VISLUMBRE PARA A SUSTENTABILIDADE PLANETAacuteRIA
Reynaldo Franccedila Lins de Mello
Doutorando em ciecircncias pela Universidade de Satildeo Paulo
RESUMO
A sustentabilidade surge como princiacutepio-mestre de uma nova organizaccedilatildeo social
que comeccedila a ser enunciada como necessaacuteria para a sobrevivecircncia humana A proposta
deste trabalho eacute entender o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel como uma
perspectiva de estrateacutegia para a sustentabilidade planetaacuteria
Palavras-chave desenvolvimento sustentabilidade sociedade mundial
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INTRODUCcedilAtildeO BREVE DIAGNOacuteSTICOi
A exploraccedilatildeo desenfreada da natureza percebida unicamente como um conjunto
de recursos naturais a serem utilizados somente pelo Homo sapiens submete-se a uma
cadeia infinita de demandas comprometendo a teia da vida sobre a Terra
A humanidade estaacute enfrentando um desafio sem precedentes em vaacuterias
instacircncias da sociedade civil concorda-se que os ecossistemas da Terra natildeo podem
sustentar os niacuteveis atuais de atividades econocircmicas e de consumo de recursos naturais
As atividades econocircmicas globais estatildeo crescendo 4 ao ano ndash medidas em Produto
Global Bruto (PGB) cresceram de US$ 38 trilhotildees em 1950 para US$ 193 trilhotildees em
1993 Isso quer dizer que a cada 18 anos o PGB dobra A populaccedilatildeo mundial que era de
25 bilhotildees em 1950 atingiu seis bilhotildees na virada do milecircnio e o consumo per capita de
energia supera esse crescimento levando assim a uma rota de colisatildeo entre sistema
econocircmico e meio ambiente e gerando mais conflitos poliacuteticos e sociais (BROWN 2000)
Essa corrida pelo consumo natildeo se deu sem produzir desigualdades profundas
Enquanto 20 da populaccedilatildeo mundial gozam de bem-estar material sem precedentes
consumindo ateacute 60 vezes mais do que os 20 mais pobres amplia-se o fosso entre ricos
e pobres e instala-se a insustentabilidade social poliacutetica econocircmica e ecoloacutegica
(BROWN 2000)
Podemos argumentar que a produtividade natural do planeta tende sempre a
baixar mesmo com praacuteticas conservacionistas afinal a economia natildeo estaacute submetida agrave
lei da entropia de acordo com a qual a proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel
seria insustentaacutevel Como tambeacutem as espeacutecies vivas natildeo conseguem crescer
ilimitadamente umas sobre as outras de forma impune sem que haja uma regulaccedilatildeo ou
um caos
O corolaacuterio dessa crise encontra-se nas cidades Aqui as pessoas facilmente
esquecem os elos com a natureza Os alimentos satildeo comprados em supermercados (que
estatildeo sempre abastecidos) consumidos e seus resiacuteduos descartados em lixeiras e na
rede de esgoto ou em fossas que funcionam como ldquosumidouros maacutegicosrdquo dos detritos Os
dejetos ldquosomemrdquo levados por tubulaccedilotildees com aacutegua sempre disponiacutevel e abundante O
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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade
mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte
inconsequumlente)
O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute
convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles
miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos
nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e
outros)
A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais
sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico
socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para
um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo
substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro
proacuteximo
Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de
atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento
avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees
ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de
financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados
frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na
sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da
sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as
agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio
Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)
encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo
Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto
de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico
da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico
industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a
regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem
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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua
sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera
A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre
esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma
objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas
atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise
da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e
Rees (1996)iii
Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental
total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de
natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de
aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um
instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para
sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo
sociobiofiacutesico
Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave
atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente
como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e
pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo
Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos
ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos
biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para
sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na
realidade sociobiofiacutesica da humanidade
Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e
refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de
sustentabilidade
A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para
embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis
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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta
metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da
capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o
fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia
O QUE Eacute VIDA
A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos
de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo
incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da
organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato
deste processo)
A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este
conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002
MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar
toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento
externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo
Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos
fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade
Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo
viva
nascimento
adaptaccedilatildeo
sobrevivecircncia
sustentabilidade
morte
(re) nascimento
A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da
natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-
reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da
mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo
geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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INTRODUCcedilAtildeO BREVE DIAGNOacuteSTICOi
A exploraccedilatildeo desenfreada da natureza percebida unicamente como um conjunto
de recursos naturais a serem utilizados somente pelo Homo sapiens submete-se a uma
cadeia infinita de demandas comprometendo a teia da vida sobre a Terra
A humanidade estaacute enfrentando um desafio sem precedentes em vaacuterias
instacircncias da sociedade civil concorda-se que os ecossistemas da Terra natildeo podem
sustentar os niacuteveis atuais de atividades econocircmicas e de consumo de recursos naturais
As atividades econocircmicas globais estatildeo crescendo 4 ao ano ndash medidas em Produto
Global Bruto (PGB) cresceram de US$ 38 trilhotildees em 1950 para US$ 193 trilhotildees em
