre motivao encontram respaldo dentro
do ambiente organizacional, em funo do interesse em torno dos aspectos
que levariam ao aumento da produtividade humana.
O modelo tradicional da motivao est associado a Frederick Taylor
e Escola de Administrao Cientfica; esta Escola sustentava que os tra-
balhadores eram essencialmente preguiosos e que a administrao deveria
faz-los executar suas tarefas da maneira mais eficiente possvel, sendo as
recompensas financeiras a nica forma de motivao.
Em 1924, Elton Mayo e outros pesquisadores verificaram que os
contatos sociais que os empregados tinham no trabalho tambm eram
importantes, e que a monotonia e a repetio das tarefas consistiam em
fatores de diminuio da motivao (STOnEr, 1985).
Em 1943, Abraham Maslow desenvolveu uma teoria da motivao
fundamentada numa hierarquia de necessidades que influenciam o com-
portamento humano.
Em 1957, McGregor procurou demonstrar que o trabalho no um
mal necessrio e pode ser to agradvel quanto um jogo, bastando para
isso que o desafio e a satisfao sejam estimulados (MCGrEGOr, 1992).
Em 1959, Frederick Herzberg procurou identificar os fatores que
geravam satisfao e os fatores que geravam insatisfao no trabalho.
Mais adiante, em 1961, David McClelland, psiclogo social ameri-
cano, verificou que a necessidade de realizao estava associada ao grau de
motivao das pessoas para executar tarefas.
Victor H. Vroom, em 1964, tambm desenvolveu estudos sobre
a motivao, baseando-se na observao de que o processo motiva-
cional no depende apenas dos objetivos individuais, mas tambm do
2 A natureza da motivao humana
Fr e d e r i c k Wi n s l o w
Taylor (1856 - 1915): foi
o fundador da moderna
administrao de empre-
sas. Criou, em 1881, um
mtodo para aumentar a
produtividade, baseado na
racionalizao: o processo
de produo passaria a ser
subdividido em pequenos
segmentos, o que eliminaria
todo o tipo de movimentos
suprfluos, poupando tem-
po e acelerando o ritmo.
Fonte: http://educacao.uol.
com.br/biografias/
McGregor (1906 - 1964):
psiclogo social norte-ame-
ricano. Tornou-se famoso por
ter estabelecido dois tipos
de relao entre os gestores
e os seus trabalhadores, de-
nominadas de teorias X e Y.
O tipo X parte do princpio
de que os trabalhadores so
naturalmente preguiosos ou
no gostam de trabalhar. Na
teoria Y, a ideia exatamente
a oposta, e baseia-se na pre-
missa de que as pessoas que-
rem e gostam de trabalhar e
assumem conscientemente
as suas responsabilidades e
obrigaes laborais.
Fonte: http://www.infope-
dia.pt/$Douglas%20Mc-
Gregor
38 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
contexto de trabalho em que o indivduo est inserido.
na dcada de 1970, Hackman e Oldham sinalizam a necessidade de
se considerar fatores de mediao no trabalho que impactam na relao
motivao e desempenho no trabalho: o significado que o trabalho realizado
possui para quem o realiza, o sistema de recompensas e punies vigente
nas organizaes, o estilo gerencial e a qualidade do ambiente psicossocial
do trabalho e a convergncia entre os valores pessoais e organizacionais.
Cada terico com sua prpria abordagem d mais nfase a determi-
nados fatores que outros, com o intuito de explicar os motivos pelos quais
as pessoas agem.
necessrio se faz salientar que os estudos sobre a motivao no
se esgotam. H tempo a motivao vem sendo um dos tpicos de grande
importncia no estudo do comportamento humano.
2.2 Conceituando motivaoO que determina o comportamento humano? Por que os indivduos
exercem diferentes nveis de esforos em diferentes atividades? Por que
algumas pessoas parecem estar mais motivadas do que outras?
Essas so algumas das questes que tm merecido destaque por parte
de pesquisadores do comportamento.
O comportamento de um indivduo, como vimos, implica um dispn-
dio de energia que lhe vem do organismo. Esta energia o que impulsiona
o indivduo a agir de determinada maneira. Ela pode ter origem nas neces-
sidades sentidas pelo ser humano. Estas necessidades, consideradas como
tenses internas, orientam o comportamento para um objetivo determinado.
Para alcanar esse objetivo, algum movimento deve ser realizado. Portanto, as
pessoas so motivadas ou movidas pela satisfao de suas necessidades.
