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Varizes dos Membros InferioresAspetos Práticos

Editores C. Pereira Alves, C. Costa Almeida, A. Pratas Balhau

2018

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Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia  

Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  

Varizes  dos  Membros  Inferiores  

Aspetos  Práticos  

Editores  

C.  Pereira  Alves,  C.  Costa  Almeida,  A.  Pratas  Balhau  

2018  

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Esta  publicação  faz  parte  da  atividade  educacional  do  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  

Sociedade  Portuguesa  da  Cirurgia.

As   opiniões   expressas   são   da   responsabilidade   dos   autores, assim como seguir

ou não o Acordo Ortográfico de 1996.

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AUTORES  

Aida  Paulino  Assistente   Graduado,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Castelo   Branco,   Hospital   Amato  Lusitano,  Castelo  Branco  Vogal   da  Coordenação  do  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular   da   Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia  

Álvaro  Pratas  Balhau  Assistente  Graduado  Sénior  em  Cirurgia  Geral,  Hospital  de  Santa  Maria  Maior,  Barcelos  Assistente  Hospitalar  de  Cirurgia  Vascular  Mestre  em  Patologia  Experimental  Diretor  do  Serviço  de  Cirurgia  Geral  do  Hospital  de  Santa  Maria  Maior,  Barcelos  Coordenador  do  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia  

Ana  Formiga  Assistente   Graduado,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   Centro   Hospitalar   Lisboa   Central,  Lisboa  

Ana  Lourenço  Interna  do  3º  ano  da  Formação  Específica  de  Radiologia  no  Centro  Hospitalar   Lisboa  Central,  Lisboa  

Ângela  Marques  Assistente  Graduada  de  Radiologia  do  Centro  Hospitalar  Lisboa  Central,  Lisboa  

Beatriz  Mourato  Assistente   Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia   Geral,   ULS   Norte   Alentejano,   Hospital   Dr.  José  Maria  Grande,  Portalegre  

Carlos  Pereira  Alves  Professor  de  Cirurgia  Cirurgião  Vascular  Clínica  de  Veias,  Hospital  da  Ordem  Terceira-­‐Chiado,  Lisboa  

Carlos  Costa  Almeida  Cirurgião  Geral  e  Vascular  Assistente  Graduado  Sénior  de  Cirurgia  Geral  Diretor   do   Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   CoimbraHospital  Geral (Covões),  Coimbra  Professor  da  Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  Coimbra  Regente  da  Cadeira  de  Cirurgia  Vascular  

Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  Assistente Hospitalar de Cirurgia Geral, Serviço de Cirurgia C, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Hospital Geral (Covões), CoimbraAssistente da Faculdade de Medicina de Coimbra

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Autores

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Diogo  Casal  Assistente  Hospitalar  de  Cirurgia  Plástica  e  Reconstrutiva  e  Unidade  de  Queimados  no  Centro  Hospitalar  Lisboa  Central,  Lisboa  Professor  Auxiliar  do  Departamento  de  Anatomia  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas,  Universidade  Nova  de  Lisboa  

Élia  Coimbra  Assistente  Graduada  Sénior  de  Radiologia  Diretora   da   Unidade   de   Radiologia   de   Intervenção   do   Centro   Hospitalar   de   Lisboa  Central,  Hospital  Curry  Cabral,  e  da  Unidade  de  Radiologia  de  Intervenção  do  Hospital  da  Cruz  Vermelha,  Lisboa  Membro   do   Conselho   Diretivo   da   Sociedade   Portuguesa   de   Radiologia   e   Medicina  Nuclear.  

Filipe  Veloso  Gomes  

Médico  Radiologista  de  Intervenção  Assistente  de  Radiologia,  Unidade  de  Radiologia  de   Intervenção  do  Centro  Hospitalar  de  Lisboa  Central,  Hospital  Curry  Cabral,  e  da  Unidade  de  Radiologia  de  Intervenção  do  Hospital  da  Cruz  Vermelha,  Lisboa  Membro   da   Secção   de   Radiologia   de   Intervenção   da   Sociedade   Portuguesa   de  Radiologia  e  Medicina  Nuclear  Assistente  Convidado  da  Faculdade  de  Ciências  Médicas,  Universidade  Nova  de  Lisboa.  

João  Magro  Assistente  Graduado  Sénior,  Serviço  de  Cirurgia  Geral,  ULS  Norte  Alentejano,  Hospital  Dr.  José  Maria  Grande,  Portalegre  

Luís  Filipe  Pinheiro  Assistente  Graduado  Sénior,  Serviço  de  Cirurgia  Geral,  Hospital  de  São  Teotónio,  Viseu  

Luís  Silveira  Assistente  Graduado  Sénior  de  Cirurgia  Geral,  aposentado  Doutorado  em  Cirurgia  pela  Faculdade  de  Medicina  da  Universidade  de  Coimbra  Professor  Associado  Convidado  da  Faculdade  de  Ciências  da  Saúde  da  UBI,  Covilhã  Diretor  do  Laboratório  de  Gestos  Cirúrgicos  da  FCS  da  UBI,  Covilhã  

Mariana  Lima  Interna  do  5º  ano  da  Formação  Específica  de  Radiologia  no  Centro  Hospitalar   Lisboa  Central,  Lisboa  

Nuno  Pratas  Interno   do   4º   ano   da   Formação   Específica   em  Cirurgia   Geral,   ULS  Norte   Alentejano,  Hospital  Dr.  José  Maria  Grande,  Portalegre  Representante  dos  Internos  na  ULSNA  

Autores

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Pedro  Vaz  Assistente  Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia  Geral,   ULS   Castelo   Branco,  Hospital   Amato  Lusitano,  Castelo  Branco  Diretor-­‐Executivo  do  Laboratório  de  Gestos  Cirúrgicos  da  FCS  da  UBI,  Covilhã  

Sara  Correia  Assistente  Hospitalar,   Serviço   de   Cirurgia  Geral,   ULS   Castelo   Branco,  Hospital   Amato  Lusitano,  Castelo  Branco  

Tiago  Bilhin  European  Board  of  Interventional  Radiology  Radiologista   de   Intervenção,   Centro   Hepato-­‐bílio-­‐pancreático,   Hospital   Curry   Cabral,  Centro  Hospitalar  Lisboa  Central  e  Hospital  de  Saint  Louis,  Lisboa  Professor  Auxiliar  Convidado  da  NOVA  Medical  School,  Faculdade  de  Ciências  Médicas  da  Universidade  Nova  de  Lisboa  Editor   Associado   do   Journal   of   Vascular   and   Interventional   Radiology   e   da   Acta  Radiológica  Portuguesa  Membro  editorial  do  Cardiovascular  and  Interventional  Radiology  Corresponding  Fellow  Society  of  Interventional  Radiology  (SIR);  Fellow  Cardiovascular  and  Interventional  Radiological  Society  of  Europe  (CIRSE)  

Autores

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ÍNDICE  

Pág.  -­‐  Introdução  

Carlos  Pereira  Alves    ..............................................................  -­‐  Aspetos  históricos  das  veias  e  das  varizes  

Luís  Silveira  ............................................................................  -­‐  Anatomia  das  veias  dos  membros  inferiores  

Tiago  Bilhim  e  Diogo  Casal  ....................................................  -­‐  Fisiopatologia  da  insuficiência  venosa  crónica  

Carlos  M  Costa  Almeida  .........................................................  -­‐  Epidemiologia  e  fatores  de  risco  

Sara  Correia,  Aida  Paulino  e  Luís  Silveira  ...............................  -­‐  Classificação  CEAP  –  

Luís  Filipe  Pinheiro  ..................................................................  -­‐  Clínica:  sintomas  e  sinais  

Beatriz  Mourato,  Nuno  Pratas  e  João  Magro  .........................  -­‐  EcoDoppler  na  avaliação  da  doença  venosa  crónica  

Ana  Lourenço,  Mariana  Lima  e  Ângela  Marques  ...................  -­‐  Medicamentos  venoativos  

Carlos  Pereira  Alves  ................................................................  -­‐  Terapêutica  compressiva  

Carlos  Pereira  Alves  ................................................................  -­‐  Cirurgia  das  Varizes  dos  membros  inferiores  

Carlos  Pereira  Alves  ................................................................  -­‐  Tratamento  endovascular  

Filipe  Veloso  Gomes  e  Élia  Coimbra  ........................................  -­‐  Tratamento  das  perfurantes  

Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  ................................................  -­‐  Escleroterapia  química  

Pratas  Balhau  .........................................................................  -­‐  Tratamento  das  complicações:  

.  Tromboflebite  superficial  (varicoflebite)  Pedro  Vaz  ................................................................................  

.  Hemorragia  varicosa  (varicorragia)  Sara  Correia,  Aida  Paulino  e  Luís  Silveira  ................................  

-­‐  Varizes  e  gravidez  Ana  Formiga  ............................................................................  

-­‐  Anexo  1  –  Folheto  informativo  ao  doente  Pereira  Alves  ............................................................................  

Indíce

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INTRODUÇÃO  

As   varizes   dos   membros   inferiores,   são   extremamente   frequentes,   com   grande  

impacto   no   SNS   em   termos   de   custos   e   grande   impacto   na   qualidade   de   vida   do  

cidadão.  

Se   se   incluírem   todas   as   classes   clínicas   da   classificação   CEAP,   a   prevalência   geral   é  

cerca   de   50   %   da   população,   com   20   a   25   %   a   terem   varizes   (C2),   6   %   com  

insuficiência   venosa   crónica   (C3,   4),   2  %   com  úlcera   venosa   cicatrizada   (C5)   e   0,5  %  

com  úlcera  aberta  (C6).  

A  prevalência  aumenta  com  a  idade.  

A   maior   prevalência   no   sexo   feminino   parece   não   ser   real,   mas   resultante   de   uma  

maior  preocupação  com  aspetos  estéticos.  

Apesar  de   frequentes  e  as  suas  referências  históricas   serem  mais  antigas  que  as  das  

doenças   arteriais,   as   varizes   continuam   a   ser   olhadas   como   situação   banal   e   a   não  

terem  a  valorização  necessária,  nem  conhecimentos  atualizados.  

No   plano   anatómico   as   duas   veias   tronculares   dos   membros   inferiores   são   a   veia  

safena   interna,   hoje   designada   de   grande   veia   safena,   e   a   veia   safena   externa,   hoje  

designada   de   pequena   veia   safena,   com   colaterais   a   nível   da   coxa   e   da   perna  

designadas   colaterais   safenianas,   para   as   distinguir   de   colaterais   sem   relação   com   a  

safena,  designadas  colaterais  não  safenianas.    

O  ecoDoppler  veio  mostrar  que  a  grande  veia  safena  e  a  pequena  veia  safena,  não  são  

veias   superficiais,   mas   sim   veias   interfasciais,   com   um   compartimento   próprio,   o  

compartimento  safeniano.  

As   colaterais,   safenianas   ou   não   safenianas,   estas   sim,   são   veias   superficiais,   que  

quando   dilatadas   constituem   as   varizes,   que   por   definição   são   veias   superficiais  

dilatadas  e  tortuosas.  

As   veias   safenas   podem   ou   não   estar   dilatadas   e   com   refluxo   de   extensão   variável,  

axial  ou  segmentar.  

A   causa   das   varizes   e   do   seu   desenvolvimento,   continuam   por   estabelecer,  

continuando  a  discussão  se  na  etiologia  das  varizes  a  dilatação  venosa  é  secundária  a  

Introdução

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um  problema  primário  da  parede  venosa  (teoria  parietal)  ou  a  um  problema  primário  

de  uma  ou  mais  válvulas  venosas  (teoria  valvular)  sendo  que  qualquer  dos  casos  leva  a  

uma  dilatação  venosa  segmentar  com  consequente  incompetência  valvular,   já  que  as  

válvulas  estão  inseridas  na  parede  venosa.  

Continuam,   também,   mal   compreendidos   os   mecanismos   da   insuficiência   venosa  

crónica   (IVC),   ganhando   influência   crescente   o   facto   da   hipertensão   venosa,   ao  

sobrecarregar   a   microcirculação,   resultar   em   extravasamento   de   macromoléculas   e  

eritrócitos,   que   vão   provocar   uma   ativação   e   migração   leucocitárias   e   iniciar   uma  

reação   inflamatória   com   libertação  de   fatores   inflamatórios   e   síntese   aumentada  de  

MMP-­‐2,  que  favorecem  a  evolução  desta  doença.  

Medicamentos  com  ação  sobre  a  ativação   leucocitária,   como  verificado  com  o  MPFF  

(Micronized  Purified  Flavonoid  Fraction  –  Fracção  Flavonóica  Purificada  Micronizada),  

podem,  assim,  ser  úteis  no  tratamento  da  IVC.  

Nos   aspetos   clínicos   a   classificação   CEAP   tem   vindo   a   ter   uso   crescente,   com  

atualização  constante  e  permitindo  melhor  definição  dos  sintomas  e  sinais  da  doença  

venosa  crónica.  

As  últimas  décadas,  têm  sido  marcadas  por  uma  melhor  compreensão  da  anatomia  e  

fisiopatologia,  sobretudo  devido  ao  exame  do  ecoDoppler  com  cor.  

O  tratamento  dos  doentes  com  varizes  deve  cada  vez  mais  seguir  o  conceito  de  “one  

stop  clinic”,  no  qual,  de  maneira  sequencial  e   rápida,  a  avaliação  clinica  e  o  exame  

físico,  estabelecem  a  classe  clínica,  seguindo-­‐se,  com  a  menor  demora,  a  realização  de  

exame   ecoDoppler,   se   indicado,   para   complementar   a   classificação   CEAP   e  

subsequente  decisão  de  tratamento.  

Esta  metodologia,  exige  conhecimentos  e  prática  clínica  atualizados,  impondo  cada  vez  

mais  a  flebologia  como  especialização.  

O  ecoDoppler   com   cor  ou  ultrassonografia   duplex,   é,   hoje,   o  método  de   escolha   na  

avaliação  da  doença  venosa,  permitindo  detetar  refluxo  e/ou  obstrução  nas  veias  em  

estudo.   A   realização   do   ecoDoppler   venoso   dos   membros   inferiores   tem   hoje  

metodologia  própria.  

O  seu  objetivo  é,  não  só  determinar  a  presença  de  refluxo  e  ou  obstrução,  mas  definir  

os   padrões   de   refluxo,   se   axial   ou   segmentar,   o   que   obriga   a   estudar   a   grande   veia  

Introdução

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safena  em  todo  o  seu  trajeto,  desde  a  região  inguinal  ao  maléolo  interno,  bem  como  

determinar  o  seu  calibre  abaixo  da  crossa,  hoje  designada  junção  safeno-­‐femoral.  

O   exame   ecoDoppler,   se   não   realizado   pelo   próprio   cirurgião,   deverá   ter   sempre  

informação   clínica   da   razão   do   pedido   do   exame   e   realizado   por   imagiologista   com  

conhecimento  e  prática  de  imagiologia  venosa.  

Em   função   da   classe   clínica   CEAP   e   dos   padrões   de   refluxo,   será   tomada   a   decisão  

terapêutica.  

O   tratamento   poderá   ser   conservador,   com  prescrição   de  medicamentos   venoativos  

ou  de  meias  elásticas,  para  as  classes  C0s  e  C1s)  ou  incluir  cirurgia  para  as  classes  C2

Na  classe  C1,  poderá  ser  considerada  a  escleroterapia.  

O   tratamento   com  medicamentos   venoativos   tem   hoje   efeito   bem   estabelecido   no  

alívio   sintomático   e   no   alívio/resolução   do   edema.   O   MPFF   mostrou   ainda   efeito  

benéfico  nas  úlceras  venosas.  Estudos  recentes  sugerem  que  o  MPFF  possa  ter  efeito  

preventivo   na   evolução   da   doença   venosa   crónica,   exigindo   e   estimulando   futura  

investigação.  

O   tratamento   com   meias   elásticas,   ao   reduzir   o   volume   venoso,   contribui   para  

restaurar   o   normal   retorno   venoso,   tendo   assim   efeito   no   alívio   dos   sintomas   e   do  

edema.  

As  meias  elásticas  são  tratamento  de  escolha  nas  úlceras  venosas  (kit  ulcera)  e  a  sua  

manutenção  após  a  cicatrização  da  úlcera,  parece  prevenir/diminuir  a  recorrência.  

As  meias  elásticas  devem  ser  usadas  diariamente  e  substituídas  regularmente.  

A   cirurgia   de   desconexão   da   junção   safenofemural   ou   poplítea,   “stripping”   de  

invaginação  da  grande  safena  até  abaixo  do   joelho  e  excisão  das  colaterais  varicosas  

com  múltiplas  incisões  cutâneas,  continua  a  ser  o  método  que  permite,  com  a  mesma  

técnica   e   no  mesmo   tempo  operatório,   tratar   as   colaterais   varicosas   e   o   tronco   das  

safenas,  quando  indicado.  

A  oclusão  endovascular  do  tronco  das  safenas,  em  alternativa  ao  “stripping”  tem  tido  

excelentes  taxas  de  oclusão,  mas  não  trata  as  colaterais  varicosas.  

A  escleroterapia,  útil  no  tratamento  de  telangiectasias  e  varizes  reticulares  e  residuais,  

continua  a  mostrar,  no  tratamento  das  varizes  tronculares,  maior  recorrência  a  longo  

termo.  

Introdução

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A   necessidade   de   tratamento   das   perfurantes   incompetentes   da   perna   com   SEPS,  

técnicas  endovasculares  ou  escleroterapia  eco  guiada,   continua  assunto  controverso,  

surgindo  a  SEPS  como  técnica  preferencial.  

A  varicoflebite   (trombose  venosa  superficial  de  veia  varicosa)  nem  sempre  é  benigna  

podendo  associar-­‐se  a  trombose  venosa  profunda.  O  ecoDoppler  permite  confirmar  o  

diagnóstico   e   definir   a   extensão.   O   tratamento   é   feito   com   anti-­‐inflamatórios   e  

anticoagulantes,  não  tendo  indicação  prescrever  antibióticos.  

Outra   complicação   a   hemorragia   varicosa   ou   varicorragia,   pode   ser   provocada   por  

traumatismo  ou  expontânea  e  deve  ser  tratada  com  urgência.  A  elevação  do  membro  

e  compressão  do  ponto  hemorrágico,  pára  a  hemorragia.  

É  bem  conhecido  que  durante  a  gravidez,  as  veias  se  dilatam  por  fatores  hormonais  e  

pela  compressão  do  útero  gravídico.  Em  regra,  as  varizes  da  gravidez  regridem  após  o  

parto,  regressão  que  vai  diminuindo  com  futuras  gravidezes.  

A   indicação  de  tratamento  das  varizes  a  seguir  à  gravidez,  deve,  assim,  ser  protelada  

entre  seis  meses  a  um  ano.  

 

Estes  diferentes  aspetos  das   varizes  dos  membros   inferiores,   são   consideradas  pelos  

autores  da  presente  publicação.  

Esta  publicação,  pelo  Capítulo  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia,  destina-­‐

se   essencialmente   aos   médicos   de   Medicina   Geral   e   Familiar   e   aos   Cirurgiões   com  

interesse  na  Doença  Venosa  Crónica.  

Aos   especialistas   em  Medicina  Geral   e   Familiar,   porque   são  muitas   vezes  o  primeiro  

contato  do  doente  com  varizes  e  poderão  ter  a  seu  cargo  o  tratamento  conservador,  

com  medicamentos  venoativos  e  meias  elásticas  dos  doentes  das  classes  clínicas  CEAP,  

C0s  e  C1s  e  referenciar  para  o  cirurgião  as  classes  clínicas  C2  a  C6.  

Aos  cirurgiões  com  interesse  pela  doença  venosa  crónica,  porque  esse  interesse  exige  

conhecimentos  atualizados  e  prática  clínica  frequente.  

 

 

 

 

 

Introdução

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ASPETOS  HISTÓRICOS  DAS  VEIAS  E  VARIZES  

Luís  Silveira  

 

As   varizes   são   um   problema   de   saúde   pública   tão   importante,   que   justificam   a  

elaboração  deste  livro,  para  orientação  dos  Cirurgiões  Gerais  e  consulta  dos  colegas  de  

Medicina  Geral  e  Familiar.  É  nosso  dever   lembrar,  agradecendo,  os  que  contribuíram  

para   o   que   atualmente   sabemos   sobre   anatomia   do   sistema   venoso,   etiopatogenia,  

diagnóstico  e   tratamento  da   insuficiência  venosa  crónica   (IVC)  e  das  varizes.  Como  é  

difícil  separar  a  história  destas  doenças  da  evolução  do  conhecimento  sobre  as  veias,  a  

este  nos  referiremos  pontualmente.  

Esperamos  que  vos  seja  útil  na  prática  clínica.  

Quando  Huang  Ti  (2697-­‐2597  aC),  o  Imperador  Amarelo,  cerca  de  2600  aC,  perguntou  

“Como  ocorrem  os  edemas?  Quais  são  as  origens?”,  Qi  Bo  disse:  "O  qi   (energia  vital)  

protetor  no  corpo  circula  junto  com  as  veias  e  canais  para  seguir  as  divisões  da  carne...  

Quando  há  edema,  é  preciso   investigar  os  canais,  as  veias  e  os   lábios.”  e  preconiza  o  

seu   tratamento   com  acupuntura.  Não   refere,   especificamente,   varizes,  mas  atribui  o  

edema  ao  mau  funcionamento  das  veias.1  

Encontrámos  a  primeira  referência,  escrita,  a  varizes,  no  Papiro  de  Ebers,  datado  de  

cerca  de  1550  aC  1,  no  governo  do  faraó  Amenhotep  I,  “Quando  encontra  um  Tumor  do  

Metu  no  lado  interno  de  qualquer  Membro,  ele  cresce  e  vê  que  serpenteia  como  cobras  

enquanto  forma  muitas  proeminências  e  estas  são  como  coisas  movidas  pelo  vento...  “,  

aconselha   a   não   lhe   tocar   (talvez   sugerindo   que   o   tratamento   não   é   cirúrgico)  

apresentando,   em   seguida,   uma   Fórmula  Mágica   que   deve   ser   repetida   por   quatro  

manhãs,  mas   que   é   incompreensível   e   de   impossível   tradução,   por   deterioração   do  

papiro.2  

Sushruta  (séc.  VI  aC),  cirurgião  indiano,  também  se  referiu  a  varizes,  e  foi  o  primeiro  a  

referir-­‐se  à  ETIOPATOGENIA,  quando  no  seu  tratado  Sushruta  Samhita,    Cap.  XL  -­‐  Sirá-­‐

Granthi   (aneurisma   ou   veias   varicosas),   diz   “O   corpo   Vàyu   em   pessoas   fracas   e  

                                                                                                                         1   Tem   trechos   datados   de   cerca   de   3400   aC,   data   em   que,   provavelmente,   começou   a   ser  escrito.  

Aspetos históricos das veias e varizes

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debilitadas,   cansado   por   exercícios   físicos   excessivos,   por   esforço   ou   por   pressão,  

contrai,  seca  ou  desenha  as  ramificações  de  veias  (Sirà)  ou  artérias  (do  local  afetado)  

(aneurisma)   e   rapidamente   dá   origem   a   uma   formação   nodosa   em   relevo   que   se  

chama  Sirà-­‐Granthi...  ”3  

Em  Agrigento,  Empedócles  (490-­‐430  aC),  defendia  a  Teoria  dos  Elementos  –  ar,  água,  

fogo  e  terra  –  que  foi  a  base  da  Escola  Pneumática  de  Medicina,  baseada  nos  conceitos  

“o   sangue   é   a   vida”   e   “o   coração   é   o   centro   do   sistema   vascular   e   o   pneuma   é  

transportado  pelos  vasos  sanguíneos”.  Esta   teoria   foi   seguida  por  Diogenes   (499-­‐428  

aC),  de  Apolónia,  um  dos  primeiros  a  estudar  a  circulação  sanguínea  e  a  descrever  um  

sistema  vascular4a.  

Segundo  Caggiati  e  Allegra5,  foi  Hippocrates  (460-­‐375  aC),  de  Cós,  quem,  pela  primeira  

vez  se  referiu  à  patogénese  e  à  epidemiologia  da  doença  varicosa,  quando  afirmou  que  

as  varizes  eram  mais  frequentes  nos  Citas  (antigo  povo  iraniano  de  pastores  nómadas  

equestres),   devido   ao   tempo  prolongado  que   passavam  no  dorso   do   cavalo,   com  as  

pernas   penduradas.   Hippocrates   era   defensor   da   Teoria   dos   Humores   “O   corpo  

humano  contém  sangue,  fleuma,  bílis  amarela  e  bílis  negra...  A  saúde  é  principalmente  

o  estado  em  que  estas  substâncias  constituintes  estão  em  proporção  correta  entre  si,  

tanto   em   força   como   em   quantidade,   e   estão   bem   misturadas.”6   Um   desequilíbrio  

entre  os  humores,  originaria  uma  doença.  

Deixem-­‐nos   juntar   duas   opiniões   interessantes,   que,   a   propósito   de   varizes,  

Hippocrates   referiu   nos   seus   Aforismas:   21.   “Nas   afeções   maníacas,   se   aparecem  

varizes  ou  hemorróidas,  estas  curam  a  mania.”7a;  e  34.  “Pessoas  que  ficaram  carecas  

não   sofrem   de   grandes   varizes;  mas   se   varizes   aparecerem   em   alguém   que   é   calvo,  

então   o   seu   cabelo   cresce   de   novo   espesso.”7b   Talvez   a   vossa   experiência   clínica,  

confirme  estas  afirmações.  

Aristóteles  (384-­‐322  aC),  de  Atenas,  frequentemente  citado  quando  se  fala  da  história  

das  varizes,  não  se  pronunciou,  especificamente,  sobre  esta  patologia.  Tinha  opiniões  

erradas   acerca   da   circulação,   quando   afirmava   que   “O   coração   apresenta   três  

cavidades;...  ”8a,  “Há  dois  vasos  no  tórax...  O  maior  fica  mais  à  frente,  o  mais  pequeno,  

atrás   dele;...   há   quem   chame   a   este   último   aorta...   Estes   vasos   têm   origem   no  

coração.”8b  Só  se  refere  a  varizes,  quando  diz  “Mas  as  mulheres  estão  menos  sujeitas  a  

doenças  do  que  os  homens.  São  raras  as  que  sofrem  de  varizes,  de  hemorróidas  ou  de  

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hemorragias  nasais.  Se   lhes  acontecer  algum  destes  percalços,  a  menstruação  não  se  

faz  normalmente.”8c,  mas  não  as  define.  Embora  faça  a  distinção  entre  aorta  e  grande  

veia  (cava),  fale  nas  artéria  e  veia  pulmonares  e  outras  ramificações  daquelas,  não  faz  

a  distinção  entre  artérias  e  veias.  Dá-­‐lhes  o  mesmo  nome,  phlebs  -­‐  vaso  sanguíneo.  

Esta   distinção   só   foi   feita   por   Praxagoras   (340-­‐séc.   III?   aC),   de   Cós,   que,   também,  

descreveu  as  diferentes  funções  delas.  Chamou  veias  (phlebes),  aos  vasos  que  saem  do  

ventrículo   direito   do   coração,   e   artérias   (artēriai),   aos   que   emergem  do   esquerdo9a.  

Uma   sua   teoria   central,   a   Teoria   Pneumática,   era   a   noção   que   as   artérias  

transportavam   pneuma   (alma,   vida,   ar   e   respiração)   e   as   veias   sangue,   porque   no  

cadáver  as  primeiras  estavam  vazias  (já  não  havia  alma,  vida,  ar,  nem  respiração)  e  as  

segundas  continham  sangue9b.  

Um   seu   pupilo,   Herophilus   (335-­‐280   aC),   de   Alexandria,   considerado   o   Pai   da  

Anatomia,  foi  o  primeiro  a  chamar  artéria  pulmonar  (artéria  tipo-­‐veia),  ao  vaso  que  sai  

do  ventrículo  direito  e  a  distinguir  anatómica  e   funcionalmente  as  artérias  das  veias.  

Não  concordando  com  o  seu  mestre,  defendia  que  as  artérias  não  só   transportavam  

pneuma,  mas  também  sangue9c.  Erasistratus  (304-­‐250  aC),  de  Alexandria,  aprofundou  

o  conceito  da  existência  de  dois  sistemas  diferentes,  o  arterial  e  o  venoso,  mas,  quanto  

aos   vasos   pulmonares,   porque   “...   as   veias   pertencem   ao   sistema   pneumático,   são  

consideradas  artérias...  “  e  chamou-­‐lhe  veia  arteriosa,  e  porque  “...  a  artéria  pulmonar  

é  suposto  existir  para  levar  nutrientes  (sangue  formado  dos  alimentos  digestivos)  para  

os  pulmões,  pertence  ao   sistema  venoso.”,  pelo  que   seria  artéria  venosa10.  Percebeu  

que  o  sangue  passava  das  artérias  para  as  veias  através  de   intercomunicações  muito  

finas  entre  os  dois  tipos  de  vasos,  ou  seja,  a  existência  do  sistema  capilar4b,  embora  

não   o   tivesse   afirmado.   Nenhum   destes   autores   se   pronunciou   sobre   varizes   dos  

membros  inferiores.  

No  museu  de  Atenas,  na  Grécia,  encontra-­‐se  uma  peça  que  é  uma  imagem  esculpida  

em   pedra   que,   de   maneira   muito   clara,   mostra   uma   veia   varicosa   numa   perna  

masculina.   Esta   imagem,   que   foi   encontrada   no   templo   de   Amynos,   próximo   da  

Acrópole  de  Atenas,  é  datada  de  350  aC.  Foi  uma  oferenda  votiva  a  Asclepius  levada  ao  

templo  por  motivos  religiosos,  como  agradecimento  pela  cura  de  varizes  (Fig.  1).  

A   Teoria   Pneumática,   continuou   a   ser   defendida   por  Rufus   D’Éphèse   (70-­‐120),   mas  

Galeno   (129-­‐200),   de   Pergamo,   embora   não   discordasse   desta,   concordava   com  

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Hippocrates,  pois  era  adepto  da  Teoria  dos  quatro  Humores11,  que  se  manteve  até  ao  

séc.  XVI.  Também  defendia  que  o  sangue  era  gerado  no  fígado,  por  transformação  dos  

alimentos,  era  distribuído  pelas  veias  e  renovado  no  coração  pela  mistura  com  o  ar.  As  

cavidades   direitas   do   coração   recebiam   o   sangue   das   veias,   enquanto   que   as  

esquerdas  recebiam  a  mistura.  O  fígado,  considerado  o  centro  da  circulação,  impelia  o  

sangue  suavemente  pelas  veias,  ao  passo  que  a  metade  esquerda  do  coração  insuflava  

o  ar  cheio  de  “espíritos  vitais”  para  todo  o  organismo,  através  da  “fonte  da  vida”,  as  

artérias12.  Mas  haveria  uma  comunicação  entre  estas  duas  partes  cardíacas.  Esta  teoria  

foi  adotada  pela  Igreja  e  quem  se  lhe  opunha,  ou  apresentasse  outra  diferente,  corria  

o  risco  de  excomunhão101a.  

 

 

Fig.  1  -­‐  Oferenda  votiva  a  Asclepius,  em  mármore,  agradecendo  a  cura  de  varizes.  350  aC.  Museu  Nacional,  Atenas.  

 A   Teoria   dos   quatro   Humores   também   foi   defendida   na   Escola   de   Salerno,   famosa  

pelos   mestres   que   nela   lecionavam,   como   Constantino,   O   Africano   (1020-­‐1087),  

Mestre   Nicolau   (1150-­‐1200)   e   o   anatomista   Copho   (séc.   XIV).   O   segundo   autor,   na  

Anatomia  Magistri   Nicolai   Physici,   também   defendia   que   todas   as   veias   nascem   do  

fígado   e   refere-­‐se   a   varizes,   mas   com   outra   conotação,   quando   diz   “Duas   veias  

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chamadas   varicæ   também   surgem   da   veia   cava;   elas   vão   até   à   parte   de   trás   dos  

joelhos   e   quando   são   cortadas   obliquamente,   fazem   homens   varicosos,   isto   é,  

fechados...   ”13   Seguem-­‐se   várias   indicações   de   flebotomias   para   tratamento   de  

múltiplas  doenças.  

Para   Guy   de   Chauliac   (1298-­‐1368),   de   Avignon,   ainda   adepto   daquela   teoria,   “As  

causas  destas  doenças  são...  sangue  muito  melancólico  e  fleumático  e  cálido...“14a  

Dos   médicos   portugueses,   Pedro   Hispano   (1215-­‐1277)   não   se   pronunciou,  

especificamente,  sobre  varizes,  mas  Amato  Lusitano  (1511-­‐1568),  porque  lecionou  em  

Ferrara,   com  Giambattista   Canano   (1515-­‐1579),   defendia   que   este   foi   o   primeiro   a  

descrever   as   válvulas   venosas,   em   1957.   Amato,   em   dois   locais   das   suas   Centúrias  

(Primeira  Centúria,  Cura  LII15a  e  V  Centúria,  Cura  LXX15b),  se  refere  às  válvulas  da  veia  

ázigos  e  comprova  a  sua  função,  quando  diz  “Mas  se  abrirmos  a  veia  sem  par  na  parte  

mais   baixa   e   com   um   canudo,   ou   caninha,   metido   dentro,   soprarmos   para   a   parte  

superior,  não  há  dúvida  que  a  veia  cava  não  inchará,  não  ficará  entumescida,  visto  que  

o  ar,  contido  na  veia  sem  par,  não  pode  sair,  por  causa  dos  ostíolos  ou  opérculos  que  

tem  no  seu  orifício  junto  da  veia  cava.  Donde  é  certo  que  se  o  ar  não  pode  derivar  da  

veia  sem  par  para  a  veia  cava,  com  mais  razão  (a  fortiori)  o  sangue,  mais  encorpado  

que  o  ar,  não  refluirá.”15a,  logo  impedem  o  refluxo  sanguíneo.  Esta  verificação  foi  feita  

“...  no  ano  de  1547,  em  Ferrara,  fizemos  dissecar  doze  corpos  humanos  e  de  animais,  e  

vimos,  que  em  todos  assim  sucedera...  “15a    

Leonardo   da   Vinci   (1452-­‐1519),   fez   grandes   descrições   e   desenhos   do   sistema  

circulatório,   mas,   em   alguns   casos,   não   são   do   homem,   provavelmente   do   boi16.  

Berengarius   da   Carpi   (1460-­‐1530),   anatomista   de   Bolonha,   o   primeiro   a   publicar  

desenhos  anatómicos  em  livros  de  medicina,  em  1522,  também  fez  desenhos  e  relatos  

da   anatomia   circulatória17,   nomeadamente   das   veias   safenas,  mas   não   tão   perfeitos  

como   os   realizados   por   Andreas   Vesalius   (1514-­‐1564),   no   seu   tratado   De   Humani  

Corporis  Fabrica,  publicado  em  1543.  Baseado  em  disseções  cadavéricas,  no  Terceiro  

Livro,  desenhou  todas  as  ramificações  das  veia  porta,  veia  cava,  aorta  e  do  cérebro18,  e  

toda  a  circulação,  com  exceção  das  válvulas  e  das  perfurantes.  Os  seus  desenhos  têm  

uma  característica  singular,  são  anatomicamente  artísticos,  mas  têm  falhas,  como  a  de,  

ainda,  julgar  que  existia  uma  comunicação  interventricular.  

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Também   Bartolommeo   Eustachi   (1500/1513-­‐1574),   de   Roma,   desenhou   sistemas  

arteriais19a,  e  venosos19b,  19c,  com  alguma  precisão,  no  compêndio  publicado  em  1552,  

Tabulӕ  Anatomicӕ.  

Embora  só  tenha  sido  traduzido  em  1527,  por  Andréa  de  Belluno,  no  séc.  XVI,  o  árabe  

Ibn  Al-­‐Nafis  (1213-­‐1288),  a  lecionar  no  Cairo,  no  seu  livro  Comentário  à  Anatomia  do  

Canon   de   Avicenna,   faz   a   primeira   descrição   da   circulação   pulmonar   ou   pequena  

circulação,  “...  passa  na  veia  arteriosa  para  o  pulmão  para  permear  sua  substância  e  

misturar-­‐se  ao  ar,  a  sua  parte  fina  é  purificada;  e  depois  passa  na  artéria  venosa  para  

alcançar  a  cavidade  esquerda  das  duas  cavidades  do  coração;  tendo-­‐se  misturado  com  

o   ar   e   tornado   apto   para   a   criação   do   espírito.”20   Porque   não   era   conhecido   este  

documento,  aquela  descrição  foi  atribuída  a  Miguel  Servet   (1509-­‐1553),  espanhol  de  

Saragoça   que   lecionou   em   Genebra   e   Viena,   no   livro   Christianismi   Restitutio21,  

publicado  em  1553,  “Da  mesma  forma,  não  apenas  ar,  mas  ar  misturado  com  sangue,  

é  enviado  dos  pulmões  para  o  coração  através  da  veia  pulmonar;  Portanto,  a  mistura  

ocorre  nos  pulmões.  Essa  cor  amarela  avermelhada  é  dada  ao  sangue  espirituoso  pelos  

pulmões;  não  é  do  coração.”,  referência  à  oxigenação  do  sangue  nos  pulmões.  É  uma  

descrição  anatómica   (diferente  da  de  Galeno)  e   religiosa,  que  o   levaria  à  morte  pelo  

fogo,   sentenciada   pela   Inquisição.   Este   documento   foi   escondido   pela   Igreja   e  

esquecido,   tendo   ressurgido   com   Harvey,   como   se   referirá   mais   à   frente.   Também  

Realdo  Colombo  (1516-­‐1559),  sucessor  de  Vesalius  na  cadeira  de  Anatomia,  em  Pádua,  

descreveu   a   circulação   pulmonar,   no   livro   De   Re   Anatomica,   publicado   em   1559,  

depois  da  sua  morte101b.  As  teorias  destes  três  autores,  por  vários  motivos,  não  foram  

conhecidas  na  sua  época,  pelo  que  as  descobertas  de  Harvey  tiveram  mais  impacto.  

Embora,  na  área  anatómica,  as  opiniões  de  Galeno  tenham  sido  contraditas  pelas  de  

Vesalius,   a   Teoria   dos   Humores   só   o   foi   no   séc.   XVIII,   por   Benjamin   Bell.   Assim,  

Ambroise   Paré   (1509-­‐1590),   o   primeiro   Mestre   Cirurgião-­‐barbeiro,   afirmava   “As  

varizes   desenvolvem-­‐se   nas   pessoas   que   são   melancólicas,   e   que   se   alimentam   de  

carnes  melancólicas.  As  mulheres  grávidas  são  frequentemente  afetadas,  por  causa  do  

sangue  melancólico  que,  retido  durante  a  gravidez,  faz  com  que  as  veias  se  dilatem  e  

se   tornem   varicosas...   “22a,   foi   o   primeiro   a   considerar   a   gravidez   como   causa   de  

varizes,  e,   também  que  varizes  são  causas  do  aparecimento  de  úlceras  e   fatores  de  

atraso  da  sua  cicatrização22b.  

Aspetos históricos das veias e varizes

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Em  Pádua,  Hieronymus  Fabricius  Ab  Aquapendente   (1533-­‐1619),  professor   (talvez  o  

primeiro  Professor  de  Medicina  digno  desse  nome)  e  diretor  dos  teatros  anatómicos,  

descreveu,  pela  primeira  vez,  as  válvulas  das  veias  com  algum  pormenor,  no  seu  livro  

De   venarum   ostiolis,   publicado   em   1603.   Alguns   autores,   como   Riju   Ramachandron  

Menon23  e  Amato  Lusitano  (como  já  dissemos),  afirmam  que  Giovanni  Battista  Canano,  

em   1540,   terá   descrito   as   válvulas   nas   veias   renal,   ázigos   e   ilíacas   externas,   que  

Ludovicus  Vassaeus,  em  1544,  descreveu  algumas  válvulas,  e,  um  ano  depois,  também  

o  terá  feito  Charles  d’Estiènne  (ou  Carolo  Stefano)  (1504-­‐1564)24,  tendo  as  primeiras  

ilustrações   sido   apresentadas   por   Salomon   Alberti,   em   De   valvulis   membraneis  

vasorum,   publicado   em   1585.   Fabricius   Ab   Aquapendente,   embora   não   tivesse   tido  

conhecimento  cabal  da  função  das  válvulas,  foi  o  primeiro  a  considerar  a  insuficiência  

valvular  como  causa  das  varizes,  quando  referiu  “Em  algumas  pessoas,  de  facto,  como  

porteiros   e   camponeses,   parecem   inchar   (as   veias)   como   varizes:   mas   aqui   devo  

corrigir-­‐me.  Deve  ser  claramente  indicado  que  as  varizes  reais  são  devidas  inteiramente  

à   dilatação   das   válvulas   e   veias   por   uma   retenção  muito   longa   e   espessamento   do  

sangue  nas  válvulas;  uma  vez  que,  na  ausência  de  válvulas,  as  veias  deveriam  inchar  e  

dilatar  uniformemente  ao   longo  do  seu  comprimento,  diferindo  assim  das  varizes.”25a  

Também   as   representou   em   desenho   (Fig.   2)25b,   mostrando   dilatações   venosas,  

correspondentes  a  válvulas,  no  antebraço  quando  se  coloca  um  garrote  no  braço.  

 

Fig.  2  –  De  venarum  ostiolis,  pp.  80  e  81.  Tabula  ii:  A  Figura  i  mostra  as  veias  cefálica  (AB),  basílica  (CD)  e  mediana  (EF)  e  dilatações  (o,  o,  o)  correspondentes  às  válvulas,  quando  se  

coloca  um  garrote  no  braço;  A  Figura  ii  representa  duas  veias  da  perna,  AB  e  CD  e  válvulas  (o,  o,  o)  por  fora  das  veias,  estando  na  primeira  vazias  e  em  CD  cheias  de  sangue.  

 William   Harvey   (1578-­‐1657),   aluno   de   Fabricius,   em   1628,   no   livro   Exercitatio  

anatómica  de  MOTU  CORDIS  et   sanguinis   in  animalibus   (Estudos  anatómicos   sobre  o  

Aspetos históricos das veias e varizes

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movimento   do   coração   e   do   sangue   em   animais),   veio   mostrar,   cientificamente,   a  

circulação  sanguínea  e  o  papel  das  válvulas  das  veias26a.  “As  válvulas  estão  presentes  

para  que  o   sangue  não  possa  mover-­‐se  das   veias  maiores  para  as  mais  pequenas,   a  

não  ser  em  caso  de   rotura  ou  de  varizes,  e  para  que  não  avance  do  centro  do  corpo  

para   a   periferia   através   delas,  mas   sim  das   extremidades   até   ao   centro.   Este   último  

movimento   é   facilitado   por   estas   válvulas   delicadas,   o   contrário   é   completamente  

impedido.”26b  

 

 

Fig.  3  –  A  Figura  1  mostra  dilatações  venosas  correspondentes  às  válvulas  (igual  à  de  Fabricius,  mas  invertida  na  horizontal);  as  seguintes  figuras  mostram  a  eficácia  das  válvulas.  

 Muito   influente   foi   Richard   Wiseman   (1621-­‐1676),   de   Londres,   que   em   1676,   no  

tratado   Severall   Chirurgicall   Treatises,   foi  o   primeiro   a   sugerir   que  a   incompetência  

valvular  resultava  da  dilatação  de  uma  veia27  e  que  a  compressão  e/ou  a  trombose  

podem  ser  causas  de  varizes,  quando  diz  “Mas,  também,  ocorre  de  forma  não  natural,  

tanto   nos   Tumores   da  Mama   e   noutras   Partes:   em   todos   os   que   podem   (mas  mais  

visivelmente  em  Cancros)  os  Vasos  alargam,  e  as  Veias   tornam-­‐se  varicosas.  A  causa  

disto   pode   ser   referida   à   coagulação   do   Soro,   ou   à   espessura   do   Sangue,   ou   à  

obstrução  da  Veia  em  algum  lugar  em  sua  passagem  por  alguma  angulação  provocada  

pelo  Tumor;  de  onde  acontecerá,  muitas  vezes,  que  a  Veia  para  trás  dela  tenha  parado,  

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e  é   forçada  a   inchar.  Não,  não  só  a  contração  dos  Vasos  pelo  não  natural  Tumor   faz  

isso,  mas  também  por  qualquer  outra  Pressão.  Como  na  Mulher  com  Criança,  o  peso  

deitado  sobre  o  Ramus  iliacus  em  qualquer  lado  do  corpo,  torna  varicosos  a  Coxa  e  a  

Perna  em  todo  esse  lado.”27    

Richard   Lower   (1631-­‐1691),   em   1670,   descreveu   o   vis   a   tergo,   o   tónus   venoso   e   o  

efeito   da   bomba   muscular   no   retorno   venoso,   grande   avanço   no   conhecimento   da  

fisiologia  da  circulação5  e  Antonio  Valsalva   (1666-­‐1723),  em  1710,  descreveu  o  vis  a  

fronte,  devido  às  alterações  rítmicas  respiratórias  da  pressão  tóraco-­‐abdominal5.  

Pierre  Dionis   (1643-­‐1718),   de  Paris,   em  1708,   concordou  plenamente   com  Wiseman  

quanto  às  causas  das  varizes,  mas  explicou-­‐as  melhor:  uma  causa  interna  “...  quando  o  

sangue  se  torna  espesso...  não  podendo  correr  nas  veias,  e  pára  em  qualquer  dos  seus  

ramos,   ou   coagula...   obriga   a   veia   a   dilatar-­‐se.“;   e   outra   externa,   um   traumatismo,  

grandes  esforços,  ou  a  gravidez28a.  

Em  1794,   John  Hunter   (1728-­‐1793),  de  Londres,  descreveu  no  seu   tratado  A  treatise  

on   the  blood,   inflammation  and  gun-­‐shot  wounds,   a   contribuição  das  artérias  para  o  

retorno   venoso,   “Nessas   veias   que   são   acompanhadas   por   artérias,   a   pulsação   da  

artéria   auxilia   na   propulsão   do   sangue   para   o   coração.”29a   e   confirmou,   no   cão,   as  

observações  de  Valsalva  “Mesmo  a  respiração  produz  uma  estagnação  perto  do  tórax;  

pois  durante  a  inspiração  as  veias  esvaziam-­‐se  rapidamente;  mas  na  expiração  há  um  

certo  grau  de  estagnação.”29b  

Justus   Loder   (1753-­‐1832),   em  1803,  publica   as  Tabulæ  anatomicæ,   e  na  Tab.  CXXVII  

um  desenho,  muito  pormenorizado,  das  perfurantes  do  membro  inferior30.  

Em   1806,   Tommaso   Rima   (1775-­‐1843),   foi   o   primeiro   a   considerar   o   refluxo   como  

causa   de   varizes   quando   diz   “os   argumentos   que   sustentam   nossa   teoria   do  

movimento   inverso   do   sangue   como   a   causa   próxima   das   varizes...   “31a   e   descreveu  

uma  manobra  para  o  demonstrar,  da  qual  falaremos  mais  à  frente.  

Em  1824,  Paul  Briquet   (17XX-­‐18YY),  de  Paris,  verificou  que  a  hipertensão  do  sistema  

venoso   profundo   podia   provocar   varizes   “No   lugar   onde   a   flebectasia   é   mais  

pronunciada,  há  comunicações  muito  grandes  com  as  veias  profundas,  que  são  amplas  

no  local  de  onde  parte  o  ramo  anastomótico,...  ”32a,  sugeriu  uma  doença  da  parede  da  

veia,  como  causa  da  dilatação  venosa  “Seria  demais  dizer  que  está  estabelecido  nos  

vasos  que  deve   se   tornar   uma  espécie   de   inflamação   lenta  que   começa  a   suavizar   o  

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tecido  e  prepara  a  dilatação?”32b  introduzindo  o  conceito  de  “inflamação”  da  parede  

da   veia   como   causa   das   varizes,   que   só   mais   de   150   anos   depois   começou   a   ser  

investigado.  Por  fim,  a  propósito  do  tipo  de  sangue  presente  nas  veias,  refere  “O  que  

acabei   de   dizer   leva-­‐me   a   inserir   algumas   palavras   sobre   o   estado   do   sangue   nas  

varizes.   Encontra-­‐se   em  massas,   rutilantes,   quase  análogas  à   cor   do   sangue  arterial.  

Quando  se  incisa  uma  variz,  muitas  vezes  o  jacto  é  muito  forte;  Eu  vi-­‐o  entrecortado;  a  

hemorragia  é  muito  considerável;  Esta  força  do  jacto,  que  atingiu  J.  L.  Petit,  parece-­‐me  

ser  um  indício  de  desenvolvimento  dos  capilares  e  de  uma  comunicação  livre  entre  os  

sistemas  arterial  e  venoso  por  este   intermediário  dilatado.”32c,  sugerindo  a  existência  

de  fístulas  artério-­‐venosas  em  algumas  varizes.  

Benjamin  Brodie  (1783-­‐1862),  em  1846,  embora  já  tenhamos  demonstrado  que  assim  

não  aconteceu,   foi  apontado  como  o  primeiro  a  considerar  o   refluxo  como  causa  de  

varizes,  quando  disse,  no  seu  livro  Lectures   illustrative  of  varius  subjects   in  pathology  

and  surgery,  capítulo  sobre  Veias  varicosas  e  úlceras  das  pernas,  “As  veias  profundas  

nunca  se  tornam  varicosas,  porque  há  a  pressão  de  outros  órgãos  sobre  elas  por  todos  

os   lados,   o   que   impede   sua   dilatação.   São   apenas   as   veias   superficiais   que   são  

afetadas;  especialmente  os  ramos  da  veia  safena  major,  mas  às  vezes  da  veia  safena  

posterior.  Mas   as   válvulas   não   aumentam   com  a   dilatação   da   veia,   permanecem  do  

tamanho  original.  A  consequência  é  que  as  válvulas  não  protegem  os   ramos  venosos  

abaixo  da  pressão  da  coluna  de  sangue  acima;  que  deixam  de  responder  ao  propósito  

das   válvulas;   e   a   ausência   de   ação   das   válvulas   tende,   naturalmente,   a   agravar   a  

doença.”33a    

John  Gay   (1813-­‐1885),   de   Londres,   no   seu   tratado  On   varicose   disease   of   the   lower  

extremities,   publicado   em   1867,   faz   um   apanhado   dos   fatores   etiológicos   das  

varizes34a.   Refere   as   causas   que   provocam   excesso   de   sangue,   no   sentido   do   fluxo  

(hábitos,   idade,   sexo,   fístulas   artério-­‐venosas,   por   exemplo),   como   no   sentido  

contrário   (ação   da   gravidade,   insuficiência   valvular,   tumores   abdominais,   etc.),   para  

além   da   hereditariedade,   obesidade   e   lesões   traumáticas.   Lista   bastante   completa,  

mas   que,   apesar   de   incluir   a   tromboflebite,   não   menciona   a   trombose   venosa  

profunda  (TVP),  embora  tenha  sido  objeto  do  seu  estudo,  pois  em  cinco  dos  24  casos  

clínicos   que   descreveu,   estavam   presentes   “...   coágulos   nos   troncos   venosos  

profundos.”34b  

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Continuando   com   a   pesquisa   sobre   fístulas   artério-­‐venosas   (FAV)   como   causa   de  

varizes,   em   1949,   Pratt,   descreveu   uma   síndrome   Varizes   arteriais,   que,   afirma,  

ocorrem  muito  mais  comumente  do  que  se  supõe,  24  %  na  sua  casuística.  Refere  “Esta  

situação  deve  ser  suspeitada  se  as  veias  aparecerem  rapidamente  nas  porções  lateral  

ou  posterior  das  pernas,  se  o  paciente  for  relativamente  jovem,  se  houver  aumento  de  

calor   local   e   se   as   veias   voltarem   após   a   cirurgia   da   veia   competente   anterior...   A  

tendência  destas  varizes  arteriais  a  recorrer  parece  inerente.”35  

Piulachs,  em  1953,  afirmou  depois  de  estudar  de  157  casos  “...  chegámos    à  conclusão  

que   todas   as   veias   varicosas,   tanto   idiopáticas   quanto   pós-­‐flebíticas,   são   devidas   a  

uma  patogenia  inicial  comum  e  começam  em  ambos  os  casos  através  da  existência  de  

múltiplos  canais  artério-­‐venosos  congénitos  de  pequeno  tamanho  que  estão  presentes  

em  todas  as  pessoas,  embora  variando  em  número  e  tamanho...  ”36.  

Schalin,   em   1953,   publicou   um   estudo   de   varicosidades,   localizou   as   FAVs   por  

termografia   detetando   o   aumento   do   calor   da   pele   sobre   as   varicosidades   e   fez   a  

dissecção   microcirúrgica   das   varizes   (n   =   14)   com   conexão,   tributárias   venosas   e  

anastomoses  artério-­‐venosas,  que  foram  observadas  em  microscopia  de  luz.  Concluiu  

que  “1)  FAVs  para  veias  varicosas,  comprovadas  em  cortes  morfológicos,  apresentam  

uma   via   anatómica   para   explicar   2)   a   manutenção   arterial   de   veias   varicosas   com  

sangue  quente,  explicando  o  aumento  do  calor  da  pele  sobre  as  varicosidades,  3)  apoia  

a   teoria   sugerida   de   enrolamento   varicoso.   4)   Não   há   explicação   alternativa   para  

alterações  endoteliais  opostas  ao  orifício  da  comunicação  artério-­‐venosa.”37  

Por   fim,   Kimura,   em   1991,   num   estudo   de   56   indivíduos,   concluiu   que   “...   houve  

diferenças   significativas   entre   as   tensões   oxidativas   dos   pontos   quentes   e   das   veias  

femoral   ou   safena   nos   pacientes   com   varizes   (p   <0,01,   p   <0,05).   Na   operação,   os  

pontos   quentes   foram   investigados   por   disseção   operatória   e   microscopia.   Foram  

observadas   pequenas   artérias   pulsantes   nos   locais   que   correspondiam   aos   pontos  

quentes.”38  e  todos  nos  fazem  refletir  sobre  a  causa  das  varizes.  

No   nosso   país,   António   Coito   (1921-­‐2005),   de   Lisboa,   em   1957,   na   tese   de  

Doutoramento,   pronunciou-­‐se   sobre   a   etiopatogenia   das   varizes,   referindo   “As  

válvulas   são   os   elementos   anatómicos   que   dão   individualidade   fisiopatológica   ao  

sistema  venoso  dos  membros  inferiores;  as  válvulas  podem  deixar  de  ser  suficientes  por  

dilatação  da  parede  da  veia  ou  por  destruição  durante  a  recanalização  do  trombo,  mas  

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as  consequências  fisiopatológicas  são  as  mesmas;...  “,  conhecimentos  estes  baseados  

na  sua  experiência39a.  

O  conceito  de  que  era  sempre  a  insuficiência  das  crossas  que  dava  origem  às  varizes,  

começou   a   ser   posto   em   causa,   por   alguns   autores.   Destacamos   Pereira   Alves,   de  

Lisboa,   que   na   tese   de   Doutoramento   apresentada   em   2001,   mostra   que   “Na  

insuficiência   venosa   superficial   primária   tudo   começaria   por   um   segmento   venoso  

superficial  com  refluxo:  ponto  inicial  de  refluxo...  não  sendo  obrigatório  haver  refluxo  

nas   crossas...   Estes   segmentos   venosos   com   refluxo   seriam   devidos   a   alterações  

constitucionais   da   veia...   Com   o   tempo   e   em   função   da   sobrecarga...   esta   dilatação  

progressiva  ascendente  e  descendente,  progrediria  até  pontos  de  comunicação  com  o  

sistema   venoso   profundo:   pontos   distais   de   refluxo...   ”40a   e   se   estes   não   forem  

corrigidos,  dilatam-­‐se  outros  segmentos  venosos  superficiais  e  perfurantes,  que  ficarão  

insuficientes.  “A  hipertensão  venosa  iniciar-­‐se-­‐ia  no  sistema  venoso  superficial  e  seria,  

a   partir   daí,   transmitida   às   veias   perfurantes   e   profundas,   levando   com   o   tempo   à  

insuficiência  destes  dois  sistemas.  O  processo  seria  assim  de  fora  para  dentro,  ou  seja,  

das   veias   superficiais   para   as   profundas,   e   não   o   inverso,   como   considerado   até  

hoje.”40b  Pereira  Alves  considera,  fruto  da  sua  experiência,  que  há  refluxos  (R)  axiais  e  

segmentares  e,  dentro  destes,  três  subtipos:  R  limitados  aos  ramos  superficiais,  Rs1;  R  

que  envolve  os  ramos  superficiais  e  igualmente  segmentos  venosos  da  safena,  Rs2;  R  

41

Russell  Mellor,  de  Londres,  introduziu  a  genética  na  etiologia  das  varizes,  quando,  em  

2007,  mostrou   que   o   funcionamento   do   gene   FOXC2   é   necessário   para   uma   função  

venosa   normal,   e  mais   especificamente   para   o   desenvolvimento   das   válvulas   e/ou   a  

sua   manutenção   em   humanos.   FOXC2   desempenha   um   papel   importante   no  

desenvolvimento   dos   sistemas   linfático   e   venoso,   causando   as   mutações   disfunção  

daqueles   sistemas.   As   vias   e   mecanismos   pelos   quais   o   FOXC2   atua   no  

desenvolvimento  e  manutenção  das  válvulas  venosas,  requerem  futura  elucidação42.  

Em   2010,   Ying   Xiao,   de   Cantão,   chegou   à   conclusão   que   a   expressão   do   gene   da  

desmuslina  é  necessária  para  a  manutenção  do   fenótipo  das  células  musculares   lisas  

dos   vasos   (CMLV).   A   diminuição   da   expressão   da   desmuslina   pode   afetar   a  

diferenciação   das   CMLV   e   contribuir   para   o   desenvolvimento   de   veias   varicosas.  

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Também   descobriu   que   a   expressão   da   metaloproteinase   (MMP)-­‐2   se   encontrava  

significativamente   aumentada   em   CMLV   transfetadas   com   desmuslina43.   Segundo  

Krysa,  de  Dunedin,  em  artigo  publicado  em  2011,  refere  que  “Deve  ser  considerado  um  

amplo  estudo  de  associação  genómica  para  ajudar  a  aprofundar  a  nossa  compreensão  

da   base   genética   da   doença   venosa.   Devido   aos   grandes   tamanhos   de   amostra  

necessários  para  a  descoberta  e   validação,  usando  as  novas  gerações  de   tecnologias  

moleculares,  será  importante  formar  grupos  de  colaboração  para  avançar  com  sucesso  

no  campo  da  genética  das  doenças  venosas.”44.  

Pratas  Balhau  (1952-­‐),  de  Barcelos,  em  2013,  desenvolveu,  na  sua  tese  de  Mestrado45,  

um   projeto   experimental   que   teve   como   objetivo   provocar   varizes   num   modelo  

animal,   produzindo   hipertensão   numa   veia   em   ortostatismo.   Foi   laqueada   a   veia  

auricular   intermediária   da   orelha   esquerda   de   18   coelhos   gigantes   Belier-­‐francês,  

servindo   a   direita   de   controlo.   Verificou:   dilatação   da   veia   com   espessamento   da  

parede,   bem   como   áreas   de   atrofia   da   parede   da  mesma   veia,   para   o  mesmo   corte  

histológico;   com  alterações  do  endotélio;   alterações  na   espessura  da  média  da   veia,  

para  a  mesma   secção   transversal,   bem  como   lúmens  muito  diferentes,  muitas   vezes  

assimétrico   e   colapsado;   a   média   exibia   áreas   de   hipertrofia   e   áreas   de   atrofia;  

algumas  áreas  revelaram  redução  de  fibras  musculares  e  alteração  da  orientação  das  

fibras,  alterações  idênticas  às  encontradas  nas  varizes  humanas46.  

