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ISSN 2317-661X Vol. 07 – Num. 01 – Março 2015
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UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS PELOS GRUPOS DE IDOSOS E DE
JOVENS NO MUNICIPIO DE PARARI - PB
Inácio Romão dos Santos Neto¹, Maria da Guia Lucena Alves¹, Marcela Tarciana Cunha
Silva Martins²
1. Alunos do Curso de Biologia UVA/[email protected]
2. Orientador. Bióloga Professora de Biologia da UVA/UNAVIDA. [email protected]
RESUMO: Com a evolução do conhecimento científico, a utilização de métodos alternativos pelo uso das
plantas, é de baixa frequência, fato que ocorre principalmente devido à distribuição de medicamentos alopáticos
pelo governo federal. Mediante exposto o objetivo da pesquisa foi verificar a utilização de plantas medicinais
em grupos de idosos e jovens do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do município de
Parari-PB. Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra contendo 20 idosas e 15 jovens no período de
abril a maio de 2014, tendo como instrumento um questionário com perguntas objetivas e subjetivas, enfocando
o grau de conhecimento dos respondentes acerca das plantas e das orientações quanto à fonte de obtenção. De
acordo com os resultados, as plantas medicinais mais utilizadas, pelas idosas e jovens, foram: Lippia alba Cham
(erva cidreira), Punica granatum L. (romã), Peumus boldus Molina (Boldo), Cymbopogon citratus (DC) Stapf.
(Capim santo), Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr. (hortelã graúda) e Mentha spicata L. (hortelã miúda.
Conclui-se que o chá ainda é a forma de uso das plantas mais comum entre os grupos, que por muitas vezes é
coletada diretamente de horta cultivada em residência própria, sendo as partes das plantas mais utilizadas para
fins terapêuticos à folha com 76,20%, seguida pela casca com 14,28% e a semente com 9,52%, sendo a sua
utilização adequada quando comparadas com a literatura. A indicação das plantas utilizadas pelos participantes
da pesquisa foi unânime entre os dois grupos, no qual relataram que a família foi a grande responsável pelas
indicações seguida pelos vizinhos. Faz-se necessário a implantação de medidas de informação e educação que
contribuam para o uso consciente das plantas medicinais, sensibilizando a nova geração sobre o uso das mesmas,
que tem se perdido ao longo das décadas, devido, em parte ao avanço da medicina.
Palavras-chave: Ervas medicinais. Medicamentos alopáticos. Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos.
ABSTRACT: With the evolution of scientific knowledge, the application of alternative methods for the use of
plants presents a low rate frequency, a fact that is mainly due to the distribution of allopathic drugs by the federal
government. Through the above, the research objective was to verify the use of medicinal plants in groups of
elderly and young people from the Coexistence and Strengthening Linkages Service (SCFV) of the municipality
of Parari-PB. It was used for the research a sample containing 20 female elderly and 15 young people in the
period from April to May 2014 and a questionnaire, as a tool, with objective and subjective questions, focusing
on the respondent’s degree of knowledge about the plants and guidelines regarding obtaining source. According
to the results, most medicinal plants used by the female elderly and young people were: Lippia alba Cham
(lemon balm), Punica granatum L. (pomegranate), Peumus boldus Molina (boldo), Cymbopogon citratus (DC)
Stapf. (lemon grass), Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr. (Mexican mint) e Mentha spicata L. (spear mint). Tea
is still the most common use way of plants between groups, which is often collected directly from garden
cultivated in their own residences and the leaf has been the most used therapeutically part of the plant with
76.20% followed by 14.28% of the bark and 9.52% of the seed, which use has been considered appropriate when
compared with literature purposes. The indication of the plants used by the research participants was unanimous
between the two groups, which reported that the family, followed by neighbors, was the largely responsible for
the indications. However, it is necessary the deployment of information and education measures to contribute to
the conscious use of medicinal plants, sensitizing the young generation on the use of them, which has been lost
over the decades due partly to the advancement of medicine.
Keywords: Medicinal herbs. Allopathic medicines. Coexistence and Strengthening Linkages Service.
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INTRODUÇÃO
O consumo de plantas medicinais é um dos mais antigos costumes utilizados para o
tratamento de doenças em alguns países. Muito do que se sabe hoje a respeito de tratamentos
com plantas provém do conhecimento popular. Embora haja uma evolução do conhecimento
científico, a utilização de métodos alternativos pelo uso das plantas ainda é muito frequente,
fato que ocorre principalmente devido ao alto custo dos medicamentos alopáticos e a
facilidade de obtenção das mesmas.