Birch e Veroff (apud BErGAMInI, 1982) referem-se ao estudo da mo-
tivao como busca da explicao de um dos mais intrincados mistrios da
existncia humana: a dinmica que conduz ao. Segundo os autores, a
motivao do homem envolve uma dinmica cuja origem e processamento
se fazem dentro da prpria vida psquica.
Chaves (1992), em consonncia, menciona que a motivao tem sido com-
preendida como um estado interno que d incio e direo ao comportamento.
J. Richard Hackman
(1942): professor de psico-
logia de Harvard, realiza pes-
quisas sobre diversos temas
na rea de psicologia social
e organizacional, incluindo
dinmica de grupos e per-
formance e comportamento
individual, bem como o estu-
do da auto-gesto de grupos
e organizaes. Fonte: http://
www.people.fas.harvard.
edu/~hackman/ Greg
R. Oldham: professor de
administrao empresarial na
Universidade de Illinois, tem
escrito sobre temas relacio-
nados com a concepo de
trabalho em ambientes or-
ganizacionais. Ele e Hackman
desenvolveram a metodolo-
gia do Job Diagnostic Survey
(JDS), tambm conhecida
por Teoria Motivacional das
Caractersticas do Trabalho.
Essa Teoria relata que a moti-
vao do funcionrio con-
sequncia da existncia de
significado em seu trabalho.
Fonte: http://www.business.
uiuc.edu/facultyprofile/Bio.
aspx?ID=89
Comportamento Humano no Trabalho - 39
Gooch e Mcdowell (apud BErGAMInI, 1993, p.38) evidenciam a mo-
tivao como:
(...) uma fora que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar l igada a um desejo. Uma pessoa no pode jamais motivar outra, o que ela pode fazer estimular a outra. A probabilidade de que uma pessoa siga uma orientao de ao desejvel est diretamente ligada fora de um desejo.
De acordo com Murray (1986), a motivao tem dois componentes
essenciais: o impulso, que se refere ao processo interno que incita uma
pessoa ao, e o motivo , que gera o comportamento e termina ao
ser atingido o objetivo a ser alcanado pela pessoa. O objetivo visado a
recompensa que sacia o incitamento interno do indivduo.
Com base nas deferncias feitas acerca da motivao, pode-se argu-
mentar que a motivao nasce de necessidades intrnsecas que impelem
o indivduo ao.
Pode-se, ento, entender a motivao como uma energia, uma
tenso, uma fora ou um impulso que interior a cada indivduo e
leva-o a agir espontaneamente para alcanar determinado objetivo.
Assim, no possvel motivar uma pessoa, o que possvel criar um
ambiente compatvel com os objetivos da pessoa, um ambiente no
qual a pessoa se sinta motivada (BUEnO, 2008).
2.3 A dinmica motivacionalTodo indivduo possui um estado de carncia interna
que necessita suprir, e que s possvel atravs da
busca do fator de satisfao. Encontrado o fator
de satisfao e satisfeita a neces-
sidade, esta deixa de atuar
como agente motivador
do comportamento e o ser
O motivo a mola propul-
sora responsvel pelo incio
e manuteno de qualquer
atividade executada pelo
ser humano; considerado
como uma caracterstica
comum do ser humano,
apresentando variaes situ-
acional, de nvel e pessoal,
isto , varia de situao para
situao em uma mesma
pessoa, de intensidade e de
pessoa para pessoa, em uma
mesma situao. Cada mo-
tivo apresentar uma fora
distinta, devido diferena
de personalidade existente
entre cada indivduo Fonte:
Moreno et al. (2003).
40 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
humano busca outra necessidade a ser suprida que passa, ento, a ocupar
a linha de frente.
Para ilustrar o exposto, eis um exemplo de como se processa a neces-
sidade de alimento: a fome rompe o equilbrio do organismo e desenvolve
um estado de insatisfao, o qual move o organismo procura de alimento (
procura de satisfao). O encontro da satisfao reduz as tenses e estabelece
o equilbrio, ocorrendo a extino da necessidade: o organismo alimentado
no sente mais a necessidade de comer (Figura 2).