Estavam   colocados   os   problemas   principais,   as   doenças   da   parede   venosa   e   das  

válvulas   das   veias.   Nos   últimos   anos   do   séc.   XX   e   nos   primeiros   do   séc.   XXI,   estas  

questões  começaram  a  ser  estudadas  “à  lupa”,  ou  seja,  a  pesquisa  sobre  a  constituição  

molecular   das   válvulas   e   da   parede   venosas   detetou   várias   alterações   nestas  

estruturas,  que  CS  Lim  muito  bem  resumiu  no  artigo  “Pathogenesis  of  primary  varicose  

veins”47.   É,   também,   uma   boa   introdução   ao   papel   das  MMPs   e   dos   seus   inibidores  

tissulares  (TIMP),  relacionadas  com  a  adesão  e  ativação  dos  leucócitos  e  a  atividade  do  

transforming   growth   factor   beta   one   (TGF-­‐β1),   na   parede   venosa   que   levam   à   sua  

fragilização,   com   consequente   dilatação   e   formação   de   varizes.   A   estas   questões  

dedicou-­‐se   Pedro   Serralheiro   (1981-­‐),   pois   sabendo   que   o   TGF-­‐β1   influencia  

diretamente   MMPs   e   TIMPs   na   parede   venosa   e,   mais   concretamente,   na   doença  

venosa   crónica,   e   que  MMPs   e   TIMPs   têm  um  papel   importante   na   evolução   desta,  

resolveu  aprofundar  o  conhecimento  da  sua  fisiopatologia,  fazendo  o  estudo  genético  

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e   imunohistoquímico   das   MMPs,   TIMPs   e   dos   recetores   de   TGF-­‐β1,   ao   longo   da  

evolução   da   DVC.   Concluiu   que:   “...   as   MMP9,   MMP12,   TIMP1   e   TIMP2   são  

influenciadas  diretamente  pelo  TGF-­‐β1,  na  parede  venosa  da  veia  grande  safena.”48  e  

foi   o   primeiro   a   demonstrá-­‐lo;   “...   existem   aparentemente   duas   fases   de   ação   das  

MMPs  e  TIMPs,  ao  longo  da  evolução  da  DVC,  que  o  TGF-­‐β1  parece  não  influenciar  em  

estádios  avançados,  ao  contrario  do  que  acontece  em  estádios  mais  precoces.”49,  50  

 

Quanto   ao  DIAGNÓSTICO,   se   definimos   varizes   como   veias   dilatadas   e   tortuosas,   o  

primeiro  é  feito  pela  observação  clínica.  Podemos  então  dizer  que  o  primeiro  a  fazer  o  

diagnóstico  foi  Sushruta,  pelo  séc.  VI  aC,  quando  refere  no  seu  tratado  a  passagem  já  

referida  “...  uma  formação  nodosa  em  relevo  que  se  chama  Sirà-­‐Granthi...  ”3  

A  primeira  manobra  para  demonstrar  o  refluxo   foi  descrita  por  Tommaso  Rima,  em  

1806,   “...   em   todos   os   indivíduos   afetados   por   escassas   varizes   em   suas   pernas  

mostravam-­‐se   evidentes   que   na   mudança   de   posição   do   corpo   de   horizontal   para  

vertical,  o  sangue  poderia  ser  visto  a  partir  do  crural  na  grande  safena  de  cima  para  

baixo  preenchendo  os   vários   ramos  menores   do  membro...  O   sangue   comprimido  da  

coluna  que  gravita  acima  dela  na  parte  superior  está  sempre  pronto  para  descer,  assim  

que  for  removida  a  obstrução  temporária,  ou  seja,  a  ligadura...  ”31b,  ou  seja,  percursora  

da  prova,  mais  tarde  chamada  de  Brodie  /  Trendelenburg.  

Em   1824,   Paul   Briquet,   de   Paris,   fez   uma   tese   de   Doutoramento  Dissertation   sur   la  

phlébectasie,  onde  aponta  uma  manobra  para  diagnóstico  “Outras  vezes,  dando  com  o  

dedo,  numa  veia  safena  grande  e  varicosa  ao  longo  do  comprimento  do  membro,  um  

golpe  seco  na  parte  superior  da  coxa,  vemos  a  ondulação  propagar-­‐se  até  ao  meio  da  

perna,  e  o  fluxo  ser  percetível  ao  toque.”32a,  em  tudo  idêntica  à  sugerida  por  Schwartz,  

em  finais  do  séc.  XIX.  

Benjamin  Brodie,  em  1846,  relatou  um  teste  para  confirmação  de  variz  por  refluxo  de  

válvulas   incompetentes  “Descobri,  ao  retirar  o  curativo,  o  paciente  estava  na  postura  

erecta,   que  o   conjunto  de   veias  abaixo  preenchia  muito  devagar  e  apenas  dos   vasos  

capilares.  Mas   se,   com   o   paciente   na   postura   ereta,   remover   a   pressão   na   veia,   as  

válvulas   sendo   inúteis,   o   sangue   precipita-­‐se   para   baixo   pelo   seu   próprio   peso,   ao  

contrário   do   curso   da   circulação,   e   enche   o   aglomerado   varicoso   abaixo   quase  

instantaneamente.”33b,   que   ficou   com   o   seu   nome   e   de   Trendelenbourg,   que   o  

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vulgarizou.  Só  em  1896,  Georg  Perthes  (1869-­‐1927),  descreveu  a  manobra  para  estudo  

da  permeabilidade  do  sistema  venoso  profundo51.  

John  Homans  (1877-­‐1954),  de  Boston,  em  1916-­‐17,  descreveu  o  sinal,  que  ficou  com  o  

seu  nome,  para  diagnóstico  da  TVP  “Os  músculos  da  barriga  da  perna,  entre  os  quais  a  

trombose  começa,  muitas  vezes  resistem  à  dorsiflexão  do  pé,  com  ou  sem  desconforto  

por  trás  do  joelho  –  sinal  da  dorsiflexão.”52a  

Só  no  séc.  XX  começaram  a  surgir  outros  meios  complementares  de  diagnóstico:  em  

1923,   Berberich   e   Hirsch,   relataram   a   primeira   flebografia   com   brometo   de  

estrôncio53;  um  ano  depois,  Sicard  e  Forestier,  pela  primeira  vez  utilizaram  Lipiodol  

para   fazer  a   flebografia5,  muito  útil   para  diagnóstico  da   trombose   venosa  profunda  

assintomática   (pós-­‐operatória);   em   1929,  McPheeters   e   Rice   realizaram   a   primeira  

varicografia5;  Ratschow,  em  1930,  introduziu  a  angiografia  com  contraste  solúvel  em  

água5.  Merece  referência  especial  João  Cid  dos  Santos  (1907-­‐1975),  de  Lisboa,  que  em  

1937,  num  extenso  artigo  A  flebografia   (Lisboa:  Centro  Tipográfico  Colonial,  que  não  

conseguimos   consultar),   traduzido   para   francês   em   1938,   La   flebographie   directe,  

sugeriu   realizar   a   flebografia,   não   só   ascendente,  mas   também  descendente,   com  o  

doente  em  pé,  por  via   retrógrada,  aproveitando  a  gravidade,  para  melhor  detetar  as  

insuficiências  valvulares.  Nas  suas  conclusões,  descreve  as  patologias  onde  esta  técnica  

poderá   dar   indicações,   como   “...   origem   das   varizes;   extensão   da   rede   varicosa;  

circulação   venosa   nas   extremidades   varicosas;   estudo   das   afeções   venosas  

congénitas.”54,   para   só   mencionar   as   que   se   referem   a   varizes.   Com   este   autor  

concorda   um   seu   discípulo,   António   Coito,   quando,   em   1957,   considera   que   “...   a  

flebografia   vertical   permite   um   melhor   estudo   das   válvulas   e   para   apreciar   o   seu  

estado  funcional  deve  empregar-­‐se  a  técnica  descendente  com  a  manobra  de  Valsalva,  

durante  a  injeção  do  contraste;...“39a,  apesar  de  ter  dado  importante  contributo  para  a  

flebografia   ascendente,   quando   sugeriu   a   aplicação   do   garrote   inframaleolar,   que  

permitiu  melhor  visualização  dos  sistemas  tibial  posterior  e  peroneal39b.  Aproveitando  

estes  estudos  de  Cid  dos  Santos,  Gunnar  Bauer,  em  1941,  demonstrou  por  flebografia  

a  relação  entre  trombose  e  úlcera  e  o  local  da  trombose,  o  efeito  da  anticoagulação  na  

TVP  e,  em  1942,  a  importância  do  estudo  flebográfico  na  síndrome  pós-­‐trombótica55.  

Não   podemos   deixar   de   referir   que   J   Salvador  Marques,   de   Lisboa,   outro   pupilo   de  

João   Cid   dos   Santos,   foi   o   primeiro   que   demonstrou,   através   de   estudo  

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esteroflebográfico,  que  em  cerca  de  20  %  dos  casos  que  estudou  “As  varizes  essenciais  

da   safena   interna   não   são   sempre   originadas   pela   insuficiência   valvular   da  

crossa.”102   Isto   quer   dizer   que   não   se   justifica   fazer   a   laqueação   da   junção  

safenofemoral,   se   esta   não   é   refluxiva.   Este   conceito,   pioneiro   na   altura,   foi   pouco  

valorizado  e,  por  rotina,  na  operação  às  varizes  era  efetuada  a  laqueação  alta  da  veia  

grande  safena.  Só  mais  tarde,  com  a  utilização  do  ecoDoppler,  alguns  autores,  entre  os  

quais  Pereira  Alves,  fizeram  demonstração  daquela  variação  e  sugeriram  alteração  do  

procedimento,  como  referiremos  mais  à  frente.  

Em  1842,  o  matemático  e  físico  Christian  Doppler  (1803-­‐1853),  em  Praga,  apresentou  

um  trabalho  Über  das  farbige  Licht  der  Doppelsterne  und  einiger  anderer  Gestirne  des  

Himmels56  (Sobre  a  luz  colorida  das  estrelas  duplas  e  outras  estrelas  do  céu)  sobre  um  

método  de  determinação  das  ondas  de  frequência,  que  determinado  corpo  emite,  e  a  

sua   tradução   em   cores   quando   se   aproximam   ou   afastam   do   observador,   que   ficou  

conhecido   como   Efeito   Doppler.   Foi   um   grande   avanço   qualitativo   no   estudo   das  

doenças   venosas   e,   porque   se   trata   de   um  método   de   estudo   venoso   não   invasivo,  

rapidamente  foi  utilizado,  “destronando”  a  flebografia.  Polly  Feigl,  de  Minnesota,  em  

1968,  publicou  o  primeiro  artigo  sobre  a  utilidade  do  ecoDoppler  no  diagnóstico  das  

doenças   venosas   dos   membros   inferiores57,   Claude   Franceschi   de   Paris,   em   1977,  

vulgarizou  o  ecoDoppler  para  estudo  da  patologia  venosa58,  e,  como  veremos  mais  à  

frente,   utilizou-­‐o   para   tratar   varizes,   e   Alfred   Persson,   de   Boston,   com   Edward   R  

Jewell,   de   Burlington,   demonstraram   as   vantagens   deste   método   em   relação   à  

venografia59.  

Pereira  Alves  considera  que  o  ecoDoppler  deve  ser  um  exame  obrigatório  para  estudo  

pré-­‐operatório   dos   doentes   com   IVC   e   os   dados   por   ele   fornecidos   “...   podem   vir   a  

permitir   uma   cirurgia   das   varizes   adaptada   ao   tipo   dos   refluxos.”40c,   sendo,  

atualmente,  imprescindível  para  estudo  e  tratamento  da  insuficiência  venosa  crónica,  

nomeadamente,  das  varizes.  

A  partir  de  1980  foram  introduzidas  a  TAC  e  a  RM  para  avaliação  dos  vasos  profundos  

dos  membros  inferiores,  mas  também  para  diagnóstico  da  tromboembolia  pulmonar,  a  

TAC  3D  para  avaliação  pré-­‐operatória  de  varizes  e  a  RM  com  venografia5.  

Aspetos históricos das veias e varizes

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2927  

Quanto   ao   TRATAMENTO   das   varizes,   foi   ainda,   o   indiano   Sushruta   o   primeiro   a  

pronunciar-­‐se,  quando  refere  “No  caso  de  ser  desigual  e   ligeiramente  doloroso,  pode  

ser   curado   apenas   com   grande   dificuldade.   Considerando   que   um   caso   em   que   a  

formação  nodular   é   indolor,   fixa,   grande   e   situada   em  qualquer   das   partes   vitais   do  

corpo  (Marmas),  deve  ser  considerada  incurável.”3  

Só   quase   300   anos   depois,   Hippocrates,   o   primeiro   a   pronunciar-­‐se   quanto   ao  

tratamento   cirúrgico   das   varizes,   preconizava  múltiplas   pequenas   incisões   nas   veias  

varicosas  “Mas  a  variz,  propriamente  dita,  deve  ser  perfurada  em  muitos  locais,  como  

as  circunstâncias  indicarem.”7c  e  aplicação  de  ligadura  firme  no  membro,  procurando,  

assim,  gerar  uma  lesão  venosa,  que  promovesse  a  oclusão  da  veia  varicosa.  

Vários  autores  consideram  que  o  primeiro  relato  de  uma  operação  às  varizes,  realizada  

por   cirurgião  desconhecido   cerca  de  105  aC,   foi   feito  por  Plutarco,  na  Vida  de  Caius  

Marius  (157-­‐86  aC),  general  e  cônsul  romano.  Conta  Plutarco  “Marius  elogiado  tanto  

pela   temperança  quanto  pela  resistência,  dos  quais  ele  deu  um  exemplo  decidido  em  

uma  operação  de  cirurgia.  Por   ter,   como  parece,  ambas  as  pernas  cheias  de  grandes  

varizes  (tumores),  e  não  gostando  da  deformidade,  determinou  colocar-­‐se  nas  mãos  de  

um  operador;  quando,  sem  ficar  amarrado,  esticou  uma  das  pernas,  e  silenciosamente,  

sem  mudar  de  semblante,   sofreu  os  maiores   tormentos  no  corte,  nunca  vacilando  ou  

reclamando;   mas   quando   o   cirurgião   foi   à   outra,   ele   recusou-­‐se   a   fazê-­‐lo,   dizendo:  

“Vejo  que  a  cura  não  vale  a  dor.””60  

Mas,  Celsus  (25  aC-­‐50),  de  Roma,  no  início  do  séc.  I,  embora  não  tenhamos  a  certeza  

de   que   tivesse   sido   médico,   foi   um   dos   primeiros   a   operar   veias   varicosas,  

aconselhando  a  cauterização,  para  as  veias  doentes,  mas  ainda  pouco   tortuosas,  e  o  

corte,  para  as  varicosas,  sugerindo  “A  pele  subjacente  é  incisada,  depois  a  veia  exposta.  

As   margens   da   pele   são   mantidas   afastadas   por   ganchos;   com   um   bisturi   a   veia   é  

separada  do  tecido  circundante,  evitando  um  corte  na  própria  veia;  por  baixo  da  veia  é  

passado  um  gancho  rombo;  o  mesmo  procedimento  é  repetido  a  intervalos  de  quatro  

dedos   travessos,   ao   longo   do   curso   da   veia   que   é   facilmente   delineado   puxando   o  

gancho.”61,  técnica,  em  muito,  semelhante  à  flebectomia  em  ambulatório  que  hoje  se  

executa.  

Galeno,   foi  um  dos  primeiros  a  defender  a  necessidade  de  tratar  a  causa  da  afeção  

para  lograr  a  sua  cura,  nomeadamente  no  caso  de  úlceras  da  perna62.  Vários  autores  

Aspetos históricos das veias e varizes

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relatam   que   Galeno   usava   um   gancho   rombo63a   entre   duas   ligaduras   para   extirpar  

veias  dilatadas,  mas  nenhum  indica  onde  colheu  esta  informação.  

Oribasius  (320-­‐403),  de  Pergamo,  para  além  da  tática  cirúrgica,  foi  o  primeiro  a  referir-­‐

se  à  preparação  pré-­‐operatória,   quando  disse   “1.  A   resseção  de   veias   é   preferível   à  

ligadura,  o  que  pode   causar  novas   varizes;   2.   Tricomize  e   lave  o  membro   (com  água  

quente)   antes   de   operar;   3.   Enquanto   o   membro   ainda   estiver   quente,   marque   as  

varizes  na  pele  com  o  doente  em  pé;  4.  Excise  as  veias  da  perna,  antes  das  da  coxa;  5.  

Remova  os  coágulos  sanguíneos  (hematomas)  por  pressão  no  membro  operado.”64  

Segundo   Friedman65a,   os   santos   Cosme   e   Damião   foram   os   primeiros   a   tentar   uma  

anastomose  vascular,  para  “reimplantar”  a  perna  de  um  etíope  que  tinha  morrido,  e  a  

fim  de  substituir  a  que  tinham  amputado  a  um  servo  da  igreja,  porque  tinha  um  tumor.  

Este   autor   é   o   único   que   o   refere,   pois   em   toda   a   bibliografia   e   relatos   históricos  

conhecidos,  aquele  ato  é  considerado  um  milagre.  Uniram  o  membro  do  “dador”  ao  

coto  do  “recetor”  e  ficou  feita  a  “transplantação”.  

Ainda   segundo   Friedman65b,   Aetius   (502-­‐575),   de   Amida,   na   Mesopotâmia,   foi   o  

primeiro  a  aconselhar  a  laqueação  das  veias  varicosas,  para  tratamento.  

No  Período  Negro  da  história,  Trevas  da   Idade  Média,  Dark  Ages,   -­‐  do   séc.  V,   com  a  

queda   do   Império   Romano,   até   ao   séc.   XV,   com   o   Renascimento,   genericamente  

correspondente  à  Idade  Média  -­‐  pouca  progressão  do  conhecimento  se  verificou,  tanto  

na   arte   como   na   literatura.   Na   medicina,   as   opiniões   de   Galeno,   nomeadamente  

quanto   à   etiologia   das   doenças   e   da   anatomia,   mantiveram-­‐se   até   Vesalius   ter  

começado  a  sua  contestação.  A  cirurgia,  teve  algumas  exceções.  Foram  os  três  autores  

que  se  seguem.  

Paulus  Ægineta  (625-­‐690),  grego  de  Egina,  aluno  de  Alexandria,  era  adepto  da  Teoria  

dos  Humores,  e  sobre  as  varizes  dizia  “Na  maior  parte  das  vezes  a  sua  origem  deriva  de  

um   humor  melancólico.”   Foi   o   primeiro   a   descrever   a  marcação   prévia   das   veias   a  

excisar,  com  o  doente  em  pé,  e  a  sugerir  a  laqueação  “alta”  da  grande  safena.  Depois  

de  lavar  o  membro  e  aplicar  ligadura  na  região  superior  da  coxa,  pedia  ao  doente  para  

caminhar  e  “...  onde  a  veia  está  distendida,   fazemos  uma   incisão  sobre  a  marca  com  

um  bisturi...  ;  e  separando  os  lábios  da  ferida  com  ganchos  e  dissecando  as  membranas  

com  dissetor  curvo63b,...  e  desnudamos  a  veia  e  libertamo-­‐la  a  toda  a  volta,  tiramos  a  

ligadura  da  coxa  e  tendo  levantado  o  vaso  com  um  gancho  cego  e  introduzido  debaixo  

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dela  uma  agulha  com  fio  duplo,  cortamos  o  duplo  e,  abrindo  a  veia,  no  meio  com  uma  

lanceta,   evacue   tanto   sangue   quanto   seja   necessário...”66,   ou   seja,   defendia   a  

laqueação  com  ou  sem  excisão  da  veia  e  a  sangria  ou  flebotomia.  

Para   Albucassis   (936-­‐1013),   de   Córdova,   as   “Varizes   são   veias   grossas   cheias   com  

excesso   de   melancolia...”   e   sugeria,   no   ano   1000,   após   a   preparação   do   membro,  

esquematicamente:   desde   o   tornozelo   à   virilha,   incisão   da   pele   por   cima   da   veia,  

passar   sonda  por  baixo,   levantar  a  veia  com  gancho,  outra   incisão   três  dedos  acima,  

isolamento   e   secção   da   veia,   disseção   para   excisão   pela   incisão   inferior   e   assim  

sucessivamente,  até  tirar  toda  a  safena.  Mostrava,  ainda,  imagens  dos  dissetores  que,  

sugeria,   deviam   ser   utilizados67.   Esta   técnica   não   difere   muito   da   safenectomia  

parcelar  sequencial,  que,  ainda  hoje,  alguns  cirurgiões  praticam.  

 O  terceiro  autor  do  Período  Negro  foi  Guy  de  Chauliac  (1298-­‐1368),  de  Avignon,  que,  

em  1363,  preconizava  a  cura  das  varizes  para  tratar  a  úlcera  e,  para  extirpar  a  grande  

safena,   como  Albucassis,   sugeria  dois  métodos.  O  primeiro,   “A   incisão   é  assim   feita:  

tendo   ligado  a  coxa  até  ao   joelho,  a  veia  é  cortada  e  aberta  em  dois  ou  três   lugares,  

depois  pressionando  e  conduzindo  o  sangue  para  os  lugares  abertos,  tanto  quanto  for  

possível,  será  extraído”  e  o  segundo  “...  ligando  a  coxa  até  ao  joelho,...  incisando  a  pele  

nos   locais   das   varizes...   que   se   apanha   a   veia   com   crochets,   sem   que   seja   aberta:   e  

puxa-­‐se  de  modo  a  que  seja  arrancada  de  alto  a  baixo.”14b  Preferia  a  primeira  técnica,  

mas  Franceschi  bem  se  pode  ter  baseado  na  segunda,  para,  com  ajuda  do  ecoDoppler,  

descrever  o  método  que  ficou  conhecido  por  CHIVA68,    só  publicado,  cerca  de  600  anos  

depois,  em  1985.  

Assim,  Ambroise  Paré  preconizou  dois  tipos  de  tratamento  das  varizes;  por  isolamento  

e  laqueação  da  veia  (mas  não  a  sua  secção,  por  receio  de  hemorragias22c),  fazendo,  se  

necessário,   sangria   da   “quantidade   indicada”;   e   utilizando   a   cauterização   em   cima  

(junto  à  junção  safeno-­‐femoral?)  e  em  baixo  (junto  ao  maléolo?),  “...  que  rói  e  corta  a  

veia:   então   retira-­‐se  para   cima  e  para  baixo:   e  por   este  meio  permanece  um  espaço  

vazio,  onde  depois  nasce  a  carne;  e  depois  a  cicatriz  que  será  dura  e  espessa,  impedirá  

o fluxo   bloqueando   a   passagem   da   referida   veia.”22c,   completando,   sempre,   com

ligadura  compressiva,  que  abranja  toda  a  perna  (do  pé  ao  joelho).  Parece  um  tipo  de  

safenectomia,  por  stripping  parcelar,  mas  nenhum  autor  o  apresentou  como  pioneiro  

desta  técnica.  

Aspetos históricos das veias e varizes

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O   parisiense   Pierre   Dionis,   preconizou   “Entendemos   pela   palavra   varizes   veias  

dilatadas   que   exigem   uma   operação   para   as   curar   ,   que   se   chama   kirsotomie   ,   que  

deriva   de   kirsos,   que   significa   variz   ,   &   de   tomnin   ,   que   quer   dizer   cortar   porque  

consiste  numa  abertura  que  se  faz  nessas  varizes  ou  veias  dilatadas  &  engurgitadas.”,  

No   seu   tratado   Cours   d’opérations   de   Chirurgie,   publicado   em   1708,   apresenta   três  

métodos   de   tratamento:   aplicação   de   remédios   adstringentes,   para   fortalecer   as  

paredes  da  veia;  aplicação  de  ligadura  no  membro  ou  botina  de  gros  linge  ou  pele  de  

cão   (como   a   preconizada   por   Wiseman);   e   o   terceiro,   a   abertura   da   veia   para   a  

esvaziar.  Prefere  o  segundo  método,  mas  teve  muito  bons  resultados  com  a  aplicação  

de  adstringentes  e  ligadura,  que  considerava  ter  um  papel  importante  na  cura28a,  pois  

já  era  conhecida  e  aceite  a   teoria  da  gravitação  universal,   revelada  por  Newton,  nos  

finais  do  século  XVII.  

Everard  Home   (1756-­‐1832),  em  1797,  descreve  nove  casos  de  tratamento  de  úlceras  

venosas  com  laqueação  da  safena  acima  daquela,  conseguindo  a  sua  cura69a.  Também  

tratou  safenas  doentes  sem  úlcera,  conseguindo  em  três  casos  que  apresenta,  redução  

das  dores  e  do  edema  do  membro69b.  

Tommaso   Rima,   ainda   em   1806,   defendeu   a   laqueação   alta   da   grande   safena   “O  

sangue   que   desceu   da   grande   safena   encontrou   na   ligação   um   obstáculo   que   não  

podia  ser  superado.”31c  

Segundo   Loudon,   Brodie   propunha,   em   1816,   introduzir   uma   lâmina   de   bisturi  

perpendicularmente  à  pele,  junto  à  veia  a  tratar,  e  rodá-­‐la  para  seccionar  a  veia69,  e  a  

ferida   geralmente   cicatrizava   após   alguns   dias.   No   entanto,   às   vezes   seguia-­‐se   uma  

flebite  grave  e  Sir  Benjamin  dizia  que  “embora  as  veias  geralmente  curem  sem  ficarem  

obliteradas;   e   no   caso   do   ramo   ficar   obstruído,   outros   tomaram   seu   lugar   e   não   se  

obteve  nenhum  benefício."33c,  estranhando  que  não  se  verificassem  flebites,  quando  se  

laqueavam  veias,  em  amputações.  

Alfred   Velpeau   (1795-­‐1867)   em   1838,   por   via   percutânea,   com   uma   agulha   curva,  

introduzia  um  fio  rodeando  (entrava  por  baixo  e  saía  por  cima),  por  dentro  da  pele,  a  

veia  a   laquear  e  dava  o  nó   fora   (nó  em  ∞)70  ou   “...   introduzir  um  estilete  ou  agulha  

através   da   pele,   que   é   passada   por   baixo   da   veia   e   em   ângulo   reto.   Aplica-­‐se   uma  

sutura   em   volta   das   duas   extremidades   do   estilete,   de   modo   a   comprimir   a   veia   o  

suficiente  para  produzir  obliteração...  “5  

Aspetos históricos das veias e varizes

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Max   Schede   (1844-­‐1902),   de   Hamburgo,   pioneiro   da   antissepsia   na   Alemanha,   em  

1877,  sugeriu  múltiplas   laqueações  percutânea  das  varizes71  e  Otto  Madelung   (1846-­‐

1926),  de  Strasbourg,  em  1885,  a  excisão  total  da  grande  safena  e  colaterais  varicosas,  

“a   céu   aberto”,   com   grandes   incisões   sobre   todo   o   comprimento   da   grande   safena,  

técnica  que  foi  abandonada,  pois  o  próprio  Madelung  teve  mortes  por  hemorragia,  no  

pós-­‐operatório71.  

Friedrich   Trendelenburg   (1844-­‐1924),   de   Leipzig,   em   1890,   11   séculos   e  mais   de   80  

anos  depois,  “reanimou”  as  operações  sugeridas  por  Paulus  Ægineta  e  Tommaso  Rima,  

respetivamente,   propondo   a   laqueação   “alta”   da   grande   safena.   Mas   para  

Trendelenburg,  este  “alta”,  era  na  união  do  terço  médio  com  o  terço  inferior  da  coxa,  

pois   tinha   medo   das   hemorragias   se   a   abordasse   na   virilha72.   Também   utilizou   o  

método  de   laqueação  e  excisão  da   safena,   aconselhado  por  Albucassis,   no   séc.   XI,   e  

aplicou-­‐o   às   colaterais.   Vulgarizou   o   teste,   já   descrito   por   Benjamin   Brodie,   para   o  

diagnóstico  de  varizes.  

Em  1896,  Jerry  Moore  (1859-­‐1927)72,  de  Melbourne,  e,  segundo  António  Coito,  Pierre  

Delbet  (1861-­‐1957)39c  (bibliografia  que  não  conseguimos  consultar),  de  Paris,  em  1897,  

alteraram  o  método  de  Trendelenburg,  e  propuseram,  realmente,  a  laqueação  alta  da  

grande   safena,   junto   à   junção   safeno-­‐femoral,   com   anestesia   local,   reconhecendo   o  

papel   do   refluxo   na   patogénese   das   varizes.   Se,   como   se   pensava   na   época,   a  

insuficiência  valvular  começa  pela  válvula  junto  à  junção  safenofemoral,  o  tratamento  

mais  eficaz  será  laquear  a  grande  safena,  o  mais  alto  possível,  excisando  esta  e  as  veias  

doentes.  

Começaram   a   surgir   técnicas   de   safenectomia:   por   stripping   invaginante   (interno),  

introduzida  em  1905,  por  William  Keller   (1874-­‐1959),  de  Chicago,  no  que  foi  seguido  

por  Charles  Mayo  (1865-­‐1939),  de  Rochester,  em  1906,  com  um  fleboextrator  em  anel  

(externo),   e,   em   1907,   por  William   Babcock   (1872-­‐1963),   de   Philadelphia,   com   um  

dispositivo  mais  maleável,  endoluminal73.  

Segundo   Caggiati   e   Allegra5,   em   1920,   Cole   sugeriu   limitar   a   safenectomia   à   coxa,  

método,  que  quando  indicado,  ainda  hoje  é  recomendado.    

Em  1908,  surgiu  a  operação  de  Rindfleisch-­‐Friedel,  tentativa  para  tratar,  para  além  da  

grande  safena,  as  colaterais  varicosas74,  mas  os  graves  problemas  de  cicatrização,  com  

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pós-­‐operatórios  complicados  e  o  terrível  resultado  estético,  rapidamente  a  eliminaram  

das  alternativas  a  considerar  no  tratamento  das  varizes.  

John  Homans,   no   Tratado  de  Cirurgia,   que  publicou  em  1931,   refere  que,   embora   a  

tendência   para   cura   das   varizes   seja   a   “...   injeção   de   esclerosante   químico...   ”  

(referindo-­‐se,  muito  provavelmente,  à  sugestão  que  Unger  apresentou  em  1927  e  foi  

abandonada   pelas   complicações   que   causava)   o   tratamento   deve   ser   “Secção   da  

grande   safena  na  virilha,  de  preferência,   sob   infiltração  anestésica   local,...     que  deve  

ser  laqueada  e  seccionada  onde  se  junta  à  femoral...  Alguns  cirurgiões  preferem  fazer  

uma   laqueação  preliminar  da  safena  na   região  do   joelho...  e  uma   injeção   retrógrada  

dum  esclerosante  químico  pode   ser   efetuada  pela   incisão   superior...   “52b,   apontou  as  

varizes  como  causa  de  úlcera  da  perna  (“varicose”  ulcer)52c,  assim  como  a  TVP52d,  logo  

a  causa  da  úlcera  será  a  trombose.  

João  Cid  dos  Santos,  em  1937,  aponta  como  vantagens  da   flebografia  direta  as   suas  

consequências   terapêuticas  “...   controlo  das  terapêuticas  esclerosantes;  emprego  das  

soluções   de   contraste   como   agentes   de   esclerose;   finalmente,   utilização   da   injeção  

retrógrada  com  estase  como  método  terapêutico  não  esclerosante  no  tratamento  das  

consequências  das  flebites  –  eczemas  e  úlceras.”54    

Para  o  seu  discípulo  António  Coito,  em  1957,  “...  ao  efectuar  a  laqueação  da  crossa  da  

safena  interna,  da  crossa  da  safena  externa  e  das  veias  comunicantes,  é  fundamental  

obter   uma   boa   exposição   da   veia   profunda   correspondente,   de  modo   a   interromper  

todas  as  ligações  entre  o  sistema  venoso  profundo  e  o  sistema  venoso  superficial,  em  

cada  um  desses  níveis.”39d  

Thomas   Myers,   em   1955,   aperfeiçoou   o   stripper   endoluminal   flexível74   e   Robert  

Muller   (1919-­‐2012),   dermatologista   de   Berna,   em   1966,   descreveu   a   sua   técnica  

cirúrgica   de   tratamento   das   varizes   por   pequenas   incisões   com   flebectomias  

segmentares  -­‐  técnica  chamada  de  "flebectomia  de  Muller"  ou  miniflebectomia75.  Em  

ambulatório  e  com  bons  resultados  estéticos,  foi  adotada  por  todos  os  cirurgiões.  

Teixeira   Diniz   (1926-­‐)76,   em   1979,   é   perentório   quando   afirma   que   devem   ser  

laqueadas  todas  as  colaterais  da  grande  veia  safena,  aquando  da  sua   laqueação  alta,  

pois   “Um   desses   afluentes,   por   pequeno   que   seja,   deixado,   inadvertidamente,  

submetido  às   hiperpressões,   dilatar-­‐se-­‐á   e   será   a   causa  de   uma   recidiva   da   situação  

varicosa   através   de   veias   colaterais   que   irão   estabelecer   a   comunicação   do   coto   da  

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crossa  com  o  tronco  da  safena  no  terço  superior  da  coxa.  No  caso  de  ter  sido  feita  uma  

safenectomia  (stripping)  a  recidiva  far-­‐se-­‐á  através  da  rede  superficial  da  coxa.”.  Esta  

opinião   foi   seguida  por   todos  os   cirurgiões,   até  aparecerem  os  meios  de   tratamento  

endovasculares  que  fazem  a  destruição  da  grande  safena  a  partir  de  cerca  de  2  cm  da  

junção  safenofemoral.  

Claude   Franceschi   (1942-­‐),   cientista   francês,   em  1985  descreveu  pela  primeira   vez   a  

Cura   CHIVA68,   já   atrás   mencionada,   publicando   quatro   anos   depois   o   seu   trabalho.  

Consiste   em   marcar,   pré-­‐operatoriamente,   os   segmentos   refluxivos   com   ajuda   do  

ecoDoppler,  e  laqueá-­‐los  com  anestesia  local.  

Em   1993,  Andreas   Oesch   (1945-­‐),   de   Berna,   descreveu   o   pin-­‐stripping   -­‐   invertido   e  

retrógrado77.  

Para   tratamento   dos   troncos   venosos   surgiram   métodos   endovasculares,   a   ablação  

termal   por   radiofrequência   (RF)78   e   laser,   que   receberam   a   aprovação   da   FDA,  

respetivamente  em  1999  e  em  200279.  

Com   a   ajuda   do   ecoDoppler,   entre   outros   autores,   Pereira   Alves,   em   2012,   após  

classificar  os  refluxos  em  axial  e  segmentar,  propõe,  nestes,  flebectomias  de  colaterais  

varicosas,  preservando  a  grande  safena,  reservando  a  cirurgia  clássica  para  as  varizes  

com  refluxo  axial41.  Em  2016,  confirmou  este  conceito,  após  seguimento    de  doentes  

operados   durante   12   meses,   respondendo   com   um   Sim.   Podemos!   à   pergunta  

Podemos   preservar   a   GVS   quando   o   refluxo   é   segmentar?80,   concordando   com  

Salvador  Marques,  atrás  referido.  

Se   as  perfurantes   podem   ser   causa   de   varizes   e   úlceras,   é   porque   são   insuficientes,  

logo  devem  ser   laqueadas.  Foi  a   ideia   inicial  quando,  em  1938,  Robert  Linton   (1900-­‐

1979),   depois   de   um   excelente   trabalho   de   disseção   anatómica   dirigida,   propôs   a  

técnica  que  ficou  conhecida  com  o  seu  nome,  para  laquear  as  perfurantes  insuficientes  

dos  grupos  medial,  anterior  e  lateral  da  perna.  Mas  a  incisão  proposta  é  muito  extensa  

“...   do   nível   do   limite   inferior   do  maléolo  medial,...   até   logo   abaixo   da   extremidade  

superior   da   tíbia...   “81,   com  problemas   de   cicatrização   e   estéticos,   embora   eficaz   na  

resolução  dos  problemas.  

Também  depois  de  excelente  trabalho  de  disseção  de  membros  de  cadáver  e  estudos  

venográficos,   Frank   Cockett   (1916-­‐2014),   de   Londres,   fez   a   proposta   seguinte   para  

tratamento   das   perfurantes,   por   incisão   mais   curta   que   a   sugerida   por   Linton.   Em  

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artigo  publicado  em  1955,  refere  “A  tese  de  que  as  úlceras  venosas  e  a   induração  da  

perna   são   geralmente   devidas   à   destruição   das   válvulas   nas   veias   perfurantes   do  

tornozelo  é  apresentada  e  apoiada  por  evidências  clínicas,  venográficas,  anatómicas  e  

experimentais.   Com   base   nesta   tese,   é   descrita   uma   operação   para   a   laqueação  

extrafascial   dessas   perfurantes   insuficientes   e   excisão   da   úlcera   (se   presente).”82  

Obteve   bons   resultados,   nos   201   membros   que   operou.   Algumas   vezes   tentou  

melhorar  o  aporte  arterial  ao  membro,  fazendo  simpaticectomia  lombar.  Harold  Dodd  

(1899-­‐1987),  de  Londres,  em  1964,  pouco  alterou  a  técnica  proposta  por  Cockett,  que  

termina   dizendo   “A   laqueação   das   veias   perfurantes   deficientes   no   tornozelo   é   o  

remédio  mais  efetivo  que  requer  precisão  anatómica  (ou  seja,  exposição  clara  da  tíbia  

e  peróneo),  assepsia,  hemostasia  e  gentileza.”83  

De   Pereira   Alves,   já   referimos   atrás,   o   conceito   que   a   hipertensão   venosa   pode  

começar  no  sistema  superficial  e  só  depois  passar  ao  profundo,  pelo  que  sugeriu,  em  

2001,  “A  confirmar-­‐se  como  correto,  este  conceito  iria  ter  como  importante  implicação  

a   possibilidade   de   uma   cirurgia   precoce   sobre   a   insuficiência   superficial   evitar   a  

insuficiência   nos   sistemas   perfurante   e   profundo.”40c,   mas,   até   agora,   ainda   não   foi  

demonstrado.  Nesta   opinião,   estava   acompanhado  por  Sidney  Rose   (1917-­‐2014),   de  

Manchester84.  

A  laqueação  subfascial  das  perfurantes,  atrás  referida,  para  obviar  as  complicações  da  

cicatrização  das   feridas,  que  aumentam  o,   já  por   si   grande,   tempo  de   internamento,  

evoluiu   para   a   endoscopia   (SEPS).   É   um   procedimento   minimamente   invasivo,  

introduzido   por  Hauer,   em   19855,   depois   desenvolvido   por   Fisher   e  Mozes,   que   no  

artigo   publicado   em   199685,   fazem   uma   boa   revisão   da   anatomia   e   objetivos   da  

técnica.   Entre   nós   tem   sido   CE   Costa   Almeida   (1980-­‐),   de   Coimbra,   um   grande  

divulgador   deste   método,   que,   para   além   de   um   curso   anual   promovido   pelo   seu  

serviço   (Serviço   de   Cirurgia   C   dos   CHUC,  Diretor:   Prof.   Doutor   Costa   Almeida),   onde  

ensina   a   técnica,   tem   artigos   publicados   sobre   o   tema86,   87,   nos   quais  mostra   a   sua  

casuística  e  as  vantagens  desta  técnica.  

A  cirurgia  da  disfunção  venosa  foi  evoluindo  e,  para  só  citar  alguns  autores,  em  1953,  

Eisemann   e  Malette   propuseram   a   primeira   tentativa   para   restauração   da   função  

valvular,  produzindo  estruturas  tipo-­‐válvulas  juntando  pregas  em  dois  locais  da  parede  

venosa   à   frente   um   do   outro5.   Palma,   de   Montevideo,   em   1958,   descreveu,   para  

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tratamento   da   síndrome   pós-­‐flebítica,   a   técnica   de   anastomose   safenofemoral  

contralateral88  e  Palma  e  Esperon  o  enxerto  femorofemoral  cruzado  para  a  oclusão  da  

veia   ilíaca89.   Robert   Kistner,   em   1968,   foi   o   primeiro   a   reconstruir   válvulas   (Vs)   do  

sistema   venoso   profundo90,   tendo   sugerido   várias   técnicas,   nomeadamente   a  

valvuloplastia  externa91.  Em  1982,  Taheri  descreveu  a   transferência  de  um  segmento  

de  veia  axilar  para  corrigir  Vs  insuficientes,  aplicável  na  síndrome  pós-­‐trombótica92.  A  

evolução  foi  muito  grande  até  Corcos,  que,  em  1997,  propôs  reconstruir  uma  válvula  

monocúspide   a   partir   de   um   retalho   de   íntima93   e   Raju,   em   1999,   a   valvuloplastia  

transcomissural94.  Em  2006,  Oscar  Maleti,  cirurgião  em  Modena,  ensaiou  também  Vs  

bicúspides   e   considerou   os   resultados   animadores,   porque,   embora   não   tivesse  

conseguido   abolir   todo   o   refluxo,   foi   possível   diminuí-­‐lo   o   suficiente   para   obter   um  

alívio  acentuado  nos  sintomas95.  

Em  medicina  e,  nomeadamente,  em  cirurgia,  uma  técnica  só  dá  bons  resultados  se  for  

aplicada  nas  indicações  corretas  e  por  quem  tem  experiência  em  a  executar.  Foi  o  caso  

da  que  acabámos  de  referir  e  é  o  da  escleroterapia  para  tratar  as  varizes  e  perfurantes  

insuficientes.  O  relato  da  evolução  histórica  deste  método,  neste  caso  é  exceção,  pois  

foi  escrita  por  quem  vos  vai  falar,  nesta  monografia,  sobre  esta  técnica,  Pratas  Balhau.  

Aconselhamos,   aos   colegas   que   queiram   iniciar-­‐se   nesta   técnica,   a   leitura   da  

monografia   Esclerose   química   das   varizes,   coordenada   por   este   autor,   editada   em  

2006,  pelo  Capítulo  de  Cirurgia  Vascular  da  Sociedade  Portuguesa  de  Cirurgia.    

O  primeiro  exemplo  que  se  conhece  é  o  de  Elsholtz  que,  em  1667,  na  obra  Clysmatica  

Nova,  relata  o  caso  de  um  soldado  portador  de  úlcera  da  perna  muito  antiga  e  rebelde,  

curada,   quase   milagrosamente,   após   uma   “infusão”   de   tanchagem   praticada   numa  

veia   da   perna,   vizinha   da   úlcera.   Na   época,   não   foi   encontrada   uma   explicação  

minimamente  correta  para  esse  facto.    

No  século  XVII,  após  a  descrição  da  circulação  sanguínea  feita  por  William  Harvey  em  

1628,  dois  homens  excecionais,  Sir  Christopher  Wren,  artista,  arquiteto  e  astrónomo,  

e   Robert   Boyle,   químico   bem   conhecido,   juntaram   a   sua   inteligência   e   imaginação  

para,  não  sendo  médicos,  contribuírem  decisivamente  para  dotar  a  medicina  dum  dos  

seus  instrumentos  mais  notáveis:  a  agulha  oca.  Num  cão  imobilizado  sobre  uma  mesa,  

isolaram  uma  das  veias  superficiais  da  pata  e  com  uma   lanceta  praticaram  nela  uma  

pequena  abertura,  por  onde  introduziram  um  tubo  ligado  a  uma  seringa  para  clisteres,  

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fixando   tudo   com   uma   ligadura.   Injetaram   então   uma   solução   quente   de   ópio,   e   o  

animal  evidenciou  os  efeitos  da  droga  –  primeiro  indivíduo  na  História  drogado  por  via  

intravenosa!    

Ainda  no  século  XVII,  há  notícia  de  “infusões”  venosas  com  a  ajuda  de  uma  bexiga  de  

porco  ligada  a  um  osso  de  galinha  oco  talhado  em  bisel.  Essas  infusões  consistiam  em  

introduzir  numa  veia  (geralmente  do  braço,  mas  por  vezes  também  da  perna)  soluções  

destinadas  a  agir  sobre  o  estado  geral  do  indivíduo  e  que  provocavam  muitas  vezes  um  

“choque”  devido  à  causticidade  do  produto,  à  sua  toxicidade  ou  à  sua  não-­‐esterilidade.  

E   por   essa   altura,   e   por   esse   mesmo   método,   um   ajudante   de   caça   de   um   nobre  

alemão   entretinha-­‐se   a   embriagar   cães   com   vinho   e   aguardente   infundidos  

diretamente  na  circulação...  

Monteggia,   cirurgião   italiano,   em  1813,   sugeriu   a   ideia  de   “coagular   o   sangue”  dum  

aneurisma,  introduzindo  no  saco  um  coagulante:  álcool,  acetato  de  chumbo  ou  tanino.  

O  cirurgião  de  Lyon,  Charles  Gabriel  Pravaz  resolveu  também,  em  1841,  “trombosar”  

os   aneurismas   arteriais.   Para   tal   efeito   aperfeiçoou   a   seringa   de   injeção   e   inventou  

uma  agulha  em  aço.  Os  seus  ensaios  saldaram-­‐se  por  insucessos;  contudo,  no  mesmo  

ano,  os  seus  alunos  aplicaram  o  método  às  varizes,  com   injeções  de  uma  solução  de  

percloreto   de   ferro,   obtendo   alguns   resultados,   embora   pobres.   Tentaram   outros  

esclerosantes,  como  o  iodo  tânico,  mas  os  resultados  melhoraram  muito  pouco.  

A  explicação  destes   insucessos   foi  encontrada  por  Delore,  que  afirmou,  em  1894,  no  

Congresso   de   Cirurgia   de   Lyon,   que   o   efeito   durável   do   esclerosante   não   residia  

unicamente   na   formação   do   trombo,   mas   também   na   lesão   do   endotélio   varicoso  

conseguida.  

O   reaparecimento   do   interesse   pela   esclerose   de   varizes   remonta   à   primeira   guerra  

mundial.   A   mistura   das   populações   favoreceu   a   propagação   das   doenças   venéreas  

como  a  sífilis.  Tratava-­‐se  esta,  nesse  tempo,  com  numerosas  injeções  intravenosas  de  

Novarsénobenzol,  as  quais  tinham  o  inconveniente  de  levar  a  uma  esclerose  das  veias  

dos  braços.  Na  falta  destas,  o  médico  alemão  Karl  Linser  recorria  às  injeções  nas  veias  

varicosas  dos  membros  inferiores.  E  obtinha,  casualmente,  a  sua  esclerose.  Daí  nasceu-­‐

lhe  a  ideia  de  utilizar  sistematicamente  este  efeito  para  o  tratamento  de  varizes.  Com  

esse  objetivo,   a  partir  de  1916   injetou   sublimado,   a  0,5  e  a  1  %,  e,  mais   tarde,  uma  

solução  hipertónica  de  cloreto  de  sódio.  

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Ao   mesmo   tempo   e   por   motivos   idênticos,   Jean   Sicard,   em   1919,   fazia   as   mesmas  

constatações   e   aplicava   o   mesmo   princípio   no   tratamento   das   varizes.   Utilizou,  

inicialmente,  uma  solução  de  carbonato  de  sódio,  mas  como  os  seus  resultados  não  o  

satisfaziam,  mudou  para  uma  solução  hipertónica  de  salisilato  de  sódio.  Linser  e  Sicard  

tornaram-­‐se,  assim,  os  pais  do  tratamento  esclerosante  atual.  

Os   discípulos   destes   dois   pioneiros,   desenvolveram   este   procedimento   terapêutico.  

Depois  de  1920,  o   sucesso  da  esclerose  de  varizes   foi   tal  que,  entre  as  duas  guerras  

mundiais,   a   cirugia   venosa   foi   completamente   apagada.  Raymond   Tournay,   o   aluno  

mais   conhecido   de   Sicard,   afinou   cada   vez   mais   esta   técnica   e   as   suas   indicações.  

Efetuou   a   primeira   expressão   das   retenções   hemáticas   intravaricosas.   Formou   uma  

verdadeira   escola,   cuja   experiência   foi   narrada   no   livro   “La   sclerose   des   varices”  

publicado  em  1972  e  reeditado  numerosas  vezes.  

Nos  países  germanófonos,  a  esclerose  foi  lançada  por  numerosas  publicações  e  várias  

edições   do   livro   “Varizen,   ulcus   cruris   und   thrombose”,   a   primeira   em   1976,   de   Karl  

Sigg,   e   foi   assim   conhecida   por   muitos   médicos.   Mas,   contrariamente   a   Raymond  

Tornay,  Sigg  recusava  toda  a  indicação  cirúrgica,  e  tratava  por  conseguinte,  mesmo  as  

varizes  de  grande  calibre,  por  uma  técnica  própria  que  não  se  impôs  fora  dos  países  de  

língua  alemã.  

William  George  Fegan,  irlandês,  deixou  o  seu  nome  indelevelmente  ligado  à  esclerose  

com  compressão  elástica,  tal  como  hoje  se  pratica.  

A  bibliografia  encontra-­‐se  no  capítulo  correspondente.  

Quanto   à   contenção   nos   membros   inferiores,   encontrámos   figuras   humanas   com  

ligaduras  nos  membros   inferiores,  do  período  Neolítico,  10000-­‐3000  aC  (Fig.  4)96,  em  

gravuras  nas  grutas  de  Tassili,  na  Argélia,  provavelmente  com  fins  rituais,  mas  também  

terapêuticos.  

Hippocrates  (395  aC)  sugeria  efetuar  contenção  com  dupla  ligadura  de  linho  para  fazer  

uma  compressão  firme,  após  aplicar  um  penso  com  várias  ervas  e  vinagre7,  Celsus  após  

a   excisão  das   varizes  preconizava   “Depois   que  a  perna   foi   assim   liberada  por   todo  o  

lado,   as   margens   das   incisões   são   juntas   e   um   gesso   aglutinante   é   colocado   sobre  

elas.”61  e  Galeno,  descreveu  ligaduras  de  lã,  linho  e  couro.  Para  Henry  de  Mondeville  

(1260-­‐1316),  em  1312,  era  importante  aplicar  ligaduras  na  perna,  para  tratar  as  úlceras  

“...   porque  ela   repele  e  ostiliza  os  humores  nocivos  em  que  a  perna  e  a  úlcera  estão  

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embebidas;...   ”97.   Guy   de   Chauliac,   em   1363,   depois   de   tratar   as   varizes,   sugeria  

“Depois   a   ferida   deve   tratar-­‐se   com   lã   encharcada   em  óleo   e   vinho,   até   à   cura.”   ou  

ligaduras   de   linho,   com  aplicação  dum  esparadrapo  de  óxido  de   chumbo,   sulfato  de  

alumínio  e  potássio,  azeite  e  água14b,  semelhante  à  ligadura  que  Unna  apresentou  mais  

de  500  anos  depois.  

 Fig.  4  -­‐  Gravura  rupestre  das  grutas  de  Tassili,  Sahara,  Argélia,  onde  se  veem  ligaduras  nas  

pernas  do  guerreiro(?).    Foi   Wiseman,   em   1676,   que   idealizou   e   construiu   o   primeiro   dispositivo   para  

contenção   venosa   da   perna,   feito   em   pele,   que   podia   exercer   vários   graus   de  

compressão,  porque  tinha  atacadores,  precursor  das  atuais  meias  elásticas72  (Fig.  5).  

 

Fig.  5  -­‐  Dispositivo  para  contenção  dos  membros  inferiores,  em  pele  -­‐  Wiseman,  1676.  

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 Em  1708,  Pierre  Dionis  (1643-­‐1718),  no  seu  tratado  Cours  d’Operations  de  Chirurgie,  já  

atrás  referenciado,  dedica  o  Capítulo  VII  às   ligaduras,  descrevendo,  com  pormenor,  o  

material  de  que  devem  ser  feitas  e  a  maneira  de  as  colocar.  Na  pág.  48,  refere  “...  &  

quando   se   aplica   na   perna,   começa   por   uma   atadura   (volta)   passando   em   primeiro  

lugar  debaixo  do  pé,  &  subindo  rastejando  para  a  parte  superior  da  coxa...  ”28b,  técnica  

que  ainda  hoje  é  aplicada.  

Lorenz   Heister   (1683-­‐1758),   de   Helmstedt,   no   tratado  A   general   system   of   surgery,  

depois   de   apresentar   o   procedimento   de   Celsus,   a   cauterização   das   varizes,   refere  

“Mas  o  nosso  procedimento  neste  momento  é  muito  mais  suave.  Em  grandes  Varizes,  

nós   esforçamo-­‐nos   para   contrair   e   fortalecer   as   Paredes   das   Veias   dilatadas,   pela  

Aplicação   da   referida   Bandagem   expulsiva   com   Fomentações   de   Vinho   tinto,   e  

Medicamentos  adstringentes,  especialmente  Vinagre  e  Allom,  e  ligando  uma  Chapa  de  

Chumbo  fina  sobre  o  distendido  Vaso.”98  

John  Hull  (1761-­‐1843),  o  primeiro  a  apelidar  a  TVP  de  plegmasia  dolens,  sugeriu  “Em  

casos   recentes   de   algodão,   ou   rolo   de   flanela   corretamente   aplicada   pode   ser  

encontrado   suficiente;  mas  quando  a   intumescência  é  de   longa  data  e  obstinada,   eu  

preferiria  longas  tiras  de  linho,  ou  algodão,...  para  a  cura  das  pernas  ulceradas.”99    

Em  1839,  Charles  Goodyear  (1800-­‐1860),  descobriu  a  vulcanização  da  borracha  e,  nos  

100   anos   seguintes   desenvolveram-­‐se   materiais   mais   elásticos   resultantes   do  

entrelaçamento  dos  fios  de  borracha  com  os  de  algodão,  seda  ou  linho.  

Em   1884,   o   dermatologista   alemão   Paul   Unna   (1859-­‐1929),   no   livro   Histologischer  

atlas  zur  pathologie  der  haut,  descreveu  uma  bota  de  contenção  composta  de  óxido  de  

zinco,   glicerina,   gelatina   e   água   estéril,   para   tratar   edemas   de   estase   e   outras  

dermatoses,  que  ainda  hoje  é  utilizada,  e  um  seu  discípulo  Heinrich  Fischer,  em  1910,  

indicou  a  utilização  bota  Unna  para  tratamento  da  trombose  venosa  profunda  (TVP).  

Conrad   Jobst   (1889-­‐1957),   engenheiro   alemão   que   trabalhava   em   Toledo,   Ohio,  

inventou  as  meias  de   contenção,   em  1930,  que   sequencialmente   foram  melhorando  

em   conforto   e   aspeto,   ampliando   as   indicações   de   utilização,   tanto   na   profilaxia   e  

tratamento   da   TVP   e   das   suas   complicações,   nomeadamente   a   síndrome   pós-­‐

trombótica,   como   no   tratamento   das   úlceras   venosas,   na   profilaxia   das   varizes,  

particularmente  na  gravidez,  nos  pré  e  pós-­‐operatórios  imediato  e  tardio  de  varizes,  ou  

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no   tratamento   das   suas   complicações,   como   tromboflebites   e   hemorragias,   na  

profilaxia   da   TEP,   e   adjuvante   essencial   para   a   escleroterapia,   para   além   do   papel  

fundamental  no  controlo  do  linfedema.  Estas  indicações  são  muito  bem  expostas  por  

H.   Partsch   e   o   comité   que   o   acompanhou,   em   publicação   sob   o   auspício   da  

International  Union  of  Phlebology,  Evidence  based  compression  therapy100.  

Nas   últimas   décadas   do   séc.   XX   e   primeira   do   atual,   as  meias   elásticas   foram   sendo  

aperfeiçoadas   tendo   em   vista   a   compressão,   o   tamanho   e   a   estética,   tornando-­‐se  

fundamentais  no  tratamento  da  doença  venosa  crónica,  em  quase  todos  os  seus  graus.  

Mais   uma   vez   a   história   tem   avanços   e   recuos,   e   em   2016,   340   anos   depois   de  

Wiseman   ter   apresentado   a   sua   bota   de   contenção   (Fig.   3),   a   Juzo   comercializou   o  

sistema  Compression  Wrap   e   a  Medi   o  Circaid   juxtalite,   que   têm  por  base  o  mesmo  

conceito,   muito   útil   nos   membros  muito   edemaciados,   porque   pode   ser   ajustado   à  

medida  que  o  edema  diminui.  

Vai   longa   a   História   das   veias   e   das   varizes,  mas  muito   ficou   por   relatar.   A   História  

sempre  nos  ensina.  Repararam  que  muitos  conhecimentos  não   foram  valorizados  na  

sua  época  e  só  passadas  centenas  ou  milhares  de  anos  foram  redescobertos.  A  História  

ensina-­‐nos  que  é  preciso  questionar  o  saber  “dogmático”,  não  nos  conformando  com  o  

que  sabemos.  É  esta  maneira  de  estar  que  estimula  a  investigação.  

 

 

 

 

 

 

 

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ANATOMIA  DAS  VEIAS  DOS  MEMBROS  INFERIORES  

Tiago  Bilhim,  Diogo  Casal  

A  complexa   rede   venosa  dos  membros   inferiores  é   composta  por  dois   sistemas.  Um  

profundo,   composto   pelas   veias   profundas,   situadas   por   baixo   da   aponevrose  

muscular,  e,  outro  superficial,  em  que  as  veias  se  dispõem  na  gordura  localizada  entre  

a  pele  e  a  aponevrose  muscular1,   2.  Ambos  os  sistemas  têm  origem  no  pé  e  possuem  

válvulas,   sendo   mais   numerosas   no   sistema   profundo3,   4,   5.   O   sistema   venoso  

profundo,   no   pé,   compreende   duas   veias   dorsais   e   quatro   veias   plantares   (duas  

mediais  e  duas  laterais).  Continua-­‐se  na  perna,  com  duas  veias  tibiais  posteriores,  duas  

veias   fibulares,  duas  veias   tibiais  anteriores  e  dois   troncos  venosos  tibio-­‐fibulares.  As  

veias  da  perna  continuam-­‐se  ao  nível  do  escavado  popliteu  pela  veia  popliteia  que  se  

estende  desde  o  hiato  tendinoso  do  solear  ao  hiato  tendinoso  do  grande  adutor,  onde  

se   continua   pela   veia   femoral.   A   veia   popliteia   localiza-­‐se   postero-­‐lateralmente   à  

artéria   popliteia   e   ântero-­‐medialmente   ao   nervo   tibial   e   recebe   como   colaterais   as  

veias  surais,  as  veias  articulares  e  a  pequena  veia  safena.  A  veia  femoral  acompanha  a  

artéria   femoral   até   ao   anel   femoral,   invertendo   a   relação   anatómica   ao   longo   do  

trajeto  na  coxa.  Distalmente,  a  veia  está  localizada  lateralmente  à  artéria,  tornando-­‐se  

medial   proximalmente1.   Geralmente,   observam-­‐se   duas   veias   acompanhando   a  

respetiva  artéria  até  ao  nível  da  veia  popliteia,  onde,  frequentemente,  as  duas  veias  se  

fundem  numa  só  que  acompanha  a  respetiva  artéria.  

O  sistema  venoso  superficial,  no  pé,  compreende  as  veias  dorsais  e  as  veias  plantares  

que  constituem  a  palmilha  venosa.  As  veias  dorsais  e  plantares  comunicam  com  a  veia  

marginal  lateral,  que  segue  a  margem  lateral  do  pé  para  se  continuar  com  a  pequena  

veia  safena  e  com  a  veia  marginal  medial,  que  segue  a  margem  medial  do  pé  para  se  

continuar  com  a  grande  veia  safena.    

