Melo VoIP: trajetória tecnológica e perspectivas para o Brasil no cenário de convergência tecnológica
Anais da IV Conferência ACORN-REDECOM, Brasília, DF, 14-15 de maio de 2010 265
para o Brasil no cenário de Convergência Tecnológica
Michele Cristina Silva Melo
Universidade Federal Fluminense
BIOGRAFIA
Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre em Economia (Industrial) pela
Universidade Federal de Santa Catarina, com a dissertação sob o título: “Trajetória Tecnológica do Setor de
Telecomunicações no Brasil – a tecnologia VoIP. Doutoranda em Economia pela Universidade Federal Fluminense.
Professora Assistente da Universidade Federal Fluminense.
RESUMO
O avanço da internet permitiu o surgimento de tecnologias que desafiam o modelo convencial de telecomunicações. A
tecnologia VoIP, isto é, a comunicação utilizando o acesso banda larga à internet permitiu a redução de custos e a realização
de chamadas sem fronteiras geográficas, com grandes impactos para as tradicionais empresas do setor, que já sentem os
efeitos sobre seu modelo de negócio. As previsões de diversas consultorias apontam o crescimento exponencial, tanto do acesso à internet quanto à utilização da tecnologia VoIP. O artigo visa mapear a trajetória desta tecnologia, bem como as
perspectivas futuras deste mercado.
Palavras-chaves
Telecomunicações; Informática; Convergência Tecnológica;
INTRODUÇÃO
O conceito de VoIP nasceu em meados da década de 1990, com o lançamento do primeiro software comercial, o Internet
Phone da VocalTec Communications, que permitia a troca de pacotes IP transportando amostra de voz entre computadores
pessoais (COLCHER, 2005). A partir de 1998, ocorrem os primeiros testes-piloto, sendo a tecnologia ajustada propiciando o
surgimento de novas aplicações. Após dez anos de testes, a utilização de tal tecnologia passa por um processo de difusão
exponencial. De acordo com Oliveira e Loural (2005, p.2), embora ainda existam problemas com a utilização da tecnologia
(localização de chamadas, confiabilidade, segurança, interoperabilidade, entre outros), sua taxa de adesão e seu potencial de
expansão fizeram da VoIP a grande vedete tecnológica atual.
VoIP é a comunicação de Voz sobre redes IP e consiste no uso das redes de dados que utilizam o conjunto de protocolos das
redes IP (TCP, UDP, IP) para a transmissão de sinais de voz em tempo real na forma de pacote de dados (TELECO, 2010).
Existem diversos tipos de VoIP, a saber: computador a computador, computador a telefone comum, telefone IP a telefone
comum, adaptador ATA a telefone comum e telefone IP a telefone IP.
O mais comum é a comunicação computador a computador usando a internet e alguns softwares específicos, SoftPhones,
como MSN Messenger, Yahoo! Messenger e Skype. O Skype, com 500 milhões de usuários cadastrados desde sua criação
em 2002 e cerca de 15 milhões de pessoas conectadas a cada dia (INFO, 2009), é o programa mais utilizado. As vantagens
atribuídas a este modelo se referem ao custo zero para realizar as chamadas entre computadores.
A realização de chamadas do computador para telefones convencionais depende de softwares fornecidos por um provedor de
serviço VoIP, que permitirá a interligação com a rede de telefonia convencional. A principal vantagem associada a este tipo
de VoIP é a redução de tarifas que se encontram bem abaixo daquelas cobradas pelas operadoras de longa distância no
modelo tradicional. A desvantagem se encontra no fato de que nem todos os provedores possibilitam que o usuário receba via
computador chamadas realizadas da rede de telefonia convencional. A evolução natural do VoIP levou a sua aplicação para
estabelecer chamadas telefônicas com a rede de telefonia pública (fixa e celular), que é chamada de telefonia IP.
Os serviços VoIP, da mesma forma que a internet, são nômades, ou seja, não importa qual a localização física do prestador de serviço VoIP ou do usuário para que o serviço seja utilizado. O número telefônico, contudo, está associado à área local do
número contratado. As diferenças em relação à telefonia convencional podem ser analisadas pelo Quadro 1.
