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D E P R E II4 ^ ,

imHORJ E M f

O que você precisa saber sobre

o arrebatamento

Charles C. Ryrie

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o que você precisa saber sobre

o arrebatamento

Charles C. RyrieAutor dos comentários da Bíblia Ânotada

O b raMíssionãría

: Chamada da Meia-Noite=Caixa Postal, 1688 • 90001-970 Porto Alegre-RS ■ Brasil

Fone: (051) 241-5050 • FAX: (051) 249-7385

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Traduzido do original em inglês: "Com e Quikty, Lord Jesus"

Edição revisadcj do livro anteriormente intitufadoi "Whal You should Know About the Rapture"

Copyright © 1996 by Charles C. Ryrie

publicado por Harvest House Publishers Eugene, Oregon 97402

EUATradução: Ebenezer Bittencourt

Ana Ruth Bittencourt Revisão: Ingo Haake

Ingrid H. L. Beitze Capa e Layout: Reinhold Federolf

Todos os direitos reservados para os países de lingua portuguesa

© 1997 O bra M issionária Cham ada da M e ia-N o ite

R. Erechim, 973 - B, Nonoaí 90830-000 - PORTO ALEGRE - RS/Brasil

Fone: 10511 241-5050 FAX: 1051) 249-7385

Composto e impresso em oficinas próprias

"Mas, Q meia-noite, ouviu-se um grito:Eis 0 noivo! sai ao seu encontro" (Mt 25.6).

A "Obra Missionário Chamada da Meia-Noite" é uma missão sem fins lucrativos, que crê em toda a Bíblia como infolível e eterna Palavra de Deus [2 Pe 1.21). Suo tarefa é alcançar todo o mundo com a mensagem de solvação em Jesus Cristo e aprofundar os cristãos no conhe­cimento da Palavra de Deus, preparando-os

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I ncI í c c

Prefácio............................................................................ 71. Quais São as Perguntas?........................................ 92. As Perguntas São Importantes?........................... 193. O Que é o Arrebatamento?................................... 254. Dois Futuros?.......................................................... 315. O Vocabulário da Segunda Vinda........................ 396. Segunda TessaJonicenses 1 ................................... 457. Onde Es lá a Igreja cm Apocalipse 4 a 18?....... 538. Onde se Originou o Ponto de Vista

Pré-Tribulacionista?................................................. 619. A População do Reino M ilenai'.......................... 6^i

10. O Dia do Senhor.................................................... 8711. Ira ou Arrebatamento?........................................... 105Notas...............................................................................] 19

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N • \4'Hf (hp t fw i i^ Srnht*! J/'sus

finliii riiiiii iiiiju)iliiiiU' .iK';i d;i tuolügia. 1’écnico sem sei' 111111,'iiiiir, til» snn ser cansaíivo, “Vem Depressa,Nriilini l(’siis" c imui contribuição valiosa ao campo da IiM nossa Ifngua.

1'. L'om giaiidc alegria que recomendo “Vem Depres­sa, Senhor Jesus" à Igreja de fala portuguesa.

(2cí̂ %loé- P-Uzící>-Reiior

Seminário BMitro Palavra da Vkiu

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1Quais São as

Perguntas?Alguém pode predizer o futuro?

Muita gente espera que alguém possa, e alguns até ten­tam prever o futuro. Os milhões que lêem o horóscopo to­dos os dias, e o dinheiro gasto em consultas com médiuns são evidências claras. Evidentemente, as pessoas têm um desejo profundo de saber o que o futuro reserva para elas, para sua.s famílias, e para o próprio mundo.

Eventos mundiais são motivos profundos de preocupa­ção para muitas pessoas, e por boas razões. Nos últimos anos temos visto uma desordem violenta afetando Los Angeles, ataques com gás venenoso a passageiros japo­neses nas estações de metrô, antigos funcionários des­contentes em tumultos armados, e a trágica bomba em Oklahoma City que matou cerca de 200 pessoas, lunto

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Hl * Vem Depressa, Senhor Jesus

com essey atos irracionais e iJcgíiis, a crise econômica tem preocupado muita genie. Corporações estão reduzin­do süas forças de trabalho sem muito aviso antecipado, e a recente crise econômica no México tipifica muitas eco­nomias nacionais instáveis ao redor do mundo.

E existem incertezas políticas globais que perturbam as pessoas. O esfacelamento da União Soviética tem ge­rado conflitos terríveis nos vários Estados independen­tes. A Guen-a do Golfo e as tensões contínuas entre o Ocidente e Bagdá causara profunda preocupação. Pes­soas estão pensando a respeito da venda de componentes paia a fabricação de armas nucleares. I^miiores são rela­tados quase diaiiamente pelos Jornais. Quem está ven­dendo; quem está comprando? A Coréia do Norte tem bomba atômica? O Iraque? Há também os eventos cm contínua mudança na Bosnia e no Oriente Médio. Será que algum dia haverá paz nessas piu’tes do mundo? ü tê­nue tratado de paz do Oriente Médio é quebrado quase todos os dias por mortes de um lado ou de outro. E as­sim vai. Não é de se surpreender que pessoas comuns estejam preocupadas com a sociedade, com o futuro do mundo e com os seus próprios futuros pessoais.

Hoje, até mesmo em círculos acadêmicos, profecias estão sendo discutidas c analisadas. A Transforming Faith (Urna Fé Transformadora) de David Harrington Watt, e When Time Shall Be No More (Quando o Tempo Não Mais Existir) de Paul Boyer são apenas dois dos li­vros recentcs nos EUA que ilustram essa tendência.

Mas quem tem as respostas? Quem faz predições ver­dadeiramente precisas? Políticos? Videntes? Astrólo­

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Quais São as Perguntas? * 11

gos? Adivinhos? Colunistas? Pregadores? Somente a Bíblia tem as respostas verdadeiras. Somente a Bíblia profetiza com precisão. Eia revela que somente quando Jesus Ciisto voltar à terra o mundo experimentará paz e segurança, e isso acontecerá debaixo do Seu governo. A Bíblia também revela que antes de Jesus voltar os tem­pos se tornarão cada vez piores; na verdade, piores co­mo nunca. E então a hora do terrível período de Tribu­lação chegará.

A Grande Tribulação preocupa muitos crentes. Eles terão que passar pela Tribulação? Alguns dizem que sim. Estes acreditam que o Arrebatamento da Igreja não acontecerá senão até o fim da Tribulação. Outros dizem que não. Eles acreditam que os cristãos serão arrebata­dos antes que a Tribulação comece. Este livro examina estas duas perspectivas. Mas antes de considerar a épo­ca do Arrebatamento, nós precisamos examinar os vá­rios pontos de vista milenistas.

A Questão Milenista

A questão milenista se refere a que tipo de Milênio vai haver, É claramente ensinado em Apocalipse 20.1­6 que haverá algum tipo de Milênio. Mas o tipo de Milênio que vai existir tem sido fortemente debatido através dos anos. Os cristãos primitivos esperavam o breve retorno de Jesus Cristo para estabelecer um rei­no literal nesta terra, sobre o qual Ele reinaria por mil anos. Essa visão pré-milenista da volta de Cristo loi ensinada por quase todos os pais da Igreja dos dois primeiros séculos.

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12 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Quando Cristo não voltou, o conceiio da Igreja sobre o Milênio rnudou para um outro não-literal chamado “amilenismo”. Agostinho (354-430) enshiou as pessoas a buscarem um Milênio que deveria ser dc caráter total­mente espiritual durante a dispensação crislã. Nos anos medievais e na época da Reforma, a idéia de um reino de verdade não era ensinada pelos grupos mais proemi­nentes, alguns dos quais consideravam tal ensinamento uma heresia. No século XVTT surgiu um novo ensina­mento milenista chamado pós-milenismo. Ele afirmava que antes da volta de Cristo haveria uma experiência mundial de paz e justiça graças aos esforços da Igreja.

Desde então tem havido um reavivamento do pré-mi- lenismo, uma continuação do amilenismo, e, mais re­centemente, um ressurgimento do pós-milenismo.

Esses pontos dc vista, pré-, pós- e amilenistas, refe­rem-se à relação entre a vinda de Jesus Cristo e o Milê­nio, 0 Seu reino de mil anos.

A Questão do Arrebatamento

No século XIX, ensinamentos a respeito do Arrebata­mento da Igreja começaram a ser amplamente dissemi­nados. Isso levantou questionamentos do tipo: se a Se­gunda Vinda de Cristo envolveria certos estágios; a re­lação desses estágios com o período da Tribulação; e a diferença entre a Igreja c Israel no programa de Deus. Portanto, uma das questões escatológicas principais deste século é a questão da época do Arrebatamento e suas ramificações para a visão total do futuro.

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I I • Ih jitiWMt, Si n í ior Jesus

1'iiNi tiHi [\\ntU'iii\Uts, u fViMJlo linico da Segunda Viii i l it i l l ( l í t . l i i i' (Ic i i i i i a ressurreiçSo geral juí/.nI' 1'li-Mitilinlf 1'jiia os pús-milenislas, não há iim Arreba l i i i i i iMi l i i f d i n n L ív cn io separado; uma Segunda Vinda dc- l i i i lv ( l o M i l c n i o j;í l e r á sido efetivada pela Igreja, e d e ­

p o i s disso vcin a eternidade. Os prc-milenistas concor­d a mi q u e o Arrebalamentü e a Segunda Vinda s ã ü

c v c D l o s distintos, apesar dc não concordarem entre si a

respeito de quanto tempo os separa.

Pré-tribulacionismo e Pós-tribulacionismo

A principal discordância hoje reside entre os pré-tri- bulacionistas e os pós-tribulacionistas, sendo qiie ambos são pré-milenistas. Os pré-trihuíacionislas ensinam qiie a vinda de Cristo para a Sua Igreja - o Arrebatamento - acontecerá antes da Tribulação (toda a septuagésima se­mana de Daniel) começar. Os pón-trihidacionista:i ensi­nam que o Arrebatamento e a Segnnda Vinda são aspec­tos de um ünico evento que acontecerá no fim da Tribu­lação. Ambos concordam que a Segunda Vinda de Cristo será seguida pelo Milênio na rerra. Essas são as principais visões que discutiremos neste livro.

Midi-tribulacionismo e Arrefiatamento Parcial

Há pelo menos mais dois pontos de vista sobre a épo­ca do Arrebatamento. Um deles é o midi-rribulacionis- mo. Este ensina, cumo diz o nome, que a Igreja será le­vada para o céu (arrebatada) no meio do período da Tri-

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V i sõ es P ré -IMilcnistas Nolii t“ a Kpoca cio Arrebatamento

l'i i'*'l l ihiilacioni.smo

M oi tu 0 ressurreição A rreba tam ento i l f C tislo Retorno de Cristo

Eternidade1000 anos

Midi- IVibulacionismoM orte e ressurreição A rreba tam en io de Crislo ^ Retorno de Cristo

Eternidade

3h I 3/2 I 1000 an os '

Pós-Tribulacionism o

M orte e ressurreição A rreba tom ento de Cristo — , ̂ ^ ,

■ Retorno de Cristo

I 7 anos

Arrebatam ento Parcial

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M orte e ressurreição de Cristo

Retorno de Cristo

* ( Eternidade7 anos lOOO anos

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16 * Vcni Depressa, Senhor Jesus

bülação. Como a Tribulação durará sete anos, isto signi­fica que a Igreja estará na terra nos primeiros três anos em meio,

Como os pré-tribulacionistas, os midi-tribulacioniS“ tas ensinam que o Arrebatamento e a Segunda Vinda são separados por um período de tempo: sete anos para os pré-tribuiacionistas e três anos e meio para os midi- tribulacionistas, Ambos ensinam que a Igreja será li­berta da fúria do período de Tribulação. Outros aspec­tos da visão midi-tribulacionista incluem a identifica­ção da última trombeta de 1 Coríntios 15.52 com a sétima trombeta dc Apocalipse 11.15, e a interpretação das duas testemunhas de Apocalipse 11 como símbolos do grupo maior de pessoas arrebatadas no meio da Tri­bulação. A maioria dos argumentos que sustentam a vi­são midi-tribulacionista se opõem ao ponto de vista pós-tribulacionista.

Enquanto pré-, midi-, e pós-tribulacionismo enfocam a época do Arrebatamento, a visão do Arrebaíamento parcial enfoca as pessoas a serem an'ebatadas, Ele ensi­na que somente os crentes que estiverem “vigiando” e “aguardando” a volta do Senhor serão dignos dc esca­par da Tribulação através do Arrebatamento.

Na verdade, o Arrebatamento parcial ensina que ha­verá vários arrebatamentos. Como os pré-tribulacionis­tas, os proponentes do Arrebatamento parcial ensinam que haverá um an-ebataniento no começo da Tribulação para levar os santos espiritualmente maduros. Então, várias vezes duraiite os sele anos dc Iribuiação, outros an-ebatamentos irão remover os santos que estavam des­

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Quais São as Perguntas? • 17

preparados no conieço da Tribulação, mas que se mos­traram merecedores nesse meio tempo. Também haverá um arrebatamento no final do Milênio.

Em geral, o ensinamento do arrebatamento parcial quase nem atingiu os Estados Unidos, exceto o movi­mento da Igreja Local de Witness Lee. Esse grupo en­tende que versículos como Lucas 21.36 e Apocalipse 3.10 distinguem dois tipos dc santos; aqueles que serão arrebatados e aqueles que serão deixados na provação.'

As quatro respostas dadas à questão pelos pré-mile- nistas aparece esquematizada na página 15.

Resumindo, este capítulo nos mostrou que a Igreja tem perguntas sobre o Milênio e o Arrebatamento. Nas próximas páginas estaremos discutindo principalmente o Arrebatamento e a sua relação com o período de Tri­bulação. Não estaremos discutindo muito a respeito da visão milenista, exceto como o pré-milenismo se rela­ciona com pré e pós-tribulacionismo. Mas antes de co­meçarmos precisamos perguntar: “Tais perguntas são realmente tão importantes assim?”

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2As Perguntas

São Importantes?

Realmente íaz alguma diíerença sabermos quando o Senhor vai volUu'? Será que só o füto de que Ele vai vol­tar não é mais importante do que quando?

Todas as doutrinas bíblicas têm importância igual? De um certo ponto de vista, sim; mas de outio, não. O fato de Deus haver decidido revelar alguma coisa torna esta coisa importante - até genealogia. Portanto, todo na Bfblia é de igual importância da perspectiva da reve­lação de Deus.

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20 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Por outro lado, uma pessoa pode ser salva sem saber muita coisa sobre a revelação de Deus na Bíblia.

Verdades a respeito de salvação e sobre a precisão e autoridade da Bíblia obviamente estariam no começo de qualquer lista de doutrinas impoilantes. No entanto, is­so não quer dizer que ensinamentos bíblicos a respeito do fuluro ou de demônios ou sobre a Igreja não sejam importantes. Mas quando comparadas com o meio pelo qual uma pessoa é salva, tais doutrinas não são tão im­portantes quanto o Evangelho.

A Questão do Final dos Tempos

Quão importante é a escatologia? Até mesmo a men­sagem da salvação inclui alguma coisa sobre vida eter­na, algo sobre o juízo futuro, e um Juiz que irá intervir nos assuntos da humanidade (At 17.31). No entanto, a questão principal deste livro, a época do Arrebatamen­to, não precisa ser estabelecida nem sequer compreendi­da para que pessoas possam ser salvas.

Porém, existem várias razões que tornam essa ques­tão importante.

Profecia

Profecia é importante para a revelação bíblica. Afir­ma-se que um quarto da Bíblia era profecia quando ela foi escrita (claro que muitas dessas profecias já se cum­priram), e que um em cada cinco versículos dos escritos de Paulo dizem respeito a profecia. Passagens sobre o

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Arrebatamento formam uma parte importante deste ma­terial referente à escatologia. Uma parte da instrução sobre o Arrebatamento vem dos ensinamentos de Paulo (1 Co 15.51-58; 1 Ts 4.13-5.11); outra parte dos ensina­mentos de Cristo {Jo 14.1-3; Ap 3.10).

Além disso, o Senhor fez uma promessa aos discípu­los e a nós a respeito do ministério de ensino do Espíri­to Santo nesta dispensação. Ele prometeu que o Espírito Santo iria “vos [anunciar] as cousas que hão de vir” (Jo 16.13). A frase “cousas que hão de vir” parecc se referir a uma área específica da verdade dentro da pro­messa mais abrangente de que o Espírito “vos guiará a toda a verdade,” Em outras palavras, é prometida uma atenção especial à profecia. Algumas pessoas acreditam que estas coisas por vir não se referem aos eventos do fintil dos tempos, mas à revelação sobre o período da Igreja Cristã (que era futuro quando Cristo falou). Mes­mo que essa interpretação seja correta, “cou.sas que hão de vir” não podem excluir os eventos do final do período da Igreja, portanto a frase ainda envolve verda­des proféticas, incluindo o Arrebatamento.

O Senhor, então, espera que entendamos as profecias, incluindo as profecias sobre o Arrebatamento. Essa doutrina, claramente, não pode ser ignorada se entrar­mos a fundo no cumprimento da promessa de Cristo (veja I Ts 5.6; Tt2.13).

Iminência

A questão da época do Arrebatamento está relacionada ao conceito de iniinência, que significa “uma ameaça.

_______________ Aá' Perguntas São Importantes? • 21

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22 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

pendente sobre a cabeça da pessoa, próxima a acontecer.” Um evento iminente é algo que está sempre próximo a acontecer. Os pré-tribiilacionisla.s reconhecem que algu­ma coisa pode acontecer antes que um evento iminente ocoira, mas eles não insistem que algo deva acontecer antes que este oeorra; senão não seria iminente. Os pós- tribulacionistas aplicam iminência “a um evento que está próximo e não pode, a essa altura (no tempo) ser precisa­mente datado, mas que não irá acontecer até que alguns eventos preliminares necessários aconteçam,”*

Porém, certamente alguns crentes vivendo na terra diuante a Tribulação poderiam “datar precisamente” o tempo do arrebatamento pós-tribulacionista simples­mente determinando quanto tempo falta nos sete anos. Portanto, mesmo pela definição pós-tribulacionista de iminência, é difícil de enxergar como um arrebatamento pós-tribulacionista poderia ser iminente, No conceito pré-tribulacionista, nenhum evento tem que acontecer antes que o Arrebatamento ocorra; portanto, o Arrebata­mento e iminente e o tem sido por séculos. Os pré-tri­bulacionistas também argumentam que se a Igreja esta­rá na terra durante a Tribulação e não será aiTebatada até o seu fmal, então o Arrebatamento não pode estar “próximo de acontecer” até que estes eventos preditos para durante a Tribulação aconteçam primeiro. Somente então (no fmal da Tribulação) o Arrebatamenio seria iminente, A necessidade de que alguma coisa aconteça antes que ocorra o Arrebatamento enfraquece o concei­to de iminência.-

Logo que comecei a lecionar, não conhecia muitas pessoas que tinham claras convicções pós-tribulacionÍs-

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tas. Isso era parcialmente devido ao fato de que eu an­dava principalmente em círculos pré-tribulacionistas. Mas também era porqiTC a visão pós-tribulacionista não era popular, Nas víírias décadas desde então, alguns cristãos têm mudado da posição pré-tribulacionista para a pós-tribulacionisla. Mais literatura tem sido publica­da. A doutrina hoje não é considerada tão importante quanto a experiência. Cooperação entre evangélicos, com o propósito de atrair a maior audiência possível, normalmente exclui a proclamação de diferenças esca- tológicas. O espírito dos nossos tempos tem aversão a dogmatismo, mesmo a respeito da verdade.