A   pequena   veia   safena   (Fig.   1)   passa   atrás   do  maléolo   lateral,   ascendendo   na   face  

posterior   da   perna   num   sulco   entre   as   duas   partes   do   músculo   gastrocnémio,  

alcançando   a   fossa   popliteia   onde   se   inflete   anteriormente   para   drenar   na   veia  

popliteia   –   crossa   da   pequena   veia   safena   -­‐   junção   safeno-­‐popliteia   (termo   de  

Anatomia das veias dos membros inferiores

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consenso  atual)6.  A  junção  safeno-­‐popliteia  está  localizada  num  perímetro  de  5  cm  da  

prega   popliteia.   No   seu   trajeto,   a   pequena   veia   safena   é   acompanhada   pelo   nervo  

cutâneo  sural  medial  (ramo  do  nervo  tibial)  que  se  anastomosa  com  o  nervo  cutâneo  

sural   lateral   (ramo  do  nervo   fibular)  a  uma  altura  variável  para   formar  o  nervo  sural  

que   é   responsável   pela   inervação   cutânea   da   vertente   póstero-­‐lateral   da   perna   e   o  

bordo  lateral  do  pé.  Uma  vez  que  apenas  o  nervo  cutâneo  sural  medial  acompanha  a  

pequena   veia   safena,   a   lesão   iatrogénica   pós-­‐cirúrgica   geralmente   não   tem   graves  

consequências  clínicas,  uma  vez  que  o  nervo  nervo  cutâneo  sural   lateral  compensa  a  

função   do   nervo   sural.   A   pequena   veia   safena   caminha   num   compartimento  

interfascial  entre  as  fascias  superficial  e  muscular  profunda  e  possui  10-­‐12  válvulas.  

 

 Fig.  1  -­‐  Trajeto  da  pequena  veia  safena  no  flanco  posterior  e  lateral  da  perna  (setas).  

Relação  próxima  com  o  nervo  sural  (setas  tracejadas).    Pode  ser  duplicada  e  podem  existir  três  pequenas  veias  safenas  paralelas.  No  local  de  

drenagem  para  a  veia  popliteia,  é  frequente  emergir  um  ramo  venoso  que  ascende  na  

face  posterior  da  coxa  na  goteira  entre  o  bicípete  femoral  e  o  semimembranoso  (veia  

femoro-­‐popliteia)   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   (termo   de   consenso  

atual)6.  A  extensão  na  coxa  da  pequena  veia  safena  termina  em  ramos  superficiais  ou  

perfurantes  da  coxa  e  região  glútea.  Esta  extensão  cranial  da  pequena  veia  safena  ou  

extensão  na  coxa  da  pequena  veia  safena,  quando  comunica  com  a  grande  veia  safena  

Anatomia das veias dos membros inferiores

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pela  face  posterior  da  coxa  (através  da  veia  circunflexa  posterior  da  coxa)  denomina-­‐se  

veia   de     Giacomini6.   A   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   ou   a   veia   de  

Giacomini   podem   transmitir   refluxo   de   veias   perineais,   perfurantes   da   coxa   ou   da  

grande   veia   safena   para   a   pequena   veia   safena   e   vice-­‐versa   (refluxo   ascendente).   A  

morfologia  da   junção  safeno-­‐popliteia  apresenta  variações  desde  a  descrição  clássica  

com   drenagem   para   a   veia   popliteia,   passando   por   uma   junção   safeno-­‐popliteia  

filiforme   ou   mesmo   ausente.   Quando   a   junção   safeno-­‐popliteia   está   ausente,   a  

principal  drenagem  da  pequena  veia  safena  faz-­‐se  pela  extensão  na  coxa  da  pequena  

veia   safena   ou   pela   veia   de   Giacomini.   A   junção   safeno-­‐popliteia   apresenta   uma  

válvula   terminal   nas   proximidades   da   veia   popliteia   e   uma   válvula   preterminal,  

distalmente   à   origem   da   extensão   na   coxa   da   pequena   veia   safena   ou   da   veia   de  

Giacomini.   As   veias   gastrocnémicas   podem  drenar   diretamente  para   a   pequena   veia  

safena,  para  a   junção   safeno-­‐femoral  ou  mais   frequentemente  para  a   veia  popliteia.  

Pode  existir   uma   veia   tributária   subcutânea   com   trajeto   semelhante   à   pequena   veia  

safena,   mas   que   não   caminha   no   compartimento   fascial   -­‐   veia   perfurante   da   fossa  

popliteia   (Dodd).   Esta   veia   perfurante   tem   um   trajeto   na   face   posterior   da   perna,  

drenando  de  forma  independente  para  a  veia  popliteia  no  escavado  popliteu,  paralela  

e  lateralmente  à  pequena  veia  safena.  

 

 

Fig.  2  -­‐  Trajeto  subcutâneo  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  perna  (seta).  Ramos  perfurantes  (setas  curvas).  Relação  próxima  com  o  nervo  safeno  (seta  tracejada).  

 A   grande   veia   safena   (Fig.s   2,   3   e   4)   passa   anteriormente   ao   maléolo   medial  

ascendendo   na   face  medial   da   perna   onde   tem   relação   íntima   com   o   nervo   safeno  

(ramo   do   nervo   femoral)   responsável   pela   inervação   cutânea   da   vertente  medial   da  

Anatomia das veias dos membros inferiores

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perna  e  pé2,  3.  A  lesão  iatrogénica  do  nervo  safeno  após  cirurgia  da  grande  veia  safena  

na  perna,  pode  dar  origem  a  parestesias  na  vertente  medial  da  perna  e  pé.  

A  grande  veia  safena  passa  posteriormente  ao  joelho  e  continua-­‐se  na  face  medial  da  

coxa  até  ao  trígono  femoral  (ex-­‐Scarpa).  Aproximadamente  5  cm  abaixo  do  ligamento  

inguinal  perfura  a  fascia  femoral  para  drenar  no  flanco  ântero-­‐medial  da  veia  femoral  -­‐  

arco   ou   crossa   da   grande   veia   safena   -­‐   junção   safeno-­‐femoral   (termo   de   consenso  

atual)6.   A   grande   veia   safena   caminha  na   perna   e   coxa   num   compartimento   próprio  

denominado   hiato   safeno.  O   hiato   safeno   é   delimitado   por   uma  prega   aponevrótica  

em   forma   de  meia-­‐lua   chamada  margem   falciforme   (Allan   Burns)1.   Quando   avaliada  

ecograficamente   em   corte   axial,   a   grande   veia   safena   no   interior   do   hiato   safeno  

apresenta  um  sinal   imagiológico  denominado  de  "olho  egípcio"  uma  vez  que  a   fascia  

superficial   é   ecogénica   e   facilmente   visualizável   por   ecografia.   O   tronco   venoso  

representa   o   olho   e   as   fascias   superficial   e   profunda   as   pálpebras.   Este   sinal  

imagiológico  é   importante  uma  vez  que  permite  diferenciar   a   grande  veia   safena  de  

outros   ramos   tributários   subcutâneos6.   A   grande   veia   safena   possui   10-­‐12   válvulas,  

sendo   mais   numerosas   na   perna   que   na   coxa   e   estão,   geralmente,   localizadas  

imediatamente   abaixo   das   veias   perfurantes.   Existe   uma   válvula   terminal   constante,  

localizada   1-­‐2   mm   distalmente   à   junção   safeno-­‐femoral   facilmente   identificada   por  

ecografia.   Existe   outra   válvula   pré-­‐terminal,   localizada   2   cm   distalmente   à   válvula  

terminal,  que  determina  o  limite  da  junção  safeno-­‐femoral.  

 

 Fig.  3  -­‐  Trajeto  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  perna  (setas).  

 Entre   estas   duas   válvulas,   a   junção   safeno-­‐femoral   recebe   as   veias   circunflexa   ilíaca  

superficial,   epigástrica   superficial   e   pudenda   externa   superficial2.   Esta   característica  

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anatómica  é   importante,  uma  vez  que  estas  veias  podem  transmitir   fluxo   retrógrado  

para  a  grande  veia  safena,  sendo  responsáveis  por  doença  refluxiva  troncular  mesmo  

quando   a   válvula   terminal   é   competente   (28   %   -­‐   59   %   dos   casos).   A   veia   safena  

acessória   anterior,   a   veia   safena   acessória   posterior   e   a   veia   de   Giacomini   podem  

também   drenar   na   junção   safeno-­‐femoral.   A   veia   safena   acessória   anterior   é   um  

tronco   venoso   que   ascende   paralelamente   à   grande   veia   safena   na   face   anterior   da  

coxa,  anterior  e  lateralmente  à  grande  veia  safena  que  se  situa  na  vertente  medial  da  

coxa.   Tem   um   compartimento   fascial   próprio,   o   que   leva   a   que   frequentemente  

existam  dois  "olhos  safenos"  em  corte  axial  por  ecografia  do  terço  superior  da  coxa.  

Fig.  4  -­‐  Crossa  da  grande  veia  safena  na  face  medial  da  coxa  onde  drena  para  a  veia  femoral  (seta).  Artéria  femoral  (seta  curva).  Nervo  femoral  (seta  tracejada).  

Geralmente,   existe  um  gânglio   linfático   constante  a   separar   a   grande  veia   safena  da  

veia   safena   acessória   anterior   no   local   onde   convergem.   A   incompetência   da   veia  

safena  acessória  anterior  pode  ser  uma  fonte  de  refluxo  e  varizes  na  coxa  e  perna,  em  

aproximadamente   14   %   dos   doentes   com   doença   venosa   crónica   dos   membros  

Anatomia das veias dos membros inferiores

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Anatomia das veias dos membros inferiores

inferiores. Nestes casos pode ser a única fonte de refluxo, mantendo--se a grande veia

safena competente. Todavia, também pode haver doença refluxiva de ambos os

troncos venosos. A veia safena acessória posterior é um segmento venoso que

ascende paralelamente à grande veia safena, em topografia posterior, no interior de um

compartimento fascial. Não é tão frequente como a veia safena acessória anterior e a sua

drenagem para a grande veia safena não é constante. Representa a porção terminal

de veia de Giacomini quando esta variante anatómica está presente, fazendo comunicar

a pequena veia safena com a grande veia safena. A veia  circunflexa  anterior  da  

coxa é tributária da grande veia safena ou da veia safena acessória anterior. A

veia circunflexa posterior da coxa é tributária da grande veia safena ou da veia safena

acessória posterior. As veias intersafenas estão presentes em número variável na

perna, possuem um trajeto oblíquo e fazem comunicar a grande veia safena com a

pequena veia safena6. Existem algumas variantes anatómicas frequentes como as veias

tributárias na perna de grandes dimensões - uma destas veias mais frequentes é

denominada veia  do  arco  posterior  ou  de  Leonardo, que caminha na vertente medial

e posterior da perna, drenando para a grande veia safena, geralmente no terço superior da

perna. Podem existir veias tributárias subcutâneas maiores que a grande veia safena na

coxa, que por vezes podem ser responsáveis por varizes. A grande veia safena pode

estar ausente ou ser hipoplásica e não identificável no compartimento fascial entre o

terço médio da perna e o terço superior da perna ou entre o terço médio da perna e o terço

inferior da coxa (em até 56 % dos casos) sendo substituída por uma tributária subcutânea6.

As veias superficiais e profundas comunicam por veias perfurantes valvulares que,

como seu nome indica, perfuram as aponevroses dos diferentes compartimentos

do membro inferior. Estas veias, atravessam as aponevroses com uma angulação

que, conjuntamente com o sistema valvular, permite que o sangue venoso

circule na direção superficial para profundo durante a contração muscular (bomba

músculo- -venosa). A presença do sistema valvular e a dinâmica músculo- -venosa

permitem que o retorno venoso seja mais acentuado durante a contração

muscular e previnem o refluxo sanguíneo na fase de relaxamento muscular e ainda

durante o ortostatismo, sempre que o sistema valvular for competente2. A

terminologia das perfurantes deve assentar na topografia e não em nomes de autores,

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frequentemente   incorretos   numa   perspetiva   histórica.   Desta   forma,   servirão   como  

elemento  orientador  no  momento  de  fazer  a  sua  marcação  pré-­‐operatória.  Tendo  em  

consideração  este  ponto  de  vista,  a  sua  referenciação  topográfica  deve  ser  rigorosa  e  

orientada  por  referências  anatómicas  descritivas  muito  precisas.  Foram  descritas  mais  

de  40  veias  perfurantes  constantes  no  pé  (dorsal,  medial,  lateral  e  plantar),  tornozelo  

(medial,   anterior   e   lateral),   perna   e   coxa.   As   perfurantes   da   perna   dividem-­‐se   em  

quatro  grupos:  1)  perfurantes  das  veias  tibiais  posteriores  (mediais);  2)  perfurantes  das  

veias   tibiais   anteriores   (anteriores),   que   comunicam   com   a   grande   veia   safena;   3)  

perfurantes   das   veias   fibulares   (laterais);   4)   perfurantes   posteriores.   As   perfurantes  

das   veias   tibiais   posteriores   localizam-­‐se   na   face   medial   da   perna   e   comunicam   a  

grande   veia   safena   e   tributárias   com   as   veias   tibiais   posteriores,   devendo   ser  

denominadas   de   perfurantes   mediais   inferiores   (Sherman),   médias   e   superiores  

(Boyd).  Existe  uma  perfurante  que  comunica  a  veia  do  arco  posterior  (Leonardo)  com  

as   veias   tibiais   posteriores   (Cockett).   As   perfurantes   da   face   posterior   da   perna  

englobam   as   perfurantes   gastrocnémicas   localizadas   no   terço   médio   da   perna.   São  

denominadas   de   lateral,   medial,   e   perfurante   intergemelar   (solear   ou   de   May),  

fazendo   comunicar   a   pequena   veia   safena   com   as   veias   soleares.   Existe   uma  

perfurante   para-­‐Aquiliana   lateral   comunicando   a   pequena   veia   safena   com   as   veias  

fibulares   (Bassi).   As   perfurantes   ao   nível   do   joelho   são   denominadas   de   mediais,  

laterais,   supra   e   infra   patelares   e   da   fossa   popliteia.   Na   coxa,   existem   perfurantes  

mediais   localizadas  no   canal   femoral   (Dodd)  e   canal   inguinal,   comunicando  a  grande  

veia   safena   e   tributárias   com  a   veia   femoral.   Existem,   também,   perfurantes   da   coxa  

anteriores   que   perfuram   o   quadricípete   femoral,   perfurantes   da   coxa   laterais   que  

perfuram  os  músculos   laterais  da  coxa.  Na  face  posterior  da  coxa,  as  perfurantes  são  

denominadas   póstero-­‐mediais   quando   perfuram   os   músculos   adutores,   perfurantes  

medianas  (ciáticas)  e  perfurantes  póstero-­‐laterais  quando  perfuram  o  bicípete  femoral  

e   semitendinoso   (Hach).   Estão   descritas   ainda   as   perfurantes   pudendas   e   glúteas  

(superiores,  médias  e  inferiores)6.    

A   anatomia   das   veias   dos  membros   inferiores   é   complexa,   com   inúmeras   variações  

anatómicas  com  potencial  relevância  clínica.  O  conhecimento  anatómico  dos  padrões  

mais   frequentes  de  drenagem  venosa  dos  membros   inferiores,   é  essencial  para  uma  

correta  abordagem  clínica  e  cirúrgica  da  patologia  venosa  dos  membros  inferiores.  

Anatomia das veias dos membros inferiores

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Referências  bibliográficas  

 

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Anatomia das veias dos membros inferiores

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FISIOPATOLOGIA  DA  INSUFICIÊNCIA  VENOSA  CRÓNICA  

Carlos  M.  Costa  Almeida  

Introdução  -­‐  Significado  de  insuficiência  venosa  

Fisiologia  da  circulação  de  retorno  

A   espécie   humana   é   a   única   que,   tendo   quatro   membros,   se   desloca   e   permanece  

habitualmente   sobre   dois,   os   posteriores,   que   por   isso   se   passaram   a   chamar  

inferiores.   Fê-­‐lo,   obviamente,   para   libertar   os   anteriores,   agora   superiores,   para   os  

quais  o  desenvolvimento  particular  do  seu  cérebro  arranjou  ocupação,  neles,  também,  

e   igualmente   por   isso,   tornando-­‐se   o   polegar   oponível   aos   outros   quatro   dedos   das  

mãos.  Pode-­‐se,  pois,  dizer  que  foi  o  cérebro  que  fez  o  homem  erguer-­‐se  nos  membros  

posteriores  e  assim  permanecer.    

Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

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Mas   isso   criou-­‐lhe   duas   dificuldades   que   não   teria   se,   em   vez   de   adoptar   o  

bipedalismo,   se   deslocasse   a   quatro:   as   vértebras   passaram   a   fazer   pressão   umas  

sobre  as  outras,   com  a  coluna  perpendicular  ao  chão,  em  vez  de  paralela,  e  a  maior  

parte  do  sangue  passou  a  circular  abaixo  do  nível  da  bomba  cardíaca,  e  bem  abaixo,  já  

que   os   membros   inferiores,   para   suportar   sozinhos   o   peso   do   corpo,   se   tornaram  

maiores   e  mais  musculosos,   por   isso   deslocando  maior   quantidade   de   sangue,   cujo  

peso   é   uma   força   que   lhe   dificulta   o   retorno   ao   coração,   quando   na   posição  

ortostática.    

Como   ajudar   o   sangue   a   subir   dos   membros   inferiores   para   o   coração?   Dois  

mecanismos,  relacionados  entre  si,  estão  instituídos.  Um,  as  válvulas  venosas,  outro,  a  

bomba   venosa   da   perna.   As   válvulas   venosas,   existentes   em   todas   as   veias   dos  

membros  inferiores,  orientam  o  fluxo  de  sangue  em  sentido  cardiópeto  e  contrariam  o  

seu  refluxo,  em  sentido  contrário;  e,  nessas  condições,  dividem  a  corrente  sanguínea  

em   secções,   escalonadamente,   não   permitindo   a   existência   duma   coluna   única   de  

sangue,   fazendo   pressão,   pelo   seu   peso,   na   parte  mais   distal   do  membro.   A   bomba  

venosa  da  perna,  ou  bomba  dos  gémeos,  é  constituída  pelos  músculos  da  perna  com  a  

aponevrose   inextensível   que   os   rodeia,   e   as   veias   profundas   e   as   veias   perfurantes,  

com  as  válvulas  respectivas.    

O   sangue   venoso   dos   membros   inferiores   circula   das   veias   superficiais,   através   das  

veias  perfurantes,  para  as  mais  profundas,  e  daí  retorna  ao  coração.  A  bomba  venosa  

ajuda  ao  retorno  desse  sangue,  quando  em  funcionamento,  que  é  quando  os  músculos  

da   perna,   alternadamente,   se   contraem   e   relaxam,   mantendo   a   articulação   do  

tornozelo  em  movimento.  Quando  os  músculos  se  contraem  e  aumentam  de  volume,  

dentro   da   loca   inextensível   onde   estão   as   veias   profundas,   comprimem   essas   veias.  

Nestas,   sendo   compressíveis,   o   sangue   seria   empurrado   num   sentido   e   noutro,   não  

fossem  as  válvulas  que,  dentro  delas,  orientam  o  movimento  do  sangue  no  sentido  do  

coração,   impedindo  o  seu  refluxo,  em  sentido  distal;  do  mesmo  modo,  o  sangue  não  

regressa   ao   sistema   superficial,   porque   as   válvulas   existentes nas   veias   perfurantes  

movimente  o  tornozelo  em  direcção  contrária,  há  uma  redução  da  pressão  dentro  da  

loca,  com  uma  “aspiração”  do  sangue  para  dentro  dela,  quer  da  parte  mais  distal  do  

Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

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A  bomba  venosa  da  perna  funciona  como  uma  verdadeira  bomba  aspirante-­‐premente,  

com   os   mesmos   princípios   fisiológicos   da   bomba   cardíaca,   e   é   fundamental   para   o  

nosso   bipedalismo.   Bastará   notar   que   são   os   músculos   da   perna   que   nos   fazem  

deslocar   e   mantermo-­‐nos   em   equilíbrio,   apoiados   apenas   em   dois   pontos,   quando  

todos   os   outros   animais,   como  nós   com  quatro  membros,   se   apoiam  e   se   deslocam  

sobre   quatro.   E   veja-­‐se,   se   confirmação   fosse   necessária,   que   nesses   animais   os  

músculos   na   perna   nem   sequer   existem;   são   uma   particularidade   da   nossa   espécie,  

pelos  motivos  expostos.  

 

  Fisiopatologia  da  insuficiência  venosa  

A  insuficiência  venosa  primária  assenta,  basicamente,  numa  debilidade  da  parede  das  

veias,   de   causa   não   esclarecida.   Continuam   a   ser   feitos   estudos   no   sentido   desse  

esclarecimento,  procurando  determinar  o  que  a  provoca,  muito  provavelmente  a  nível  

bioquímico   e   biomolecular,   apontando-­‐se   no   momento,   por   exemplo,   uma   possível  

desregulação   de   metaloproteinases   e   seus   inibidores   na   parede   venosa.   É   uma  

situação  que  parece  ser  constitucional,  ou  congénita,  com   incidência   familiar,  não  se  

tendo,  por  enquanto,  definido  nenhum  gene  por  ela  responsável.    

A  debilidade  da  parede  venosa  faz  com  que  nos  membros  inferiores,  na  sequência  do  

bipedalismo  que  nos  caracteriza,  com  ortostatismo  prolongado  ao  longo  da  nossa  vida,  

as  veias  não  resistam  ao  peso  do  sangue  dentro  delas  e  se  dilatem.  Tal  acontece  nas  

veias   superficiais,   extra-­‐aponevróticas,   sem   suporte   exterior   para   além  da   pele   e   do  

tecido  celular  subcutâneo,  e  das  veias  perfurantes,  que  passam  através  da  aponevrose  

levando  o  sangue  para  as  veias  profundas,  ao  contrário  do  que  se  passa  nestas,  dentro  

das   locas   aponevróticas   e   no   meio   dos   músculos,   com   as   paredes   apoiadas   pelas  

estruturas  circundantes.  A   insuficiência  venosa  primária  é,  assim,  epifascial,  podendo  

ser  também  transfascial.  Algumas  veias  vão-­‐se  dilatando,  e  as  valvas  das  suas  válvulas  

deixam   de   chegar   ao   contacto   umas   com   as   outras,   tornando-­‐se   insuficientes.   Pelo  

refluxo  e  dilatação,  mais  sangue  se  acumula  nessas  veias,  com  mais  dilatação  e  mais  

insuficiência  valvular,  no  que  é,  como  se  percebe,  um  processo  evolutivo:  “avalvulação  

gera   avalvulação”.   É   às   veias   superficiais   dos   membros   inferiores,   cronicamente  

Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

Por causa da estase, os elementos figurados têm tendência a afastar-se do centro

da corrente sanguínea e aproximar-se das paredes venosas, e, como a pressão de

arrastamento (pressão tangencial, ou “shear stress”, directamente proporcional

à velocidade do fluxo sanguíneo) também diminui, isso permite o seu maior e mais

demorado contacto com elas, podendo mesmo interagir. Desse modo as hemácias

podem passar através delas e as plaquetas podem desencadear uma trombose local.

Quanto aos leucócitos, a hipótese mais aceite é que, quer lhes adiram quer transmigrem

através delas, para o tecido perivascular (à volta dos capilares e das vénulas pós-

capilares), activam- se, o que provoca a libertação de enzimas proteolíticos e

moléculas inflamatórias, como citoquinas e radicais livres, com efeito destrutivo nas

membranas celulares lipídicas, em estruturas proteicas e em vários componentes do

tecido conjuntivo. Daqui resulta um processo com características de inflamação crónica

e que conduz primeiro a remodelação fibrosclerótica da pele (lipodermatoesclerose)

e depois à sua ulceração. Também nas próprias valvas das válvulas pode haver

reacções desse tipo, que anatomo- patologicamente têm aspecto de “inflamação”, e

que contribuem para que as válvulas se tornem insuficientes.

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Fisiopatologia  venosa  na  clínica  

A   designação   “doença   venosa   crónica”   inclui   todos   os   que   sofrem   da   circulação   de  

retorno  dos  membros  inferiores,  com  dificuldade  evidente  na  posição  ortostática  e  no  

bipedalismo.  O  quadro  clínico  pode  variar,  com  sinais  e  sintomas  que  podem  ser  mais  

ou  menos  exuberantes,  e  é,  por  isso,  importante  a  utilização  duma  classificação  como  

a   CEAP,   focando   os   vários   aspectos   da   doença   (Clinic,   Etiology,   Anatomy,  

Physiopathology),   e   que   exige   o   estudo   dos   doentes   por   ecodoppler.   Assim,   para  

avaliar  a  doença  venosa  crónica  é   importante  saber  que  ela  pode  existir  com  varizes  

tronculares   e   sem   varizes   tronculares,   e   que   as   telangiectasias   e   varículas,   tão  

prevalentes   na   nossa   população   adulta,   sobretudo   do   sexo   feminino,   também   dela  

fazem  parte.  Isto  apesar  de  haver  autores  que  as  excluem,  como  os  há  que  consideram  

a  existência  de  insuficiência  venosa  crónica  só  nos  doentes  que  apresentam  edema  e  

alterações   cutâneas   –   pigmentação   ocre,   lipodermatoesclerose,   eczema   (no   seu  

conjunto   formando   o   que   alguns   apelidam   de   dermatite   varicosa   ou   de   estase)   e  

úlceras.    

A  doença  venosa  crónica  manifesta-­‐se  mais  cedo  ou  mais  tarde  na  vida,  agravando-­‐se  

ao   longo   dela,   com   possível   aparecimento   progressivo   das   complicações   da  

insuficiência  venosa.  Esse  agravamento,  com  o  avançar  da  idade,  não  tem  que  ver  com  

o envelhecimento   propriamente   dito,   mas   sim   com   o   passar   do   tempo   e   maior

exposição   ao   efeito   de   vários   factores   de   risco,   nomeadamente   mais   tempo  

acumulado  em  posição  ortostática  e  redução  de  funcionamento  da  bomba  venosa  da  

perna.  Esta  última  acontece,  na   idade  avançada,  por   simples  maior   sedentarismo  ou  

por  reumatismo  ou  artroses  dos  membros   inferiores,  que  diminuem  a  capacidade  de  

deambulação  dos  pacientes.  Em  particular  a  artrose  do  tornozelo  que,  com  mobilidade  

reduzida   ou   ausente,   limita   a   contracção   dos   músculos   da   perna   (“bomba   dos  

gémeos”),  o  que  também  acontece  em  situações  de  parésia  ou  paralisia  dos  membros  

inferiores,  inclusivamente  com  a  decorrente  atrofia  muscular.  

Para  quem  tem  a  referida  debilidade  da  parede  venosa,  e  por  isso  varizes  ou  tendência  

para  as  ter,  ser  do  sexo  feminino  também  é  um  factor  de  agravamento,  sobretudo  por  

razões   hormonais   (pelas   hormonas   femininas   próprias   ou   administradas   em  

suplementos).  Relacionada  com  essas,  a  gravidez  é  outro  factor  de  agravamento,  quer  

pelo   aumento   da   produção   hormonal   quer   pelo   período   com   aumento   de   pressão  

Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

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Março  2008.  

Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

intra- abdominal, dificultando o retorno venoso ao coração e aumentando a

pressão venosa distal. E, também, são as mulheres que usam sapatos de salto alto,

com limitação marcada do movimento das articulações dos tornozelos na marcha, o

que limita a função da bomba dos gémeos.

Finalmente, uma chamada de atenção para o calor como factor de agravamento.

O calor local nos membros inferiores ajuda a dilatar as veias, se já dilatadas ou

com tendência para isso. Por isso há que o evitar, sobretudo o calor no Inverno, altura

em que se procura aquecer, precisamente, os pés e as pernas, prolongadamente,

nas lareiras, braseiras, escalfetas, botijas de água quente, etc. Muito mais que no Verão,

onde, pelo contrário, há a tendência de fugir para o fresco. Mas muito tempo com as

pernas ao sol quente também é prejudicial, naturalmente.

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6765  

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Fisiopatologia da insuficiência venosa crónica

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EPIDEMIOLOGIA  E  FATORES  DE  RISCO  

Sara  Correia,  Aida  Paulino,  Luís  Silveira  

EPIDEMIOLOGIA  

As   varizes   dos   membros   inferiores,   são   uma   patologia   muito   frequente   em   todo   o  

mundo,  que  têm  um  grande  impacto  nos  custos  aos  serviços  de  saúde,  tanto  diretos,  

que   resultam   do   diagnóstico   e   do   tratamento,   como   indiretos,   maioritariamente   os  

ligados   ao   absentismo   profissional.   Os   recursos   humanos,   técnicos   e   orçamentais  

necessários  para  permitir  o  tratamento  de  uma  patologia  tão  prevalente,  são  enormes.  

Sendo   a   doença   venosa   crónica   (DVC)   uma   patologia   historicamente   considerada  

ligeira  e  benigna,  numa  altura  de  contenção  orçamental  generalizada,  existem  países  

que  não  estão  a  oferecer  tratamento  a  todos  os  doentes  diagnosticados1.  

A  doença  venosa  crónica  é  muitas  vezes  desvalorizada,  enquanto  problema  importante  

de   saúde   pública,   apesar   da   evidência   científica   indicar   que   esta   atinge   uma   parte  

significativa  da  população,  provoca  morbilidade  considerável  e  afeta  negativamente  a  

qualidade   de   vida   dos   doentes.   Tanto   as   varizes   como   as   suas   complicações,  

nomeadamente   as   úlceras   venosas   e   tromboflebites,   têm   grande   interferência   na  

qualidade  de  vida  dos  doentes2.  

Pela   literatura   consultada,   verificamos   que   cerca   de  metade   dos   adultos   têm  alguns  

estigmas   de   doença   venosa,   50-­‐55  %   das  mulheres   e   40-­‐50  %   dos   homens,  mas   só  

cerca   de  metade   apresentam   varizes   visíveis   (20-­‐33   %   das  mulheres   e   10-­‐40  %   dos  

homens)3,  4.  

A  DVC  é  uma  patologia  progressiva  onde,  aproximadamente,  30%  dos  doentes  têm  um  

agravamento   de   duas   ou  mais   classes   CEAP   após   cinco   anos   sem   tratamento5.  Mas  

Labropoulos  verificou  que  1/3  dos  doentes   tinham  progressão  do  refluxo,  em  um  ou  

dois  escalões  de  CEAP,  e  em  95  %  começava  ou  evoluía  pelos  seis  meses,  o  que  quer  

dizer   que   doentes   que   esperam   pela   intervenção   cirúrgica   há   sete   meses   ou   mais,  

devem  ser  novamente  estudados6.  

Mota   Capitão   combinou   as   estimativas   de   prevalência   de   IVC   na   população,   obtidas  

num   estudo   prévio   em   45   mil   indivíduos,   com   os   dados   do   recenseamento  

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populacional  de  1991,  para  obter  estimativas  de  prevalência  na  população  ajustadas  

por   idade   e   sexo.   Os   resultados   mostraram   que   a   prevalência   de   IVC,   varizes  

reticulares  e  tronculares  e  de  varizes  tronculares  é  de  20,  12  e  6  %  nos  homens  e  de  

40,  22  e  10  %  nas  mulheres.  A  prevalência  dos  graus  0,  1,  2  e  3  de  IVC  é  de  2,  10,  6  e  

3  %  nos  homens  e  de  4,  22,  12  e  4  %  nas  mulheres.  Os  antecedentes  de  tromboflebite  

e  trombose  venosa  profunda  têm  uma  prevalência  de  4,5  e  1,3  %  nos  homens  e  de  8,9  

e  1,5  %  nas  mulheres7.  

Um   estudo   coordenado   por   Fernandes   e   Fernandes,   em   2017,   mostra   que   em  

Portugal,  cerca  de  8  %  dos  doentes  se  reformam  antecipadamente  devido  à  DVC.  Este  

facto  é  ainda  mais  preocupante,  na  medida  em  que  a  DVC  está  presente  em  cerca  de  

1/3  da  população.  Cerca  de  sete  em  cada  dez  mulheres  com  mais  de  30  anos  sofre  de  

problemas  de  circulação  venosa  e  metade  não  está   tratada.  Os  dados  apontam  para  

dois  milhões  de  portuguesas  daquelas  idades,  que  sofrem  desta  doença4.  

O   estudo   prospetivo   San   Diego   Population   Study,   recolheu   informação   de   uma  

população   com   diversidade   étnica   de   2211   mulheres   e   homens.   Determinou   que   a  

incidência   da   DVC   superficial   era   mais   prevalente   em   doentes   hispânicos   (3,6   %),  

seguida  de  doentes  caucasianos  (2,6  %),  asiáticos  (1,5  %)  e  afro  americanos  (0,9  %) .  8

A   doença   venosa   crónica   dos   membros   inferiores   é   uma   das   patologias   que   maior  

número  de   indivíduos  afeta  e,  embora  não  se  associe  a  mortalidade  ou   incapacidade  

significativa,  a  sua  repercussão  médico-­‐social  é  relevante.  Em  Portugal,  estima-­‐se  que  

cerca   de   1,5   %   das   consultas   de   clínica   geral   são   devidas   a   doença   venosa   dos  

membros  inferiores,  com  uma  média  anual  de  2,3  consultas  por  doente  e  uma  média  

de  32  tratamentos  por  doente  com  úlcera  venosa  crónica7.  

As  estimativas  dos  custos  anuais  totais  de  doença  venosa  crónica  (DVC),  variam  entre  

600  a  900  milhões  de  euros  nos  países  da  Europa  Ocidental  (representando  cerca  de  1-­‐

2%  do  orçamento  total  de  saúde).  Nos  EUA  calcula-­‐se  que  esse  valor  atinja  os  2,5  mil  

milhões  de  US  dólares2.  

A  prevalência  de  edema  e  alterações  cutâneas,  tais  como  hiperpigmentação  e  eczema,  

devido  a  DVC,  varia  entre  3  %  a  11  %  da  população.    

Quanto   às   úlceras   venosas,   alguns   autores   referem   uma   ocorrência   de   0,3   %   nos  

adultos,   em   países   ocidentais.   A   prevalência   de   úlceras   ativas   e   cicatrizadas  

combinadas  é  de  cerca  de  1%.  A  cicatrização  pode  ser  mais  demorada  nos  doentes  de  

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classe   social  mais   baixa   e   nos   indivíduos   solteiros.  Mais   de   50%  das   úlceras   venosas  

necessitam  de  tratamento  por  um  período  superior  a  um  ano3.  

O   prognóstico   de   um   doente   com   úlcera   venosa   é   desanimador,   sendo   esta   uma  

condição  de  difícil  tratamento  e  sucessivas  recorrências4.  Também  o  seu  impacto  sócio  

económico  é  dramático,  com  estimativas  a  apontar  para  a  perda  de  2  milhões  de  dias  

de   trabalho   por   ano,   só   em   Portugal,   e   reforma   antecipada   em   mais   de   12%   dos  

doentes9.  

Os  medicamentos  venoativos  prescritos  representam,  também,  um  custo  considerável,  

estimando-­‐se   valores  de  63,2  milhões  €   em  Espanha;   25  milhões  €  na  Bélgica   e   457  

milhões  de  €  na  França.  Duas  análises  semelhantes  realizadas  na  Alemanha  e  na  França  

mostraram  que   quase   50  %   da   população   com   idade   superior   aos   15   anos   referiam  

problemas  venosos  e  destes,  90,3  %  compraram  um  medicamento  venoativo2.  

A  dimensão  em  que  a  DVC  afeta  a  qualidade  de  vida  dos  doentes  ganhou  uma  nova  

visibilidade   com   o   recente   trabalho   de   Sritharan   at   al,   que   descreveram   que   os  

doentes   com   varizes   sintomáticas,   têm   risco   de   depressão   muito   aumentado,  

comparado  com  a  população  em  geral10.  

Existe   uma   disparidade   acentuada   em   toda   a   Europa   entre   o   número   previsto   de  

doentes  com  veias  varicosas  que  necessitam  de  tratamento  e  os  cuidados  atualmente  

oferecidos,  com  o  Reino  Unido,  a  Finlândia  e  a  Suécia,  possivelmente,  “sobretratando”  

as  varizes.  No  entanto,  pode  ser  mais  rentável,  a  longo  prazo,  tratar  todos  os  doentes  

com  varizes,  para  prevenir  a  progressão  da  doença1,  opinião  com  a  qual  concordamos,  

em   absoluto.   Segundo   Ratcliffe11   “Para   doentes   com   varizes   não   complicadas   e  

evidência   de   refluxo   safeno-­‐femoral   ou   safeno-­‐popliteo,   o   tratamento   cirúrgico   para  

varizes   oferece   um   benefício   de   saúde   modesto,   para   relativamente   pouco   custo  

adicional  ao  NHS,  em  relação  ao  tratamento  conservador.”  

FATORES  DE  RISCO  

Quanto   aos   fatores   de   risco   para   o   aparecimento   de   varizes,   variam   consoante   os  

países  e  com  os  artigos,  com  exceção  da  idade,  gravidez  e  história  familiar.  

Idade  

Vários   estudos   vieram   demonstrar   que   a   prevalência   da   doença   venosa   crónica  

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aumenta  com  a  idade.  As  varizes  são  muito  raras  em  crianças  até  14  anos.  A  partir  da  

puberdade   existe   um   aumento   progressivo   da   frequência   das   varizes   com   a   idade,  

chegando  a  atingir  mais  de  70%  das  pessoas  acima  de  70  anos.  A  prevalência  de  varizes  

em  homens  com  idades  entre  30  a  40  anos  é  de  cerca  de  3  %,  enquanto  que  na  faixa  

etária  acima  de  70  anos  pode  registar  valores  próximos  de  40  %.  Foram  encontrados  

resultados  semelhantes  em  mulheres,  uma  prevalência  de  20  %  na   idade  de  30  a  40  

anos,  que  aumenta  gradualmente  para  valores  superiores  a  50  %  na  faixa  etária  dos  70  

anos2.  Tanto  a  doença  venosa  severa  como  a  moderada  aumentam  com  a  idade12,  13.  

Sexo  

As  varizes  atingem  consideravelmente  mais  as  mulheres  do  que  os  homens,  chegando  

a   uma   proporção   de   duas   a   quatro   mulheres   para   cada   homem14.   No   entanto,  

Shafiuddin15,  na  série  que  estudou,  a  maioria  dos  doentes  eram  homens,  Carpentier16  

não  encontrou  diferenças  entre  os  sexos,  e  Fowkes17,  no  estudo  de  Edinburgh,  chegou  

à   mesma   conclusão,   mas   nas   mulheres   era   mais   frequente   refluxo   nas   veias  

superficiais  e  nos  homens  nas  veias  profundas.  Tanto  Criqui12  como  Fiebig14  chegaram  

à  conclusão  que  os  homens  têm  taxas  mais  elevadas  de  doença  grave.  

História  familiar  

A   hereditariedade   tem   forte   relação   com   a   presença   de   varizes12,   13.   Cornu18,   em  

trabalho  publicado  em  1994,  verificou  que  o  risco  das  crianças  desenvolverem  varizes,  

foi  de  90%  quando  ambos  os  pais  sofriam  desta  doença,  25%  para  os  homens  e  62%  

para   as  mulheres  quando  um  dos  pais   era   afetado,   e   20%  quando  nenhum  dos  pais  

tinha  varizes.  

Obesidade  

A   obesidade   foi   considerada   um   fator,   independente,   para   o   desenvolvimento   de  

varizes   pela   maior   compressão   abdominal,   dificultando   o   retorno   do   sangue   dos  

membros   para   o   coração,   dilatando   assim   as   veias   daqueles5.   Fowkes17   encontrou  

associação  do  aumento  de  peso  com  aumento  do  refluxo,  nos  homens,  e  Criqui12  entre  

a   medida   do   perímetro   da   cintura   e   a   existência   de   doença   venosa   grave.   Fiebig14  

verificou  que  analisando  dois   fatores  de  variância,   sexo  e  grau  CEAP,  ambos   tiveram  

Epidemiologia e fatores de risco

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um  efeito  significativo  sobre  o  IMC.  No  entanto,  vários  autores  chegaram  à  conclusão  

que  a  prevalência  de  varizes  é  semelhante  nos  obesos  e  não  obesos3,  19.  

Gravidez  

As  varizes  surgem  com  grande  frequência   já  no  início  da  gravidez,  devido  aos  fatores  

hormonais  e  posteriormente  devido  a  compressão  pelo  aumento  do  útero.  Num  certo  

número   de   mulheres,   especialmente   na   primeira   gestação,   essas   varizes   tendem   a  

desaparecer   após   o   parto.   Entretanto,   em   outras  mulheres,   possivelmente   devido   a  

uma   predisposição   genética,   as   varizes   não   desaparecem   ou   voltam   após   o   parto,  

aumentando   em   gestações   subsequentes.   Alguns   autores,   nomeadamente   Maffei20,  

encontraram   correlação   positiva   entre   prevalência   de   varizes   e   número   de  

gravidezes13,  21.  Este  tema  é  objeto  de  um  capítulo  deste  livro.  

Anticoncecionais  orais  

O  uso  de  hormonas  parece  aumentar  o  desenvolvimento  das  varizes  e  aumenta  o  risco  

de  trombose  venosa.  Noutros  estudos,  os  autores  encontraram  menor  tendência  para  

DVC17.  

Hábitos  de  vida  

A   falta   de   exercício   físico   é   um   dos   fatores   de   risco,   é   preconizada   a   prática   de  

desporto  adequado,  sendo  a  marcha  a  pé  a  atividade  mais  benéfica,  e  alguns  autores  

valorizam  a  marcha  após  várias  horas  de  trabalho  sentado12.  

A   maior   parte   dos   trabalhos   não   encontrou   relação   entre   o   risco   de   varizes   e   a  

ingestão  de  alimentos  com  fibras12,  17.  

Tabagismo  

Entre   os   homens,   com   DVC   era   mais   provável   que   fumassem   e   tivessem   menor  

atividade   física  que  os  doentes  sem  DVC.  Foi   sugerido  que  o  controlo  dos   fatores  de  

risco  cardiovascular  não  só  preveniam  doença  cardíaca,  como  também  potencialmente  

reduziam  a  incidência  de  DVC,  mas  não  é  opinião  da  maioria  dos  autores17.  Em  outros  

artigos,   verificou-­‐se   relação   direta   entre   o   número   de   cigarros   fumados   por   dia   e   a  

existência  de  doença  venosa  grave12.

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Postura  no  trabalho  e  anos  de  profissão  

O   papel   da   postura   durante   o   trabalho   no   aparecimento   das   varizes   é   ainda  muito  

controverso.  Alguns  estudos  sugerem  uma  maior  predisposição  para  varizes,  naqueles  

que   trabalham   a   maior   parte   do   tempo   em   pé   ou   sentados   do   que   naqueles   que  

trabalham  andando13,  15,  16.  Outros  não  encontram  diferenças  relacionáveis  com  o  tipo  

de   profissão17,   20,   quer   em  mulheres   ou   homens.   Em   profissões   que   habitualmente  

trabalham   em   pé,   o   número   de   anos   de   trabalho   é   fator   de   risco   para   varizes13   e  

Carpentier  encontrou  associação  com  alto  risco  de  varizes  nos  homens  com  trabalho  

não  qualificado16.  

Sentados  com  a  perna  cruzada  

Segundo  Erding13,  as  pessoas  que,  muito  frequentemente,  “descansam”  com  as  pernas  

cruzadas,  têm  risco  acrescido  de  vir  a  ter  varizes.  

A   maior   parte   dos   autores   não   encontrou   relação   significativa   entre   a   ingestão   de  

fibras,   hábitos   intestinais   ou   problemas   gastrointestinais,   exercício   físico   regular   e  

roupa  apertada  e  a  existência  de  varizes12  ou  quanto  ao  tipo  de  profissão,  manual  ou  

não17,  mas  Criqui12  verificou  que  a  doença  moderada,  nos  homens,  se  relacionava  com  

operação  prévia  a  hérnia  inguinal,  pé  chato  e  hipertensão  arterial,  e,  na  mulher,  com  

número  de  horas   em  pé,   lesão  prévia   da   perna   e   história   de   doença   cardiovascular.  

Outros   verificaram   que   o   exercício   físico   e   o   uso   de   meias   elásticas,   bem   como   o  

descanso  com  as  pernas  elevadas,  são  fatores  protetores  de  doença  venosa5,  13.  

Epidemiologia e fatores de risco

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Epidemiologia e fatores de risco

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7775  

A  CLASSIFICAÇÃO  CEAP  

Luís  Filipe  Pinheiro  

A  doença  venosa   crónica   (DVC)  é  uma  entidade  patológica   comum,   relacionada  com  

alterações  anatómicas  e  funcionais  do  sistema  venoso  dos  membros  inferiores,  e  que  

inclui   a   presença   de   varizes,   alterações   cutâneas,   edema,   úlcera   cutânea   e   sintomas  

físicos  relacionados  como  a  fadiga,  cãibra,  prurido  e  dor.  

A  falta  de  uniformização  quanto  à  sua  classificação  e  estadiamento,  no  que  respeita  às  

suas   formas   de   apresentação,   levou   a   que   um   grupo   de   especialistas   há   muito  

interessados  por  esta  doença,   criassem  um  método   inspirado  no  TNM,  usado  para  a  

classificação  dos   tumores  malignos,   que  permitisse  utilizar  uma   linguagem  comum  e  

perceptível,   e   protocolar   o   seu   estudo   e   tratamento.   Esta   metodologia   permite,  

naturalmente,   um   intercâmbio   de   conceitos   e   dados,   utilizando   uma   linguagem  

comum,   o   que   antes   se   encontrava   dificultado   pela   diversidade   de   designações  

diferentes  e  esparsas  utilizadas  para  caracterizar  a  mesma  entidade.  

A  origem  da  classificação  CEAP  

Durante  a  quinta  reunião  do  American  Venous  Forum,  em  1993,  John  Porter  sugeriu  a  

criação   de   um   sistema   de   classificação   de   doenças   venosas.   Na   sexta   reunião,   em  

Fevereiro  de  1994,  foi  então  efectuada  uma  reunião  de  consenso,  na  qual  um  comité  

ad   hoc   internacional,   presidido   por   Andrew   Nicolaides   e   com   representantes   da  

Austrália,   Europa   e   Estados   Unidos,   desenvolveu   o   primeiro   documento   sobre   a  

classificação  CEAP.  Nesta  altura,  esta  integrava  duas  partes:  uma  classificação  de  DVC  e  

um  sistema  de  pontuação  de  gravidade.  A  classificação  baseava-­‐se  em  manifestações  

clínicas   (C),   a   factores   etiológicos   (E),   a   distribuição   anatómica   da   doença   (A)   e   a  

fisiopatologia  subjacente  (P),  ou  CEAP.  O  sistema  de  pontuação  da  gravidade  baseou-­‐

se   em   três   elementos:   número   de   segmentos   anatómicos   afectados,   severidade   dos  

sintomas   e   incapacidade.   Esta   declaração  de   consenso  do  CEAP   foi   publicada   em  26  

revistas   e   livros,   em   nove   línguas,   incluindo   o   português,   tornando-­‐se,  

verdadeiramente,   um   documento   universal   para   a   caracterização   e   classificação   da  

A classificação CEAP

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doença  venosa  crónica.  

Após  esta  primeira  abordagem,  este  método  de  classificação  foi  alvo  de  várias  revisões  

e   actualizações,   sendo   que   a   primeira   teve   lugar   em   Paris,   cinco   anos   mais   tarde  

(1998),   promovida   por   Perrin,   e   a   última   em   2004   onde   se   definiram   mais  

discriminadores   nas   várias   categorias.   Foi   também   acordada   a   necessidade   de  

estabelecer  uma  classificação  CEAP  básica  e  avançada.  

Assim,  definiram-­‐se  os  aspectos  a  considerar  em  C,  procurando  utilizar  a  terminologia  

que  vinha  sendo  usada  nas  manifestações  locais  da    DVC:  

Atrofia   branca   –   Manchas   esbranquiçadas   na   pele   das   extremidades   inferiores,  

rodeadas  por  dilatações  capilares  venosas  por  vezes  hiperpigmentadas;  

Corona  flebectásica  (“ankle  flair”)  –  “Aranhas”  vasculares  venosas  na  face  interna  do  

tornozelo   e   bordo   do   pé,   com   alguma   coloração   azulada   da   pele,   normalmente  

conotadas  como  um  sinal  de  insuficiência  venosa;  

 Eczema   –   Lesões   de   dermatite   na   vizinhança   de   trajectos   venosos,   que   podem  

acompanhar-­‐se  de  bolhas  com  prurido  e  irritação  cutânea,  por  vezes  relacionada  com  

a  utilização  inadequada  de  agentes  terapêuticos  locais;  

Edema  –  Deposição  de  líquido  no  tecido  celular  subcutâneo  por  hipertensão  venosa;  

Lipodermatoesclerose   –   Inflamação   crónica   da   pele   e   do   tecido   celular   subcutâneo,  

associada  a  retracções  cicatriciais  por  episódios  inflamatórios  recorrentes,  conferindo  

ao  membro  afectado  o  aspecto  de  uma  garrafa  de  champanhe  invertida;  

Pigmentação   –  Depósitos   cutâneos  de  óxido   ferroso,   resultantes  do  extravasamento  

de   sangue   por   hipertensão   capilar,   normalmente   localizados   no   terço   inferior   da  

perna;  

Variz  reticular  –  Veia  dilatadas  e  tortuosas  sub-­‐dérmicas,  de  calibre  inferior  a  3  mm;      

Telangiectasia   –   Veias   intradérmicas   confluentes   de   coloração   azulada   ou  

avermelhada,  de  calibre  menor  que  1  mm  e  por  vezes  designadas  popularmente  por  

“derrames”  ou  aranhas”;  

Veia  varicosa  ou  variz  –  Dilatação  de  veia  subcutânea  superior  a  3  mm  quando  medida  

em  ortostatismo,  podendo  ou  não  ser  tortuosa;  

Úlcera   venosa   –   Ferida   crónica   em   toda   a   espessura   cutânea   sem   cicatrização  

espontânea,   normalmente   localizada   à   região   supra-­‐maleolar   interna,   sem   outra  

etiologia  identificada  para  além  da  doença  venosa  crónica.    

A classificação CEAP

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Classificação  clínica  

C0  –  Sem  sinais  visíveis  ou  palpáveis  de  doença  venosa  

C1  –  Telangiectasias  ou  veias  reticulares  

C2  –  Varizes  (superiores  a  3mm)  

C3  –  Edema  

C4  –  Alterações  cutâneas  

C4a  -­‐  Pigmentação  ou  eczema  

C4b  -­‐  Lipodermatoesclerose  ou  atrofia  branca  

C5  –  Úlcera  cicatrizada  

C6  –  Úlcera  activa  

Cada   classe   clínica   é   depois   caracterizada   pela   presença   (S)   ou   ausência   (A)   de  

sintomas.  Por  exemplo  C3A  ou  C5S.  

Nesta   última   revisão   de   2004   foram   também   definidos   os   discriminadores   para   as  

restantes   classificações   (E,   A   e   P),   refinando   assim   a   classificação,   objectivando   os  

aspectos  relevantes  na  apresentação  da  doença:  

Classificação  Etiológica:  

Ec  –  Congénita  

Ep  –  Primária  

Es  –  Secundária  (pós-­‐trombótica)  

En  –  Sem  causa  identificada  

Classificação  Anatómica:  

As  –  Veias  superficiais  

Ap  –  Veias  perfurantes  

Ad  –  Veias  profundas  (deep)  

An  –  Sem  identificação  precisa  

Classificação  Fisiopatológica:  

Pr    –  Refluxo  

Po    –  Obstrução  

Pr,o  –  Refluxo  e  Obstrução  

Pn    –  Fisiopatologia  não  determinada  

A classificação CEAP

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CEAP  avançado  

À   classificação   básica   CEAP   pode   adicionar-­‐se   a   designação   avançada   quando  

pretendemos   caracterizar   ainda  melhor   a   doença   venosa,   referindo   com  precisão  os  

segmentos  venosos  envolvidos,  e  estudados  com  recurso  a  ecoDoppler  a  cores.  

Veias  Superficiais  

1. Telangiectasia/veias  reticulares

2. Grande  veia  safena  supra-­‐genicular

3. Grande  veia  safena  infra-­‐genicular

4. Pequena  veia  safena

5. Outras  veias

Veias  Profundas  

6. Veia  cava  inferior

7. Veia  ilíaca  comum

8. Veia  ilíaca  interna

9. Veia  ilíaca  externa

10. Veias  pélvicas

11. Veia  femoral  comum

12. Veia  femoral  profunda

13. Veia  femoral  superficial

14. Veia  popliteia

15. Crural:  tibial  anterior,  tibial  posterior,  peroneal

16. Veias  musculares:  perfurantes  dos  gémeos,  veias  soleares

Veias  Perfurantes  

17. Coxa

18. Perna

Este   método   de   estadiamento   da   doença   permitiu   também   definir   melhor   os  

requisitos   para   o   seu   diagnóstico   preciso,   e   recomendações   para   a   sua   terapêutica.  

Assim   foram   definidos   três   níveis   de   requisitos   diagnósticos   consoante   a  

complexidade,   passando   a   integrar   a   designação   na   classificação   final,   o   nível   (L)   de  

requisito  diagnóstico  (LI,  LII,LIII):  

.   Nível   I   -­‐   Apenas   consulta   médica   contemplando   história   clínica,   exame   físico   e  

A classificação CEAP

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eventualmente  doppler  contínuo  ou  ecoDoppler  (C0  e  C1)  

.    Nível  II  -­‐    Exames  vasculares  não  invasivos.  Ecodoppler  obrigatório  (C2  e  C3)  

.   Nível   III   -­‐   Exames  mais   complexos,   que   podem   compreender   a   pressão   venosa   em  

ambulatório,  flebografia,  varicografia,  TAC  e  RMN  (C4,  C5,  C6)  

CEAP  -­‐  Um  processo  dinâmico  

Dado  que  a  DVC  é  um  processo  dinâmico,  não  faria  sentido  efectuar  uma  classificação  

inicial   do   doente   na   primeira   observação,   sem   rever   essa   mesma   classificação   nas  

observações   subsequentes,   e   após   instituição   da   terapêutica   julgada   necessária.  

Portanto,   a   doença   deverá   ser   sempre   re-­‐classificada   após   cada   visita   médica,  

referindo  a  data  do  exame  na  classificação.  

CEAP  –  Resumo  

Em  resumo,  e  a  título  de  exemplo,  apresenta-­‐se  um  doente  que  no  dia  25  de  Maio  de  

2017  se  apresenta  para  consulta  com:  

.  Varizes,  dor  e  edema  da  perna,  lipodermatoesclerose,  úlcera  activa;  

.  EcoDoppler  em  25/5/2017-­‐  refluxo  na  GS  acima  e  abaixo  do  joelho,  perfurante  da  

perna  insuficiente,  refluxo  na  femoral  e  popliteia;  

.  Sem  sinais  de  obstrução.  

CEAP  básico:              C6s,Ep,As,p,d,Pr  

CEAP  avançado:    C2,3,4b,6s,Ep,As,p,d,Pr  2,3,18,13,14  (25/5/2017),  LII  

A classificação CEAP

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A classificação CEAP

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CLÍNICA:  SINTOMAS  E  SINAIS  

Beatriz  Mourato,  Nuno  Pratas,  João  Magro  

Introdução  

A  doença  venosa  crónica  dos  membros   inferiores  é  a  patologia  vascular  mais  comum  

na   atualidade,   referindo-­‐se   à   presença   de   alterações   morfológicas   ou   funcionais   de  

longa  duração  dos  sistemas  venosos  dos  membros  inferiores.  As  varizes  dizem  respeito  

à   dilatação,   ingurgitamento   ou   tortuosidade   das   veias   superficiais   dos   membros  

inferiores1.    

Para  o  seu  correto  diagnóstico  é  fundamental  proceder  a  uma  história  clínica  completa  

e   um   exame   objetivo   cuidado,   podendo   ser   auxiliado   por   testes   funcionais   e   pela  

realização  do  ecoDoppler  venoso  dos  membros  inferiores.    

Deste  modo,  existe  todo  um  espectro  de  sinais  e  sintomas  que  podem  estar  associados  

a  esta  patologia  e  que  irão  ser  explanados  neste  capítulo.    

História  clínica  e  exame  objetivo  

A   realização   da   história   clínica   do   doente   com   patologia   venosa   crónica,   deve   ser  

cuidada   e   minuciosa,   devendo   o   médico   apurar   além   dos   sinais   e   sintomas   que  

motivam  a  consulta,  os  antecedentes  médicos  e  cirúrgicos  do  doente,  a  sua  medicação  

habitual,   a   história   familiar,   os   fatores   de   risco   para   existência   de   doença   venosa  

crónica  e  o  impacto  que  a  mesma  tem  na  qualidade  de  vida  do  doente2.    

Antecedentes  pessoais  

Assim,   em   relação   aos   antecedentes   pessoais,   é   importante   apurar   a   existência   de  

complicações  da  doença   venosa,   como  eventos   tromboembólicos,   flebites,   síndrome  

pós-­‐trombótica,   bem   como   a   presença   de   doença   cardiovascular,   doença   arterial  

periférica,   diabetes   mellitus,   artrite,   doença   hepática,   doença   renal,   doenças  

endócrinas,  doenças  autoimunes,  doenças  inflamatórias  sistémicas  ou  neoplasias,  que  

possam   fazer   diagnóstico   diferencial   com   alguns   dos   sinais   e   sintomas   da   doença  

venosa  crónica.1,  3    

Clínica: sintomas e sinais

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84 82  

O   doente   deve,   também,   ser   questionado   relativamente   aos   seus   antecedentes  

cirúrgicos,   nomeadamente   intervenções   cirúrgicas   vasculares   e   ortopédicas   sobre   os  

membros  inferiores.    

Medicação  habitual  

A  medicação  habitual  do  doente  deve  ser  registada,  com  particular   interesse  para  os  

fármacos   anticoagulantes,   contracetivos   orais,   medicação,   anti-­‐inflamatórios   não  

esteroides,  antidiabéticos  orais  ou  bloqueadores  dos  canais  de  cálcio.4  

Antecedentes  familiares  

Na  história  familiar,  importa  questionar  o  doente  acerca  de  outros  membros  da  família  

com   doença   venosa   crónica   ou   complicações   desta.   Deve   também   ser   esclarecida   a  

presença  de  trombofílias4.  

Sintomas  frequentes  

As  queixas  mais  frequentes  associadas  à  existência  de  varizes  dos  membros  inferiores  

são   a   dor,   em   resultado   da   distensão   venosa,   e   que   pode   ser   generalizada   ou  

circunscrita   a   uma   área   de   varicosidades,   lipodermatoesclerose   ou   ulceração,   a  

sensação  de  cansaço  ou  peso  agravada  pelo  ortostatismo  prolongado  ou  pela  posição  

de  sentado  com  pernas  pendentes  e  que  alivia  com  a  elevação  dos  membros  inferiores  

e  com  a  marcha.    

O  edema  dos  membros  inferiores  também  é  um  dos  sinais  e  sintomas  mais  frequentes  

desta  patologia,  presente  em  25  a  75  %  dos  doentes.  Agrava  em  ortostatismo  ao  longo  

do  dia  e  diminui  com  a  elevação  do  membro.  O  edema,  geralmente,  inicia-­‐se  ao  nível  

do   tornozelo   e   pé   e   estende-­‐se,   progressivamente,   para   a   perna   à   medida   que   se  

agrava,  devido  à  acumulação  de  fluido  extravascular  nos  membros  inferiores.  Quando  

unilateral,  é  sugestivo  da  etiologia  venosa,  contudo  a  presença  de  edema  bilateral  não  

exclui  esta  patologia.    

Outras   queixas   referidas   são   a   sensação   de   picada,   fadiga   generalizada,   cãibras,  

parestesias,  prurido  ou  varicorragia,  geralmente  controlada  pela  aplicação  de  terapia  

compressiva5.  