Processo Motivacional
Carncia interna
Fator de satisfao
Satisfeita a necessidade
Busca outra necessidade
Figura 2: Esquema do processo motivacional
2.3.1 A teoria das necessidades humanasAbraham Maslow, psiclogo americano, pioneiro no desenvolvimento
da teoria das necessidades, em sua obra intitulada Motivation and Personality,
concluiu que o ser humano traz dentro de si cinco categorias hierarquizadas
de necessidades (Figura 3):
Necessidades fisiolgicas: dizem respeito a questes como ali-
mentao, moradia, vesturio, sexo, repouso, dentre outras.
Necessidades de segurana: esto relacionadas proteo contra
perigo ou privao.
Necessidades sociais: referem-se aos relacionamentos afetivos e
incluso em grupos.
Abraham Maslow (1908 -
1970): psiclogo americano,
conhecido pela proposta da
hierarquia de necessidades
de Maslow. Foi um pensador
surpreendentemente origi-
nal, pois a maioria dos psi-
clogos antes dele estavam
mais preocupados com a do-
ena e com a anormalidade.
Maslow queria saber o que
constitua a sade mental
positiva. Dentre as inmeras
teorias de motivao huma-
na apresentadas ao longo
dos tempos, a pirmide ou
hierarquia das necessidades
de Maslow continua ainda
hoje a suscitar o interesse
de todos. Concretamente
na rea da gesto das orga-
nizaes, ela um ponto de
referncia para os gestores
que pretendem estimular os
seus empregados.
Fonte: http://www.centro-
atl.pt/edigest/edicoes99/
ed_dez/ed62man-bi.html
Comportamento Humano no Trabalho - 41
Necessidades de estima: incluem a autoestima e o reconhecimento
por parte dos outros.
Necessidades de autorrealizao: implica nos desejos de auto-
desenvolvimento e autoconhecimento.
Auto-realizao
Estima
Amor e Integrao
Segurana
Fisiolgica
Necessidade de autorrealizao
Necessidade de estima
Necessidades sociais
Necessidades de segurana
Necessidades fisiolgicas
Ord
em m
ais a
lta
Sequncia de Satisfao
Ord
em m
ais b
aixa
Figura 3: Pirmide de Maslow
Com relao ao trabalho, por exemplo, a necessidade de segurana
satisfeita com empregos estveis, seguros de vida, aposentadoria; a neces-
sidade de autoestima satisfeita por meio de avaliao do trabalho pelos
outros; a necessidade de autorrealizao satisfeita com atividades que
permitam desenvolver potencialidades. Contudo, uma pessoa que est h
dois dias sem comer, necessitando de dinheiro, exigir do trabalho apenas a
remunerao lquida, por meio da qual conseguir satisfazer sua necessidade
bsica, fisiolgica, de alimentao.
Maslow evidenciou que uma vez satisfeita determinada necessidade,
esta j no mais controla a conduta da pessoa e surge uma nova em seu
lugar. A satisfao das necessidades nunca termina, pois a cada momento
existe uma necessidade emergente.
Maslow buscou compreender o homem dentro de uma percepo
multidimensional, considerando a existncia de diversas necessidades, numa
inter-relao dinmica, desde as mais bsicas at as mais complexas.
42 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Mas ento, como fazer para tornar o empregado mais satisfeito com
o trabalho e consigo mesmo?
A empresa deve fornecer ao empregado oportunidade para a satis-
fao de suas necessidades. As tarefas devem permitir autonomia ao em-
pregado, possibilitando-lhe utilizar de suas habilidades e dar vazo s suas
potencialidades. Os gestores precisam atentar para fatores como ambiente
de trabalho, relaes interpessoais, programas de treinamento e de desen-
volvimento, dentre outros, para criar condies favorveis satisfao das
carncias da sua equipe de trabalho. Devem desenvolver uma cultura na
qual a confiana, o dilogo e a criatividade sejam valorizados, e possibilitar
uma abertura para a emisso de sugestes e opinies.
De acordo com Hackman e Oldham (apud FIOrELLI, 2004), o indivduo
motiva-se para o trabalho quando cinco fatores concorrem promovendo o enrique-
cimento das tarefas e conduzindo a estados psicolgicos desejveis e favorveis:
o desempenho no cargo exige aplicao de diferentes habilida-
des pessoais;
o resultado final da atividade permite reconhec-lo como um pro-
duto pessoal a uma identificao entre criao e criador;
o produto final exerce impacto nas outras pessoas;
existe um grau de liberdade para decidir sobre programaes e
procedimentos do trabalho;
o profissional recebe avaliao sobre sua eficcia na realizao da
atividade.