De bom grado, respeito opiniões diferentes, espe­cialmente quando elas são mantidas inteligentemente. Um dos maiores valores do cristianismo nos Estados Unidos tem sido a liberdade de manter posições dife­rentes e de estabelecer igrejas e escolas que as promo­vam. Nossas diferenças a respeito da questão do Arre­batamento não precisam existir prejudicando a causa de Cristo. Nós deveríamos querer estudar a questão não para dividir a Igreja, mas porque é parte da revelação de Deus, porque está englobada na promessa de Cristo em João 16.13, e porque ela forma nosso conceito de iminência,

Todo o Plano

Mas há mais uma razão. A questão é importante para a proclamação de todo o plano de Deus com exatidão. Percebo atualmente um espírito de agnosticismo escato­lógico que não 6 saudável para a Igreja. Alguns estão dizendo que nós não podemos saber (agnosticismo) as

_______________ As Perguntas São Importantes? * 23

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lespostas dessas questões escatológicas menores, por­tanto, deveríamos simplesmente ignorá-las. Eles nos as­seguram que a igreja não irá perder muito com isso.

Mas SC nós perdemos qualquer coisa da revelação de Deus, perdemos algo importante. Precisamos ter con­vicções a respeito das verdades escatológicas para que possamos proclamar toda a verdade de Deus. O Arreba­tamento é Lima parte vital da escatologia. É uma questão que vale a pena estudar, uma verdade que vale a pena proclamar.

Sofrim ento

Finalmente, note que as razões que tornam o Arreba­tamento uma questão impoitante, não incluem o desejo de evitar o sofrimento, se o mesmo for da vontade de Deus para nós.

Os pré4rÍbulacionistas não mantêm sua visão como um mecanismo de escape. Nosso Senhor avisou que crentes em cada geração sofreriam tribulação nesle mundo (Jo 16.33). Paulo disse que é norma] para o cris­tãos viverem debaixo de uma sentença de morte (Rm 8.36). A questão do Arrebatamento não se refere às tri­bulações cristãs no geral; refere-se à relação dos cris­tãos com o período ainda futuro de tribulação.

Se a Sua vmda for pré-tribulacional, então nós O lou­varemos porque escapamos dessa época terrível. Se for pós-tribulacionaL então alegremente sofreremos por Ele. De qualquer forma, ainda teremos a bendita espe­rança dc Sua volta.

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3O Que é o

Arrebatamento ?

o conceilo moderno de arrebatamento tem pouco ou nada a ver com mn eveiito escaroJógico. Mas a palavra é usada conetamente para designar esse eventO;

Arrebatamento é um estado ou experiência de ficar ex­tasiado. Somos arrebatados pela beleza de um pôr-do-sol. Dizemos que é um completo arrebatamento escutar uma certa peça musical. Quando íalamos tais coisas queremos dizer que ficamos extasiados com a experiência.

Essa palavra vem do latim rapio, que significa “cap­turar ou ser removido no espírito” , ou a própria remo-

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26 ■ Vem Depressa, Senhor Jenus

ção de nm lugar pca ourro. Em outras palavras, significa ser removido seja no espírito on no corpo. Portanto, o Arrebatamenio da Igreja significa a remoção da igreja da terra para o céu.

.çMas este é um termo bíblico? Sim. A pailavra gre­ga de onde retiramos o termo ArrebaLamento apa­rece em 1 Tessalonicenses 4.17 e é traduzida como “arrebatados.” A tradução iatina desse versículo usa a palavra mpturo, de onde se deriva a nossa palavra rapto. Portanto, é um termo bíblico que veio a Jiós através da tradução latina de 1 Tessalonicen­ses 4.17.

A palavra grega original neste versículo é harpazo. Como a palavra latina, ela também significa “an-ancar” ou “levar embora” , e ocorrc 13 vezes no Novo Testa­mento. Ela descreve como o Espírito arrancou Filipe de perto de Gaza e o levou para Cesaréia (At 8.39). Paulo a usava para descrever a experiência de ler sido levado ao terceiro céu, seja dentro ou fora de seu próprio cor­po (2 Co 12.2-4). Portanto, não pode haver dúvida de que ela está descrevendo uma verdadeira remoção de pessoas da terra para o céu quando é iisada em 1 Tessa- lonicenses 4.17 em referência ao Arrebatamento da Igreja.

Cinco Aspectos do Arrebatamento

Como será esse evento? Paulo responde a essa per­gunta com detalhes em 1 Tessalonicenses 4.13-18 des­crevendo cinco aspectos do Arrebatamento.

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o Que é o Arrebatamento? ■ 27

A volta de Jesus

Haverá uma volía de Cristo (versículo 16). O próprio Senhor virá para o Seu povo, acompanhado por todo o esplendor que Sua presença merece. Haverá um grito', um comando tai como o de um oficial que dá ordens às suas tropas. O texto não diz se o Senhor ou um arcanjo irá gritar, apesar de que será ouvida a voz de um arcan­jo. Miguel é o único arcanjo nomeado na Bíblia (Jd 9), mas é possível que haja outros arcanjos (veja Dn 10.13); e note que Paulo escreveu '‘um arcanjo”, e não “o arcanjo”, na língua original de 1 Tessalonicense.s4.16). A trombeta de Deus irá chamar os mortos em Cristo para a sua ressurreição, e ao mesmo tempo ela será um aviso para aqueles que rejeitaram a Cristo de que agora é tarde demais para participar do Arrebata­mento. O Arrebatamento, claramente, não será um eventO-silencioso.

Ressurreição

Haverá uma ressurreição (versículo 16). Nesse ponto da história somente os mortos em Cristo .subirão (ou se­ja, somente cristãos). Mesmo havendo maitos crentes desde Adão, nenhum crente foi colocado “em Cristo” até o dia de Pentecostes, quando o batismo do Espírito Santo aconteceu pela primeira vez (At 2). Portanto, aqueles levados no Arrebatamento incluem todos os crentes desde o dia de Pentecostes até o Arrebatamento. Será dada prioridade aos mortos, que subirão logo antes dos vivos serem transformados. Mesmo assim ambos os grupos experimentarão suas transformações “num mo­mento, num abrir e fechar dolhos” (1 Co 15.52). To­

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do o procedimento será instantâneo, e não gradual. A palavra grega para “momento” vern da palavra átomo. Quando o átomo foi descoberto, pensava-se que cie era indivisível, motivo por que foi chamado de “átomo”. Mesmo depois de o átomo ter sido dividido, a palavra ainda significa “indivisível”. O Arrebatamento aconte­cerá em um instante indivisível de tempo, como um pis­car de olhos.

Arrebatamento

Haverá um Arrebatamento (versículo 17). Os crentes vivos serão levados à presença do Senhor .sem a expe­riência de morte física. No passado, outros dois foram ao céu sem morrer: Enoque e Elias. Foi por isso que Paulo chamou de mistério essa trasladação da vida na teira para a vida no céu, sem experimentar a morte (1 Co 15.51). O uso que Pauio faz da palavra mistério é o seu modo de nos dar um sinal para que saibamos que ele está prestes a dizer alguma coisa que nunca foi reve­lada antes. A ressurreição não era desconhecida, pois o Antigo Testamento já mencionara a res.surreição dos mortos (Jó 19.25; Is 26.19; Dn 12.2). E Cristo também (Jo 5.26-29). Mas em nenhum lugar Deus tinha revela­do que um grande grupo de pessoas não teria que mor­rer, mas iria diretamente desta vida para a presença de Deus. Enquanto as experiências de Enoque e Elias ilus­travam isso, eles não prometeram esta experiência para mais ninguém.

Em I Coríntios 15.51-54 Paulo nos conla como isto irá acontecer. Os corpos daqueles que morreram antes do Senhor vohar terão experimentado corrupção; por­

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o One é 0 Arrebatamento? • 29

tanto cies terão que receber a incorrupção na hora da ressurreição. Mas os corpos de crentes vivos não terão experimentado a corrupção da morte; eles serão mor­tais. Portanto eles serão revestidos de ijnortalidade atra­vés de algum processo inexplicado que substituirá cor­pos sujeitos à morte (mortais) por corpos que jamais morrerão (imortais).

Estritamente falando, a palavra arrebatamento se re­fere apenas à experiência de crentes vivos que são leva­dos à presença do Senhor. No entanto, teologicamente falando, arrebatamento é usado para denominar todo esse eventü, incluindo a ressurreição dos crentes que já tenham monido assim como a trasladação dos crentes que estiverem vivos.

Encontro

Haverá um encontro (versículo 17), primeiro com pessoas queridas e depois com o Senhor. Naquele ins­tante de ressurreição e trasladação, haverá incontáveis encontros com pessoas queridas. Mas o entusiasmo des­ses encontros será ofuscado pelo brilho do que será ver 0 próprio Senhor.

Onde Ele nos levará então? Para as moradas celes­tiais que Ele está preparando agora para os que são Seus (Jo 14.1-3). De acordo com a visão pré-tribulacionista, a Igreja será julgada e recompensada no céu enquanto estarão acontecendo os sete anos de Tribulação na terra; então Cristo e Sua Igreja retornarão em grande glória para a terra no fmal da Tribulação para executar outros juízos e para estabelecer o Seu reino milenar.

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30 ‘ Vem Depressa, Senhor Jesus

Confiança Renovada

Esta doulrina dá uma confiança renovada (versículo 18). Paulo disse: “Consolai-vos, pois, uns aos outros coni estas palavras.” A palavra consolai também signi­fica “encorajar’. A doutrina do Arrebatamento consola a todos os que perderam entes queridos. Os crentes não precisam süfrer como aqueles que não têm esperança eterna. A vercíade tio An'ebatamento nos encoraja com um ccrlo conhecimenLo e uma esperança firrne quanto ao futuro. Entes queridos serão Jevados ressurretos e os vivos serão transfoniicidos quando o Senhor vier.

Essas verdades cor^soladoras e encorajadoras são vá­lidas, sejamos pré-, midi- ou pós-tribulacionistas. Mas o conceito de arrebatamento parcial diminui os aspec­tos de consolo e encorajamento da doutrina. Dc acor­do com essa teoria existem vários arrebatamentos, e todos eies são recompensas para os vencedores. Por­tanto, a Tribulação se torna uma espécie de purgató­rio, e os arrebatamentos se tornam tempos de liberta­ção do purgatório.

Além disso, ambas as descrições de Paulo sobre o Arrebatamento em 1 Coríntios 15, c em 1 Tessaloni­censes 4 discordam com o ponto de vista do arrebata­mento parcial. Paulo disse que seria num momento, e não durante sete anos ou mais, que “transformados seremos todos”, e não somente os espirituais (I Co 15.51). E ele escreveu estas palavras de confiança aos coríntios, muitos dos quais quase nunca poderiam ser chamados dc vencedores como definido pelo arrebata- menío parcial!

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4Dois Futuros?

Antes de examinar passagens específicas que os pré- e pós-tribulacionistas usam para sustentar suas posi­ções, seria útil descrever a ampla cronologia que cada ponto de vista defende quanto ao futuro.

Obviamente, netn todos os seguidores de cada visão concordam exitre si em iodos os detalhes. Por seu iado, os pré-tribulacionistas projetam uma cronologia bem mais detalhada do futuro que os pós-tribLílacionistas, que, no geral, se concentram mais em se opor aos argu­mentos pré-tribulacionistas do que em organizar sua cronologia própria do futuro.

O futuro pré-tribulacionista

O ponto de vista pré-tribulacionista vê o Arrebata­mento como o próximo evento no programa de Deus.

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32 * Vent Depressa, Senhor Jesus

Ele irá ocorrer antes que a Tribulação comece, ten­do como sinal de seu início o pacto entre Israel e o líder do Império Romano reavivado, governado pelo homem do pecado. Este evento inicia a septuagésima semana de Daniel (9.25-27), o período de sete anos da Tribulação, durante o qual a Igreja estará ausente da terra em cumprimento da promessa de Apocalip­se 3.10. A Tribulação também dá início ao Dia do Senhor, o qual mclui totalmente aquele período e os julgamentos da Segunda Vinda de Cristo e o Milê­nio. No início dos sete anos, 144.000 judeus são se­lados, salvos e protegidos a fim de servirem a Deus durante aquele tempo. Também, a igreja mundial ga­nhará grande poder político antes de ser destruída no meio da Tribulação. Os julgamentos dos selos em Apocalipse 6 (ou, no mínimo, a maioria deles) serão derramados sobre a terra como parte da ira durante a primeira metade da Tribulação.

Neste ponto intermediário, as duas testemunhas de Apocalipse 11 serão mortas e ressuscitadas. A igreja ecumênica será fechada. Satanás será atirado do céu pa­ra iniciar uma perseguição ainda mais intensa contra o povo judeu (Ap 12.9,13). O homem do pecado quebrará sua aliança com Israel e procurará estender o seu domí­nio tanto político quanto religioso. Ele exigirá que o mundo o adore.

Mas na última parte da Tribulação, outros julgamen­tos horríveis cairão sobre a terra (Ap 8-9,16). O Egito cairá, a grande Aliança do norte da Palestina atacará, exércitos do Oriente virão à Palestina, e a campanha do Armagedom terminará com a volta de Cristo.

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Dois Futuros? • 33

Ponto de Vista Prc-Tribulacionista

1. 0 Arrebatamento ocorre antes da Tribulação.

2. A Igreja experimenta Apocalipse 3.10 antes da Tribulação.

3. 0 Dia do Senhor começa com a Tribulação.

4. Primeira Tessalonicenses 5.2-3 ocorre no início da TribulaçÕo.

5. Os 144.000 são redimidos no início da Tribula­ção.

6. 0 Arrebatamento e a Segunda Vinda são even­tos separados por 7 anos.

7. Os israelitas vivos serão julgados na Segunda Vinda.

8. Os gentios vivos serão julgados na Segunda Vinda.

9. Os pais da população milenar virão dos sobre­viventes dos julgamentos dos judeus e gentios vivos.

10. Os crentes da era da Igreja serão julgados no céu, entre o Arrebatamento e a Segunda Vin­da.

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34 * Vem Depressa, Senhor Jesus

Então os julgamentos cairão sobre os judeus que te­rão sobrevivido à Tribulação (Ez 20.33-44) e sobre os gentios .sobreviventes (Mt 25.31-46). Os únicos a serem liberados des.ses julgamentos serão aqueles que aceita­ram a Cristo, e eles entrarão no reino milenar com cor­pos terrenos não ressuscitados para se tornarem os pais da população do Milênio.

Cristo então estabelecerá o Seu Reino e reinará nesta terra por mil anos. No fmal, Satanás será libertado e li­derará uma revolução final sem sucesso. Todos os incré­dulos de todos os tempos serão ressuscitados, aparece­rão no julgamento do grande trono branco e então serão jogados no lago de fogo para sempre.

O Futuro Pós-Tribulacionista

O ponto de vista pós-tribulacionista também vê a septuagésima semana de Daniel ainda no futuro. Mas do seu ponto de vista, a Igreja não será arrebatada antes do início da septuagésima semana. Ao invés disso, a Igreja estará na terra durante todo o período de sete anos de Tribulação. Não haverá um arrebatamento para sinalizar a assinatura iminente de um pacto entre o lio- mem do pecado e Israel. Ao invés disso, este acordo se­rá assinado, e a Tribulação começará, no deconer nor­mal do curso dos assuntos políticos do mundo. Os ju l­gamentos dos selos, trombetas e taças acontecerão durante aquele tempo (ocorrendo paralelamente e não seqüencialmente). No entanto, esses julgamentos não são a manifestação da ira de Deus, mas sim da ira de Satanás e do homem. A ira de Deus não será derramada

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Dois Futuros? • 35

Ponto de Vista Pós-tribulacionista

1. 0 Arrebatamento acontece depois da Tribula­ção.

2. A Igreja experinnenta Apocalipse 3.10 no final do Tribulação.

3. 0 Dia do Senhor começa no final do Tribulação.

4. Primeira Tessalonicenses 5.2,3 ocorre perto do final da Tribulação.

5. Os 144.000 são redimidos na conclusão do Tri­bulação.

6. 0 Arrebaíamento e a Segunda Vindo são o mesmo único evento.

7. Não existe julgamento dos israelitas vivos na Segunda Vindo,

8. Os gentios vivos serão julgados depois do Milê­nio.

9. Os pais da população do Milênio serão os 144.000 judeus.

10.Os crentes da era da Igreja são julgados de­pois do Segunda Vindo ou na conclusão do M i­lênio.

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36 * Vem Depressa, Senhor Jesus

senão até o fmal da Tribulação. Os 144.000 serão prote­gidos por Deus para não morrerem durante aquele pe­ríodo, mas eles não serão salvos senão no momento da Segunda Vinda. Alguns pós-tribulacionistas consideram os 144.000 corno representantes simbólicos da Igreja e não como um número específico de judeus.

No final da Tribulação, o Dia do Senhor terá início, precedido por urna calmaria de paz em meio aos eventos horríveis que estarão acontecendo (o que será o cumpri­mento de 1 Tessalonicenses 5.2-3). Então, a Igreja expe-

.rimentará o cumprimento de Apocalipse 3.10 e emergirá do período da Tribulação no seu instante fmal, logo an­tes da batalha de Armagedom. Assim, o Arrebatamento será um evento único que acontecerá junto com a Segun­da Vinda, com a Igreja encontrando o Senhor nos ares e imediatamente voltando e descendo à terra.

Quando o Senhor retornar não haverá julgamentos formais dos sobreviventes da Tribulação. Os 144.000 serão salvos naquele momento (assumindo que eles, na verdade, são judeus, e não representantes da Igreja) e entrarão no Milênio em seus corpos não ressuscitados. O julgamento dos gentios vivos de Mateus 25.31-46 não acontecerá senão no fim do Milênio, na mesma época do julgamento dos incrédulos no grande trono branco.

Onde os Dois Pontos de Vista Concordam

Note os pontos de concordância enlre os dois pontos de vista.

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Dois Futuros? • 37

1. A septuagésima semana de Daniel ainda está no futu­ro e começará com a assinatura de um acordo entre Israel e o homem do pecado.

2. A terra literalmente experimentará os julgamentos descritos no livro de Apocalipse (ainda que alguns pós-tribulacionistas tendam a considerar alguns deles como não sendo literais).

3. A Segunda Vinda dará início ao reino milenar de Cristo.

4. O julgamento dos incrédulos no grande trono branco acontecerá depois do Milênio.

Percebemos então que temos pontos de concordância e de discordância entre estas duas cronologias. Agora estamos prontos para examinar as Escrituras sobre as quais cada um desses pontos se fundamenta.

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5O Vocabulário

da Segunda Vinda

As palavras usadas no Novo Testamento em rela­ção à Segunda Vinda indicam que ela será um úni­co evento (ponto de vista pós-tribuhicionista), ou dois eventos separados por sete anos (ponto de vista pré- tribulacionista)?