Clínica: sintomas e sinais

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Exame  objetivo  -­‐  Sinais  

O   exame   objetivo   é   essencial   para   o   diagnóstico   e   para   a   abordagem   da   doença  

varicosa   dos  membros   inferiores.   Assim   o   doente   deve   ser   submetido   a   um   exame  

objetivo  completo,  embora  o  maior  enfoque  seja  na  avaliação  do  estado  venoso  dos  

membros  inferiores.    O  doente  deve  ser  avaliado  em  decúbito  e  em  ortostatismo,  onde  

se  pretende  obter  maior  distensão  venosa6.    

Deve  ser   feita  a   inspeção,  palpação  e  percussão  dos  membros   inferiores,  de   forma  a  

identificar6:    

-­‐   Telangiectasias:   correspondem   a   uma   confluência   de   vénulas   intradérmicas  

dilatadas,  mas  com  <1  mm  de  diâmetro  (Fig.  1).  O  matting  corresponde  normalmente  

a  vasos  finos  e  avermelhados  com  <0,2  mm  que  se  podem  desenvolver  após  qualquer  

tratamento  venoso  (p.e.  laser,  escleroterapia,  stripping);  

Fig.  1  –  Telangiectasias.  

-­‐   Veias   reticulares:   são   veias   subdérmicas   dilatadas,   de   1   a   3   mm   de   diâmetro,  

geralmente  tortuosas  (Fig.  2);  

Fig.  2  –  Veias  reticulares.  

Clínica: sintomas e sinais

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-­‐  Veias   varicosas.   São   veias   dilatadas   subcutâneas   com  >3  mm  de  diâmetro.   Podem  

envolver  veias  safenas,  tributárias,  ou  outras  veias  superficiais  (Fig.  3);  

Fig.  3-­‐  Veias  varicosas.  

-­‐  Tromboflebite:  Existência  de  sinais  inflamatórios  num  determinado  território  venoso  

superficial,    doloroso  à  palpação  (Fig.  4);  

Fig.  4  –  Tromboflebite.  

-­‐  Edema:   Deve-­‐se   ao   aumento   no   volume  de   líquido   intersticial   na   pele   e   no   tecido  

celular  subcutâneo;  

-­‐  Corona  phlebectatica:  Corresponde  à  presença  de   inúmeras  veias   intradérmicas  na  

região  medial  ou  lateral  do  pé  ou  do  tornozelo  (Fig.  5)7;  

Fig.  5  –  Corona  phlebectatica.  

-­‐  Hiperpigmentação:  Coloração  acastanhada  ou  acinzentada  que  se  deve  à  deposição  

de  hemossiderina  proveniente  da  degradação  dos  eritrócitos  que  extravasam  para  o  

Clínica: sintomas e sinais

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espaço  extravascular.  Ocorre  geralmente  na  região  peri-­‐maleolar,  podendo  estender-­‐

se  proximal  ou  distalmente  (Fig.  6);    

Fig.  6  –  Hiperpigmentação.  

-­‐   Lipodermatoesclerose:   Corresponde   a   uma   inflamação   crónica   com   fibrose   e  

“engrossamento”   da   pele   e   tecidos   subcutâneos.   Pode   também   associar-­‐se   à  

contractura   do   tendão   de   Aquiles.   Por   vezes   é   precedido   por   edema   inflamatório  

difuso  da  pele  que  pode  ser  doloroso  (Fig.  7);    

Fig.  7  –  Lipodermatoesclerose.  

-­‐  Atrofia  branca  (Atrophie  blanche):  É  uma  zona  circular  ou  estrelada  de  cor  de  marfim  

localizada  cercada  por  capilares  dilatados  ou  hiperpigmentação.  É  um  sinal  de  doença  

venosa   crónica   grave,   que   surge   espontaneamente   e   não   deve   ser   confundida   com  

uma  cicatriz  de  úlcera  cicatrizada  (Fig.  8);  

Fig.  8  –  Atrofia  branca.  

Clínica: sintomas e sinais

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-­‐   Úlcera   venosa:   As   úlceras   venosas   são   defeitos   de   espessura   total   da   pele,  

localizando-­‐se,  frequentemente,  na  região  maleolar  interna.  Podem  ocorrer,  também,  

ao   nível   do   maléolo   externo   e   proximalmente   ao   tornozelo   ou   tornar-­‐se  

circunferenciais,  mas  não  ocorrem  na  região  plantar  nem  acima  do  joelho.  Podem  ser  

múltiplas  ou  únicas  e  geralmente  são  exsudativas,  planas,  com  bordos  irregulares,  mas  

bem  delimitados  (Fig.  9).  

Fig.  9  –  Úlcera  venosa.  

Testes  funcionais  

A   facilidade  de  acesso  ao  ecoDoppler  venoso   tem  vindo  a   tornar  menos   frequente  a  

realização   de   testes   funcionais   durante   o   estudo   do   doente.   Contudo,   a   realização  

destes  testes  pode  auxiliar  o  diagnóstico  e  determinação  do  segmento  afetado.    

O  teste  clássico  de  Brodie-­‐Trendelenburg  permite  distinguir  entre  refluxo  do  sistema  

superficial  ou  profundo.  Para  o  executar,  o  doente  deve  estar  em  decúbito  dorsal,  é  

feita  a  elevação  do  membro  inferior  e  aplicado  um  garrote  ou  pressão  manual  sobre  as  

veias   do   sistema   superficial,   a   5   cm   da   virilha.   Posteriormente,   o   doente   assume   a  

posição   ortostática   e,   na   presença   de   refluxo   do   sistema   superficial,   as   veias   deste  

sistema   irão   levar  mais   de   20   segundos   para   ficar   ingurgitadas,   progredindo   esta   de  

baixo   para   cima,   caso   a   compressão   esteja   a   ser   feita   proximalmente   ao   ponto   de  

refluxo.   A   libertação   do   garrote   ou   da   compressão   manual   irá   levar   a   um  

preenchimento   venoso   rápido,  mas  o   sentido  é  de   cima  para  baixo.  Na  presença  de  

refluxo  do  sistema  profundo  (ou  combinado)  existirá  um  preenchimento  venoso  rápido  

apesar   da   aplicação   do   garrote   ou   da   compressão   manual8,   no(s)   local(is)   daquele  

refluxo.    

O  teste  de  Perthes  avalia  a  insuficiência  das  veias  perfurantes.  À  semelhança  do  teste  

anterior,   é   aplicado   um   garrote   quando   o   doente   eleva   o   membro   na   posição   de  

Clínica: sintomas e sinais

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decúbito,   mas   posteriormente   o   doente   deve   deambular   durante   cinco   minutos.   O  

ingurgitamento  venoso  abaixo  do  nível  de  aplicação  do  garrote  traduz  a  existência  de  

uma   veia   perfurante   insuficiente8.   Pode   ser   repetido   colocando   o   garrote   a   vários  

níveis.  

Diagnóstico  diferencial  

A   lista   de   diagnósticos   diferenciais   da   doença   venosa   crónica   é   extensa,   pois   como  

vimos  a  sua  forma  de  apresentação  é  bastante  variável.  Contudo,  existem  diagnósticos  

que   pela   sua   gravidade   devem   ser   ressaltados   como   é   o   caso   da   trombose   venosa  

profunda   e   das   causas   sistémicas   de   edema,   como   insuficiência   cardíaca,   síndrome  

nefrótica,   doença   hepática,   doenças   endócrino-­‐metabólicas,   doenças   autoimunes   e  

inflamatórias   sistémicas,   neoplasias   e   metastização.   Devemos   ainda   ter   em  

consideração  os  efeitos  secundários  da  medicação  habitual  do  doente.    

Outros   diagnósticos   diferenciais   incluem  a   rotura   de  quisto   popliteo,   hematomas  ou  

massas   de   tecidos   moles   e   o   linfedema.   A   hiperpigmentação   cutânea   e   a  

dermatoesclerose   poderão   ser   secundarias   a   doenças   como   dermatite,   mixedema,  

necrobiosis   diabeticorum.   A   ulceração   crónica   pode   dever-­‐se   a   doença   arterial  

periférica,  fistulas  artério-­‐venosas,  neuropatia  periférica,  vasculite,  artrite  reumatoide,  

discrasias   hemorrágicas,   infeções,   pioderma   gangrenosoum,   neoplasia,   trauma   ou  

múltiplas  outras  etiologias5.  

Qualidade  de  vida  

A  avaliação  da  qualidade  de  vida  nos  doentes  com  doença  venosa  crónica  é  um  ponto  

fundamental,  pois  a  maioria  dos  estudos  realizados  acerca  deste  tema,  revela  que  os  

doentes  apresentam  uma  diminuição  da  qualidade  de  vida,  que  se  traduz  não  apenas  

em   limitações   na   atividade   diária,   mas   também   na   afeção   psicológica   causada   pela  

patologia   e   pelas   suas   complicações10,   11.   Para   esta   avaliação   existem   instrumentos  

como   a   escala   36-­‐item   Short   Form   Health   Survey   (SF-­‐36),   Aberdeen   Varicose   Vein  

Questionnaire   (AVVQ),   CIVIQ   2   –   Venous   Quality   of   Life   Questionnaire,   Venous  

Insufficiency  Epidemiologic  and  Economic  Study  (VEINES-­‐QoL),  Venous  Clinical  Severity  

Score  (VCSS)  e  o  Venous  Disability  Score  (VDS)12,  13.    

Clínica: sintomas e sinais

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Clínica: sintomas e sinais

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ECODOPPLER  NA  AVALIAÇÃO  DA  DOENÇA  VENOSA  CRÓNICA  

Ana  Lourenço,  Mariana  Lima  e  Ângela  Marques  

 

Considerações  práticas  

A   doença   venosa   crónica   é   uma   patologia   muito   frequente   nos   países   ocidentais,  

inclusivamente   em   Portugal,   condicionando   incapacidade   laboral   e   consequente  

consumo  elevado  dos  recursos  de  saúde.  Apesar  do  avanço  crescente  da  Radiologia,  o  

avaliação   da  morfologia   e   padrão   hemodinâmico   das   veias   dos  membros   inferiores,  

sendo,   atualmente,   o   exame   de   eleição   no   diagnóstico   e   seguimento   da   doença  

vascular  crónica.  

   

  Indicações  

O  principal  objetivo  do  estudo  ecoDoppler  dos  membros  inferiores  é  orientar  a  decisão  

terapêutica.  Para  tal,  é  necessária  a  correta  deteção  e  caracterização  da(s)  causa(s)  da  

insuficiência   venosa,   pois   a   sua   incorreta   identificação   associa-­‐se   a   uma   taxa   de  

recorrência   pós-­‐terapêutica   mais   elevada   e   mais   precoce,   quer   nas   abordagens  

cirúrgicas   quer   nas   técnicas   não   cirúrgicas   minimamente   invasivas.   O   exame  

ecoDoppler  venoso  dos  membros  inferiores  deve  ser  efetuado  no  contexto  de  doença  

venosa   crónica   (DVC)   para   localização   dos   pontos   de   refluxo   nas   varizes   primárias,  

estudo   de   recidiva   pós-­‐terapêutica   e   em   doentes   com   complicações   (ex.   úlceras  

cutâneas).  

 

  Equipamento  

É  necessário  um  ecógrafo  com  Modo-­‐B,  Doppler  a  cores  e  pulsado,  sonda  linear  de  alta  

frequência   (7,5-­‐12   MHz),   sonda   convexa   (3,5-­‐5   MHz)   (para   avaliação   do   sistema  

venoso   profundo,   especialmente   em  doentes   com  edema   significativo   dos  membros  

ou  obesos)  e  um  sistema  de  registo  de  imagens.    

ecoDoppler  continua  a  ser  um  método  complementar  de  diagnóstico  fundamental  na  

EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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No   modo-­‐B   o   foco   deverá   ser   direcionado   para   o   vaso   a   estudar   e   os   ganhos  

otimizados   de   forma   a   manter   o   lúmen   anecogénico   (na   ausência   de   trombose   ou  

fluxo  muito  lento).    

No  estudo  Doppler  pulsado  e  colorido,  deve  manter-­‐se  um  ângulo  de  insonação  entre  

45-­‐60°   entre   a   sonda   e   o   lúmen   do   vaso   e   devem-­‐se   usar   velocidades   baixas  

(normalmente  entre  os  5-­‐10  cm/s).  

 

  Exame  objetivo  

Para  que  o  estudo  seja  o  mais  dirigido  possível,  é   fundamental  avaliar  as  queixas  do  

examinado,  o  padrão  de  distribuição  cutânea  das  varizes  e  os  antecedentes  cirúrgicos.  

A   DVC   compreende   um   conjunto   de   sinais   e   sintomas   que   abrange   desde   as  

telangiectasias  às  úlceras  cutâneas.  Em  1994,  foi  apresentado  um  sistema  de  consenso  

internacional   –   CEAP   (Clinical-­‐Etiology-­‐Anatomy-­‐Pathophysiology)   com   o   objetivo   de  

aumentar  a  consistência  na  descrição  e  classificação  da  DVC.  Este  sistema  baseia-­‐se  na  

criação   de   um   score   individual   através   da   avaliação   de   quatro   parâmetros:  

manifestações   clínicas,   fatores   etiológicos,   padrão   de   distribuição   anatómica   e  

patofisiologia.  Em  2004,  este  sistema  sofreu  algumas  modificações  passando  a  incluir,  

nomeadamente,  a  referência  à  realização  de  estudo  ecoDoppler.  

 

  Protocolo  técnico  

Inicialmente  o  procedimento  deve  ser  explicado  ao  doente.    

O  examinado  deverá  posicionar-­‐se  em  ortostatismo,   idealmente  apoiando  o  peso  do  

corpo  no  membro  contralateral,  embora  mantendo  ambos  os  calcanhares  apoiados  no  

chão   (para   assegurar   o   máximo   de   distensão   venosa),   com   a   perna   a   avaliar   em  

rotação   externa   e   joelho   ligeiramente   fletido.   Para   uma   correta   avaliação   da  

competência   venosa   são  essenciais   as  manobras  de   compressão  muscular   distal   que  

aumentam   o   retorno   venoso,   seguidas   de   descompressão   que   acentuam   o   refluxo  

venoso  na  presença  de  válvulas   incompetentes.  Caso  não   seja  possível   realizar  estas  

manobras,  poderá  recorrer-­‐se  à  manobra  de  Valsalva.    

O  exame  é  iniciado  com  o  estudo  em  modo-­‐B,  que  permite  localizar  os  vasos  a  estudar.  

Os   cortes   axiais   (menor   eixo   do   vaso)   facilitam   a   identificação   da   anatomia   e  

morfologia   venosas   e   a   identificação   de   possíveis   trombos   endoluminais,   sendo   os  

EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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cortes   longitudinais   (maior   eixo   do   vaso)   essenciais   para   a   avaliação   de   refluxo.   O  

estudo  com  Doppler  colorido  permite  uma  análise  rápida  do  sentido  do  fluxo  venoso,  

sendo  que,  por  convenção  no  estudo  da  DVC,  a  cor  azul  traduz  fluxo  que  se  afasta  da  

sonda  e  o  encarnado  fluxo  que  se  aproxima  da  sonda.  Contudo,  para  quantificação  do  

refluxo   é   essencial   o   recurso   ao  Doppler   pulsado.  O   cursor   da   amostra   de   volume  a  

analisar  pode  ser  posicionado  em  qualquer  ponto  ao  longo  do  eixo  do  vaso  e  a  escala  

de  velocidade/frequência  deve  ser  ajustada  (geralmente  para  5–10  cm/s).    

O  refluxo  venoso  corresponde  a   fluxo  com  sentido   inverso  ao   fisiológico,  geralmente  

considerado  com  duração  superior  a  0,5  segundos,  na  avaliação  do  sistema  superficial  

e   perfurantes,   e   superior   a   um   segundo   na   avaliação   do   sistema   venoso   profundo,  

embora   não   exista   consenso   na   literatura   no   que   respeita   a   um   intervalo   de   tempo  

definitivo  para  todos  os  territórios  venosos.  O  refluxo  pode  ser  superficial  se  confinado  

ao   sistema   venoso   superficial,   profundo   se   afetar   o   sistema   venoso   profundo,   ou  

combinado.   No   território   da   grande   veia   safena   (GVS),   o   refluxo   venoso   patológico  

pode   ser   classificado   como   Refluxo   Axial   (RA),   quando   se   trata   de   refluxo   contínuo  

desde  a  junção  safeno  femoral  (JSF)  ao  longo  da  GVS  até  abaixo  do  joelho,  ou  Refluxo  

Segmentar  (RS),  se  envolve  um  segmento  venoso  sem  continuidade  do  refluxo  desde  

da  virilha  até  à  perna.  O  RS  é  subdividido  em:  tipo  1,  se  envolve  só  uma  colateral;  tipo  

2,   se  envolve  uma  colateral  e  o  segmento  da  GVS  adjacente;  ou   tipo  3,   se  envolve  a  

colateral,   um   segmento   da   GVS   e   a   JSF.   A   avaliação   da   intensidade   do   refluxo   e   a  

medição  do  diâmetro  venoso  são  igualmente  importantes  para  a  decisão  terapêutica.  

O   estudo   da   junção   safeno-­‐femoral   (JSF)   é   iniciado   ao   nível   da   prega   da   virilha,   em  

cortes  transversais,  procurando  a  veia  femoral  comum  (VF)  ladeada  internamente  pela  

GVS   e   externamente   pela   artéria   femoral   (sinal   do   “Mickey   Mouse”).   Em   cortes  

longitudinais,  devem  identificar-­‐se  as  válvulas  terminal  (constante  1-­‐2  mm  distal  à  JSF)  

e  pré-­‐terminal  (cerca  de  2  cm  abaixo,  que  marca  o  limite  distal  da  JSF),  uma  vez  que  as  

tributárias   mais   importantes   se   lançam   na   JSF   entre   as   duas   válvulas.   A   este   nível,  

devem  ser  procuradas  outras  possíveis  causas  de  refluxo  para  além  da  incompetência  

valvular  da  JSF,  nomeadamente,  veias  proximais   incompetentes  (inguino-­‐abdominais)  

que  podem   transmitir   refluxo   retrógrado  para   a  GVS  mesmo   com  a   válvula   terminal  

competente  e   veias   colaterais   incompetentes,   como  a   veia   safena  anterior   acessória  

ou  as  veias  linfo-­‐ganglionares.  

EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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A   grande   veia   safena   (GVS)   tem   um   compartimento   intrafascial   próprio,   facilmente  

identificado   em   modo   B,   que   em   corte   transversal   assume   uma   configuração  

conhecida  como  “olho  egípcio”  (o  lúmen  da  safena  é  a  íris,  a  fáscia  safena  é  a  pálpebra  

superior,   e   a   fáscia   aponevrótica   profunda   a   pálpebra   inferior).   Este   sinal   facilita   a  

identificação  da  safena  e  a  sua  distinção  de  colaterais  com  trajeto  supra-­‐aponevrótico.  

Na  presença  de  refluxo  deve  proceder-­‐se  à  medição  do  diâmetro  da  GVS  abaixo  da  JSF,  

pois  esta  medida  pode  condicionar  a  abordagem  terapêutica.  A  GVS  deve  ser  avaliada  

em  todo  o  seu  trajeto  até  ao  tornozelo.  Ao  nível  do  joelho  pode  ser  identificada  pela  

sua   localização,  num  compartimento  triangular  delimitado  pela  tíbia,  músculo  gémeo  

interno   e   aponevrose   (sinal   do   ângulo   tibio-­‐gemelar).   Nos   dois   terços   inferiores   da  

perna,  a  GVS  raramente  é  refluxiva,  pois  o  seu  compartimento  torna-­‐se  muito  estreito  

entre  os  grupos  musculares  da  perna.  Se  não  for  visualizada  veia  no  compartimento  na  

coxa  ou  perna,   isso  significa  que  está  ausente  ou  hipoplásica.  Por  vezes,  a  GVS  pode  

“abandonar”  o  seu  compartimento,  designando-­‐se  por  colateral  todo  o  trajeto  venoso  

extracompartimental,   pois   mesmo   que   seja   evidente   continuidade   com   a   veia   axial  

principal  não  deve  ser  descrita  como  safena  troncular  uma  vez  que  não  se  encontra  no  

respetivo  compartimento  safeniano.  

A  Veia  Safena  Anterior  Acessória  (VSAA)  é  identificada  em  40  %  dos  indivíduos  na  face  

anterior   da   coxa,   num   “segundo   compartimento   safeniano”,   anterior   e   externo  

relativamente  à  GVS,   reconhecido  pelo  alinhamento  com  os  vasos   femorais   (sinal  do  

alinhamento).  A   sua   terminação  é   variável,   podendo   terminar   conjuntamente   com  a  

grande  veia  safena  a  1  cm  da  JSF  ou  de  forma  isolada  na  VF.  

As   veias   linfo-­‐ganglionares   são   identificadas   entre   a   GVS   e   a   VSAA.   Comunicam  

superiormente   com   veias   inguino-­‐abdominais   ou   com   a   VF   e   podem   ser   causa   de  

varizes   primárias   ou   comunicar   inferiormente   com   a   GVS   sendo   a   causa   da   sua  

incompetência.  

As  veias  colaterais,   identificadas  na  coxa  e  perna,  são  obrigatoriamente  superficiais  à  

fáscia,   tendo   de   a   perfurar   para   se   lançarem   na   GVS.   Existem   múltiplas   variantes  

anatómicas  possíveis,  sendo  alguns  vasos  mais  constantes,  nomeadamente  o  sistema  

venoso   lateral   (na   face  externa  da  coxa  e  perna);   a   veia   circunflexa  anterior  da   coxa  

(tributária   da  GVS  ou  da  VSAA  e   ascende  obliquamente  na   face   anterior   da   coxa);   a  

veia   circunflexa   posterior   da   coxa   também   tributária   da   GVS   ou   da   veia   safena  

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posterior   acessória   (VSPA)   que   ascende   obliquamente   na   face   posterior   da   coxa,  

podendo  originar-­‐se  na  pequena  veia  safena  (PVS),  na  sua  extensão  para  a  coxa  ou  no  

sistema   venoso   lateral;   as   veias   intersafenianas   que   têm   trajeto   oblíquo   na   perna   e  

ligam  a  PVS  e  GVS;  e  na  perna  as  veias  do  arco  anterior  e  posterior  (veia  de  Leonardo).  

Para   efeitos   de   otimização   terapêutica   devem   ser   corretamente   localizadas   e  

referenciadas,  nomeadamente  a  sua  topografia  em  relação  à  prega  cutânea  popliteia  

(para   colaterais   da   coxa)   ou   ao   plano   do   chão   (para   colaterais   da   perna).   É  

fundamental   que   se   faça   o   estudo   do   tronco   safeniano   abaixo   do   colateral   para  

classificação  do  refluxo,  pois  condiciona  a  abordagem  cirúrgica.  

As   veias   perfurantes   são   numerosas   ao   longo   do  membro   inferior,   com   distribuição  

variável.   Estas   veias   estabelecem   a   ligação   entre   o   sistema   venoso   superficial   e  

profundo,  perfurando  a  aponevrose.  Para  serem  consideradas  patológicas  devem  ter  

um   calibre   superior   a   3   mm   e   permitir   fluxo   bidirecional,   com   tempo   de   refluxo  

superior  a  0,5  segundos,  sendo  referenciada  a  sua  topografia  pela  distância  à  prega  do  

escavado  popliteu  ou  ao  plano  do  chão.  

A  pequena  veia  safena  (PVS)  origina-­‐se  atrás  do  maléolo  tibial  externo,   localiza-­‐se  no  

sulco  intergemelar  ao  nível  da  perna,  terminando  frequentemente  na  veia  popliteia  ao  

nível   do   escavado   popliteu.   A   PVS   ocupa   uma   posição   intrafascial   em   todo   o   seu  

trajeto   (entre   a   aponevrose   e   a   fáscia   muscular   profunda),   podendo   por   vezes   ser  

dupla  ou  mesmo  tripla.  Deve  avaliar-­‐se  a  presença  de  refluxo  na  PVS,  após  manobras  

de   compressão  muscular   distal   e   no   caso   da   veia   ser   refluxiva   deve  medir-­‐se   o   seu  

diâmetro  3  cm  abaixo  da  JSP  (se  presente)  ou  ao  nível  do  escavado  popliteu.  O  refluxo  

venoso  pode   ter  origem  primária  no   território  da  GVS  e  estender-­‐se   inferiormente  à  

PVS  (através  da  veia  de  Giacomini  (VG))  com  insuficiência  valvular  secundária  desta,  ou  

ser  primário  da  PVS  com  progressão  superior  pela  face  posterior  da  coxa  e  ser  causa  de  

refluxo  secundário  da  GVS.  

A  junção  safeno-­‐popliteia  (JSP)  corresponde  à  terminação  da  PVS  na  veia  popliteia  (VP)  

e   geralmente   localiza-­‐se   2   a   4   cm   acima   da   prega   cutânea   popliteia,   embora   com  

grande  variabilidade,  podendo  em  alguns  casos  a  terminação  ser  mais  alta  (5  a  10  cm  

acima  da  prega).  A  PVS  possui  também  duas  válvulas:  a  válvula  terminal  proxima  da  VP  

e  a  válvula  pré-­‐terminal  que,  geralmente,   se  encontra  abaixo  da  origem  da  extensão  

para   a   coxa   da   PVS   (EC).   O   padrão   da   junção   safeno-­‐popliteia   é   bastante   variável,  

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podendo  ser  verdadeira,  parcial  ou  mesmo  inexistente.  Quando  não  existe  uma  junção  

safeno-­‐popliteia  verdadeira  a  PVS  pode  ter  trajeto  curto  e  drenar  numa  perfurante  do  

escavado  popliteu  ou  numa  perfurante  gemelar  ou  então  apresentar  um  trajeto  longo  

comunicando  superiormente  com  a  GVS  através  da  EC,  com  a  VG,  veias  perineais  ou  

perfurantes  da  coxa  (póstero-­‐externas).  

A   EC   cursa   na   goteira   entre   os   músculos   bicípite   femoral   e   semimembranoso,  

delimitada  superficialmente  pela  fáscia  superficial,  tendo  portanto  também  um  trajeto  

intracompartimental,  estando  presente  em  95%  dos  casos.  No  seu  trajeto  ascendente  

pode  ter  várias  terminações:  continuar-­‐se  com  os  vasos  perineais,  comunicar  com  uma  

veia  perfurante  posterior  da  coxa  que  se  une  à  femoral  profunda,  dividir-­‐se  em  ramos  

musculares   e   subcutâneos   para   a   coxa   ou   comunicar   com   a   GVS   através   da   veia  

circunflexa  posterior  da  coxa.  

A   VG   surge   quando   a   EC   da   PVS   comunica   com   a   GVS   através   da   veia   circunflexa  

posterior   da   coxa,   que   pode   transmitir   refluxo   do   território   da   GVS   para   a   PVS   ou  

inversamente,  refluxo  da  PVS  para  a  GVS.  

A  veia  femoral  comum  (VF)  e  a  veia  popliteia  (VP)  integram  o  sistema  venoso  profundo  

do  membro  inferior  e  são  inicialmente  avaliadas  na  posição  de  decúbito  para  deteção  

de   trombose   venosa   profunda   com   avaliação   do   lúmen   em   modo   B   e   da  

compressibilidade   do   vaso   (exercendo   uma   ligeira   pressão   com   a   sonda)   em   cortes  

axiais,   e   posteriormente   é   feita   a   avaliação   do   padrão   de   preenchimento   dos   vasos  

com  o  Doppler  colorido  e  avaliação  espectral  da  VF  em  cortes  longitudinais.  De  seguida  

deverá   ser   realizada   a   avaliação   em   ortostatismo,   com   realização   de   manobras   de  

compressão   muscular   distal   e   pesquisa   de   refluxo,   que   deve   ser   avaliado   acima   e  

abaixo   da   JSF   e   JSP,   respetivamente,   para   distinguir   incompetência   das   crossas   de  

refluxo  do  sistema  venoso  profundo.  

 

  Vantagens  

O  estudo  ecográfico  em  modo-­‐B  complementado  com  o  doppler  colorido  e  pulsado  é  

uma   modalidade   sensível   e   específica   para   o   diagnóstico   de   trombose   venosa  

profunda  e  superficial,  assim  como  para  deteção  de  refluxo  patológico.  Permite  ainda  

a  realização  de  relatórios  pormenorizados  e  rigorosos  com  o  correto  mapeamento  dos  

vasos  refluxivos,  de  forma  a  otimizar  a  intervenção  cirúrgica.  

EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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Tabela  1  –  Protocolo  de  ecoDoppler  utilizado  no  Hospital  dos  Capuchos  -­‐  CHLC  para  avaliação  da  insuficiência  venosa  crónica  dos  membros  inferiores  

 

 

   

  Desvantagens  

A   principal   desvantagem   relaciona-­‐se   com   o   facto   de   não   existirem   valores  

estandardizados   para   o   grau   de   compressão   muscular,   que   muitas   vezes   pode   ser  

insuficiente  para  desencadear  refluxo.  Devido  a  esta  variabilidade  interoperador  não  é  

EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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possível   quantificar   a   severidade   de   insuficiência   venosa   apenas   com   base   nas  

características  do  refluxo.    

 

  Conclusão    

O  estudo  dos  doentes  com  patologia  venosa,  classicamente  conseguido  pela  clínica  e  

pela   flebografia,   foi  modificado  desde  de  há  mais  de  duas  décadas  pelo  advento  dos  

métodos   não   invasivos   de   diagnóstico   vascular.   Com   efeito,   estas   técnicas   vieram   a  

mostrar-­‐se  rigorosas  na  avaliação  do  sistema  venoso  e  eliminaram  as  desvantagens  da  

flebografia.   Assim,   para   o   estudo   da   patologia   venosa   dos   membros   inferiores,   o  

exame   que   na   atualidade   constitui   a   primeira   linha   do   diagnóstico   é   o   ecoDoppler  

venoso,  sendo  fundamental  o  conhecimento  da  anatomia  venosa  do  membro  inferior  

e  as  suas  variações  anatómicas.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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EcoDoppler na avaliação da doença venosa crónica

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MEDICAMENTOS  VENOATIVOS  

Carlos  Pereira  Alves  

 

  O  que  são  os  Medicamentos  Venoativos?  

Os   medicamentos   venoativos   (MVA),   também   designados   por   venotrópicos   ou  

flebotónicos,   constituem   um   grupo   heterogéneo   de   medicamentos   usados   no  

tratamento   da   doença   venosa   crónica   (DVC)   e   insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   ou  

seja,  em  todas  as  classes  da  classificação  CEAP  (C0s  a  C6).  

A  maioria  dos  MVA  são  derivados  de  plantas  e  poucos  têm  origem  na  síntese  química.  

Os  principais  MVA  derivados  de  plantas  são:  

-­‐  Os  bioflavonoides  incluem:  a  fração  flavonóica  purificada  e  micronizada  (Micronized  

Purified   Flavonoid   Fraction/MPFF   na   designação   internacional),   a   diosmina   e   os  

rutosideos,  incluindo  a  rutina  e  hidroxirutosideos;  

-­‐  As  saponinas:  castanha  da  índia/escina  e  o  extrato  de  ruscus;  

-­‐  Outros  extratos  de  plantas  e  associações:  os  antocianósidos,  as  proantocianidinas.  

Os   principais   MVA   de   origem   sintética   são   o   dobesilato   de   cálcio,   a   benzarona   e   a  

naftazona.  

No  grupo  dos  bioflavonoides,  o  MPFF  é  o  mais  prescrito  e  está  disponível  em  Portugal  

com  o  nome  comercial  de  Daflon  500®.  É  constituído  por  90  %  de  diosmina  e  10  %  de  

outros   bioflavonoides   expressos   em   hesperidina:   a   hesperidina,   a   isoroifolina,   a  

linarina  e  a  diosmetina.  

O   MPFF   parece   ser   mais   potente   que   a   simples   diosmina,   dado   todos   os   seus  

componentes  contribuírem  para  o  seu  efeito   terapêutico.  A  micronização,  ao   reduzir  

as   partículas   do   produto   de   20   para   2   µ,   aumenta   a   absorção   intestinal   e   a  

biodisponibilidade  versus  a  diosmina  não  micronizada1.  

Daflon   500®   é   apresentado   em   comprimidos   de   500  mg,   revestidos   por   película,   de  

forma  oval,  com  uma  posologia  de  1000  mg/dia,  a  prescrever  numa  dose  única  de  2  

comp  id,  ao  pequeno-­‐almoço.  

As   diosminas   disponíveis   incluem:   Venex®,   Venex   Forte®   e   Venex   900®,  que   contêm  

diosmina  nas  doses  de  300  mg,  450  mg  e  900  mg,  respetivamente,  apresentadas  em  

Medicamentos venoativos

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cápsulas  ou  comprimidos,  com  recomendação  de  uma  dose  diária  de  900  mg  em  dose  

fracionada   ou   única;  Veno   V®,   diosmina,   apresentada   em   capsulas   de   300  mg,   com  

posologia  de  3  cáp  id.  

Nos   rutosideos   disponíveis   encontra-­‐se   o   Venoruton®,   saquetas   com   1000   mg   de  

oxirrutinas,  em  pó  granulado  para  solução  oral,  e  com  uma  posologia  recomendada  de  

1  saqueta  (saq)  id.  

No   grupo   das   saponinas,   encontram-­‐se   disponíveis:   o   Venotop®,   que   tem   na   sua  

composição   263,2   mg   de   extrato   seco   de   castanha   da   índia,   apresentado   em  

comprimidos  de  libertação  modificada  com  posologia  de  2  comp  id;    

o Cyclo  3®,  que  é  composto  por  extrato  seco  de  ruscus,  hesperidina  e  ácido  ascórbico,

apresentado  em  cápsulas,  com  posologia  de  3  cáp  id.  

No   grupo   de   outros   extratos   de   plantas   encontra-­‐se   o   Difrarel®,   que   tem   como  

substância  ativa  100  mg  de  antocianósidos,  na  forma  de  comprimidos,  com  posologia  

média  recomendada  de  6  comp  id.  

O   Venosmil®, composto   por   hidrosmina,   apresentado   em cápsulas   de   200   mg,  

com   posologia   de   1   cáp   3   id   às   principais   refeições;   nos produtos sintéticos,

o Doxi-Om®, que   tem   como   substância   ativa   o   dobesilato   de   cálcio,   apresentado

em   cápsulas   de   500  mg  e  com  a  posologia  de  1  a  2  cáp  id.  (Tabela  1)  

Tabela  1  –  Classificação  dos  principais  fármacos  venoativos2  

Poucos  estudos  têm  comparado  os  diferentes  venoativos,  podendo  considerar-­‐se  que  

a  maioria  são  quase  equivalentes  no  alívio  dos  sintomas3.    

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Numa  meta-­‐análise   recente,  onde   se  avaliou  o   impacto  dos  principais   venoativos  no  

edema  maleolar  de  origem  venosa,  concluiu-­‐se  que  a  redução  do  perímetro  maleolar  

com  o  MPFF  é  significativamente  superior  à  observada  com  os  restantes  venoactivos4.  

Adicionalmente,   poucos   venoativos,   com   exceção   do  MPFF,   têm   sido   estudados   no  

tratamento  da  IVC  (Classes  C4,  5,  6  da  classificação  CEAP).  Na  úlcera  venosa,  o  MPFF,  

associado  à  compressão  elástica,  revela,  numa  meta  análise  de  cinco  ensaios  clínicos,  

acelerar  a  cicatrização  da  úlcera5.  Outros  venoativos  estudados  levaram  à  redução  do  

edema  e  sintomas  da   IVC,  mas  não  demonstraram  resultados  superiores  aos  obtidos  

com  compressão  elástica  na  evolução  e  recorrência  da  úlcera6,  talvez  por,  ao  contrário  

do  MPFF,   não   terem   efeito   sobre   a   interação   leucócito-­‐endotélio,   que   tem   surgido  

como  mecanismo  importante  de  desenvolvimento  da  IVC  e  da  úlcera.  

A   segurança   dos   MVA   é   em   geral   boa,   com   reações   adversas   pouco   frequentes,  

raramente   severas   e   constituídas   essencialmente   por   distúrbios   gastrointestinais  

minor,   tipo   enfartamento,   flatulência   e   raras   vezes   náuseas   e   vómitos   ou   diarreia.  

Também  as  erupções  cutâneas  são  muito  raras.  

Para   mais   informações   sobre   os   MVA,   consultar   os   respetivos   Resumos   de  

Características  dos  Medicamentos  (RCM).  

O  diagnóstico  da  doença  venosa  crónica  deve  ser  o  mais  precoce  possível  e  a  duração  

do  tratamento  deve  começar  por  ser  de  um  a  três  meses,  com  análise  dos  resultados  

no   fim   deste   período.   Quando   resurgem   sintomas,   deve   pensar-­‐se   em   prevenir   a  

evolução  da  patologia,  apostando  num  tratamento  continuado.  

Deve  ter-­‐se,  também,  presente  que,  apesar  da  doença  venosa  ser  crónica  e  evolutiva,  

os  sintomas  que  a  caracterizam  e  que  levam  às  maiores  queixas  dos  doentes  são  mais  

frequentes  e  severos  no  verão.  

 

  Fisiopatologia  da  DVC/IVC  e  sua  relação  com  a  ação  dos  MVA  

As  varizes  são  dilatações  das  veias,  muitas  vezes  tortuosas.  

Continua  por  estabelecer  a  causa  inicial  das  varizes  e  do  seu  caráter  de  doença  crónica  

progressiva,   sendo   múltiplas   as   causas,   desde   fatores   genéticos,   história   familiar,  

fatores  hormonais,  gravidez,  profissões  com  longos  períodos  de  pé  ou  sentado,  estilo  

de  vida  sedentária,  sexo,  idade,  obesidade,  raça.  

Medicamentos venoativos

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para   o   tecido   subendotelial.   Esta  migração   tem   como   consequência   a   libertação   de  

fatores   inflamatórios   e   o   início   de   uma   cascata   inflamatória,   que   altera   o   normal  

processo  de  remodelação  parieto-­‐valvular,  amplia  a  DVC  e  a  sua  progressão  para  IVC13.  

São   vários   os   estudos   que   têm   demonstrado   a   capacidade   do   MPFF   proteger   as  

válvulas   venosas   da   ação   nociva   da   inflamação14.   Inibindo   a   ativação   leucocitária,   o  

MPFF   limita   a   adesão   e   subsequente   infiltração   dos   leucócitos   para   o   tecido  

subendotelial,   limitando  a  reação  inflamatória.  Esta  sequência  poderá  ser  fator  chave  

na  patogenia  da  IVC,  com  reflexos  no  tratamento  e  prevenção  evolutiva  da  doença.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  1  –  Fisiopatologia  da  DVC  /  IVC  

 Dilatação,  refluxo,  hipertensão  e  reação  inflamatória  levam,  com  o  tempo,  a  alterações  

de  microcirculação  com  alterações  da  filtração  capilar  e  aumento  da  permeabilidade,  

estando   criadas   as   condições   que   levam   ao   edema,   à   pigmentação,   à  

lipodermatoesclerose  e  à  úlcera  venosa  (sinais  de  IVC).  Esta  dilatação/inflamação  leva  

também   à   ativação   de   recetores   nociceptivos   C,   responsáveis   pelos   sintomas   mais  

Medicamentos venoativos

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Medicamentos venoativos

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Medicamentos venoativos

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frequentes   de   DVC:   sintomas   de   dor,   sensação   de   pernas   pesadas,   desconforto   das  

pernas,  etc.  (Fig.  1).  

Modo  de  ação  dos  MVA  

Os  principais  modos  de  ação  estudados  e  estabelecidos  para  os  MVA  são:  

-­‐  Aumento  da  tonicidade  venosa;  

-­‐  Aumento  da  resistência  capilar,  reduzindo  a  filtração  capilar  da  IVC;  

-­‐  Melhoria  da  drenagem  linfática;  

-­‐  Diminuição  da  agregação  e  da  deformação  dos  eritrócitos,  bem  como  a  viscosidade  

do  sangue;  

Tabela  2  –  Modo  de  ação  dos  principais  fármacos  venoativos15.  

-­‐  Inibição  da  interação  entre  os  leucócitos  e  o  endotélio,  inibindo  a  adesão  e  migração  

dos   leucócitos   circulantes   e,   consequentemente,   inibindo   a   libertação   de   fatores  

inflamatórios   presentes   na   insuficiência   venosa   crónica   e   que   tem   sido,  

particularmente,  estudada  com  o  MPFF  (Tabela  2).  

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Estes  modos  de  ação  explicam  o  efeito  benéfico  dos  MVA,  no  alívio  sintomático,  ação  

antiedema,  e  melhoria  da  qualidade  de  vida,  bem  como  o  efeito  benéfico  do  MPFF  nas  

úlceras  venosas5.  

 

  MVA  e  ensaios  clínicos  

Os   venoativos   não   eliminam   a   doença   venosa   crónica,   mas   beneficiam   o   alívio   dos  

sintomas  (dor,  sensação  de  peso  e  desconforto  das  pernas,  pernas   inchadas,  prurido,  

caibras,  pernas  inquietas  “restless  legs”  e  edema).  

Esta   eficácia   dos   MVA,   apesar   de   avaliada   em   numerosos   ensaios   extensos   e  

randomizados,  continua  a  ser  objeto  de  discussão,  devido  ao  facto  dos  estudos  terem  

diferenças   de   dimensão,   qualidade,   metodologia   e   possibilidade   de   “significativos  

viéses”  “major  bias”,  o  que  explica  a  variação  de  uso  nos  vários  países.  

De   facto,   analisar   a   resposta   de   sintomas   da   DVC   não   é   fácil.   Dado   o   seu   caráter  

subjetivo,   os   sintomas   de   DVC   não   são   específicos   e   são   muito   menos  

patognomónicos,   mesmo   que   se   tente   a   sua   quantificação   com   uso   de   escalas   de  

pontuação.  

Acresce   ainda,   que   os   sintomas   clínicos   das   varizes   e   edema   têm   variações.   Não   só  

variações  individuais  no  decorrer  do  dia,  mas  também  variações  com  a  época  do  ano  

(calor  ou  frio),  variações  com  a  atividade  mais  sedentária  ou  mais  ativa,  além  de  não  

haver  relação   linear  dos  sintomas  com  a  severidade  da  doença  venosa  ou  padrão  de  

refluxo.  

Estas  variações  têm  estado  presentes  no  desenho  dos  novos  ensaios  clínicos,  tentando  

minimizar  a  sua  influência  com  medições  do  edema  efetuadas  na  mesma  altura  do  dia,  

e  o  mais  objetivamente  possível,  com  medição  exata  do  diâmetro  maleolar  ou  o  uso  do  

teste   de   deslocação   de   água.   Adicionalmente,   a   análise   de   qualidade   de   vida   com  

escalas  próprias  tenta  dar  credibilidade  aos  resultados.  

clinico  dos  MVA  resultam  na  sua  bem  estabelecida  eficácia  no  alívio  dos  sintomas,  ação  

antiedema  e  melhoria  da  qualidade  de  vida.  

Já   na   IVC   poucos   venoativos   têm   sido   estudados,   com   exceção   do   MPFF   na   úlcera  

venosa5.  

 

Medicamentos venoativos

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  Indicações  dos  MVA  

As   indicações  dos  venoativos  resultam,  como   já   referido,  do  seu  mecanismo  de  ação  

com   atuação   em   alvos   do   processo   fisiopatológico   (Figura   1   e   Tabela   2),   de   ensaios  

clínicos  e  da  extensa  experiência  de  uso  clínico,  estando  bem  estabelecido  o  seu  efeito  

benéfico  no  alívio  sintomático  e  ação  antiedema.  

Nos   mais   recentes   guidelines,   os   MVA   têm   recebido   diferentes   graus   de  

recomendação.  O  MPFF  recebeu  o  maior  grau  de  recomendação,  o  grau  1A,  pela  sua  

ação   sobre  os   sintomas   venosos,   o   dobesilato  de   cálcio  o   grau  2A  e   a   escina  o   grau  

2B16,  17.  

 

O  American  Venous  Forum  (AVF)  refere   (recomendação  4-­‐4-­‐1  de  2017)  “sugerimos  o  

uso   de   venoativos   em   adição   à   compressão   elástica   nos   doentes   com   dor   e   edema  

devidos   à   doença   venosa   crónica,   em   países   onde   esses   medicamentos   estão  

disponíveis”18.  

 

Já  o  uso  de  venoativos  na   IVC  é  de  prescrição  mais  controversa  sendo  a  compressão  

elástica  considerada  a  1ª  linha  de  tratamento  conservador.  

No   entanto,   na   úlcera   venosa,   o   MPFF   associado   ao   tratamento   local   e   ao   uso   de  

compressão  elástica,  foi  objeto  de  meta  análise  de  cinco  ensaios  clínicos  randomizados  

e  controlados,  envolvendo  723  doentes5.  Em  três  dos  ensaios,  o  tratamento  local  com  

compressão  elástica   foi  comparado  com  o  mesmo  tratamento   local  com  compressão  

elástica   +   MPFF,   e   em   dois   ensaios,   o   tratamento   local   com   compressão   elástica   +  

MPFF   foi   comparado   com   tratamento   local   com   compressão   elástica   +   placebo.   Aos  

seis  meses,  a  possibilidade  de  cicatrização  era  32  %  melhor  nos  doentes  tratados  com  

MPFF.  

As  diferenças  verificaram-­‐se  a  partir  do  segundo  mês  de  tratamento  com  MPFF,  com  

tempo  de  cicatrização  mais   rápido.  Os  melhores   resultados  diziam  respeito  a  úlceras  

com  dimensões  entre  5-­‐10  cm  e  com  duração  de  6-­‐12  meses.  

Com   base   nestes   resultados,   o   AVF   considera   o   uso   do   MPFF   nas   úlceras   venosas  

recomendado  com  grau  1B  (recomendação  4-­‐4-­‐2  de  2017)  “úlceras  de  longa  duração  e  

grandes  dimensões  podem  beneficiar  do  tratamento  com  MPFF,  usado  em  associação  

à  compressão  elástica”18.  

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Os   MVA   podem   ser   usados   em   conjunto   com   a   compressão   elástica,   cirurgia,  

tratamento  endovascular  e  escleroterapia.  

Prevenção  das  varizes  e  MVA  

-­‐  Exercício  regular;  

-­‐  Vida  ativa;  

-­‐  Cuidados  com  a  pele;  

-­‐  Controle  de  peso;  

-­‐  Vestuário  não  apertado  e  sapatos  de  salto  não  superior  a  4  cm.    

Nos   doentes   com   IVC   (C3   a   C6)   e   com   refluxo,   deve   recomendar-­‐se   a   utilização   de  

compressão  elástica  com  uso  de  meias  AD  ou  AG,  classe   I-­‐II   (recomendações  do  AVF  

7,4-­‐24-­‐6-­‐5  de  2017).  

Foram,  no  entanto,  publicados  em  201519  e  201720  dois  interessantes  estudos.    

No  primeiro,  Tsukanov  YT  et  al   avaliaram  doentes   com  sintomas,  mas   sem  sinais  de  

DVC  (C0s,  En,  An,  Pn).  A  metodologia  deste  estudo  incluía  a  realização  de  ecoDoppler,  

com  medição  do  diâmetro  da  grande  veia  safena   (GVS),  avaliação  dos  sintomas  e  da  

qualidade   de   vida   dos   doentes.   Os   sintomas   foram   avaliados   usando   a   escala   visual  

análoga  de  10  cm  e  a  qualidade  de  vida  avaliada  com  o  CIVIQ  20.  O  exame  ecoDoppler  

foi   realizado  duas  vezes  por  dia:  de  manhã   (antes  das  10:00)  e  de   tarde   (depois  das  

18:00).  O  exame  ecoDoppler  incluiu:  (1)  a  duração  do  refluxo;  (2)  o  diâmetro  da  GVS  na  

região  inguinal;  (3)  a  diferença  de  diâmetro  entre  as  medições  da  manhã  e  da  tarde.  

Foram  avaliados  41  doentes:  15  não  tinham  refluxo  venoso  transitório   (RVT)  nem  de  

manhã  nem  à  tarde,  os   restantes  26  não  tinham  RVT  de  manhã,  mas  tinham  RVT  ao  

final  do  dia,  sendo  que  em  dois  o  refluxo  era  axial  e  nos  restantes  24  era  segmentar.  O  

diâmetro  da  GVS  encontrava-­‐se  significativamente  aumentado  nos  doentes  com  RVT.  

Os  doentes  que  apresentavam  RVT  ao  final  do  dia,  foram  tratados  com  MPFF  (1000  mg  

de  manhã)  durante  dois  meses,  após  os  quais  a  investigação  ecoDoppler  foi  repetida.  

Nesta  altura,  com  MPFF,  o  RVT  foi  eliminado  em  22  dos  26  doentes  que  inicialmente  o  

apresentavam.  Em  paralelo,  verificou-­‐se  uma  diminuição  significativa  do  diâmetro  da  

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GVS   e,   também,   diminuição   significativa   da   intensidade   dos   sintomas   e   melhoria  

significativa  da  qualidade  de  vida  dos  doentes.  

Os   autores   concluíram   que   o   MPFF,   na   dose   de   1000   mg/dia,   durante   dois   meses,  

resultou   na   eliminação   do   RVT   do   fim   do   dia   na   maioria   dos   doentes,   diminuição  

significativa  do  diâmetro  da  GVS,  com  efeito  benéfico  sobre  os  sintomas  e  qualidade  

de  vida.  

O   estudo   publicado   em  2017,   também  por  Tsukanov   YT,   incidiu   sobre   doentes   com  

telangiectasias  ou  varizes  reticulares  sintomáticas  (C1s).  A  metodologia  foi  semelhante  

à   do  primeiro   estudo.  Nenhum  dos   96   doentes   incluídos   apresentava  RVT  matinal   e  

55,2  %  apresentavam  RVT  ao  fim  do  dia,  bem  como  sintomas.  Estes  sintomas  apenas  

se  verificavam  em  16,3  %  dos  doentes  sem  RVT.  Adicionalmente,  o  diâmetro  da  GVS  

mostrou  aumento  significativo  nos  doentes  com  RVT.  

Os   doentes   que   apresentavam   RVT   foram   tratados   com  MPFF   na   dose   de   1000  mg  

uma   vez   por   dia,   durante   três   meses   e   nesta   altura,   com   MPFF,   o   RVT   tinha   sido  

eliminado   em   92,5  %   dos   doentes,   o   diâmetro   da   grande   veia   safena   reduzido   para  

valores   base,   os   sintomas   venosos   resolvidos   na   grande   maioria   dos   doentes   e   a  

qualidade  de  vida  melhorada.  

Em  conclusão,  neste  estudo,  a  medicação  com  MPFF,  na  dose  de  1000  mg/dia,  durante  

três   meses,   eliminou   o   RVT,   com   melhoria   significativa   dos   sintomas   venosos   e  

melhoria   da   qualidade   de   vida   dos   doentes.   Este   efeito   positivo   do   MPFF   poderá  

dever-­‐se   a   uma  melhoria   da   viscoelasticidade   da   parede   venosa   das   veias   e   poderá  

ajudar   a   prevenir   a   evolução   dos   estádios   CEAP   C1   para   C2,   ou   seja,   aponta   para   a  

possibilidade  do  MPFF  poder  retardar  a  progressão  da  doença  venosa  crónica20.  

Tornam-­‐se  necessários  mais  estudos,  bem  como  estabelecer  se  este  efeito  positivo  do  

MPFF   se   mantém   após   a   interrupção   do   tratamento,   ou   se   é   transitório,   sendo  

necessário  efetuar  medicação  a  longo-­‐termo.  

 

  MPFF  em  associação  com  tratamento  cirúrgico,  técnicas  endovasculares  e  

  escleroterapia  

No  pressuposto  que  o  efeito  analgésico  e  antiedema  do  MPFF  possa  reduzir  a  dor,  bem  

como  a  melhoria  da  tonicidade  venosa  possa  diminuir  a  hemorragia,  no  pós-­‐operatório  

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de  cirurgia,  técnicas  endovasculares  ou  escleroterapia,  foram  realizados  estudos  com  o  

uso  do  MPFF  associado  a  estas  várias  formas  de  tratamento.  

O  MPFF  em  associação  com  “stripping”  da  safena,  foi  estudado  em  dois  ensaios,  que  

mostraram  alívio  da  dor  na  1ª  semana  pós-­‐operatório  bem  como  redução  da  área  de  

hematoma  e  sua  reabsorção  mais  rápida21,  22.  

O   uso   do   MPFF   em   associações   às   técnicas   endovasculares,   mostrou   redução   dos  

sintomas   pós-­‐operatórios   como   a   dor   nas   pernas   e   o   edema,   avaliados   pela   escala  

VCSS  (Venous  Clinical  Safety  Scores)23.  

Num  outro  estudo,  o  MPFF  foi  avaliado  em  combinação  com  a  escleroterapia,  com  o  

fim   de   investigar   as   alterações   locais   e   sistémicas   de   citoquinas   pró-­‐inflamatórias   e  

fatores   endoteliais.   O   uso   do   MPFF   reduziu   significativamente   a   atividade   pró-­‐

inflamatória  das  citoquinas  e  alguns  fatores  endoteliais24.    

Estes  resultados  reforçam  as  ações  anti-­‐inflamatória,  antiedema  e  analgésica  do  MPFF  

e  são  um  estímulo  a   futuras   investigações  que  possam   justificar  um  alargar  das   suas  

indicações  de  uso.  

 

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TERAPÊUTICA  COMPRESSIVA  NA  DOENÇA  VENOSA  CRÓNICA  

E  INSUFICIÊNCIA  VENOSA  CRÓNICA  

Carlos  Pereira  Alves  

 

A   compressão   elástica   (CE)   é   elemento   essencial   de   tratamento   conservador   da  

doença  venosa,  em  todas  as  classes  da  classificação  CEAP  de  C0s  a  C6,  e  com  benefício  

evidente  no  alívio  dos  sintomas  e  do  edema  venosos.  

Na  úlcera   venosa   (C6),   a   compressão   elástica   é   o   tratamento  mais   eficaz   para   a   sua  

cicatrização,   sendo   a   combinação   da   compressão   elástica   com   a   cirurgia   do   sistema  

superficial  o  melhor  tratamento  de  prevenção  da  úlcera  venosa.1,  2  

 A  CE  a  longo  termo  deve  ser  considerada  na  presença  da  IVC  (C3  a  C6)3,  4,  5.  

A   compressão  elástica  é   ainda   recomendada  no  pós-­‐operatório  de   cirurgia   (Mediven  

struva  23)  e  após  esclerose  de  varizes.  

Apesar  destas  evidências  o  seu  uso  é  subestimado,  a  prescrição  incompleta  e  em  regra  

mal  explicada  ao  doente  a  ação  das  meias  elásticas,  bem  como  necessidade  do  seu  uso  

diário,  já  que  a  sua  eficácia  é  dependente  da  adesão  ao  tratamento.  

A   compressão   elástica   é   uma   compressão   ativa   que   se   exerce   de  maneira   contínua  

durante   o   exercício   e   o   repouso.   Durante   o   exercício   o   aumento   de   volume   do  

membro  acentua  o  efeito  compressivo.  No  repouso  a  pressão  exercida  é  constante.    

Não  confundir  esta  compressão  ativa,  com  a  compressão  passiva  ou  contenção  que  é  

exercida   pelas   ligaduras   não   compressivas   ou   cola   de   zinco,   que   é   apenas   uma  

compressão  de  suporte,  que  se  exerce  de  maneira  fraca  ou  nula  no  repouso  e  provoca  

contenção/suporte  no  exercício,  opondo-­‐se  ao  aumento  de  volume  do  membro,  e  que  

é,   especialmente,   eficaz   na   reabsorção   de   edema   de   causa   venosa   em   doentes  

ambulatórios.  

 

  Mecanismo  da  compressão  elástica    

A   compressão   elástica   ao   aplicar   uma   pressão   exterior   sobre   o   tecido   celular  

subcutâneo   e   sobre   as   veias,   facilita   a   função   de   retorno   venoso   dos   membros  

inferiores  ao  coração.  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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Nas   veias   superficiais,   a   compressão   leva   a   uma   redução   do   seu   calibre   levando   a  

coaptação  das  válvulas  venosas  opondo-­‐se  assim  ao  refluxo  venoso  (Fig.  1).  

 Fig.  1  –  Com  e  sem  meia  de  compressão.  

 Também   a   compressão   elástica   previne   a   distensão   venosa   e   minimiza   a   tensão  

parietal  responsáveis  pelos  sintomas  de  dor,  sensação  de  peso  e  desconforto  e  prurido  

dos  membros  inferiores.  

O  efeito  compressivo  sobre  as  veias  profundas,  com  redução  do  calibre  das  mesmas,  

só  se  observa  com  pressões  acima  de  40  mmHg  e  na  posição  de  decúbito.  

Durante  a  marcha,  o  uso  de  meias  elásticas  leva  a  uma  passagem  do  sangue  das  veias  

superficiais   para   as   profundas   através   das   veias   perfurantes,   melhorando   o   retorno  

venoso.  

A   compressão   elástica   aumenta   a   pressão   intersticial   do   tecido   celular   subcutâneo,  

prevenindo  ou  reduzindo  o  edema  e  melhorando  a  drenagem  linfática.  

O  uso  a  longo  termo  da  CE  mostrou  melhorar  a  elasticidade  venosa6,  contudo  o  efeito  

benéfico   das   meias   elásticas   só   se   manifesta   durante   o   uso   das   mesmas,  

desaparecendo  um  dia  depois  da  sua  remoção,  daí  a  importância  do  seu  uso  diário7.  

É   consensual   reconhecer,   ser   a   compressão   elástica   um   tratamento   essencial   da  

doença  venosa,  o  que  é  confirmado  pelo  notável  documento  de  consenso,  elaborado  

em   2003,   em   San   Diego,   e   revisto   em   20178.   O   uso   diário   das   meias   elásticas   é  

fundamental,   apesar   disto,   não   é   respeitado   em  20   a   25  %  dos   doentes,   por   razões  

económicas  ou  insuficiente  explicação  do  médico  prescritor.  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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Um  estudo  observacional  Mediven,  publicado  em  20169,  demonstrou  que  a  prescrição  

de  meias  de  compressão  elásticas  (MCE)  não  tem  em  suficiente  atenção  as  indicações  

corretas  de  prescrição,  nomeadamente,  não  tendo  em  consideração  a  classe  clínica  da  

classificação   CEAP   de   C1s   a   C6,   e   características   do   doente,   como   idade,   obesidade,  

circunferência  maleolar  e  doenças  concomitantes,  inclusive  osteoarticulares.  

Foram   analisados   531   doentes   em   47   centros   de   estudo   na   Alemanha,   incluindo  

doentes  das  classes  CEAP  de  C1s  a  C6.  O  período  de  observação  foi  de  18  meses  com  

cinco   consultas   e   realizado   entre   2011   e   2015.   O   diagnóstico   e   prescrição   das  MCE  

Mediven,  foram  exclusivamente  dos  médicos  envolvidos  no  estudo  e   incluíram  meias  

de   compressão   leve   (Mediven   elegance,   comfort   e  Mediven   for   men),   compressão  

média  (Mediven  plus)  e  compressão  forte  (Mediven  forte),  bem  como  o  kit  para  úlcera  

Mediven.  

No   seguimento   dos   doentes,   foram   analisadas   a   frequência   de   prescrição   das  MCE,  

tendo  em  conta  a  classe  clínica,  a  obesidade  dos  doentes  e  da  prescrição  de  auxiliar  

para  calçar  as  meias.  Cerca  de  1/3  dos  doentes  não   receberam,  no   início  do  estudo,  

prescrição  para  um  segundo  par  de  meias,  ou  logo  de  início,  uma  nova  prescrição  para  

adquirir   novas   meias   passado   seis   meses.   Os   auxiliares   para   calçar   as   meias   foram  

raramente  prescritos.  