Caudron (1997 apud nOVAES, 2007), aps discutir amplamente com
os gestores das organizaes estudadas e especialistas no assunto, props
uma lista de tcnicas que podem ser aplicadas para conquistar a motivao
dos empregados:
oferecer informaes necessrias para a realizao de um bom
trabalho;
solicitar ideias aos mesmos e envolv-los em decises sobre suas
funes;
reconhecer publicamente um trabalho bem feito;
promover reunies destinadas a comemorar o sucesso da equipe;
delegar tarefas interessantes para executar;
Comportamento Humano no Trabalho - 43
verificar se o indivduo dispe das ferramentas necessrias para
realizar o melhor trabalho;
reconhecer as necessidades pessoais de cada um;
utilizar o desempenho como base para promoes;
adotar uma poltica abrangente de promoo;
estimular o sentido de comunidade;
dar uma razo financeira para serem excelentes;
reconhecer as diferenas individuais: no tratar a todos como se
fossem iguais, pois possuem necessidades diferentes;
fazer com que as recompensas sejam percebidas como justas: vin-
cular as recompensas s experincias, habilidades, responsabilidades
e esforos apresentados;
definir objetivos e fornecer feedback: traar objetivos especficos,
desafiantes e que possa ser monitorveis; e
estimular a participao nas decises: permitir e at mesmo encorajar
a participao da equipe nas decises que a afeta, como a fixao
de objetivos ou a definio dos procedimentos no trabalho.
2.3.2 A teoria dos dois fatores de HerzbergFrederick Herzberg, psiclogo, consultor e professor universitrio america-
no, como base de sua teoria, afirma que o comportamento humano no trabalho
orientado por dois grupos de fatores: os higinicos e os motivacionais.
Fatores higinicos: so aqueles que so necessrios para evitar a
insatisfao no ambiente de trabalho. So eles: o salrio, os benefcios
sociais, o tipo de chefia ou superviso que as pessoas recebem de
seus superiores, as condies fsicas e ambientais de trabalho, as
polticas e as diretrizes da organizao, o clima organizacional, os
regulamentos internos, dentre outros. So fatores de contexto e se
situam no ambiente externo que cercam o indivduo.
Fatores motivacionais: esto relacionados com o contedo do
cargo e com a natureza das tarefas que o indivduo desempenha na
organizao. Envolvem os sentimentos de crescimento individual, de
reconhecimento profissional e as necessidades de autorrealizao. So,
portanto, fatores intrnsecos, ou seja, inerentes prpria pessoa.
Frederick Herzberg (1923
- 2000): autor da Teoria dos
dois Fatores, que trata da
motivao e da satisfao
das pessoas. Segundo essa
Teoria, quando a satisfa-
o no cargo relacionada
s atividades desafiadoras
e estimulantes do cargo
denominada de fatores
motivadores. J, quando
a satisfao do cargo est
relacionada ao ambiente,
superviso, aos colegas e
ao contexto geral do cargo,
enriquecimento do cargo
(ampliar as responsabili-
dades), denominada de
fatores higinicos. Fonte:
Wikipdia (2008).
44 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Para Herzberg, a nica forma de fazer com que o indivduo sinta von-
tade prpria de realizar determinada tarefa proporcionando-lhe satisfao
no trabalho. Em outros termos, a motivao acontece apenas por meio dos
fatores motivadores. O caminho apontado por Herzberg para a motivao
o enriquecimento da tarefa. Por enriquecimento da tarefa entende-se um
deliberado aumento da responsabilidade, da amplitude e do desafio do
trabalho (HErSEY & BLAnCHArD apud BUEnO, 2008, p.15).
2.3.3 A teoria contingencial de VroomVictor H. Vroom (1964) desenvolveu um modelo contingencial de
motivao, baseando-se na observao de que o processo motivacional
no depende apenas dos objetivos individuais, mas tambm do contexto
de trabalho em que o indivduo est inserido.
Para Vroom, h trs foras bsicas que atuam dentro do indivduo e
que influenciam o seu nvel de desempenho (BUEnO, 2008): a expectao,
a instrumentalidade e a valncia. Veja:
Expectao: a soma entre as expectativas do indivduo, ou seja,
seus objetivos individuais e a percepo que tem de si mesmo, de
sua capacidade para atingir estes objetivos. Esses dois aspectos
determinam os esforos que cada um est pronto a fazer numa situ-
ao de trabalho. Por exemplo: se uma pessoa tem como objetivo a
promoo de cargo e sabe que para conseguir isso precisa aumentar
a produtividade de seu setor, mas julga-se incapaz de conseguir tal
proeza, sua motivao para o trabalho ser fraca.