Os pós-tribulacionistas dizem: “A parousia, o apoca­lipse, e a epífania parecem ser um evento ünico. Qual­quer divisão da vinda de Cristo eni duas partes é uma inferência para a qual não há provas.'”

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40 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

Coloquemos o argumento de outra forma: já que os escritores do Novo Testamento usam várias palavras pa­ra a Segunda Vinda, se o Arrebatamento e a volta de Cristo são eventos separados, porque eles não reserva­ram um termo específico para o Ariebatamenlo e outro para a volta, ao iuvés de aparentemente usar essas pala­vras intercambiavelmente?-

Parousia

Parousia, significando “vinda”, “chegada”, ou “pre­sença”, é usada era relação ao Arrebatamento em 1 Tes­salonicenses 4.15. O termo também descreve a Segunda Vinda de Cristo em Mateus 24.27. Esse uso da palavra permite duas conclusões possíveis: (1) Parousia descre­ve o mesmo evento, dando a entender que o Arrebata­mento e a Segunda Vinda são um evento único no final da Tribulação, ou (2) Parousia descreve dois eventos se­parados, ambos caracterizados pela presença do Senhor, mas eventos que não acontecem ao mesmo tempo. Qualquer uma dessas conclusões é válida.

Aqui está uma ilustração. Vamos supor que avós muito orgulhosos dissessem aos seus amigos: “Nós es­tamos esperando ansiosamente a oportunidade de go­zarmos a presença (parousia) de nossos netos na próxi­ma semana.” Então, mais tarde, cm uma outra conversa, eles acrescentariam: “Sim, nós estamos esperando nos­sos netos para a celebração de nossa.s bodas de ouro.” Se ouvisse tais afirmações, você poderia chegar a duas possíveis conclusões: (I) Os netos estão vindo na próxi­ma semana para a celebração das bodas de ouro. Ou se­

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o Vocabulário da Segunda Vinda * 41

ja, os avós estão falando da vinda e do aniversário como Liin evento único, sobre fatos que ocorrerão ao mesmo tempo. (2) Os netos estarão fazendo dnas viagens para ver os seus avós - uma na próxima semana (como parte de suas férias, por exemplo), e outra mais tarde para a celebração das bodas de ouro.

Da mesma forma, desde que a presença (parousia) do Senhor caracterize a ambos, tanto o Arrebatamento quanto a Segunda Vinda, a palavra em si mesma não in­dica se esses eventos acontecerão separadamente ou se­rão um evento único. Concluindo, o vocabulário usado não prova necessariamente nem um nem outro dos pon­tos de vista (pós- e pré-tribiilacioaista).

Âpokalupsis

Uma segunda palavra usada para a vinda do Senhor é apokalupsis, que significa “revelação”. Ela ocorre refe­rindo-se ao Arrebatamento em passagens como 1 Co- ríntios 1.7, e I Pedro 1.7 e 4.13 porque, quando Cri,sto vera para a Sua Igreja, Ele se revelará a Si Mesmo para ela. Na Sua vinda, a Igreja O verá como Ele é. O ternio também apaiece em passagens que descrevem Sua vin­da à terra, no ilnal da Tribulação (2 Ts 1.7), porque na­quele evento Cristo também se revelai'á ao mundo.

Duas conclusões são possíveis:

( 1 ) 0 ArrebaLamento e a Segunda Vinda são o mes­mo e único evento. Desde que ambos são chamados de “a revelação de Cristo”, eles devem ocorrer ao rnes-

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42 * Vem Depressa, Senhor Jesus

mo lempo e ser parte de um mesmo eveiiLo no final da Tribulação.

(2) Tanto o Arrebatamento quanto a Segunda Vinda revelarão a Cristo, mas não ao mesmo tenipo, nem sob as mesmas circunstâncias. Assim, o Arrebatamento e a Segunda Vinda podem estar separados, como o ponto de vista pré-tribulacionista ensina.

A primeira conclusão usa a palavra revelação como uma palavra de catalogação-, ou seja, em todas as pas­sagens onde o termo é usado ele cataloga todos os fatos como pertencendo ao mesmo evento. A segunda con­clusão vê a palavra revelação como uma palavra de ca­racterização: ou seja, cia é usada para caracterizar eventos diferentes de uma mesma maneira, como uma revelação.

Torna-se então ainda mais óbvio que o vocabulário usado no Novo Testamento não parece provar nem o ponto de vista pré-tribulacionista, nem o ponto de vis­ta pós-tribulacionista. Mas vamos nos aprofundar no assunto.

Epiphaneia

A terceira palavra principal para a Segunda Vinda é epiphaneia^ a qual significa “manifestação.” Na Segun­da Vinda, Cristo destruirá o Anticristo pela simples manifestação de Sua vinda (2 Ts 2.8). A palavra tam­bém é usada em referência à esperança do cristão quando ele contemplar o Senhor (2 Tm 4.8; Tt 2.13).

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Devemos concluir que esle lermo está classificando es­sas referências de forma a atribuí-las ao mesmo e único evento? Ou podemos concluir que ele está caracteri­zando dois eventos diferentes, ambos envolvendo a ma­nifestação de Cristo, mas que não ocorrem ao mesmo tempo? A resposta pode ser qualquer uma das duas, mas não ambas!

Claramente, então, o vocabulário não prova que o Ar­rebatamento é pré- ou poS“lribulacional. Por que, então, esse vocabulário continua sendo usado? Simplesmente porque os pós-tribulacionistas continuam acreditando que ele fornece uma sustentação válida para seu ponto de vista. Eles até argumentam que o vocabulário “subs­tancia” seu ponto de vista.'*

Mas a pressuposição dos pós-tribulacionistas que os faz continuarem a usar esse argumento é que essas pala­vras classificam ao invés de caracterizarem. O vocabu­lário talvez até pudesse caracterizar; mas, na verdade, ele não o faz.

Vejamos a palavra motor. Nossa máquina de lavar roupa tem um motor. Nosso ventilador tem um motor. Minha câmara fotográfica tem um motor que avança au­tomaticamente o filme. Será que o motor é uma caracte­rística de todos estes produtos? Ou será que motor é unia forma de classificá-los, o que nos forçaria a con­cluir que tudo que tiver um motor é a mesma coisa? A resposta é óbvia.

Será que “presença”, “revelação” e “manifestação” caracterizam diferentes eventos ou classificam o mesmo

_____________ o Vocabulário da Segunda Vinda ■ 43

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evento? O pré-tribulacionista diz que caracteriza; o pós- tribulacionista conclui que classifica.

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6Segunda

Tessalonicenses 1Alguns pós-tribulacionistas dizem encontrar um ar­

gumento importante para a sua posição no texto de 2 Tessalonicenses 1.5-10:

“Sinal evidente do reto juízo de Deus, para que se­jais considerados dignos do reino de Deus, pelo qual, com efeito, estais sofrendo; se de fato é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam, e a vós outros que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhe­

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46 * Vem Depressa, Senhor Jesus

cem a Deus e contra os que não obedecem ao evan­gelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penali­dade de eterna destruição, banidos da face do Se­nhor e da gloria do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido en­tre vós o nosso testemunho).”

Pós-tribulacionistas entendem que esta passagem diz que “Paulo coloca o livramento da perseguição dos cris­tãos como algo que acontece no retorno pós-tribulacio­nai de Crislo para julgar os incrédulos, enquanto que, dc acordo coin os pré-lribulacionistas, esse livramento ocorrerá sele anos antes.” ‘ Em outras palavras, desde que o livramento aconteça na época da Segunda Vinda, e o livramento esteja conectado cora o Arrebatamento, o Arrebatamento deve acontecer ao mesmo tempo que a Segunda Vinda. Este ponto de vista é diferente do ponto de vista pré-tribulacionista.

Pontos de Vista Conflitantes

Vejamos porque esta posição pós-tribulacionista de 2 Tessalonicenses 1 conflita com o ponto de vista pré-tii- bulacionista. O conflito afeta principalmente três áreas dessa passagem bíblica: o grupo de pessoas a que se re­fere, o tempo do livramento, e o assunto do apóstolo.

As Pessoas

Se nos perguntarmos que grupo de pessoas experi­mentará esse livramento, os pós-tribulacionistas respon-

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Segunda Tessalonicenses / * 47

dcrão: somente aqueles cristãos que sobreviverem à Tri­bulação e que esLarão vivos no Arrebatamento (pós-lri- bulacionista). Conseqüentemente, a passagem somente se refere ao livramento dos cristãos que estarão vivos no fim da Tribulação.

Se isso for verdade, porque Paulo aparentemente ig­nora os tessalonicenses que já haviam sofrido persegui­ção e que já haviam morrido? A morte seria a maneira pela qual Deus os libertou. Por que então ele não men­ciona essa forma de livramento, qae alguns de seus lei­tores ainda poderiam experimentar? Certamente o Ar­rebatamento dos vivos trará livramento da perseguição, mas somente uma porcentagem relativamente pequena de crentes é que experimentará esse tipo de livramento, já que a maioria terá morrido antes do Arrebatamento. Se livramento é o assunto principal de Paulo neste tex­to, e se este livramento virá no Arrebatamento pós-tri­bulacionista, então Paulo está oferecendo esta esperan­ça de livramento para um grupo muito pequeno de crentes.

O Tempo

Dessa linha pós-tribulacionista devemos também concluir que o livramento dos cristãos está previsto para acontecer no tempo do julgamento flamejante dos incrédulos. Esse livramento não está sendo des­crito em termos do encontro com o Senhor nos ares e do estar com Ele para sempre, ou em termos da ressurreição daqueles que já morreram, como outras passagens sobre o Arrebatamento a descrevem. Ob­viamente se o inimigo de alguém está sendo punido.

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4S « Vem Depressa, Senhor Jesus

então há livramento da perseguição. Mas o ponto é0 seguinle: onde 6 que o Arrebatamento está sendo descrito nessa passagem? O aspecto da Segunda Vin­da que está recebendo proeminência aqui é o aspec­to do juízo. De acordo com o pós-tribulacionisrao, mesmo que o Arrebatamento fosse parte inicial da Segunda Vinda, essa parte inicial está totalmente au­sente desta discussão.

Se Pauio tão claramente cria num Arrebatamento pós-tribulacionista, então por que ele não o mencio­na, pelo menos de passagem, já que é o momento do Arrebatamento que traz livramento, não o julgamen­to posterior dos inimigos de Deus? Os cristãos que sobreviverão à Tribulação (se é que o ponto de vis­ta pós-tribulacionista está correto) serão definitivamen­te libertados da perseguição no instante em que fo­rem arrebatados, independentemente do fato de Cris­to estar Julgando ou não os Seus inimigos naquele mesmo momento.

Note algumas das palavras dessa passagem que enfatizam o julgamento de Deus sobre Seus inimi­gos: “reto juízo” (v. 5), “justo” (v. 6), “paga” (v. 6). “tribulação” (v. 6), “chama de fogo” (v. 8), “vingança” (v, 8). Esse vocabulário está estranha­mente ausente das passagens sobre o Arrebatamen­to, tais como João 14.1-13, 1 Coríntios 15.51-58, e1 Tessalonicenses 4.13-18. O Arrebatamento será en­contrado nessa passagem de 2 Tessalonicenses so­mente se 0 esquema escatológico usado sobrepuser os dois eventos. A exegese não mostra o Arrebata­mento nessa passagem.

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Segunda Tessalonicenses i * 49

O Assunto

O ponto de vista pós-tribulacionisla tem se confundi­do a respeito dessa passagem porque ele erra ao defmir o assunto do apóstolo. O pós-lribulacionisla vê o assun­to principal como sendo o livramento da perseguição dos cristãos.

No entanto, o assunto aqui não é livramento, mas vin­gança. Paulo não enfatiza quando ou como os tessaloni­censes perseguidos serão livrados da perseguição; ao in­vés disso, ele lhes assegura que Deus julgai‘á Seus ini­migos e conseqüentemente vingai'á aqueles que sofreram.

Uma das mais espetaculares demonstrações do julga­mento de Deus ocoirerá na Segunda Vinda de Cristo, quando os exércitos do mundo, congregados em Arma­gedom, serão derrotados por Ele e todas as pessoas vi­vas terão que vir á Sua presença (Ez 20.33-44; Mt 25.31-46). E sobre essas pessoas vivas daquele tempo que a vingança cairá. Os moitos que rejeitaram a Cristo não serão julgados senão até depois do Milênio, no grande trono branco. Olhando para trás, sabemos que nenhum dos não salvos que na verdade perseguiram os tessalonicenses serão julgados na Segunda Vinda, mas somente no grande trono branco.

Desde que o assunto é vingança, isso explica porque Paulo não menciona o Arrebatamento nessa passagem. O Arrebatamento não é o tempo da vingança de Deus. É um tempo de livramento, de esperança, de encontro com 0 Senhor. Alguns tessalonicenses encontraram li­

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50 * Vem Depressa, Senhor Jesus

vramento através da morte, mesmo antes dessa carta de Paulo. No seu devido Lempo, todos eles encontraram li­vramento dessa maneira. Desde o primeiro século, mui­tos cristãos perseguidos encontraram o mesmo livra­mento através da morte. Alguns acharão o seu livra­mento no Arrebatamento pré-tribulacionista. Mas somente aqueles crentes que estarão vivendo no final da Tribulação é que encontrarão livramento, então, não porque o Arrebatamento acontecerá naquele momento, mas porque eles passarão livres pelos julgamentos e ve­rão seus inimigos condenados.

Mas se a vingança na Segunda Vinda cai sobre urn grupo relativamente pequeno de inimigos de Crislo (pense, por comparação, em tantos que se opuseram a Ele durante todos os séculos), por que então essa época específica de vingança deveria receber tal proeminên­cia? Simplesmente porque o fim da Tribulação traz a longa rebelião da humanidade ao seu clímax, rebelião esta que será aniquilada pela intervenção pessoal do Se­nhor. Nem todos os inimigos do Senhor serão julgados naquele evento, mas somente aqueles que representam a rebeldia em sua forma mais concentrada. Mesmo que a perseguição dos tessalonicen.ses tenha sido impressio­nante, e mesmo que as subseqüentes perseguições de cristãos possam ter sido horríveis, elas não poderão ser comparadas com a perseguição que acontecerá durante o período da Tribulação.

Talvez uma analogia possa ajudar. Anticristos sem­pre estiveram presentes durante o primeiro século ( 1 Jo 2.18), e anticristos têm aparecido através de todos os séculos. Mas um grande Anticristo ainda surgirá, e ele

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aglutinará em si mesmo toda oposição contra Deus. Outros anticristos estão neste momcnlo no Hades, es­perando o julgamento no fim do Milênio que os lançará no lago de fogo para sempre. Mas o grande Anticristo será julgado na Segunda Vinda; e quando ele for julga­do, Deus será vingado de todos os demais anticristos, mesmo que os seus julgamentos específicos ocorram rnais tarde.

Todos os per.scgLiidores de crentes também serão ju l­gados mais tarde. O julgamento daqueles que estarão vivos na Segunda Vinda vingará a justiça de Deus com respeito a eles e também com respeito a todos os perse­guidores que morreram antes deles.

Se a morte e o Arrebatamento trazem livramento da perseguição pessoal, por que os crentes deveriam estar preocupados com essa futura vingança? Porque o caso contra os perseguidores não estará encerrado até que Cristo seja vingado e a justiça vença. Perseguição pode cessar quando a morte ocorre, mas o caso contra os per­seguidores não estará acabado até que eles sejam julga­dos. Por isso crcntes se interessam não somente em li­vramento, mas também em vingança.

Um exemplo bíblico dessa situação é encontrado nos mártires da Tribulação no céu. antes do fim da Tribula­ção, que clamam a Deus por vingança (Ap 6.9-1 I). “Até quando, ó Soberano Senhor, sanlo e verdadei­ro, não julgas nem vinga.s o nosso sangue dos que habitam sobre u terra?” Claro, eles já obtiveram livra­mento através da morte física c estão no céu; no entan­to, ainda estão interessados na vingança. E o Senhor

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52 ■ Vem Depressa, Senhor Jesus

responde que eles terao que esperar ura pouco mais pela vingança até que outros sejam martirizados na terra.

A conclusão do assunto está clara em 1 Tessalonicen­ses 1.10 e 5.9 onde Paulo confirma a esperança e certe­za de livramento da ira através do Arrebatamento pré- tribulacionista. Em 2 Tessalonicenses 1, ele declara aos seus leitores que os inimigos do Senhor serão julgados.

Segunda Tessalonicenses 1 não ensina que o livra­mento da perseguição ocorrerá necessariamente ao mes­mo tempo que a Segunda Vinda. Na verdade, ele nem menciona o AiTebaíamento; ele enfoca o julgamento dos ímpios e a vingança de Cristo que ocorrerá na Se­gunda Vinda. Esta vingança dá certeza aos santos de to­das as eras que a justiça finalmente prevalecerá.

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7Onde Está a

Igreja em Apocalipse

’ 4 a 18?Pré-tribulacionistas consideram que o seu ponto de

vista é sustentado pelo fato da Igreja não ser menciona­da em Apocalipse 4-18, capítulos estes que descrevem a Tribulação iia terra. Por contraste, a palavra igreja ocor­re 19 vezes nos capítulos 1, 2 e 3, uma vez no capítulo 22, e a frase “esposa do Cordeiro” uma vez no capítulo 21. No emanto, nos capítulos 4 a 18, há um silêncio to-

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54 * Vem Depressa, Senhor Jesus

tal a respeito da Igreja, o que indica aos pré-tribulacio­nistas que a Igreja não estará presente na terra duranle

anos da Tribulação.

Pós-tribulacionistas discordam dessa tese por três ra­zões: (1) SC a Igreja deve estar no céu durante os even­tos registrados nos capítulos 4-18, por que então ela não é mencionada como estando lá? (2) A ocorrência da pa­lavra santos em Apocalipse 13.7,10; 16.6; 17,6; 18.24 mostra que a Igreja na verdade estará na terra durante a Tribulação. (3) Outras descrições de crentes na Tribula­ção podem ser apropriadamente aplicadas aos crentes da era da Igreja; conseqüentemente, os crentes da Tri­bulação serão a última geração da era da Igreja, e esta última geração passará pela Tribulação.

Identidades Verdadeiras

A Igreja no Céu

Os pré-tribulacionistas são capazes de responder à primeira dessas razões pós-tribulacionistas usando argu­mentos de qualquer uma das duas linhas de raciocínio seguintes:

1. A maioria identifica os 24 anciãos como represen­tantes da Igreja, e desde que eles são vistos no céu em Apocalipse 4.4 e 5.8-10, a Igreja é mencionada como estando no céu. Alguns pensam que esse argumento não é bom porque o texto de Apocalip.se 5.9-10, bastante crítico, mostra os anciãos cantando sobre a redenção na terceira pessoa da conjugação verbal, como se a reden-

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çãü não fosse a sua própria experiência (neste caso, eles não poderiam representar a Igreja, a qual já estaria redi­mida). Mas este argumento é fraco; afinal de contas, Moisés cantou sobre a redenção na terceira pessoa, logo após havê-la experimentado (Êx 15.13,16-17).