Estes  fatores  tem  influência  na  adesão  dos  doentes  ao  uso  regular  e  a  longo  termo  das  

meias.  A  maioria  das  prescrições  foram  de  meias  de  compressão   leve,  não  tendo  em  

consideração  a  classe  clínica.  

Verificou-­‐se   que   os   doentes   com   edema   (classe   C3),   a   melhoria   ocorreu   em   maior  

número   com   meias   de   compressão   média   ou   forte,   e   que   nos   doentes   obesos   a  

possibilidade  de  as  meias  poderem  provocar  constrição,  era  menos  frequente  com  as  

meias  de  compressão  média  ou  forte.  

O  estudo  conclui,  assim,  que  existe  necessidade  da  melhoria  da  prescrição  das  MCE,  

quer  em  relação  ao  tipo  de  meias,  às  suas  medidas  e  classe  de  compressão,  bem  como  

à   prescrição   das   meias   subsequentes,   e   no   uso   a   longo-­‐termo,   conclusões   que   se  

aplicam  para  qualquer  marca  de  meias  e  não  apenas  às  Mediven  do  estudo.  

Para   maximizar   os   benefícios   das   MCE,   é   importante   uma   prescrição   correta   e  

completa,  bem  como  ter  em  conta  a  classe  clínica,  de  C0s  a  C6,  as  características  do  

doente,  bem  como  prescrições  subsequentes  no  uso  a  longo-­‐termo.  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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Doentes  com  IVC  ou  com  síndrome  pós-­‐trombótica  parecem  beneficiar  com  o  uso  de  

meias   elásticas   vitaliciamente.   A   utilização   de   meias   elásticas   a   longo-­‐termo,   após  

cicatrização  de  úlceras,  induziu  drástica  redução  de  custos  ao  sistema  de  saúde10.    

 

  Meias  elásticas,  como  prescrever  

As   meias   elásticas   hoje   disponíveis   nas   farmácias   são   confortáveis,   elegantes,   em  

várias  cores,  bem  toleradas  e  com  baixo  risco  de  alergia,  dado  ter  sido  abandonado  o  

uso  de  borracha  na  sua  composição.  

Estão  disponíveis  em  vários  tipos,  medidas,  comprimentos  e  classes  de  compressão  e  

em  várias  marcas  comerciais  e  cada  uma  destas  com  vários  modelos  de  meias.  

A   receita   das   meias   elásticas   deve   ser   uma   receita   médica   com   obrigação   de  

mencionar   o   tipo   de   meia   (em   função   da   indicação),   as   medidas   (em   função   dos  

perímetros  maleolares,  região  mais  larga  da  perna  e  coxa),  o  comprimento  (em  função  

da   altura   chão/1   cm   abaixo   do   joelho,   ou   chão/região   inguinal),   a   classe   de  

compressão  (em  função  da  indicação)  e  a  respetiva  marca.  

Para   facilitar   esta   prescrição,   as   diferentes   marcas   criaram  modelos   próprios   que   a  

facilitam.  

Os  principais  tipos  de  meia  são  as  meias  até  abaixo  dos  joelhos  (AD),  até  ao  meio  da  

coxa  (AG)  ou  até  a  coxa  (AF)  ou  collants  (masculino,  feminino  ou  de  gravidez).  

As  meias  poderão  ser  com  biqueira  aberta  ou  sem  biqueira.  

As  classes  de  compressão  são  quatro,  de  acordo  com  normas  europeias  a  classe  I  tem  

uma  compressão  a  nível  maleolar  de  15  a  21  mm  Hg,  a  classe  II  uma  compressão  de  23  

a   32   mm   Hg,   a   classe   III   uma   compressão   de   34   a   46   mm   Hg   e   a   classe   IV   uma  

compressão .  

A  larga  seleção  de  meias  disponíveis,  permite  a  escolha  certa  adequada  a  cada  doente.  

Para  tratamento  das  úlceras  venosas  está  disponível,  no  mercado,  um  “kit  ulcer”  que  é  

constituído  por  três  meias,  duas  interiores  iguais  e  uma  meia  exterior.  Cada  meia  tem  

uma  compressão  de  20  mm  Hg.  A  meia  interior  é  para  manter  nas  24  horas  (o  doente  

dorme   com   ela,   dado   a   compressão   de   20   mm   Hg   ser   bem   tolerada   no   decúbito),  

destinando-­‐se   a   segunda   meia   interior,   a   substituir   a   primeira   quando   esta   se  

apresenta   suja   com  o  exsudado  da  úlcera   (em  regra  passado  uma  semana  de  uso)  e  

que  o  doente  leva  para  lavar.  Esta  meia  é  calçada  pelo  médico  quando  da  consulta  e  a  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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meia  exterior  é  calçada  pelo  doente  ao  levantar,  por  cima  da  meia  interior  e  retirada  

ao  deitar.  

O  doente  durante  o  dia  deambula,  assim,  com  as  duas  meias,  e  com  uma  compressão  

de  40  mm  Hg,  que  é  considerada  adequada  e  tolerada  para  a  cicatrização  da  úlcera.  

As  meias  do  “kit  ulcer”  têm  uma  duração  de  seis  meses.  O  uso  deste  kit  é  muito  mais  

elegante  que  o  uso  de  ligaduras  elásticas.  

Em  casos  de  anomalias  anatómicas  dos  membros  inferiores  poderá  ter  que  se  recorrer  

a  meias  feitas  por  medida  para  aquele  doente  especifico.  

Uma  receita  correta  deverá,  assim,  mencionar:  

-­‐  Classe  de  compressão  (p.e.  Classe  II)  

-­‐  Tipo  de  meia  (AD,  AG,  Collant)  

-­‐  Medida  de  acordo  com  o  perímetro  maleolar  (existem  medidas  de  I  a  VI)  

-­‐  Comprimento  (existem  dois  tipos  de  comprimento:  curto  e  normal)  

-­‐  Marca  (p.e.  Mediven,  Juzo,  Sigvaris,  Venosan)  

Exemplo  de  uma  prescrição:  

R/    

Meias  elásticas  

   

  Contraindicação  de  uso  de  meias  elásticas  

Para   determinar   eventuais   contraindicações   ao   uso   de  meias   elásticas   deve   sempre  

proceder-­‐se  a:  

-­‐  Determinação  de  pulsos   periféricos   (tibial   posterior   e   pedioso)   de  preferência   com  

Doppler  portátil,  com  determinação  do  índice  de  pressão  braço-­‐perna  se  os  pulsos  se  

apresentarem   diminuídos.   Um   índice   de   pressão   inferior   a   0,6   é,   em   regra,  

contraindicação  para  uso  de  meias  elásticas;  

-­‐  Presença  de  infeção,  dermatose;  

-­‐  Neuropatia  periférica;  

-­‐  Estado  geral  do  doente;  

-­‐  Limitação  de  calçar  meias,  poderá  ser  reduzida  com  a  prescrição  de  calçadores,  hoje  

disponíveis  no  mercado.  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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Indicações  de  prescrição  das  MCE  

As  meias  elásticas  tem  indicação  de  prescrição  nas  seguintes  situações:  

-­‐  Doentes  com  doença  venosa  classes  CEAP  (C0s  a  C1s),  para  alívio  sintomático;  

-­‐   Doentes   com   DVC   classe   C2   para   tratamento   dos   sintomas   e   prevenção   de  

complicações  como  varicorragia,  varicoflebite  ou  alterações  tróficas;    

-­‐  No  pós-­‐operatório  de  cirurgia  de  varizes  e  após  esclerose

-­‐  Doentes   com   IVC  classe  C3,  para   reduzir  ou  eliminar  o  desenvolvimento  do  edema  

venoso  ortostático;  

-­‐  Doentes  com  IVC  classes  C4,  5  ou  6;  

-­‐  Prevenção  do  tromboembolismo  venoso  (meias  tromboembólicas  com  18  mm  Hg);  

-­‐  Tratamento  da  trombose  venosa  superficial  e  profunda;  

-­‐  Prevenção  e  tratamento  da  síndrome  pós-­‐trombótica;    

-­‐  Na  gravidez  (em  regra  collants  de  gravidez);  

-­‐  Prevenção  de  trombose  venosa  durante  viagens  longas  (avião,  autocarro,  etc.);  

-­‐  Tratamento  do  linfedema.  

De   notar   a   existência   no  mercado   de  meias   denominadas   “meias   de   descanso”   que  

não  tem  regulada  a  sua  classe  de  compressão,  sendo  a  mesma  classificada  em  “deniers  

ou   decitex”,   que   apenas   definem   o   peso   em   gramas   de   9   ou   10   Km   de   fio,  

respetivamente.  As  meias  com  maior  número  de  deniers,  140-­‐280  são  mais  espessas  

que   as   de   40-­‐70,   mas   não   necessariamente   com   maior   compressão.   As   meias   de  

descanso  não  tem,  em  regra,  mais  do  que  uma  compressão  de  6-­‐14  mm  Hg.  

De  recordar  que  as  meias  elásticas  de  compressão  mais  baixa,  destinadas  a  prevenção  

tromboembólica,  têm,  em  média,  uma  compressão  de  18  mm  Hg  no  tornozelo  e  8  mm  

Hg  na  coxa  e   foram  desenhadas  para  este  uso  com  o  objetivo  de  acelerar  o   retorno  

venoso,  apenas  na  situação  de  decúbito,  pelo  que  não  devem  ser  consideradas  como  

alternativa  às  outras  meias  elásticas.  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

(Mediven Struva 23);

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Normas  de  aplicação  

As   meias   elásticas   devem   ser   colocadas   de   manhã,   após   o   banho,   e   devem   ser  

kit  ulcera.  

Para  facilitar  o  calçar  das  meias  sem  biqueira,  pode  utilizar-­‐se  uma  meia  de  seda,  que  

acompanha  a  embalagem  das  meias  e   facilita  o  seu  deslizamento.  O  uso  de   luvas  de  

borracha  também  facilita  o  calçar  das  meias,  bem  como  evita  a  sua  danificação  pelas  

unhas.  Existem  também,  como  já  referido,  calçadores  próprios  para  as  meias  (calçador  

para  uso  hospitalar  e  domiciliário).  

É   essencial   respeitar   as   recomendações   do   médico,   em   relação   ao   uso   das   meias  

elásticas.  Há  situações  em  que  a  prescrição  de  meias  elásticas  é  para  uso  esporádico  

das  mesmas,  p.  ex.  viagens   longas  (avião,  autocarro,  automóvel),  ou  no  desempenho  

de   profissões   que   obriguem   a   posição   de   sentado   ou   de   pé   por   períodos   longos  

(cabeleireiros,  empregados  de  restauração,  hospedeiras,  cirurgiões,  etc.).  

As  meias   devem   ser   lavadas   diariamente   de   acordo   com   as   indicações   de   utilização  

que  as  acompanhem,  não  devendo  ser  torcidas,  nem  secadas  nos  secadores  ou  ao  sol.  

As  meias   elásticas   tratadas   de   acordo   com   as   recomendações   tem   uma   duração   de  

quatro  a  seis  meses.  

Conclusões    

-­‐  Evidência  robusta  na  prevenção  e  tratamento  das  úlceras  venosas  (kit  ulcer);  

-­‐   Evidência   moderadamente   robusta   para   uso   das   meias   elásticas   em   doentes   com  

sintomas   venosos   e   na   prevenção   e   tratamento   do   edema   venoso   (classes   de  

compressão  I  e  II);  

-­‐  Recomendação  para  uso  de  meia  elástica  depois  do  tratamento  cirúrgico  de  varizes  

durante  a  1ª  semana  (Mediven  struva  23  mm  Hg);  

-­‐  Não  há  ensaios  randomizados  que  documentem  efeito  preventivo  na  progressão  da  

doença  venosa;  

-­‐   Na   trombose   venosa,   as   meias   de   compressão   elástica   são   recomendadas   para  

reduzir  o  edema  e  a  tumefação  iniciais;  

Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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-­‐  Na  prevenção  da   síndrome  pós-­‐trombótica,   apesar  de   resultados   contraditórios,   as  

meias  elásticas  continuam  a  ser  recomendadas;  

-­‐  Na  prevenção  do  tromboembolismo  venoso  as  meias  elásticas  têm  lugar  limitado,  e,  

em  regra,  associado  aos  anticoagulantes.  

 

 

Referências  bibliográficas  

 

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compression   plus   surgery   in   chronic   venous   ulceration   (ESCHAR):   Randomized  

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7.   Labropoulos  N,   Leon  M,  Volteas  N,  Nicolaides  NA.  Acute  and   long   term  effect  of  

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Terapêutica compressiva na doença venosa crónica e insuficiência venosa crónica

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CIRURGIA  DAS  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  

Carlos  Pereira  Alves  

 

  Razões  da  cirurgia  

Os   doentes   com   doença   venosa   crónica   (DVC),   classe   C2   da   classificação   CEAP,   têm  

como  indicação  para  cirurgia:  

.  Cosmética;  

.  Resolução/  alívio  de  sintomas;  

.  Retirar  as  veias  varicosas;  

.   Prevenir   a   evolução   para   insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   classes   C3,   4,   5,   6     da  

classificação  CEAP.  

.   Evitar   complicações  de   varicorragia   (espontânea  ou   traumática)   ou  de   varicoflebite  

(trombose  venosa  em  veia  varicosa).  

Na  ausência  de   contraindicações  e   com  consentimento   informado,   todos  os  doentes  

com  varizes  têm  indicação  para  cirurgia.  

A  insuficiência  venosa  crónica  reforça  a  indicação  para  cirurgia.  

Nas   úlceras   venosas,   o   ensaio   ESCHAR   randomizou   500   doentes   que,   para   além   da  

úlcera,   tinham   refluxo   superficial   isolado   ou   refluxo   superficial   e   profundo,  

comparando  a  compressão  elástica  com  a  cirurgia  de  laqueação  e  stripping  associados  

a  compressão  elástica.  Aos  quatro  meses  a  percentagem  de  cicatrização  era  igual  (65  

%),  mas  aos  12  meses  a  recorrência  era  de  28  %  no  grupo  só  com  compressão  e  12  %  

no  grupo  com  cirurgia  associada,  diferença  que  se  mantinha  aos  quatro  anos1,  2.  

A  cirurgia  das  varizes  mostrou  ser  custo-­‐efetiva3.  

 

  Moderna  abordagem  na  cirurgia  das  varizes  

Na  sequência  de  um  conceito  clássico,  com  mais  de  100  anos,  de  que  as  varizes  eram  

consequência   de   uma   insuficiência   valvular   descendente   progressiva,   iniciada   na  

insuficiência  da  válvula  terminal  das  crossas  das  safenas,  a  cirurgia  das  varizes  tem  sido  

igual   para   todos  os   doentes,   consistindo  na   laqueação  das   crossas   das   safenas,   hoje  

designadas   junção   safenofemoral   (JSF)   e   junção   safenopoplítea   (JSP),   “stripping”   do  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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tronco   das   safenas   e   excisão/laqueação   das   veias   varicosas   com   incisões   cutâneas  

múltiplas.  

O   “stripping”   da   grande   veia   safena   (GVS),   inicialmente   da   região   inguinal   até   ao  

maléolo  interno,  deu  lugar  a  “stripping”  limitado  ao  joelho,  para  evitar  lesão  do  nervo  

safeno,  dada  a  proximidade  deste  com  a  GVS  no  terço  médio  da  perna.  

Esta   abordagem   estandardizada   e   radical,   mudou   na   sequência   de   observações  

anatómicas  e  funcionais  com  o  exame  ecoDoppler  com  cor.  

De  facto  este  exame,  hoje  essencial  no  estudo  e  tratamento  das  varizes,  ao  permitir  a  

visualização   ecográfica   das   veias,   veio,   no   plano   anatómico,   mostrar   que   as   veias  

safenas  são  veias   interfasciais  e  não  superficiais.  O  tronco  das  safenas  é  revestido  na  

sua   face   anterior,   por   uma   fascia   (a   fascia   safeniana)   e   na   face   posterior   pela  

aponevrose   muscular,   estando   assim   localizado   num   compartimento   próprio   (o  

compartimento  safeniano).  Ao  contrário,  da  anatomia  clássica  que  considerava  apenas  

dois   compartimentos   para   as   veias   dos   membros   inferiores,   o   compartimento   das  

veias   profundas   e   o   das   veias   superficiais,   a   anatomia   ecoDoppler   considera   três  

compartimentos:   o   profundo   com   as   veias   profundas,   inter   e   intramusculares;   o  

interfascial,   com   os   troncos   das   veias   safenas;   e   o   superficial   com   as   colaterais  

superficiais,  safenianas  ou  não  safenianas4,  5  (Fig.  1).  

 

 

 

 Compartimento  

superficial  

  Compartimento  safeniano  

Compartimento  profundo  

   

 

Fig.  1  -­‐  Compartimentos  venosos  da  ecoanatomia.    

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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A  existência  desta  fascia  safeniana  torna  as  veias  safenas  mais  resistentes  à  dilatação  

na   posição   de   pé,   em   relação   às   veias   superficiais   mais   vulneráveis.   No   plano  

hemodinâmico   o   exame   ecoDoppler   veio   mostrar   que   a   válvula   terminal   da   GVS   é  

competente   em   cerca   de   50   %   dos   doentes   com   varizes6,   7   e   que   o   refluxo   pode  

envolver   apenas   colaterais   superficiais,   safenianas   ou   não,   colaterais   superficiais   e  

tronco   das   safenas   ou   apenas   o   tronco   das   safenas.   O   envolvimento   do   tronco   das  

safenas   pode   ser   contínuo   da   junção   safenofemoral   até   ao   maléolo   ou   apenas   de  

segmentos  da  GVS  que  podem  envolver  ou  não  a  JSF.  

Com  base  neste  padrão,  os   refluxos   são   classificados  de   refluxo  axial   (Ra)   quando  o  

refluxo  da  GVS  é  contínuo  da  JSF  até  ao  maléolo  (Fig.  2)  e  refluxo  segmentar  (Rs)  nos  

restantes  casos,   com  as  variantes  de  Rs1   (Fig.  3),  que  apenas  envolve  colaterais,  Rs2  

(Fig.   4),   quando   envolve   colaterais   e   segmentos   da   safena   e   Rs3   (Fig.   5),   quando  

envolve  colaterais  e  a  JSF8,  9,  10,  11,  12,  13,  14.  

 

                                               Fig.  2  -­‐  Refluxo  axial  da  GVS  (Ra)          Fig.  3  -­‐  Refluxo  segmentar  Rs1  

 

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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                                               Fig.  4  –  Refluxo  segmentar  Rs2                    Fig.  5  –  Refluxo  segmentar  Rs3  

Estes   achados   do   ecoDoppler   vieram   questionar   a   teoria   valvular   clássica,   da  

insuficiência  descendente  progressiva  a  partir  da  válvula  terminal  da  safena  (Fig.  6),  e  

são  a  favor  de  uma  teoria  parietal  em  que  o  processo  inicial  das  varizes  se  pode  iniciar  

em   qualquer   segmento   venoso   (veias   superficiais   ou   tronco   das   safenas),   com  

progressão  ascendente  (Fig.  7),  como  referido  por  Labropoulos  “...  the  parietal  venous  

modifications  may  appear  in  any  venous  segment  whatever  its  localization  and  quality  

of  its  valves.”15  

                       Fig.  6  –  A.  Fluxo  normal;  B.  Início  de  reflu-­‐      Fig.  7  –  A.  Fluxo  normal;  B.  Início  do  re-­‐                        xo  na  junção;  C.  Progressão  descendente        fluxo  na  colateral  superficial;  C.  Progres-­‐                        do  refluxo  ao  longo  da  GVS;  D.  Progres-­‐        são  ascendente  do  refluxo  ao  longo  da                          são  envolvendo  colateral  superficial.        GVS;  D.  Progressão  envolvendo  a  junção.  

(amabilidade  de  A.  Caggiati)  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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As   veias   varicosas   superficiais,   de   extensão   e   dimensões   variáveis   representam   um  

reservatório   varicoso   superficial   que   tem   vindo   a   ganhar   relevo   de   papel   central   na  

evolução  das  varizes  papel  até  aqui  atribuído  as  safenas  tronculares16,  17.  

A   excisão   destas   veias   superficiais   varicosas   pode   reduzir   ou   suprimir   o   refluxo   nas  

veias  safenas18,  19,  20.  

Estudos   com   o   ecoDoppler   têm   também  mostrado   que   pontos   de   refluxo   entre   as  

veias   profundas   e   as   veias   superficiais   ou   interfasciais   (safenas)   e   considerados   até  

aqui  como  responsáveis  do  início  do  processo  de  dilatação  varicoso  ao  permitir  através  

das  crossas  das  safenas  ou  de  veias  perfurantes  transmissão  da  maior  pressão  venosa  

das   veias   profundas   às   superficiais   podem   ser   corrigidos   pela   ablação   das   veias  

varicosas  superficiais.  

 A  correção  de  refluxos  da  GVS,  com  a  excisão  das  colaterais  varicosas  poderá  ter  como  

explicação   plausível,   a   diminuição   da   sobrecarga   do   volume   de   sangue   venoso  

(overload)  exercido  pelo  reservatório  varicoso  superficial  ou  do  efeito  aspirativo  (efeito  

sifão)  das  próprias  varizes  sobre  a  safena  troncular.  

Também  as  perfurantes   têm  mostrado  recuperar  a  sua  competência  uma  vez   feito  o  

tratamento   das   colaterais   varicosas,   questionando   o   papel   das   perfurantes   e   a  

necessidade  a  sua  laqueação21,  22,  23,  24,  25.  

Nas   técnicas   endovasculares   em  que   a   oclusão  da  GVS   se   inicia   2   cm  abaixo  da   JSF,  

preservando   assim   colaterais   da   crossa,   estas   têm  mostrado   no   estudo   ecoDoppler  

manterem  fluxo   fisiológico  para  a  veia   femoral,  não  se  verificando  como  se  pensava,  

ser  esta  preservação  de  colaterais  da  crossa  um  fator  de  recorrência.  

Esta  não  necessidade  de  laqueação  da  JSF  juxta  femoral  reduz  a  disseção  cirúrgica  da  

região   inguinal,   reduzindo   o   potencial   risco   de   neovascularização,   hemorragia   ou  

linforragia.  

A  sua  não  realização  não  é  fator  de  recorrência26,  27.  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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126   124  

Várias   técnicas   estão   hoje   disponíveis   para   atingir   este   objetivo   desde   a   cirurgia  

clássica   convencional,   a  moderna   cirurgia   adaptada   ao   padrão   de   refluxo,   a   técnica  

CHIVA,  as  técnicas  endovasculares  de  radiofrequência,  laser  ou  vapor,  à  escleroterapia  

com  espuma  guiada  por  ecoDoppler,  para  mencionar  as  mais  utilizadas.  

Perante  estas  varias  opções,  não  há  consenso  sobre  qual  o  melhor  tratamento,  o  qual  

deve  ter  em  consideração  a  extensão  e  dimensão  das  varizes  e  os  padrões  de  refluxo,  

axial  ou  segmentar.  

As  “guidelines”  não  são  inclusivas  do  tratamento  integral,  p.  ex.  consideram  

de  escolha  as  técnicas  endovasculares  no  tratamento  do  tronco  das  safenas,  mas  estas  

técnicas   não   tratam   as   colaterais   varicosas,   sendo   que,   para   estas   o   tratamento   de  

escolha  é  a   fleboextração  com  incisões  cutâneas  múltiplas  ou  esclerose.  Dado  que,  a  

grande  maioria   de   doentes   com   varizes   tem   colaterais   varicosas,   com   envolvimento  

axial   ou   segmentar   do   tronco  das   safenas,   a   cirurgia   é   a   única   técnica  que   trata,   no  

mesmo  tempo  operatório,  as  colaterais  e  o  tronco.  

Não   havendo   consenso   sobre   o   tratamento   de   escolha,   este   deve   ser   baseado   na  

interpretação  dos  dados  ecoDoppler,  na  experiência  pessoal  e  resultados  obtidos  com  

determinada   técnica   pelo   cirurgião,   a   par   da   possibilidade   de   escolha   informada   e  

esclarecida  do  doente.  

Recente   meta-­‐análise   realizada   pela   SVS   e   AVF,   mostrou   estar   a   cirurgia,   em  

comparação   com   outras  modalidades   de   tratamento,   associada   a   uma   redução   não  

significativa   de   recorrência   de   varizes   e   as   técnicas   menos   invasivas   associadas   a  

menor  morbilidade  pós-­‐operatória  (dor  e  retorno  da  atividade28).  

No  European  Venous  Forum  (EVF;  29  de  junho  -­‐  1  julho  -­‐  2017,  Porto,  Portugal),  Lars  

Rasmusssen  apresentou  um  estudo  comparando  os  resultados  a  cinco  anos  de  quatro  

diferentes   métodos   de   tratamento   das   varizes,   radiofrequência   (closure   fast),   laser,  

laqueação  da   JSF  e  stripping   e  escleroterapia  guiada  por  ultrassonografia.  0s  autores  

concluem,   que   houve   mais   recanalizações   da   GVS   com   a   escleroterapia   e   que   não  

houve  diferenças  na  eficácia  clínica  entre  as  outras  modalidades.  

Devemos   ainda   ter   presente   que   as   técnicas   endovasculares   tem   limitações  

anatómicas   a   saber,   GVS   com  diâmetro   superior   a   10-­‐12  mm,   de   trajeto   superficial,  

tortuoso   ou   com   dilatações   saculares,   verdadeiros   aneurismas   venosos   superficiais,  

nomeadamente  na  JSF  (Fig.  8).  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Várias  técnicas  estão  hoje  disponíveis  para  atingir  este  objetivo  desde  a  cirurgia  

clássica  convencional,  a  moderna  cirurgia  adaptada  ao  padrão  de  refluxo,  a  técnica 

CHIVA, as técnicas endovasculares de radiofrequência, laser ou vapor, à escleroterapia 

com espuma guiada por ecoDoppler, para mencionar as mais utilizadas. 

Perante estas varias opções, não há consenso sobre qual o melhor tratamento, o qual 

deve ter em consideração a extensão e dimensão das varizes e os padrões de refluxo, 

axial ou segmentar. 

As “guidelines” não são inclusivas do tratamento integral, p. ex. consideram de escolha 

as técnicas endovasculares no tratamento do tronco das safenas, mas estas técnicas  

não  tratam  as  colaterais  varicosas,  sendo  que,  para  estas  o  tratamento  de  escolha 

é a fleboextração com incisões cutâneas múltiplas ou esclerose. Dado que, a grande  

maioria  de  doentes  com  varizes  tem  colaterais  varicosas,  com  envolvimento  axial  

ou  segmentar  do  tronco  das  safenas,  a  cirurgia  é  a  única  técnica  que  trata,  no 

mesmo tempo operatório, as colaterais e o tronco. 

Não  havendo  consenso  sobre  o  tratamento  de  escolha,  este  deve  ser  baseado  na  

interpretação dos dados ecoDoppler, na experiência pessoal e resultados obtidos com 

determinada  técnica  pelo  cirurgião,  a  par  da  possibilidade  de  escolha  informada  

e  esclarecida do doente.

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127125  

Fig.  8  -­‐  Aneurisma  venoso  da  JSF   Fig.  8a  -­‐  Imagem  ecográfica  

Fig.  8b  -­‐  Imagem  intra  operatória  

A  percentagem  de  recorrência  com  a  cirurgia,  é  similar  ou  ligeiramente  inferior  à  das  

restantes  técnicas28.  

A  nossa  opção  de  escolha  no  tratamento  das  varizes  é,  assim,  de  cirurgia  adaptada  ao  

padrão   de   refluxos   do   exame   ecoDoppler,   porque   permite   excisão   das   safenas   e  

colaterais   varicosas   com   a  mesma   técnica   e   no  mesmo   tempo   operatório,   não   tem  

limitações   anatómicas,   é   feita   em   ambulatório,   com   retoma   de   atividade   no   dia  

seguinte,  e  sem  complicações  significativas.  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

A percentagem de recorrência com a cirurgia, é similar ou ligeiramente inferior à das

restantes técnicas28.

A nossa opção de escolha no tratamento das varizes é, assim, de cirurgia adaptada ao 

padrão  de  refluxos  do  exame  ecoDoppler,  porque  permite  excisão  das  safenas  e  

colaterais varicosas com a mesma técnica e no mesmo tempo operatório, não

tem limitações  anatómicas,  é  feita  em  ambulatório,  com  retoma  de  atividade  no  

dia  seguinte, e sem complicações significativas.

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126  

As  considerações  que  se  seguem  são  resultantes  dos  doentes  tratados  no  período  de  

2012  a  2017,  a  saber  1111  doentes,  sendo  as  varizes  bilaterais  em  514,  o  que  perfaz  um  

total   de   1625   membros   inferiores   operados,   dos   quais   270   com   varizes   recorrentes  

(16,6  %).  

Cuidada e completa história e observação clínica, que nos permitam

a classe de classificação CEAP, C0s a C6, registar os sintomas e sua severidade,

antecedentes de complicações de varicorragia, varicoflebite ou tromboembolismo

venoso bem como comorbilidades.

Exame ecoDoppler venoso, que permita completar a classificação CEAP, e estabelecer

o padrão de refluxo axial ou segmentar das safenas, bem como o estudo das veias

perfurantes e profundas femoral e poplítea.

O  estudo  ecoDoppler  venoso  com  cor  permite  proceder  a  um  verdadeiro  mapeamento  

pré-­‐operatório  das  varizes  e  padrões  de  refluxo.  

Na  nossa  experiencia  os  padrões  de  refluxo  mais  frequentes  são:  

-­‐   Refluxo   da   JSF   e   de   todo   o   tronco   da   GVS,   envolvendo   quase   sempre   colaterais  

varicosas  na  coxa  e/ou  perna  (refluxo  axial  da  GVS);  

 -­‐  Refluxo  da  JSF  com  refluxo  da  GVS  só  até  ao  terço  superior  ou  medio  da  coxa,  onde  

se   verifica   zona  de   confluência   com   colateral   varicosa   (frequente   a   colateral   antero-­‐

externa   da   coxa),   com   competência   da   GVS   abaixo   desta   confluência   (refluxo  

segmentar,  Rs3);  

-­‐  Refluxo  na  safena  acessória  anterior  com  JSF  competente  ou  incompetente,  mas  com  

tronco  da  GVS  competente  (refluxo  segmentar,  Rs3);  

-­‐  Refluxo  em  colaterais  e  segmentos  adjacentes  da  GVS  (refluxo  segmentar  Rs2);  

-­‐   Refluxo   só   em   colaterais,   safenianas   ou   não   safenianas,   com   safenas   competentes  

(refluxo  segmentar,  Rs1);  

-­‐  Refluxo  na  JSP  e  PVS  mais  colaterais  varicosas  na  perna  (refluxo  axial  da  PVS);  

-­‐  Refluxo  na  PVS  que  não  se  lança  na  veia  poplítea,  mas  se  prolonga  pela  face  posterior  

da  coxa,  perdendo-­‐se  em  veias  na  direção  abdómino-­‐pélvica,  ou  conectando-­‐se  com  a  

GVS  (veia  Giacomini);  

-­‐  O  ecoDoppler  é   igualmente  útil  na  visualização  de  dilatações  saculares  da  GVS,  por  

vezes  na  região  da  JSF.  

Como fazemos?

estabelecer

-­‐  

-­‐  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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129

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

127  

Estes  diferentes  padrões  de  refluxo  vão  condicionar  a  estratégia  cirúrgica,  que  deixa  de  

ser   igual  para  todos  os  doentes,  com  a  possibilidade  de  conservação  da  GVS,  quando  

do  seu  envolvimento  segmentar.  

Estudo  dos  pulsos  distais  (tibial  posterior  e  pedioso),  com  Doppler  contínuo  e  pedido  

de  ecoDoppler  arterial  se  os  mesmos  estiverem  diminuídos.  

No  final  da  consulta  é  explicado  ao  doente  o  tratamento,  este  assina  consentimento  

informado  e  recebe  um  folheto  informativo  (Anexo1).  

A   cirurgia   é   realizada   em   ambulatório   na   quase   totalidade   dos   doentes,   com  

internamento  esporádico  de  um  dia,  por  razões  de  preferência  do  doente  (raríssimo)  

ou  distância  do  domicílio.  

Os  doentes  são  admitidos  de  manhã,  08:00  horas,  e  têm  alta  pelas  20:00  horas.  

No   próprio   dia,   antes   da   ida   para   o   bloco   operatório,   o   cirurgião   procede,   com   o  

doente  de  pé,  a  marcação  com  caneta  dermográfica  de  todas  as  colaterais  varicosas,  

(Fig.  9)  bem  como  uma  marcação  precisa  da  JSF  ou  JSP  (esta  já  referenciada  no  exame  

ecoDoppler),   com   o   Doppler   portátil,   para   facilitar   a   abordagem   cirúrgicas   das  

mesmas.  

Fig.  9  -­‐  Marcação  pré  operatória  

A   anestesia   é   locorregional,   epidural   ou   raquianestesia,   ou   anestesia   geral   com  

máscara  laríngea.  

A   nossa   prática   cirúrgica   tem   mostrado,   com   estas   técnicas   anestésicas,   bons  

resultados,  sem  complicações  e  recuperação  em  2-­‐4  horas.  

A  cirurgia  tem  como  passos  principais:  

-­‐  

-­‐  

-­‐  

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130 128  

-­‐  Desinfeção  da  pele  com  Octenidina;  

-­‐  Abordagem  da  GVS  com  uma  incisão  transversal  de  4-­‐6  cm,  paralela  à  prega  inguinal  

e  centrada  na  JSF  de  acordo  com  a  marcação  pré-­‐operatória  do  Doppler  contínuo;  

-­‐  Exposta  na  região  inguinal  a  GVS,  esta  é  seccionada  entre  duas  pinças  hemostáticas,  

laqueado  o  topo  proximal  com  seda  2/0  e  referenciado  o  topo  distal,  com  duas  pinças  

de  Halstead,  através  do  qual  é  introduzido  um  “stripper”  flexível,  de  cima  para  baixo,  

até  abaixo  do   joelho  (em  regra),  onde  é  recuperado  através  de  uma  pequena   incisão  

cutânea   vertical   com   exposição   do   tronco   da   safena,   laqueação   do   topo   distal   e  

exteriorização   do   “stripper”   através   do   topo   proximal.   O   “stripper”   exteriorizado   é  

puxado  de  cima  para  baixo  até  a  sua  extremidade  superior  ficar  envolvida  no  lúmen  da  

GVS,  sendo  depois  laqueado  circularmente  com  seda  2/0,  abaixo  da  extremidade  mais  

larga   do   “stripper”.   Uma   vez   laqueada   a   GVS   em   volta   do   “stripper”   este   é   agora  

retirado  de  cima  para  baixo,  com  gestos  suaves  arrastando  por  invaginação  a  GVS;  

-­‐   As   veias   superficiais   varicosas,   previamente   marcadas,   são   retiradas   com   incisões  

cutâneas  múltiplas,  verticais  na  coxa  e  perna  e  transversais  no  joelho,  respeitando  as  

linhas  de  tração  cutânea  de  Langer;  

-­‐  Na  cirurgia  da  PVS,  a  abordagem  da  JSP  é  feita  com  incisão  transversal  centrada  na  

marcação  pré-­‐operatória  e  laqueação  da  mesma.  Não  procedemos  a  stripping  da  PVS;      

-­‐  Não  procedemos  à  laqueação  das  perfurantes  incompetentes  da  perna,  nos  doentes  

classe  clínica  C2  e  nas  classes  C5  e  C6  só  consideramos  a  sua  laqueação  para  doentes

que,   após   o   tratamento   do   sistema   superficial,   venham   a   ter   recorrência   da   úlcera  

venosa,  com  persistência  de  perfurantes  incompetentes  na  região  da  úlcera  e  que  não  

tenham   insuficiência   associada  das   veias  profundas.  Apesar  de  um  ensaio   clínico   ser  

favorável  ao  tratamento  inicial  das  perfurantes  nos  doentes  com  úlcera  para  prevenir  a  

sua   recorrência29,   esta   posição   não   é   consensual,   dada   a   não   existência   de   ensaios  

randomizados  e  controlados,  que  comparem  a  cirurgia,  só  do  sistema  superficial,  com  

a   cirurgia   do   sistema   superficial  mais   laqueação   das   perfurantes,   e   se   ter   verificado  

perfurantes   incompetentes   tornarem-­‐se   competentes,   depois   do   tratamento   do  

sistema   superficial21,   22,   23,   24,   25.  Uma   revisão  da   cirurgia   das   perfurantes   conclui   não  

haver  evidências  de  benefício  da  sua  laqueação,  pelo  contrário,  as  evidências  apontam  

no  sentido  da  sua  não  necessidade30.  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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131129  

Em  2017  as  guidelines  do  AVF  no  tratamento  da  úlcera  venosa  (recomendação  4-­‐24-­‐4-­‐

5)sugerem  a  laqueação  das  veias  perfurantes  em  adição  ao  tratamento  da  insuficiência

superficial  e  à  terapêutica  compressiva,  sendo  a  sugestão  de  grau  2C,  fraca  e  baseada  

em  evidências  de  qualidade  baixa  ou  muito  baixa31.  

Na  cirurgia  de  varizes  recorrentes,  procedemos  apenas  à  excisão  das  novas  colaterais  

varicosas,  sem  reexploração  da  região  da  JSF  (redo-­‐surgery)32.  

As  varizes  recorrentes  refletem  o  caráter  crónico  progressivo  da  doença,  mesmo  com  a  

abordagem  radical  de  excisão  dos  segmentos  venosos  patológicos,  a  recorrência  está  

sempre   presente,   não   havendo  marcadores   que   permitam   prever   essa   possibilidade  

(em  que  casos)  nem  a  sua  rapidez.  

O  doente  tem  alta,  como  já  referido  pelas  20:00  h,  deslocando-­‐se  pelos  seus  próprios  

meios,  retomando  a  sua  atividade  diária  normal  no  dia  seguinte,  com  a  meia  elástica.  

O  regresso  ao  trabalho  é  função  do  tipo  deste  e  do  próprio  doente,  sendo  de  dois  a  dez  

dias  (altura  em  que  retira  os  pontos  e  a  meia  elástica).        

Não   tivemos   qualquer   complicação   peri-­‐operatória   relacionada   com   a   cirurgia   ou  

anestesia.  

 A   cirurgia   dura   de   30  minutos   a   duas   horas,   conforme   a   extensão   e  magnitude  das  

varizes  e  serem  uni  ou  bilaterais.  

Não   fazemos  profilaxia  antibiótica  e   só   fazemos  prevenção  do  TEV  nos  doentes   com  

antecedentes  de  episódios  tromboembólicos.  

 Além   da   analgesia   no   pós-­‐operatório   imediato,   não   prescrevemos   analgésicos   e/ou  

anti-­‐inflamatórios   para   o   pós-­‐operatório,   e   os   doentes   tem   confirmado   a   sua   não  

necessidade,  referindo  apenas,  por  vezes  no  1º  dia,  uma  ou  duas  tomas  de  analgésico,  

tipo  Paracetamol  ou  Aspirina,  mais  por  prevenção  que  por  necessidade.  

A  manutenção  da  meia  elástica  Struva  no  pós-­‐operatório,  poderá  ser  fator  explicativo  

desta  não  necessidade  de  analgesia/anti-­‐inflamatórios  no  pós-­‐operatório,  dado  o  seu  

-­‐  

efeito  compressivo  poder  limitar  a  dor  e  inflamação.  

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Na página seguinte exemplos de doentes operados (Fig. 10 a 17).

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132

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

Fig. 10 - Varizes exuberantes em doente com antecedentes de cirurgia da obesidade

Fig. 12 - Seis meses depois

Fig. 17Três anos depois

Fig. 15Três anos depois

Fig. 13 - Um ano depois

Fig. 16Varizes da perna

Fig. 14Varizes dacoxa esquerda

Fig. 11 - Varizes retiradas

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133130  

As   complicações   pós-­‐operatórias   tem   sido   clinicamente   não   significativas,   traduzidas  

essencialmente,   na   nossa   série   de   1111   doentes   operados   entre   2012-­‐2017,   por  

ligeiras  equimoses  da  coxa,  que  resolvem  em  dias  ou  semanas  (as  equimoses  extensas  

do  passado  passaram  a  ser  pouco  frequentes  com  a  técnica  “stripping”de  invaginação).  

Deiscência  das  incisões  cutâneas  são  muito  raras,  tivemos  três  casos  com  necessidade  

de  ressutura  em  um  caso,  e  um  de  necrose  dos  bordos  de  incisão  de  doente  diabético,  

como  infeção  tivemos  um  caso  de  abcesso   inguinal  necessitando  de  drenagem,  raros  

hematomas   (três   casos),   linfatomas   (um   caso   na   região   inguinal),   linforragia   (dois  

casos:  um  inguinal  e  um  em  incisão  da  perna),  neurite  do  nervo  safeno  (dois  casos  de  

parestesias  temporárias  do  tornozelo),  e  pensamos  que  o  stripping  de  invaginação,  de  

cima   para   baixo   e   limitado   ao   joelho,   reduz   a   possibilidade   da   lesão   do   nervo.   Não  

tivemos  casos  de  TEV.  

Dado  serem  as  varizes  uma  doença  crónica  progressiva,  pretendemos  um  seguimento  

contínuo  numa  base  anual.  

Referências  bibliográficas  

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study.  The  outcomes  of  varicose  veins  surgery,  symptoms  and  patient  satisfaction.  Ann  

R  Coll  Surg  Eng  2003;  85:  52-­‐57.  

Como conclusão da nossa série de 1625 membros operados entre 2012 e 2017,

a cirurgia das varizes adaptada ao padrão de refluxos teve excelentes resultados

com morbilidade mínima, rápido regresso as atividades diárias (um dia) e ao trabalho

(dois a dez dias), e elevado grau de satisfação dos doentes, manifestado na

consulta pós-operatória.

Cirurgia das varizes dos membros inferiores

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134   131  

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TRATAMENTO  ENDOVASCULAR  

Élia  Coimbra  e  Filipe  Veloso  Gomes  

Introdução  às  técnicas  endovasculares  

O  tratamento  do  refluxo  das  veias  safenas  evoluiu  da  abordagem  cirúrgica  clássica  de  

laqueação   alta   da   Veia   Grande   Safena   (VGS)   e   stripping   da   mesma,   para   uma  

abordagem  minimamente   invasiva   através   de   diversas   técnicas   endovasculares,   que  

permitem  o  tratamento  das  varizes  dos  membros   inferiores,  em  regime  ambulatório,  

apenas  com  recurso  a  anestesia  local  e  com  a  possibilidade  de  realizá-­‐lo  em  contexto  

de  consultório,   fora  do  bloco  operatório.  As  primeiras  técnicas  endovasculares  foram  

desenvolvidas   nos   anos   90   e   as   primeiras   publicações   de   estudos   observacionais   e  

experimentais   surgiram   no   início   dos   anos   2000,   demonstrando   a   equivalência   no  

sucesso  técnico  imediato  e  menores  complicações,  em  comparação  com  a  abordagem  

cirúrgica   clássica1,   2,   3,   4.   As   primeiras   técnicas   endovasculares   para   o   tratamento   do  

refluxo   das   veias   safenas   foram   a   termoablação   com   laser   ou   radiofrequência   e   a  

escleroterapia  com  espuma,  todas  elas  requerendo  a  utilização  de  ecografia  para  guiar  

o acesso,  injeção  e  posicionamento  dos  cateteres/fibras,  de  forma  segura.

Evidência  e  recomendações  no  tratamento  das  veias  safenas    

Em  2012  surgiu  a  primeira  revisão  sistemática  e  metanálise  de  estudos  randomizados  e  

controlados,  comparando  o  insucesso  no  tratamento  do  refluxo  da  veia  tratada  entre  a  

ablação   endovenosa   e   o   tratamento   cirúrgico   no   tratamento   de   varizes.   Nesta  

metanálise,   a   termoablação   com   laser   ou   radiofrequência   (RFA),  mas   não   a   ablação  

com   espuma,   teve   eficácia   equivalente   à   cirurgia,   sem   diferenças   estatisticamente  

significativas.   Em   relação   à   comparação   da   ocorrência   de   complicações,   a  

termoablação   (laser   ou   RFA)   teve   uma   taxa   de   infeção   inferior   em   70   %   (NNT   80),  

redução  do  risco  de  hematoma  em  50-­‐60  %  (NNT  4  a  10),  menor  dor  pós-­‐tratamento  e  

permitiu   um   retorno   mais   rápido   às   atividades   normais   em   três   a   cinco   dias,   em  

relação   à   cirurgia5.   Mais   recentemente,   duas   revisões   sistemáticas   publicadas   pela  

Cochrane  Database   of   Systematic   Reviews   analisaram  os   resultados   provenientes   de  

Tratamento endovascular

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estudos  randomizados  e  controlados,  que  compararam  o  tratamento  cirúrgico  com  a  

termoablação  e  a  ablação  com  espuma  de  veias  grandes  e  pequenas  safenas  refluxivas.  

Em   relação   ao   tratamento   do   refluxo   da   VGS,   os   dados   analisados   demonstraram  

eficácia  semelhante  do  tratamento  cirúrgico  em  comparação  com  a  termoablação  ou  

com   a   ablação   com   espuma,   tendo   os   autores   alertado   para   a   falta   de   robustez   da  

evidência   clínica   previamente   publicada   e   que   serviu   de   base   a   este   estudo6.   Em  

relação  ao  tratamento  da  Veia  Pequena  Safena  (VPS),  os  autores  concluem  que  existe  

evidência  que  demonstra  que  a  taxa  de  recanalização  ou  persistência  de  refluxo  às  seis  

semanas,   bem   como   a   recorrência   de   refluxo   após   um   ano,   são   menores   no  

tratamento   com   termoablação   com   laser,   quando   comparado   com   a   cirurgia  

convencional7.   Relativamente   a   outros   indicadores,   não   foram   encontrados   estudos  

suficientes   que   permitissem   tirar   conclusões.   Por   último,   em   relação   à   análise   de  

custo-­‐efetividade,   existe   alguma   evidência   que   favorece   a   termoablação   e   em  

particular  o   tratamento  com   laser,  como  o  tratamento  que  apresenta  a  maior  custo-­‐

eficácia,  quando  comparado  com  a  cirurgia  ou  a  ablação  com  espuma8,   9.  O  aumento  

do  número  de  publicações  e,   em  particular,   os   resultados  das  principais  metanálises  

estão,   pelo   menos   em   parte,   na   base   das   recomendações   atuais   das   principais  

sociedades   científicas   generalistas   e   de   cirurgia   vascular.     De   acordo   com   as  Clinical  

Practice   Guidelines   da   European   Society   for   Vascular   Surgery   (ESVS)   de   2015,   o  

tratamento   do   refluxo   da   VGS   deve   ser   realizado,   preferencialmente,   com  

termoablação  endovenosa,   em  detrimento  da   cirurgia  ou  da   ablação   com  espuma10.  

Em   relação   ao   tratamento   do   refluxo   da   VPS,   a   recomendação   é   apenas   de  

consideração   da   abordagem   endovenosa   no   tratamento   da   mesma.   O   National  

Institute  for  Health  and  Care  Excellence  (NICE)  do  Reino  Unido,  recomendou  a  partir  de  

2013   a   utilização   da   termoablação   endovenosa   do   refluxo   das   veias   safenas   com  

varizes   dos   membros   inferiores,   como   a   abordagem   de   primeira   linha,   seguida   da  

ablação   com   espuma   e   da   cirurgia,   quando   a   primeira   estiver   contraindicada11.   Do  

outro   lado   do   Atlântico,   a   Society   for   Vascular   Surgery   (SVS),   em   conjunto   com   o  

American   Venous   Forum   (AVF),   recomendam   a   termoablação   endovenosa   em  

detrimento   da   cirurgia,   devido   à   redução   da   dor   e   da   morbilidade   associada   e   ao  

menor   período   de   convalescença12.   As   técnicas   endovasculares   são   habitualmente  

Tratamento endovascular

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complementadas  com  a  realização  de  flebectomias  ou  escleroterapia  com  espuma  das  

varizes,  na  mesma  sessão  ou  num  segundo  tempo10.  

 

  Termoablação  das  veias  safenas  

A  termoablação  das  veias  safenas  consiste  na  aplicação  de  energia  térmica  através  de  

cateteres,   EVLT,   RFA   ou   vapor.   Em   todas   as   técnicas   de   termoablação,   está  

recomendada  a  terapêutica  com  meias  de  compressão  durante  cerca  de  uma  semana  

(embora  não  seja  consensual  uma  duração  exata).  Estas  técnicas  podem  ser  realizadas  

em  ambulatório,  sem  recurso  a  anestesia  geral,  permitindo  a  alta,  imediatamente  após  

a  realização  do  tratamento.  O  procedimento  de  termoablação,  consiste  na  canulação  

ecoguiada  da  VGS,  habitualmente  logo  abaixo  do  joelho,  progredindo-­‐se  um  cateter  e  

um   fio   guia   até   à   junção   safenofemoral   (JSF).   De   seguida   retira-­‐se   parcialmente   o  

cateter  e  posiciona-­‐se  entre  2  a  5  cm  da  JSF  e  substitui-­‐se  o  fio  guia  pela  fibra  de  laser  

ou  cateter  de  radiofrequência,  de  acordo  com  as  recomendações  de  cada  fabricante.  

Todas  as  técnicas  de  termoablação  incluem  a  administração  de  elevada  energia  sob  a  

forma  de  calor,  motivo  pelo  qual  o  passo  seguinte  é  a  administração  da  anestesia  de  

tumescência.   A   anestesia   de   tumescência   consiste   na   injeção   no   compartimento   da  

VGS,   entre   a   faixa   muscular   e   a   faixa   hipodérmica,   de   volumes   generosos   de   soro  

fisiológico   contendo   lidocaína   (0,05   %   a   0,1   %)   e   adrenalina   (1:1.000.000),   com   o  

objetivo  de  anestesiar  localmente,  comprimir  a  veia  safena  contra  o  cateter  de  ablação  

e   criar   uma   “manga”   de   isolamento   térmico,   que   evita   a   lesão   de   estruturas  

envolventes  (Fig.  1).  

 

 Fig.  1  –  Imagem  de  ecografia  no  eixo  longitudinal  da  veia  grande  safena,  onde  se  observa  a  

administração  da  anestesia  de  tumescência.    

Tratamento endovascular

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Após  a  administração  do  líquido  de  tumescência  ao  longo  de  toda  a  extensão  da  veia  a  

tratar,  inicia-­‐se  então  a  termoablação,  mantendo-­‐se  um  recuo  segmentar  ou  contínuo  

do   cateter,   ao   ritmo   recomendado   pelo   fabricante   (Fig.   2).   No   tratamento   da   VGS  

abaixo   do   joelho,   existe   o   risco   de   lesão   do   nervo   safeno,   o   qual   tem   um   trajeto  

próximo   da   veia13.   No   tratamento   da   VPS,   abaixo   da   margem   inferior   da   porção  

muscular  do  gastrocnémio,  no  1/3  médio  da  perna,  existe  o   risco  de   lesão  do  nervo  

sural14,  pelo  que  o  acesso  à  veia  não  deve   ser   realizado   inferiormente  a  esse  ponto,  

quando  se  utiliza  termoablação.  

 

 Fig.  2  –  Imagem  de  ecografia  de  termoablação  da  veia  grande  safena,  onde  se  observa  a  

extremidade  ativa  do  cateter  de  termoablação  emitindo  calor  e  gás  ecogénico,  no  interior  da  veia.  

 Existe   uma   outra   técnica   mais   recente,   que   é   o   tratamento   com   vapor   de   água,  

embora  a  sua  utilização  não  esteja  implementada  na  prática  clínica.  

As  principais  complicações  das  técnicas  de  termoablação  incluem  tromboflebite  (7  %),  

queimadura  cutânea  (<1  %),  hematoma  (0-­‐7  %),  hiperpigmentação  (5  %)  e  parestesias  

(1-­‐2  %)10.  

 

  Ablação  não  térmica  das  veias  safenas  

A   ablação   não   térmica   tem   como   principais   vantagens   a   diminuição   do   risco   de  

queimaduras,  bem  como  de  lesão  quer  do  nervo  safeno,  no  tratamento  da  VGS,  quer  

do  nervo  sural,  no  tratamento  da  VPS,  permitindo  o  tratamento  de  ambas  as  veias,  em  

toda   a   sua   extensão.   As   técnicas   não   térmicas   incluem   a   escleroterapia,   a   ablação  

mecânico-­‐química  e  a  ablação  adesiva.  

 

Tratamento endovascular

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Escleroterapia  com  espuma  das  veias  safenas  

A  escleroterapia  com  espuma  consiste  na  canulação  ecoguiada  da  veia  grande  safena,  

seguida   da   injeção   de   um   agente   esclerosante   (tetradecil   sulfato   de   sódio   ou  

polidocanol)  preparado  sob  a  forma  de  espuma,  a  qual  ocupa  o  espaço  do  sangue  no  

lúmen   da   veia,   obliterando-­‐o,   promovendo   inflamação   das   camadas   endotelial   e  

subendotelial   da   veia,   que   resulta   em   oclusão   e   fibrose.   As   taxas   de   sucesso   desta  

técnica   variam   entre   88   %   a   93   %,   com   complicações   próximas   das   observadas   na  

escleroterapia  com  agente   líquido.  Após  o  tratamento  está  recomendada  a  utilização  

de  meias  de  compressão,  com  duração  não  consensual.  

Ablação  mecânico-­‐química  

Este   método   combina   a   lesão   mecânica   endotelial   com   a   infusão   de   agente  

esclerosante  líquido,  através  de  um  dispositivo  (Clarivein®),  tendo  já  demonstrado  uma  

eficácia  a  curto  prazo  de  cerca  de  90  %,  avaliada  ecograficamente  pelo  encerramento  

da  VGS  entre  seis  a  12  semanas  após  o  tratamento,  e  taxas  de  complicações  que   lhe  

conferem  um  perfil  seguro15.  Está  recomendada  a  utilização  de  meias  de  compressão  

com  duração  não  consensual.  

Ablação  adesiva  com  cianoacrilato  (cola)  

O  método  de  encerramento  da  VGS  e  da  VPS  tem  sido  alvo  de  grande  atenção,  pelo  

facto  de  não  requerer  a  administração  de  anestesia  de  tumescência,  ao  contrário  das  

técnicas   de   termoablação,   nem   a   utilização   de   meias   de   compressão   após   o  

tratamento,  o  que  é  único  nas  técnicas  endovasculares.  O  acesso  à  VGS  é  feito  com  o  

auxílio   da   ecografia,   seguindo-­‐se   a   colocação  do   cateter   a   5   cm  da   JSF.   A   partir   daí,  

comprime-­‐se   a   VGS   abaixo   da   JSF   para   evitar   a   passagem   de   cola   para   a   circulação  

profunda,  e  inicia-­‐se  a  administração  de  pequenas  quantidades  de  cola,  de  acordo  com  

o protocolo   definido   pelo   fabricante.   No   caso   do   VenaSeal®,   que   foi   utilizado   no

estudo  VeClose16,  o  cianoacrilato  é  administrado  através  de  um  dispositivo  de  entrega  

que  se  liga  ao  hub  do  cateter,  seguindo-­‐se  um  período  de  compressão  de  três  minutos,  

na  primeira  aplicação  junto  à  JSF  e  de  30  segundos  inferiormente,  intercalados  por  um  

recuo  de  3  cm  do  cateter.  Os  resultados  do  estudo  VeClose  aos  12  meses,  um  estudo  

multicêntrico  americano,  randomizado  e  controlado,  comparando  a  ablação  com  cola,  

com   a   termoablação   utilizando   radiofrequência,   demonstrou   uma   eficácia   no  

encerramento   da   VGS   de   96   %   em   ambos   os   grupos,   com   taxas   de   complicações  

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semelhantes  e  melhorias  idênticas  nos  questionários  de  qualidade  de  vida  aplicados16.  

A  complicação  que  a  literatura,  e  também  a  experiência  dos  autores  no  tratamento  de  

15  doentes,  impõe  referir,  é  a  ocorrência  de  flebite  da  veia  tratada,  atingindo  até  20  %  

dos  doentes17,  com  necessidade  de  tratamento  anti-­‐inflamatório,  por  vezes  de  forma  

prolongada.   Adicionalmente,   uma   publicação   recente,   que   relata   uma   experiência  

desta  técnica  em  55  doentes,  refere  que  o  diâmetro  da  veia  safena,  quando  maior  que  

6   mm,   é   preditor   de   recanalização   da   veia,   aspeto   a   ter   em   conta   na   seleção   do  

tratamento  endovenoso  a  utilizar18.  

Conclusão  

O  tratamento  endovascular  do   refluxo  das  veias   safenas,  no   contexto  de  varizes  dos  

membros   inferiores,   é,   atualmente,   a   escolha   de   primeira   linha   e   deve   ser   baseado  

num   estudo   de   ecoDoppler   detalhado,   que   identifique   as   causas  mais   frequentes   e  

exclua  causas  menos  frequentes  de  varizes,  de  acordo  com  as  recomendações  atuais  

das   principais   sociedades   científicas   de   cirurgia   vascular.   O   tratamento   deve   ser  

individualizado  a  cada  doente,  nomeadamente  tendo  em  conta  a  causa  das  varizes  dos  

membros   inferiores,   a   adequação   das   diferentes   técnicas   às   áreas   a   tratar   e   as  

expetativas  de  cada  doente.  

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Tratamento endovascular

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TRATAMENTO  DAS  PERFURANTES  INSUFICIENTES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  

PORQUÊ,  QUANDO  E  COMO?  

Carlos  Eduardo  Costa  Almeida  

Da  importância  das  perfurantes  ao  porquê  do  seu  tratamento  

Ao  longo  dos  últimos  anos,  muita  discussão  tem  surgido,  sobre  o  tratamento  de  varizes  

dos  membros   inferiores.  Quais  os  melhores  métodos  e  quais  as  varizes  a   tratar,   têm  

sido   perguntas   cujas   respostas   não   parecem   ser   unânimes.   No   entanto   parece   ser  

globalmente  aceite,  e  é   também  a  opinião  do  autor,  que  dado  o   facto  de  a  etiologia  

não  ser  totalmente  compreendida,  todas  as  varizes  devem  ser  tratadas,  uma  vez  que  

se   trata   de   veias   dilatadas,   tortuosas   e   mal   funcionantes,   responsáveis   pela  

hipertensão  venosa  que  caracteriza  a   insuficiência  venosa  dos  membros   inferiores,  e  

cujos   tratamentos   visam  baixar  ou  mesmo  eliminar1,   2.   Relativamente  às  perfurantes  

várias  questões  têm  sido  colocadas  quanto  à  necessidade  de  as  tratar,  pois  para  alguns  

são  de  reentrada,  a  sua  dilatação  não  é  causa  de  doença  mas  consequência,  e  não  têm  

impacto  na  doença  varicosa3.  Ora  isto  não  parece  ser  totalmente  verdade!    

Por   aumentarem  a   hipertensão   venosa   as   perfurantes   insuficientes   estão   implicadas  

na   génese  das  úlceras   varicosas   e  na   recidiva  de   varizes,   sendo  apontado  o   seu  não  

tratamento  (por  erro  táctico  ou  técnico)  responsável  pela  recidiva  precoce1-­‐4.  Segundo  

um  estudo  de  Rutherford  e  Mark  Whiteley  publicado  em  20015,  44  %  dos  doentes  com  

primeiras   varizes   têm   perfurantes   insuficientes,   enquanto   63   %   dos   doentes   com  

varizes  recidivadas  têm  perfurantes  incompetentes.  Da  análise  dos  dados  colhidos  por  

estes  autores,  doentes  com  varizes  recidivadas  têm  maior  prevalência  e  maior  número  

de  perfurantes  insuficientes  por  perna,  comparando  com  os  casos  de  primeiras  varizes.  