Instrumentalidade: a soma das recompensas que o indiv-
duo pode conseguir em troca de seu desempenho. um fator
subjetivo que varia de acordo com a pessoa. Para muitos, pode
significar a autonomia, a possibilidade de iniciativa e de expanso
da criatividade.
Valncia: o valor real que o indivduo d Instrumentalidade
percebida. no basta que o indivduo perceba as recompensas
que pode alcanar por meio de seu desempenho. preciso que
tais recompensas tenham um valor real para ele, que satisfaam as
suas expectativas. O sistema de recompensas vigente pode no ter
Victor H. Vroom (1932):
professor reconhecido em
trabalhos sobre anlise psi-
colgica de comportamento
nas organizaes. Suas prin-
cipais contribuies incluem
textos sobre motivao no
local de trabalho, lideran-
a e tomada de deciso.
Fonte: http://findarticles.
com/p/articles/mi_go2851/
is_200203/ai_n6807025
Comportamento Humano no Trabalho - 45
nenhuma importncia para uma dada pessoa, que no se sentir
motivada, e, ao contrrio, ter muita importncia para outra pessoa,
a qual ter uma motivao forte.
na concepo de Vromm, os trs aspectos citados influenciam a
motivao das pessoas no trabalho. Se um dos elementos estiver ausente,
a motivao torna-se fraca. Caso todos eles estejam presentes, a motivao
torna-se alta.
A Teoria de Vroom levanta uma questo at ento indita: preciso
que o trabalhador sinta-se capaz de atingir os objetivos pessoais traados
para que se sinta motivado. Essa suposio acaba por atrelar a motivao
competncia (BUEnO, 2008).
As teorias de motivao tm levado a vrias estratgias efetivas para
tentar explicar o comportamento dos empregados; no entanto, existe
a necessidade de entender melhor como implementar os princpios,
incluindo vantagens e desvantagens das diversas prticas (nOVAES,
2007). O estudo da motivao no pode ser encarado de forma simplis-
ta. Os fatores que interferem no processo motivacional do indivduo no
podem de modo algum ser generalizados. Cada um tem sua prpria
histria de vida, suas experincias, suas carncias, sua personalidade e
objetivos nicos e suas motivaes decorrem da singular combinao
desses ingredientes (CHrISTY, 2008).
sabido que no se consegue motivar algum, tendo-se em vista
que a motivao nasce no interior de cada pessoa. Contudo, possvel
, segundo Bergamini (1993), manter pessoas motivadas quando se
conhece as suas necessidades e se lhes oferece fatores de satisfao
para tais necessidades. O desconhecimento desse aspecto poder levar
desmotivao das pessoas. Portanto, a grande preocupao da admi-
nistrao no deve ser em adotar estratgias que motivem as pessoas,
mas acima de tudo, oferecer um ambiente de trabalho no qual a pessoa
mantenha o seu tnus motivacional (MACIEL & S, 2007).
46 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Sntese
na unidade 2, foram apresentadas algumas noes sobre o estudo da
motivao humana. Essas noes contemplam o conceito de motivao, as
origens dos estudos sobre o tema, o processo motivacional e as teorias da
motivao relacionadas ao ambiente de trabalho.
A palavra motivao vem do latim movere, que significa mover. ,
portanto, aquilo que suscetvel de mover o indivduo, de lev-lo a agir para
alcanar algo e de lhe produzir um comportamento orientado.
A teoria das necessidades parte do princpio de que os motivos do
comportamento humano residem no prprio indivduo: a motivao para
agir e se comportar deriva de foras que existem dentro do indivduo.
Herzberg (1959) desenvolveu a teoria dos dois fatores da motivao,
que identifica fatores diferentes como sendo fundamentais na satisfao no
trabalho, chamados de Fatores de Higiene e Fatores de Motivao.
O modelo de motivao desenvolvido por Vroom (1964) tenta ex-
plicar os determinantes das atitudes e dos comportamentos no local de
trabalho.
O grande desafio das organizaes est na necessidade de compre-
ender a dinmica dos processos internos que movem as pessoas.
na prxima unidade, veremos a percepo e sua importncia no
ambiente de trabalho. Vamos adiante!