1993 Isso quer dizer que a cada 18 anos o PGB dobra A populaccedilatildeo mundial que era de
25 bilhotildees em 1950 atingiu seis bilhotildees na virada do milecircnio e o consumo per capita de
energia supera esse crescimento levando assim a uma rota de colisatildeo entre sistema
econocircmico e meio ambiente e gerando mais conflitos poliacuteticos e sociais (BROWN 2000)
Essa corrida pelo consumo natildeo se deu sem produzir desigualdades profundas
Enquanto 20 da populaccedilatildeo mundial gozam de bem-estar material sem precedentes
consumindo ateacute 60 vezes mais do que os 20 mais pobres amplia-se o fosso entre ricos
e pobres e instala-se a insustentabilidade social poliacutetica econocircmica e ecoloacutegica
(BROWN 2000)
Podemos argumentar que a produtividade natural do planeta tende sempre a
baixar mesmo com praacuteticas conservacionistas afinal a economia natildeo estaacute submetida agrave
lei da entropia de acordo com a qual a proacutepria noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel
seria insustentaacutevel Como tambeacutem as espeacutecies vivas natildeo conseguem crescer
ilimitadamente umas sobre as outras de forma impune sem que haja uma regulaccedilatildeo ou
um caos
O corolaacuterio dessa crise encontra-se nas cidades Aqui as pessoas facilmente
esquecem os elos com a natureza Os alimentos satildeo comprados em supermercados (que
estatildeo sempre abastecidos) consumidos e seus resiacuteduos descartados em lixeiras e na
rede de esgoto ou em fossas que funcionam como ldquosumidouros maacutegicosrdquo dos detritos Os
dejetos ldquosomemrdquo levados por tubulaccedilotildees com aacutegua sempre disponiacutevel e abundante O
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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade
mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte
inconsequumlente)
O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute
convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles
miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos
nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e
outros)
A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais
sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico
socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para
um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo
substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro
proacuteximo
Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de
atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento
avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees
ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de
financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados
frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na
sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da
sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as
agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio
Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)
encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo
Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto
de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico
da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico
industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a
regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem
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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua
sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera
A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre
esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma
objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas
atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise
da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e
Rees (1996)iii
Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental
total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de
natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de
aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um
instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para
sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo
sociobiofiacutesico
Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave
atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente
como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e
pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo
Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos
ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos
biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para
sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na
realidade sociobiofiacutesica da humanidade
Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e
refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de
sustentabilidade
A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para
embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis
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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta
metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da
capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o
fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia
O QUE Eacute VIDA
A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos
de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo
incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da
organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato
deste processo)
A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este
conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002
MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar
toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento
externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo
Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos
fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade
Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo
viva
nascimento
adaptaccedilatildeo
sobrevivecircncia
sustentabilidade
morte
(re) nascimento
A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da
natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-
reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da
mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo
geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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mesmo acontece com a energia eleacutetrica e o gaacutes (cada processo com sua peculiaridade
mas com o mesmo resultado ldquomaacutegicordquo de disponibilidade imediata e descarte
inconsequumlente)
O metabolismo do megaconsumo das sociedades capitalistas industriais eacute
convenientemente escondido dos olhos das suas populaccedilotildees agrave exceccedilatildeo daqueles
miseraacuteveis que vivem das sobras autecircnticos detritiacutevoros humanos (catadores de resiacuteduos
nos lixotildees populaccedilotildees que habitam na periferia e co-habitam nos e com os lixotildees e
outros)
A despeito dos esforccedilos envidados para tornar os cidadatildeos do mundo mais
sensibilizados para as questotildees ambientais os inuacutemeros relatoacuterios de diagnoacutestico
socioambiental de diversas ONGs atuantes neste setor permanecem convergindo para
um ponto as mudanccedilas ainda satildeo tiacutemidas e insuficientes para provocar uma alteraccedilatildeo
substancial de rota e livrar a espeacutecie humana de uma possiacutevel desadaptaccedilatildeo em futuro
proacuteximo
Os instrumentos criados para promover mudanccedilas nas diversas esferas de
atuaccedilatildeo da sociedade ndash tais como educaccedilatildeo ambiental legislaccedilatildeo e licenciamento
avaliaccedilatildeo de impacto aacutereas de conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo gestatildeo e certificaccedilotildees
ambientais oacutergatildeos puacuteblicos ligados agrave temaacutetica movimentos da sociedade civil fundos de
financiamento para projetos ambientais e sociais e afins ndash mostram paacutelidos resultados
frente agrave devastadora alteraccedilatildeo socioambiental provocada pelo capitalismo global na
sociedade contemporacircnea (com raras exceccedilotildees) Mesmo o mais recente avanccedilo da
sociedade civil representado pela confecccedilatildeo da Agenda 21ii e de seus ldquofilhotesrdquo as
agendas locais (documento fruto da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio
Ambiente e desenvolvimento ndash Unced realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992)
encontra seacuterias dificuldades de implementaccedilatildeo