2. Os pré-tribulacionistas também lembram que os costumes do casamento hebreu consliliiem um bom ar­gumento para a Igreja estar no céu antes da vinda de Cristo no final da Tribulação. O casamento judaico in­clui vários estágios: em primeiro lugar, o noivado (o que inclui a viagem do futuro noivo da casa de seu pai para a casa da futura noiva, pagando o preço do resgate, e assim estabelecendo o pacto matrimonial); em segun­do lugar, a volta do noivo à casa de seu pai (o que signi­fica que ele permaneceria separado da noiva durante 12 meses e que, 'durante aquele tempo, ele prepararia as acomodações para sua futura esposa na casa de seu pa^; em terceiro lugar, a vinda do noivo para a sua noi­va, numa hora desconhecida e inesperada para a noiva; em quarto lugar, a volta com ela para a casa do pai do noivo, a fim de consumai' a união e celebrar a festa de casamento durante os próximos 7 dias (durante os quais a noiva permaneceria trancada no seu quarto nupcial).

Em Apocalipse 19,7-9, a festa do casamento é anun­ciada, a qual, se a analogia do casamento hebreu tem a ver com isso, assume que o casamento já aconteceu pre­viamente na casa do pai. Floje a Igreja é descrita como uma virgem esperando pela vinda do noivo (2 Co 11.2). Em Apocalipse 21.9 ela é denominada de esposa do Cordeiro, o que indica que ela foi previamente levada para a casa do pai do noivo. Pré-tribulacionistas dizem

_______ Onde Está a Igreja em Apocalipse 4 a IH * 55

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que isso requer um intervalo de tempo entre o Arrebata­mento e a Segunda Vinda. Concordíunos que não se exige um período de 7 anos, mas certamente es.se fato é um argumento contra o ponto dc vista pós-tribulacionis­ta, o qual não coloca nenhum período de tempo entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda.

A Palavra “Santos”

A menção da palavra santos nos capítulos 4-18 não prova nada ate que definamos a que santos ela se refere. Havia sanlos (bem piedosos) no Velho Testamento (SI 85.8); existem santos hoje (1 Co 1.2); haverá santos du­rante os anos da Tribulação (Ap 13.7). A questão é a se­guinte; esses santos da era da Igreja são diferentes dos santos do período da Tribulação (posição pré-tribulacio- nista) ou não (posição pós-tribulacionista)? O uso do termo, por si só, não responde satisfatoriamente essa pergunta.

Outras Frases Descritivas

Essas frases são “morrem no Senhor” (Ap 14.13; comparar com “morreram em Cristo” em 1 Tessaloni­censes 4.16-18), e “aqueles que guardam os manda­mentos de Deus” (Ap 12.17; 14.12; compare com Apocalipse 1.9). Usar essas semelhanças para provar que a Igreja estará presente na Tribulação requer que essa semelhança signifique uniformidade (uma pressu­posição significativa). Por outro lado, alguém poderia esperar que grupos distintos de santos (santos da Igreja e santos da Tribulação) fossem descritos dc forma se­melhante já que eles são todos santos.

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O mesmo € verdadeiro para o uso das pülüvrüs eleito, 011 escolhido. Alguns têm concluído que, já que os elei­tos são mencionados como estando na Tribulação em Maleiis 24.22,24 e 31, então a Igreja passará pela Tribu­lação. Mas a que povo eleito o autor se refere? O rei Ci­ro, que era pagão, foi chamado de messias (“ungido”) (Is 45.1). Da mesma forma, Crislo foi chamado dc mes­sias (SI 2.2). Israel foi chamado de eleito de Deus, mes­mo quando a nação era uma mistura de gente redimida com incrédulos (Is 45.4). Cristo também é o eleito de Deus (Is 42.1). O mesmo se dá com a Igreja (Cl 3.12) e alguns dos anjos (1 Tm 5.21). Todos os eleitos não são os mesmos. Assim, os escolhidos da Tribulação não precisam necessanamente scr os mesmos eleitos da Igreja simplesmente porque o mesmo termo é usado pa­ra ambos os grupos.

Quão diferente é a Igreja?

Na verdade, a questão toda se resume em se a Igreja é ou não é uma entidade distinta no progra­ma de Deus. Aqueles que enfatizam a distinção da Igreja gerahnentc são pré-tribulacionistas, e aqueles que não enfatizam a distinção normalmente são pós- tribulacionistas. Distinção nesse caso significa ser di­ferente de Israel. A Igreja é realmente diferente de Israel? Se for, então a Igreja não participará da Tri­bulação, porque durante aquele período Deus estaiá tratando em primeiro lugar com Israel novamente. Se a Igreja é uma continuação de Israel, então nós poderíamos concluir rapidamente que ela experimen­tará a Tribulação.

_______ Onde Está a Igreja em Apocalipse 4 a 18 * 57

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0 caráter “misterioso” da Igreja é um bom argumen­to contra o fato de ser ela identificada com Israël, e a fa­vor do fato dc ser ela uma entidade totalmente distinta no programa de Deus. A obra de Deus em incluir, nesta era, judeus e gentios em um mesmo corpo, é um misté­rio que não era conhecido nas eras passadas (Ef 3.3-6; Cl 1.26). Mas a Tribulação foi revelada no Velho Testa­mento (Is 24). Além disso, a profecia das 70 semanas de Daniel se refere especificamente ao “seu povo e sua santa cidade” (Dn 9.24). Todas as 70 semanas referem- se a Israel. A Igreja não teve qualquer parte nas 69 se­manas já cumpridas e não terá qualquer parte na septua­gésima semana da futura Tribulação. Isso requer um Arrebatamento pré-tribulacionista.

É óbvio que outros mistérios na Bíblia se referem a outros períodos dc tempo (tal como o mistério de Deus em Apocalipse 10.7, o qual será consumado no período da Tribulação; e o mistério da encarnação, 1 Timóteo3.16). No entanto, é errado usá-los como prova de que o mistério do corpo de Cristo não pode estai' circunscrito somente ao período entre Pentecostes e o Arrebatamen­to. É óbvio que nem todos os mistérios bíblicos estão relacionados com o período da Igreja, mas isto não pro­va que um deles não esteja.

A Ressurreição em Apocalipse 20.4

Algumas vezes a menção da ressurreição cm Apoca­lipse 20.4 é usada como argumento para o ponto de vis­ta pós-tribulacionista da seguinte forma: o versículo diz que haverá uma ressurreição no fim da Tribulação; o

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Arrebatamento envoJve a ressurreição de mortos; por­tanto, o Arrebatamctito acontecerá no lim da Tribula­ção. Um pós-tritaniacionista declara que esta é a linica passagem que indica a época do Arrebatamento; todas as outras passagens são somente inferências.'

Douglas Moo também usa Apocalipse 20.4 para sus­tentar 0 Arrebatamento pós-trÍbulacionista:

Por esfas razões, é provável [ênfase acrescenfada] que Apocalipse 20.4 nos dê um quadro da ressurreição de to­dos os justos - incluindo o santos da Igreja, Já que o A r­rebatamento acontece ao mesmo tempo que o ressurrei­ção [uma pressuposição, já que o texto não menciona a transformação dos vivos], e a primeira ressurreição é cla­ramente pós-tribulacional, o Arrebatamento também deve ser considerado pós-tribulacional."^

Existem dois problemas com esta argumentação. Em primeiro lugar, será que a presença de algumas caracte­rísticas em dois fatos diferentes prova que eles formam o mesmo evento? Claro que não. E, era segundo lugar, Apocalipse 20.4 fala somente da ressurreição dos mor­tos, mas não fala sobre a translação dos vivos, a qual c uma parte proeminente e vital das outras descrições do Ari-ebatamento era i Tessalonicenses 4.13-18 e 1 Corín- tios 15.51-58.

Concluímos, portanto, que nem o uso de termos co­mo igreja ou sanws, nem frases que descrevem os crcntes, nem Apocalipse 20.4 definem a época do Ar­rebatamento. Por outro lado, o caráter distinto e miste­rioso da Igreja, especialmente em relação à profecia

_______ Onde Está a Ifíreja em Apocalipse 4 a 18 • 59

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das 70 semanas de Daniel 9. argumenta a favor do Ar­rebatamento pré-tribulacionista. Os argumentos que os pós-tribulacionistas apresentam não provam que o cor­po de Cristo estará na terra no período descrito em Apocalipse 4 a 18.

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8Onde se

Originou o Ponto de

Vista Pré- Trihulacionista ?Não é incomum as pessoas pcnsai'em que por uma

doutrina ser mais antiga é mais verdadeira que doutri­nas mais recentes. Bem, é clai-Q que a história de uma doutrina é importante. Mas sua importância reside prin-

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cipalmente eni descobrir como a pessoas a formularam, a discutiram ou a perverteram. Se uma doutrina come­çou com a Igreja primitiva, então toda esta história pas­sada em relação a nós deveria nos ajudar a expressá-la com mais precisão hoje em dia. vSe uma doutrina come­çou em séculos recentes, então podemos esperar que al­guma formulação c discussão ainda deverá estar aconte­cendo hoje. Mas, para ser verdadeira, uma doutrina de­ve estar de acordo com a Bíblia, não simplesmente com a história da Igreja - passada ou recente.

Alguns dos pais da Igreja no passado ensinaram a re­generação batismal, mas isso não torna essa doutrina verdadeira. A igreja primitiva também não mencionou um arrebatamento pré-tribulacionista, mas isso não o torna uma doutrina falsa.

A igreja primitiva creu na Tribulação, no retorno imi­nente de Cristo e em um Milênio que o seguiria. A igre­ja primitiva era claramente pré-milenista, mas não foi nem claramente pré-tribulacionista, nem claramente pós-tribulacionista quando comparada com os desenvol­vimentos atuais dos ensinos pós e pré-tribulacionistas.

Desenvolvimentos em escatologia realmente não atmgiram preeminência até o período moderno da histó­ria da Igreja, o qual começou depois da Reíorma. Du­rante esse período, o pós-niilenismo foi a primeira teo­ria a aparecer; depois perdeu seu vigor, mas mais recen­temente tem havido um rcavivamento dessa proposta, sendo que alguns antigos amilenistas clamam agora ter se convertido a ela. Durante esse mesmo período, o amilenismo floresceu, e depois o pré-milenismo. So­

62 * Vem Depressa, Senhor Jesus___________ Onde se

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Originou o Ponto ãe Vista Pré-Tribulacionista? « 63

mente nos séculos dezenove e vinte é que os pontos de vista pré- e pós-tribulacioiiistas têm sido sistematica­mente desenvolvidos.

A sistematização do ponto de vista pós-tribulacionis­ta aparentemente se desenvolveu quando as pessoas co­meçaram a rejeitar a miluência crescente do ponto de vista pré-ti ibulacionista. Isso não quer dizer que todos os proponentes do pós-tribulacionismo tenhtun sido pré- tribulacionisías antes de abandonarem essa posição. Pe­lo contrário, quando um esquema pré-tribulacionista mais detalhado se desenvolveu, alguns reagiram e co­meçaram a expor um esquema detalhado pós-tribu!acio- nista.‘

Sem dúvida alguma, J.N. Darby (1800-1882) foi quem deu o maior ímpeto inicial à sistematização do ponto de vista pré-tribulacionista como nós o conhece­mos hoje. Darby, um inglês, estava muito preocupado com a pureza da Igreja, pureza es La que ele não podia encontrai’ na Igreja da Inglaterra por causa de sua alian­ça com o Estado. Isso o levou a começar a se reunir com um grupo já existente e de igual sentimento, e que se reunia para comunhão e estudo bíblico mais profun­do. Eventualmente, ele concluiu que a Igreja era uma obra especial de Deus, distinta do Seu programa para Israel. Essa verdade, integrada com sua escatologia pré- milenista, levou-o a crer que o Arrebatamento poderia ocorrer antes da Tribulação e que, durante a Tribulação, Deus se voltaria para tratar especialmente com Israel, Essas perspectivas foram aceitas e promovidas por ou­tros, e um sistema pós-tribulacionista se desenvolveu como reação contra eles.

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Edward Irviiig

Tentativas tem sido feitas para desacreditar o pon­to de vista prc-tribulacionista de Darby, dizendo que ele não o tirou da Bíblia mas sim de algum herege ou místico.

O herético seria Edwaid Irving (1792-1834), o qual foi expulso da Igreja da Escócia em 1833 com a acusa­ção de crer na pecaminosidade da natureza humana de Cristo. Antes disso, manifestações de línguas e curas apareceram em sua igreja em Londres, e sua congrega­ção havia se tornado ponto de encontro daqueles com expectativas milenistas.

Uma coisa é reconhecer que os seguidores de Irving estavam vitalmente interessados em profecia; outra coi­sa é afirmar que eles ensinaram o An-ebatamento pré- tribulacionista; e ainda é coisa muito diferente implicar que Darby foi influenciado por eles.

Na melhor das hipóteses, a escatologia de Irving não é clara. Um dos componentes do grupo fez uma distin­ção entre a época da epifania (a aparição de Cristo e o Arrebatamento) e a época da parousia (a volta do Se­nhor à terra), mas não colocou um período de 7 anos entre elas. Outro participante do grupo colocou o Arre­batamento junto com o julgamento da última taça de Apocalipse 16 (a qual é o último julgamento do perío­do da Tribulação) e depois da formação da federação das 10 nações. Ainda outro escreveu que o Arrebata­mento acontecerá quando o Senhor estiver vindo em

64 • Vem Depressa, Senhor Jesus___________Onde se

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Originou o Ponto de Vista Pré-Tribulacionista? * 65

direção à terra, o que é uma posição tipicamente pós- tribulacionista.-

Os seguidores de Irving obviamente não ensinaram iminência, ou qiie a septuagésima semana de Daniel se­ria um intervalo enlre o Arrebatamento e a Segunda Vinda. Estas eram doutrinas que Darby claramente ensi­nou na Conferência de Powerscourt em 1833. Um histo­riador coloca o assunto na perspectiva correia:

Os oponentes de Darby argumentaram que o doutrina [do Arrebatamento] se originou em alguma das torrentes de línguas da igreja de Edward Irving em 1 832. Esta pa­rece ser uma acusação perniciosa e sem base. Nem Ir­ving nem qualquer membro do grupo de A lbury defendeu qualquer doutrina que se assemelhasse a um Arrebata­mento secreto. Como já temos visto, eles eram todos esca- tologistas históricos, procurando por cumprimentos de uma ou outra profecia do Apocalipse como o próximo passo da agenda divina, antecipando a Segunda Vinda de Cristo para logo, mas não imediatamente.^

Não há conexão entre o pré-tribulacionismo de Darby e o ensino de Irving.

Margaret Macdonald

A mística mencionada foi uma adolescente chamada Margaret Macdonald (aproximadamente 1815-1840) que vivia em Fort Glasgow, na Escócia, e que, segundo se alega, influenciou tanto os seguidores de Irving como Darby, a respeito do Arrebatamento pré-tribulacionista.

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Esta acusação é feita por Dave MacPherson no livro The hicredible Cover-Up (O Incrível Disfarce}.'^ Mac­Pherson foi além e disse que Darby não somente rece­beu seu conceito dc um Arrebatamento pré-tribulacio- nista de Macdonald (quando ela tinha apenas 15 anos de idade), mas que ele deliberadamente escondeu sua fonte de seus seguidores, já que ela também eslava en­volvida em falar em línguas e receber visões.’

Permita-me citar alguns trechos do relato de Mac­Pherson sobre os manuscritos de Margaret Macdonald a respeito da sua revelação pré-tribulacionista, recebida em 1830, para que possamos ver se ela de fato ensinou o Arrebatamento pré-tribulacionista:

...o templo espiritual deve ser e será reerguido, e a ple­nitude de Cristo derramada em Seu corpo, e então nós seremos tomados poro encontrá-IO... A tribulação da Igreja vem do Anticristo, E será pela plenitude do Espirito que nós seremos guardados... Oh! não é conhecido o si­nal do Filho do homem... eu o vi, e era o próprio Senhor descendo do céu com grande vozerio... Agora O INÍ­QUO será revelado, com todo poder e sinais e maravi­lhas mentirosas, de tal forma que, se fosse possivel, os próprios eleitos seriam enganados - Esta é a dura tribula­ção que virá tentar a todos nós.'^

Três coisas me preocupam aqui.

1. Essa adolescente fez ama distinção entre crentes espirituais e outros crentes, e viu somente os espirituais participando do Arrebatamento. MacPherson conclui erradamente, a partir desse fato, que Macdonald quis

66 ’ Vem Depressa, Senhor Jesus___________ Onde se

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ensinar a vinda secreta fde Cristo]. Na realidade, ela estava ensinando o ponto de vista do arrebatamento

Originou o Ponto de Vista Pré-TrihulacionisUi? • 67

2. Ela viu a Igreja {“nós”) sendo purificada pelo An- ticristo. MticPlierson entende isso como sendo qiie a Igreja será arrebatada antes que o Anticristo surja, igno­rando o “nós”.' Na verdade, Macdonald viu a Igreja su­portando a perseguição do Anticristo durante os dias da Tribulação.

3. Macdonald identificou o sinal da vinda do Filho do Homem (Mt 24.30), o quai claramente aparece no fim da Tribulação, como que acontecendo ao mesmo tempo que o Arrebatamento. MacPherson diz que Macdonald cria ou em um período muito curto de Tribulação, ou, tal como ele, ela entendeu que o sinal seria visto so­mente pelos crentes cheios do Espírito antes que o iní­quo fosse revelado.'* Na verdade, Macdonald se mostra totalmente confusa ao fazer tais afirmações. No niá.xi- mo, sua visão equacionaria o sinal do fim da Tribulação com 0 Arrebatamento, o que dificilmente seria o ponto dc vista pré-tribulacionista!

Quanto a essa jovem e cronicamente enferma Mtii'ga- ret Macdonald, temos que classificá-la como uma “de­fensora confusa do Arrebatamento”. Ela defendeu ele­mentos de Arrebatamento parcial, pós-, talvez midi-, mas nunca pré-tribulacionista.

Pelo próprio te.stemunho de Darby, suas idéias vie­ram da Bíblia, particularmente da sua compreensão da distinção entre a Igreja e Israel (por volta de 1826-

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68 • Vem Depressa, Senhor Jesus

1828). Sua crença de que o Arrebalaracnto aconteceria um bom tempo antes da Segunda Vinda só foi desenvol­vida em 1830, e 0 conceito de um parênteses entre a se­xagésima nona e a septuagésima semana de Daniel s6 se lornou claro para ele lá por 1833. Ele parcce não es­tar tão seguro sobre o aspecto secreto do Arrebatamento senão até por volta de 1840.^

Estes são os fatos essenciais a respeito da história do ponto de vista pré-tribulacionista moderno. Na verdade, a sistematização de ambos os pontos de vista (pré- e pós-tribulacionistas) são desenvolvimentos recentes, já que a Igreja não estudou muito o campo da escatologia senão depois da Reforma.“’

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9A População do

Reino Milenar

Quando o Milênio começar, algumas pessoas deverão estar vivendo em corpos não ressurretos, de tal forma que sejam capazes de gerar lilhos, a população do reino. Todos os pré-milenistas concordam com isso.