3unidade
A percepo humana
48 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
Ao final do estudo desta unidade, voc ter uma viso geral do que percepo, sua importncia na tomada de deciso, os fatores que influenciam no processo de percepo e por que ocorrem as distores perceptivas. Tambm vai compre-ender a importncia do uso do instrumento de feedback e conhecer como fazer uso desse instrumento para a aquisio de comportamentos mais assertivos dentro da organizao em que atua.
Competncias
Comportamento Humano no Trabalho - 49
3.1 o estudo da percepo
Diante da complexidade da percepo humana, pretende-se,
nesta unidade, indicar alguns conceitos e variveis que interferem
em todo o processo perceptivo. Sendo assim, voc vai estudar o que
percepo e como ocorre o processo de captao e interpretao
dos estmulos ambientais. Vai entender o que seletividade percep-
tiva e qual a relao que h entre percepo e tomada de deciso. A
percepo tem carter subjetivo e, portanto, est sujeita a erros e pode
ser distorcida. no contexto organizacional, a percepo e as possveis
distores so elementos importantes, pois afetam significativamen-
te o relacionamento interpessoal. Desse modo, fundamental que
voc estude e entenda os fatores que determinam a captao de um
estmulo e a sua interpretao.
no se esquea de que o propsito bsico da leitura o de desen-
volver pensamentos, juntar novas ideias compreenso que se tem
sobre um dado assunto e dar novos ngulos ao raciocnio. Aprender
no um processo passivo!
Percepo o processo de interpretao de estmulos do ambiente.
um processo abrangente, pois implica na capacidade de selecionar, organi-
zar, armazenar e recuperar informaes (WAGnEr III & HOLLEnBECK, 2000);
envolve o sistema nervoso central: o crebro deve ser capaz de receber o
estmulo por meio dos rgos dos sentidos: viso, audio, tato, olfato e
paladar e em seguida process-lo.
3 A percepo humana
50 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
De acordo com Mowen e Minor (2003), a percepo um processo por
meio do qual os indivduos so expostos s informaes, prestam ateno
nelas e as compreendem.
Para Gade (1998), a percepo definida como sensaes acrescidas de
significados. Atravs dos processos perceptivos os conhecimentos sensoriais
so agregados ao que j existe retido de experincias anteriores para se obter
significado. resulta, assim, em decodificar estmulos e, portanto, relacionar
componentes sensoriais externos com componentes significativos internos.
Dubois (1999) considera que a percepo rege as relaes entre o
indivduo e o meio em que est inserido, oferecendo grande impacto sobre
o seu comportamento.
no raro se verifica a dificuldade de um mesmo estmulo ser percebido
de modo semelhante por duas pessoas.
Como se pode explicar que duas pessoas possam olhar para a mesma
coisa e perceb-la de forma diferente?
A percepo uma interpretao singular da situao. Quando um
indivduo olha para um objeto e tenta interpret-lo, a interpretao forte-
mente influenciada pelas suas caractersticas pessoais. Desse modo, o que
algum percebe pode ser a representao da sua realidade.
Por exemplo, observando a Figura 4, o que voc v? Uma jovem ou
uma velha?
Figura 4: Velha ou moaFonte: Limongi-Frana (2006)
A ateno uma funo
cognitiva resultante da se-
leo e manuteno de um
foco em detrimento de ou-
tros, ou seja, dirigimos nossa
ateno para o estmulo
que julgamos ser importan-
te num dado momento. A
ateno pode ser subdivi-
dida em: ateno seletiva,
que quando o indivduo
escolhe um estmulo ao qual
prestar ateno, por exem-
plo, ler um livro ao invs de
assistir televiso, mesmo
que esta esteja ligada e faa
rudos ao fundo; e ateno
dividida, que se caracteriza
pela capacidade do indi-
vduo em prestar ateno
em mais de um estmulo ao
mesmo tempo, por exemplo,
conversar enquanto dirige
um veculo, trabalhar no
computador enquanto aten-
de ao telefone. Fonte: http://
www.plenamente.com.br
Sensao: o processo
de captao dos estmulos
ambientais pelas nossas
clulas sensoriais (neur-
nios sensitivos) e sua sub-
sequente transformao
em impulso nervoso.
Comportamento Humano no Trabalho - 51
Veja mais um exemplo:
Figura 5: Vaso ou dois perfis.Fonte: Zinker (2007)
na Figura 5, voc ora v um vaso, ora v dois perfis de rostos. no
instante em que voc v o vaso, este se torna figura (elemento principal). O
fundo passa a ser os dois rostos, pois no so o foco da sua ateno.