Como avaliar entatildeo o uso humano da natureza a forma como este se daacute quanto
de natureza noacutes usamos Afinal quando a demanda de um modo de produccedilatildeo especiacutefico
da sociedade humana pela natureza aumenta em volume e ritmo (crescimento econocircmico
industrial e financeiro ilimitado como expressatildeo maacutexima de desenvolvimento) a
regeneraccedilatildeo da biosfera fica ameaccedilada e por conseguinte os recursos naturais tambeacutem
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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua
sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera
A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre
esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma
objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas
atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise
da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e
Rees (1996)iii
Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental
total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de
natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de
aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um
instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para
sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo
sociobiofiacutesico
Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave
atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente
como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e
pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo
Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos
ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos
biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para
sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na
realidade sociobiofiacutesica da humanidade
Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e
refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de
sustentabilidade
A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para
embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis
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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta
metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da
capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o
fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia
O QUE Eacute VIDA
A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos
de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo
incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da
organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato
deste processo)
A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este
conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002
MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar
toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento
externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo
Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos
fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade
Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo
viva
nascimento
adaptaccedilatildeo
sobrevivecircncia
sustentabilidade
morte
(re) nascimento
A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da
natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-
reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da
mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo
geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
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MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Garantir a capacidade do meio ambiente de se regenerar eacute assegurar sua
sustentabilidade a da biosfera e a da ecosfera
A busca de novos meacutetodos e o aperfeiccediloamento dos atuais eacute constante Dentre
esses esforccedilos destaca-se um modelo de anaacutelise que permite estabelecer de forma
objetiva as consequumlecircncias das relaccedilotildees de interdependecircncia entre o ser humano suas
atividades e os recursos naturais necessaacuterios para sua manutenccedilatildeo trata-se da Anaacutelise
da Pegada Ecoloacutegica (Ecological Footprint Analysis) desenvolvida por Wackernagel e
Rees (1996)iii
Este meacutetodo se propotildee a calcular medir e diagnosticar o impacto socioambiental
total realizado por uma determinada sociedade ou comunidade ou seja a quantidade de
natureza que eacute usada (desvelando as formas de uso e seus destinos) a quantidade de
aacuterea dos ecossistemas explorada pelas demandas do modo de produccedilatildeo Portanto eacute um
instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais necessaacuterios para
sustentar uma dada formaccedilatildeo social e seu modo de produccedilatildeo ndash o metabolismo
sociobiofiacutesico
Esta formulaccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica sobre sustentabilidade vem de encontro agrave
atual fragilidade do conceito de desenvolvimento sustentaacutevel que eacute visto frequumlentemente
como enganoso e cuja definiccedilatildeo pode variar de acordo com diferentes disciplinas e
pontos de vista ndash e o pior de acordo com a ldquovontade do mercadordquo
Assim sendo ldquoa anaacutelise da capacidade de suporte e regeneraccedilatildeo dos
ecossistemas naturais e antroacutepicos oferece a possibilidade de quantificar os recursos
biofiacutesicos detectar fatores limitantes e fornecer as bases de poliacuteticas puacuteblicas para
sociedades sustentaacuteveisrdquoiv trazendo ao conceito de sustentabilidade uma ancoragem na
realidade sociobiofiacutesica da humanidade
Duas satildeo as vantagens iniciais desta nova postura a) a verificabilidade e
refutabilidade cientiacutefica do conceito e b) a construccedilatildeo de modelos cientiacuteficos de
sustentabilidade
A importacircncia da constituiccedilatildeo de modelos eacute que estes servem como pistas para
embasar a reflexatildeo da possibilidade ou natildeo de criaccedilatildeo de sociedades sustentaacuteveis
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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta
metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da
capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o
fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia
O QUE Eacute VIDA
A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos
de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo
incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da
organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato
deste processo)
A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este
conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002
MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar
toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento
externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo
Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos
fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade
Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo
viva
nascimento
adaptaccedilatildeo
sobrevivecircncia
sustentabilidade
morte
(re) nascimento
A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da
natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-
reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da
mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo
geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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globais segundo determinado modo de produccedilatildeo Mais ainda numa ampliaccedilatildeo desta
metodologia poder chegar a estimar o quanto o ser humano estaacute se apropriando da
capacidade produtiva da biosfera para quem e com que finalidades Afinal a vida eacute o
fenocircmeno mais complexo de que se tem ciecircncia
O QUE Eacute VIDA
A arte de viver eacute historicamente complexa pois que vivemos de morte e morremos
de vida ndash ou seja desde que surgiu no orbe terrestre a mateacuteria viva viver eacute um processo
incessante de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo de organismos em que a transformaccedilatildeo da
organizaccedilatildeo da mateacuteria viva eacute perene (incluindo-se aiacute a mateacuteria natildeo-viva como substrato
deste processo)
A vida eacute ldquoalgordquo ainda enigmaacutetico e de difiacutecil definiccedilatildeo As polecircmicas sobre este
conceito satildeo extensas apesar dos avanccedilos jaacute obtidos (MARGULIS SAGAN 2002
MURPHY OrsquoNEILL 1997 SCHROumlDINGER 1997) Preliminarmente vamos considerar