Estes  achados  apoiam  a  ligação  das  perfurantes  insuficientes  com  a  recidiva  de  varizes.  

Em   2014,   Kiguchi6   comprovou   a   importância   hemodinâmica   das   perfurantes  

insuficientes   na   génese   da   doença   varicosa,   ao   tratar   por   esclerose   perfurantes   em  

doentes  sem  refluxo  axial,  conseguindo  obter  melhores  resultados  na  cicatrização  de  

úlceras  venosas.  Também  Tenbrook7  em  2004  concluiu  pela  importância  da  laqueação  

subfascial   endoscópica   de   perfurantes   (SEPS)   na   cicatrização   de   úlceras   (e   assim   da  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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importância  destas  veias  na  doença  varicosa),  conseguindo  uma  taxa  de  cicatrização  de  

88  %  quando  juntava  a  SEPS  à  safenectomia  da  grande  veia  safena  (GVS),  contra  65  %  

no  grupo  onde  apenas  realizava  o  stripping  da  GVS.  Em  2015,  Van  Gent8  publica  uma  

análise   da   influência   da   cirurgia   das   perfurantes   em   doentes   com   úlcera   varicosa,  

chegando  à  conclusão  que  a  SEPS  bem  realizada,  diminui  significativamente  a  recidiva  

da   úlcera,   indicando   assim   a   importância   clínica   das   perfurantes   insuficientes   em  

doentes   com   úlcera   venosa   activa.   Refere   ainda   que   o   não   tratamento   de   todas   as  

perfurantes   poderá   não   influenciar   significativamente   a   cicatrização,   mas   tem   um  

impacto  negativo   importante  na  recidiva  (p=0,007).  De  salientar  ainda,  que  Van  Gent  

concluiu   também   que   o   tratamento   da   insuficiência   venosa   superficial   não   teve  

influência  significativa  na  cicatrização  ou  recidiva  da  úlcera  venosa  nos  casos  em  que  a  

SEPS  foi  realizada8.    

O   refluxo   nas   perfurantes   dos   membros   inferiores   na   doença   varicosa,   ocorre  

essencialmente  nas  veias  de  Cockett,  sendo  estas  o  principal  objectivo  do  tratamento1,  

3,  9

imediatamente  abaixo  do  joelho,  o  stripping  da  GVS  não  vai  influenciar  o  fluxo  através  

das   perfurantes   de   Cockett1,   3.   Sendo   assim,   o   tratamento   do   sistema   venoso  

superficial   pouco   irá   influenciar   o   refluxo   nas   perfurantes,   pelo   que   são   necessárias  

técnicas  dirigidas  para  o  seu  tratamento.  

Por   todas   estas   razões   o   tratamento   das   perfurantes   insuficientes   é   essencial,   se  

pretendermos   oferecer   ao   doente   um   tratamento   eficaz   e   duradouro   para   a   sua  

doença  venosa.  

 

  Quando  tratar  as  perfurantes  dos  membros  inferiores?  

Apesar  da  oclusão  de  todas  as  perfurantes  insuficientes  ser  o  único  factor  preditivo  da  

cicatrização   de   uma   úlcera,   existe   alguma   controvérsia   quanto   aos   casos   onde   há  

indicação   para   as   tratar.   De   acordo   com   o   American   Venous   Forum   e   a   Society   for  

Vascular  Surgery  (Orientações  clinicas  de  2011)10,  as  perfurantes  insuficientes  (refluxo  

superior  a  0,5  s  ou  diâmetro  superior  a  3,5  mm)  devem  ser  tratadas  em  doentes  com  

insuficiência   venosa   crónica   (IVC)   avançada   CEAP   classes   C5   e   C6.   Da   leitura   do  

documento  fica  dúvida  quanto  à   indicação  nas  restantes  classes  de   IVC  (C3  e  C4).  Os  

estudos   apresentados  nas   “guidelines”   referem  o   tratamento  nestas   classes,   ficando  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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assim   em   aberto   a   indicação   do   tratamento   das   perfurantes   nas   classes   C3   e   C4.  

Quanto   à   doença   C2   as   orientações   do   American   Venous   Forum   e   da   Society   for  

Vascular  Surgery10  são  claras,  não  recomendam  o  tratamento  no  caso  de  doença  C2.  

No   entanto,   e   segundo   autores   como   Rhodes   e   O’Donnell,   as   perfurantes  

incompetentes  devem  ser  tratadas  em  doentes  com  doença  C2  no  caso  de  recidiva  de  

varizes1-­‐3,  11.    

Em   2014   a   Society   for   Vascular   Surgery   e   o  American   Venous   Forum   publicaram   as  

“guidelines”   para   o   tratamento   da   úlcera   venosa12.   Neste   documento,   as   indicações  

são  claras  e  semelhantes  no  que  diz  respeito  ao  tratamento  das  perfurantes.  Indicação  

de   tratamento   das   perfurantes   insuficientes   (refluxo   superior   a   0,5   s   ou   diâmetro  

superior  a  3,5  mm)  em  combinação  com  a  insuficiência  venosa  superficial  nas  classes  

CEAP  C4b,  C5  e  C6,  com  os  objectivos  de  evitar  o  aparecimento  de  uma  úlcera,  evitar  a  

recidiva,  e  ajudar  na  cicatrização  da  úlcera.  Acrescentam  ainda  que  em  doentes  C5  e  

C6   com   insuficiência   isolada   das   perfurantes   (sem   refluxo   superficial),   o   tratamento  

das   perfurantes   deve   ser   oferecido.   Importa   referir   que   as   indicações   são   colocadas  

independentemente  da  presença/ausência  de  refluxo  do  sistema  venoso  profundo,  e  

que  são  indicações  com  grau  2C  de  evidência.  

Estas  duas  sociedades  referem  que  não  há  indicação,  ou  pelo  menos  indicação  apoiada  

por  estudos,  para  medidas   interventivas  profiláticas  da  progressão  da  doença  venosa  

crónica   (C1-­‐2)   para   IVC   avançada  na   figura  da  doença  C6.  A  prova  da  progressão  da  

doença   parece   ser   circunstancial,   devendo   os   tratamentos   objectivar   o   alívio  

sintomático   da   doença   venosa12.   Esta   orientação   deixa   em   aberto   a   eventual  

possibilidade  de  usar  medidas   interventivas  para  alívio  sintomático  mesmo  nos  casos  

de  doença  venosa  crónica  precoce.  

Continuando  esta  ideia,  como  as  perfurantes  insuficientes  estão  implicadas  na  génese  

da  úlcera  varicosa,  na  recidiva  de  úlceras  e  de  varizes,  e  têm  um  papel  hemodinâmico  

na  hipertensão  venosa  que  caracteriza  a  doença  venosa  crónica  e  que  causa  sintomas,  

o   autor   tem   incluído   os   casos   C2   nas   indicações   para   tratamento   de   perfurantes  

insuficientes.  Na  análise  dos  primeiros  50  doentes  tratados  pelo  autor1  e  publicada  no  

Journal   of   Vascular  Medicine   &   Surgery   em   2015,   cinco   doentes   tinham   doença   C2  

(http://dx.doi.org/10.4172/2329-­‐6925.1000221).  

 

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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  Como  tratar  as  perfurantes  insuficientes?  

Para   tratar   (ocluir/laquear)   as   perfurantes   insuficientes   dos   membros   inferiores  

existem   diversas   técnicas,   e,   nos   últimos   anos,   alguns   avanços   e   novidades   têm  

surgido.  Entre  1992  e  2008  a  laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  tornou-­‐

se   a   técnica   de   escolha1,   3.   No   entanto   esta   posição   tem   sido   posta   em   causa   pela  

emergência  das  técnicas  ecoguiadas  de  ablação  percutânea  de  perfurantes  (PAP),  seja  

térmica  (laser  ou  radiofrequência)  ou  química  (esclerose).    As  técnicas  de  PAP  têm  sido  

atrativas   para  médicos   e   doentes,   mas   a   pergunta   que   se   coloca   é   se   oferecem   os  

mesmos   ou   melhores   resultados   que   a   SEPS1,   13.   Para   responder   a   tal   pergunta   é  

necessário   proceder   a   uma   revisão   de   resultados,   correlacionando   a   avaliação   da  

eficácia  com  a  taxa  de  cicatrização  de  úlcera,  uma  vez  que  é  nos  casos  C5  e  C6  que  o  

tratamento  das  perfurantes  insuficientes  está  consensualmente  indicado.  

 

  Cirurgia  aberta  

Em  1938,  Linton  sugeriu  pela  primeira  vez  a  interrupção  das  perfurantes  para  tratar  e  

prevenir   úlceras   varicosas.   Para   tal,   era   realizada   uma   incisão   longitudinal   na   face  

medial   da   perna,   e   através   da   mesma   todas   as   perfurantes   eram   laqueadas   e  

seccionadas.   Devido   à   elevada   taxa   de   complicações   da   ferida   operatória   (25  %)2,   e  

após  o   aparecimento  de   técnicas  minimamente   invasivas,   a   operação  de   Linton   tem  

hoje  apenas  valor  histórico.  

Pequenas   incisões   sobre   as   perfurantes   e   sua   laqueação,   é   outra   opção   de   cirurgia  

aberta.   No   entanto,   esta   técnica   depende   da   informação   do   ecoDoppler   venoso,  

podendo  algumas  perfurantes  não  serem  encontradas  e  ficando  por  tratar.  Por  outro  

lado,   em  alguns   casos  há  perfurantes   sob  pele  doente   (lipodermatoesclerose,   úlcera  

cicatrizada  ou  úlcera  activa)  significando  que  uma  incisão  que  for  feita  nesse  local  terá  

risco   elevado   de   complicações,   nomeadamente   uma   nova   úlcera2.   Com   o  

aparecimento  de  técnicas  minimamente  invasivas  este  método  tem  caído  em  desuso.  

 

  Laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  

Em   1985,   Hauer14   descreveu   pela   primeira   vez   a   abordagem   endoscópica  

minimamente  invasiva  para  tratar  as  perfurantes  insuficientes  dos  membros  inferiores.  

Com  a  SEPS,  a  taxa  de  complicações  foi  substancialmente  reduzida,  passando  dos  25  %  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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de  complicações  da  ferida  operatória  na  operação  de  Linton  (obsoleta),  para  3-­‐5  %2,  3,  

13.  

Inicialmente,   o   autor   realizava   a   SEPS   por   porta   única   utilizando   um   endoscópio  

específico,  actualmente  descontinuado.  No  entanto,  O’Donnell15,  nos  Estados  Unidos,  

descreveu   a   técnica   de   duas   portas   utilizando   material   cirúrgico   comum   de  

laparoscopia,  sendo  hoje  a  técnica  preferida  pelo  autor.  Um  trocarte  de  10  mm  para  

óptica  de  0º  e  um  outro  de  5  mm  para  trabalho,  é  tudo  o  que  é  necessário  para  em  

cerca  de  15-­‐20  minutos  tratar  todas  as  perfurantes  mediais  (incluindo  as  de  Cockett)  e  

posteriores  da  perna.  Dado  que  as  duas  portas  são  colocadas  no  terço  superior  da  face  

medial   da   perna,   podem   ser   tratadas   perfurantes   sob   pele   doente   (úlcera   activa   ou  

cicatrizada,   lipodermatoesclerose),  mantendo  a   integridade  da  pele   supradjacente,   e  

eliminando  os  riscos  de  uma  incisão  (Fig.  1).    

 

 Fig.  1  -­‐  Colocação  das  duas  portas  (10  mm  e  5  mm)  no  terço  proximal  da  perna,  

longe  de  pele  doente.    Um   dissector,   um   aplicador   de   clips   e   uma   tesoura   de   laparoscopia   é   tudo   o   que   é  

necessário.   O   autor   prefere   substituir   todos   estes   instrumentos   por   uma   pinça   de  

energia   LigaSure®   Maryland   5   mm   (não   tem   perigo   de   lesão   térmica   pelo   que   é  

adequada   ao   pequeno   espaço   de   trabalho   da   técnica)   evitando   as   constantes  

mudanças   de   instrumento,   encurtando   a   operação,   e   reduzindo   a   possibilidade   de  

hemorragia   (Fig.   2).   Por   vezes   pode   haver   conflito   entre   o   instrumento   e   a   câmara,  

“sword   fighting”,   podendo   dificultar,   mas   não   impedir   o   procedimento.   A   SEPS   é  

realizada   com   raquianestesia   ou   anestesia   geral,   e   em   regime   de   ambulatório.  

Actualmente,  é  a  técnica  mais  utilizada  na  Europa3.  

A  indicação  para  realizar  a  SEPS  é  colocada  pela  presença  de  perfurantes  insuficientes  

no   ecoDoppler   venoso   pré-­‐operatório.   Neste   caso   apenas   é   necessário   saber   se   há  

uma  perfurante   insuficiente,  não   sendo  necessário   saber  quantas  existem  nem  onde  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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exatamente   se   localizam  pois   com  a  ajuda  da  óptica   todas  as  perfurantes,  mediais  e  

posteriores,   serão   intraoperatoriamente   encontradas   e   tratadas.   A   dependência   do  

ecoDoppler   venoso   é   por   isso   reduzida   (comparativamente   às   outras   técnicas)   na  

cirurgia  endoscópica  de  perfurantes.    

Os  resultados  da  SEPS  têm  sido  avaliados  em  diversos  estudos.  Tenbrook7  apresentou  

em  2004  uma  taxa  de  cicatrização  de  úlcera  venosa  de  88  %  se  a  SEPS  for  usada  em  

conjunto   com   o   stripping   da   GVS.   Também   Gloviczki16   relata   88   %   de   taxa   de  

cicatrização  aos  12  meses,   com  uma   recidiva  a  um  ano  e   três  anos  de  16  %  e  39  %,  

respectivamente.  Kalira  et  al.(17)  apresentam  dados  semelhantes  ao  aplicar  a  SEPS,  com  

89%   de   taxa   de   cicatrização   e   recidivas   de   4   %   e   20   %   aos   um   ano   e   três   anos   de  

seguimento.   Em   2009   Gloviczki3   compilou   diversos   trabalhos   avaliando   a   taxa   de  

cicatrização   da   úlcera   venosa   após   a   SEPS,   apresentando   uma   taxa   de   cicatrização  

global  de  90  %  e   recidiva  de  11  %.  Os  dados  publicados  pelo  autor  em  2015  vão  ao  

encontro  destes   resultados,   com  uma   taxa  de  cicatrização  da  úlcera  venosa  de  92  %  

aos  seis  meses,  e  recidiva  de  9  %  com  a  aplicação  da  SEPS1.  Vashist  et  al.18  apresentam  

0   %   de   infecção   do   local   cirúrgico   num   estudo   prospectivo   aleatório   publicado   em  

2014.  O  autor  relata  em  2015  uma  taxa  de  infecção  da  ferida  operatória  de  4  %  (2/50)  

após  a  cirurgia  endoscópica  de  perfurantes1.  

Alguns  autores  apontam  um  erro  a  estes  estudos.  Uma  vez  que  a  SEPS  foi  realizada  em  

conjunto   com   o   stripping   da   GVS   na   maioria   dos   casos,   isso   põe   em   causa   a  

importância  das  perfurantes  e  da  SEPS.  Em  1999,  Gloviczki  relata  melhores  resultados  

com   SEPS   combinada   com   o   stripping   da   GVS   comparando   com   SEPS   isoladamente,  

mas  todos  os  doentes  que  apenas  foram  tratados  com  SEPS  tinham  úlcera  persistente  

ou   recidivante   após   stripping19.   Van   Gent,   nos   seus   trabalhos   de   2015,   conclui   pela  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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importância   da   SEPS   bem   realizada   na   redução   da   recidiva   da   úlcera,   e   da  

insignificância  do   tratamento  do  sistema  venoso  superficial  na  cicatrização  e   recidiva  

da  úlcera,  em  doentes  submetidos  ao  tratamento  endoscópico  de  perfurantes8.  

 

 Fig.  3.  QRcode  para  vídeo  demonstrativo  da  SEPS  por  duas  portas.  

 

  Ablação  Percutânea  de  Perfurantes  (PAP)  

As   técnicas   de   ablação   percutânea   de   perfurantes   (térmica   ou   química)   trouxeram  

algumas  vantagens,  como  redução  da  infecção  da  ferida  operatória  para  perto  de  0  %,  

menos   dor,   necessidade   apenas   de   sedação   e   anestesia   local,   possibilidade   de  

realização   no   consultório   (a   SEPS   é   realizada   em   ambulatório),   e   uma   recuperação  

mais   rápida,   o   que   torna   a   PAP   atractiva   e   indicada   para   doentes   de   alto   risco  

cirúrgico2,  3,  13,  20.  A  realização  das  técnicas  de  PAP  assenta  da  detecção  pré-­‐operatória  

das   perfurantes   no   ecoDoppler   venoso,   o   que   torna   o   procedimento   altamente  

dependente  do  operador.  Em  média  2-­‐3  perfurantes  a  mais  são  encontradas  durante  a  

SEPS  comparativamente  ao  ecoDoppler  pré-­‐operatório,  o  que  significa  que  as  mesmas  

ficarão  por   tratar   ao   aplicar   as   técnicas   de   PAP,   com   impacto   negativo   no   resultado  

final1-­‐3,  13.    

Todas  estas   técnicas   implicam  a  punção  com  agulha  da  veia  perfurante   sob  controlo  

ecográfico,  posição  de  Trendelenburg  invertida  para  dilatar  a  veia  e  facilitar  a  punção,  

posição  de  Trendelenburg  após  correta  posição  da  agulha  (estilete  de  radiofrequência  

ou   fibra   laser),   a   instilação   de   uma   fonte   de   energia   ablativa   (química   ou   térmica),  

confirmação  imediata  do  sucesso  do  tratamento,  e  seguimento2,  10.  

 

  Técnicas  endovasculares:  Ablação  com  Laser  Endovascular  (EVLA)  

  e  Radiofrequência  (RF)  

Em  posição  de  Trendelenburg   invertida  o  acesso   intravascular  na  perfurante  é  ganho  

com   uma   agulha,   e   a   correta   posição   é   confirmada   pelo   refluxo   de   sangue   e   pelo  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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controlo   ecográfico.   É   introduzida   uma   sonda   especifica   de   radiofrequência   (estilete  

apropriado  ao  tratamento  das  perfurantes)  ou  uma  fibra  de  laser,  e  a  sua  posição  na  

perfurante   controlada  por   ecografia.   É   administrada   anestesia   tumescente   em   torno  

da   perfurante   e   o   doente   colocado   em  posição   de   Trendelenburg,   que   em   conjunto  

com  compressão  local  irão  exsanguinar  a  veia  e  aumentar  o  contacto  sonda/parede  da  

veia.  Energia  é  administrada  a  esse  segmento.  A  RF  tem  uma  temperatura  alvo  de  85°,  

tratando  cada  quadrante  de  um  segmento  da  veia  em  separado  durante  um  minuto10,  

o  que  torna  o  tratamento  tecnicamente  difícil.  Na  EVLA  têm  sido  usadas  fibras  laser  de  

940   nm,   1320   nm   e   1470   nm,   administrando   250-­‐290   J   de   energia   por   perfurante,  

todos  com  resultados  semelhantes21,  22.  Steve  Elias  usa  técnica  pulsada  entregando  120  

J  a  cada  segmento13.  Após  o  tratamento  do  primeiro  segmento  da  veia  perfurante,  a  

sonda  é  removida  cerca  de  1-­‐2  mm  e  um  novo  segmento  é  tratado.  Um  total  de  2-­‐3  

segmentos  devem  ser   tratados,  e  cada  um  por  duas  vezes.  É  aplicada  pressão  com  a  

sonda   ecográfica   durante   um   minuto,   e   imediatamente   após   o   procedimento   o  

ecoDoppler  deve  mostrar  ausência  de  fluxo  na  perfurante,  e  um  fluxo  na  veia  profunda  

normal13.  

A  confirmação  ecográfica  da  correta  posição  do  estilete  de  RF  ou  da  fibra  laser  dentro  

da   perfurante,   nem   sempre   é   tão   fácil   comparativamente   à   ablação   percutânea   das  

safenas.  Steve  Elias  considera,  por  isso,  a  RF  vantajosa  em  relação  à  EVLA,  uma  vez  que  

é   capaz   de   medir   a   impedância   dos   tecidos.   Desta   forma,   leituras   entre   150   e   350  

ohms  confirmam  a  posição  extraluminal10,  13.  

A   ablação   percutânea   usando   laser   endovascular   (EVLA)   ou   radiofrequência   (RF)  

apresentam  resultados  semelhantes  no  que  diz  respeito  à  taxa  de  oclusão  imediata  das  

perfurantes,  situando-­‐se  nos  90-­‐100  %2-­‐11,  13.  No  entanto,  com  o  aumento  do  tempo  de  

seguimento   essa   percentagem   de   perfurantes   ocluídas   vai   diminuindo2.   Zerweck   et  

al.23  apresentam  uma  descida  dos  100  %  para  95  %  de  perfurantes  ocluídas  com  EVLA  

ao   fim   do   primeiro   mês,   enquanto   Chang   et   al.24   relatam   uma   taxa   de   oclusão   de  

85,7%  ao  fim  de  três  semanas  usando  a  RF.  Após  tratar  100  perfurantes  com  EVLA  e  

100  perfurantes  com  RF,  Murphy25  concluiu  que  os  resultados  são  semelhantes  entre  

as  duas  técnicas,  e  que  as  taxas  de  oclusão  vão  caindo  com  o  aumento  do  tempo  de  

seguimento.   Segundo   as   orientações   do   American   Venous   Forum   e   da   Society   for  

Vascular   Surgery   de   2011,   apesar   das   técnicas   de   ablação   térmica   terem   algumas  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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vantagens  (menos  dor  e  recuperação  mais  rápida),  os  estudos  a  médio-­‐prazo  mostram  

resultados   clínicos   e   hemodinâmicos   semelhantes   à   cirurgia10.   As   complicações   do  

tratamento   com   EVLA   e   RF   são   mínimas,   mas   incluem   casos   de   TVP,   parestesias,  

queimadura   e   eritema.   Uma   desvantagem   actual   e   importante   destas   técnicas  

endovasculares,   é   o   facto   de   não   existirem   dados   das   taxas   de   cicatrização   e   de  

recidiva  da  úlcera  venosa,  e  a  ausência  de  estudos  a  longo-­‐prazo1,  2.  

 

  Esclerose  ecoguiada  

O  acesso   intraluminal   é   confirmado  por  ecografia  e  pela  aspiração  de   sangue.  Neste  

procedimento  o  uso  de  espuma  é  preferível  ao  líquido,  pois  ajuda  a  exsanguinar  a  veia  

a  tratar,  e  prolonga  o  contacto  entre  o  esclerosante  e  a  parede  da  veia.  Após  a  injeção  

do   produto   esclerosante,   são   aplicadas   meias   de   compressão   elástica   com   pressão  

direta  sobre  a  perfurante  tratada,  usando  uma  pequena  compressa  sob  a  meia.    

As   taxas   de   cicatrização   de   úlcera   publicadas   são   bastante   inferiores   às   demais  

técnicas.   Em   2014   Kiguchi6   relata   uma   taxa   de   cicatrização   de   59   %   aos   30   meses,  

conseguindo  uma  taxa  de  trombose  de  64  %  com  espuma  de  polidocanol.  Este  autor  

apresenta  ainda  complicações  por  trombose  venosa  profunda  (TVP)  da  perna  em  3  %  

das  injeções.  Já  Masuda  et  al.  ao  tratarem,  com  morruato  de  sódio  a  5  %,  80  pernas  20

com   perfurantes   insuficientes,   sem   refluxo   axial   ou   com   safenectomia   prévia,  

conseguiram  uma  taxa  de  oclusão  imediata  de  98  %.  No  entanto,  dos  37  membros  com  

Um  caso  de  necrose  cutânea  com  úlcera  de  5x4  cm  ocorreu  após  a  esclerose.  

 

  Embolização  com  coils  

Em   2012   Garcarek   et   al.26   descreveram   a   embolização   de   veias   perfurantes  

insuficientes  com  coils  de  Gianturco-­‐Wallace  e  Tornado  (Cook).  Relatam  uma  taxa  de  

cicatrização   de   úlcera   de   85   %.   No   entanto,   mais   estudos   são   necessários   para  

comparar  esta  técnica  com  as  restantes.  

 

  Resumindo  e  comparando  as  várias  técnicas  

A  operação  de  Linton  está  atualmente  obsoleta  devido  à  elevada  taxa  de  complicações  

da   ferida  operatória   (25  %),   longo  período  de  recuperação  e  alta   taxa  de   recidiva  de  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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úlcera   (55   %)2.   Se   insistirmos   em   realizar   cirurgia   aberta   através   de   mini-­‐incisões   é  

preciso   saber  o  número  exato  de  perfurantes  e  a   sua   localização  precisa,   através  do  

ecoDoppler  venoso  pré-­‐operatório.  Aqui  reside  uma  das  desvantagens  desta  técnica,  é  

altamente   dependente   do   operador.   Por   este   motivo,   nem   todas   as   perfurantes  

potencialmente   insuficientes   são   identificadas,   ficando   assim   por   tratar.   A   segunda  

desvantagem   é   o   facto   de   por   vezes   a   perfurante   se   situar   sob   pele   doente  

(lipodermatoesclerose,  úlcera  cicatrizada  ou  activa),  o  que   implica  uma   incisão  nessa  

mesma  pele  com  risco  elevado  de  complicações.  

As   técnicas   minimamente   invasivas   vieram   ultrapassar   estas   desvantagens,   e   são  

actualmente  as  técnicas  de  escolha  segundo  o  American  Venous  Forum  e  a  Society  for  

Vascular   Surgery10,   não   favorecendo  uma   sobre   a  outra.  A   SEPS   tem  a   vantagem  de  

depender   minimamente   do   ecoDoppler,   pois   apenas   é   preciso   saber   se   há   uma  

perfurante  insuficiente.  Através  do  endoscópio  todas  as  perfurantes  serão  visualizadas,  

encontrando   em  média  mais   2-­‐3   perfurantes   que   o   ecoDoppler   pré-­‐operatório1-­‐3,   13.  

Uma  segunda  vantagem  é  o  poder  tratar  perfurantes  sob  pele  doente.  A  SEPS  executa-­‐

se   em   cerca   de   15   minutos,   e   pode   ser   realizada   em   ambulatório   com   rápida  

recuperação.   Utiliza   material   comum   de   laparoscopia,   e   qualquer   cirurgião   com  

experiencia  em  laparoscopia  será  capaz  de  realizar  esta  técnica.  Entre  1992  e  2008  a  

SEPS   foi   a   técnica   gold   standard1,   2,   10.   Actualmente   esse   papel   é   disputado   com   as  

técnicas  de  ablação  percutânea  de  perfurantes  (PAP),  que  são  atrativas  para  médicos  e  

doentes   pois   podem   ser   facilmente   repetidas   em   ambiente   de   consultório,   seja  

ablação  térmica  ou  química,  com  recuperação  imediata  e  dor  mínima.  Apesar  da  SEPS  

ter  reduzido  a  taxa  de  complicação  da  ferida  operatória  para  até  5  %,  as  técnicas  PAP  

apresentam   0   %   de   complicação   da   ferida2,   13.   No   entanto,   outras   complicações  

importantes   estão   associadas   às   técnicas   percutâneas:   trombose   venosa   profunda  

(TVP),  lesão  nervosa,  queimadura  (EVLA  e  RF),  úlcera2,  3,  13.    

A   decisão   entre   a   SEPS   ou   as   técnicas   PAP   assenta   nos   resultados   publicados   na  

literatura   mundial.   Para   avaliar   a   eficácia   das   técnicas   tem   sido   usada   a   taxa   de  

cicatrização  de  úlcera  após  o   tratamento  de  perfurantes.  Glovicski  compilou  diversos  

trabalhos   sobre   a   eficácia   da   SEPS   e   relata   uma   taxa   de   cicatrização   de   90  %3.   Já   o  

autor  apresenta  uma  taxa  de  cicatrização  de  92  %1.  A  esclerose  ecoguiada  apresenta  

uma  taxa  de  cicatrização  de  59  %  a  67,6  %,  segundo  dados  de  Kiguchi  e  Masuda6,  20.  Em  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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relação   aos   resultados   após   o   tratamento   com   EVLA   ou   RF,   não   existem   dados  

consistentes  publicados  sobre  a  taxa  de  cicatrização.  

 

  Notas  finais  

As  perfurantes  insuficientes  aumentam  a  hipertensão  venosa  dos  membros  inferiores  

e  estão   implicadas  na  úlcera  de  perna  e  na  recidiva  de  varizes.  Essa   importância  tem  

sido  referida  e  demonstrada  em  diversos   trabalhos,  pelo  que  o  seu  tratamento  deve  

ser   equacionado   em   diversos   casos.   Doentes   com   alterações   cutâneas   com   risco   de  

úlcera  (C4b),  úlcera  cicatrizada  (C5)  e  úlcera  activa  (C6)  são  aqueles  onde  a  indicação  é  

consensual.  Em  relação  às  restantes  classes  as  opiniões  dividem-­‐se.  De  1992  a  2008  a  

SEPS  foi,  indiscutivelmente,  a  técnica  “gold  standard”,  mas,  actualmente,  essa  posição  

é   desafiada   por   técnicas   endovasculares   de   ablação   percutânea,   seja   por   laser   ou  

radiofrequência.  A  esclerose  ecoguiada  demonstrou  piores  resultados  que  a  SEPS.  

As   técnicas   endovasculares   por   EVLA   ou   RF   são   atrativas   pela   possibilidade   de  

realização   apenas   com   anestesia   local,   com   recuperação   imediata,   facilmente  

repetidas  e  óptimas  para  doentes  de  alto  risco  cirúrgico.  No  entanto  não  são  livres  de  

complicações  graves  como  TVP  e  queimaduras.  Além  disso,   resultados  a   longo  prazo  

ainda  estão  por  surgir.  Uma  grande  vantagem  prática  da  SEPS  é  a  possibilidade  de  ser  

realizada   com   duas   portas   utilizando  material   comum   de   laparoscopia,   estando   por  

isso   acessível   em   qualquer   hospital   público   ou   privado   de   Portugal.   Quanto   à   tão  

falada  curva  de  aprendizagem,  nesta  técnica  ela  é  pequena,  sendo  ainda  mais  reduzida  

caso  o  cirurgião  esteja  familiarizado  com  os  procedimentos  laparoscópicos  rotineiros,  

realizados  atualmente  na  prática  clínica  comum.    

Não   havendo   consenso   sobre   qual   técnica   usar,   é   unânime   a   importância   das  

perfurantes  insuficientes  na  IVC,  o  que  implica  que  o  cirurgião  que  trate  esta  patologia,  

tenha   obrigatoriamente   de   conhecer   e   saber   executar   uma   técnica   que   promova   o  

tratamento   das   perfurantes   incompetentes,   quando   indicado.   Só   assim   os   doentes  

terão  acesso  ao  melhor  tratamento  que  culmine  nos  melhores  resultados  funcionais  e  

estéticos.  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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Para  divulgação  da  laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  (SEPS)  a  todos  os  

cirurgiões  interessados  no  tratamento  de  varizes,  a  14  de  Outubro  de  2014  no  Serviço  

de   Cirurgia   C   do   Hospital   Geral   (Covões)   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de  

Coimbra  (CHUC-­‐HG),  decorreu  a  primeira  edição  do  “Dia  da  SEPS”,  um  curso  teórico-­‐

prático  onde  os  participantes  têm  hipótese  de  participarem  activamente  em  operações  

cirúrgicas.   Outras   quatro   edições   decorreram   em   Coimbra   com   boa   aceitação   e  

procura  por  parte  dos  cirurgiões.  A  terceira  edição  trouxe  uma  importante  novidade,  a  

realização  das  duas  técnicas  e  sua  comparação,  dado  que  nas  duas  primeiras  apenas  

foi   abordada   a   porta   única.   Os   participantes   têm   assim   a   oportunidade   de  

experimentarem  ambas  as  técnicas,  tirando  as  suas  próprias  conclusões.  Desde  então  

que  outros  serviços  de  cirurgia  iniciaram  o  tratamento  de  perfurantes  insuficientes  dos  

membros  inferiores  por  SEPS,  sendo  o  retorno  muito  positivo.      

Próximas   edições   irão   decorrer   no   Serviço   de   Cirurgia   C   do   CHUC-­‐HG,   pelo   que   se  

aconselha   a   consulta   periódica   da   página   do   facebook   do   “Dia   da   SEPS”,   e   do   blog  

“Surgical  Thoughts  –  A  blog  about  surgery”  da  autoria  do  autor.    

 

   

Referências  bibliográficas  

 

1.  CE  Costa  Almeida.  Subfascial  Endoscopic  Perforator  Surgery:  retrospective  analysis  

of  the  first  50  patients.  J  Vasc  Med  Surg  2015;  3:  5.  Doi:  10.4172/2329-­‐6925.1000221  

2.  Costa  Almeida  CE.  Treatment  of  perforating  veins  –  Review  of  techniques.  Rev  Port  

Cir  2014;  31:  27-­‐33.  

3.  Rhodes  JM,  Kalra  M,  Gloviczki  P.  The  management  of  incompetent  perforating  veins  

with  open  and  endoscopic  surgery.   In:  Gloviczki  P.  Handbook  of  venous  disorders.  3rd  

edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  523-­‐535.  

4.  Michel  Perrin.  Recurrent  varicose  veins:  etiology  and  management.   In:  Gloviczki  P.  

Handbook  of  venous  disorders.  3rd  edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  446-­‐456.  

5.   Rutherford   EE,   Kianifard   B,   Kook   SJ,   et   al.   Incompetent   perforator   veins   are  associated  with  recurrent  varicose  veins.  Eur  J  Vas  Endovasc  Surg  2001;  21:  458-­‐460.  

“Dia  da  SEPS”  (curso  teórico-­‐prático  de  SEPS)    

Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   Coimbra   –   Hospital  

Geral  (Covões)  

  152  

Para  divulgação  da  laqueação  subfascial  endoscópica  de  perfurantes  (SEPS)  a  todos  os  

cirurgiões  interessados  no  tratamento  de  varizes,  a  14  de  Outubro  de  2014  no  Serviço  

de   Cirurgia   C   do   Hospital   Geral   (Covões)   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de  

Coimbra  (CHUC-­‐HG),  decorreu  a  primeira  edição  do  “Dia  da  SEPS”,  um  curso  teórico-­‐

prático  onde  os  participantes  têm  hipótese  de  participarem  activamente  em  operações  

cirúrgicas.   Outras   quatro   edições   decorreram   em   Coimbra   com   boa   aceitação   e  

procura  por  parte  dos  cirurgiões.  A  terceira  edição  trouxe  uma  importante  novidade,  a  

realização  das  duas  técnicas  e  sua  comparação,  dado  que  nas  duas  primeiras  apenas  

foi   abordada   a   porta   única.   Os   participantes   têm   assim   a   oportunidade   de  

experimentarem  ambas  as  técnicas,  tirando  as  suas  próprias  conclusões.  Desde  então  

que  outros  serviços  de  cirurgia  iniciaram  o  tratamento  de  perfurantes  insuficientes  dos  

membros  inferiores  por  SEPS,  sendo  o  retorno  muito  positivo.      

Próximas   edições   irão   decorrer   no   Serviço   de   Cirurgia   C   do   CHUC-­‐HG,   pelo   que   se  

aconselha   a   consulta   periódica   da   página   do   facebook   do   “Dia   da   SEPS”,   e   do   blog  

“Surgical  Thoughts  –  A  blog  about  surgery”  da  autoria  do  autor.    

 

   

Referências  bibliográficas  

 

1.  CE  Costa  Almeida.  Subfascial  Endoscopic  Perforator  Surgery:  retrospective  analysis  

of  the  first  50  patients.  J  Vasc  Med  Surg  2015;  3:  5.  Doi:  10.4172/2329-­‐6925.1000221  

2.  Costa  Almeida  CE.  Treatment  of  perforating  veins  –  Review  of  techniques.  Rev  Port  

Cir  2014;  31:  27-­‐33.  

3.  Rhodes  JM,  Kalra  M,  Gloviczki  P.  The  management  of  incompetent  perforating  veins  

with  open  and  endoscopic  surgery.   In:  Gloviczki  P.  Handbook  of  venous  disorders.  3rd  

edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  523-­‐535.  

4.  Michel  Perrin.  Recurrent  varicose  veins:  etiology  and  management.   In:  Gloviczki  P.  

Handbook  of  venous  disorders.  3rd  edition.  London:  Hodder  Arnold;  2009.  446-­‐456.  

5.   Rutherford   EE,   Kianifard   B,   Kook   SJ,   et   al.   Incompetent   perforator   veins   are  associated  with  recurrent  varicose  veins.  Eur  J  Vas  Endovasc  Surg  2001;  21:  458-­‐460.  

“Dia  da  SEPS”  (curso  teórico-­‐prático  de  SEPS)    

Serviço   de   Cirurgia   C   do   Centro   Hospitalar   e   Universitário   de   Coimbra   –   Hospital  

Geral  (Covões)  

Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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6.  Kiguchi  MM,  Hager  ES,  Winger  DG,  Hirsch  SA,  Chaer  RA,  et  al.  Factors  that  influence  

perforators   thrombosis   and   predict   healing:   perforator   sclerotherapy   for   venous  

ulceration  without  axial  relux.  J  Vasc  Surg  2014;  59:  1368-­‐1376.  

7.  Tenbrook  JA  Jr,   Iafrati  MD,  O’Donnell  TF  Jr,  Wolf  MP,  Hoffman  SN,  Pauker  SG,  et  

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incorporating  subfascial  endoscopic  perforator  surgery.   J  Vasc  Surg  2004;  39(3):  583-­‐

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9.   Gan   S,   Qian   S,   Zhang   C,   Mao   J,   Li   K,   Tang   J.   Combined   subfascial   endoscopic  

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Tratamento das perfurantes insuficientes dos membros inferiores

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ESCLEROTERAPIA  QUÍMICA  NO  

TRATAMENTO  DAS  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  

Pratas  Balhau  

 

INTRODUÇÃO  

A   escleroterapia   química   é   uma   das   opções   terapêuticas   válidas   no   tratamento   das  

varizes  dos  membros  inferiores.  

A   escleroterapia,   como   tratamento  para   as   varizes,   foi   introduzida  pela  primeira   vez  

em  França  por  Tournay,  na  década  de  1920.  Este  autor,  e  depois  outros  como  Sigg  e  

Fegan,   defendendo   técnicas   diferentes   de   esclerose,   todas   com   bons   resultados,  

tiveram   o   mérito   de   introduzir   a   estandardização   e   o   rigor   necessários   ao  

reconhecimento  desta  técnica.  

A   curto   prazo,   os   resultados   são  muito   bons;   contudo,   a  médio   e   a   longo   prazo,   os  

resultados  são  ainda  pobres.  Mas,  atualmente,  surgiu  a  escleroterapia  ecoguiada,  isto  

é,  a  escleroterapia  associada  ao  ecoDoppler,  ou  seja,  a  escleroterapia  realizada  sob  a  

visualização  ecográfica.  Acreditamos  que  este  método,  pouco  invasivo,  de  baixo  custo  

e  de  excelente  aceitação  pelo  doente,  possa  vir  a  ser,  no  futuro,  uma  alternativa  válida  

à  cirurgia.  

   

Definição  

Scleros,  do  grego,  quer  dizer  endurecimento.  A  escleroterapia  representa  uma  forma  

de   tratamento   destinado   a   endurecer   tecidos,   fibrosando-­‐os.   A   fibrose   terapêutica  

pode   ser   conseguida   por   meios   térmicos   (que   incluem   o   laser),   mecânicos  

(escarificações),   elétricos   (eletrocoagulação,   eletrofulguração),   químicos   (substâncias  

“esclerosantes”),  por  radiações,  etc.  

São  muitas   as   indicações   para   a   escleroterapia.   Na   área   vascular,   que   nos   interessa  

agora,   o   objetivo   do   tratamento   é   produzir   inflamação   de   canais   circulatórios,  

conduzindo   à   sua   destruição   enquanto   tal.   Pode   ser,   e   já   foi,   usada   para   tratar  

estruturas   arteriais   (aneurismas),   linfáticas   (higromas   quísticos)   e   venosas   (varizes).  

Interessa-­‐nos,  no  momento,  objetivamente,  a  escleroterapia  química  das  varizes.  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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  Princípio  da  escleroterapia  

A   finalidade   do   tratamento   é   a   oclusão   do   tronco   varicoso   visado.   A   oclusão   ocorre  

secundariamente   à   destruição   do   endotélio   venoso   com   formação   do   trombo   que  

progride   para   a   organização   fibrótica,   e   posterior   reabsorção.   A   injeção   do   agente  

esclerosante  provoca  uma   lesão  endotelial,  da  qual   resulta  uma   reação   inflamatória,  

um  espasmo  vascular  e  a  formação  dum  trombo  aderente  à  parede  (sem  perigo,  por  

isso,   de   embolização).   A   partir   da   lesão   endotelial,   o   coágulo   formado   serve   de  

infraestrutura  para  a  proliferação  de  fibrócitos.  O  cordão  fibroso  originado  acaba  por  

ser  totalmente  reabsorvido  pelo  organismo.    

O  ideal  seria  obter  o  máximo  de  reação  endotelial  com  trombose  mínima.  Ocorrendo  

coágulos  volumosos,  além  da  inflamação  exagerada,  há  retrações  da  massa  coagulada,  

formando-­‐se   bolsas   de   sangue   retido.   Isto   atrasa   a   cura   fibrótica,   exacerba   a  

recanalização,  requer  procedimentos  suplementares  e  gera  riscos.      

   

  Tipos  de  esclerosantes  químicos  

É  difícil  classificar  todas  as  substâncias  capazes  de  esclerosar  veias.  A  maior  parte  das  

flebites   químicas   é   de   origem   iatrogénica.   A   “flebosclerose”   iatrogénica   acontece,  

frequentemente,   com   injeção  endovenosa  de   soro  glicosado,   salicilatos,   antibióticos,  

quimioterápicos,  tranquilizantes,  anestésicos,  etc.    

Alguns   esclerosantes   clássicos   foram   descobertos   por   acaso.   Muitos   foram   sendo  

experimentados,  muitos   foram  esquecidos,  outros  melhorados.  As   razões  da  carreira  

efémera  de  alguns  esclerosantes   são  várias.  Uns,   como  o  morruato  de   sódio,  davam  

frequentes   choques   anafiláticos,   outros,   como   o   cloreto   de   sódio   hipertónico,   eram  

muito   dolorosos.   O   sublimado   originou   algumas   intoxicações   pelo   mercúrio.   Outros  

esclerosantes  só  provocavam  trombose  sanguínea  sem  lesão  endotelial,  aumentando  

o   risco   real   da   mobilização   do   trombo   não   fixado   à   parede.   Para   provocar   a   lesão  

endotelial  inicial,  partida  para  o  processo  trombofibrótico,  basta  alterar  uma  ou  várias  

das  constantes  físico-­‐químicas  do  sangue  circulante  a  esse  nível:  

  -­‐  inversão  da  polarização  endotelial  (negativa)  após  lesão  grave  do  endotélio;  

  -­‐   o   pH   (ácido)   do   plasma   venoso   (7,27-­‐7,43)   é  modificado   pela   injeção   duma  

solução  alcalina;  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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  -­‐   diminuir   a   tensão   superficial   do   endotélio   (a   37º   é   de   47   dyn/cm),   com  

solução  detergente;  

  -­‐   alterando   a   osmolaridade   circulatória   (301,4   miliosmoles),   com   solução  

hipertónica.  

De   acordo   com   a   densidade   específica   do   esclerosante   injetado,   em   relação   à   do  

sangue   (média   =   1050),   o   esclerosante   estagna   a   nível   das   dilatações   venosas,   a  

montante  ou  a  jusante,  na  razão  inversa  da  sua  densidade.  

Sinapius   e   Dietrich   publicaram   em   1968   um   estudo   experimental   da   ação   dos  

esclerosantes   sobre   o   endotélio.   Colocaram   in   vitro   esclerosantes   em   contacto   com  

preparações   frescas   de   endotélio   de   aorta   de   porcos,   depois   injetaram   in   vivo  

esclerosantes  na  veia  jugular  externa  de  coelhos.  

 Esclerosantes   Composição  química   Inventor  

Soluções  

Hipertónicas  

ClNa   Linser    1916  

Glicose   Kausch    1917  

Salicilato  de  Na   Sicard    1919  

Soluções  

Detergentes  

Ácidos  gordos   Higgins    

Kittel  1930  

Tetradecilsulfato  de  sódio   Reinert  1946  

Oxipolidoxidodecanol   Henschel  1966    

Eichberg  

Produtos  

Corrosivos  

Iodeto  de    K   Schiassi  1908  

Iodeto  de  Na   Gerson  1933  

Iodo  +  álcool  benzílico   Imhoff  

Sigg  1959  

Glicerina  +  Cr   Jausion  1933  

Quadro    I  -­‐  Esclerosantes  disponíveis.  

As   suas   verificações   histológicas   assentavam   na   superfície  média   dos   núcleos   (valor  

normal  45  µ2),  na  conformação  protoplasmática  e  no  estado  dos  limites  intercelulares.  

Assim,  as  soluções  hipotónicas   (água  destilada)  davam  lesões  no  endotélio  que  eram  

reversíveis.  As  soluções  hipertónicas  (NaCl  a  22  %  e  glicose  a  66  %),  em  três  minutos  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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são   capazes   de   diminuir   a   superfície   nuclear   das   células   endoteliais   e   causar  

desorganização  dos  limites  celulares.  

As  soluções  iodadas,  em  três  segundos  reproduzem,  exacerbadamente,  os  efeitos  das  

soluções  hipertónicas.  

As   soluções   detergentes   (tensiolíticas)   maceram   o   endotélio   em   menos   de   um  

segundo,   dissolvem   o   cimento   intercelular,   causam   a   descamação   em   placas   do  

endotélio  e  os  núcleos  restantes  entram  em  picnose.  

As  soluções  ácidas  são  praticamente  inócuas  para  o  endotélio  e  as  soluções  alcalinas  a  

partir  de  pH  8  agem  como  os  detergentes.  

No   domínio   dos   esclerosantes,   nenhum   novo   produto   foi   lançado   recentemente   no  

mercado,   como   mostra   o   Quadro   I.   Os   esclerosantes   disponíveis   podem   ser  

classificados  em  diferentes  grupos,  tendo  a  mesma  ação  do  ponto  de  vista  histológico,  

mas  tendo  indicações  específicas.  

 

  INDICAÇÕES  

Da  Reunião   de   7   a   10   de   junho   de   2012,   em  Mainz,  Alemanha,   saíram   as  European  

Guidelines   for   Sclerotherapy   in  Chronic  Venous  Disorders,   estabelecendo  o   consenso,  

ainda  atual,  que  a  escleroterapia  pode  ter  várias  indicações:  

.  Safenas  incompetentes  (Hamel-­‐Desnos  2003  e  2007,  Alos  2006,  Ouvry  2008,  Rabe  2008,  

      Rasmussen  2011,  Shadid  2012)  –  Grau  1A;  

.  Varizes  tributárias  (Myers  2007)  –  Grau  1B;  

.  Perfurantes  insuficientes  (Guex  2000,  van  Neer  2006,  Myers  2007)  –  Grau  1B;  

.  Varizes  reticulares  (Kahle  2004,  Norris  1989,  Rabe  2010,  Uncu  2010,  Alos  2006,  

      Peterson  2012)  –  Grau  1A;  

.  Telangiectasias  (Kahle  2004,  Norris  1989,  Rabe  2010,  Uncu  2010,  Alos  2006,  

      Peterson  2012)  –  Grau  1A;  

.  Varizes  residuais  ou  recidiva  pós-­‐cirurgia  (Kakkos  2006,  McDonagh  2003,  Coleridge  

      Smith  2006  e  2009,  Myers  2007,  Bradbury  2010)  –  Grau  1B;  

.  Varizes  de  origem  pélvica  (Sukovatykh  2008,  Kakkos  2006,  Paraskevas  2011)  –  Grau  1C;  

.  Varizes  próximas  de  úlcera  de  perna  (Stücker  2006,  De  Waard  2005,  Hertzman  2007,  

      Pang  2010)  –  Grau  1B;  

.  Malformações  venosas  (Yamaki  2000  e  2008,  Blaise  2011)  –  Grau  1B.  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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O   calibre   e   a   extensão   das   varizes   condicionam   a   escolha   do   tratamento.   É   uma  

questão  de  bom  senso.  Assim,  a  cirurgia  é  preferível  a  numerosas  injeções  de  varizes  

de  grande  calibre,  com  volumosos  pontos  de  refluxo  e  o  risco  de  recanalização  rápida.  

Em  nossa  opinião,  a  escleroterapia  pode  ser   indicada  no  tratamento  de  varizes  que  

ainda   não   necessitam   de   cirurgia,   nas   varizes   residuais   após   cirurgia,   ou   nas  

recidivas,  à  medida  que  vão  surgindo.  

Indicamos  a  escleroterapia  nas  pequenas  varizes  e  telangiectasias  não  dependentes  de  

insuficiência  osteal,  com  o  propósito  de  aliviar  sintomas  e  corrigir  a  aparência.  Como  

em  varizes   volumosas   do   território   da   safena   externa,   ou   sem   ligação   incompetente  

marcada  ao  sistema  profundo,  ou  a  uma  safena  interna  incompetente.  Na  presença  de  

varizes,  volumosas  ou  não,  secundárias  a  refluxo  por  deterioração  valvular  de  safenas  

e/ou  perfurantes,  impõe-­‐se  a  cirurgia.  

Quando  ocorrem  os  dois  tipos  de  varizes  simultaneamente,  varizes  cirúrgicas  e  varizes  

esclerosáveis,   a   precedência   é   da   cirurgia   e   só   depois,   oportunamente,   a  

escleroterapia.  

As  varizes  residuais  após  cirurgia  são  uma  boa  indicação  para  esclerose  por  vezes  com  

a   ajuda   do   ecoDoppler   quando   não   são   visualizadas.   Nas   recidivas   volumosas  

preferimos,   frequentemente,   resolvê-­‐las  a  nível  de  pequenas   intervenções  cirúrgicas,  

sob   anestesia   local,   com   a   técnica   do   microgancho,   de   indiscutíveis   resultados  

cosméticos  e  esclerose  de  varizes  residuais.  

Fazemos  esclerose  ainda  em  alguns  casos  particulares:    

-­‐  após  a  rotura  de  variz.  A  compressão  bem  executada  é  suficiente  para  parar  a  

hemorragia.  A  esclerose  suplementar  da  variz  responsável  evita  a  recidiva  hemorrágica  

a  curto  prazo;  

-­‐   nas   varizes   peri-­‐úlcera   ou   varizes   “alimentadoras”   da   úlcera   venosa.   A   sua  

esclerose  acelera  a  cura  da  úlcera;  

-­‐   nas   varizes   “alimentadoras”   do   eczema   venoso   e   da   atrofia   branca,   a  

escleroterapia  pode  acelerar  a  sua  cura;  

-­‐  em  malformações  venosas.  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

O calibre e a extensão das varizes condicionam a escolha do tratamento. É uma

questão de bom senso. Assim, a cirurgia é preferível a numerosas injeções de esclerose

em varizes de grande calibre, com volumosos pontos de refluxo e o risco de recanalização

rápida. Em nossa opinião, a escleroterapia pode ser indicada no tratamento de varizes

que ainda não necessitam de cirurgia, nas varizes residuais após cirurgia, ou nas

recidivas, à medida que vão surgindo.

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Embora   não   seja   a   nossa   opção,   há   quem   estenda   as   indicações   da   escleroterapia  

varicosa   muito   para   além   destas,   pretendendo   mesmo   substituir   o   tratamento  

cirúrgico  ou  complementá-­‐lo  duma  maneira  muito  mais  direta,  até  per-­‐operatória.  

CONTRAINDICAÇÕES  

A  escleroterapia  está  contraindicada  na  presença  de  alergia  ao  esclerosante,  infeções,  

trombose  venosa  profunda,   insuficiência  arterial  periférica,  diabetes  descompensada,  

insuficiência   cardíaca,   foramen   ovale   sintomático,   neoplasias,   caquexia,   acamados   e  

idade  avançada.  

É   preferível   evitar   a   escleroterapia   durante   a   gestação,   principalmente   no   primeiro  

trimestre   e   nas   últimas   seis   semanas.   Não   vemos   problema   em   realizar   a   esclerose  

durante  o  período  menstrual  e  durante  o  uso  de  contracetivos  orais.  

São   contraindicação   relativa   o   edema   da   perna   descompensado,   estados   de  

trombofilia  ou  hipercoagulabilidade  com  ou  sem  história  de  trombose  e  foramen  ovale  

conhecido  assintomático.  

Durante  a  amamentação  a  escleroterapia  tem  contraindicação  absoluta.  

MATERIAL  

Seringas  

Usando-­‐se   pouco   volume   de   solução   esclerosante   em   cada   picada,   dispensam-­‐se   as  

grandes   seringas.  As  melhores   são  as  de  2   cc  ou  de  5  cc,  dependendo  sobretudo  do  

tamanho  da  mão  do  médico  que  faz  a  escleroterapia.  As  seringas  de  vidro  simplificam  

o ato   de   injetar   suavemente,   sem   solavancos   perigosos,   e   tornam-­‐se  mais   fáceis   de

manobrar  na  medida  em  que  o  desgaste  natural  alisa  as  paredes  do  êmbolo.  

O  ideal  seria  usar  seringas  descartáveis,  da  mesma  forma  que  fazemos  com  as  agulhas.  

Nas   seringas   descartáveis,   os   êmbolos   são   mais   duros   e   se   não   deslizarem   com  

suavidade,  mas   sim   aos   solavancos,   são   capazes   de   fazerem   explodir   as   paredes   de  

telangiectasias   a   serem   tratadas.   Com   as   seringas   de   vidro,   reutilizáveis,   torna-­‐se  

obrigatória  a  esterilização  em  estufa,  a  seco,  ou  a  esterilização  a  gás.  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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Agulhas  descartáveis  

Aconselham-­‐se  três  calibres  de  agulhas.  A  mais  fina,  0,3  x  13  (equivalente  à  americana  

30  GA1/2)  para  as  micro  varizes  mais  delicadas,  a  0,4  x  13  (equivalente  à  27  G1/2)  para  

as  telangiectasias  e  a  0,5  x  16  (equivalente  à  25  G5/8  )  para  as  restantes  varizes.  

 

  A    ESCOLHA    DO    ESCLEROSANTE  

A  escolha  do  esclerosante   a  utilizar   é  um  dos  problemas  para  quem  começa  a   fazer  

esclerose  de  varizes.   Infelizmente  são  muitos  os  fatores  que  entram  na  escolha,  nem  

sempre   relacionados   só   com   o   esclerosante,   mas   também   com   o   tipo   de   variz   e   a  

resposta  do  doente  ao  líquido  usado.  

Para  se  fazer  corretamente  a  escolha,  deve-­‐se  começar  por  estudar  os  esclerosantes,  o  

seu  tipo,  vantagens  e  inconvenientes.  

Os   três   esclerosantes  mais   difundidos   em   França   são   o   iodo,   o   tetradecil   sulfato   de  

sódio  e  o  polidocanol,  que   têm  as  vantagens  e   inconvenientes,  e  que  mostramos  no  

Quadro  II.    

 

  Iodo   TSS   Polidocanol  

Cor   Sombra   Incolor   Incolor  

Ação   Local   Difusa   Difusa  

Dor  injeção  paravenosa  

Forte   Mínima   Débil  

Alergia   Rara   Rara   Rara  

Necrose   Sim   Sim   Mínima  

Quadro  II  -­‐  Características  de  três  esclerosantes    Aprender  com  os  colegas  que  já  têm  experiência.  Ver  e  executar  o  método,  aprender  

as  regras,  tomar  conhecimento  dos  casos  particulares  e  das  modalidades  de  atuação.  

Depois,   na  prática,   trabalha-­‐se   com  dois   ou   três  produtos  que  mais   gostamos  e  que  

conhecemos  melhor.  

Não   falando  dos  esclerosantes  históricos,  mas   só  dos  mais  utilizados,  podemos  dizer  

que  há  esclerosantes  fortes:  o  salicilato  de  sódio,  o  polidocanol,  o  iodo,  sob  a  forma  de  

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Lugol   sódico,   o   tretradecil   sulfato   de   sódio   (TSS),   o   oleato   de   monoetolamina,   e   o  

moruato  de  sódio.  

Há  esclerosantes  suaves  como  a  glicerina  crómica  e  a  glicose  hipertónica.  

Há  quem  faça  associações  de  dois  esclerosantes  na  mesma  seringa  ou  injeções  em  dois  

pontos  diferentes  de  dois  produtos  diferentes.  

Em   Portugal,   atualmente,   só   há   o   Polidocanol,   sob   o   nome   de   Etoxisclerol®  

(Lauromacrogol  400)  a  0,5  %,  1  %,  2  %  e  a  3  %,  em  ampolas  de  2  ml.    É  fabricado  pelo  

Laboratório   Kreussler   (Wiesbaden),   Alemanha,   e   distribuído   em   Portugal   pela  

Rubeaspharma.  

O  polidocanol  é  muito  ativo,  constante  na  sua  ação,  com  bom  efeito  esclerosante,  fácil  

de  manipular,   fácil   de   dividir   em   doses   e   com   um   efeito   espástico   imediato,   o   que  

permite   controlar   o   efeito   provável   da   injeção.   É   incolor,  muito   fluido   e   totalmente  

indolor   à   injeção,   salvo   para   altas   concentrações   (4  %).   A   injeção   do   produto   a   4  %  

provoca   uma   dor   viva,   ao   longo   da   variz,   mas   que   é   muito   efémera.   Sem   efeitos  

secundários,  boa  tolerância  e  com  raros  fenómenos  alérgicos  observados.  

É   importante  conhecer  as  características  específicas  de  cada  substância  esclerosante,  

embora  haja  quem  insista  em  não  ter  em  conta  as  diferenças  entre  elas  e  as  considere  

a  todas  por  igual.  

 

  AS    DOSES  

O   facto   de   se   conhecerem  bem  os   esclerosantes   não   resolve   o   problema  prático   da  

esclerose.  A  determinação  da  dose  é  um  problema  maior.  Saber  qual  a  concentração  a  

utilizar  e  a  quantidade  a  injetar  são  problemas  constantes  que  devem  estar  presentes  

a   cada   sessão  de  esclerose,  e  para   cada   injeção.  A   incerteza  quanto  ao   resultado  da  

nossa   decisão   deve-­‐nos   obrigar   a   ser   sempre,   mas   sempre,   prudentes.   Porque   há  

diferenças  de  um  indivíduo  para  outro,  e  há  diferenças  no  mesmo  indivíduo  de  sessão  

para   sessão.   Não   é   possível   calcular   à   primeira   vista   o   produto   que   dará   o   melhor  

resultado,   e   muito   menos   qual   a   dose   a   utilizar.   Esta   dificuldade   estará   presente  

durante  todo  o  tratamento.  Assim,  é  obrigatório  ser  prudente.    

Deve-­‐se   iniciar   empiricamente   com   uma   dose   fraca,   para   não   ter   uma   reação  

catastrófica.   Se   a   dose   inicial   não   produziu   efeito,   aumenta-­‐se;   se   a   reação   foi  

satisfatória,   repete-­‐se   a   dose;   se   ela   foi   demasiado   forte,   deve-­‐se   diminuir.   É   esta  

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atitude,   baseada   na   observação,   que   nos   dará   os   melhores   resultados.   A   melhor  

progressão   de   sessão   para   sessão   é   poder   aumentar   metade   ou   um   terço   da   dose  

anterior.  