O Milênio não envolve somente o reino de Jesus Cristo com o Seu povo, os quais terão corpos ressusci­tados. Ele também inclui o Seu reinado sobre todos os povos da terra que não terão coipos ressuscitados. Se houvesse somente sanlos ressuscitados no reino mile­nar, então não haveria morte, nem aumento de popula­ção, e nem diferenças de idades entre os cidadãos mile­

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70 * Vem Depressa, Senhor Jesus

nares (coisas estas que estão indicadas como caiacteri- zando o reino - Is 65.20; Zc 8.5; Ap 20.8). Uma vez que pessoas ressuscitadas não geram íiilios, não haveria então uma maneira de fazer crescer a população do rei­no, a menos que algumas pessoas não ressuscitadas en­trem no Milênio. Por causa disso, todos os pré-milenis- tas vêem a necessidade de termos adultos que sobrevi­vam à Tribulação. Eles não serão levados para o céu no final da Tribulação, e entrarão no Milênio com corpos não ressuscitados a fim dc se tornarem os primeiros pais da população milenai'.

A População Prc-Tribulacionista

A compreensão que os pré-tribulacionistas têm dos eventos futuros satisfaz facilmente essa necessidade. O Arrebatamento ocorrerá antes da Tribulação, retirando todos os redimidos que estarão vivendo na terra naquela época. Mas muitas pessoas serão salvas durante a Tribu­lação (Ap 7.9,14), incluindo um grupo específico de144.000 judeus (Ap 7.4). Destes salvos durante aquele período horrível, alguns serão martirizados (Ap 6.11; 13.15), mas alguns sobreviverão para entrar no Milênio (Mt 25.34; Zc 14.11). O grupo inicial que entra no Mi­lênio entrará não somente com seus corpos naturais; eles também serão pessoas redimidas que de boa vonta­de se submeterão ao senhorio do Rei. Eventualmente, bebês nascerão e crescerão. Alguns receberão a Cristo nos seus corações; outros, não. Mas todos serão obriga­dos a serem leais ao governo do Rei ou serão punidos. Lá pelo fim do Milênio, haverá muitos rebeldes que te­rão dado obediência externa e aparente ao Rei, e que.

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quando tiverem a oportunidade de se rebelar logu após a soltura de Satanás, se ajuntarão a ele na revolução contra Cristo (Ap 20.7,9).

Assim, na compreensão prc-tiibulacionista desses eventos futuros, os pais originais no reino milenar serão sobreviventes redimidos (mas não ressuscitados) da Tri­bulação, as “ovelhas” dc Mateus 25.34 e os fiéis judeus sobreviventes de Ezequiel 20.38,

A População Pós-Tribulacionista

Em contraste com a posição anterior, temos a pers­pectiva pós-tribulacionista. Nesse ponto de vista, a Igre­ja passará pela Tribulação. Mesmo que alguns sejam martirizados, muitos serão protegidos e sobreviverão. Os 144.000 judeus e a grande multidão de Apocalip.se 7 estão todos incluídos na Igreja. No fmal da Tribulação, todos os crentes vivos serão arrebatados, receberão cor­pos ressurretos, e retornarão imediatamente para a terra em um único evento que inclui Arrebatamento e Segun­da Vinda. Isso parece que eliminaria todas as pessoas redimidas, as não ressuscitadas na terra naquele ponto da história, de tal forma que não haveria nenhuma delas para formar a população do reino. Já que os ímpios so­breviventes serão mortos ou designados para o Hades ao ünal da Tribulação, não haverá ninguém com corpo não ressu-scitado para entrar no Milênio.

Assim, o pós-tribulacionista deve encontrar algumas pessoas que não serão salvas no início do Arrebatamen­to mas que serão salvos no evento instantâneo dc Arre-

________________ A População do Reino Milenar • 7 1

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batamentü/Segunda Vinda; ou, ele deve permitir que os pais iniciais no Milênio sejam pessoas não salvas que, de alguma forma, não foram mortas ou julgadas na hora ou depois do Armagedom. Essas são as duas únicas op­ções que o pós-tribulacionista tem para encontrar pais para a população do Milênio.

A Primeira Geração do Milênio

Precisamos lembrar outro detalhe. A população do Milênio inclui tanto judeus quanto gentios (Is 19.24-25). Conseqüentemente, a primeira geração deve ser compos­ta por pessoas de ambas as categorias. Mas a posição pós-tribulacionista remove qualquer possibilidade de ter­mos pais redimidos de todas as raças no Milênio. E os julgamentos da Segunda Vinda removem quaisquer pos­sibilidades de termos pais não redimidos de todas as ra­ças no Milênio. De onde então virão esses pais?

A maioria dos pós-tribulacionistas não tenta respon­der a esta pergunta. A razão para isso pode ser porque eles geralmente não organíZ£ini todos os detalhes do seu sistema escatológico. Eles pintam o futuro apenas com grandes pinceladas e não com detalhes. Pós-tribulacio- nistas não promovem conferências sobre profecia nas quais se espera que seus palestrantes descrevam especi­ficamente o sistema que promovem. O resultado disso é que alguns pós-ti‘ibulacionistas nunca pensaram sobre essa questão.

Robert Gundry é uma exceção.' Suas respostas têm dois aspectos: os progenitores judeus da população do

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A População do Reino Milenar • 73

Milênio virão dos 144.000 que serão salvos durante ii Tribulação e não no final dela.- Os pais genlios serão ímpios que dc alguma forma escaparam da inorte e/ou do julgamento no final da Tribulação.’ Esses ímpios são aqueles “deixados” cin Mateus 24.40-41 (em contraste com aqueles que foram “tomados” no Arrebatamento pós-tribulacional). Ele diz assim: “...uma destruição parcial deixará os restantes dos não salvos para serem os habitantes da terra no Milênio.”“* Agora, vejamos bem, se o grupo separado para o julgamento inclui ape­nas parte dos ímpios, talvez o grupo dos separados para 0 Arrebatamento também incluirá somente parte dos re­dimidos. Essa comparação nos daria uma nova teoria: o Arrebatamento parcial pós-tribulacionista.

Além disso, se a posição pós-tribulacionista e,stá cor­reta, precisamos fazer um ajustamento sobre a época em que ocorre o julgamento das ovelhas e cabritos de Ma­teus 25.31-46. A razão é simples: se o Arrebatamento ocorre depois da Tribulação, então todas as ovelhas (os redimidos) deverão ser removidas da teiTa; logo, não ha­verá ovelhas para serem paite daquele julgamento, já que ele ocorre somente na Segunda Vinda, a qual é um evento único com o Arrebatamento. Não há jeito do Ar­rebatamento remover as ovelhas e ainda tê-las presentes na terra imediatamente depois do An'ebatamento, a fim dc serem julgadas. Assim, ou o Arrebatamento não pode ser pós-tribulacional, ou o julgamento das ovelhas e ca­britos deve acontecer depois da Segunda Vinda (Gundry o coloca como ocorrendo após o Milênio).

Precisamos examinar três coisas que são necessárias para a teoria pós-tribulacionista: (1) a conversão dos

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74 * Vem Depressa, Senhor Jesm

144.000; (2) a idenlificação dos grupos mencionados em Mateus 24.40-41; e (3) a época do julgamento das ovelhas e cabritos de Mateus 25.31-46.

Os 144.000 Judeus

Alguns pós-tribulacionistas consideram os 144.000 judeus como sendo “o Israel espiritual, ou seja, a Igre­ja.” ̂Se isso for verdade, então o selo que eles recebem acontecerá no início da Tribulação e tem a ver tanto com sua salvação espiritual quanto com a sua proteção física. Gundry reconhece que os 144,000 talvez perten­çam à Igreja (e, conseqüentemente, devem ser salvos no início),

Mas ele prefere considerá-los como não salvos du­rante a Tribulação, e identificá-los com o grupo que irá olhar para Cristo quando Ele retornar (Zc 12.10), ou com o Israel que será salvo na Segunda Vinda (Rm 11.26-27).

Sua preferência é bastante lógica. Se os 144.000 fos­sem salvos durante qualquer período dos anos da Tribu­lação (seja no início, no meio ou no fim), eles seriam le­vados no Arrebatamento pós-tribulacionista, receberiam corpos ressuscitados naquele momento, e então retorna­riam na mesma hora para reinar com Cristo no reino. Mas corpos ressuscitados impediriam que eles fossem pais de qualquer pessoa durante o reino. Por outro lado, se eles não fossem salvos ate o fim definitivo da Segun­da Vinda, eles teriam “escapado” do Arrebatamento, permanecido convertidos, mas ainda teriam corpos não

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ressuscitados, o que os tornaria capazes de sereiu os pais das crianças do Milênio,

Na verdade, pré-tribulacionistas acreditam que liavc" rá um grupo de judeus converlidos lá pelo fim do perío­do da Tribulação, os quais se tornarão pais do grupo ju ­daico da população do Milênio. Eles surgirão do povo judeu sobrevivente da Tribulação, mesmo sendo não salvos durante aquele período. Quando o Senhor voliar, eles serão reunidos e julgados; os rebeldes (possivel­mente dois terços, Zc 13.8) serão excluídos do reino, c aqueles que crerem nEle quando O virem, entrarão nu reino (Ez 20.33-44). Esses sobreviventes crentes consti­tuem o “todo” de “todo Tsrael” que será salvo na Segun­da Vinda (Rm 11.26). Mas eles não receberão corpos ressurretos naquele momento; pelo contrário, eles entra­rão no reino com seus coipos materiais com a capacida­de de gerarem filhos.

Por que os pós-tribulacionistas não podem permitir que esse grupo seja os pais do Milênio? F̂ or que esse grupo somente crerá quando vir o Senhor vindo no Ar­rebatamento pós-tribulacionista. Assim, eles seriam também airebatados, levados ao céu, receberiam corpos ressuirectos, e estariam eliminados da possibilidade de serem pais. O Arrebatamento, independentemente do seu momento histórico, será a maior separação entre crentes e incrédulos jamais imaginada; então, se haverá de existir um grupo de judeus que crerá quando virem o Senhor em Sua vinda, e se esta vinda é o Arrebatamen to/Segunda Vinda pós-tribulacionista, eles serão tam­bém arrebatados porque se tornarão crentes naquele momento. Dessa forma, o pós-Lribulacionista precisa ter

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um grupo que é selado no estado de incredulidade por tempo suficiente para perder o Arrebatamento mas não por tanto tempo a ponto dc perder a entrada no Milênio eni seus corpos materiais. Conseqüentemente, como po- dcríamos já esperar, Gundry comenta Ezequiel 20 di­zendo que “esta passagem não mostra de forma alguma um julgamento.”'’ De fato, não pode mesmo, no sistema pós-tribulacionista.

Podemos considerar os 144.000 como não converti­dos durante os anos da Tribulação? Sim, podemos. Ca­da um pode escolher sua interpretação favorita, A per­gunta não é SE é possível interpretar o texto dessa for­ma, A pergunta é se é razoável fazê-lo, O que o texto de Apocalipse 7.1-S diz?

Esse texto faz duas afirmações importantes: os144,000 tem “o selo do Deus vivo” (v. 2), e eles são “servos do nosso Deus” (v. 3). O texto não diz espe­cificamente qual é seu .serviço, mas diz a quem. eles servem, Eles servem a Deus, não ao Anticristo. Pode­mos imaginar um grupo de 144.000 pessoas não sal­vas que são denominadas servos de Deus? Pós-tribu­lacionistas dão uma explicação muito fraca para essa questão dizendo que essa designação é uma antecipa­ção do seu serviço durante o Müênio, quando eles en­tão deverão estar convertidos. Essa explicação é pos­sível, mas será isso que o texto realmente quer dizer? Eu acho que não.

Mesmo que a designação “servos dc Deus" não fosse aplicável aos 144,000 durante a Tribulação, mas somen­te durante o Milênio, a afirmação do versículo 2 é de di-

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fícil harmonização com o ponio de vista pós-íribiilacio- nista. O texto diz que o grupo c selado anles que o jul gamento da Tribulação comece (versículo l). Para en­caixar isso com a perspectiva pós-tribülacionista, preci­saríamos ter um outro grupo de judeus não convertidos em cujas frontes Deus tivesse colocado o Seu selo. Co­mo pessoas não salvas, eles (ou certamente alguns de­les) seguiriam o Anticristo, que colocaria a sua marca em suas frontes ou mãos. E o destino dos seguidores do Anticristo já tem sido determinado: eles serão atormen­tados para sempre com fogo e enxofre (Ap 14.9-11). Nenhum destes seguidores será salvo, nem mesmo144.000 deles.

Para resumir, os pós-tribulacionistas precisam ter um grupo de judeus não convertidos sobreviventes da Tri­bulação que, pelo fato de serem não convertidos, não serão arrebatados, mas que estarão convertidos no mo­mento em que o Milênio tiver início para que possam entrar no Milênio com seus corpos não ressurretos e ge- ríir filhos. O único grupo que se qualifica para isso são os 144.000, mas aí temos que assumir que eles podem ser descritos como servos de Deus não convertidos, que têm o selo de Deus em suas Irontes antes mesmo do iní­cio da Tribulação, e que não seguirão o Anticristo de forma a não terem a sua marca. Será que tudo isso é realmente possível?

Quem é “Tomado”, e Para Onde?

Não somente os 144.000 precisam ser identificados de lorma específica, mas também os grupos citados em

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Mateus 24.40-41 devem ser identificados de tal forma que possam se encaixar na interpretação pós-tribula- cionista.

De acordo com a compreensão pós-tribulacionis- ta, Mateus 24.40 ensina o seguinte: “Então [no Arrebatamento/Segunda Vinda pós-tribulacionalj es­tarão dois no campo, um [salvo, represeníaiido a Igreja] será tomado [no Arrebatamento pós-lribu- lacional], e deixado [para julgamento, ainda que nem todos serão julgados porque alguns serão dei­xados para se tornarem pais da população gentíli­ca do Milênio] o outro [não salvo, representado os ímpios].” E o mesmo é vei'dade para o versículo 41: aquele ‘‘tomado” é arrebatado, e aquele “dei­xado” será julgado.

Já o pré-tribulacionista, em contraste, vê esses versí­culos como uma afirmação genérica dos resultados de julgamentos específicos sobre os judeus e gentios so­breviventes da Segunda Vinda. Aqueles que são toma­dos são ievados para o julgamento e condenados. Aque­les que são deixados escapam do julgamento e são dei­xados para as bênçãos do reino.

O pós-tribulacionista deve ainda acrescentar a condição de que nem todos os que são deixados serão julgados e condenados, para que possam res­tar pessoas para povoar a terra. Mas aqui há uma inconsistência: o Arrebatamento levará todos os re­dimidos, mas o julgam ento não incluirá todos os não redimidos. Somente uma parte dos ímpios se­rá julgada.

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As duas intei-pretaçoes comparadas ficam assim:

Interpretação Pré- Tribulacionista

'Tom ado" Para ju lga m en to

"Deixado" Para as bênçãos d o re ino [em co rp os não ressurrectos a fim de g e ra r filhos)

Interpretação Pós- Tribulacionista

Para o céu, no A rre b a ía m e n to pós- trib u la c io n is ía .

Para ju lga m en to (mas som ente um a p a rte será ju lg a d a po rq u e o resto deverá e n tra r no re ino com seus corpos não ressurretos)

Os pré-tribulacionistas sustentam seu ponto de vista mostrando que, de acordo com o versícido 39, o Dilú­vio levüLi o povo do tempo de Noé a julgamento; conse­qüentemente, aqueles que forem tomados na Segunda Vinda serão também levados a julgamento.

Os pós-tribulacionistas observam que um termo é usado no versículo 39 para “levou” e outro termo para “tomado”, nos versículos 40-41, o que indica dois tipos diferentes de levar - no versículo 39, levar a julgamen­to, mas nos versículos 40-41, levar para o céu no Arre­batamento. Eles reforçam seu argumento mostrando que o termo nos versículos 40-41 é a mesma palavra usada para descrever o Arrebatamento em João 14.3: “vos receberei para mim mesmo”.

Os pré-tribulacionistas contra argumentam mostran­do que, em João 19.16, a mesma palavra usada em Ma­

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teus 24.40-41 (supostamente referindo-se ao Ai-rebata- mento, de acordo com os pós-tribulacionistas) é usada para levar o Senhor a julgamento. Assim, obviamente, ela também poderia significar julgamento em Mateus24.40-41, como os pré-tribulacionistas ensinam. De no­vo, como vimos em anteriormente, as discussões inter­mináveis sobre algumas palavras não são conclusivas.

No entanto, o debate tem imia solução. Podemos re­solver a questão ao olharmos para a passagem paraleJa em Lucas 17.34-37, onde o mesmo aviso sobre aqueles deixados e levados é dado pelo Senhor. Mas Lucas acrescenta uma pergunta feita pelos seus discípulos: “Onde será isso. Senhor?” Eles ihe perguntaram para onde aqueles tomados seriam levados. Eles não pergun­taram sobre onde os deixados seriam deixados. Se o Se­nhor tivesse a intenção de fazer-nos entender que eles foram tomados no Arrebatamento (como os pós-tribula­cionistas ensinam), Ele teria respondido a pergunta re­ferindo-se ao céu, ou à casa do Pai, ou teria usado outra expressão parecida. Mas a Sua resposta mostra que eles serão tomados para um lugar que nada tem a ver com bem-aventurança. Sua resposta foi; “Onde estiver o corpo, aí .se ajuntarão também os abutres.” A respos­ta de Cristo é um provérbio sobre abutres que aparecem quando um animal morre. Para onde eles serão levados'? Onde há morte e corrupção, não onde há vida e imorta­lidade. A referência não é ao céu, mas ao julgamento. Assim, de acordo com Lucas 17.37, a interpretação pré- tribulacionista sobre a identidade daqueles que são to­mados e daqueles que são deixados está correta. O Ar­rebatamento pós-tribulacionista não se encontra nesses versículos.

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As Ovelhas c os Cabritos(Mateus 25.31-46)

O julgamento das ovelhas e cabritos, colocado na cpoca da Segunda Vinda pelos pré-tribulacionislas, pre­cisa ser movido para mais taide, para t|iic o ponto de vista pós-tribulacionista seja consistente. A razão é que se o Arrebatamento o c o i T e r no fim da Tribulação - ou seja, na Segunda Vinda - e se todas as ovelhas serão le­vadas para o céu naqiiele Arrebatamento, como haverá outras pessoas para serem reunidas antes que Cristo ve­nha? Todas já terão sido levadas. Vamos dizer isso de outra forma: o Arrebalaraenlo/Segunda Vinda separará os redimidos dos ímpios; no entanto, esse julgamento na Segunda Vinda lanibém fará a mesma separação - só que não haverá nenhum justo na terra para ser separado, uma vez que todos eles foram arrebatados.

A transferência desse julgamento para mais tarde também provê a possibilidade de sobreviventes da Tri­bulação e Segunda Vinda não salvos para entrarem no Milênio em corpos não ressurretos. Gundry admite: “Nós somos forçados a colocar o julgamento das nações para depois do Milênio.”'' Forçados? Por que? Porque não pode haver somente uma condenação parcial dos cabritos: o texto diz que “Iodos” serão julgados. Em sua interpretação daqueles que serão deixados em Mateus24.40-41, Gundry diz que eles se referem apenas a “uma destruição parcial”,m a s aqui todos estão especi­ficamente envolvidos (Mt 25.32).