toda organizaccedilatildeo energeacutetica e material que possua um metabolismo (processamento
externointerno de energia mateacuteria e informaccedilatildeo) e que se reproduza um ldquoser vivordquo
Dentro desta complexa arte que eacute o ato de viver devemos destacar trecircs aspectos
fundamentais quais sejam adaptaccedilatildeo sobrevivecircncia e sustentabilidade
Esquematicamente podemos representar este processo como existecircncia da organizaccedilatildeo
viva
nascimento
adaptaccedilatildeo
sobrevivecircncia
sustentabilidade
morte
(re) nascimento
A ideacuteia fundamental aqui ldquoeacute de que a vida reordena a mateacuteria A vida surge da
natildeo-vida da mateacuteria abioacutetica mas tatildeo logo adquire seu status como mateacuteria que se auto-
reproduz tem a capacidade para reordenar ndash dentro de certos limites ndash o restante da
mateacuteria abioacuteticardquo (FOLADORI 2001 p 34) Podemos especular que a vida eacute um processo
geoquiacutemico especial no qual a bioquiacutemica nasce daquela e passa a interagir com ela
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Esse movimento que vem ocorrendo haacute aproximadamente 39 bilhotildees de anos em
nosso planeta poderaacute atingir o seu cliacutemax (natildeo sabemos em quanto tempo) e se extinguir
ndash ou prosseguir para outros ambientes siderais em funccedilatildeo da capacidade evolutiva da
espeacutecie humana Tudo dependeraacute dos tipos de estrateacutegias adaptativas que os seres
humanos conseguirem conceber e utilizar em sua aventura sobre o orbe terrestre
ADAPTACcedilAtildeO
A adaptaccedilatildeo humana ao meio ambiente natural tem sido tradicionalmente um
processo lento e muitas vezes espinhoso ao longo da existecircncia de nossa espeacutecie Este
processo nem sempre foi ou tem sido consciente na verdade a adaptaccedilatildeo humana
muitas vezes mostra-se inconsciente agraves relaccedilotildees de causa e efeito a que estaacute submetida
seja do ponto de vista de uma anaacutelise linear seja de uma abordagem da complexidade
das relaccedilotildees sociobiofiacutesicas com o seu meio
Segundo Lewin ldquoadaptaccedilatildeo eacute o processo pelo qual uma espeacutecie muda atraveacutes da
seleccedilatildeo natural tornando-se adequada ao ambienterdquo (1999 p 509) Dentro do mesmo
escopo Moran conceitua adaptaccedilatildeo geneacutetica ou evolutiva como sendo ldquoas mudanccedilas no
niacutevel de populaccedilatildeo em virtude de modificaccedilotildees na frequumlecircncia de genes que conferem
vantagens reprodutivas para a populaccedilatildeo em determinado ambienterdquo (1994 p 391) Lima
por sua vez diz que adaptaccedilatildeo ldquoeacute todo o processo orgacircnico que favorece a sobrevivecircncia
ou reproduccedilatildeo de um indiviacuteduo pode ser de natureza morfoloacutegica fisioloacutegica
comportamental etcrdquo (1994 p 87)
Podemos extrair destas trecircs definiccedilotildees que a seleccedilatildeo natural ldquootimiza a estrutura
das populaccedilotildees melhora suas relaccedilotildees com o meio ambiente e as diversifica no espaccedilo e
no tempordquo (MOSCOVICI 1975 p 38) Portanto a espeacutecie que melhor se adapta ao seu
meio eacute aquela que mais se reproduz que gera um excedente populacional agrave capacidade
de suporte do meio no qual vive deixando o ecircxito para a sobrevivecircncia aos indiviacuteduos que
melhor se relacionem com o meio ambiente assim os melhores genes seratildeo repassados
para as novas geraccedilotildees e o processo se repete indefinidamente
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Eis em linhas gerais o funcionamento do processo adaptativo (da seleccedilatildeo natural
em pleno funcionamento) como uma resposta agraves necessidades correntes de conciliaccedilatildeo
para soluccedilotildees conflitantes ao longo da existecircncia de uma espeacutecie qualquer em interaccedilatildeo
com o ambiente
No caso da espeacutecie humana contudo eacute liacutecito seguir este modelo teoacuterico-cientiacutefico
tal como eacute aplicado aos demais seres vivos de todos os reinos jaacute conhecidos e
classificados
A espeacutecie humana eacute singular (ao menos ateacute onde sabemos) em sua interaccedilatildeo com
o meio ambiente e por isso necessitamos enriquecer a concepccedilatildeo teoacuterica vigente para
que represente com mais fidedignidade a particularidade que a sociedade humana
apresenta qual seja a relaccedilatildeo com o ambiente atraveacutes da cultura
SOBREVIVEcircNCIA
Sobrevivecircncia e sustentabilidade satildeo conceitos semelhantes mas natildeo satildeo
idecircnticos
Sobreviver eacute uma accedilatildeo pontual no tempo e espaccedilo determina a estrateacutegia de um
indiviacuteduo ou grupo para se perpetuar por mais um momento ndash eacute a sobrevida uma
ldquoquantidaderdquo a mais de vida a cada instante e a qualquer custo natildeo importando as
consequumlecircncias de seus atos desde que se sobreviva
Sustentabilidade eacute um feixe de eventos que visam agrave manutenccedilatildeo dos ciclos
biogeoquiacutemicos e com o surgimento dos seres humanos e suas sociedades singulares agrave
manutenccedilatildeo dos ciclos sociobiogeoquiacutemicos
A sustentabilidade humana implica um conjunto de accedilotildees que levem em
consideraccedilatildeo os padrotildees culturais informacionais materiais e energeacuteticos que se
manifestam como intricadas combinaccedilotildees de eventos antropossociais Assim
compreendida a sustentabilidade conteacutem a sobrevivecircncia
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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A singularidade da espeacutecie humana estaacute em primeiro lugar no fato de que sua
relaccedilatildeo com o ambiente (a natureza) do qual emergiu e no qual vive se daacute atraveacutes de
instrumentos fabricados por meio de relaccedilotildees sociais com outros seres humanos que vatildeo
se acumulando e gerando novos instrumentos que produzem outros instrumentos
(mediaccedilatildeo) e em segundo lugar no fato de que a sociedade humana natildeo se defronta
com o ambiente como se fosse um ldquobloco vivordquo (como as demais espeacutecies de seres vivos
o fazem) como uma uacutenica espeacutecie ldquomas como uma sociedade dividida complexa e
diferenciada em classesrdquo (FOLADORI 2001 p 207)
Estas duas particularidades satildeo responsaacuteveis por nossa singularidade
Sobrevivemos planejando a transformaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de ambientes por meio das nossas
relaccedilotildees sociais que produzem artefatos concretos e abstratos para mediar a
intervenccedilatildeo e o relacionamento humano com o mundo natural O melhor exemplo que
temos disto satildeo as cidades onde os espaccedilos tempos energias e mateacuterias estatildeo
moldados por padrotildees mentais antroacutepicos (MUNFORD 1998)
Neste contexto somos produtos e ao mesmo tempo produtores de natureza
Muito embora todos os demais organismos vivos tambeacutem possuam sua quota de
interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo com o ambiente eles ainda estatildeo submetidos agraves relaccedilotildees
imediatas e exclusivamente geneacuteticas (seleccedilatildeo natural) Jaacute a espeacutecie humana produz
cultura (relaccedilotildees sociais) eis o ldquosalto quacircnticordquo dado na e pela proacutepria natureza
Desse modo peculiar de a espeacutecie humana sobreviver comeccedilamos a perceber a
necessidade de sustentar a nossa sobrevivecircncia com o fito de que a sobrevivecircncia da
sustentabilidade forneccedila os melhores meios para a adaptaccedilatildeo humana contabilizando
tanto a biodiversidade quanto a sociodiversidade humana
SUSTENTABILIDADE
Em 1987 a Comissatildeo Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naccedilotildees
Unidas publicou o Relatoacuterio Brundtland que apresentou uma noccedilatildeo de desenvolvimento
sustentaacutevel ndash ldquoaquele desenvolvimento que atende agraves necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacutepriasrdquo ndash
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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que mais que um conceito transmite o desejo de mudanccedila de paradigma para um estilo
de desenvolvimento que natildeo se mostre excludente socialmente e danoso ao meio
ambiente
O desenvolvimento sustentaacutevel deve portanto significar desenvolvimento social e
econocircmico equilibrados com mecanismos de distribuiccedilatildeo das riquezas geradas e com
capacidade de considerar a fragilidade a interdependecircncia e as escalas de tempo