Assim acontece com os nossos comportamentos. neste instante, ao
ler este texto, ele a figura; os outros eventos como sede, rudos, msica,
passam a ser o fundo.
nas organizaes, a percepo afeta substancialmente o comporta-
mento das pessoas. Por esse motivo, o entendimento da percepo de
extrema relevncia para a criao de um clima organizacional saudvel.
3.2 Caractersticas da percepo
importante que voc entenda que a percepo deriva do somatrio
de variveis prprias e exclusivas do ser humano, como sua histria de
vida, sua personalidade, suas motivaes, valores, atitudes e habilidades.
Portanto, cada pessoa tem sua imagem do mundo. Essa imagem base-
ada na sua percepo da realidade e no na realidade em si.
A percepo composta das seguintes caractersticas (KArSAKLIAn,
2000):
A percepo subjetiva: h discrepncia entre o estmulo emitido
pelo ambiente e aquele recebido pelo indivduo ( o chamado vis
perceptual).
O indivduo tem tendncia
a organizar as suas percep-
es segundo dois planos:
o da figura, elemento central
que capta a maior parte da
ateno e o fundo, pouco
diferenciado e vago. A figura
tudo aquilo que emerge
do fundo e o diferencia. O
fundo se apresenta como
uma realidade contnua,
que circunda a figura e lhe
impe limites. Uma figura,
embora destacada do fundo,
mantm-se ligada a ele e
recebe dele sua origem e
explicao. Na determina-
o da relao figura-fundo
influem alguns fatores como
tamanho, localizao, inten-
sidade, contraste, profundi-
dade, cor, dentre outros.
52 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
A percepo seletiva: a conscincia constituda pelos poucos
estmulos que podem ser focados a cada momento. Para que algum
se torne consciente de algo, antes tem que perceb-lo, e para fazer
isso o crebro ter que ordenar as sensaes que o corpo recebe,
priorizando umas e descartando outras.
A percepo simplificadora: a pessoa no consegue perceber todas
as unidades de informaes que compem os estmulos percebidos.
A percepo limitada no tempo: uma informao percebida
conservada pelo indivduo somente durante certo lapso de tempo,
bastante curto, a menos que durante esse perodo seja desencade-
ado um processo de memorizao.
A percepo cumulativa: uma impresso a soma de diversas
percepes. A impresso global formada a partir da observao
de diversos aspectos.
3.2.1 Compreenso do processo perceptivoOs seres humanos captam os estmulos do mundo mediante as sen-
saes, isto , fluxos de informao por meio de cada um dos cinco sentidos.
Mas nem tudo o que se sente percebido, existe um processo perceptivo
mediante o qual o indivduo seleciona, organiza e interpreta os estmulos,
com o fim de adapt-los melhor aos seus nveis de compreenso. Vejamos
o esquema apresentado na Figura 6:
Comportamento Humano no Trabalho - 53
Exposio AtenoInterpretao (significado)
Receptores sensoriais
Ouvidos
Olhos
Nariz
Boca
Pele
Estmulos sensoriais
Sons
Imagens
Odores
Gostos
Texturas
Figura 6: Esquema do processo perceptivo.Fonte: Solomon (2002)
Michael Solomon (2002, p. 57) postula que a exposio seletiva
acontece no momento em que o estmulo percebido pelos receptores
sensoriais de uma pessoa (viso, olfato, audio, tato e paladar).O indiv-
duo seleciona e classifica quais as mensagens que quer receber e quais
as que no quer receber, sendo que algumas delas no so percebidas
devido ao grande nmero de informaes a que o indivduo est exposto
no seu cotidiano.
O passo seguinte do processo de percepo a ateno seletiva.
Segundo Engel et al. (2000, p. 313), nem todos os estmulos que ativam
nossos receptores sensoriais durante o estgio de exposio recebero
processamento adicional. Alguns estmulos sero descartados pela falta
de capacidade que o indivduo tem de processar todos os estmulos em
determinado momento, no passando para o estgio de ateno seletiva.
Mesmo que uma pessoa veja, oua, sinta ou toque algo, ela poder no ter
interesse em dedicar ateno ao processamento desse estmulo (EnGEL et
al, 2000 apud VOrMITTAG et al, 2008).