VoIP (Voz sobre IP): Trajetória Tecnológica e Perspectivas
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Características Telefonia Convencional Telefonia VoIP
Conexão na casa do cliente Cabo de cobre Banda larga de internet
Falta de Energia Elétrica Continua funcional Para de funcionar
Mobilidade Limitada a casa do cliente Acesso em qualquer lugar do mundo, desde
que conectado a internet
Número telefônico Associado ao domicílio do cliente Associado a área local do número contratado
Chamadas locais Área local do domicílio do cliente Área local do número contratado
Quadro 1. Características Telefonia Convencional x Telefonia VoIP no Brasil
No Brasil, o serviço telefônico convencional é explorado por empresas ditas concessionárias que possuem obrigações e
metas. Neste modelo, baseado no degrau tarifário, as principais fontes de receita são as ligações a distância internacional, a
longa distância nacional, habilitação do serviço, assinatura do serviço e comunicação de dados. O sistema é hierarquico, pois
a infra-estrutura necessária para prover serviço de longa distância nacional e internacional são diferentes.
Na telefonia IP, contudo, a rede não é hierárquica e os terminais são inteligentes, de forma que o endereçamento não depende de localização geográfica, e o processamento e a realização das chamadas ocorrem em vários equipamentos que podem estar
localizados em qualquer parte da rede.
LIMITES DA REDE DE TELEFONIA CONVENCIONAL E O DESENVOLVIMENTO DO TCP/IP
Os sistemas tradicionais de transporte de tráfego telefônico possuem uma limitação importante, sua inadequação para a
transmissão de dados. A comunicação de dados cresceu acompanhando o ritmo de desenvolvimento da internet. A rede de
telefonia comutada pública apresenta pontos fortes, como padronização estabelecida, transparência na interoperabilidade
entre grande parte de hardware e software, capilaridade, estabilidade e tecnologia distintiva, a comutação de circuitos, não
originalmente desenvolvidos para o transporte de dados. O tráfego de voz pode ser considerado mais previsível e estável,
com duração média de 3 a 4 minutos (PROMON, 2006), enquanto o tráfego de dados é mais imprevisível, não constante e
com duração média superior.
Na comutação por circuitos, existe uma reserva de largura de banda pela duração de uma chamada telefônica. Tal fato permite um bom grau de qualidade para as ligações telefônicas, mas implica também desperdício de recursos de rede. A
utilização de uma rede de transmissão de dados em pacotes otimiza a utilização da largura de banda disponível, sem
comprometer o transporte de voz, através de pacotes de dados.
Outra limitação da rede de voz convencional é quanto a sua arquitetura fechada, isto é, suas funcionalidades estão reunidas
nas centrais telefônicas e a realização de upgrades de funcionalidades e novos serviços se tornam um processo caro,
demorado e complicado, em função inclusive da natureza proprietária das centrais de comutação (Idem, 2006).
Com a evolução dos processadores digitais de sinal, de chips especializados e algoritmos para priorização seletiva de tráfego,
uma nova arquitetura de rede se formou baseada em infra-estrutura voltada para a comutação de dados, com base em TCP/IP.
Neste modelo, as grandes funcionalidades estão bem delimitadas e interagem entre si de forma otimizada, tornando tal
arquitetura mais flexível e menos hierarquizada do que o modelo tradicional, favorecendo também o desenvolvimento de
novas funcionalidades.
Nesta nova arquitetura, surge o ATM (Asynchronous Tranfer Mode), isto é, uma plataforma de comutação de dados em alta
velocidade orientado para conexão e que suporta diferentes tipos de tráfegos e efetua as tarefas de transporte com eficácia e
confiabilidade. Porém, a difusão do ATM esbarrava no elevado custo de operação, manutenção e upgrades destas redes.
Para contornar a situação, foi criado o MPLS (Multi Protocol Label Switching), que consiste em um conjunto de protocolos
com o objetivo de garantir ao TCP/IP funcionalidades eficientes de engenharia de tráfego, necessários, já que o TCP/IP é
originalmente inábil em priorizar tipos diferentes de tráfego. Apesar desta limitação primária, o TCP/IP se tornou padrão na
indústria por oferecer comunicação em ambientes heterogêneos, como, por exemplo, em máquinas UNIX, máquinas
Windows, máquinas MAC, minicomputadores e mainframes. Atualmente, o TCP/IP faz referência a um grupo de protocolos
utilizados na internet e especifica como computadores se comunicam ao mesmo tempo em que fornece as convenções para a
conexão e rota no tráfego da internet por meio de conexões estabelecidas por roteadores.