O despertar do interesse acadêmico pelos conhecimentos populares sobre plantas
medicinais provêm do fato de que a base de conhecimento popular pode ser testada e
verificada cientificamente. Nos últimos anos a indústria farmacêutica utiliza plantas
medicinais para o desenvolvimento de novas drogas. Estima-se que 25% das drogas prescritas
contenham princípios ativos derivados de plantas (TIWARI; JOSHI, 1990). Fato este
comprovado pelas estimativas de que 134.000 plantas vasculares são utilizadas com
propósitos medicinais (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007).
O acúmulo de conhecimentos empíricos sobre a ação dos vegetais vem sendo
transmitido desde as antigas civilizações até os dias atuais, e a utilização de plantas
medicinais tornou-se uma prática generalizada na medicina popular (DORIGONI et al., 2001;
MELO et al., 2007). De acordo com Tresvenzol et al. (2006), o conhecimento sobre plantas
medicinais representa muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e
grupos étnicos.
Em relação à medicina caseira verifica-se que o uso de plantas em forma de chás,
xaropes, infusões, lambedor e garrafada é bastante difundido em nosso meio. Por outro lado é
limitado o conhecimento acerca dos princípios ativos contidos nas mesmas. A evolução das
indústrias químicas e farmacêuticas fez com que a medicina passasse a preferir substância
puras sintéticas, com isso parte da cultura popular foi depreciada, havendo descrédito sobre a
terapêutica caseira com plantas e desestimulando a pesquisa necessária nessa linha
(ANNICHINO et al., 1986).
Trabalhos com plantas medicinais proporcionam informar e sensibilizar a população
geral (jovens, adultos e idosos) sobre o uso medicinal das plantas e suas propriedades. Tendo
em vista que essa medicina é peculiar, mas de grande valor nutritivo e fisioterapêutico, é
fundamental que cada um receptor destas plantas utilize de maneira cuidadosa, buscando
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sempre orientação de como e quando usá-las. Mediante exposto o objetivo da pesquisa foi
verificar a utilização de plantas medicinais em grupos de idosos e jovens do Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do município de Parari-PB.
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quali-
quantitativa. De acordo com Santos (2009) as técnicas quantitativas buscam analisar o
comportamento das variáveis individualmente ou na sua relação de associação ou de
dependência com outras variáveis (quando há casualidades).
A pesquisa foi desenvolvida com um grupo de idosas e jovens (Figura 1) do Serviço
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Figura 2), localizado no centro do município
de Parari-PB. O Município conta com uma população de 1.437 habitantes e está localizado na
microrregião do Cariri Ocidental e mesorregião da Borborema, uma das quatro que compõem
o Estado da Paraíba. Ocupa uma área de 151 Km², com as seguintes coordenadas geográficas:
07º18’58’’ de Latitude Sul e 36º39’14’’ de Longitude Oeste. Limita-se com os municípios de
Santo André, Gurjão, São João do Cariri, Serra Branca, São José dos Cordeiros e Taperoá. O
município possui um clima quente e seco, com máximas de 32º C e mínimas de 26º C (IBGE,
2010).
Figura 1: Grupo de Idosas (A) e Jovens (B) do município de Parari-PB, 2014.
A B B
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Figura 2: Mapa do estado da Paraíba, em destaque o município de Parari- PB, 2014.
Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra de 20 idosas, o que perfaz 40%
do total e em relação aos jovens a amostra foi de 50%. O trabalho foi realizado no período de
abril a maio de 2014, tendo como instrumento de pesquisa um questionário com perguntas
objetivas e subjetivas, enfocando o grau de conhecimento dos respondentes acerca das
plantas, das orientações quanto à fonte de obtenção, de quem foi à recomendação e o nível de
conhecimento dos mesmos sobre riscos e benefícios destas plantas. Para análise dos dados foi
realizada a estatística descritiva, utilizando para esta finalidade o Programa Computacional
Microsoft Office Excel 2010, sendo estes expressos através de gráficos e/ou tabelas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) é ofertado pelo MDS
(Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) em nível de Governo Federal
com parceria com a Prefeitura Municipal de Parari-Pb, através das Secretarias de Assistência
Social e Saúde, que vem propiciar uma melhor qualidade de vida para os munícipes, onde os
mesmos participam de palestras educativas, aulas de música e artesanato, como também de
atividades esportivas, tendo as idosas um maior interesse.