Nenhum texto exige que haja não salvos entrando no Milênio. Depois de alguns poucos anos, haverá pessoas

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nascidas durante os primeiros dias do Milênio que, ao crescerem como adultos, rejeitarao o Salvador-Rei em seus corações (ainda que obedecendo-Lhe em seus atos exteriores). Mas nenhum texio exige que haja pessoas não salvas entre os sobreviventes da Tribulação que en­trarão no Milênio. Zacarias 14.16 (algumas vezes usado para apoiar essa idéia) refere-se à primeira geração dos cidadãos do Milênio que passarão pelos julgamentos como redimidos, não como rebeldes, e que voluntaria­mente irão a Jerusalém para adorar o Rei. Mas os versí­culos 17-21 começam a descrever as condições perma­nentes dnrante todo o Milênio, e não somente no seu início. Com o passar do tempo, alguns não irão obede­cer ao Rei, e eJes deverão ser punidos.

Talvez a razão mais irresistível para o pós-tribulacio- nista mover esse julgamento para o fim do Milênio não é tanto conseguir cabritos entrando no Milênio quanto para conseguir ovelhas entrando no próprio julgamento. Mais uma vez: se o julgamento acontece na Segunda Vinda, e SC o Arrebatamento acontece como parte da Segunda Vinda, e se o Arrebatamento já levou todas as ovelhas (como levaria), então de onde virão as ovelhas que estarão presentes no julgamento?

Se, no entanto, o julgamento pode ser adiado até o fím do Milênio, então é óbvio que haverá ambos, justos e ímpios, vivendo na conclusão do Milênio. Mas então, como podemos reconciliar as diversas características de Mateus 25.31-46 com aquelas características que des­crevem 0 que, supostamente, é o mesmo julgamento no trono branco, mencionado cm Apocalipse 20.11-15? Veja alguns dos contrastes entre o julgamento das ove­

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lhas e cabritos com o julgameiito no grande trono bran­co.

Gundiy chama o julgamento das ovelhas e cabritos de “um padrão geral de julgarnenU) para o fmi dos tem­pos.”"̂ Evidentemente, passagens que descrevem o mes­mo evento não têm de conter ambas todos os mesmos detalhes, mas essas duas passagens parcccm ser inteira­mente diferentes nos seus detalhes.

Se o julgamento das ovelhas c cabritos deve ser trans­ferido para o fim do MiJênio, então, obviamente, Ma­teus 25.31 deve ser e n t e n d i d o como se r e f e r i n d o à Se­gunda Vinda, e o versículo 32 como referindo-se ao fmi do Milênio, 1000 anos mais tarde. Em outras palavras, o intei'valo de 1000 anos (o Milênio) deve estar entre os versículos 31 e 32. Pré-milcnistas reconhecem que esse tipo de intervalo aparece nas Escrituras (Ts 9.6 e Jo 5.28-29, por exemplo). Ou seja, essa interpretação não é impossível, mas seria ela a correta?

Os versículos 35-40 nos dão a resposta. Será que es­ses versículos realmente descrevem as condições eni vi­gor durante o Milênio? Eles têm que descrevê-las se es­se julgamento deve ocorrer depois da conclusão do Mi­lênio. Se essas são as condições durante o Milênio, então esse deverá ser um período qutmdo Cristo e Seus seguidores deverão estar famintos, sedentos, nus, enfer­mos e aprisionados. Aqueles que desobedecem ao Rcl durante o Milênio deverão realmente ir para a prisão, mas 0 texto diz que durante aquele período que precede 0 julgamento, os seguidores de Cristo estarão na prisão. Ora, tão certo como essa opção não poderá ser verda-

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deira diiranLe o Milênio, cia será verdadeira durante a Tribulação. Os seguidores de Cristo estarão iamintos, sedentos, luis, enfermos e na prisão durante os anos da Tribulação, mas não durante o Milênio, quando Cristo estará reinando com toda a justiça.

Ovelhas e Cabritos Grande Trono Branco

N ã o há ressurreição (mesmo que os santos do V e lho Testa­mento ressuscitem na Segunda V in d a , eles não fa rão pa rte do ju lgam enío)

Ressurreição dos mortos.

Nenhum liv ro é aberto . Livros são abertos.

A pa lavra nações é usada (e o term o nunca é usado pa ra os mortos),

A pa lavra m orto é usada.

O velhas estão presentes. Os justos nõo são m enciona­dos, não estão presentes.

Três grupos são m encionados: ovelhas, cabritos e irm ãos.

Só um g rupo é m encionado: os mortos.

A recompensa é o re ino e a v i­da eterna.

N ã o há m enção de recom ­pensa, somente de condena­ção,

O corre no lu ga r em que Cristo vem (ou seja, na terra).

A terra fugiu.

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Fica claro, então, que os versículos 35 u 40 tornam impossível estabclecer um intervalo de 1000 anos entre os vcrsículos 31 e 32. O julgamento acontecerá imedia­tamente após a vinda dc Cristo, e Ele avaliará as pes­soas com base na reação de seus corações às condições vigentes na Tribulação - condições que não estarão pre­sentes nem afetarão os seguidores de Cristo durante o Milênio.

Então, para onde essa discussão nos conduz? Ela nos leva a concluir que o ponto de vista pós-tribulacional não pode responder à pergunta; quem serão os pais da população do Milênio? No máximo, os pós-tribulacio­nistas oferecem alguns pensamentos interessantes sobre 0 assunto, mas é só isso. Eles pensam que os 144.000 serão os pais judeus; mas para que eles possam real­mente ser esses pais, precisarão permanecer incrédulos durante toda a Tribulação, o Arrebatamento e a Segun­da Vinda, e somente então, se converter. Eles pensam que alguns dos deixados na separação de Mateus 24.40­41 deverão ser os pais gentios (os demais gentios serão condenados ao inferno). Mas isso distorce o significado de “tomado” e “deixado”, fazendo com que o tomado para o céu no Arrebatamento queira dizer algo contrário ao claro significado de “tomado” em Luca.s 17.36. E pa­ra tornar todas essas idéias consistentes, o julgamento das ovelhas e cabritos deve ser colocado no fim do Mi­lênio, e Mateus 25.35-40 deve descrever as condições existentes durante o Milênio,

É muito mais simples não ter que colocar o Arrebata­mento no fím da Tribulação! Isso permite que as pes­soas aceitem ou rejeitem a Cristo durante a Tribulação.

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Algumas dessas pessoas (as quais não serão arrebatadas porque o Arrebatamento já terá acontecido) irão sobre­viver e serão julgadas na Segunda Vinda (tanto os ju ­deus quantü os gentios vivos). Aqueles que consegui­rem passar pelo julgamento - como pessoas redimidas - entrarão no reino com seus corpos terrenos a fim de se tornarem a primeira geração da população milenar, os pais da próxima geração.

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10o Dia do Senhor

Pré e pós-lribulacionistas concordam que a questão do Dia do Senhor está diretamente relacionada com a época do Arrebatamento. Mais especificamente, o cerne da questão é sobre quando o Dia dc Senhor tem início. Se ele começa na Segunda Vinda de Cristo, então o Ar­rebatamento (o qual deve preceder o Dia do Senhor) po­deria (mas não tem que) ser pós-tribulacional. Se o Dia do Senhor começa no meio da Tribulação, então o Arre­batamento precisa ser midi-tribulacional, Mas se o Dia do Senhor começa no início da Tribulação, então o Ar­rebatamento deve preceder a Tribulação.

O Dia do Senhor, na Bíblia, sempre envolve um con­ceito bastante abrangente da intervenção especial de Deus na história humana. Esse conceito inclui três la-

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dos: (1) Lirn lado histórico referente à Sua intervenção nos assuntos de Israel (.11 1.15; Sf 1.14-18) e nos assun­tos das nações pagãs (Is 13.6; Jr 46.10; Ez 30.3); (2) um lado ilustrativo, no qual um incidente histórico da inter­venção de Deus também ilustra uma futura intervenção (Is 13.6-13; II 2.1-11); (3) um lado c.scatológico sobre a intervenção de Deus na história humana no futuro (Is2.12-19; 4.1; 19.23-25; Jr 30.7-9). Somente esse tercei­ro ponto, 0 lado escatológico, faz parte da nossa discus­são sobre o tempo do Arrebatamento.

Todos os pré-milenistas concordam que o Dia do Se­nhor inclui os eventos da Segunda Vinda e os 1000 anos literais do Milênio que seguem logo após. Pré-milenis- tas não debatem sobre quando o Dia do Senhor termi­nará, somente sobre quando é o seu início.

O esquema pós-tribulacionista é o seguinte: o Dia do Senhor não começará ate que sejam derramados os jul­gamentos do Armagedom, no fim da Tribulação. O Ar­rebatamento, que precede o Dia do Senhor, ocorrerá no fim da Tribulação, logo antes do Annagedom, livrando a Igreja da ira de Deus que cairá no Armagedom.

Duas questões se levantam agora. Primeira: como po­de 0 Arrebatamento preceder o Armagedom e mesmo assim ser um evento Cínico com a Segunda Vinda, que encerrará o Armagedom'.' O Armagedom não é uma ba­talha única e local; é uma guerra (Ap 16.14). Para a Igreja estar ausente no Armagedom, o Arrebatamento não pode ser um evento íinico e acontecer ao mesmo tempo que a Segunda Vinda. Ele deveria acontecer se­parado da Segunda Vinda pelo menos por um pouco de

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tempo. E se for separado por um lapso de tempo, seja ele qua! for, então não existe um Arrebatamento pós-tri- bulacional. Segunda pergunta: se o Dia do Senhor co­meça com o julgamento do fim da Tribulação, então co­mo pode ele começar com um tempo de paz e seguran­ça (1 Ts 5.2-3)? Até mesmo um conhecimento superficial da Tribulação nos dá a impressão de que não haverá qualquer tempo de paz e segurança, exceto tal­vez logo no seu início; certamente não no seu final.

Com o objetivo de aliviar as tensões que se levantam dessas duas perguntas, os pós-tribulacionisías (1) pro­põem uma ceita cronologia dc julgamentos descritos em Apocalipse, e (2) sugerem uma interpretação muito in- comum de 1 Tessalonieen.ses 5.2-3 (“paz e segurança”).

Os Julgamentos de Apocalipse

As três séries de julgamentos descritas em Apocalip­se acontecerão durante os anos da Tribulação. Eles são revelados sob os títulos de sete selos (capítulo 6), sete trombetas (capítulo 8-9) c sete taças (capítulo 16). Os comentaristas discordam em seu entendimento sobre a relação que esses julgamentos têm entre si. Alguns acreditam que eles são consecutivos; ou seja, as trombe­tas ocorrem logo após os selos e as taças logo após as trombetas. Em outras palavras, o primeiro selo aconte­cerá logo após o início da Tribulação, e a última taça acontecerá no final da Tribulação. Entretanto, isso não quer dizer que todos os demais julgamentos que ficam no meio estão distribuídos em espaços iguais de tempo através dos sete anos. As seíe taças, por exemplo, apa­

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rentemente se sucedem rapidamente uma atrás da outra. Mas no geral, os julgamentos são consecutivos.

Outros crêem que os julgamentos serão de alguma forma paralelos. Ou seja, o sétimo selo descreveria o fim da Tribulação; desse modo, a sétima trombeta e a sétima taça aconteceriam também no fim.

Há pré-tribulacionistas que tomam qualquer das duas posições, mas os pós-tribulacionistas estão melhor ser­vidos ao tomarem a segunda. A razão; a Igreja, de acor­do com o ponto de vista pós-tribulacionista, escapará da ira de Deus, a qual acontecerá somente bem no fmal da Tribulação. O sexto selo e a sexta e sétima taças predi­zem a ira de Deus, conseqüentemente elas devem acon­tecer no fmal. “Assim, a ira de Deus não se demonstrará através de toda a Tribulação. As passagens de Apocalip­se que falam da ira divina tratam do final da Tribula­ção.”'

Os pós-tribulacionistas não somente limitam a ira dc Deus para a época fmal da Tribulação, mas eles também ensinam que ela cairá somente sobre os incrédulos.

Pressuposições Pòs-Tribulacionistas

Vamos examinar algumas das pressuposições neces­sárias para tal ponto de vista.

Dizer que a ira de Deus está direcionada somente contra os não regenerados é uma coisa; mas daí a con­cluir que os regenerados estão protegidos de qualquer

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dos seus efeitos é acrescentar alguma coisa que pode não ser verdadeira. Por exemplo: além desse futuro der­ramamento da ira de Deus, existe também o derrama­mento presente da ira (Rm 1.18). Ela está direcionada contra os incrédulos e resulta era todo tipo de atividades perversas e corruptas, incluindo filosofias falsas, ho­mossexualidade, assassinatos, etc. A ira de Deus cai so­bre os incrédulos; mas será que os crentes estão protegi­dos neste momento dos efeitos dessas atividatles? Claro que não. O incrédulo que cometc assassinato pode, por exemplo, matar um crente.

Da mesma forma, com respeito à futura ira de Deus, não c correto conclidr que, quando Deus derrama os jul­gamentos de Sua ira, os crentes irão escapar dos efeitos desses julgamentos, mesmo que eles estejam direciona­dos somente contra os incrédulos. Mesmo que o ponto de vista pós-tribulacionista tente colocar um manto de proteção sobre os crentes, a fim de guardá-los dos efei­tos da ira futura de Deus, isso não está de acordo cora o que acontece hoje com Sua ira e seus efeitos.

Mas crentes serão resgatados, diz o pós-tribulacio­nista, porque eles serão arrebatados antes que a ira caia sobre os incrédulos. '‘Deus não irá derramar a Sua ira sobre os incrédulos até o final do Armage­dom, quando Jesus descerá [e a Igreja será arrebata­da, se o pós-tribulacionismo está correto].”- Entretan­to, Armagedom não é apenas uma simples batalha mas 0 clímax de uma guerra, Pov isso, a fim dc es­caparem da ira dc Deus, os crentes teriam que ser arrebatados antes que Cristo descesse no final da cam­panha do Armagedom.

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Note também que Apocalipse ó .l7 anuncia que a ira de Deus “chegou” . O tempo verbal parece indicar que a ira já foi derramada, e que não começou somente com o sexLü selo. Assim, u versículo parece dizer que a ira começará antes do fim da Tribulação. A fmi de se contrapor á força desse argumento, os pós-tribula- cionistas dizem que o tempo verbal significa apenas que a ira está quase por ser derramada; ou seja, que ela não terá início antes do fim.^ Agora vejamos, essa interpretação lança inão de um possível uso do tempo verbal, mas na verdade é muito difícil que tenha esse significado nesse versículo. Como Alford indica, “o sentido praticamente perfeito do aoristo'^ eithen difi­cilmente pode ser questionado aqui.”“* Ele explica que o significado desse tempo verbal “refere-se ao resulta­do de toda uma série de eventos passados, sendo que não podemos expressar o mesmo em nossa língua se­não peio uso do pretérito perfeito.” ̂ Assim, sustenta­do por especialista tão renomado, o significado desse versículo não é que a ira está quase por ser derrama­da (como os pós-tribulacionistas precisam, entendê-lo para não desmontar todo o seu sistema), mas que a ira já foi derramada e produz resultados contínuos como conseqüência.

Esse argumento sobre o significado do tempo verbal é também usado por outro ponto de vista mais recente chamado de o Arrebatamento pré-ira. Esse ensino co­loca o Arrebatamento a três-quartos do caminho dos

'A o ris to : tem po da conjugação grega que indica haver a ação ocor­rido em época passada, sem determ inar, porém, se está inteira- m0n l0 realizada no instante em que se fala - N.R,

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sete anos do período da Tribulação e antes do derramii- mento da ira de Deus sobre a terra. Ele afirma tjue o Arrebatamento, o início do Dia do Senhor, c o derra­mamento da ira de Deus irão acontecer todos ao mes­mo tempo a três-quóirtos do período da Tribulação. Isso coloca esses eventos em Apocalipse 8.1, na abertura do sétimo selo.''

Mesmo que o tempo verbal em Apocalipse 6.17 pos­sa significar “e.stá quase chegando”, esse não é o uso que João dá ao verbo em outros lugares do Apocalipse. Em Apocalipse 11.i8; 14.7,15; 18.10; e 19.7, o mesmo verbo, no mesmo tempo verbal de Apocalipse 6,17, é usado para eventos e pessoas que já estão presentes na cena, não referindo-se a coisas que estão por acontecer no futuro (se bem que próximo).

A questão se as três séries de juízos de Apocalipse são sucessivas ou paralelas (ou a combinação dessas duas) talvez nunca possa ser respondida satisfatoria­mente. Mas se alguém enfatiza a sucessão dos even­tos, então a paisagem pó.s-tribuIacionista fica meio ofuscada. Quanto mais julgamentos forem empilhados no íinal, mais ficaria confirmada a proposta pós-tribu­lacionista.

Mas, na melhor das hipóteses, a teoria é confusa, O Dia do Senhor, de acordo com os pós-tribulacionistas, inclui o julgamento final de Armagedont;^ c ainda “cla­ramente, o Dia do Senhor não terá início com a Tribula­ção ou cora qualquer parte dela.”® Ao mesmo tempo, “as passagens em Apocalipse que falam sobre n ira divi­na tratam... do encerramento da Tribulação.”''

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Vamos resumir a posição pós-tribulacionista; o Arre­batamento pode preceder o Armagedom (que é quando a ira dc Deus será derramada e quando o Dia do Senhor terá início) se muitos dos juízos de Apocalipse forem empilhados juntos no fmal, tão simultâneos quanto pos­sível; se o tempo verbal em Apocalipse 6.17 tiver um significado especial; se os efeitos do derramamento da ira de Deus não tiverem qualquer outra conseqüência paralela sobre os crentes; e se o conflito final for uma batalha só, não uma guerra com múltiplas batalhas.

O Tempo de Paz e Segurança

Uma segunda pergunta que os pós-lribulacionistas precisam responder é a seguinte; como pode o Dia do Senhor começar com um tempo de paz e segurança se ele começa com o derramamento da ira de Deus em Armagedom?

Paulo escreveu; “Pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o dia do Senhor vem como la­drão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segu­rança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor do parto à que está para dar à luz; e dc nenhum modo escaparão” (1 Ts 5.2-3). A vinda ou início do Dia do Senhor ocon-erá durante uma época de paz. Pode ser que seja uma paz segura ou insegura, mas não será durante uma época de gueiTa ou conflito. Essa descrição muito dificilmente se encaixa com o fim da Tribulação quando “todas as nações” convergirão para a Palestina (Zc 12.3; 14.2; Ap 16.14). Como pode então o sistema pós-tribulacionista estar correto?

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o Dia do Senhor ■ 95

A cronologia de 1 Tcssalonicenses 5.2-3 é clara: a paz existente no início do Dia do Senhor será seguida por repentina destruição. Mas o ponto de vista pós-tri- bidacionista já declarou que o Dia do Senhor não come­çará com a Tribulação ou parte dela. Será que isso sig­nifica que ele começará com o estabelecimento do reino àe Cristo? Aquele período certamente será de paz e se­gurança. Mas, se seguimos a cronologia do texto, então o Milênio receberá uma destruição catastrófica logo após ter começado!