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Embora sempre considerado um protocolo “pesado”, o desenvolvimento de interfaces gráficas, a evolução dos processadores
e o melhoramento do desempenho tornaram o TCP/IP indispensável. Entre os benefícios oferecidos por este protocolo,
destaca-se os seguintes: (a) Padrão: é um protocolo roteável que é o mais completo e aceito disponível no momento; (b)
Tecnologia para conectar sistemas não similares; (c) Permite e habilita as tecnologias mais antigas e as novas se conectarem à
internet; (d) Protocolo robusto, multiplataforma, com estrutura para ser utilizada em sistemas operacionais cliente/servidor,
possibilitando a utilização de aplicações desse porte entre dois pontos distantes.
Resumindo, as características, vistas no Quadro 2, associadas ao padrão TCP/IP no desenvolvimento da internet permitirão a
configuração de uma rede de telecomunicações capaz de fornecer melhores serviços aos consumidores. O TCP/IP, ao
oferecer uma arquitetura mais flexível, atende às necessidades atuais, de um sistema capaz de integrar diversos serviços.
Características Rede Telecomunicações Tradicional Rede Telecomunicações VoIP (Banda Larga)
Transporte Transporte de Voz Transporte de Voz e Dados
Comutação Comutação de circuitos Comutação de pacotes
Prioridade Reserva de largura de banda Não há reserva de largura de banda
Arquitetura Arquitetura fechada Arquitetura mais flexível
Condições de Tráfego Tráfego de voz: previsível e estável Tráfego de dados: imprevisível e não constante
Padrões Elaborados por Órgãos Internacionais Padrão TCP/IP é elaborado por um corpo técnico –
IAB
Quadro 2. Principais Características da Rede de Telecomunicações Tradicional e da Rede de Telecomunicações VoIP Sobre Banda
Larga
LIMITES DA TECNOLOGIA VOIP
Embora a crescente utilização da tecnologia VoIP, seja no mercado corporativo ou residencial, os limites impostos à
tecnologia passam por dois pontos distintos e importantes: a questão do acesso banda larga e a questão da qualidade do
serviço.
A conexão banda larga é um pré-requisito para a utilização desta tecnologia, visto que tanto voz e dados utilizarão o mesmo
espaço para caminhar pela rede. Entretanto, a disseminação da banda larga no país, embora crescente, ainda é restrita, como
demonstra a Tabela 1. Todos os tipos de conexão banda larga apresentaram crescimento desde 2002, apesar de no total o ano
de 2006 tenha apresentado uma queda nas taxas de crescimento. Entre os motivos que explicam as elevadas taxas de
crescimento se encontram a disseminação dos serviços VoIP (Skype, MSN Messenger e outros) no Brasil; a queda no custo
dos computadores; o maior acesso e uso da internet; e a oferta de produtos combinados, como telefone, internet e TV por
assinatura. Os dados para o quarto trimestre de 2009 são estimados.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 4T09*
ADSL Quantidade 526 993 1907 3152 4341 5590 7007 7705
Cres. (%) 88,78% 92,04% 65,29% 37,72% 28,77% 25,35% 9,96%
TV Assinatura (Cabo) Quantidade 135 203 342 629 1200 1753 2589 3132
Cres. (%) 50,37% 68,47% 83,92% 90,78% 46,08% 47,69% 20,97%
Via Rádio Quantidade 31 40 50 75 115 375 420 550
Cres. (%) 29,03% 25,00% 50,00% 53,33% 226,09% 12,00% 30,95%
Total Quantidade 692 1236 2299 3856 5656 7718 10016 11387
Cres. (%) 78,61% 86,00% 67,73% 46,68% 36,46% 29,77% 13,69%
Tabela 1. Total de Conexões Banda Larga no Brasil entre 2002 e 2009 – em milhares
A queda no preço dos computadores teve grande impacto no setor com elevação da venda, tando de desktops quanto de notebooks. Em 2004, a venda total de micros atingia apenas 4,1 milhões de doláres. Em 2008, as vendas de desktops
somaram 7,7 milhões e a notebooks, 4,3 milhões, totalizando 12 milhões de dolares (TELEBRASIL, 2009) isto é, um
crescimento de 192%.