O grupo de idosas foi representado por 20 mulheres com idade variando entre 56 a 80
anos, em sua maioria sem escolaridade, tendo o conhecimento popular obtido através das
gerações, em relação às plantas medicinais. Já o grupo de jovens, com idades entre 13 a 20
anos, cursando o ensino fundamental ou médio, apresentou poucas informações acerca das
plantas medicinais, de acordo com as respostas no instrumento de coleta de dados, visto que
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os mesmos não tem o hábito de usá-las. Nesta pesquisa foi observado que não houve uma
padronização quanto à posologia das ervas (quantidade, número de vezes ao dia e duração do
tratamento), visto que só usam quando estão doentes. Segundo Tomazzoni; Negrelle; Centa
(2006) a transmissão dos referidos conhecimentos segue o mesmo padrão verificado em
comunidades tradicionais do interior, onde parentes e amigos indicam determinadas plantas
de forma oral e sem a verificação científica da sua eficácia, fato esse verificado em outros
trabalhos do gênero.
De acordo com dados levantados entre as idosas e jovens, 21 plantas foram citadas, 06
tendo posição de destaque entre as idosas: Lippia alba Cham (50%), Peumus boldus Molina
(35%), Cymbopogon citratus (DC) Stapf (30%), Punica granatum L. (25%), Plectranthus
amboinicus (Lour.) Spreng e Mentha spicata L., em função do maior grau de utilidade como
método alternativo no tratamento das enfermidades e 04 das mesmas foram as mais citadas
pelos jovens: Punica granatum L. (53,3%), Lippia alba Cham (46,7%), Cymbopogon citratus
(DC) Stapf (26,7%), e Peumus boldus Molina (20%), conforme Quadro 1. Através dos nomes
populares, identificaram-se os nomes científicos dessas plantas e suas indicações terapêuticas
para ver se o conhecimento popular coincidia com o conhecimento científico e se existe
alguma contra indicação das mesmas.
Segundo os participantes da pesquisa, a Punica granatum L. (Figura 3A) é indicada
como benéfica para a garganta por ser anti-inflamatória. De acordo com Matos (1998), a romã
além de ser indicada como anti-séptica, anti-inflamatória, expectorante, possui também ação
antibiótica. Os brotos das flores, secos e pulverizados, são usados para a bronquite
(LANGLEY, 2000). No México é usada para diarréia, aftas, parasitismo, abscessos, tosse,
angina, inflamação urinária e injúrias da pele (Navarro et al., 1996). Uma avaliação da
capacidade antioxidante desta planta foi testada por Pande; Akoh (2009), no qual os
resultados demonstraram que a casca teve o maior teor de taninos hidrolisáveis. Em geral, a
capacidade antioxidante foi encontrada em folhas, seguido da casca, polpa e sementes.
As folhas frescas da Lippia alba Cham (Figura 3B), na forma de infuso, segundo os
grupos, serve como calmante, tendo como única contra indicação a redução da pressão
arterial. Segundo Torres (2005) a erva cidreira tem ações comprovadas de calmante e
antiespasmódica suave, apresentando também atividade analgésica. Com referência a ação
hipotensora nada foi encontrada na literatura, mas podemos supor que a redução da pressão
arterial pode ocorrer em virtude da ação calmante que a erva apresenta.
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Plantas
Citadas
Nome Cientifico
Familia
Indicação
Contra
Indicação
Preparo
Parte
Utilizada
Adulto
%
Jovens
%
Alecrim Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae Calculo renal - Chá Folha 5,0 -
Ameixa Ximenia americana L. Rosaceae Cicatrizante - Infusão Casca - 6,7
Amora Morus nigra L. Moraceae Colesterol alto - Chá Folha 5,0 -
Arruda Ruta graveolens L. Rutaceae Dor de Ouvido - Sumo Folha 5,0 6,7
Boldo Peumus boldus Molina Lamiaceae Problema fígado
e Intestino
- Chá Folha 35,0 20,0
Cajueiro Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Cicatrizante - Infusão Casca - 6,7
Camomila Matricaria recutita L. Asteraceae Calmante Baixa a
pressão
Chá Folha 10,0 6,7
Capim Santo Cymbopogon citratus (DC) Stapf. Poaceae Calmante - Chá Folha 30,0 26,7
Chá-Preto Cammelia sinensis L. Thaceae Intoxicação - Chá Semente 10,0 -
Erva Cidreira Lippia alba Mill. Apiaceae Calmante Baixa a
pressão
Chá Folha 50,0 46,7
Erva Doce Pimpinella anisum L. Apiaceae Calmante - Chá Folha 5,0 -
Espinheira Santa Maytemus ilicifolia Mart. Ex
Reissek
Celastraceae Gastrite - Chá Folha 5,0 -
Eucalipto Eucaliptus gobulus Labill Myrtaceae Gripe - Chá Folha - 6,7
Goiabeira Psidium Guajava L. Myrtaceae Cólicas - Chá Folha 5,0 -
Hortelã Graúda Plectranthus amboinicus (Lour.)
Spreng.