Na verdade, o Dia do Senhor começa logo antes do Armagedom, de acordo com o ponto de vista pós-tribu­lacionista, quando a ira de Deus será derramada. Como pode então ser ele precedido por um tempo dc paz? rOuas respostas têm sido dadas:

1. “Talvez logo antes de Armagedom haverá uma cal­maria, um tipo de fim da violência mundial, a qual entu­siasmará as esperanças dos homen.s^por uma paz que eles têm esperado por tanto tempo.”“’ É claro que essa “cal- ntiaria” não está de forma alguma nem mesmo sugerida no texto. Mesmo que alguém pudesse imaginar uma cal­maria nos conílitos militares durante os meses finais da Tribulação, como poderia isso significar que as pessoas experimentarão segurança numa época quando tantos conflitos físicos estarão dando nova forma a toda a terra?

Os últimos julgamentos de cada série em Apocalip­se revelam: morte de mártires (6.9), uma chuva de me­teoros (6,13), terremotos (6.14), tormentos como fer­rões de escorpiões (9.10), um terço da população será morta (9.18), pessoas mordendo suas línguas em dor

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(16.10), exércitos convergindo para Armagedom (16.14), e destruição generalizada (16.20-21). E lem­bre-se que, de acordo com os pós-tribulacionistas, al­guns desses julgamentos, senão todos, ocorrerão mais para o fim da Tribulação. E ainda em algum lugar du­rante essa época haveria uma calmaria que faria as pes­soas se sentirem que estão vivendo em um tempo de paz e segurança.

2. Uma sugestão alternativa oferece uma interpreta­ção inusitada de 1 Tessalontcenses 5.3: “Entretanto, Paulo não escreveu; ‘Quando houver paz e segurança’. Ao invés disso, ele diz; ‘Quando andarem dizendo...'’ O próprio formato da afirmação sugere que paz e seguran­ça não será a verdadeira condição do mundo a preceder o Dia do Senhor, mas o desejo expresso e/ou a expecta­tiva dos homens, à qutü Deus responderá com o derra­mamento do juízo.”*'

Essa interpretação é uma novidade porque a passa­gem contrasta paz e segurança coni destruição. Se paz e segurança são apenas um desejo das pes.soas em meio a guerra c perigo, então o contraste com a destruição vin­doura desaparece.

O Impasse Pós-Tribulacionista

O ponto de vista pós-tribulacionista enfrenta um im­passe real no assunto da Segunda Vinda de Cristo. Es­se impasse escatológico inclui o seguinte: um certo nú­mero de julgamentos acontece; entSo, o Arrebatamen­to acontece como parte da Segunda Vinda; enquanto

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o Dia do Senhor • y?

isso, a ira de Deus está sendo retida; surge um tem|io de paz e segurança; então o Dia do Senhor começa com esses julgamentos, mas ele não inclui qualquer parte da Tribulação!

Será que existe alguma maneira dc desenrolar essa confiisão? Certamente. Basta simplesmente ter um tem­po entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda. Quanlo tempo? Mais tempo do que os pós-tribulacionistas que­rem, porque eles não permitem que haja tempo algum; e mais tempo do que os midi-tribulacionistas permitem, porque senão a primeira metade da Tribulação não pode conter qualquer julgamento. Em outras palavras, nós precisamos de um espaço de tempo tal qual o ponto de vista pré-tribulacionista sugere.

Sabemos quando a paz terminará. A paz será extin­guida pela guerra quando o segundo selo for aberto (Ap 6.4). Nenhum esquema pós-tribulacionista que eu co­nheça coloca 0 término da paz no fim da Tribulação. Isso deve ocorrer perto do início desse período terrível, E tal como ele, o Dia do Senhor deve começar nessa mesma época.

O Senhor ensinou essa mesma seqijência de eventos no Sermão do Monte das Oliveiras. Ele predisse que guerras, fomes, terremotos iriam acontecer antes que o Anticristo se estabelecesse no templo, exigindo adora­ção. Esse evento ocorrerá no meio da Tribulação, mas guen-as serão uma característica de todo o período, No­vamente chegamos à mesma conclusão: o Dia do Se­nhor começa no início da Tribulação, logo depois de um tempo de paz e segurança.

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Paulo também sugere a mesma cronologia em 2 Tcs­salonicenses 2.1 "3. Ele assegura aos tessalonicenses que 0 Dia do Senhor não estava ainda por chegar porque duas coisas deveriam acontccer antes disso: a apostasia e a revelação do míquo. Ambos os eventos ocorrerão antes que o Dia do Senhor comece, de acordo com o ensino pós-tnbLÜacionista de que o Dia do Senhor não se inicia até o fím da Tribulação. Mas os dois eventos íambcm se encaixam no sistema pré-tribulacionista de entender o futuro. A apostasia é algo que existe há muito tempo e seu clímax será atingido mesmo antes que a Igreja seja arrebatada deste mundo. O homem do pecado será reve­lado quando assinar um acordo cora Israel (Dn 9.27). A assinatura daquele acordo mostra o início do Dia do Se­nhor e da septuagésima semana no início da Tribulação.O acordo promoverá o sentimento geral de paz que terá sido conseguido. Mas a paz durará pouco.

Além disso, Paulo ensinou que o homem do peca­do não pode ser revelado até que Aquele que o de­tém seja removido. Sem entrar na discussão sobre a identidade dEste que o detém, vamos simplesmente fazer duas perguntas aos pós-tribulacionistas sobre es­se assunto.

Em primeiro lugar, se a Igreja passará pela Tribu­lação, e se durante esse tempo multidões se conver­terão, aumentando assim o número dos que partici­pam na Igreja e serão protegidos até o Arrebatamen­to, não será a Igreja, porventura, uma força muito mais forte neste mundo do que jamais ela tem sido? Não seria tal Igreja (aumentada, selada, protegida, grande ein poder e preservada durante a Tribulação)

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0 üia do Senhor • 9*>

justamente aquilo que reteria o homem do pecado, dc tal forma que ele não poderia íer tanto poder quan­to a Bíblia diz que terá?

Em segundo lugar, se os tessalonicenses estavam tão agitados porque pensavam que o Dia do Senhor já tinha vindo e que eles já estavam vivendo tal dia, como pôde Paulo confortá-los dando-lhes a certeza de que não esta­vam vivendo aquele Dia, mas que, sim, o viveriam, tão logo o homem do pecado aparecesse em cena? Que conforto existiria em assegurar ao povo que eles vive­riam durante todo o tempo em que esse iníquo dominas­se até que finalmente fossem arrebatados?

Dessa forma, chegamos à mesma conclusão: o Dia do Senhor começaiá tão logo o homem do pecado seja revela­do, e isso acontecerá no início da Tribulação, não no fim.

Primeira Tessalonicenses 4 e 5

Em 1 Tessalonicenses 4.13-18 Paulo tentou acalmar alguns tessalonicenses que temiam que seus mortos em Cristo não participariam do reino vindouro. Ele lhes as­segurou que os mortos ressuscitarão e os vivos serão transformados no Arrebatamento da igreja. Esse assun­to era algo sobre o qual eles não estavam bem informa­dos (versículo 13), apesar do fato de Paulo os haver en­sinado sobre as coisas futuras durante seu curto ministé­rio entre eles (2 Ts 2.5).

Em 1 Tessalonicenses 5.1-11 Paulo escreveu a res­peito do início do Dia do Senhor. Num tempo de paz

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e segurança, ele virá inesperada e terrivelmente, com dor (v. 3) e ira (v. 9). Enquanto isto não acontece, os crentes devem viver em estado de alerLa e sobriedade. As exortações dos versículos 6, 8, 9 e 10 não são fei­tas no sentido de buscar sinais durante a Tribulação (em prepai'açâo para o Dia do Senhor que viria no fi­nal), mas no sentido dc buscar uma vida piedosa face ã Tribulação vindoura, da qual os crentes escaparão (veja 1 Co 15.58). Sobre esse ensino, Paulo diz que eles já sabiam bastante (v. 1). Como pode ser isso? Parcialmente por causa do seu próprio ensinamento, ma,s mais ainda por causa do seu conhecimento do Ve­lho Testamento.

No Velho Testamento, o Dia do Senhor é menciona­do com esse título mais ou menos 20 vezes, freqüente­mente com implicações escatológicas. Além disso, um termo paralelo, “os últimos dias” , ocorre Í4 vezes, sem­pre escatologicannente. Ainda mais, a frase “naquele dia” ocorre mais de uma centena de vezes e geralmente tem uso escatológico. Em Lsaías 2.2,11-12 as três frases aparecem e se referem à mesma época escatológica. En­tão existe uma hase bastante ampla para Paulo dizer qiie seus leitores sabiam sobre o Dia do Senhor a partir do Velho Testamento.

Mas a respeito do Arrebatamento não há qualquer revelação no Antigo Testamento. Essa omissão em centenas de passagens parece muito difícil de enten­der se 0 Arrebatamento é o primeiro evento do Dia do Senhor, como o sistema pós-tribulacionista ensi­na. Mas se o Arrebatamento for um mistério no Ve­lho Testamento, e se ele precede o início do Dia do

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o Dia do Senhor ■ 11)1

Senhor, como os prc-tribulacionistas ensinam, enlão não é estranho que Pauío tinha que informá-los so­bre 0 Arrebatamento.

Por essa causa, os pós-tribulacionisLas desejam (.ruçar uma relação muito próxima entre 1 Tessalonicenses4.13-18 e 5.1-11, enquanto, por outro lado, os pré-tribu- lacioni.stas preferem um contraste de assunto entre as duas passagens.

Assim, 0 esquema pós-tribulacionista é o seguin­te: Paulo passa com facilidade de sua discussão so­bre o Arrebatamento em 1 Tessalonicenses 4.13-18 para a discussão da parousia em i Tessalonicenses 5.1-11 porque ele esíá falando sobre eventos que ocorrem ao mesmo tempo e não sobre eventos se­parados por sete anos. A escolha que Paulo fez do termo de (priineira palavra grega em 5.1), um sim­ples conectivo com um senso muito fraco de con­traste, indica essa relação bastante próxima, E já que o Dia do Senhor não começará senão até a Se­gunda Vinda, o Arrebatamento acontecerá também naquela ocasião,

Os pré-tribulacionistas argumentam que o contras­te entre os dois assuntos fica mais evidente pelo fa­to de Pauio não ter usado simplesmente a palavra de em 5.1 mas a expressão peri de. Isso é bastante sig­nificativo. Em outros lugares em seus escritos, Pauio usa peri de para denotar um assunto novo e Cí)utras- tante: 1 Coríntios 7.1,25; 8,1; 12.1; 16.1,12; 1 Ts 4.9; 5.1. O argumento pós-tribulacionista de que o mes­mo assunto está sendo discutido em 4.13-18 e 5.1-

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1 i pode ser sustentado pelo uso do conectivo de, mas é completamente anulado pelo uso de peri de. Então o uso pré-tribulacionista da passagem é rortemente sustentado exegeticamente. O Arrebatamento não c parte do Dia do Senhor e portanto não pode ocorrer pós-tribulacionalmente.

Claramente, a questão sobre o início do Dia o Se­nhor é uma importante bifurcação entre pré- e pós-tri- biilacionistas. Pré-tribulacionistas vêem o Dia do Se­nhor se iniciando no começo da Tribulação por causa das seguintes razões:

1. Os primeiros julgamentos (independentemente de qual cronologia for usada) incluem guerras, fo­rnes, e a morte de um quarto de toda a população da terra.

2. A única vez que a Bíblia menciona paz e seguran­ça durante o período da Tribulação é no seu início. Esse tempo será imediatamente seguido por guerra, destrui­ção e revoluções que condnuarão intermináveis até que Jesus Cristo retorne. Assim, o Dia do Senhor deve co­meçar no início da Tribulação e o Arrebatamento deve acontecer antes dele.

3. A revelação do homem da iniquidade ocorrerá no início da Tribulação quando ele fará um pacto com o povo judeu.

4. A compreensão mais normal do verbo em Apoca­lipse 6.17 nos transmite a idéia de que a ira já veio e continua.

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o Dia do Senhor • 103

5. 0 uso que Paulo faz de peri de, não simplesmente da conjunção de, em 1 Tessalonicenses 5.1, indicii que ele está contrastando os assuntos.

6. A remoção da paz de toda a terra logo após o iní­cio da Tribulação se encaixa somente com o ponto de vista pré-tribulacionista.

Para que o ponto de vista pós-tribulacionista esleja correto, é preciso que sejam providenciadas respostas mais satisfatórias para as seguintes perguntas:

1. Como pode o Dia do Senhor não começar com a Tribulação ou parte dela, mas conicçar com os julga­mentos do Armagedom?

2. Como pode o conflito fmal no término da Tribula­ção ser amontoado de maneira a ser uina única batalha de curta duração de ta! forma que a Igreja possa ser ar­rebatada quando ela começar (a fim de escapar da ira) e ainda dar meia-volta e retornar em companhia de Cristo no Seu retorno à terra?

3. Será que a proteção dos crentes do derramamento da ira sobre os incrédulos realmente inclui sua proteção total a ponto de não receberem qualquer dos efeitos das ações dos incrédulos sobre quem a ira está sendo derra­mada? Isso não acontece hoje. Por que esperaríamos que assim acontecesse no futuro?

4. Como é que o amontoar dos julgamentos no fmi da Tribulação resolve o problema de que outros julgamen­tos, igualmente severos, parecem acontecer mais cedo

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na Tribulação c cair sobre os crciitcs tanto quanto sobre os incrédulos?

5. Qual é a interpretação mais normal do tempo ao- risto cm Apocalipse 6.17?

6. O uso da frase peri de em 1 Tessalonicenses 5.1 indica que o Arrebatamento não c realmente uma parte do Dia do Senhor no fmal da Tribulação?

Somente o ponto de vista pré-tribulacionista se encai­xa harmoniosamente com toda a evidência que a Bíblia dá e responde satisfatoriamente essas questões.

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11Ira ou

Arrebatamento ?Se a ira parece caracterizar mais o período da Tribu­

lação do que tâo somente a última crise, então temos três opções; (1) a Igreja deve agiientar a ira; (2) ela deve ser arrebatada antes cio fim; (3) ou ela deve de alguma forma ser protegida durante a Tribulação.

A opção número um não é defendida por pré- ou pós- tribulacionistas (apenas defensores do arrebatamento parcial é que a mantém). Pré-tribulacionistas optam pe­la segunda, e pós-tribulacionistas pela terceira.

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Ira ou Iras?

Para fortalecer seu argumento a favor da retirada da Igreja da ira que cairá no fim da Tribulação, pós-tnbula- cionistas catalogam as dificuldades desse período sob três iras: a ira de Satanás, a ira dos homens ímpios (es­sas duas iras a Igreja irá experimentar), e a ira de Deus (a qual virá somente na parte final, da qual a Igreja será libertada).

Os pós-tribulacionistas dizem que a palavra ira é usada em Apocalipse para designar a ira de Deus con­tra os ímpios, e que a palavra tribulação se refere à perseguição dos santos durante os sete anos. Mas es­sa diferenciação não prova que a ira de Deus será li­mitada somente ao final do período, nem que ela não inclui as atividades de Satanás, do Anticristo, ou de pecadores.' A ira de Deus no Armagedom (Ap 19.15) incluirá as atividades de Satanás e demônios (Ap16.13-14). Sua ira derramada nos julgamentos das ta­ças afetará um lugar (a terra) e não somente as pes­soas ímpias (Ap 16.1).

Os santos não podem ser protegidos de todos os efei­tos resultantes das iras do período da Tribulação. Ne­nhum sistema cronológico pode fazer com que todos os julgamentos dos selos, trombetas e taças sejam relega­dos ao fím da Tribulação, nem há qualquer maneira de proteger os justos, por exemplo, de uma guerra mun­dial, fome e terremotos. Na verdade, nós sabemos que muitos justos serão martirizados através de todo esse período, o que prova que não serão protegidos todos eles (Ap6.1Ü-lI).

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Ira ou Arrebatamento? • 107

Durante a Tribulação, haverá ira e iras vindas de Io­dos os quadrantes, caindo em todo lugar, e afetando to­do o inundo de uma maneira ou outra.

Quando a Ira de Deus cairá?

Vamos assumir por um momento, no entanto, a vali­dade da distinção que os pós-tribulacionistas fazem en­tre a ira de Deus (ao final da Tribulação) e as outras for­mas de ira. Julgamento e tribulação (que acontecem du­rante todo o período). Será que a ira de Deus está coníinada somente ao final do período?

PcU'a responder “sim”, como os pós-tribulacionistas devem, dois versículos precisam ser intei'pretados de modos específicos. Apocalipse 6.17 deve ser com­preendido de modo a significar que a ira de Deus (que está ausente da terra naquela altura dos acontecimen­tos) está quase que se derramando. Usualmente o ter­mo indica que a ira de Deus já foi derramada previa­mente nos julgamentos anteriores e que ela continua a ser derramada durante o julgamento do sexto selo. Em outras palavras, a interpretação mais normal nos levaria a concluir que a ira de Deus não se iniciará com o sex­to selo, pelo contrário, ela terá começado com os julga­mentos anteriores. E, obviamente, os julgamentos pre­cedentes terão acontecido mais cedo no período da Tri­bulação, 0 que toma impossível amontoá-los todos no fmal.

Apocalipse 15.1 afirma que a última série dc pragas (os julgamentos das taças) terminam, ou completam a

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ira (iileraimente a ‘raiva') de Deus sobre a teira. Nin­guém discorda dc que os sete julgamentos das taças de­vem acontecer antes que a ira de Deus se extinga. A questão não é quando a ira dc Deus tenniníuá; a questão é quando ela terá o sen início. Se alguma coisa termina­rá quando ceitos eventos ocoiTcrem, então, seguindo to­dos os princípios de simples compreensão textual, algu­ma coisa deve começar antes desses eventos. Os julga­mentos das sete Laças completam a ira de Deus; portanto, a ira de Deus não começa com esses julga­mentos. Ela deve começar antes disso. A ira de Deus terminará, não começará, durante o tempo dos julga­mentos das 7 laças.

Mas os pós-tribuiacionistas devem fazer a ira de Deus começar no final da Tribulação; de outra fornia a Igreja não escapará, já que o Arrebatamento c o meio de escape e ele não virá até o fim do período. Assim, o Arrebatamento e a ira de Deus devem estar no fim, e a ira de Deus não pode começar antes (mesmo que ou­tros tipos de dificuldades possam fazê-lo). Mas não pa­rece que Apocalipse 15.1 nega essa premissa de que a ira de Deus se limitará ao final da Tribulação? Eía deve começar algum tempo antes do derramamento desses últimos julgamentos. E qualquer tempo é tempo de­mais para a interpretação do Arrebatamento pós-tribu­lacionista, o qual é visto como um evento línico com a Segunda Vinda.

Gundry pensa que a interpretação pré-tribulacionista dc Apocalipse 15.1 “sobrecairega” o significado de “consumou” ou “completou.”- Julgue por si mesmo se isso é sobrecarregar ou é compreensão normal.

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Proteção c/ou Remoção?