Em um país de aproximadamente 200 milhões de pessoas, cerca de 10 milhões possuem algum acesso banda larga
(Telebrasil, 2009), o que aponta o ainda enorme potencial de crescimento deste mercado. Entre os motivos para a restrição
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deste serviço, tem-se a concentração de renda no Brasil. Conforme dados da Telebrasil (2009), a concentração de renda no
país aumentou entre 2001 e 2008, onde a classe definida como E passou de 74.9% em 2001 para 78.5% em 2008. No mesmo
período, a classe A, de 1.1% no ano de 2001, reduziu para 0.6% em 2008. Também é possível perceber um achatamento da
classe média (B e C). Como a classe que já possui o serviço é a com rendimentos mais elevados, as operadoras são obrigadas
a procurar novos clientes entre aqueles com renda mais baixa.
O marco regulatório também é um aspecto importante a ser considerado. A discussão em torno do marco regulatório consiste, principalmente, sobre a impossibilidade de fusão entre duas concessionárias do serviço de telefonia comutado tradicional que
operem em áreas diferentes do PGO (Plano Geral de Outorgas) e as imposições colocadas pela Lei do Cabo, que não permite
participação superior a 30% de capital estrangeiro em empresas de radiodifusão. Este cenário dificulta às empresas a
formação de grandes grupos atuando em diversos segmentos e oferecendo produtos convergentes.
As questões relacionadas com a qualidade do serviço se referem aos problemas que possam existir de latência (diferença de
tempo entre o início de um evento e o momento em que seus efeitos tornam-se perceptíveis), perda de pacotes, eco, jitter
(variações de atraso) e segurança. Tais problemas podem ser superados com o dimensionamento correto da rede. Outro fator
que tem graves implicações para a manutenção da qualidade é a dependência, em alguns casos, da energia elétrica para se ter
acesso aos serviços e VoIP.
Entre as principais vantagens relacionadas, portanto, a esta tecnologia, tem-se a redução no custo da chamada, pois a voz é
transformada em pacotes e transmitida como pacote de dados; a unificação das redes de telefonia, internet e TV por
assinatura, o que contribui para a redução de custos e otimização de utilização.
Com relação às desvantagens, listam-se a dependência do provedor de internet para a continuidade do serviço; a questão de
segurança, já que a tecnologia ainda não aceita criptografia para garantir a segurança na transmissão de dados; a qualidade
das ligações tem relação com a configuração da rede, que, se mal dimensionada, pode ocasionar problemas de eco, atraso e
perda de pacotes; a regulamentação praticamente inexistente, visto que, na análise do órgão regulador do setor, a Anatel, a
tecnologia ainda não atingiu participação de mercado suficiente para exigir regulação; e, por fim, a falta de integração dos
equipamentos, pois os protocolos utilizados pela tecnologia não são atestados por órgãos internacionais conhecidos como
UIT, de modo que cada fornecedor desenvolva equipamentos com protocolos distintos.
O MERCADO DE VOIP
É importante destacar a inexistência de uma fonte de dados oficial sobre os números da tecnologia VoIP. Por ser uma
tecnologia em fase inicial de implantação e disseminação, os dados disponíveis são aqueles divulgados por operadoras que
disponibilizam o serviço; revistas e jornais, como Exame, IDG NOW, Computer World, Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico; e sites especializados, como Teleco, Abrafix, ITWEB.
A disseminação da internet e o avanço do acesso via banda larga nos últimos anos favoreceram o alcance da telefonia IP.
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Soluções de Telecomunicações e Informática (Abreprest)
indica que os investimentos no setor de telecomunicações em 2008 por parte das operadoras fixas devem se elevar em 3%,
atingindo o valor de R$ 2.66 bilhões de reais. Os principais focos dos investimentos serão a banda larga e novos serviços,
como IPTV (IDG NOW, 2008).
A utilização do VoIP no Brasil, segundo a Exame (2005), apresentava perspectiva de 25% de utilização para 2006. Mesmo
com o baixo número de assinantes banda larga no Brasil, alguns números já surpreendiam: ainda em 2005, uma em cada três
ligações do Brasil para o exterior já era feita pela internet; os internautas brasileiros estão em terceiro lugar no ranking de
usuários do Skype (Idem, 2005).
Conforme dados da Teleco (2010), as maiores prestadoras de serviço de telefonia fixa VoIP no Brasil são a Embratel/Net e a
GVT. Pela Tabela 2 se percebe que a Net Fone e a GVT apresentaram crescimento no número de assinantes, embora o crescimento da Net tenha sido excepcional.