Peso  dos  doentes  

Polidocanol   50  kg          60  kg          70  kg          80  kg          90kg  

0,5%   20  ml   24  ml   28  ml   32  ml   36  ml  

1%   10  ml   12  ml   14  ml   16  ml   18  ml  

2%   5  ml   6  ml   7  ml   8  ml   9  ml  

3%   3,3  ml   4  ml   4,6  ml   5,3  ml   6  ml    

4%   2,5  ml   3  ml   3,5  ml   4  ml   4,5  ml  

Quadro  III  -­‐  Doses  máximas  por  sessão    

A  dose  máxima  do  polidocanol  não  deve  ultrapassar  2  mgr/kg/dia.  Por  razões  técnicas  

não   se   deve   injetar   mais   de   2   ml   por   picada.   A   quantidade   máxima   por   sessão   de  

polidocanol  indicada  pelo  fabricante  está  referida  nos  Quadro  III  a  VII.  

Com  o  polidocanol  pode-­‐se  fazer  espuma  e  usá-­‐la  para  esclerosar  varizes  com  eficácia  

superior  à  do  líquido;  como  se  utiliza  uma  quantidade  de  produto  muito  reduzida,  fica  

mais  económico  e  o  risco  de  lesão  por  injeção  extra  vascular  é  mínimo.    

 POLIDOCANOL  -­‐  líquido  

Indicações   Volume  da  

injeção  

Concentração  

Telangiectasias   0,1-­‐0,2  ml   0,25-­‐0,5  %  

Veia  central  de  telangiectasias   0,1-­‐0,2  ml   0,25-­‐1  %  

Varizes  reticulares   0,1-­‐0,3  ml   1  %  

Varizes  pequenas   0,1-­‐0,3  ml   1  %  

Varizes  médias   0,5-­‐2,0  ml   2-­‐3  %  

Varizes  grandes   1,0-­‐2,0  ml   3-­‐4  %  

Quadro  IV  -­‐  Valores  médios  por  concentração  usados  na  escleroterapia  com  polidocanol  líquido.  

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    Líquido   0,25%   0,5%   1%   2%   3%  

Safena  interna           +   ++   ++  

Safena  externa         +   ++   +  

Variz  colateral         ++      

Variz  recidivada       (+)   ++   ++   +  

Veia  perfurante       (+)   ++   +   (+)  

Varizes  reticulares   (+)   (+)   ++   +      

Telangiectasias   ++   (+)*   (+)        

Malformações  venosas       +   ++   +    

Quadro  V  -­‐  Indicação  das  concentrações  usadas  na  escleroterapia  com  polidocanol  líquido  que  pode  ser  transformado  em  espuma.  

Legenda  ++        Indica  que  é  o  mais  usado  por  especialistas        +        Indica  que  é  menos  usado  por  especialistas                                  (+)        Indica  que  é  usado  por  alguns  ou  poucos  especialistas                                  (+)*  Se  for  utilizada  a  escleroterapia  com  espuma  é  a  concentração  preferida  

   

Diâmetro   Líquido   0,25  %   0,5  %   1  %   2  %   3  %   4  %  

<  1  mm   ++*   (+)*            

1-­‐3  mm   (+)   +   ++   (+)        

3-­‐4  mm     (+)   ++   ++        

5-­‐6  mm       +   ++   +      

7-­‐8  mm         +   ++   ++    

9-­‐10  mm         (+)   +   ++    

>10  mm           +   ++   (+)  

Quadro  VI  -­‐  Concentração  de  polidocanol  por  diâmetro  das  veias  Legenda:  ++        Indica  que  é  o  mais  usado  por  especialistas                                    +          Indica  que  é  menos  usado  por  especialistas                                  (+)      Indica  que  é  usado  por  alguns  ou  poucos  especialistas                                  ++*  A  esclerotearapia  com  espuma  não  é  recomendada  como  primeira  opção                                  (+)*    Se  for  utilizada  a  escleroterapia  com  espuma  é  a  concentração  preferida  

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    Volume  médio  de  

espuma  por  injeção  Volume  máximo  de  espuma  por  injeção  

Safena  interna   2  -­‐  4  ml   Até  6  ml  

Safena  externa   2  –  4  ml   Até  4  ml  

Variz  colateral   Até  4  ml   Até  6  ml  

Variz  recidivada   Até  4  ml   Até  8  ml  

Veia  perfurante   Até  2  ml   Até  4  ml  

Varizes  reticulares   <  0,5  ml   <  1  ml  

Telangiectasias   <  0,5  ml   <  0,5  ml  

Malformações  venosas   2  até  6  ml   <  8  ml  

Quadro  VII  -­‐  Valores  de  volumes  médios  de  espuma  por  injeção  

 Com  os  esclerosantes  detergentes  pode   fazer-­‐se  espuma  esclerosante  compacta  que  

não   se  mistura   com  o   sangue.  Tessari,   em  1999,   apresentou  o   seu  método   (Fig.   1)   -­‐  

técnica   do   turbilhão   -­‐   produzindo   espuma   muito   rapidamente,   simples   e   barata,  

mantendo   as   características   dos   esclerosantes:   adesividade,   coesão,   estabilidade   e  

mais  ecovisibilidade.  

 

         

 

Fig.  1  -­‐  Método  de  Tessari  para  fazer  espuma.  

 

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Produziu   espuma   com  duas   seringas   de   plástico   e   uma   torneira   de   três   vias.   Juntou  

esclerosante  e  ar,  numa  proporção  de  1  para  3  ou  de  1  para  4.  A  espuma  obtida  tem  

bolhas   cujo   diâmetro   varia   de   40   a   80   micra.   O   espasmo   venoso   é   súbito   e   mais  

intenso   quando   se   utiliza   a   espuma.   Outra   propriedade   da   espuma   é   a   redução   da  

quantidade  de  droga  utilizada:  0,3-­‐0,5  ml  de  líquido  pode  ser  transformado  em  2-­‐3  ml  

de   espuma.   Podem-­‐se   obter   maiores   quantidades   de   espuma   a   partir   da   mesma  

quantidade  de  líquido  de  acordo  com  a  quantidade  de  ar  utilizado  (Fig.  2  e  3).  

 Fig.  2  -­‐  Injeção  de  líquido  esclerosante  numa  veia,  diminui  a  sua  concentração.  

 Fig.  3  -­‐  Injeção  de  espuma  esclerosante  numa  veia,  mantêm  a  concentração.  

 Muitos   autores   têm   utilizado   a   ecoescleroterapia,   a   escleroterapia   associada   ao  

ecoDoppler,   ou   seja,   a   escleroterapia   realizada   sob   a   visualização   ecográfica,   e  

asseguram   que   é   uma   técnica   segura,   eficaz,   precisa,   sendo   também   reprodutível.  

Aceitamos   que   seja   uma   boa   técnica,   mas   é   por   certo  muito   dependente   de   quem  

opera  o  ecoDoppler  (Fig.  4  e  5).  

 Fig.  4  -­‐  Escleroterapia  guiada  por  ecoDoppler.  

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Fig.  5  -­‐  Imagens  ecográficas  longitudinais  de  punção  da  veia  e  depois  de  injeção  de  espuma  esclerosante  que  ocupa  todo  o  lúmen  da  veia  à  frente  do  bisel  da  agulha.  

O  volume  máximo  de  espuma  recomendado  por  sessão  e  por  membro  é  10  ml,  dada  

numa  única  injeção  ou  em  várias  injeções.  

TÉCNICA  

A  técnica  de  esclerose  começa  por  um  exame  clínico  completo,  com  especial  atenção  

para  a  palpação.  De   todos  os  meios  de   investigação   clínica  é  a  palpação  que  nos  dá  

mais   informações.  A  palpação  de  uma  variz  dá  uma  dupla  sensação  de  cúpula,   linear  

ou   ampular,   e   de   uma   certa   resistência   com   renitência.   Mesmo   com   varizes   bem  

visíveis,  estas  devem  ser  exploradas  pelos  dedos;  quando  invisíveis,  são  os  dedos  que  

as  descobrirão  e  que  as  vão  definir.    

Fig.  6  -­‐  Mapa  para  registo  das  varizes    Fig.  7  -­‐  Mapa  para  registo  das  varizes  e  escleroses                  e  escleroses  

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Após  o  exame  clínico,  deve  fazer-­‐se  um  mapa  das  varizes  a  tratar  pela  esclerose  (Fig.  6  

e   7).   Assim   poder-­‐se-­‐á   definir   melhor   a   estratégia   terapêutica.   Também   se   devem  

registar   no   processo   do   doente   o   produto   utilizado,   as   concentrações,   as   doses,   os  

locais  das  picadas,  bem  como  todas  as  reações  observadas.  

O  exame  clínico  deve  ser  repetido  em  todas  as  sessões.  

Método  

Orbach,  em  1944,  simplificou  a  escleroterapia  das  pequenas  varizes  pela  introdução  da  

sua  técnica  de  bloqueio  de  ar  (air  block  method).  Consiste  em  aspirar  para  a  seringa,  

além  da  solução  esclerosante,  uma  proporção  igual  de  ar  e  outra  de  espuma.  Formam-­‐

se,  então,  três  fases  no  interior  da  seringa.  Para  tal,  após  introduzir  o  esclerosante  na  

seringa,   volta-­‐se   esta,   já   com   a   agulha   instalada,   para   baixo   e   aspira-­‐se   ar.   O   ar,  

passando  da  fina  agulha  para  o  interior  da  seringa  contendo  a  substância  detergente,  

borbulha  em  profusão  e,  após  conseguir-­‐se  espuma  suficiente,  volta-­‐se  a  seringa  para  

cima  e  aspira-­‐se  mais  ar.  Ficam,  pois,  na  seringa,  três  fases.  Respetivamente,  a  partir  

de  baixo:  esclerosante,  espuma  e  ar  (Fig.  8  e  9).  

               Fig.  8  -­‐  Método  de  Orbach.              Fig.  9  -­‐  Método  de  Orbach,  pormenor  com      adesivo  na  mão  esquerda  e  usar  agulha  25  G.  

No  momento  da  injeção,  esta  é  realizada  com  a  agulha  voltada  para  cima  sem  alterar  a  

posição   das   camadas.   Ao   injetar,   ocorrerão   duas   possibilidades:   a   agulha   está   no  

interior   da   veia  ou  não  está.  No   caso  negativo,   o   ar   penetra  na  pele   formando  uma  

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inócua   bolha   enfisematosa.   Sinal   para   retirar   a   agulha   e   fazer   nova   tentativa.   Se   a  

agulha   estiver   no   interior   da   veia,   injeta-­‐se   lentamente   o   ar   e   este   espalha-­‐se   pelos  

ramos  da  varicosidade  produzindo  como  que  o  seu  desaparecimento  imediato,  já  que  

o esclerosante   incolor   substitui   a   coloração   do   sangue.   Neste   caso,   injeta-­‐se,

lentamente   (enfatiza-­‐se   e   insiste-­‐se   no   advérbio),   uma   quantidade   razoável   de  

espuma,   e   eventualmente,   se   o   vaso   tiver   paredes   algo   mais   espessas   do   que   as  

telangiectasias  vermelhas,  alguns  poucos  decimililitros  de  esclerosante.  

É   aconselhável   não   injetar   solução   esclerosante   para   trajetos   telangiectásicos  

vermelhos.  A  pobre  espessura  das  suas  paredes  altamente  vulneráveis  ao  esclerosante  

poderão   quebrar   o   equilíbrio   de   permeabilidade   parietal   com   passagem   de  

esclerosante   para   os   tecidos   circunjacentes,   produzindo   algum   grau   de   irritação   e  

posterior  mancha  hiperpigmentada  na  pele.  

O  pequeno  volume  de  ar  lentamente  injetado  na  veia  é  praticamente  inócuo.  

A  técnica  de  Tournay  caracteriza-­‐se  pela  punção  e   injeção  de  varizes  quase  vazias  de  

sangue  em  posição  horizontal.  O  efeito  da  esclerose  não  depende  só  da  concentração  

do  esclerosante  na  variz,  mas  também  do  tempo  de  contacto  com  o  endotélio  venoso.  

Numa  perna  na  horizontal,  o  débito  venoso  superficial  é  muito  débil  ou  quase  ausente,  

e  assim  a  ação  do  esclerosante  (=  concentração  x  tempo  de  contacto)  vai  ser  forte.      

Na  técnica  de  Sigg,  o  doente  está  de  pé  em  cima  de  um  banco  para  a  punção  com  uma  

agulha  de  1,2  cm  de  bisel  curto.  O  sangue  sai  para  uma  taça  reniforme  segurada  por  

um  ajudante.  O  doente  deita-­‐se  em  seguida  e  a  perna  puncionada  é  elevada  até  30º.    

Fig.  10  -­‐  Técnica  de  Sigg  

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Durante  a  mudança  de  posição  o  sangue  continua  a  sair  para  a  taça.  A  seringa  é  então  

adaptada  à  agulha  e  com  air-­‐block  injeta-­‐se  inicialmente  ar.  A  injeção  paravenosa  não  

originará   senão   um   enfisema   subcutâneo   sem   riscos   de   necrose.   A   injeção  

intravaricosa  é  realizada  com  0,5  ml  de  esclerosante  (Fig.  10).  

As  técnicas  descritas  têm  vantagens  e  inconvenientes.  O  método  francês  parece-­‐nos  o  

mais  simples,  ele  deverá  constituir  a  técnica  base  à  qual  cada  escleroterapeuta  dará  o  

seu  cunho  pessoal.    

Escleroterapia  intravascular  e  extra  vascular  

O   uso   de   esclerosante   suave   permite   injetar   dentro   e   fora   da   veia.   Com   os  

esclerosantes   ditos   fortes,   utilizados   para   escleroterapia   de   grandes   varizes,   injetar  

fora  do  lúmen  da  veia  é  sinónimo  de  necrose  e  posteriormente  escara.  

Usando-­‐se   esclerosantes   em   concentrações   diluídas   ou   sob   a   forma   de   espuma,   se  

houver   extravasamento   a   reação   do   tecido   celular   circunjacente   será   mínima   e   a  

escara  de  ocorrência   remota.  A   fibrose  provocada  em  torno  do  vaso  complementa  a  

inflamação  do  endotélio  vascular,  meta  da  escleroterapia.  

Posição  do  doente  e  do  escleroterapeuta  

A  melhor  posição  para  a  realização  da  escleroterapia  é  aquela  que  permite  otimizar  a  

equação  envolvendo  os  vários  fatores:  eficácia  do  procedimento,  segurança  e  conforto  

do  doente,  conforto  do  escleroterapeuta.  A  posição  ideal  do  doente  seria  reclinada  “à  

romana”   (Fig.   11),   com   um   ligeiro   declive   dos   membros   inferiores,   obtendo-­‐se   um  

discreto   enchimento   venoso,   mas   sem   o   grande   refluxo   da   postura   ortostática.   O  

relevo  das  veias  fica  mais  visível  e  mais  recetivo  à  injeção.  

 Fig.  11  -­‐  De  acordo  com  a  visualização            Fig.  12  -­‐  Se  as  varizes  a  esclerosar  forem  visíveis                    das  varizes  

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Fig.  13  -­‐    Se  for  necessário  para  visualizar   Fig.  14  -­‐  Para  esclerose  na  região    as  varizes                                posterior  da  perna  

Desaconselhamos  manter  o  doente  em  pé.  Muitos  fazem-­‐no  para  intensificar  o  relevo  

venoso   ou   para   ocupar  menos   espaço   do   que   seria   ocupado   por   uma  marquesa.   O  

resultado   de   trabalhar   com   o   doente   em   pé   costuma   ser   uma   alta   incidência   em  

lipotímias,  onde  o  menos  que  poderá  acontecer,  será  a  perda  de  confiança  do  doente  

e  o  seu  abandono  do  tratamento.  Isto  quando  ele  não  cai  mesmo,  com  risco  para  si  e  

para  o  escleroterapeuta.  As  Fig.  12  a  14  sugerem  outros  posicionamentos.  

Iluminação  

A  iluminação  deve  ser  abundante,  de  preferência  difusa.  Isto  pode  ser  conseguido  por  

um  teto  rebaixado  a  2,5  metros  de  altura  com  quatro  ou  seis  tubos  fluorescentes  de  40  

watts  correndo  sobre  a  cama  e  no  mesmo  sentido  que  esta.    

Eventualmente  pode  ser  utilizado  um  foco  suplementar.    

Acrescente-­‐se   que   a   pele   molhada   pelo   álcool   da   antissepsia   torna-­‐se   mais  

transparente  e  permite  melhorar  a  observação  das  veias.  

A  técnica  do  quinto  dedo  

A  dificuldade  da  esclerose  de  varizes  é  essencialmente  de  ordem  prática.  É  o  que  mais  

tempo  leva  a  adquirir,  não  é  a  teoria.  

A  técnica  do  quinto  dedo  foi  muito  preconizada  pelo  Dr.  Amélio  Pinto  Ribeiro.  Referia  

que   a   maneira   mais   espontânea   de   se   comprimir   um   êmbolo   de   seringa   é   com   o  

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polegar.   O   sistema   de   alavancas   em   que   o   polegar   comprime   o   êmbolo   é  

extremamente  forte,  e  qualquer  atrito  mais  marcado  entre  a  seringa  e  o  seu  êmbolo  

pode   levar   a   inapropriado   aumento   da   ação   do   polegar,   desfazendo   o   obstáculo   e  

injetando  ar,   espuma,  esclerosante  ou   tudo   isso   junto   sob   forte  pressão,  explodindo  

veia  e  invadindo  os  tecidos  circunjacentes.  Comprimindo  o  êmbolo  com  o  quinto  dedo,  

evita-­‐se  o  problema  e  aprimora-­‐se  o  manuseio  da  seringa,  libertando  a  outra  mão  para  

manobras  complementares.  O  treino  é  cansativo  para  o  médico  que,  de  início,  poderá  

até  ter  cãibras  na  musculatura  do  antebraço.      

A  sessão  de  escleroterapia  

Numa   sessão   de   escleroterapia,   habitualmente,   aplicamos   injeções   só   num  membro  

inferior.   Aplicamos   em   ambos   os  membros   se   o   problema   for   de   pouca  monta   e   a  

quantidade  de  esclerosante  a  injetar  não  ultrapassar  a  dose  terapêutica  recomendada.  

Fig.  15  -­‐  Devem-­‐se  tirar  sempre  todos  os  coágulos.  

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Excesso  de  espetadelas  e  de  injeções  pode  representar  dano  para  a  pele.  O  número  de  

injeções   numa   sessão   depende   também,   obviamente,   do   volume   de   esclerosante  

injetado  em  cada  uma,  de  acordo  com  o  calibre  da  veias  a  tratar.  

É   muito   importante   a   excisão   dos   coágulos   produzidos   pela   escleroterapia.   O  

procedimento  é   simples   e   consiste  na   abertura  da   veia   com  agulha  19G  biselada  ou  

lâmina  de  bisturi  nº  11  ou  15,  espremer  o  conteúdo  coagulado  ou  semicoagulado  (Fig.  

15),  e  aplicar  um  penso  com  contenção  elástica.  

 

  Compressão  elástica  

A   ideia   da   escleroterapia   varicosa   consiste   em   introduzir   na   veia   uma   substância  

irritante  que  produza  a  colagem  das  suas  paredes  num  processo  inflamatório.  Quanto  

mais   aproximadas   estiverem   estas   paredes,   maior   será   o   grau   de   fibrose,   e   o   que  

restar  da  veia  perderá  o  caráter  cilíndrico  e  assumirá  a  condição  plana,  não  visível,  sem  

fazer   saliência   na   pele.   Como   se   quiséssemos   transformar   em   fita   um   tubo   de  

borracha.  O  mesmo  que  despejar  cola  no  interior  do  tubo  de  borracha  e  o  comprimir  

em   seguida.   A   fita   fibrosa   acabará   depois,   espera-­‐se,   por   ser   reabsorvida   e  

desaparecer.  

Para  que   a   escleroterapia   tenha  êxito   é  necessário  que   a   compressão   seja   correta   e  

eficaz.   Se   a   compressão   não   for   mantida   enquanto   “a   cola   não   secar”   (a   reação  

inflamatória  parietal  não  conseguir  manter  as  paredes  venosas  juntas),  as  paredes  logo  

voltarão  à  forma  original  e  o  sangue  tornará  a  circular  nos  tubos,  como  antes  e,  como  

antes,   as   varizes   continuarão   intactas.   Mantendo-­‐se   a   compressão   por   tempo  

suficiente   para   a   “cola”   agir,   o   achatamento   venoso   fibrosará   com   um   mínimo   de  

reação.  Para  isso  é  importante  não  ficar  com  sangue  trombosado  no  seu  interior.  

Sem   a   compressão   elástica,   torna-­‐se   quase   ineficaz   o   processo   de   fibrose   e   a  

frustração,   não   raro,   induz   o   terapeuta   ao   uso   de   substâncias   esclerosantes   mais  

ativas.  Com  isto,  um  método  terapêutico  praticamente   inócuo  passa  a  adquirir  riscos  

respeitáveis.   A   compressão   elástica   por   ligaduras   e/ou   meias   elásticas   deve   ser  

aplicada   por   algum   tempo.   Dependendo   do   calibre   das   varizes,   da   extensão   a  

esclerosar   e   da   concentração  do  produto  esclerosante,   o   doente  pode   ter   de  usar   a  

compressão   elástica   desde   oito   dias   até   seis   semanas   após   a   última   sessão   de  

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esclerose.   As   meias   receitadas   deverão   ser   de   classe   de   compressão   II,   tipo   a-­‐g   ou  

collant  se  a/o  doente  preferir,  com  tamanho  adequado  ao  membro  inferior  tratado.    

Alguns   escleroterapeutas   não   comprimem   os   locais   injetados,   ou   fazem-­‐no   com  

ligaduras   por   poucas   horas.   Preferem   cobri-­‐los   com   pensos   rápidos,   ou   com   uma  

pulverização  de  “spray”  adesivo,  a  fim  de  impedir  o  sangramento.  Este  método  não  é  

vantajoso   por   exigir   soluções   esclerosantes   mais   concentradas   e   em  maior   volume.  

Corolariamente,  cresce  o  risco  de  hiperpigmentação  cutânea  e  escarificação.    

 

  Estratégia  terapêutica  

O  princípio  estratégico  de  cada  tratamento  eficaz  das  varizes  consiste,  primeiramente,  

em   eliminar   os   pontos   de   refluxo,   depois   tratar   as   varizes   de   maior   calibre   e,  

finalmente,  as  de  menor  calibre.  

A  escola   francesa   fundada  por  Tournay  preconizava  a  esclerose  dos  refluxos  de  cima  

para   baixo,   ao   inverso   da   escola   suíça   de   Sigg.   Fegan,   irlandês,   só   esclerosava   as  

perfurantes,  e  o  tronco  e  a  junção  safenianos  não  eram  geralmente  tratados.  

No  “tratamento  de  cima  para  baixo”,  da  escola  francesa,  o  ponto  de  refluxo  mais  alto  

será   eliminado   em   primeiro   lugar,   e   as   varizes   subjacentes   involuem   então  

rapidamente,   de   tal   forma   que   doses   mínimas   de   esclerosante   bastarão.   Isto   é  

igualmente   válido   para   as   veias   perfurantes.   Esta   estratégia   apresenta   a   dupla  

vantagem   da   sua   eficácia   e   do   seu   resultado   estético   (Fig.   16).   Mas   a   resistência   à  

esclerose  das  veias  perfurantes  insuficientes  pode  originar  um  desaire.  

 

         

Fig.  16  -­‐  A  escolha  dos  diferentes  locais  de  injeção  depende  da  localização  e  do  calibre  das  varizes.  É  possível  injetar  uma  colateral  todos  os  oito  a  dez  centímetros.  

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 No  “tratamento  de  baixo  para  cima”,  da  escola  Suíça,  o  lúmen  varicoso  vai-­‐se  obliterar  

a  partir  da  periferia.  A  esclerose  inicia-­‐se  nas  varizes  de  pequeno  calibre  e  desenvolve-­‐

se  progressivamente  para  cima.  Exige  numerosas   injeções.  Este  procedimento  muitas  

vezes  esquece  a  croça,  o  que  faz  com  que  apareçam  recidivas  rapidamente.  

Como  cada  refluxo  se  produz  a  partir  duma  variz  importante  para  uma  mais  pequena,  

consideramos  que  é  preciso  tratar  sempre  as  grandes  antes  das  pequenas.  Com  esta  

estratégia  “da  maior  para  a  mais  pequena”,  o  número  de  injeções  e  a  concentração  do  

esclerosante  diminuem,  e  com  eles  a  percentagem  de  complicações.    

 

  Frequência  das  sessões  

Somos  a  favor  de  uma  dose  de  prova  inicial  para  pesquisar  a  sensibilidade  do  doente  

ao  esclerosante.  

Normalmente  os  tecidos  reagem  muito  bem,  a  sessões  semanais,  mesmo  para  grandes  

varizes   e   altas   doses   de   esclerosante   e   esclerosantes   fortes.   Recomendamos   aos  

doentes   que   não   se   afastem   por   mais   de   uma   semana   entre   duas   sessões,   para  

podermos   controlar   os   resultados   e   detetar   eventual   efeito   colateral.   Para  

telangiectasias  e  esclerosantes  suaves  espaçamos  as  sessões  de  15  em  15  dias.      

Somos   contra   as   longas   sessões   e   os   tratamentos   “intensivos”   diários,   por   serem  

incómodas  e  pelo  risco  de  irritação  da  pele.  

Por   ser   imprevisível   o   número   de   sessões   necessário   para   erradicar   as   varizes  

aparentes,  o  tratamento  eclerosante  pode  ser  oneroso.  É  impossível  precisar  a  data  da  

alta,   assim   como   nada   se   pode   prever   sobre   o   inexorável   aparecimento   de   novas  

microvarizes.   Com   o   passar   do   tempo,   novas   séries   de   tratamento   poderão   ser  

necessárias,   já   que   não   realizamos   uma   cura   etiológica   da   doença,   mas   apenas   a  

terapêutica  paliativa  duma  das  suas  manifestações.    

 

  Avaliação  dos  resultados  

Os  resultados  não  devem  ser  avaliados  imediatamente.  Como  se  trata  de  um  processo  

complexo  e  lento,  pouco  se  pode  esperar  antes  de  duas  a  três  semanas  após  o  início  

do   tratamento.   Alguns   doentes,   se   não   avisados,   neste   interregno   podem   perder   a  

motivação  para  prosseguir.  

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  TRATAMENTO      COMPLEMENTAR  

 

  Medidas  gerais  

Na  primeira  consulta,  o  doente  deve  ser  avaliado  e  orientado  quanto  aos  fatores  que  

possam  ter  alguma  relação  com  a  evolução  da  sua  doença  varicosa:  

  -­‐  Manter  o  peso  equilibrado;  

  -­‐  Corrigir  o  trânsito  intestinal;  

  -­‐  Evitar  sobrecarga  para  os  membros  inferiores;  

  -­‐   Corrigir   e/ou   compensar   defeitos   ortopédicos   que   interajam   com   a   doença  

venosa;  

  -­‐  Usar  calçado  apropriado;  estimular  uso  de  calçado  com  saltos  em  torno  de  4  

cm  de  altura  e  com  boa  base;  

  -­‐   Advertir   contra   o   uso   de   calçado   raso   que   deforma   os   pés   e   prejudica   o  

retorno  venoso;  

  -­‐  Evitar  o  ortostatismo  prolongado;  

  -­‐  Evitar  as  longas  permanências  na  posição  sentada;  

  -­‐   Compensar   o   ortostatismo  e   o   repouso   sentado  prolongado   com  generosas  

caminhadas  e  exercícios  articulares  adequados;  

  -­‐  Evitar  o  abuso  de  exposição  ao  calor  do  sol  ou  a  fontes  de  calor  como  lareiras  

e  braseiras,  botijas  de  água  quente,  soalhos  aquecidos,  saunas  e  fisioterapia  com  calor;  

  -­‐  Procurar  não  tomar  hormonas  anticoncecionais  nem  de  substituição;  

  -­‐   Controlar   o   lipidema   (“celulite”)   indicando  exercícios   e  massagem  manual   e  

mecânica  adequada.  

 

  Medicamentoso  

A   escleroterapia   de   varizes   pode   ser   precedida   e   acompanhada   por   tratamento  

venotrópico   visando   aliviar   os   sintomas   da   doença   venosa.   Ter   em   consideração,   no  

entanto,  que  os  venotrópicos  não  interferem  com  a  evolução  do  tratamento,  mesmo  

aqueles  cuja  eficácia  no  campo  varicoso  foi  demonstrada.  

Tomar  atenção  para  o   facto  de  que  os  anti-­‐inflamatórios,  esteroides  ou  não,  podem,  

pelo  menos  potencialmente,  antagonizar  a  escleroterapia.  

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Após   a   aplicação   do   esclerosante,   além   do   álcool   usado   para   antissepsia   e   da  

contenção   elástica,   desaconselha-­‐se   o   uso   de   qualquer   outro   fármaco   tópico   ou  

procedimento.  As  pomadas  anti-­‐inflamatórias  podem  retardar  o   tratamento  opondo-­‐

se   á   ação   do   esclerosante,   pelo  menos   nas   camadas  mais   superficiais.   O  mesmo   de  

pode   dizer   para   os   heparinóides,   embora   ajudem   eventualmente   a   reabsorver   as  

equimoses  e  os  trombos  formados  nas  pequenas  varizes  cutâneas.    

 

  COMPLICAÇÕES    

 

Os   resultados   da   escleroterapia   são  muito   bons,   nos   aspetos   funcional   e   estético.  O  

sucesso  do  método  é  dado  pela  satisfação  do  doente,  a  qual  pode  não  coincidir  com  a  

do   médico.   O   tratamento   pode   ter   algumas   desistências   e   os   fatores   variam   da  

intolerância  físicas  às  injeções,  a  limitações  financeiras,  passando  pela  desilusão  com

As   complicações   devem   ser   consideradas   desde   o   início   do   tratamento   e   alertar   o  

doente   para   essa   possibilidade,   informando-­‐o   dos   riscos   e   efeitos   adversos   que,  

eventualmente,   podem   acontecer,   com   a   escleroterapia   com   esclerosante   líquido   e  

com   a   espuma.   Apesar   de   todo   o   cuidado,   do   material   ideal   e   da   técnica   mais  

adequada   as   complicações   estão   sempre   presentes   e   podem   comprometer   o  

tratamento  proposto.  

Acerca   das   complicações   o   Dr.   Amélio   Pinto-­‐Ribeiro   dizia:   “Somente   dois   grupos   de  

profissionais   não   as   têm:   os   que   não   executam   a   terapêutica   e   os   mentirosos.   Os  

problemas  ocorrem  no   seu  consultório  e  os  pacientes  vão   tratá-­‐los  no  consultório  do  

seu  concorrente.  E  você  continua  dizendo  que  nunca  fez  nenhuma.”  

Sabemos   que   a   boa   relação   médico-­‐doente,   com   base   na   sinceridade   e   na  

disponibilidade   permanente,   ainda   é   o  melhor  meio   de   que   o  médico   dispõe   diante  

das  complicações.  

   

  COMPLICAÇÕES  GERAIS  

  Anafilaxia  

Trata-­‐se  de  um  problema  agudo  para  o  qual  se  deve  estar  sempre  atento,  embora  raro  

na  bibliografia  especializada  e  irrelevante  na  nossa  experiência  pessoal  e  institucional.  

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Assim,   é   preciso   ter   sempre   corticoide   injetável   ao   alcance   da   mão   para   eventuais  

emergências.  

O  “Doente  alérgico”  

O  doente  alérgico  é  sempre  um  risco  insuspeitado.  Mesmo  após  anamnese  cuidadosa  

e   interrogatório  orientado,   pode  haver   reação   alérgica   ao   esclerosante,   à   contenção  

elástica,  ao  creme  local  e  até,  eventualmente,  ao  anti-­‐histamínico  e  mesmo  corticoide.    

É   sempre  mais   seguro   enviar   o   doente   a   especialista   em  Alergologia   para   avaliação.  

Contudo   insiste-­‐se   na   recomendação:   ter   sempre   à   mão   ampolas   de   corticoide,  

adrenalina,   anti-­‐histamínicos,   etc…   Embora   a   probabilidade   de   acidente   seja   menor  

com  a  técnica  e  indicações  que  preconizamos,  a  medida  é  válida.    

Por  outro   lado,  manifestações  pseudo-­‐alérgicas  e   lipotímias  não   são   raras  em  certos  

tipos  de  doentes,  mesmo  quando  nada  se  injeta.  Pessoalmente  temo  esses  doentes.  

Urticária    

A   urticária   é   pouco   frequente,   mas   ocorre   eventualmente.   Manifestação   sistémica  

imediata   ou   tardia,   localizada   ou   difusa.   A   injeção   de   anti-­‐histamínicos   raramente   é  

necessária,   embora   na   forma   oral   tenham   sido   empregados   com   sucesso,   no  

tratamento  e  na  profilaxia  dos  casos  que  referem  histórias  compatíveis  com  a  suspeita.    

Lipotimias  

São   bastante   frequentes   em   doentes   com   instabilidade   emocional.   A   simples  

referência   a   sofrer   de   “tensão   baixa”   ou   uso   de   tranquilizantes   faz-­‐nos   prever   a  

hipótese  de  lipotímia.  Como  atrás  foi  referido,  deve  evitar-­‐se  a  posição  em  pé  (Fig.  17).    

Fig.  17  -­‐  Posição  a  evitar  

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Alterações  neurológicas  transitórias  

Menos   frequentes   que   as   lipotímias   estão   os   casos   de   cegueira   fugaz,   escotomas  

cintilantes   e   parestesias   exóticas.   Surgem   mais   em   doentes   com   queixas   de  

enxaquecas  e  portadores  de  disritmias.  Em  uma  ou  duas  horas  os  sintomas  costumam  

desaparecer   deixando,   quase   sempre,   cefaleia   residual   até   24   horas.   Estão   descritas  

crises  convulsivas  após  sessão  de  escleroterapia.  

Embolia  gasosa  

Menos   frequente   do   que   as   lipotímias,   pode   ocorrer   eventualmente   produzindo  

desconforto   precordial   e   mesmo   tosse   ou   escotomas.   O   fenómeno   costuma   ser  

passageiro  e  o  seu  alívio  é  quase  imediato  com  tosse  forçada.  

Trombose  venosa  superficial  

Frequente   quando   se   trabalha   nas   proximidades   de   vaso   volumoso   mesmo   não-­‐

varicoso.   Tal   condição   é   risco   permanente   para   os   médicos   que   se   dedicam   ao  

tratamento  das  grandes  varizes,  onde  a  propagação  para  o  sistema  venoso  profundo  e  

a  migração  embólica  não  estão  fora  de  cogitação.  

Não   raro,   temos   observado   intensas   reações   flebíticas   e   periflebíticas   de   troncos  

venosos   sadios,   acidentalmente  produzidas  por   injeções   regionais.  Nem   sempre   tem  

sido  possível  reverter  tais  flebites  não-­‐intencionais.  A  prática  diminui  a  ocorrência  de  

forma  drástica.  

É  muito  comum  o  aparecimento  de  trombos  dolorosos  e  localizados,  especialmente  no  

dorso  do  pé  e  pregas  de  flexão,  quase  sempre  por  contenção  insuficiente.  Além  da  dor  

causada  pelo  estiramento  das  fibras  nervosas  resultantes  do  processo  inflamatório,  a  

permanência   da   lesão   conduz   ao   aparecimento   de   novas   varizes   e   à   formação   de  

manchas  hipercrómicas  persistentes.  O  tratamento  é  simples  e  consiste  na  excisão  do  

conteúdo  semicoagulado  e  contenção  elástica.  

Trombose  venosa  profunda  

Achamos  ser  a  trombose  venosa  profunda  secundária  à  escleroterapia  de  varizes  mais  

frequente  do  que  relata  a  literatura.  

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Quase  sempre  decorre  de  injeção  de  substância  esclerosante  aplicada  no  dorso  do  pé  

por   profissional   pouco   experiente   (e   por   curiosos),   é   dolorosa,   tem   tendência  

ascendente   e   o   doente   só   costuma   procurar   tratamento   especializado,   quando   o  

edema  já  atinge  grande  parte  do  membro.  

Para  o  tratamento  deverá  ser  utilizada  inicialmente  heparina  na  dose  correta,  seguida  

de  hipocoagulação  com  dicumarínicos,  e  fazer  contenção  elástica  adequada.  

Embolia  pulmonar  

Relatada  na  literatura  como  complicação  em  casos  de  tratamento  esclerosante  como  

alternativa   para   varizes   cirúrgicas.   Nunca   presenciámos   ou   tivemos   conhecimento  

desta  ocorrência  no  decorrer  de  escleroterapia  de  pequenas  varizes  e  telangiectasias.  

COMPLICAÇÕES  LOCAIS  

Dor  

A  dor  provocada  pela  escleroterapia  química,  embora  bastante  tolerada  pela  maioria  

das   pessoas,   constitui   importante   fator   negativo   do   tratamento.   É   provocada  

principalmente  por:  

-­‐  Punção  -­‐  às  vezes  quase  impercetível,  a  dor  é  mais  intensa  nas  injeções  muito  

superficiais,   e   nalgumas   zonas,   como   a   face   interna   das   coxas   e   dos   joelhos   e   os  

cavados  poplíteos;    

-­‐   Injeção   -­‐  o  ardor  é  habitualmente  causado  pela  ação   irritante  da   substância  

esclerosante  sobre  o  vaso.  Quando  o  esclerosante  atinge  os  vasos  profundos,  produz  

sensação  de  cãibra;  

-­‐   Extravasamento   -­‐   responsável   por   dor   intensa,   principalmente   quando  

utilizada  a  glicose.  De  fácil  constatação  em  vasos  superficiais,  o  extravasamento  torna-­‐

se  mais  difícil  de  ser  identificado  em  vasos  profundos.  Embora  a  dor  incomode  muito,  

é   rara   a   ocorrência   de   necrose   por   esse   processo.   Caso   aconteça,   é   sempre   de  

pequena  monta  (Fig.  18  e  19).  

O   limiar   doloroso   é   extremamente   variável   e   individual.   Alguns   doentes   toleram  

sessões   prolongadas   com   facilidade,   enquanto   outros   não   suportam   nem   uma  meia  

dúzia  de  picadas.  

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Fig.  18  -­‐  Extravasamento  de  esclerosante  ao  longo  da  agulha  e  quando  o bisel  da  agulha  fica  dentro  e  fora  da  veia

Fig.  19  -­‐  Extravasamento  de  esclerosante  quando  a  agulha  sai  da  veia,  quando  há  múltiplas  punções  feitas  pela  agulha  e  quando  há  demasiada  destruição  da  parede  da  veia.  

Na   nossa   experiência,   aconselhamos   os   seguintes   cuidados   para   diminuir   a   dor   às  

punções:  

-­‐  Trocar  frequentemente  a  agulha  (a  cada  4-­‐5  punções,  em  média);  

-­‐  Apoiar  a  mão,  evitando  mobilização  da  agulha;  

-­‐  Interromper  a  injeção  assim  que  identificado  o  extravasamento  e  não  insistir  

em  repuncionar  a  veia;  

-­‐  Associação  de  anestésico   local  ao  esclerosante.  Lidocaína  a  0,5  %  ou  0,25  %  

sem   adrenalina.   Nas   telangiectasias,   em   quantidades   de   0,1   a   0,2   ml   para   2   cc   de  

esclerosante,  provoca  anestesia  instantânea  da  rede  local  permitindo  o  tratamento.  

Prurido  e  irritação  cutânea  

Frequente.  O  prurido  local  é,  quase  sempre,  evitável  pelo  uso  de  compressão  elástica  

adequada  com  ou  sem  coxim  entreposto  para  aumentar  compressão  localizada.  O  uso  

tópico  de  creme  de  corticoide  costuma  resolver  a  crise.    

Hipodermite  química  

Alguns   autores   referem  que   se   trata   de  periflebite  e   induração.   Embora  ocorra   com  

relativa   frequência,   trata-­‐se   com   êxito   com   antiinflamatórios   não   esteroides   e  

compressão.  

Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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Injeção  intra-­‐arterial  

Uma  artéria  (em  particular  a  pediosa  ou  a  tibial  posterior)  pode  ser  puncionada  por  um  

escleroterapeuta  inexperiente.  O  produto  funciona  com  um  êmbolo,  e  nas  artérias  de  

algum  calibre  não  provoca  espasmo.   Pode  ocluir   ramos   arteriais   levando  a   zonas  de  

necrose   e,   nos   músculos   da   perna,   a   uma   síndrome   de   loca,   a   qual,   se   não  

diagnosticada  a  tempo,  pode  condicionar  lesões  nervosas  irreversíveis,  com  parésia  e  

paralisia.    

É   muito   importante   o   reconhecimento   imediato   da   situação,   interrompendo   logo   a  

injeção.   O   efeito   deletério   depende   obviamente   do   esclerosante   utilizado   e   da   sua  

concentração,   bem   como   da   quantidade   já   administrada.   Deve   aspirar-­‐se   o  máximo  

pela  mesma  seringa,  e,  sem  retirar  a  agulha,  injetar  imediatamente  10  000  unidades  de  

heparina.  A  administração  endovenosa  de  dextrano  a  10%  também  pode  ajudar,  mas  

na  experiência  de  Frank  Cockett  qualquer  tratamento  deve  ser   instituído  na  primeira  

hora  após  a  injeção.  

Nas   arteríolas   superficiais,   muitas   vezes   em   relação   com   telangiectasias,   o   risco   de  

complicações   sérias   é   pequeno,   até   pelas   doses   e   concentrações   usadas.   Mas   ele  

existe,  principalmente  se  houver  vasoconstrição  acentuada  

Escara  

A   escara   como   efeito   colateral   da   escleroterapia   é   quase   sempre   uma   “fatalidade  

estatística”  derivada  da  falta  de  cuidado  do  médico,  se  eliminarmos  as  escarificações  

produzidas  pelos  esclerosantes  fortes  e  concentrados  usados  por  alguns  autores  para  o  

tratamento  alternativo  das  grandes  varizes.    

Em  geral,   a   escara   decorre   de   injeção   excessiva   de   esclerosante,   com   forte   pressão,  

levando  ao  refluxo  da  circulação  para  uma  arteríola  em  conexão  com  os  vasos  venosos  

dilatados,  ou  duma  injeção  extravenosa,  ou  dum  espasmo  reativo  demasiado  intenso.  

Por  vezes,  ocorre  injetar-­‐se  numa  veia  que  faz  evacuar  o  sangue  de  uma  grande  área  

resultando   em   verdadeiro   “espetáculo   pirotécnico”  muito   apreciado   pelo   doente.   A  

continuidade   da   injeção   leva   ao   eritema   intenso,   cujo   centro   logo   empalidece   e  

cianosa,   demonstrando   a   vasoconstrição   definitiva,   e   vai   escarear   48   a   72   horas  

depois.  Para  se  evitarem  lesões,  a  área  de  isquemia  (área  da  pele  em  que  o  sangue  foi  

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substituído  pelo  líquido  injetado)  não  deve  ultrapassar  a  de  uma  moeda  de  2  €,  ou  seja  

2,5  cm.    

A   escara   consiste   numa   lesão   isquémica,   com  necrose   cutânea,   dolorosa   e   de   difícil  

resolução   espontânea.   O   seu   tratamento   é   sempre   sintomático,   devendo   ser  

conduzido   no   sentido   de   deixar   a   mínima   cicatriz   residual.   Nestes   casos   a   cirurgia  

reparadora   é   pouco   feliz,   piorando   na   razão   direta   da   distância   da   lesão.   Os   anti-­‐

inflamatórios  enzimáticos  são  adequados,  e  a  dor  deve  ser  controlada,  de  preferência  

por   via   sistémica   para   impedir   o   uso   de   pomadas   anestésicas   que   atrasarão   a  

cicatrização.  Uma  escara  de  0,5  cm  de  diâmetro  poderá  levar  mais  de  três  meses  para  

curar,  apesar  de  todos  os  cuidados  adequados.  

Manchas  hipercrómicas  

Representam  os  problemas  antiestéticos  mais  frequentes  da  escleroterapia,  mormente  

quando  esta  é  procurada  com  finalidade  cosmética.  Resultam,  via  de  regra,  do  uso  de  

esclerosantes   de   ação   intensa   agindo   sobre   as   finas   paredes   dos   vasos   tratados   e  

causando  processo  perivenoso   com  aumento  da  permeabilidade   capilar   e   diapedese  

de   hemácias   para   o   tecido   celular.   Mesmo   com   esclerosantes   suaves,   quando   é  

demorado   o   ato   de   injetar,   a   dilatação   pós-­‐constrição   da   parede   venular   também  

aumenta  anormalmente  a  sua  permeabilidade,  gerando  manchas  escuras.    

Nos  segmentos  venosos  mal  comprimidos,  em  que  permanecem  pequenos  trombos,  e  

nas   equimoses   em   regiões   de   estase   venosa,   também   vemos   maior   incidência   de  

manchas.  A  hemoglobina  sequestrada  conduz  à  deposição  de  hemosiderina  na  camada  

basal  da  pele  e  oxidação  posterior  com  agravamento  pelo  aporte  de  melanina  ao  local,  

formando   uma   mancha   evidente   e   de   tratamento   rebelde.   Por   isso   a   grande  

importância  da  drenagem  e/ou  aspiração  desses  trombos  pós-­‐escleroterapia.  

Com   o   método   que   utilizamos   para   o   tratamento   esclerosante   de   varicosidades  

associado  a  uma  boa  contenção  elástica  por   tempo  adequado,  o   fenómeno   torna-­‐se  

inexpressivo  quanto  à  ocorrência  e  intensidade.  

RECIDIVAS  

As  micro   varizes   não   recidivam   necessariamente.   Apenas   se   sucedem,   continuada   e  

irregularmente,  em  obediência  à  determinação  da  sua  etiologia  desconhecida,  mas  de  

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caráter  genético,  a  que  se  somam  predisposições  pessoais  e  fatores  desencadeantes  e  

agravantes.  Há   períodos   em  que   se   esperam  exacerbações,   como  na   gestação   e   em  

alterações  hormonais  como  na  menopausa.  

Há  doentes  que   têm  menos  necessidade  de   injeções  que  outros,   e   com  o  passar   da  

idade  é  costume  diminuir  a  motivação  estética  para  o  tratamento.  Já  verificámos,  no  

entanto,   em   doentes   acompanhados   por  mais   de   vinte   anos,   que,   com   o   passar   do  

tempo,  as  microvarizes   tornam-­‐se  mais   resistentes  e  carecem  de  maior  volume  e/ou  

concentração  de  esclerosante  do  que  anteriormente.  

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Escleroterapia química no tratamento das varizes dos membros inferiores

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TRATAMENTO  DAS  COMPLICAÇÕES  DAS  VARIZES  

 

TROMBOSE  VENOSA  SUPERFICIAL  

Pedro  Vaz  

 

  Introdução    

A   trombose   venosa   superficial   (TVS)   é   um   processo   inflamatório   que   envolve   a  

formação   de   trombos   nas   veias   superficiais,   predominantemente,   dos   membros  

inferiores.   Considerada   durante   muito   tempo   uma   entidade   de   limitada   relevância  

clínica,   estudos   recentes   reconhecem   a   sua   importância   em   relação   às   possíveis  

complicações:   trombose   venosa   profunda   e   embolia   pulmonar.   O   trombo   forma-­‐se  

pelo   processo   inflamatório   da   parede   venosa,   que   tipicamente   ocorre   nas   veias  

varicosas,   mas   também   pode   ocorrer   nas   veias   não   varicosas   onde   a   trombose   e   a  

inflamação   desempenham   um   importante   papel.   Embora   o   trombo   adira   melhor   à  

parede   das   veias   superficiais   quando   comparado   à   trombose   venosa   profunda,   num  

terço  dos  casos,  a  TVS  pode  complicar-­‐se  de  tromboembolismo  pulmonar.  

Em   regra,   a   TVS   é   um   processo   inflamatório   estéril,   no   entanto,   na   presença   de  

manifestações   sistémicas   de   inflamação,   podemos   estar   perante   uma   flebite   sética,  

situação  relacionada,  habitualmente,  com  o  uso  de  cateteres  periféricos.    

Os   fatores   de   risco   para   TVS   incluem   as   veias   varicosas,   imobilização   prolongada,  

trauma,   gravidez,   doença   maligna,   uso   de   anticoncecionais   orais   e   hormonas   de  

substituição,   idade,   obesidade,   trombofilias,   quimioterapia   e   cateteres   e   injeções  

endovenosas.  

Clinicamente   apresenta-­‐se   como  uma   situação   aguda,   sintomática,   caracterizada  por  

dor,   calor,   eritema   cutâneo   e   cordão   subcutâneo   fibroso   no   segmento   venoso  

envolvido.  

 

  Epidemiologia  

A  incidência  exata  é  desconhecida,  variando  entre  os  125.000  casos/ano  nos  EUA  e  os  

253.000   casos/ano   em   França,   com   maior   incidência   no   sexo   feminino   e   com  

predomínio   dos   membros   inferiores.   É   uma   entidade   pouco   estudada,   com   poucas  

referências  em  Portugal,  sendo  controversa  a  sua  abordagem  terapêutica.  Cerca  de  20-­‐

Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

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30  %  dos  casos  de  TVS  complicam-­‐se  de   tromboembolismo  pulmonar  assintomático,  

enquanto  2-­‐13  %  estão   associados   a   tromboembolismo  pulmonar   sintomático.   Estes  

dados  demonstram  que  a  TVS  está  longe  de  ser  uma  condição  benigna.    

Diagnóstico  

O  diagnóstico  baseia-­‐se  na  clínica  pelo  eritema,  dor  e  cordão  palpável  no  local  afetado  

da   veia   superficial.   Na   maioria   dos   casos   existe   edema   dos   tecidos   circundantes.  

Quando   não   se   encontra   o   edema   generalizado   do   membro,   o   sistema   venoso  

profundo   não   está   envolvido.   Durante   o   período   de   recuperação,   verifica-­‐se   a  

resolução,   na   maioria   das   vezes,   do   processo   inflamatório   e   trombótico.   A  

recanalização,  normalmente,  ocorre  passado  alguns  meses,  ficando  uma  pigmentação  

residual  e  endurecimento  dos  tecidos.    

O   ecoDoppler   é   o   exame   preconizado,   pois   permite   não   só   visualizar   o   segmento  

inicial,  mas  precisar  a  sua  extensão  e  relação  com  a  junção  safenofemoral  de  modo  a  

delinear  a  terapêutica  adequada.  

Tratamento  

Uma   avaliação   clínica   geral   é   fundamental,   em   doentes   com   veias   não   varicosas.   A  

trombofilia   e   as   neoplasias  malignas,   constatando-­‐se   uma   relação   de   12.9   %   destas  

últimas  com  a  TVS,  devem  ser  excluídas.  Na  fase  aguda  de  TVS,  existem  as  seguintes  

modalidades  terapêuticas:  compressão,  mobilização  e  tratamento  farmacológico.  

Compressão  

A  compressão  alivia  os  sintomas  e  contribui  para  a  resolução  do  processo  trombótico,  

sendo  recomendado  que  a  ligadura  exceda  o  segmento  de  veia  trombosada  em  cerca  

de   10   cm.   A   compressão   deve   ser   aplicada   pelo   menos   durante   duas   semanas,  

optando-­‐se   por   ligadura/meia   elástica   de   grau   II.   Os   doentes   com   veias   varicosas  

devem  ser  aconselhados  a  usar  este  método  de  forma  continuada.    

Mobilização  

Recomenda-­‐se  marcha  regular  e  evitar  longos  períodos  de  imobilização  quer  deitado,  

sentado  ou  simplesmente  em  pé.  

Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

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  Tratamento  farmacológico  

A   anticoagulação   permanece   o   tratamento   de   escolha   e   depende   da   extensão  

ecográfica  da  trombose.        

Se   TVS   com   extensão   inferior   a   5   cm,   o   tratamento   de   escolha   é   o   uso   de   anti-­‐

sistemicamente;   os   AINEs   não   devem   ser   administrados   conjuntamente   com   os  

anticoagulantes;  o  uso  de  antiagregantes  plaquetários  não  está  indicado.  

Se  TVS  com  extensão  entre  os  5  e  os  10  cm,  a  terapia  anticoagulante  é  recomendada  

(HBPM,  HNF  e  os  antagonistas  da  vitamina  K);  as  HBPM  podem  ser  administradas  quer  

em   doses   profiláticas   ou   terapêuticas;   o  Cochrane  Database   Review  Group   sugere   o  

uso  de  doses  intermédias  durante  pelo  menos  um  mês.  

Se  a  extensão  for  maior  que  10  cm,  especialmente  quando  associado  a  outros  fatores  

de   risco,   é   recomendação,   grau   B   e   evidencia   nível   2,   para   iniciar   fondaparinux,  

segundo  o  estudo  Calisto.  

Os  antibióticos  não  devem  ser  administrados  uma  vez  que  a   infeção  está   raramente  

envolvida.      

Existe  uma  grande  expetativa  nas  novas  classes  de  anticoagulantes,  que  se  encontram  

a  ser  testadas  para  esta  indicação  específica.  

 

  Tratamento  cirúrgico  

Raramente  a  cirurgia  se  encontra  preconizada  para  o  tratamento  da  TVS  na  fase  aguda.  

A  excisão  do  segmento  afetado  e  a  trombectomia  estão  indicadas  quando  os  sintomas  

persistem   após   duas   semanas   de   tratamento   médico   intensivo.   Por   sua   a   vez,   a  

laqueação  justafemoral  está  indicada  quando  existe  progressão  proximal  da  TVS.  

Na  fase  crónica,  a  compressão  e  a  mobilização  mantêm-­‐se  como  opções  terapêuticas  e  

deve  ser  considerado  o  posterior  tratamento  das  varizes.  

 

  Conclusões  

A  TVS  nem  sempre  é  uma  condição  benigna  e  recentes  estudos  associam-­‐na  a  uma  alta  

prevalência  de  tromboembolismo  pulmonar.    

A  TVS  pode  causar  vários  graus  de   insuficiência  venosa,  bem  como  potenciar  estase,  

novos  episódios  de  trombose  e  alterações  cutâneas,  incluindo  as  úlceras  venosas.  

Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

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A  base  do  tratamento  consiste  na  compressão,  mobilização  e  anticoagulação.  

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Tratamento das complicações das varizes - Trombose venosa superficial

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HEMORRAGIA  VARICOSA  

Sara  Correia,  Aida  Paulino,  Luís  Silveira  

 

Apesar  de  as  varizes  serem  consideradas  benignas,  podem  levar  a  complicações  major  

como   seja   o   edema,   dermatite,   ulceração   e   a   hemorragia   varicosa   grave1.   A  

hemorragia   varicosa   representa   uma   emergência   e   pode   ser   fatal   se   não   tratada  

atempadamente2.  

As  veias  varicosas  raramente  sofrem  rotura,  e  mesmo  que  tal  aconteça,  habitualmente  

param,   devido   à   sua   natureza   de   hemorragia   venosa3.   Pode   ser   traumática,   mais  

frequente  nos  adultos  jovens,  que  trabalham4,  ou  espontânea,  verificando-­‐se  que  esta  

é  mais   frequente   entre   nós.   Geralmente   são   hemorragias   noturnas   e   autolimitadas,  

recorrendo,  alguns  doentes,  a  hemostase  com  moeda  de  1  €  (Fig.  1)  (antigamente  era  

com   moeda   de   um   escudo),   mas   há   casos   descritos   de   grandes   hemorragias   que  

provocam  choque  e  mesmo  a  morte.  

 

 Fig.  1  -­‐  Hemóstase  de  varicorragia  com  moeda  de  um  euro.  

 São  descritos  dois  tipos  de  varicorragia:  

Hemorragia varicosa

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196 192  

.  o  tipo  agudo1,  2,  em  que  a  lesão  é  menor  que  5  mm,  sem  quase  envolvimento  da  pele,  

mais  frequentes  em  idosos  com  pele  muito  fina  sobre  grandes  varizes  e,  normalmente,  

afeta  uma  tributária  venosa  superficial  em  redor  do  maléolo  medial5.   Jelev5  estudou,  

microscopicamente   alguns   locais   de   úlcera   sangrante   e   concluiu   que   “A   possível  

patogénese   do   processo   pode   ser   resumida   com   base   nas   nossas   observações  

histológicas.   O   primeiro   estágio   é   a   trombose   venosa   local,   predominantemente   no  

lado   da   pele,   seguida   de   espessamento   e   incorporação   do   trombo.   Na   pele   oposta,  

aparece  uma  hiperplasia  epidérmica.  Tanto  a  trombose  venosa  como  a  inflamação  da  

pele  criam  um  "ponto  fraco"  para  posterior  rotura  externa.  Provavelmente,  o  aumento  

da  pressão  intravenosa  nas  veias  superficiais  da  perna  devido  a  disfunção  cardíaca  ou  

trombose  venosa  profunda  tem  um  papel  importante.”  

.   o   tipo   crónico,   com   uma   lesão   com   10-­‐100  mm,   associada   a   hiperpigmentação   da  

pele,  induração  e  erosão  para  uma  veia  superficial  ou  profunda  da  perna2,  geralmente,  

uma  úlcera  venosa  crónica5  e  ocorre  sobretudo  na  6ª  à  9ª  década  de  vida1,  5  e  segundo  

Jelev5  “...  este  tipo  de  hemorragia  abundante  é  precedida  por  ulceração  crónica  da  pele  

seguida  por  erosão  de  uma  veia  maior   subjacente.”  Não  há  diferença  significativa  na  

distribuição  por  sexo  ou  lateralidade  das  lesões.  

A  hemorragia  é  das  complicações  menos  frequentes  das  varizes  e  ainda  são  mais  raras  

as  que  conduzem  à  morte4,  6.  Byard,  em  dez  anos,  encontrou  oito  casos,  de  morte  por  

varicorragia,  em  10686  autópsias1.  Encontrámos  descrições  de  morte  por  hipovolemia,  

por   rotura   de   varizes   no   banho,   podendo   a   temperatura   quente   da   água6,   7,   ter  

contribuído   para   a   persistência   de   vasodilatação   periférica   e   a   manutenção   da  

hemorragia.  

Caracteristicamente,   a   hemorragia   varicosa   fatal   verifica-­‐se   em   indivíduos   de   idade  

avançada,   de  baixo   índice   cultural8,   em   isolamento   social6,   7,   8,   9   com   comorbilidades  

como   demência,   uso   de   anticoagulantes   ou   álcool1,   ou   doenças   que   alterem   a  

coagulação10.  Adicionalmente  outro  fator  predisponente,  são  as  alterações  escleróticas  

das  veias  que  podem  levar  à  hemorragia  espontânea2.    

Byard10   relata   dois   casos   em   que   a   hemorragia   foi   abundante,   em   esguicho,   pois  

salpicou   à   distância,   simulando   uma   hemorragia   arterial,   pois   o   sangue   está   em  

hipertensão  na  variz  e  a  úlcera  é  muito  pequena  (2  a  5  mm).  No  entanto,  na  autópsia  

não   foi   detetada   nenhuma   comunicação   com   artéria.   Também   cita   comentários   de  

Hemorragia varicosa

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197193  

criminologistas,  porque  a  cena  em  que  aqueles  doentes  são  encontrados,  parecem  ser  

de   crimes   violentos,   tal   a   dispersão   do   sangue   pelo   local.   Em   doentes   com   varizes,  

Komai11,   demonstrou   fístulas   artério-­‐venosas   (FAV)   por   arteriografia   e   tratou-­‐as   por  

embolização  seletiva,  antes  do  tratamento  definitivo  da  causa,  e  Gius12,  em  13  de  14  

doentes   estudados   com   arteriografia,   encontrou   FAV   que   eram   a   causa   das   varizes.  