A interpretao a ltima fase do processo perceptivo e permite orga-
nizar e dar um significado aos estmulos recebidos. A forma de interpretar os
54 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
estmulos pode variar medida que se enriquece a experincia do indivduo
ou variam os seus interesses.
Fatores que influenciam no processo perceptivo
A percepo depende no apenas de estmulos fsicos, mas tam-
bm da relao desses estmulos com o ambiente e das condies
internas da pessoa. Veja:
As pessoas podem apresentar diferentes percepes devido:
A seletividade perceptiva: da variedade de estmulos que o am-
biente oferece, apenas uma parte prende a ateno da pessoa que
observa. Assim sendo, a incapacidade de ver o todo pode levar a jul-
gamentos distorcidos a respeito de quem est sendo observado.
As caractersticas do indivduo que percebe: reconhecer que um
cirurgio plstico est mais propenso a perceber um nariz imperfeito do
que um encanador, no seria surpresa. Tambm no seria de surpreender
se um chefe que inseguro percebesse os esforos de um subordinado
para fazer um excelente trabalho como uma ameaa posio que ocupa
na organizao. Esses so alguns exemplos de como fatores relaciona-
dos ao observador influenciam o que ele percebe. O observador se v
condicionado por caractersticas como idade, sexo, religio, ocupao,
experincia, expectativas, temores, desejos, dentre outras.
O sistema conceitual por meio de indcios indiretos: as percep-
es tambm se do por meio de indcios que o observador obtm
por intermdio de terceiros, seja por meio de boatos, de cartas de
recomendao, de atestados, dentre outros.
As defesas perceptuais: so os filtros que bloqueiam aquilo que no
queremos ver/ouvir/sentir, deixando passar apenas o que queremos.
Seria, por assim dizer, um bloqueio na conscientizao de estmulos
emocionalmente perturbadores.
A natureza da relao interpessoal: a relao superior-subor-
dinado, mdico-paciente, professor-aluno, pai-filho, induz a uma
percepo seletiva, podendo prejudicar a percepo do outro.
Comportamento Humano no Trabalho - 55
A primeira impresso: a primeira impresso o contato inicial entre
pessoas, o qual determina o relacionamento entre elas. Est condi-
cionada a um conjunto de fatores: influncias passadas, expectativas,
crenas, valores, contexto, dentre outros. A primeira impresso
sempre uma hiptese, havendo necessidade de confirm-la com
a busca de novos elementos. Formar uma primeira impresso sig-
nifica organizar a informao disponvel a respeito de uma pessoa,
geralmente pouca. Quando a primeira impresso positiva, haver
uma tendncia a estabelecer relacionamentos de empatia ou de
aproximao. Do contrrio, haver uma tendncia ao afastamento,
dificultando o relacionamento interpessoal.
Os preconceitos e os esteretipos: o indivduo pode introjetar e
aceitar valores sem reviso, dando origem a preconceitos e estereti-
pos, os quais no correspondem realidade objetiva. O preconceito
o conceito antecipado; uma opinio formada sem reflexo; uma
atitude discriminatria. Em funo dele, tratamos algumas pessoas
como se fossem menores, inferiores, incompletas. O esteretipo
o comportamento rgido, que no muda e que dificulta o entendi-
mento do outro.
O efeito de halo: quando acreditamos que uma pessoa no possa
ter um comportamento distinto daquele com o qual a batizamos.
Desse modo, se com uma determinada pessoa tivemos uma experi-
ncia desagradvel, acabamos crendo que esta no tem qualidades.
Ao contrrio, ao termos uma impresso favorvel de algum, julga-
mos ser esta pessoa incapaz de ter traos indesejveis. O efeito de
halo, portanto, resulta da tendncia para generalizar o significado
(gostar/no gostar; bom/mal; competente/incompetente) de um
trao da pessoa para todos os demais traos dessa mesma pessoa.
A projeo: a tendncia de atribuir as suas prprias caractersticas
a outras pessoas ou objetos. As pessoas que se utilizam desse meca-
nismo de defesa, tendem a perceber o outro de acordo com o que
elas prprias so e no conforme os outros so realmente.
A distoro perceptiva: a percepo pode ser distorcida por
processos ilusrios. A iluso pode ser entendida como um engano
56 - Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica
nas funes dos rgos dos sentidos, levando a uma percepo
distorcida da realidade. O indivduo, algumas vezes, depara-se com
estmulos no meio ambiente (captados pelos cinco sentidos
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