2005 2006 2007 2008 1T09 2T09 3T09 4T09
Net Fone Via Embratel -- 182,0 567,0 1.802,0 2.058,0 2.286,0 2.489,0 2.557,0
GVT 5,6 35,4 74,0 100,0 123,0 135,0 147,0 147,0
Tabela 2. Número de Assinantes de Telefonia Fixa VoIP no Brasil entre 2005 e 2009 – em milhares
Estudo realizado pelo Idate (TeleTime, 2004), apontava que em 2009 a expectativa era que o uso corporativo de
telecomunicações sobre IP respondesse por 40% dos negócios por linhas telefônicas, levando ao desaparecimento de cerca de
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um terço das linhas convencionais fixas. A previsão para 2010 é de 50%. Segundo a Consultoria Infonetics Research (2010),
o mercado mundial de VoIP cresceu 14% em 2009, mesmo em um cenário de crise financeira, o que confirma a utilização do
VoIP como tendência mundial. A popularização de aplicativos do tipo Skype para diversas plataformas de smartphones
acompanha a tendência divulgada pela Consultoria Gartner (ITWEB, 2009), de que em dez anos (2019), mais de 50% do
tráfego de voz móvel no mundo será feito por meio da tecnologia VoIP, e destes, 30% serão baseados em serviços de VoIP
wireless administrados por portais como Google, Facebook, MySpace e Yahoo!. Conforme pesquisa realizada por Wainhouse Research (ITWEB, 2008), o mercado mundial de serviços de comunicação integrada saltará dos atuais US$ 8.8
bilhões para US$ 24.2 bilhões em 2012.
Um estudo da Consultoria Accenture e Guerreiro (apud ESTADO DE SÃO PAULO, 2005b) mostrou que em seis mercados
mais maduros, Austrália, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Itália e Reino Unido, entre os anos de 2001 e 2004, a base
de assinantes de telefonia fixa caiu em média 1.7% ao ano, enquanto a telefonia móvel cresceu 10% e a banda larga, 39%. A
telefonia IP cresceu 37% entre os anos de 2003 e 2004, atingindo o número de vinte e nove milhões de usuários. Todas as
grandes empresas de telefonia mundiais, como Verizon, AT&T, Deustche Telecom e NTT, estão atualizando suas redes para
disponibilizar ligações via web.
Na América do Norte a expectativa era de um crescimento de cerca de 18 vezes entre 2004 e 2009, passando de 1,24 para
23,4 bilhões de dólares (IBM, 2010). Na Europa, o número de linhas fixas de VoIP saltou de 20 milhões para 30 milhões
entre meados de 2007 e meados de 2008 e, para o final de 2009 tal número seria próximo de 45 milhões de linhas, de acordo
com a Consultoria TeleGeography (ITWEB, 2009). Para os EUA, de acordo com artigo da revista TeleTime (2004), era esperado para 2009 aproximadamente doze milhões de residências ou, ainda, que 17% das residências com acesso broadband
utilizassem telefonia VoIP em 2009. As mudanças provocadas no setor pela tecnologia VoIP são tão grandes que até mesmo
empresas de outros segmentos estão entrando no setor de telefonia, como é o caso da Time Warner, do Yahoo! e da ComCast
nos EUA. Para a América Latina, a perspectiva é que o setor movimentará quantia superior a US$ 10,2 bilhões até 2014,
segundo a Consultoria Signals Telecom (ITWEB, 2009b), enquanto que, em três anos, as receitas do mercado brasileiro de
serviços de VoIP devem ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão.
A POSIÇÃO DAS OPERADORAS DE TELECOMUNICAÇÕES
Outro grande desafio enfrentado pelo setor diz respeito ao impacto nas operadoras de telecomunicações, pois além da perda
de receita com a entrada de novas soluções no mercado, também devem tomar decisões com relação à implementação do
processo de otimização de sua infra-estrutura, de modo a se adaptar para o momento da convergência. Embora diversas
empresas apresentem desde o momento pacotes de serviços, isto não significa que exista também a integração tecnológica para a prestação deste pacote. Segundo Marcelo Nobre Frasson (IDG NOW, 2008), a realidade ainda é que cada serviço
ofertado ao cliente possui uma tecnologia específica.