Encontrámos  testemunhos  idênticos  em  artigos  de  Haimovici13  e  Schalin14,  tendo  este  

confirmado   a   sua   existência   com   microscópio   operatório   e   pela   observação   de  

hemorragia  pulsátil,  e  Piulachs15,  em  1953,  afirmou,  depois  de  estudar  de  157  casos,  o  

que  relatámos  no  Capítulo  1  deste  livro,  na  pág.  21.  

Perante   o   que   descrevemos,   podemos   sugerir   que,   se   a   grande   maioria   das  

varicorragias   deixa   de   sangrar   espontaneamente,   talvez   as   fatais   tenham   FAV   a  

alimentá-­‐las  e,  por  isso,  a  hemóstase  é  mais  difícil.  

Tratamento  

A   hemorragia   varicosa   trata-­‐se   de   uma   emergência   médica   e   requer   tratamento  

atempado.  Contudo,  a  falta  de  recursos,  de  comunicação  atempada  (se  o  doente  vive  

só  ou   longe  de  socorro8)  e  de   reconhecimento  da   importância  desta  patologia,  pode  

conduzir  a  uma  falsa  avaliação  da  sua  importância  e  subestimá-­‐la2,  8.  

No   tratamento   da   varicorragia,   a   primeira   etapa   é   deitar   o   doente   e   elevar   a   perna  

afetada,  o  que  ajuda  na  diminuição  da  pressão  intravenosa  e  na  hemorragia5.  A  ajuda  

urgente   inclui   a   compressão   direta   ou   por   torniquete,   que   deve   ser   escolhido  

criteriosamente.   Muitas   vezes,   pode   ser   confundida   com   hemorragia   arterial  

colocando  a  compressão  proximalmente,  com  consequências  nefastas,  pois  aumenta  e  

mantém  a  hemorragia  que  pode  conduzir  à  morte  8,  16.  

Labas17,   na   urgência,   propõe   tratamento   com   esclerose   com   TetraDecyl   sulfato   de  

sódio,   pois   em   estudo   retrospetivo   comparou   este  método   (E   =   72   doentes)   com   a  

sutura,   ponto   em   X   (S   =   52   doentes)   dos   locais   sangrantes,   em   ambos   os  métodos  

seguiu-­‐se  compressão  durante  seis  meses,  e  verificou  que  a  cicatrização  da  ferida  era  

mais  rápida  (média:  E  –  7  dias;  S  –  14  dias)  e  só  no  grupo  os  suturados  houve  recidivas  

hemorrágicas,   12   (23%).  Mas   Cocker7   relata   um   caso   em   que   o   doente   faleceu,   por  

recidiva  hemorrágica,  dez  semanas  após  tratamento  urgente  por  escleroterapia,  com  o  

mesmo  produto.  

Hemorragia varicosa

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198 194  

Finalmente,  Cocker7  propõe  que  seja  efetuado  ensino,  elevar  o  membro  e  pressionar  

o local   da   hemorragia,   a   todos   os   doentes   portadores   de   úlceras   venosas,

especialmente  os  que  estão  em  risco.  

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Hemorragia varicosa

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201   197  

 

 

VARIZES  NA  GRÁVIDA  

Ana  Formiga  

 

  INTRODUÇÃO  

Ao   estudar   a   fisiopatologia   da   doença   venosa   crónica,   verifica-­‐se   que   a   causa   das  

varizes   primárias   é   multifactorial,   havendo   predisposição   genética   ou   adquirida,   e  

intervindo   como   factores   etiológicos   as   alterações   da   parede   venosa   e   a  

incompetência  valvular,  sob  influência  da  hereditariedade.  

Constatamos   que   a   gravidez   é   considerada   como   factor   de   risco   para   o   início   e  

desenvolvimento  da  insuficiência  venosa  e,  nomeadamente,  das  varizes.  

Na  grávida  os  estudos  escasseiam  e  há  muitos  viés:  poucos  casos  incluídos;  análise  de  

diferentes   parâmetros   e   diferentes   séries;   avaliação   de   parâmetros   em   diferentes  

posições;  início  dos  estudos  só  quando  a  gravidez  foi  diagnosticada  e  por  vezes  já  no  2º  

ou   3º   mês,   com   as   alterações   hormonais   consequentes,   dificultando   a   comparação  

com  os  valores  de  base.  

Também  é  pouco  viável  a  quantificação  da  clínica  e  do  efeito  das  medidas  médicas,  e  

sua  repercussão  nos  parâmetros  avaliados.  

Tudo  isto  torna  difícil  comparar  estudos,  havendo  por  vezes  resultados  controversos.  

 

Podemos  falar  de  varizes  na  gravidez  em  três  sectores  anatómicos  diferentes:  varizes  

dos  membros  inferiores;  varizes  vulvares  e  perineais;  varizes  pélvicas.    

 

  VARIZES  DOS  MEMBROS  INFERIORES  

    Epidemiologia  

Cerca  de  15  %  das  grávidas  surgem  com  varizes  de  novo  (as  séries  variam:  5-­‐10-­‐20  %).  

Aparecem  mais  frequentemente  no  início  do  2º  trimestre.    

Há  progressão  durante  a  gravidez,  e  regressão  no  pós-­‐parto.  

A   prevalência   é   semelhante   comparando   os   homens   e   as   mulheres   que   nunca  

engravidaram.    

Varizes na grávida

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O  risco  de  desenvolvimento  de  varizes  na  gravidez  aumenta  com  a  idade  (quatro  vezes  

acima  dos  35  anos),  com  uma  história  familiar  de  doença  venosa  (seis  vezes  se  factores  

hereditários),   e   com   a   multiparidade   (duas   vezes   nas   multíparas   em   relação   às  

nulíparas).  

Nas  mulheres  acima  dos  40  anos  está  relacionada  com  o  número  de  gravidezes:  20  %  

nas  nulíparas;  40  %  se  multíparas  com  1-­‐4  gravidezes;  65  %  se  multíparas  com  cinco  ou  

mais  gravidezes.  

 

  Fisiopatologia  

Durante  a  gravidez  observam-­‐se  múltiplas  adaptações  do  sistema  circulatório.  

As   alterações   desencadeadas   pela   gravidez   a   nível   do   sistema   venoso,   conduzem   a  

modificações   da   pressão   e   do   fluxo   venosos   e   da   distensibilidade   das   veias,  

dependendo,   nomeadamente,   de   dois   factores   (mecânico   e   hormonal),   mas   sendo  

difícil  definir  o  efeito  relativo  de  cada  um:    

Efeito  mecânico    

A   compressão   da   veia   cava   inferior   e   das   veias   ilíacas   pelo   aumento   de   volume   do  

útero  grávido,  leva  ao  aumento  da  pressão  venosa  nos  membros  inferiores.  

Há  uma  elevação  linear  da  pressão  venosa  dos  membros  inferiores  desde  o  início  até  

ao   final   da   gravidez,   altura   em   que   a   pressão   venosa   na   veia   femoral,   em   decúbito  

dorsal,  é  três  vezes  superior  ao  habitual.  

Efeito  hormonal    

As   alterações   hormonais   verificadas   durante   a   gravidez   têm   repercussão   sobre   as  

veias.   Há   um   aumento   da   distensibilidade   das   veias,   por   efeito   dos   mediadores  

hormonais,  desde  os  primeiros  meses  da  gravidez,  nos  membros  inferiores  e,  também,  

nos  superiores.  

A  placenta  segrega  grande  quantidade  de  hormonas  esteroides,  desde  a  6ª  semana.  

O  estradiol  e  a  progesterona  têm  efeito  vasodilatador,  com  perda  do  tónus  da  parede  

venosa.  

Há   um   aumento   do   volume   circulatório   e   da   vascularização,   com   proliferação   e  

dilatação   de   vasos   cutâneos.   A   alta   concentração   de   estrogénios   aumenta   o  

aparecimento  de  telangiectasias.  

Varizes na grávida

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Outras   alterações,   a   nível   do   endotélio   e   das   proteínas   da   coagulação,   são   factores  

contributivos  para  a  elevada  incidência  de  tromboembolismo  na  gravidez.  

 

  Estudos  

Da   análise   de   vários   estudos,   embora   que   como   já   atrás   referido,   sejam   por   vezes  

controversos,  chegamos  a  algumas  conclusões.  

Estudos  da  parede  venosa    

Sabe-­‐se   que   a   dilatação   das   veias   leva   à   libertação   de   factor   activador   do  

plasminogénio   tecidular  para  o   lúmen  venoso.  A  distensão  prolongada  no   tempo,  ao  

espoliar   a   parede   venosa   deste   importante   factor   fibrinolítico,   será,   eventualmente,  

uma  razão  pela  qual  aumenta  o  risco  de  trombose  venosa  na  gravidez.          

Alguns   estudos   mostram   também   que   as   veias   do   sistema   superficial   da   perna,  

varicosas  ou  não,  têm  um  nível  de  factor  activador  do  plasminogénio  tecidular  inferior  

ao   das   veias   profundas.   Isto,   associado   à   dilatação   dessas   veias   na   gravidez,   e  

consequente  diminuição  do  factor  na  parede  venosa,  predispõe  à  maior  incidência  de  

tromboflebite  na  gravidez.  

Estudos  com  ecoDoppler    

Vários  estudos  revelaram  resultados,  por  vezes,  contraditórios:  

1.   Aumento   do   diâmetro   das   veias   entre   o   1º   e   o   3º   trimestre   da   gravidez.   Este  

aumento  de  diâmetro  ocorre  nas   veias   safenas   (tanto  nas   competentes   como  nas   já  

insuficientes),   nas   veias   profundas   e   nas   varizes.   No   entanto,   em   todas   elas   há  

diminuição  do  diâmetro  no  pós-­‐parto,  para  valores  do  1º   trimestre   (embora  neste   já  

haja  o  efeito  hormonal).  

2.   Aumento   de   diâmetro   das   veias   durante   toda   a   gravidez,   sendo  maior   nas   veias  

varicosas.  O  diâmetro  diminui  no  pós-­‐parto,  frequentemente  com  retorno  aos  valores  

de  base.  Isso  nem  sempre  ocorre,  nomeadamente  nas  varizes.    

3.  Maior  dilatação  nas  veias   insuficientes  durante  a  gravidez  e  sem  retorno  completo  

ao  diâmetro  prévio  após  o  parto,  justificando  aparecimento  e  agravamento  das  varizes  

na  gravidez  e  com  as  gravidezes  seguintes.  

4.   Diminuição   da   velocidade   do   fluxo   venoso   nas   veias   femorais   e   popliteias,   no   1º  

trimestre,  diminuindo  mais  à  medida  que  aumenta  o  tempo  de  gestação,  e  voltando  ao  

normal   imediatamente   após   o   parto.   Esta   diminuição   de   velocidade   mantem   as  

Varizes na grávida

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oscilações   normais   com   a   manobra   de   Valsalva,   e   pode   estar   relacionada   com   a  

diminuição  da  velocidade  média  e  sistólica  nas  artérias  femorais,  na  gravidez.  

5.  Aparecimento  de  refluxo,  no  3º  trimestre,  em  veias   inicialmente  competentes,  em  

algumas  grávidas.  Este  refluxo,  por  vezes,  volta  ao  normal  no  pós-­‐parto,  outras  vezes  

não,  o  que  explica  o  desenvolvimento  de  varizes  em  mulheres  com  predisposição  para  

tal.  

6.   Noutro   estudo,   nenhuma   grávida   desenvolveu   refluxo   de   novo   em   veias  

previamente  normais.   Isto  desafia  o  conceito  de  que  a  distensão  venosa  progressiva,  

na  gravidez,  esteja  associada  com  o  desenvolvimento  de  refluxo.  

7.  Nas  veias  previamente  refluxivas  há  aumento  da  velocidade  do  refluxo  à  medida  que  

avança  a  gestação,  até  à  26ª  semana,  diminuindo  depois.  A  duração  do  refluxo  diminui  

durante  a  gravidez  aumentando,  de  novo,  no  pós-­‐parto.    

8.  Quando  há  varizes  previamente,  estas  tendem  a  agravar  com  a  gravidez:  dilatam  e  

por   vezes   há   aumento   do   refluxo,   podendo   não   haver   retorno   aos   valores   prévios  

depois  do  parto.  

Estudos  com  pletismografia  

Revelam   alterações   durante   a   gravidez,   com   retorno   da   hemodinâmica   venosa   ao  

normal  no  pós-­‐parto.    

O  retorno  venoso  das  pernas  está,  significativamente,  diminuído  no  3º  trimestre.    

Sintomas   subjectivos   de   insuficiência   venosa   aumentam   ao   longo   da   gravidez,   mas  

desaparecem   virtualmente   depois   do   parto,   correspondendo   à   normalização   da  

bomba  muscular  no  pós-­‐parto.  

Estudos  clínicos  

Feita  avaliação  com  clínica  (sintomatologia,  registo  de  imagem,  gráficos)  e  ecoDoppler.  

Avaliada   a   evolução   ao   longo   da   gravidez.   Reavaliação   aos   três  meses   pós-­‐parto   ou  

após  parar  aleitamento.  

Constata-­‐se  que,  no  pós-­‐parto,  as  alterações  verificadas  durante  a  gravidez  nas  classes  

C1  e  C2,  diminuem  rapidamente,  embora  por  vezes  não  completamente,  enquanto  nos  

estádios  mais  avançados,  classes  C3-­‐C6,  a  melhoria  é  mais  lenta  e  gradual.  

Conclusões  após  análise  dos  estudos  

1.  O  aparecimento  e  desenvolvimento  de  alterações  venosas  verificadas  na  gravidez  é  

multifactorial.    

Varizes na grávida

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2.   Se   a   gravidez   actua   como   efeito   primário   ou   como   acelerador   do   processo,   em  

mulheres  já  susceptíveis,  não  se  sabe.  

3.   A   diminuição   da   velocidade   do   fluxo   venoso,   o   aumento   da   pressão   venosa,   a  

diminuição  do  tónus  venoso  e  vasodilatação,  a  estase,  o  refluxo,  são,  provavelmente,  

factores   etiológicos   que   explicam   o   aparecimento   e   desenvolvimento   de   doença  

venosa   crónica   durante   a   gravidez   e,   também,   a   eficácia   terapêutica   do   efeito  

compressivo  das  meias  elásticas.  

4.  Mesmo   sem   refluxo,   pode   haver   queixas   a   nível   dos  membros   inferiores   (edema,  

dor,  etc.),  devido  à  hipertensão  venosa  secundária  ao  aumento  do  volume  sanguíneo,  

à  obstrução  ao  fluxo  pelo  útero  grávido,  ou  às  alterações  da  bomba  muscular.  Surgem  

alterações  de  capilaridade  que  resultam  em  edema.  

5.  Muitas  alterações  verificadas  na  gravidez  regridem  no  pós-­‐parto.  

6.  Quando  há  varizes  prévias,  estas  tendem  a  agravar  com  a  gravidez.  

7.   Uma   maior   dilatação   nas   veias   insuficientes   durante   a   gravidez   e   sem   retorno  

completo  ao  diâmetro  prévio  após  o  parto,  justifica  o  agravamento  na  gravidez  e  com  

as  gravidezes  seguintes.  

8.  A  maior  dilatação  das  veias  superficiais  na  gravidez  e  a  consequente  diminuição  do  

factor   activador   do   plasminogénio   tecidular   na   parede   venosa   (factor   fibrinolítico),  

será  eventualmente  uma  das  razões  que  explicam  aumento  do  risco  de  tromboflebite  

ou  varicoflebite  na  gravidez.  

                 

  Avaliação  da  insuficiência  venosa  

A   grávida   recorre   à   consulta   por  motivos   estéticos,   preventivos   ou   terapêuticos   e   é  

necessário,   para   além   da   avaliação   e   seguimento,   dar   informação   sobre   riscos,  

complicações  e  tratamentos.  

A  avaliação  segue  as  regras  habituais,  com  uma  boa  história  clínica  e  exame  objectivo,  

seguida  dos  exames  complementares  adequados.  

História  clínica  e  exame  objectivo  

.  Avaliação  dos  antecedentes  pessoais  e  familiares  e  pesquisa  de  doenças  associadas  e  

factores   (hábitos   e   sócio-­‐profissionais)   que   predisponham   a   maior   risco   de  

aparecimento  de  varizes  e  também  de  tromboembolismo.    

.  Avaliação  e  caracterização  de  sinais  e  sintomas.  

Varizes na grávida

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Os  sintomas  são  variáveis,  desde  assintomáticas  até  dor,  peso  nas  pernas  ou  sensação  

de  edema.  Como  é  clássico  na  insuficiência  venosa,  os  sintomas  são  mais  evidentes  ao  

final   do   dia,   com   tempo   ou   ambiente   quente,   com   actividade   profissional  

predisponente   (posição   de   pé,   sentada   de   perna   pendente,   inactiva).   Aumentam  

também  com  a  progressão  da  gravidez.  

Os  sinais  variam,  de  acordo  com  o  grau  de  insuficiência  venosa  crónica  (consoante  os  

graus   da   classificação   CEAP):   telangiectasias,   ectasia   de   vénulas,   varizes,   edema,  

alterações  tróficas  da  pele,  úlcera  venosa.    

As  telangiectasias  e  vénulas  dilatadas  são  normalmente  mais  exuberantes  na  grávida,  

sendo   frequente   o   aparecimento   da   “corona   phlebectatica”   (telangiectasias  

intradérmicas  aglomeradas  na  zona  do  tornozelo  e  extensão  ao  pé).  

A  corona  phlebectatica  é  composta  por  telangiectasias  vermelhas  e  azuis,  manchas  de  

estase   (capilares   subepiteliais   em   forma   de  moeda   vermelho   ou   púrpura)   e   «taças»  

azuis   (dilatação  da  convergência  com  o  arco  plantar  de   forma  triangular).  Não  tem  o  

mesmo   significado   que   as   telangiectasias   noutras   localizações,   sendo   indicador   de  

estase  venosa  severa,  com  hipertensão  venosa.  Está  correlacionada  com  refluxo  distal  

e  presença  de  perfurantes  incompetentes  e,  nomeadamente  as  telangiectasias  azuis  e  

as   manchas   de   estase,   são   de   alto   valor   predictivo   para   o   aparecimento   de   lesões  

cutâneas.    

As  varizes  variam,  consoante  o  grau  de  insuficiência  e  têm  a  habitual  distribuição  por  

todos  os  sectores,  uni  ou  bilateralmente,  dependendo  do  território  lesado.  

Devemos  averiguar  a  existência  de  sintomas  e  sinais  de  insuficiência  venosa  ou  varizes,  

previamente  à  gravidez,  observar  a  evolução  durante  a  gravidez  (com  eventual  registo  

de   imagem   para   facilitar   comparações)   e   reavaliar   após   o   parto   ou   o   aleitamento,  

verificando  se  houve  regressão,  persistência  ou  agravamento.  

Exames  complementares  

O   exame   de   eleição,   é   o   ecoDoppler   colorido   venoso   dos  membros   inferiores,   que,  

além  de  ser  inócuo,  permite  estudar  a  circulação  venosa  superficial  e  a  profunda,  e  dá  

um  mapa  das  lesões.  

Se  houver  antecedentes  de  doença  venosa  profunda,  pode  ser  necessária  a  avaliação  

das   veias   pélvicas   (ováricas,   uterinas),   ou   abdominais,   também   com   ecoDoppler,   e  

fazer  análises  específicas  para  detecção  de  trombofilias.  

Varizes na grávida

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  Complicações  

As  complicações  são  as  mesmas  que  na  doença  varicosa  habitual:  alterações   tróficas  

da  pele,  ulceração,  varicorragia,  varicoflebite.  

Alterações  cutâneas    

As  alterações  da  pele  ou   tecido  celular   subcutâneo  são  raras,  porque,  para  além  das  

mulheres  serem  jovens,  as  alterações  venosas  existem  durante  um  curto  período,  pois  

há   reversibilidade   após   a   gravidez   e,   frequentemente,   o   tratamento   é   atempado   e  

preventivo.  

Úlcera  venosa  

O   traumatismo   de   uma   perna   edemaciada   e   com   insuficiência   venosa   pode   levar   a  

lesões  inflamatórias  e  mesmo  a  úlcera  crónica.  

Estas  úlceras  são  mais  frequentes  se  há  uma  alteração  percussora  prévia,   (alterações  

cutâneas  e  telangiectasias,  como  a  corona  phlebectatica).  

Trombóticas    

O  risco  de  tromboembolismo  venoso  na  grávida  é  quatro  vezes  maior  que  na  mulher  

não  grávida  com  a  mesma  idade,  com  os  consequentes  riscos  para  a  mãe  e  para  o  feto,  

resultantes   de   uma   trombose   no   sistema   venoso   profundo   (TVP   =   trombose   venosa  

profunda),  ou  eventual  tromboembolismo  pulmonar.  

A  trombose  venosa  superficial  ocorre  em  cerca  de  10  %  das  grávidas,  sob  a  forma  de  

tromboflebite  (em  veia  normal)  ou  varicoflebite  (em  veia  varicosa).  

Este  risco  aumentado,  para  além  ter  como  factor  a  existência  de  estase  provocada  pela  

dilatação   venosa   e   diminuição   da   velocidade   do   fluxo   e   do   retorno   venosos,   resulta  

também  do  estado  de  hipercoagulabilidade  próprio  da  gravidez  e  que  é  devido  a:  

.   Produção   pela   placenta   de   inibidores   da   activação   do   plasminogénio,   levando   a  

diminuição  da  actividade  fibrinolítica;  

.   Aumento   da   agregação   plaquetária.   Os   estrogénios   além   de   diminuírem   o   tónus  

venoso,   e   aumentarem   a   viscosidade   sanguínea,   diminuem   a   antitrombina   III   e  

aumentam   os   factores   VII   e   X,   aumentando   a   resposta   da   agregação   plaquetária   à  

trombina;  

.   A   dilatação   das   veias   superficiais   na   gravidez,   e   consequente   diminuição   do   factor  

activador   do   plasminogénio   tecidular   na   parede   venosa   (factor   fibrinolítico),   pode  

Varizes na grávida

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eventualmente  ser  uma  das   razões  pela  qual  aumenta  o   risco  de   tromboflebite  e  de  

varicoflebite  na  gravidez.  

Deve   ser   avaliado   o   risco   individual   e   feita   prevenção   adaptada   a   cada   situação,  

nomeadamente,  se  há  factores  predisponentes  (tromboembolismo  prévio,  obesidade,  

trombofilias,  etc.).  

A   prevenção,   para   além  das   habituais  medidas   de  posicionamento,   exercício   físico   e  

meias   elásticas,   é   feita   também   com   heparina   de   baixo   peso  molecular   (HBPM)   em  

dose  profiláctica,  se  os  factores  de  risco  o  indicarem.  

No   tratamento   utiliza-­‐se   HBPM   em   doses   terapêuticas,   atendendo   a   que   os  

anticoagulantes  orais  estão  contraindicados  na  gravidez.  

 

  Tratamento  

Há   que   investir   sobretudo   na   prevenção,   para   que   não   se  manifeste   a   insuficiência  

venosa,   e   caso   esta   surja,   iniciar   logo   tratamento   para   prevenir   uma   evolução  

desfavorável.  

Os  fundamentos  do  tratamento  são:  acalmar  a  doente;  aliviar  os  sintomas;  diminuir  ou  

parar  a  progressão  da  doença;  prevenir  as  complicações.  

O   tratamento   é   conservador,   e   as   medidas   utilizadas   actuam   igualmente   como  

prevenção.  

Inclui   medidas   essencialmente   higiénicas   com   alteração   do   estilo   de   vida,   o   uso   de  

compressão  elástica  e  eventualmente  em  alguns  casos  a  prescrição  de  medicamentos  

venoactivos.  

A  cirurgia  e  a  esclerose  das  varizes  e  telangiectasias  devem  ser  proteladas  para  depois  

do  parto.  

Nunca  operar  ou  fazer  escleroterapia  apenas  por  razões  estéticas,  durante  a  gravidez.  

Aconselhamento  sobre  alteração  do  estilo  de  vida  e  medidas  posturais  

Deve  explicar-­‐se  à  grávida  que  muitas  alterações  resultantes  da  insuficiência  venosa  e  

as   varizes   que   surgem   de   novo,  melhoram   ou   desaparecem   após   o   parto,   e   que   as  

complicações   são   raras,   nomeadamente   se   seguir   as   medidas   preventivas   e  

terapêuticas   adequadas,   que   levam   à   diminuição   da   estase   venosa   e   aumento   do  

retorno  venoso.  

Quanto  a  estas  medidas,  é  benéfico:  

Varizes na grávida

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209   205  

.  Períodos  de   repouso  ao   longo  do  dia   (15  minutos  por  cada  hora  que  passar  em  pé  

durante  o  dia),  com  elevação  das  pernas  acima  do  nível  do  coração.  Esta  posição  pode  

não   ser   tolerada   no   final   da   gravidez,   porque   o   grande   aumento   do   útero   pode  

provocar  dispneia;  

.  Elevação  dos  pés  da  cama  durante  a  noite  (altura  colocada  debaixo  dos  pés  da  cama  e  

não  com  almofadas  debaixo  das  pernas  ou  altura  debaixo  do  colchão)  –  1  cm  por  cada  

hora  que  passar  em  pé  durante  o  dia;    

.  Repouso  em  decúbito  lateral  para  diminuir  a  compressão  da  veia  cava  e  veias  ilíacas  

pelo  útero  grávido  (Fig.  1);  

.  Exercício  físico  –  que  active  a  musculatura  da  perna  e  seja  compatível  com  a  gravidez:  

andar,  nadar,  yoga,  ginástica  adequada;  

.  Evitar  longos  períodos  em  pé,  parada,  ou  sentada  de  perna  pendente,  inactiva.  

.  Não  usar  elásticos  circulares  nas  pernas;  

.  Controlar  o  aumento  de  peso  e  no  caso  de  obesidade  encorajar  a  perda  de  peso.  

A B  

Fig.  1  -­‐  Compressão  da  veia  cava  e  veias  ilíacas:  A  -­‐  decúbito  dorsal  e  B  -­‐  decúbito  lateral  

 

Terapêutica  compressiva  

Há   estudos   que   evidenciam   que   as   meias   elásticas   melhoram   o   fluxo   venoso   nos  

membros  inferiores  e  diminuem  o  diâmetro  das  veias  femorais  durante  a  gravidez  e  no  

pós-­‐parto.  

Varizes na grávida

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As  meias   elásticas   devem   ser   prescritas   como  profilaxia   ou   como   terapêutica.  Neste  

caso,   quando   do   aparecimento   dos   primeiros   sinais   de   insuficiência   venosa,   ou   logo  

desde  o  início  da  gravidez  se  já  houver  insuficiência  venosa  prévia.  

Devem  ser  usadas  durante   toda  a  gravidez  e  no  pós-­‐parto  até  à  6ª  semana,  ou  mais  

tempo,  caso  a  clínica  o  justifique  ou  se  houver  persistência  de  insuficiência  venosa.  

O  grau  de  compressão  deverá  ser  de  acordo  com  o  grau  de  insuficiência  venosa.  Maior  

com  insuficiência  venosa  mais  acentuada  e  para  o  final  da  gravidez.    

Normalmente   usam-­‐se   pressões   entre   os   20   e   os   40   mm   de   Hg,   grau   I   ou   II   de  

compressão  (embora  haja  trabalhos  que  mostram  que  uma  meia  com  pressão  de  40-­‐

45  mmHg  reduz  o  diâmetro  de  uma  veia  varicosa  para  metade  e  que  é  necessário  um  

mínimo  de  90  mmHg  para  que  o  refluxo  desapareça  e  que  o  diâmetro  da  veia  retorne  

ao  normal).    

Em   algumas   situações,   se   houver   necessidade   de   pressões   mais   elevadas,   e   para  

conforto  da  doente  (mais  fácil  de  calçar,  e  permitindo  variar  a  pressão  com  o  tipo  de  

actividade),   poderá   usar-­‐se   sobreposição   de   meias   (por   exemplo   uma   meia   até   ao  

joelho  sobre  uma  meia  até  à  raiz  da  coxa),  sendo  a  pressão  final  igual  ao  somatório  da  

pressão  das  duas  meias.    

O  tipo  de  meia  (meia  até  ao  joelho,  meia  até  à  raiz  da  coxa,  collant)  não  é  importante  e  

dependerá,   essencialmente,   do   gosto/conforto   da   doente,   sendo   o   fundamental   a  

compressão   a   nível   da   perna.   A   excepção   existe   apenas   em   alguns   casos   de  

necessidade  de   compressão  de   varizes  na   raiz   da   coxa,   quando  dependem  das   veias  

pélvicas  e  perineais.  

Agentes  venoactivos    

Está  reconhecida  a  eficácia  das  drogas  venoactivas  na  insuficiência  venosa,  com  forte  

recomendação  nas  guidelines  para  os  bioflavonoides  de   fracção  flavonóica  purificada  

micronizada.  

Não   têm   efeito   teratogénico   e   por   isso   podem   ser   usados   na   gravidez,   quando   há  

sintomatologia  que  o  justifique.  

A  duração  do  tratamento  é  de  um  a  três  meses,  repetível  em  caso  de  recorrência  de  

sintomas  após  a  descontinuação.  

Não  é  recomendado  o  uso  durante  a  amamentação,  por  falta  de  estudos.  

 

Varizes na grávida

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Escleroterapia  

É  possível  na  gravidez?  Embora  não  se  encontre  relação  causal  entre  escleroterapia  e  

efeito   adverso   na  mãe   ou   na   criança,   e   haja   trabalhos   que   referem   inexistência   de  

complicações,   não   há   dados   clínicos   suficientes   sobre   o   uso   da   escleroterapia   na  

gravidez  e  na  lactação.  Assim,  não  deve  ser  usada  durante  estes  períodos.  

As  guidelines  europeias  consideram  a  gravidez  como  uma  contraindicação  relativa  para  

a  escleroterapia.  Tem  que  ser  muito  bem  ponderado  o   risco/benefício,  em  situações  

específicas.  

Cirurgia  

Embora   a   cirurgia   das   varizes   seja   segura   durante   a   gravidez,   não   é   recomendada,  

porque,  além  da  persistência  do  factor  de  agravamento  das  varizes,  a  própria  gravidez,  

há  reversão  e  melhoria  de  algumas  alterações  após  o  parto.  

Devemos  esperar,  e  reavaliar  após  a  máxima  regressão  das  lesões,  que  ocorre  depois  

do  3º  mês  pós-­‐parto,  e  operar  posteriormente.    

Só  em  situações  extremas  deve  ser  colocada  a  hipótese  de  cirurgia  das  varizes  durante  

a  gravidez.  Quando  os   sintomas   (sensação  de  peso  ou  de  edema  ou  dor   severos)  ou  

sinais  de  estase  (dermatite,  hiperpigmentação  ou  úlcera)  forem  muitos  severos  e  não  

respondam  às  medidas  médicas  conservadoras.  

No   caso   de   uma   tromboflebite   ascendente,   poderá   fazer-­‐se   a   laqueação   do   vaso  

afectado   para   prevenir   a   propagação   do   trombo   ao   sistema   profundo.   Isto   em  

combinação  com  HBPM.    

É  possível,  eventualmente,   fazer-­‐se  uma  cirurgia  minor  paliativa,   só  de   laqueação  do  

tronco   incompetente   e   colaterais,   com   anestesia   local,   entre   o   3º   e   6º   meses   de  

gravidez,   na   tentativa   de   diminuir   a   pressão   na   safena   interna   ou   externa.   Isto,  

combinado  com  as  medidas  médicas  pode  melhorar  muito  os  sintomas.  

Tratamento  das  complicações  

Para  além  de  todas  as  medidas   já  descritas,  o  tratamento  das  complicações  deve  ser  

dirigido  especificamente  á  situação:  

.   Na   úlcera   de   perna,   é   importante   o   tratamento   local   habitualmente   usado   na   não  

grávida,  com  períodos  de  repouso  com  elevação  dos  membros  inferiores  (mantendo  a  

deambulação  e  o  exercício),  e  a  compressão  elástica.  

Varizes na grávida

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212   208  

.  Na  trombose  venosa  profunda  tratar  com  HBPM  em  doses  terapêuticas,  atendendo  a  

que   os   anticoagulantes   orais,   mesmo   os   novos,   são   contraindicados   na   gravidez.   O  

tratamento   deverá  manter-­‐se   ao   longo   de   toda   a   gravidez   e   nos   três  meses   após   o  

parto,  (pela  persistência  do  elevado  risco  de  trombose  nestes  períodos),  para  evitar  a  

progressão  do  trombo,  o  trombo-­‐embolismo  pulmonar,  ou  a  recidiva  da  trombose.  

.   Na   varicoflebite,   a   vigilância   e   anti-­‐inflamatórios,   eventualmente   locais,   podem   ser  

suficientes  quando  em  pequenas  zonas  limitadas,  mais  distais.    

Na  varicoflebite  mais  extensa  ou  na  tromboflebite,  embora  controversa,  há  tendência  

para  fazer  heparina  de  baixo  peso  molecular  em  dose  terapêutica  ou  dose  profiláctica  

alta,  durante  pelo  menos  cinco  dias.  A  HBPM  tem  acção  terapêutica  (diminuição  da  dor  

e   evolução   para   lise   do   trombo)   e   é   também   profiláctica   de   TVP.   Se   estiverem  

presentes  mais  factores  de  risco,  dever-­‐se-­‐á  manter  uma  dose  profiláctica.  

Também   numa   varicoflebite   que   provoque   muitas   dores,   poderá   ser   útil   executar  

pequenas   flebectomias   com   excisão   do   trombo,   quando   ainda   não   aderente.   A  

anestesia   local,   desde   que   pontual   e   com   baixas   doses   de   lidocaína   não   tem  

contraindicação  significativa  durante  a  gravidez.  

.   No   caso   de   uma   tromboflebite   ascendente,   poderá   fazer-­‐se   a   laqueação   do   vaso  

afectado,  para  prevenir  a  propagação  do  trombo  ao  sistema  profundo,  em  simultâneo  

com  HBPM.    

É   fundamental   o   uso   de   meias   elásticas,   mesmo   depois   do   parto,   para   prevenir   as  

lesões  habituais  da   síndrome  pós-­‐trombótica   (edema,  alterações   cutâneas,  úlcera  de  

perna).  

 

 

  VARIZES  VULVARES  E  PERINEAIS  

 

Recordando   a   anatomia,   as   veias   vulvares   ou   vulvovaginais   drenam   pelas   seguintes  

vias:  

.  anteriormente,  para  as  pudendas  externas,  que  se  lançam  na  junção  safeno-­‐femoral  e  

por  esta  via  para  o  sistema  da  veia  ilíaca  externa.  

.  abaixo,  para  as  veias  perineais,  e  destas  para  a  safena  interna.  

.  posteriormente,  para  as  pudendas  internas  e  destas  para  a  veia  ilíaca  interna.  

Varizes na grávida

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.  acima,  há  anastomoses  com  o  plexo  venoso  uterovaginal  e  ovárico.  

.   há   conecções   com   veias   pélvicas   via   veia   obturadora,   a   veia   circunflexa   ilíaca  

superficial  e  com  a  região  inguinal    e  perfurantes  perineais.  

Assim,   as   veias   vulvares   têm   comunicações   com   veias   da   parede   pélvica   e   órgãos  

internos  (vagina,  útero,  ovário),  com  as  veias  ilíacas  internas  e  externas  e  através  das  

veias  perineais,  também  com  a  face  interna  da  coxa.    

As   veias   vulvares   têm   uma   parede   fina,   com   muitas   fibras   elásticas,   receptores  

hormonais,  e  poucas  fibras  musculares.  

As  varizes  vulvares  não  têm  a  ver  com  dilatação  provocada  pelo  aumento  do  volume  

circulatório   observado   na   gravidez,   mas   sim   com   alterações   condicionadas   pelo  

aumento  de  estrogénios  e  progesterona,  dos  quais  são  órgão  alvo  pela  existência  de  

receptores  na  sua  parede.  

Por  passarem  despercebidas,  a  sua  incidência  é  eventualmente  subestimada.  A  grávida  

não  se  queixa,  por  ausência  de  sintomas  ou  por  pudor.  O  médico   também  não  as  

procura.  

Surgem  em  10  %  das  grávidas,  raramente  na  1ª  gravidez,  e  geralmente  só  no  5º  mês  de  

uma  segunda  gravidez.  O  risco  aumenta  com  o  número  de  gravidezes.    

Tendem  a  desaparecer  espontaneamente  ou  diminuir  significativamente  após  o  parto  

(raramente  visíveis  logo  após  um  mês).  O  tempo  de  persistência  é  tanto  maior  quanto  

mais  longo  for  o  período  de  amamentação  (revelando  a  influência  hormonal).  

Para  além  dos  pequenos  e  grandes  lábios  podem  estender-­‐se  à  vagina,  região  inguinal,  

perineal  e  perianal  e  à  face  interna  da  coxa.    

Frequentemente  assintomáticas,  mas  podendo  dar   sintomas  de   flebopatia  hormono-­‐

induzida  (edema,  sensação  de  peso,  fadiga,  queimadura,  prurido,  maceração  cutânea),  

desconforto   com   a   marcha,   dispareunia,   ou   ser   dolorosas   sobretudo   se   muito  

dilatadas.    

Por  vezes  estão  associadas  telangiectasias  e  veias  reticulares.  

A  trombose  e  a  hemorragia  são  raras.  

As  varizes  vulvares  não  são  contraindicação  para  parto  vaginal.  A  hemorragia  é  rara  e  

resolvida   com   compressão   ou   laqueação   do   vaso   sangrante.   As   varizes   vaginais  

poderão  no  entanto  ser  indicação  indirecta  para  cesariana.  

Varizes na grávida

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Se  existem  fora  da  gravidez  há  que  averiguar  outras  causas:  síndroma  (S)  de  congestão  

pélvica;   S.   de   compressão   da   veia   ilíaca;   S.   pós-­‐trombótica   com   obstrução   da   veia  

ilíaca.    

O  estudo  é  feito,  preferencialmente,  com  ecoDoppler,  deixando  para  depois  do  parto  

exames  mais  agressivos  (angioTAC,  RM,  venografia  selectiva).  

O   ecoDoppler   está   indicado   também   quando   as   varizes   vulvares   aparecem  

precocemente  no  início  da  gravidez  ou  na  1ª  gravidez,  quando  são  unilaterais  ou  se  há  

trombose.  

 

  Tratamento  das  varizes  vulvares  

Atendendo  a  que  são  muitas  vezes  assintomáticas  e  melhoraram  ou  desaparecem  após  

o  parto,  o  tratamento  é  considerado  só  se  houver  sintomas  que  o  justifiquem.  Deve  ser  

um   tratamento   sintomático   durante   a   gravidez,   deixando   para   depois   do   parto,  

quando  persistirem  varizes  sintomáticas,  o  tratamento  curativo,  preferencialmente  por  

escleroterapia,  ou  eventual  cirurgia  (flebectomia/laqueação  de  perfurantes).  

O  tratamento  durante  a  gravidez  é  conservador,  sintomático,  recorrendo  a:  

.  Gel  refrescante;  

.  Arrefecimento  -­‐  “compressa”  térmica;  

.  Penso  compressivo;  

.  Dipositivo/Cinto  de  suporte  compressivo;  

.  No  prurido  -­‐  solução  espuma  sem  sabão;  pomada  de  óxido  de  zinco  de  base  aquosa;  

anti-­‐histamínicos;  

.  Na  dor  e  sensação  de  peso  -­‐  agentes  flebotónicos  em  altas  doses  -­‐  bioflavonoides  de  

fracção  flavonóica  purificada  micronizada;  

.  Na  hemorragia  -­‐  terapêutica  compressiva;  laqueação;  

.  Na  trombose  das  varizes  vulvares,  tal  como  na  tromboflebite  superficial  dos  membros  

inferiores,  a  tendência  é  fazer  heparina  de  baixo  peso  molecular,  dose  profiláctica  alta,  

durante  pelo  menos  cinco  dias:  Tem  acção  terapêutica  (diminuição  da  dor  e  evolução  

para  lise  do  trombo)  e  é  também  profiláctica  de  TVP.  

Tratamento   cirúrgico   só   em   casos   especiais   –   por   exemplo,   laqueação   na   crossa   na  

trombose  da  pudenda  externa.  

Varizes na grávida

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A  escleroterapia,  o  tratamento  de  eleição  nas  varizes  vulvares,  embora  seja  possível  na  

gravidez,  é  raramente  efectuada,  pois  os  benefícios  são  incertos  no  contexto  hormonal  

desfavorável  existente.  

   

 

  VARIZES  PÉLVICAS  

 

A  Insuficiência  Venosa  Pélvica  (IVP),  definida  como  incompetência  da  veia  ovárica,  da  

veia  ilíaca  interna  ou  de  ambas,  é  causa  de  Síndroma  de  Congestão  Pélvica,  por  sua  vez  

responsável  por  dor  pélvica  crónica.  

A  veia  ovárica  esquerda  lança-­‐se  na  renal  esquerda  e  a  ovárica  direita  na  cava  infra  ou  

justa  renal,  onde,  frequentemente,  têm  válvulas  (Fig.  2).  

 

 Fig.  2  -­‐  Circulação  venosa:  Colaterais  na  junção  safeno-­‐femoral  à  direita;  

                                         Varizes  pélvicas  e  vulvares  à  esquerda.    

As  veias  ováricas  muitas  vezes  não  são  veias  únicas,  mas  uma  rede  multicanalicular,  e  

têm   conecções   com   as   veias   lombares   ascendentes   e   retroperitoneais,   o   que   pode  

condicionar  a  persistência  de  refluxo  retroperitoneal  e  a  recorrência  de  sintomas  após  

Varizes na grávida

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tratamento.  Há  também  conecções  com  as  veias  uterinas,  vulvares,  rectais  e  da  porção  

superior  da  coxa.  

A   veia   ilíaca   interna   recebe   fluxo   das   veias   útero-­‐ováricas,   hemorroidárias   e   plexo  

venoso   sagrado.  Quando   incompetente,   provoca   hipertensão   venosa,   produz   varizes  

pélvicas,  e  poderá  também  explicar  a  exacerbação  das  hemorróidas  na  gravidez.  

Os   estudos   sobre   a   fisiopatologia   da   insuficiência   venosa   pélvica,   são   ainda  

incompletos  e  com  muitos  viés.  

A   IVP,   tal   como   a   insuficiência   venosa   dos   membros   inferiores,   é   de   etiologia  

multifactorial,   sendo   factores   importantes   a   predisposição   genética,   o   efeito  

hormonal,   e   nomeadamente   a   gravidez.   Nesta,   os   estrogénios   e   a   progesterona   ao  

actuarem  na  parede  venosa  e  aparelho  valvular,  têm  efeito  vasodilatador.    

As  veias  ováricas,  de  parede  fina,  ficam  normalmente  dilatadas  durante  a  gravidez.  O  

estradiol  provoca  dilatação  selectiva  das  veias  ováricas  e  uterinas.    

Além   disso,   na   gravidez,   as   veias   ováricas   e   pélvicas   estão   sujeitas   ao   esforço   do  

habitual   aumento   de   volume   e   de   fluxo   circulatório   existentes   na   gravidez,   e   à  

compressão  pelo  útero  grávido.  Também  a  angulação  da  veia  ovárica  pelo  aumento  de  

peso  e  alterações  posicionais,  pode  condicionar  congestão  venosa.  

Após   a   gravidez,   o   diâmetro   da   veia   ovárica   pode   não   voltar   aos   valores   basais   e   o  

efeito   repetido   de   múltiplas   gravidezes   tornar   a   dilatação   irreversível,   implicando  

afastamento  das  valvas  e  insuficiência  valvular,  condicionando  refluxo  venoso  pélvico  e  

consequentes  varizes  pélvicas,  e  hipertensão  venosa  crónica.  Esta  leva  a  estase  capilar  

com   retensão   de   leucócitos   e   resposta   inflamatória   provocando   a   sensação   de  mal-­‐

estar  (dorido)  ou  mesmo  dor  na  zona  afectada.  

Os   sintomas   melhoram   com   o   decúbito,   por   esvaziamento   das   veias   pélvicas   e  

diminuição  do  seu  diâmetro.  

As   varizes   pélvicas,   podem   surgir   durante   ou   após   a   gravidez,   mas   também   em  

mulheres  que  nunca  engravidaram,  e  por  vezes  são  achados  assintomáticos.  

A  incompetência  é  bilateral  ou  frequentemente  unilateral,  mais  na  ovárica  esquerda  e  

na  ilíaca  interna  direita.    

As   varizes   pélvicas   classificam-­‐se   em   primárias,   por   insuficiência   venosa   valvular  

primária,   ou   secundárias,   por   refluxo   secundário   a   processos   de   obstrução   venosa  

central,  funcional  ou  orgânica,  dos  quais  se  destacam:  

Varizes na grávida

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.  S.  May  Turner  ou  S.  de  compressão  da  veia  ilíaca  -­‐  compressão  da  veia  ilíaca  comum  

esquerda   pela   artéria   ilíaca   comum   direita,   com   fluxo   retrógrado   para   a   veia   ilíaca  

interna  e  colaterais  pélvicas;  

.  Malformações  vasculares  congénitas:  malformações  venosas  ou  arteriovenosas;  

.  S.  pós  trombóticas  (trombose  venosa  profunda);  

.   Compressão   extrínseca   (por   exemplo   tumores)   ou   angulações   (processos  

aderenciais).  

O   refluxo   venoso   pélvico   é   por   vezes   condicionante   de   insuficiência   venosa   dos  

membros   inferiores,  mesmo   sem   insuficiência   da   junção   safeno-­‐femoral,   ou   quando  

esta   já   foi   laqueada,   e   é   causa   de   recorrência   varicosa,   após   cirurgia   de   varizes   dos  

membros  inferiores.  

A   veia   ilíaca   interna   está   conectada   pelas   colaterais,   à   junção   safeno-­‐femoral,   e   ao  

membro   inferior,   via   pudenda   e   perineais,   transmitindo   deste   modo   a   hipertensão  

existente  a  montante  até  ao  membro  inferior,  com  aparecimento  de  varizes  na  raiz  da  

coxa  e  face  posterior  da  coxa  ou  mesmo  até  à  perna,  via  veia  de  Giacomini.  

Há  vários  trabalhos  que  revelam  existência  de  refluxo  venoso  pélvico  em  recidivas  de  

varizes.  

O   refluxo   venoso   e   as   varizes   pélvicas   nem   sempre  dão   sintomas,  mas   podem   ser   a  

causa  da  síndroma  de  congestão  pélvica.  

Tal   como   acontece   com   a   etiopatogenia,   há   semelhança   entre   os   sintomas   de  

insuficiência   venosa   nos  membros   inferiores   e   os   da   insuficiência   venosa   pélvica   ou  

Síndrome   de   Congestão   Pélvica   (SCP),   só   que   localizados   à   região   pélvica.   Estes  

sintomas   são   típicos   (permitindo   diagnóstico   diferencial   com   outras   causas   de   dor  

pélvica):   sensação  de  peso  ou  dor  pélvica,  crónica,  posicional,  que  agrava  na  posição  

de  pé  ou  sentada,  com  agravamento  ao  longo  do  dia,  e  que  alivia  com  o  decúbito.  Fora  

da  gravidez,  não  são  cíclicos,  nem  relaccionados  com  as  menstruações.  

Esta  síndroma  contribui  como  causa  em  cerca  de  30  %  das  dores  pélvicas  crónicas.    

A  Dor  Pélvica  Crónica,  que  afecta  potencialmente  40  %  das  mulheres,  é  definida  como  

dor  pélvica  ou  abdominal  inferior,  crónica,  que  persiste  intermitente  ou  contínua,  por  

mais   de   seis   meses,   não   associada   ao   ciclo   menstrual,   nem   apenas   no   coito   ou   na  

Varizes na grávida

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gravidez.   Não   é   uma   doença,   mas   sim   um   sintoma   secundário   a   várias   outras  

patologias   (ginecológica,   útero-­‐ovárica,   endometriose,   urinária,   gastrointestinal,  

aderências,  ortopédica  etc.).  

A  SCP  está  associada  a  varizes  pélvicas  ou  vulvares,  e   frequentemente  a   insuficiência  

da  veia  ovárica.  Entre  as  mulheres  estudadas,  a  insuficiência  da  veia  ovárica  existe  em  

10   %   dos   casos,   e   nestes   cerca   de   60   %   desenvolvem   SCP.   Isto   quer   dizer   que   a  

síndrome  é,  provavelmente,  sub-­‐diagnosticada.  

Excluídas   as   várias   patologias   atrás   referidas   como   causa   de   dor   pélvica,   muitas  

mulheres   são   indevidamente   rotuladas   de   patologia   do   foro   psiquiátrico,   e   não   são  

devidamente   estudadas.   As   alterações   psicológicas   (ansiedade,   depressão)   são  

resultado  e  não  causa  do  problema.  

A  avaliação  e  determinação  da  insuficiência  venosa  como  causa  da  dor  pélvica  crónica  

pode  ser  difícil.  São  úteis  a  clínica  e  exames  complementares.  

 

  Clínica  

.  Características  típicas  da  dor.  

.  Multiparidade.  

.  História  ou  presença  de  varizes  glúteas,  vulvares  ou  perineais.  

.  A  exacerbação  pós-­‐coito  pode  persistir  horas.  

.  Tende  a  melhorar  após  a  menopausa.  

.   Existência   de   varizes   proximais,   face   interna   da   coxa   (território   da   veia   pudenda),  

sobretudo  se  a  junção  safeno-­‐femoral  está  competente  ou  em  recidiva  de  varizes  pós-­‐

safenectomia.  

 

  Exames  complementares  

Os   exames   ainda   são   controversos   quanto   aos   resultados,   continuando   em  

investigação   a   definição   de   parâmetros   e   estudos   comparativos,   entre   ecoDoppler  

transvaginal   e   transabdominal,   angioTAC,   angioRM,   venografia   selectiva   ovárica   e  

ilíaca.  

Além   da   ecografia,   todos   os   outros   exames   vão   ser   diferidos   para   depois   do   parto,  

pelos  riscos  durante  a  gravidez.  

 

Varizes na grávida

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  Tratamento  

No  tratamento  da  síndrome  de  congestão  pélvica  têm  sido  feitos  tratamentos  médicos  

com   supressão   ovárica   (medroxiprogesterona,   análogos   de   hormona   libertadora   de  

gonadotrofina,   etc.),   outras   drogas   (di-­‐hidroergotamina,   anti-­‐inflamatórios,  

gabapentina,   amitriptilina,   etc.)   e   cirúrgicos   (laqueação   laparoscópica,   histerectomia,  

ooforectomia).  

Mais   recentemente   são   recomendadas   as   técnicas   endovasculares   oclusivas:  

escleroterapia   por   cateter   ou   embolização   com   “coils”.   A   cirurgia   de   laqueação   ou  

excisão  da  veia  ovárica  fica  reservada  só  para  os  casos  resistentes  aos  métodos  menos  

invasivos.  

Claro  que  todos  estes  tratamentos  terão  que  ser  diferidos  para  depois  do  parto.    

Durante  a  gravidez  utilizam-­‐se  apenas  as  medidas  higiénico-­‐posicionais  e  compressão  

venosa  (já  referidas  anteriormente),  que  darão  alívio  sintomático  e  bioflavonoides  de  

fracção  flavonóica  purificada  micronizada,  se  a  clínica  o  justificar.  

 

  CONCLUSÕES  

 

A  gravidez  é  um  factor  de  desencadeamento  ou  agravamento  da  insuficiência  venosa.  

Muitas   das   alterações   desencadeadas   pela   gravidez   revertem   ou   melhoram   após   o  

parto  ou  quando  termina  o  aleitamento.  

Deve   fazer-­‐se   profilaxia   da   insuficiência   venosa   na   gravidez,   para   contrariar   os   seus  

efeitos  deletérios  sobre  as  veias.  

O   tratamento   das   varizes   na   gravidez   é   conservador,   com   medidas   higiénico-­‐

posicionais   e   meias   elásticas,   tratamentos   locais   e   eventualmente   o   uso   de  

bioflavonoides  de  fracção  flavonóica  purificada  micronizada.  

A  cirurgia  e  a  esclerose  das  varizes  e  telangiectasias  devem  ser  proteladas  para  depois  

do   parto,   após   reavaliação   das   lesões   que   não   regrediram,   só   então   efectuando   as  

terapêuticas  mais  agressivas,  já  sem  risco  para  a  grávida  e  o  feto.    

 

 

 

 

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Varizes na grávida

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Anexo  1  –  Folheto  informativo  ao  doente  

 

  Caro  doente:  

Ao   ser  operado  às  varizes  dos  membros   inferiores,  achamos  útil  prestar-­‐lhe  algumas  

informações:  

 

A  sua  doença  

O  sangue  que  chega  do  coração  aos  membros  inferiores  através  das  artérias,  regressa  

depois  de  novo  ao  coração  através  das  veias.  Há  dois  sistemas  principais  de  veias  dos  

membros  inferiores,  as  veias  profundas  e  as  superficiais.  

As  veias  profundas  são  as  mais  importantes  e  as  principais  responsáveis  pelo  regresso  

do   sangue   ao   coração.   As   veias   superficiais   têm   um   papel   acessório   e   quando   com  

varizes  perdem  esse  papel  e  devem  ser  retiradas.  

Há   duas   principais   veias   superficiais   nos   membros   inferiores,   a   grande   safena  

(antigamente   chamada   a   veia   safena   interna)   e   a   pequena   safena   (antigamente  

chamada  veia  safena  externa).  

A  grande  safena  corre  na  face  anterior  interna  do  membro  inferior,  desde  o  tornozelo  

até  a  virilha,  onde  se  lança  em  veia  profunda,  a  veia  femoral.  A  pequena  safena  corre  

na  face  externa  e  posterior  da  perna,  desde  o  tornozelo  até  ao  cavado  do  joelho,  onde  

se   lança   em   veia   profunda,   a   veia   poplítea.   Estas   duas   veias   recebem   vários   ramos  

superficiais  nos  seus  trajetos.  

As   varizes   são   uma   doença   das   veias   superficiais   em   que   estas   ficam   dilatadas   e  

tortuosas.   Não   é   conhecida   a   causa   exata   desta   dilatação.   Conhecem-­‐se   no   entanto  

algumas  situações  de  risco  para  o  seu  aparecimento  tais  como:  familiares  com  varizes,  

gravidez,  obesidade,  vida  sedentária  e  profissões  em  que  se  esta  muito  tempo  de  pé  

ou  sentado.  

As  varizes  são  uma  doença  progressiva  que,  além  de  inestéticas,  podem  causar  queixas  

tais  como:  sensação  de  peso  nas  pernas  ao  fim  do  dia  e,  principalmente  no  verão  ou  

durante   a   menstruação,   dor   surda   nas   próprias   varizes,   sensação   de   picadas   ou  

comichão   e   caibras   frequentes.   Estas   queixas  melhoram   com  o   descanso   e   elevação  

dos   membros   inferiores,   bem   como   o   uso   das   meias   elásticas   e   medicamentos  

venoativos.  

Anexo 1

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As   varizes   podem   ter   complicações   agudas,   tais   como   romperem   e   provocarem  

hemorragia.   Esta   rutura   pode   ser   devida   a   um   traumatismo   ou   ser   espontânea,   ou  

sofrerem  uma  trombose  (varicoflebite),  ficando  as  varizes  transformadas  num  cordão  

duro,  vermelho  e  doloroso.  

Na   ausência   de   tratamento,   as   varizes   podem,   com   o   tempo,   complicar-­‐se   de  

pigmentação   acastanhada   da   pele   no   terço   inferior   da   perna,   ficando   a   pele  

endurecida  e  fibrosada,  com  dermatite  ou  eczema  podendo  mesmo  evoluir  para  uma  

ulcera  venosa.  

 

O  tratamento  das  varizes  dos  membros  inferiores  

Os   objetivos   do   tratamento   são   melhoria   estética,   alívio   das   queixas   e   evitar  

complicações.  

Para  alívio  das  queixas  o  médico  pode  prescrever  medicamentos  venoativos  e  uso  de  

meias  elásticas.  

A  cirurgia  é  um  dos  tratamentos  fundamentais  para  as  varizes.  

A   cirurgia   irá   retirar,   com   pequenas   incisões   cutâneas,   as   varizes   e,   se   indicado,  

interromper  a   ligação  das  veias  superficiais  com  as  profundas  a  nível  da  virilha  ou  do  

cavado  do  joelho.    

Quando   a   veia   grande   safena   está   afetada,   poderá   ser   retirada   com   uma   técnica  

cirúrgica   chamada   de   “stripping”   ou   com   outras   técnicas,   que   o   cirurgião   poderá  

explicar.  

A  retirada  das  veias  superficiais  com  varizes  não  afeta  a  sua  circulação  venosa,  já  que  

estas   já   se   encontravam  com  mau   funcionamento  e   a   circulação   continua   a   fazer-­‐se  

pelas  veias  superficiais  sem  varizes  e,  essencialmente,  pelas  veias  profundas.  

Para  escolher  a  cirurgia  apropriada  o  cirurgião  pediu-­‐lhe  antes  da  operação  um  exame  

de  ecoDoppler.  

A  cirurgia  é  feita  no  bloco  operatório  com  anestesia  geral  ou  epidural/raquianestesia,  

conforme  será  explicado  pelo  anestesista.  

A  cirurgia  é  feita  em  regra  como  cirurgia  ambulatória,  ou  seja,  é  internado  de  manhã  

(08:00  h)  e  terá  alta  para  o  domicílio  pelas  20:00  h.  

 

 

Anexo 1

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Cuidados  a  ter  após  a  cirurgia  

Em  regra  inicia  o  levante  duas  a  quatro  horas  após  a  cirurgia  e  irá  retomar  a  sua  vida  

diária,  progressivamente,  a  partir  do  dia  seguinte.  O  regresso  ao  trabalho  depende  do  

tipo  de  trabalho,  sendo  em  regra  de  dois  a  oito  dias.  

Apos  a  cirurgia  irá  usar  uma  meia  elástica  especial  (Medi  Struva  23mmHg)  que  lhe  foi  

colocada  pelo  cirurgião  e  que  irá  manter  até  à  consulta  a  seguir  a  cirurgia.  

Na  consulta  após  a  operação,  o  cirurgião  retira-­‐lhe  esta  meia  e  decide  da  necessidade  

de  manter  meias   elásticas   adequadas   durante  mais   tempo.   Para   evitar   as   dores   são  

administrados  medicamentos  próprios  nas  primeiras  horas.  

Cuidados  a  ter  quando  voltar  para  casa  

Quando   chegar   a   casa   poderá   retomar   a   sua   alimentação   habitual,   mas   a   primeira  

refeição  deverá  ser  ligeira.  

Se   tiver   dores   poderá   tomar   Paracetamol   ou   Aspirina®.   Se   tomava   medicamentos  

antes  de  ser  operado  deverá   retomar  essa  medicação.  Deve  retomar  a  sua  atividade  

diária  e  evitar  ficar  de  pé  parado  ou  sentado  por  períodos  longos.  Ao  tomar  banho  terá  

que  evitar  molhar  a  meia  elástica.    

Nenhuma  cirurgia  é  isenta  de  riscos  e  a  cirurgia  das  varizes  também  não  é,  no  entanto,  

os  seus  riscos  e  complicações  são  muito  reduzidos  e  poderá  discutí-­‐los  com  o  cirurgião  

quando  da  decisão  de  operar.  Na  sequência  da  cirurgia  podem  surgir  pequenas  nódoas  

negras   nas   coxas   que   resultam   de   extravasamento   de   sangue   por   baixo   da   pele.  

Desaparecem  em  duas  a  três  semanas  e  não  representam  problema  grave.    

Sendo  as  varizes  uma  doença  progressiva,  é  recomendado  ser  observada  pelo  cirurgião  

uma  vez  por  ano,  para  prevenir  ou  tratar  precocemente  o  eventual  aparecimento  de  

novas  varizes.  

Anexo 1

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