proacuteprias e especiacuteficas dos recursos naturais
Visualizar esse conceito na praacutetica implica mudanccedila de comportamento pessoal e
social aleacutem de transformaccedilotildees nos processos de produccedilatildeo e de consumo Para tanto
faz-se necessaacuterio o desencadeamento de um processo de discussatildeo e comprometimento
de toda a sociedade Essas caracteriacutesticas tornam o desenvolvimento sustentaacutevel ainda
hoje um processo a ser implementado
Garantir a capacidade de se regenerar do ambiente eacute assegurar sua
sustentabilidade Por isso eacute necessaacuterio sabermos o quanto noacutes gastamos de ldquonaturezardquo
o quanto devolvemos (e em que condiccedilotildees) o quanto haacute disponiacutevel para continuar a ser
usado e de que forma Eacute necessaacuterio medir e dar-lhe valores (energeacuteticos e simboacutelicos)
mensurar o uso humano da natureza (DIAS 2002)
Temos entretanto um problema de antinomia referente ao termo desenvolvimento
sustentaacutevel O conceito de desenvolvimento adveacutem da loacutegica de crescimento econocircmico e
financeiro ilimitados jaacute o de sustentabilidade estaacute inserido no nexo do equiliacutebrio dinacircmico
com ciclos limitados e interdependentes de mateacuteria e energia Eacute como se tentaacutessemos
encaixar um molde quadrado em um esfeacuterico ndash quem sabe desvendarmos a quadratura
do ciacuterculo
A possibilidade menos estapafuacuterdia eacute a de propormos uma sociedade humana
sustentaacutevel (na verdade vaacuterios tipos de sociedades e comunidades sustentaacuteveis) na qual
o termo desenvolvimento assuma outro significado dentro de outro ldquonichordquo
socioecoloacutegico que privilegie os diversos significados contidos no conceito como
expresso a seguir
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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(des = para fora) + (em = para dentro) + (volver = mudar) + (mento = processo)
Temos assim um processo em constante mudanccedila interna e externa fornecendo
a perspectiva para a sustentabilidade por meio de uma redistribuiccedilatildeo contiacutenua e em rede
de todos os elementos para o megassistema composto por sociosfera biosfera e ecosfera
(MELLO 2000)
A dificuldade de isto ocorrer natildeo estaacute tanto no campo das relaccedilotildees teacutecnicas mas
no das relaccedilotildees sociais Um exemplo eacute o fato de que enquanto muitos atores sociais
discutiam se ldquoas questotildees ambientaisrdquo eram pertinentes ou natildeo (mais ou menos quatro
deacutecadas atraacutes) o capitalismo as incorporou em sua loacutegica de produccedilatildeo ndash expressando a
sua tentativa de sobreviver Assim hoje temos o capitalismo ecoloacutegico que vecirc na
poluiccedilatildeo por exemplo uma fonte de negoacutecios lucrativos com a produccedilatildeo de filtros e
outros artefatos tecnoloacutegicos que natildeo satildeo feitos para eliminar o problema mas para
conviver ldquoharmoniosamenterdquo com ele (DUPUY 1980)
Para que a sustentabilidade social da organizaccedilatildeo humana possa de fato
acontecer precisamos encontrar mecanismos poliacuteticos que possibilitem uma
reconfiguraccedilatildeo das nossas relaccedilotildees sociais tanto na micro quanto na macroescala
DESAFIOS SOCIOAMBIENTAIS
No que tange agraves relaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas o cenaacuterio da civilizaccedilatildeo
humana contemporacircnea pode ser vislumbrado em alguns acontecimentos que atuam de
forma a indicar tendecircncias e possiacuteveis rumos (sempre com n bifurcaccedilotildees possiacuteveis) tais
como
Globalizaccedilatildeo provocada pelo avanccedilo da revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica caracterizada pela internacionalizaccedilatildeo da
produccedilatildeo e pela expansatildeo dos fluxos financeiros
regionalizaccedilatildeo caracterizada pela formaccedilatildeo de blocos
econocircmicos fragmentaccedilatildeo que divide globalizadores e
globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os
que morrem pelo consumo excessivo de alimentos
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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rivalidades regionais confrontos poliacuteticos eacutetnicos e
confessionais terrorismo (GADOTTI 2000 p 34)
Este contexto nos coloca diante de um dilema socioambiental que pode ser
sintetizado pelo comentaacuterio de Braun
Atualmente por exemplo uma cidade europeacuteia meacutedia gasta
aproximadamente 40 vezes mais que o padratildeo medieval no
que se refere ao consumo de energia aacutegua materiais e
insumos diversos para manter o niacutevel de vida moderna Se
extrapolarmos esses dados para o niacutevel global vamos
verificar segundo Robert Goodland um ecoacutelogo do Banco
Mundial que os residentes dos paiacuteses ricos requerem em
torno de seis hectares por habitante para suportar seus
niacuteveis de consumo Assim concluiacutemos que seriam
necessaacuterios aproximadamente 36 bilhotildees de hectares para
que toda a populaccedilatildeo da Terra estimada em seis bilhotildees de
habitantes tivesse o mesmo padratildeo de consumo Mas a
difiacutecil equaccedilatildeo estaacute no fato de que a terra soacute tem 13 bilhotildees
de hectares Ou seja faltam mais dois planetas Terras para
satisfazer esta proporccedilatildeo (BRAUN 2000 p 8)
Reforccedilando esta linha de raciociacutenio ndash na qual fica expliacutecita a relaccedilatildeo entre
produccedilatildeo e consumo especiacutefico de um modo de produccedilatildeo tambeacutem especiacutefico (capitalista
industrial) que engendra transformaccedilotildees socioambientais de pequena meacutedia e grande
escalas em todo o globo terrestre com imensos prejuiacutezos agrave sociedade civil e ao meio
ambiente ndash podemos mencionar a argumentaccedilatildeo de Sahtouris
A construccedilatildeo de represas para gerar eletricidade a
queimada e nivelamento com tratores de florestas para a
monocultura agriacutecola ou a formaccedilatildeo de pastagens o uso de
fertilizantes e pesticidas quiacutemicos a produccedilatildeo de
combustiacuteveis e metais extraiacutedos de foacutesseis e depoacutesitos de
mineacuterios todas essas atividades satildeo financeiramente
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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lucrativas para os que possuem ou governam a Terra mas
ecologicamente tatildeo destrutivas que o sistema de vida de
Gaia para sobreviver pode ter que tornar a vida intoleraacutevel
para os humanos A natureza trabalha tendo em vista natildeo o
lucro mas o equiliacutebrio Recicla tudo E os seres humanos
natildeo podem dirigir por muito mais tempo a economia do lucro
agrave custa da economia planetaacuteria (SAHTOURIS 1998 p 233)
Ou seja ldquoprecisamos ecologizar a economia a pedagogia a educaccedilatildeo a cultura
a ciecircncia etc Hoje a questatildeo ecoloacutegica tornou-se eminentemente social ou como afirma
Elmar Altvater (1995 p 18) lsquohoje a questatildeo social pode ser elaborada adequadamente
apenas como questatildeo ecoloacutegicarsquordquo (GADOTTI 2000 p 31) Da mesma forma a questatildeo
ecoloacutegica pode ser elaborada adequadamente apenas enquanto social De fato as
questotildees e problemas sociais e ecoloacutegicos tornaram-se questotildees e problemas
socioambientais satildeo interdependentes e co-geradores de novas situaccedilotildees e novos
contextos da e para a vida humana em sociedade
Precisamos portanto ecologizar e socializar a economia a pedagogia a
educaccedilatildeo a cultura a ciecircncia e o meio ambiente assim talvez possa ser evitada a
vivecircncia da Era do Extermiacutenio que no dizer de Gadotti (2000) pode ser caracterizada
pela passagem do ldquomodo de produccedilatildeordquo para o ldquomodo de destruiccedilatildeordquo
Afinal ldquoo potencial destrutivo gerado pelo desenvolvimento capitalista o colocou
numa posiccedilatildeo negativa com relaccedilatildeo agrave naturezardquo (GADOTTI 2000 p 31) ndash consequumlecircncia
do modelo de desenvolvimentocrescimento social e econocircmico apregoado e realizado
(com diferenccedilas) nos quatro pontos cardinais do planeta incluindo-se aiacute o modelo do
socialismo real
Precisamos antever que
A escala local tem de ser compatiacutevel com uma escala
planetaacuteria Daiacute a importacircncia da articulaccedilatildeo com o poder
puacuteblico As pessoas a sociedade civil em parceria com o
Estado precisam dar sua parcela de contribuiccedilatildeo para criar