As operadoras de telefonia fixa já sentem a queda em suas receitas, sobretudo de longa distância e internacional, e passaram a
lançar pacotes de ligações com descontos nos minutos e produtos convergentes (TELETIME, 2007). Na Europa, em 2006 a
queda das receitas com longa distância das operadoras tradicionais atingiu 30% e o cenário para o Brasil não era diferente. O
impacto nas ligações de longa distância nacional devem ser menores, pois as operadoras realizaram grandes campanhas de
marketing para divulgar seus códigos de prestadora. O relatório da Consultoria Frost & Sulivan (ITWEB, 2008) indica que
deve haver queda de 2,8% ao ano no faturamento com ligaçoes locais e de 7,9% no de ligações de longa distância no Brasil
nos próximos seis anos, a partir de 2009, sendo importante ressaltar que, o mercado de VoIP no Brasil representa apenas
0,5% de todo o mercado de telefonia. Pela Tabela 3 nota-se a queda na receita das chamadas interurbanas nacionais e
internacionais no Brasil, com destaque para a queda em 2005 das chamadas internancionais, que atingiu o valor de cerca de
45%. Percebe-se, também, o crescimetno de 122% dos provedores de serviços VoIP entre 2006 e 2007.
2003 2004 2005 2006 2007
Chamadas Interurbanas 6860 7188 7100 5924 5548
Crescimento Anual (%) - 4,8 -1,2 -16,6 -6,3
Chamadas Internacionais 1336 1394 768 698 747
Crescimetno Anual (%) - 4,3 -44,9 -9,1 7,0
Provedor de VoIP - - - 44 98
Crescimento Anual (%) - - - - 122,7
Tabela 3. Receita operacional líquida das empresas de telecomunicações com 20 ou mais pessoas ocupadas - serviços selecionados –
em R$ Milhões
O baixo nível de ligações via web, porém, juntamente com o avanço de número de linhas de aparelhos móveis, foi capaz de
reduzir a receita das operadoras com serviços de voz. A perspectiva, segundo a Consultoria Accenture e Guerreiro (apud
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ESTADO DE SÃO PAULO, 2005), é de que esta receita passasse de US$ 784 bilhões em 2004 para US$ 665 bilhões em
2008.
A solução encontrada para reverter a queda da receita com voz, inclusive em outros países, foi a oferta de pacotes, chamado
de Triple Play, com serviços de telefonia, acesso à internet banda larga e televisão por assinatura. No Brasil, a TVA já
oferecia telefonia em seus pacotes e a Net estuda novos pacotes contendo telefonia.
Depois de se disseminar pelo mercado corporativo, o VoIP passa a avançar para o mercado residencial, quando grandes varejistas começaram a vender adaptadores e aparelhos de telefonia IP para uso residencial. Por sua vez, a questão da
abrangência diz respeito ao número limitado de público-alvo existente no Brasil, que em 2009 estava limitado a quase dez
milhões de usuário de banda larga, um número pequeno perto dos sessenta milhões de acessos fixos instalados. Outro fator
relevante também são os preços dos aparelhos de telefonia IP, ainda elevados em razão da baixa escala de produção.
O setor de telecomunicações, após o processo de privatização e até julho de 2003, passou por um período em que não seria
permitido às concessionárias efetuarem vendas e/ou adquirirem outras empresas na mesma área de atuação. A primeira
grande discussão sobre o tema aconteceu devido à concordata do grupo WorldCom, controladores da Embratel no Brasil.
Após o processo de falência a empresa concretizou a venda da Embratel. O grupo responsável pela compra foi a Telmex,
responsável também pela Vésper e Claro no país. A compra transformou o Grupo no terceiro maior operador de
telecomunicações do país, atrás apenas de Telefônica-Vivo e Telemar-Oi.
Para se consolidar na América Latina, o Grupo Telmex continua adquirindo empresas no Brasil. Em meados de 2004, a
empresa adquiriu participação na Net (TV por assinatura), que possuía, na época, 1.3 milhões de clientes ou 36% do mercado (VALOR ECONÔMICO, 2006). Tal compra é estratégica para a Telmex, como uma forma de acessar o cliente residencial, a
chamada última milha, visto que a Embratel não possui cabos para acesso aos clientes. A Net, sob o controle da Embratel,
adquiriu a Vivax, segunda maior empresa do setor, respondendo por 75% do mercado. A compra passa pela nova estratégia
da empresa de oferecer não somente novos canais, mas também o produto conhecido como Net Phone, como parte dos novos
pacotes oferecidos em virtude da convergência de dados, voz e imagem (ESTADO DE SÃO PAULO, 2006).