Os pós-tribulacionistas crêem que a Igreja sobrevive­rá à Tribulação por que ela será protegida; mas, mais especificamente, ela será protegida da ira de Deus mes­mo que sujeita à ira dc Sataná-s, do Anticristo e dos ho­mens. Na verdade, a posição pós-tribLilacionistíi é de proteção e remoção ao mesmo tempo. Proteção durante todo o tempo da Tribulação (no caso da ira de Deus cair antes do fmal da Tribulação^, e remoção no final, atra­vés do Arrebatamento.

Os pós-tribulacionistas reconhecem que haverá már­tires durante a Tribulação, logo, nem todos os redimidos serão protegidos. Na verdade, então, haverá uma prote­ção seletiva, mas não uma proteção universal. Mas em que base Deus protegerá alguns e permitirá que outros morram? Aparentemente mais em uma base acidental do que em uma base divinamente ordenada. A geograím parece ser um dos fatores, pois sugere-se que aqueles que estiverem perto ou mesmo na Palestina serão mais sujeitos ao martírio. Mas aqueles que escaparem e so­breviverem serão arrebatados no fmal. Ao considerar­mos tudo isso, concluímos que será uma Igreja dizima­da que receberá proteção de sobrevivência até que o Ar­rebatamento aconteça.

Muitas vezes essa proteção seletiva é comparada com a proteção experimentada por Israel quando as pragas caíram sobre os egípcios. Veja, é óbvio que Deus pode proteger c preservar a vida de qualquer pes­soa, a qualquer tempo e em qualquer lugar cjue Ele de­seje. Israel foi protegido das pragas que caíram sobre o

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Egito. Obviamenle, os isiraelíLas viviam à parte, na terra de Gósen. Os santos durante a Tribulação viverão es­parramados no mundo inteivo, tornando rauito difícil percebermos como eles poderão escapar dos efeitos da destruição da vegetação (Ap 8.7-8), ou da morte das criaturas do mar (Ap 8.9), ou do amargamento dos rios c fontes (Ap 8.10-H).

A resposta do pós-tribulacionista é a seguinte: alguns serão martirizados, alguns serão protegidos, e os sobre­viventes serão arrebatados. A proteção é parcial; o arre­batamento (dos sobreviventes) é total. Em outras pala­vras, na Tribulação, a Igreja experimentará a ira (no mí­nimo a ira de Satanás e dos homens, as quais matarão alguns) e o Arrebatamento (de todos que sobreviverem até o fim).

A Promessa de Apocalipse 3.10

“Porque guardaste a palavra da minha perseve­rança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo tnleiro, para experi­mentar os que habitam sobre a terra.” Que essa pro­messa se refere à relação da Igreja com o período da Tribulação é assunto quase nunca debatido (o pós-tribu­lacionista Moo também reconhece issoO- A razão está no próprio versículo. Esse tempo de provação refere-se a uma provação “que há de vir sobre o mundo intei­ro.” Será uma provação mundial, e sobre toda a terra habitada, ou seja, sobre toda a sua população. Ela não aconteceu naquela época porque ela estava ainda no fu­turo - “há de vir.” Esse texto não é uma promessa res­

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trita à Igreja de Filadélfia no primeiro século, da mesma forma c]ue outras promessas favoritas como Filipenses 4.13, Fiüpenses 4.19 ou 1 Coríntios 10.13 não estão li­mitadas às igrejas do primeiro século. Também, o Se­nhor re.ssurreto, em todas as sete cartas em Apocalipse2 e 3, disse que todas as igrejas deveriam ouvir o que Ele dizia.

Os pós-tribulacionistas têm dificuldade em interpre­tai’ essa promessa de forma direta. Um diz que ela “não precisa ser uma promessa de uma remoção da presen­ça física da Tribulação. Ela é uma promessa dc pre­servação e livramento na e através da Tribulação.” ̂Mais especificamente, a frase “Eu te guardarei da hora” (tereso ek tes horas) é dissecada a fim de sus­tentar o arrebatamento pós-tribulacional depois da pre­servação que acontecerá durante toda a Tribulação. “Da” (ek) recebe o significado de “de dentro”, ou “emergente” , a fim de indicar que a Igreja estará na Tribulação e então emergirá dela no fmal. “Eu guar­darei” (tereso) é entendido como “eu protegerei”, no­vamente para indicar que a Igreja será protegida na ter­ra, em meio à Tribulação. Assim, os pós-tribulacionis­tas entendem que a promessa significa que a Igreja será guardada durante os sete anos de Tribulação e então emergirá dela no fmal por meio do Arrebatamento/Se­gunda Vinda pós-tribulacionista.

Mas lembre-se, a proteção será parcial e seletiva, na melhor das hipóteses. Por causa da ira de Satanás e do Anticristo, muitos santos morrerão durante a Tribulação e deform a alguma experimentarão a promessa de Apo­calipse 3.10, se 0 tempo de provação se refere a todo o

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períüdo da Tribulação. Alguns pós-Uibulacionistas, no entanto, referem-se à hora da provação somente como a última crise da Tribulação, e eles entendem que a pro­messa significa que a Igreja será arrebatada logo antes dos últimos julgamentos, e, portanto, protegida através de sua remoção.

Mas assim a posição pós-tribulacionista está sendo inconsistente. Se a piomessa significa guardar durante todo o período, então ela é uma promessa apenas seleti­va e parcialmente cumprida. Se a promessa se refere so­mente à última crise, então a Igreja não está recebendo promessa de proteção quase que durante os sete anos de Tribulação. Nesse caso, a promessa tem relação somen­te com o arrebatamento no final da Tribulação. Esse en­tendimento está mais de acordo com a interpretação pós-tribulacionista do início do Dia do Senhor. Mas es­sa interpretação mostra que a promessa significa exata­mente a mesma coisa que o pré-tribulacionista diz que ela significa: livramento através do Arrebatamento, não livramento através da proteção. A única diferença aqui é que nós discordamos sobre quando esse livramento acontecerá. Se ele acontece no início dos sete anos, o li­vramento será por remoção da terra; se ele acontece perto do fím ou mesmo no final, então é por proteção sobrenatural enquanto a Igreja estiver na terra durante a Tribulação até que o arrebatamento aconteça no final.

Os pós-tribulacionistas dizem que “da” (ek) refere-se á proteção da Igreja quando ela está presente durante a Tribulação. Os pré-tribulacionistas entendem que o ter­mo se refere à proteção por ela estar ausente da Tribula­ção, A primeira é uma proteção interna (vivendo através

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da Tribulação); a segunda é uma proteção externa (es­tando no céu din'ante aquele tempo). Qual é o signiiicii- do verdadeiro do termo “d a” (ek)!

Podemos escolher qualquer uma das respostas se considerarmos a preposição sozinha. Mas, só para in­formação, ek denota uma posição fora de alguma coisa sem implicar uma posição prévia dentro para depois emergir dessa coisa.

A compreensão pré-tribulacionista de ek é sustentada por uma série de versículos que nada têm a ver com o Arrebatamento e portanto não confundem a questão. Provérbios 21.23 diz: “O que guarda a sua boca e a sua língua, guarda a sua alma das angústias.” Guar­dar a sua boca e a sua língua não é o meio de proteger- se dc um tempo de angústia; pelo contrário, é o meio de escapar de angústias em potencial. Na Septuaginta, a tradução de ek indica um preservar externo, não interno. Ek também é usado da mesma maneira para indicar pro­teção em Josué 2.13 e em Salmo 33.19; 56.13.

Da mesma forma, no Novo Testamento, ek claramente tem o mesmo significado. Em Atos 15.29, os líderes pe­dem aos crentes gentílicos que se abstenham de certas práticas que são ofensivas aos crentes judeus. A única maneira dc atender a esse pedido era se abstendo inteira­mente de tais práticas. Eles deveriam evitar ossas ativi­dades que estavam praticando e não apenas, dc alguma forma, proteger a si mesmos, enquanto continuavam a praticar essas coisas. Em Tiago 5.20, se um cristão que vive em pecado for convertido de seu caminho errado, será saivo de mone física. Não há forma de ek significar

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que ele será protegido em meio a morte física, e então sair dela através de algnm tipo de ressiUTeição. Ele esca­pará de sua morte prematura, ao ser livrado dela/'

Os pós-tribulacionistas tentam invalidar a força des­ses exemplos insistindo que, já que esses exemplos não estão relacionados à remoção espacial (mover de um es­paço para outro), eles não podem ser usados para enten­der Apocalipse 3.10 como o arrebatamento da terra para o eeu. Mas isso impõe um significado sobre ek que não é necessariamente parte do seu significado. Ser guarda­do de uma angilstia significa que você não experimenta­rá mais aquela angústia (Pv 21.23), Abster-se de práti­cas ofensivas significa que você não as fará mais (At 15.29). Ser guardado da hora da provação significa que você não está mais dentro daquele tempo de provação, e já que esse tempo virá sobre todo o povo da terra, como pode ser que você será guardado a menos que seja re­movido desta terra? Isso significa que temos um arreba­tamento pré-tribulacionista.

A mesma palavra, guardar, ocon-e em João 17.15: “Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal.” Os pós-tribulacionistas argumentam que essa promessa é cumprida não pela remoção dos crentes do mundo, mas peia sua proteção em relação a Satanás enquanto eles viverem aqui na terra. Conse­qüentemente, eles deduzem que, da mesma forma, cren­tes viverão durante a Tribulação mas serão guardados da ira.

Tal analogia falha em responder à pergunta básica: como os crentes serão guardados do poder de Satanás?

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É verdade que eles não serão removidos deste mundo, mas uma certa remoção está envolvida no caso. Paulo a descreve desta maneira: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor’’ (Cl 1.13). João disse a mesma coisa quando escreveu que “o maligno não lhe (o crentc) to­ca (domina)” (1 Jo S.18). Os crentes foram transferidos dc um domínio (de Satanás) para outro (dc Cristo), e es­ta é a forma como somos guardados do maligno.

No entanto, a promessa de Apocalipse 3.10 garante sermos guardados das provações não somente da Tribu­lação, mas também do próprio período da Tribulação. A promessa não é “cu te guardarei das provações” mas sim “eu te guardarei da hora da provação ” Os pós- tribulacionistas acham formas de “não enfatizar o ternio ‘hora’” ’, insistindo que “hora” signilica a experiência durante um período dc tempo, mas não o próprio perío­do dc tempo. Em outras palavras, a Igreja viverá duran­te esse período, mas não experimentará (alguns) dos eventos. Mas sc os eventos da Tribulação são mundiais, e direta c indiretamente afetam a todos, eomo pode a Igreja estar na terra e ainda escapar dessas experiên­cias? Se nosso Senhor tivesse sido salvo da hora do Seu sacrifício de expiação (Jo 12.27), vivendo naquele tem­po, mas não experimentando os eventos de Sua paixão, então não haveria uma expiação.

Se, como dizem os pós-tribulacionistas, a promessa é que a Igreja viverá através da Tribulação sob a proteção divina e emergirá no final, então porque não foi usada uma outra preposição pai'a comunicar claramente esse significado exato? Por exemplo, “em” (eri) significaria

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que a Igreja seria guardada (com segurança) naquele período. Ou, porque não “através de” (dia), que signifi­caria ser guardada através da Tribulação? Por que foi usado “de” (ek)l Porque isso significa que a Igreja será removida daquele período de tempo, e isso significa que teremos um Arrebatamento pré-tribulacionista.

Concordo que é possível viver através dc um certo período de tempo e não participar de alguns eventos (como, por exemplo, estar em um parque de diversões e não participar de todas as atrações). Mas não é possível não participar do período de tempo sem também faltar nos eventos.

Em resumo, os pós-tribulacionistas ensinam de forma não clara o significado da promessa de Apocalipse 3.10. (1) Para alguns, ela significa proteção (para poucos crentes que escapam do martírio durante a Tribulação), e arrebatamento no final. (2) Para outros ela significa proteção durante a última crise (a qual inclui Armage­dom e a “calmaria” de paz e segurança que suposta­mente a precede) através do Arrebatamento logo antes da última crise. (3) E para outros ainda, ela significa que a Igreja viverá através do Armagedom, sendo guar­dada durante aquele tempo, e emergirá (todos os crentes sem qualquer ferimento?) no Arrebatamento/Segunda Vinda. Uma coisa é clara para os pós-tribulacionistas: a promessa não significa livramento antes do início da Tribulação.

Entretanto, a promessa é clara e completa: “...eu te guardarei da hora da provação.” Não somente de uma perseguição qualquer, mas desse período de tempo

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vindouro que afetará a terra toda. (A linica forma de es­capar dessa tribulação mundial é não estar na terra.) E a igreja será guardada não somente dos eventos, mas do período lolal. E a única maneira de escapar de um pe­ríodo quando eventos acontecem é não estar naquele lu­gar quando a hora chega. O único lugar que se qualifica é 0 céu.

Talvez uma ilustração ajude. Sendo professor, eu fre­qüentemente dou exames. Vamos supor que eu anuncie que unn certo exame acontecerá em tal c tal dia durante um período regular de classes. Suponha então que eu diga: “Eu quero fazer uma promessa para aqueles estu­dantes cuja média semestral até agora é “A”. A promes­sa é a seguinte: cu os livrai’ei do exame.”

Eu poderia cumprir minha promessa com esses estu­dantes dc nota “A” da seguinte forma: eu poderia dizer- lhes para virem ao exame, poderia distribuir as folhas para todos, e dar aos estudantes de nota “A” uma folha que já traria também as respostas. Eles então fariam o exame mas, na realidade, seriara livrados da prova. Eles viveriam duranle aquele tempo, mas sem sofri­mento ou provação. Isso é pós-tribulacionismo: prote­ção sob provação.

Mas se eu dissesse para a classe: “Eu vou dar um exame na próxima semana. Eu quero fazer uma promes­sa a todos os estudantes de média “A”. Eu os livrarei da hora do exame.” Eles entenderiam claramente que eles seriam guardados da hora do teste por não estarem pre­sentes durante aquela hora. Isso é pré-tribulacionismo, e esse é o significado da promessa em Apocalipse 3.10. E

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a promessa vem do Salvador ressuscitado que é, Ele mesmo, o Libertador da ira que há de vir (1 Ts 1.10).

O Arrebatamento é a esperança da Igreja. Na verda­de, ele é a esperança de todos: pré-, inidi- e pós-tribula­cionistas. Se nosso Senhor planejasse que nós devería­mos suportai' uma parte ou toda a Tribulação, nós deve­ríamos aceitar isso como Sua vontade. Se Ele promete nos remover desse tempo teiTÍvel, devemos agradecer- Lhe de todo o coração. Mas seja qual for o ponto de vista que adotamos, sabemos que quando Ele vier sere­mos semelhantes a Ele - puro, sem pecado, e justo (1 Jo 3.2'7). Portanto, a cada dia, até que morramos ou seja­mos arrebatados, devemos conlinuamente purificar as nossas vidas (] Jo 3,3), ser abundantes na obra do Se­nhor (1 Co 15.58), e amar a Sua vinda (2 Tm 4.8).

Ele diz: “Venho sem demora”Nós dizemos: “Vem, Senhor Jesiis.”

-Apocalipse 22.20.

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N otas

Capítulo 1 - Quais São as Perguntas?1. The New Testament. Recoi/ery Version (Anaheim, CA; Living

Stream Ministry, 1991), comentário sobre Àpocaiipse 3.10.

Capítulo 2 - As Perguntas São Importantes?1, Douglas J. Moo, “The Case for the Posttribulation Rapture Posi­

tion”, The Rapture: Pre~, Mid-, or Post-Tributational? (Grand Ra­pids: Zondervan, 1984), p,208

2. Renaid Showers, Maranatha Our Lord, Come! (Beilmawr, NJ: The Friends of israei Gospel Ministry, 1995), pp .127-28.

Capítulo 5 - 0 Vocabulário da Segunda Vinda1. George E. Ladd, The Blessed Hope (Grand Rapids: Eerdmans,

1956), p.69. Este mesmo argumento continua a ser usado por Moo no artigo “Posttribuiation Rapture”, pp. 176-78.

2. Robert H. Gundry, The Church and the Tribulation (Grand Ra­pids: Zondervan, 1973), p .162.

3. Ladd, The Blessed Hope, p.70.

Capítulo 6 - 2 Tessalonicenses 11. Gundry, The Church and the Tribulation, p.113.

Capítulo 7 - Onde está a Igreja em Apocalipse 4 a 18?1. Ladd, The Blessed Hope, p. 165.2. Moo, “Posttribulation Rapture”, p. 201.

Capítulo 8 - Onde se Originou o Ponto de Vista Pré-Tribulacionista?1. Ladd, The Blessed Hope, pp.43-54.2. R.A.Huebner, The Truth of the Pre-Tribulation Rapture Recove­

red (Morganville, NJ: Present Truth Publishers, n.d.), pp. 21-25.3. Ernest R. Sandeeen, The Roots o f Fundamentalism (Chicago:

University of Chicago Press, 1970), p. 64.4. Dave MacPherson, The Incredible Cover-Up (Plainfield, NJ: Lo­

gos International, 1975), especialmente pp. 31-32.5. Ibid., p. 85.6. Ibid., pp. 151-54.

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7. Ibid., pp. 154-55.8. Ibid., p. 143.9. Sandeen, Roots of Fundamentalism, p. 34; e Huebner, Truth of

ttie Pre-Tribulation Rapture, p.74.10. James Orr, The Progress of Dogma (Grand Rapids: Eerdmans,

1952), pp. 24-30.

Capítulo 9 - A População do Reino Milenar1. Gundry, The Church and the Tribulation, pp. 81-83, 134-39,

163-71.2. Ibid., p. 83.3. Ibid., p. 137.4. Ibid.5. George E. Ladd, A Commentary on the Revelation of John (­

Grand Rapids: Eerdmans, 1972), p. 114.6. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 168.7. Ibid., p. 166,8. Ibid., p. 137.9. Ibid., p. 167.

Capítulo 1 0 - 0 Dia do Senhor1. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 77.2. Ibid., p. 48.3. Ibid., p. 76.4. Henry Alford, The Greek New Testament, 4 volumes (London:

Rivingtons, 1875), 4:622.5. Ibid., 4;665.6. Marvin Rosenthal, The Pre-Wrath Rapture o f the Church (Nas­

hville: Nelson, 1990), p. 117.7. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 92.8. Ibid,, p. 95.9. Ibid., p. 77.

10. Ibid., p. 92.11. Ibid.12. Moo, “Posttribulalion Rapture”, pp. 182-83. Moo, mesmo sendo

urn estudioso do Novo Testamento, passa por cima do uso que Paulo faz de peri de nesse texto.

Capítulo 11 - Ira ou Arrebatameuto?1. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 197.2. Ibid,, p. 48.

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Nofas * 1 2 1

3. Ibid., p. 47.4. Moo, “Posttribulation Rapture”, p. 197.5. Ladd, The Blessed Hope, pp. 85-86,6. Para pesquisar uma excelente discussão sobre este e outros

pontos relacionados com Apocalipse 3.10, veja Jeffrey L. Town­send. "The Rapture in Revelation 3:10", Bibliotheca Sacra, Ju­lho 1980, pp. 252-66.

7. Gundry, The Church ar^ü the Tribulation, p,59.