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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cidades e campos saudaacuteveis sustentaacuteveis isto eacute com
qualidade de vida Qualidade de vida eacute um conceito distinto
do conceito de ldquoniacutevel ou padratildeo de vidardquo Fala-se de niacutevel ou
padratildeo para designar a satisfaccedilatildeo de uma parte das
necessidades humanas principalmente as necessidades
econocircmicas Qualidade de vida faz referecircncia agrave satisfaccedilatildeo
do conjunto das necessidades humanas sauacutede moradia
alimentaccedilatildeo trabalho educaccedilatildeo cultura lazer Qualidade de
vida significa ter a possibilidade de decidir autonomamente
sobre seu proacuteprio destino (GADOTTI 2000 p 62)
As questotildees que se colocam satildeo por conseguinte poderaacute a organizaccedilatildeo social
humana ser sustentaacutevel Poderemos criar sociedades sustentaacuteveis De que modo os
atores sociais poderatildeo criar esta nova realidade social ndash qual a nova configuraccedilatildeo que o
modo de produccedilatildeo teraacute de assumir
Em funccedilatildeo do que estaacute sendo refletido aqui podemos apresentar o seguinte
cenaacuterio de desafios socioambientais que se apresentam agrave atualidade mundialv
I Crescimento populacional e demograacutefico com a consequumlente pressatildeo sobre o
consumo de alimentos aacutegua e espaccedilos gerando degradaccedilatildeo de terras agriacutecolas e
de reservas drsquoaacutegua potaacutevel
a populaccedilatildeo mundial atual estaacute em seis bilhotildees mais que o dobro do que era em
1950 A estimativa eacute de que atingiraacute 11 bilhotildees por volta de 2050 podendo gerar
fome e sede mundial
II Mudanccedilas ambientais globais devidas ao modo de produccedilatildeo da sociedade
humana desde a I Revoluccedilatildeo Industrial que estatildeo alterando os ciclos
biogeoquiacutemicos globais que regulam processos-chave dos ecossistemas e
portanto da biosfera
alteraccedilatildeo do ciclo do nitrogecircnio e foacutesforo ambos reguladores importantes do
crescimento vegetal Alteraccedilatildeo do ciclo do carbono em face de emissotildees
provenientes da queima de combustiacuteveis foacutesseis elevando a concentraccedilatildeo
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
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Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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atmosfeacuterica de dioacutexido de carbono Alguns efeitos imprevisiacuteveis nova era glacial
Extinccedilatildeo humana Efeito estufa Destruiccedilatildeo da camada de ozocircnio
III Metabolismo socioambiental alterado devido agrave produccedilatildeo crescente de lixo e de
produtos toacutexicos poluiccedilatildeo desenfreada
a capacidade de rastrear os materiais que percorrem as cidades eacute muito
superficial fornecendo apenas uma vaga ideacuteia do insulto quiacutemico que estamos
infligindo agrave biosfera e a nossa proacutepria sauacutede causando bioacumulaccedilatildeo dos
produtos toacutexicos contaminaccedilatildeo de seres vivos em concentraccedilatildeo crescente dentro
da cadeia troacutefica
IV Bioinvasatildeo o mundo estaacute sujeito a um grau sem precedentes na histoacuteria evolutiva
do planeta Terra a uma mistura bioacutetica em funccedilatildeo dos deslocamentos atraveacutes do
sistema comercial global que funciona como ldquotransporte gratuitordquo agraves diversas
espeacutecies animais e vegetais
quando uma espeacutecie exoacutetica natildeo encontra nada em seu novo lar que mantenha
sua populaccedilatildeo sob controle pode cair numa farra reprodutiva A espeacutecie invasiva
poderaacute privar as nativas de alguns recursos essenciais propagar uma epidemia ou
atacar as nativas diretamente alterando a cadeia alimentar local e o seu nicho
ecoloacutegico
V Perda da biodiversidade global atraveacutes da exploraccedilatildeo contiacutenua e massiva dos
recursos vivos e natildeo-vivos levando a um decliacutenio ecoloacutegico crescente
vivenciamos na atualidade a homogeneizaccedilatildeo da fauna e flora com a extinccedilatildeo em
massa da diversidade de seres vivos provocada por accedilatildeo antroacutepica
VI Globalizaccedilatildeo versus sustentabilidade conservaccedilatildeo ambiental e desenvolvimento
industrial satildeo sistematizados na noccedilatildeo de desenvolvimento sustentaacutevel que
preconiza um sistema de desenvolvimento socioeconocircmico com justiccedila social e
em harmonia com os sistemas de suporte da vida na Terra atendendo agraves
necessidades das geraccedilotildees presentes sem comprometer as das geraccedilotildees futuras
A questatildeo eacute que a loacutegica subjacente ao sistema de mercado capitalista industrial
mundial tem como premissa fundamental o crescimento e a acumulaccedilatildeo contiacutenuas
de riquezas e poder por alguns grupos de uma classe social Jaacute o pressuposto agrave
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
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Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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concepccedilatildeo da sustentabilidade (socioambiental) enxerga a criaccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo
contiacutenuas de riquezas e de poder por toda a sociedade humana e seu meio
ambiente
Diante do cenaacuterio proposto (que eacute um entrelaccedilamento de forccedilas antagocircnicas e
complementares) tanto em niacutevel local quanto global uma hipoacutetese que serve como
diretriz inicial a esta reflexatildeo eacute a que estaacute alicerccedilada na discussatildeo proposta por Karl
Polanyi em sua obra A Grande Transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca sobre a
regulaccedilatildeo da sociedade pelo mercado ndash contrapondo-se agrave regulaccedilatildeo do mercado pela
sociedade ndash ao longo da formaccedilatildeo do capitalismo ateacute os nossos dias ou seja a tentativa
de criaccedilatildeo de um sistema de mercado auto-regulaacutevel que gerenciaria toda a sociedade ndash
proposta utoacutepica do liberalismo que continua atuante no front das organizaccedilotildees sociais
que se globalizam ora mais forte ora mais resguardado
O desenvolvimento o progresso o crescimento satildeo vistos como o alvo a ser
alcanccedilado o bem supremo e isto dentro da forma como a sociedade se encontra
organizada significa a produccedilatildeo de bens materiais (mesmo os simboacutelicos utilizam-se de
uma ldquoplataformardquo material para fluiacuterem) de todos os tipos possiacuteveis e imaginaacuteveis Muitos
produtos satildeo uacuteteis e possuem aplicaccedilotildees nobres mas a questatildeo eacute em uacuteltima instacircncia
quem determina o quecirc quando como e por que algo eacute produzido Resposta eacute o
mercado E quem satildeo os atores que detecircm o mercado
Assim sendo formulamos como hipoacutetese para esta discussatildeo soacute poderaacute haver
sociedades sustentaacuteveis se as instituiccedilotildees sociais regularem o mercado no caso de ser
este o regulador das instituiccedilotildees sociais teremos sociedades insustentaacuteveis pois
seguiratildeo a loacutegica do crescimento ilimitado e autojustificado
A correlaccedilatildeo com o modo de produccedilatildeo da sociedade atual portanto eacute direta pois
o modo de produccedilatildeo capitalista industrial trabalha para alimentar o mercado ndash que se quer
proclamar mercado auto-regulado ndash e este o modo de produccedilatildeo que o alimenta num
ciacuterculo vicioso que a cada momento mostra-se mais destrutivo para a natureza e para as
relaccedilotildees sociais
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Nesse contexto a anaacutelise deve se voltar para a questatildeo da relaccedilatildeo entre
sobrevivecircncia e sustentabilidade afinal o que estaacute em jogo eacute a adaptaccedilatildeo humana na e
com a biosfera terrestre ndash adaptaccedilatildeo global e local como um fluxo de eventos
socioculturais e socioambientais
METABOLISMO SOCIOBIOFIacuteSICO
A anaacutelise cientiacutefica de fundo ecoloacutegico e fiacutesico-energeacutetico e do modelo de
produccedilatildeo social eacute premissa baacutesica para uma relaccedilatildeo socioambiental equilibrada pois a
falta de conhecimento cientiacutefico via de regra eacute o alicerce para procedimentos escusos do
meio poliacutetico e de praacuteticas culturais arcaicas que acabam se contrapondo como verdades