A Telefônica, em um movimento para garantir a convergência dos serviços, em outubro de 2006 fechou um acordo com o
Grupo Abril, nos termos permitidos pela LGT1, para a compra da TVA (TV por assinatura) e que possuía, na época, 7% do
mercado. Entretanto, a compra teria que passar pelo crivo da Anatel. A autorização para a compra foi concedida pela Anatel
em julho de 2007, com algumas restrições no modelo de negócio em São Paulo, onde a Telefônica é concessionária e já
detém grande infra-estrutura.
A Telmex, em contra-ataque ao investimento da Telefônica (compra da TIM) aumentou os investimentos para obter a liderança no mercado da tecnologia Triple Play (GAZETA MERCANTIL, 2007), isto é, a oferta combinada de serviços de
voz, dados e imagens, oferecendo conexões de alta velocidade a valores menores dos que os praticados no mercado. Tal
estratégia somente é possível em virtude da aquisição da Net e Vivax.
No início de 2005, começou a ganhar contorno a idéia de união entre Brasil Telecom e Telemar. Entretanto, existiam dois
obstáculos para tal união. O primeiro correspondia aos valores requeridos pelos sócios da Brasil Telecom, entre eles Telecom
Itália, CitiGroup e outros Fundos de Investimentos, para a venda de sua participação. O segundo, à impossibilidade prevista
na legislação, que não permitia que duas operadoras fixas fossem controladas pelo mesmo grupo.
A Telemar, com o objetivo de se fortalecer para enfrentar grandes grupos internacionais, decidiu, no final de 2006, reduzir os
dividendos pagos para diminuir as dívidas da empresa e partir para aquisições, principalmente de empresas de telefonia
móvel. O alvo seria a TIM, contudo, com a venda da empresa para a Telefônica, o que ganhou mais força ainda foi a junção
entre Telemar/Oi e Brasil Telecom GSM, empresa que iniciaria operações com mais de 15 milhões de clientes. A compra foi
aprovada pela Anatel em dezembro de 2008.
A formação de grandes grupos mediante a fusão entre empresas de segmentos distintos permite a redução de custos para o
fornecimento dos serviços, devido ao aumento da escala. As grandes operadoras, ao adentrarem no mercado de banda larga,
podem ampliar os volumes dos investimentos e contribuir para a disseminação do serviço entre todas as classes de renda,
inclusive com a oferta de combos de produtos.
CONCLUSÃO
1 Segundo a LGT, uma empresa estrangeira somente poderia controlar até 49% de uma empresa do segmento de cabo.
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O desenvolvimento da comutação por pacotes trouxe um importante impacto para o setor de telefonia. A comutação de
pacotes, ao não exigir um processo dedicado, como a comutação por circuitos, permite uma melhor exploração da rede. A
adoção do protocolo TCP/IP garante ainda a flexibilidade necessária para a interface entre diversas redes distintas e a
facilidade para incorporar novos serviços.
A infra-estrutura de banda larga e os equipamentos desenvolvidos possibilitam formar uma rede com capacidade para
transportar não somente dados, mas também voz com padrão idêntico ao oferecido pelo sistema tradicional de telefonia e a oportunidade de oferecer novos produtos. A tecnologia VoIP, em suas diversas modalidades de uso, permite a redução de
custos, uma vez que as tarifas cobradas pelo serviço são inferiores às cobradas pelas operadoras de telefonia convencional. E
mais, ao incentivar a utilização da banda larga, necessária para o funcionamento do serviço, também possibilita a abertura de
novos mercados para as operadoras, capazes de levar pela mesma infra-estrutura serviços de voz, internet e TV por
assinatura.
Já é possível observar a queda da receita de voz das operadoras e o aumento do número de assinantes de acesso banda larga e
de telefonia VoIP, o que fez com que as operadoras iniciassem os investimentos para a oferta deste serviço, primeiramente
para o mercado corporativo e depois para o varejo. O desenvolvimento da rede de acesso à internet e a expansão das
capacidades de transmissão, complementada com a mudança nos padrões de regulamentação, permitem a exploração da
oferta de serviços convergentes por parte das operadoras como forma de superar a queda com os serviços de voz verificadas
depois da introdução dos serviços de VoIP.
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Melo VoIP: trajetória tecnológica e perspectivas para o Brasil no cenário de convergência tecnológica
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