mitoloacutegicas agraves explicaccedilotildees dadas por pesquisas cientiacuteficas sobre esta intrincada rede de
relaccedilotildees Ser Humano Natureza
Eacute importante frisar que os estudos cientiacuteficos natildeo tecircm o intuito de se apresentar
como verdades dogmaacuteticas muito embora a vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia pelos mais variados
canais da miacutedia apresente o fazer cientiacutefico com esta percepccedilatildeo de conhecimento uacuteltimo
ou de verdade final
Outro ponto delicado eacute a questatildeo de que o ser humano ndash tanto como espeacutecime
bioloacutegico quanto como ser social e cultural ndash natildeo eacute de fato um poacutelo em oposiccedilatildeo ao
mundo natural mas um espeacutecime que estaacute contido neste mundo que dele partilha e para
ele contribui Entretanto ideologicamente nossa civilizaccedilatildeo ao longo da histoacuteria tem se
manifestado como se fosse outra coisa uma natureza ldquonatildeo muito naturalrdquo colocando-se
em um estado de oposiccedilatildeo ao mundo natural
Esta sutil percepccedilatildeo de que estamos e somos natureza faz toda a diferenccedila para
compreendermos que o conceito de sustentabilidade tem de estar ancorado na dimensatildeo
sociobiofiacutesica pois a sustentabilidade eacute o postulado da proacutepria existecircncia de vida no
planeta Ou seja a vida na Terra existe porque ela eacute sustentaacutevel por si mesma quando
natildeo mais houver sustentabilidade natildeo mais haveraacute vida
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Sustentabilidade eacute o modo de sustentaccedilatildeo ou seja da qualidade de manutenccedilatildeo
de algo Este algo ldquosomos noacutesrdquo nossa forma de vida enquanto espeacutecie bioloacutegica
individualidade psiacutequica e seres sociais Obviamente tambeacutem se inclui no princiacutepio da
sustentabilidade o meio ambiente e as demais formas de vida do planeta ndash afinal embora
o ser humano possua autonomia natildeo tem independecircncia em realccedilatildeo agrave natureza Por
mais que nos mostremos seres socioculturais ainda somos tambeacutem seres bioloacutegicos
(MELLO 2000)
A nossa peculiar sociedade humana necessita portanto perceber que a nossa
sustentabilidade eacute interdependente com a da vida existente por todo o planeta e que isto
significa que nossa sustentabilidade adveacutem desta intrincada teia de relaccedilotildees Natildeo seraacute o
desenvolvimento sustentaacutevel posto em termos maciccedilamente culturais que levaraacute a nossa
sociedade para uma forma equilibrada segundo os ciclos biogeoquiacutemicos do planeta
pois natildeo somos um poacutelo apartado do mundo natural e sim um complexo produto deste
Daiacute a necessidade de resgate do conceito de sustentabilidade para a dimensatildeo
sociobiofiacutesica na qual anaacutelises sobre os ciclos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos
ecossistemas poderatildeo nos indicar como construirmos uma sociedade sustentaacutevel dentro
do Sistema Terra
Um problema que habitualmente passa desapercebido entretanto eacute o de que o
aumento na eficiecircncia dos processos e produtos como da energia tende a acrescer seus
usos redundando em maior extraccedilatildeo de recursos naturais intensificaccedilatildeo do fluxo de
processamento explosatildeo da oferta de produtos e do consumo e por conseguinte
crescimento das emissotildees no processo de fabricaccedilatildeo e do descarte do produto ao final de
sua vida uacutetil (Organograma 1)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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Organograma 1
Efeitos da Ecoeficiecircncia dos Processos Produtivos
E se pensarmos em uma soluccedilatildeo de aproveitamento de todos os resiacuteduos gerados
no processo de fabricaccedilatildeo como tambeacutem no descarte do produto apoacutes a sua vida uacutetil
proacutexima aos 100 configurando um ciclo fechado Poderiacuteamos assim expandir o niacutevel
de produccedilatildeo e consumo do chamado primeiro mundo para o restante das populaccedilotildees do
planeta sem qualquer problema (FULLER ALLEN 1997)
Infelizmente a questatildeo permaneceria Mesmo chegando a um reaproveitamento
quase perfeito teriacuteamos de em um primeiro momento aumentar a base de extraccedilatildeo de
mateacuterias-primas de forma assombrosa o que poderia levar ao esgotamento das fontes
dos recursos e ainda assim natildeo haveria nenhuma espeacutecie de garantia para cessarmos a
extraccedilatildeo de novas mateacuterias-primas ateacute porque muitos dos materiais reutilizados eou
reciclados apresentariam fadiga e isto sem falarmos na Segunda Lei da Termodinacircmica
Desta forma a ecoeficiecircncia eacute ineficiente justamente em funccedilatildeo de ser
extremamente eficiente em seus meios tornando-se ineficiente em seus fins (poupar
recursos naturais e diminuir a poluiccedilatildeo e o desperdiacutecio) Depende da postura adotada
pelos atores sociais se a busca pela ecoeficiecircncia for um comportamento isolado a
resposta eacute sim se a ecoeficiecircncia for um comportamento inserido nas relaccedilotildees de
interdependecircncia da dimensatildeo sociobiofiacutesica a resposta eacute natildeo A Natureza portanto
continua como paradigma primordial para o metabolismo sociobiofiacutesico que se quer
sustentaacutevel
Ecoeficiecircncia
Reduccedilatildeo de custos Aumento da produtividade
Aumento da oferta de bens
Aumento da depleccedilatildeo de recursos
Aumento do descarte de bens
Aumento do consumo
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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Vislumbre para a Sustentabilidade Planetaacuteria
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copyINTERFACEHS ndash Revista de Gestatildeo Integrada em Sauacutede do Trabalho e Meio Ambiente - v1 n1 Art 2 ago 2006 wwwinterfacehsspsenacbr
sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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VISLUMBRE PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTAacuteVEL
Todo a atenccedilatildeo que pudermos ter neste intricado jogo da vida humana em sua
sobrevivecircncia adaptaccedilatildeo e possiacutevel sustentabilidade deve estar submetida a uma
autocriacutetica (da nossa espeacutecie) constante haja vista que somos um pouco como os
ldquocamaleotildeesrdquo no que tange agraves questotildees de adaptaccedilatildeo Explique-se somos extremamente
versaacuteteis aos ambientes pois nos adaptamos utilizando basicamente o processo de
mediaccedilatildeo e por causa disso muitas vezes nos adaptamos a situaccedilotildees mortiacuteferas como
os microecossistemas antroacutepicos dos lixotildees ndash produtos caracteriacutesticos das sociedades
urbanas e industriais que ateacute a atualidade estatildeo sem soluccedilatildeo (a soluccedilatildeo do aterro
sanitaacuterio eacute apenas uma medida mitigadora que literalmente empurra o problema do lixo
para debaixo do solo)
O que se quer dizer com isto eacute que confundir adaptaccedilatildeo com conformismo ou
acomodaccedilatildeo pode vir a ter consequumlecircncias desagradaacuteveis agrave nossa espeacutecie ao nosso
processo civilizatoacuterio ndash o qual adentra em um momento criacutetico de transformaccedilotildees
ambientais de larga escala e de concentraccedilotildees imprevistas geradas pela tecnologia
humana que refletiratildeo tambeacutem em nossa espeacutecie (SNYDER 1983)
A natureza ndash o mundo abioacutetico e bioacutetico ndash existe em uma constante reconfiguraccedilatildeo
adaptativa e sem entrarmos na discussatildeo teleoloacutegica da natureza ou da espeacutecie humana
em particular mostrariacuteamos um pouco de inteligecircncia coletiva se adotaacutessemos a mesma
estrateacutegia em vez de insistirmos somente em procedimentos de genialidade individual
(ROSNAY 1997) A cooperaccedilatildeo se torna peccedila fundamental das relaccedilotildees sociais para a
consecuccedilatildeo da sustentabilidade antropossocial ndash e infelizmente ainda natildeo estamos
prontos para assumir este novo pacto social e ambiental
Dentro da concepccedilatildeo de que as organizaccedilotildees antropossociais satildeo sistemas
adaptativos complexos (GELL-MANN 1996) e de que a espeacutecie humana eacute
hiperdominante pois explora natildeo apenas um ecossistema mas todos os ecossistemas do
planeta (e jaacute comeccedila a ensaiar os primeiros passos para exploraccedilatildeo de outros orbes) o
conceito de bioeconomia (ROSNAY 1997) ndash em que prevalece a loacutegica da co-evoluccedilatildeo
dos ecossistemas com sua imensa variedade de espeacutecies animais e vegetais
interdependentes com e pelos ciclos biogeoquiacutemicos ndash eacute eticamente apropriado para
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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embasar a anaacutelise da capacidade de suporte dos socioecossistemas e redirecionar o
processo vigente de adaptaccedilatildeo de um enfoque de domiacutenio para um de cooperaccedilatildeo com
o vislumbre do surgimento de sociedades humanas sustentaacuteveis
O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentaccedilatildeo sociobiofiacutesica
ndash como jaacute comentado aqui Normalmente a tocircnica tem recaiacutedo sobre as dimensotildees
econocircmica social e ambiental de forma muito vaga quando jaacute deveria estar clara a
importacircncia da sustentaccedilatildeo dos ciclos biogeoquiacutemicos formadores dos diversos
ecossistemas e fundamentais aos processos de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura
humana dentro da biosfera incluiacutedo aiacute os processos industriais Isto porque a organizaccedilatildeo
social humana adquire do mundo natural toda a mateacuteria e a energia para produzir seus
artefatos um simples machado de pedra uma produccedilatildeo cinematograacutefica uma usina
nuclear
Assim sendo as organizaccedilotildees da sociedade civil privadas e puacuteblicas de todos os
setores precisam definir novas prioridades baseadas no princiacutepio da sustentabilidade
incorporando-lhe as questotildees do crescimento econocircmico do desenvolvimento social e da
cultura e natildeo fazer o inverso como normalmente tem ocorrido ndash a compreensatildeo disto eacute
fundamental
A sustentabilidade eacute uma ideacuteia-forccedila que necessita de uma fundamentaccedilatildeo
cientiacutefica (como metodologia cientiacutefica a ser empregada nesta tarefa foi sugerida a
Anaacutelise da Pegada Ecoloacutegica entre tantas outras) com consciecircncia de propoacutesito ou seja
soacute uma ciecircncia consciente de seu saber-fazer-ser seraacute capaz de prover realmente
cientificidade a este conceito
A fundamentaccedilatildeo do conceito de sustentabilidade em base sociobiofiacutesica
apresenta portanto a urgente necessidade de uma accedilatildeo de inteligecircncia coletiva que
prime pela alfabetizaccedilatildeo ecoloacutegica da espeacutecie humana para que esta possa criar de fato
uma sociedade sustentaacutevel inserida na auto-organizaccedilatildeo de Gaia (LOVELOCK 1991)
Afinal
Quanto mais cedo reconhecermos e respeitarmos Gaia
como ser vivo auto-organizado incrivelmente complexo mais cedo
adquiriremos humildade suficiente para deixar de acreditar que
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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sabemos como administrar a Terra Se continuarmos no curso
atual apegados agrave crenccedila em nossa capacidade de controlar a
Terra embora sabendo tatildeo pouco sobre ela nossa interferecircncia
desastrosamente estuacutepida em seus assuntos natildeo mataraacute o planeta
como muitas pessoas pensam mas com toda probabilidade nos
mataraacute como espeacutecie (SAHTOURIS 1998 p 75)
Todo fim eacute um novo comeccedilo e aqui lembramos de um pensamento do astrocircnomo
Johannes Kepler quero sempre um erro fecundo cheio de sementes rebentado com as
suas proacuteprias correccedilotildees
Assim seja
21
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ALTVATER Elmar O preccedilo da riqueza Satildeo Paulo Unesp 1995 BRAUN Ricardo Desenvolvimento ao ponto sustentaacutevel Petroacutepolis Vozes 2001 BRIGHT Chris Uma histoacuteria do nosso futuro In BRIGHT Chris et al Estado do mundo
2003 a impossiacutevel revoluccedilatildeo ambiental estaacute acontecendo Salvador UMA Ed 2003 BROWN Lester R Sinais vitais 2000 as tendecircncias ambientais que determinaratildeo
nosso futuro Salvador UMA Ed 2000 DIAS Genebaldo Freire Pegada ecoloacutegica e sustentabilidade humana Satildeo Paulo
Gaia 2002 DUPUY Jean-Pierre Introduccedilatildeo agrave criacutetica da ecologia poliacutetica Rio de Janeiro Ed
Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 FOLADORI Guillermo Limites do desenvolvimento sustentaacutevel Satildeo Paulo Imprensa
Oficial 2001 FULLER A Donald ALLEN Jeff A typology of reverse channel systems for post-
consumer recyclables In POLONSKY Michael Jay MINTU-WIMSATT Alma T (Ed) Environmental marketing strategies practice theory and research Binghamton The Haworth Press 1997
GADOTTI Moacir Pedagogia da terra Satildeo Paulo Peiroacutepolis 2000 GELL-MANN Murray O quark e o jaguar as aventuras no simples e no complexo Rio
de Janeiro Rocco 1996 LEWIN Roger Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Atheneu Editora 1999 LIMA Celso Piedemonte de Evoluccedilatildeo humana Satildeo Paulo Ed Aacutetica 1994 LOVELOCK James As eras de gaia biografia da nossa terra viva Rio de Janeiro
Campus 1991 MARGULIS Lynn SAGAN Dorion O que eacute vida Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor
2002 MELLO R F L de Complexidade e sustentabilidade Revista de Estudos Ambientais
Blumenau v 2 n 23 pp 103-8 maidez 2000 ______ Em busca da sustentabilidade da organizaccedilatildeo antropossocial atraveacutes da
reciclagem e do conceito de auto-eco-organizaccedilatildeo 1999 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Sociologia) ndash Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 1999
MORAN Emiacutelio F Adaptabilidade humana uma introduccedilatildeo agrave antropologia ecoloacutegica Satildeo Paulo Edusp 1994
MOSCOVICI Serge Sociedade contra natureza Petroacutepolis Ed Vozes 1975 MUNFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas
Satildeo Paulo Martins Fontes 1998 MURPHY Michael OrsquoNEILL Luke (Orgs) O que eacute vida 50 anos depois Satildeo Paulo
Ed da Unesp 1997 POLANYI Karl A grande transformaccedilatildeo as origens da nossa eacutepoca Rio de Janeiro
Campus 2000 ROSNAY Joel de O homem simbioacutetico perspectivas para o terceiro milecircnio Petroacutepolis
Vozes 1997 SAHTOURIS Elisabet A danccedila da terra sistemas vivos em evoluccedilatildeo Uma nova visatildeo
da biologia Rio de Janeiro Rosa dos Tempos 1998 SCHROumlDINGER Erwin O que eacute vida Satildeo Paulo Ed da Unesp 1997 SNYDER Ernest Elwood Parem de matar-me o planeta em perigo Satildeo Paulo Ed
Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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Vislumbre para a Sustentabilidade Planetaacuteria
Reynaldo Franccedila Lins de Mello INTERFACEHS
copyINTERFACEHS ndash Revista de Gestatildeo Integrada em Sauacutede do Trabalho e Meio Ambiente - v1 n1 Art 2 ago 2006 wwwinterfacehsspsenacbr
WACKERNAGEL Mathis et al Ecological footprint of nations Centro de Estuacutedios para la sustentabilidad Universidad Anaacutehuac de Xalapa Meacutexico 1998
WACKERNAGEL Mathis REES William Our ecological footprint the new catalyst bioregional series New Society Publishers Gasbriola Island B C Canadaacute 1996
Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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Nacional 1983 UNCED Our common future OxfordNew York Oxford University Press 1997
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Artigo recebido em 30012006 Aprovado em 24042006
i Para dados mais abrangentes e detalhados sugere-se consultar pela Internet a paacutegina do Worldwatch Institute bem como os livros editados no Brasil pela Editora da Universidade Livre da Mata Atlacircntica (UMA) Ver lthttpswwwwwiumaorgbrgt ii ldquoPrograma de accedilatildeo destinado a concretizar os compromissos com o desenvolvimento sustentaacutevel assumidos pela Conferecircncia da Rio-92rdquo (VIEIRA 2001 p 208) que envolve diversos atores da sociedade civil do setor privado e puacuteblico iii Natildeo eacute intenccedilatildeo deste texto aprofundar a discussatildeo sobre a metodologia da Pegada Ecoloacutegica visto que para tanto haacute na Internet vasta informaccedilatildeo No Brasil o pesquisador Prof Dr Genibaldo Freire Dias possui uma larga experiecircncia e livros que tratam deste tema os quais recomendamos iv Fluxos de energia na ecologia e na economia Seminaacuterio Internacional Avanccedilos em Estudos de Energia Porto Venere Itaacutelia 26 maio 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrfeacursopv-porthtm pp3gt v Baseado em Bright (2003)
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