Lamiaceae Tosse - Lambedor Folha 20,0 13,3
Hortelã Miúda Mentha spicata L. Lamiaceae Inflamação nos
olhos e Verme
- Chá Folha 15,0 -
Jatobá Hymenaea courbaril L. Lamiaceae Problema renal - Infusão Casca - 6,7
Laranjeira Citrus sinensis Osbeck Rutaceae Calmante - Chá Folha 10,0 6,7
Macela Egletes viscose (L.) Less.; Asteraceae Cólicas - Chá Folha - 6,7
Mastruz Chenopodium ambrosioides L. Amaranthaceae Cicatrizantes /
Gripe
- Sumo Folha 5,0 6,7
Romã Punica granatum L. Lythraceae Inflamação da
garganta
Aumenta a
pressão
Semente 25,0 53,3
Quadro 1: Plantas medicinais mais citadas pelas idosas e jovens do município de Parari-PB.
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O Peumus boldus Molina (Figura 3C), é popularmente indicada para o tratamento da
má digestão e problemas hepáticos. Segundo Sigrist (2003), o boldo serve para afecções do
fígado e do estômago, litíase biliar, cólicas hepáticas, hepatites, dispepsia, tontura, insônia,
prisão de ventre, reumatismo e gonorréia. Quanto à contra indicação, apesar de possuir várias
finalidades terapêuticas, também apresenta um potencial abortivo e irritação renal
(ALMEIDA et al., 2000).
Cymbopogon citratus (DC) Stapf. (Figura 3D), cujas folhas e raízes após decocção ou
infuso, é indicada como calmante. De acordo com Carriconde et al. (1995), a referida planta
medicinal também é utilizada para o tratamento de diarréia, hipertensão, dor de barriga, além
de apresentar ação antibacteriana, antifúngica, anticarcinogênica. Já Matos (2002) ressalta que
o chá pode ser consumido a vontade, pois o capim santo é totalmente desprovido de toxidez,
confirmando o que diz o conhecimento popular.
As folhas frescas de Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. (Figura E), após
decocção, servem para fazer lambedor, segundo os respondentes, no tratamento de gripe. De
acordo com Diniz et al., (1998), a hortelã apresenta propriedades expectorantes, atuando na
região peitoral. Segundo Matos (2002), as balas de hortelã são preparadas com 30 a 40 folhas
e 150 a 200g de açúcar até formar um xarope apurado, e posteriormente polvilha-se com
maisena ou goma de mandioca. Carriconde et al. (1995), diz que essa planta não apresenta
indicações relativas a toxidade. Porém por seu forte odor, espanta ratos. Apesar da escassez de
estudos sobre a sua eficácia e segurança a hortelã da folha graúda é amplamente utilizada no
Brasil (LORENZI et al., 2002; COSTA, 2006).
As folhas de Mentha spicata L. (Figura 3F) são utilizadas pelas idosas para
verminoses e inflamação nos olhos. Segundo Matos (2002) essa erva medicinal serve para
verminoses, dor de barriga e cólica menstrual. Já Lorenzi e Matos (2002), diz que a hortelã da
folha miúda tem ação tônica e estimulante sobre o aparelho digestivo, além de propriedades
antisépticas e ligeiramente anestésicas, sendo fortificante de glândulas, nervos e coração,
possuindo efeitos antiespasmódicos e calmante. É importante conhecer a espécie utilizada
devido ao alto teor de mentol em alguns tipos que pode ser letal por induzir parada
cardiorrespiratória. De acordo com Diniz et al. (1997) o óleo extraído das folhas produz
hipotensão e bradicardia, devido a presença de rotundifolona. Já a presença de pulegona nos
óleos extraídos da hortelã da folha miúda é indicativo de atividades microbióticas, inseticidas
e repelentes (LORENZI et al., 2002).
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Figuras 3: Plantas medicinais mais citadas pelas idosas e jovens do município de Parari-PB. A -
Lippia alba Cham, B - Punica granatum L., C - Peumus boldus Molina, D - Cymbopogon citratus
(DC) Stapf., E- Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., F - Mentha spicata L.
As plantas menos citadas pelas idosas, que os jovens não falaram, foram: Rosmarinus
officinalis L.(alecrim), Morus nigra L. (amora), Cammelia sinensis L.(chá preto), Pimpinella
anisum L.(erva-doce), Maytemus ilicifolia Mart. Ex Reissek (espinheira santa) e Psidium
Guajava L. (goiabeira). Já as mencionadas pelos jovens e não citadas pelos adultos foram:
Ximenia americana L. (Ameixa), Anacardium occidentale L. (cajueiro), Eucaliptus gobulus
Labill (eucalipto), Hymenaea courbaril L. (jatobá) e Egletes viscose (L.) Less (macela). Esses
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resultados surpreenderam, pois as plantas que as idosas não mencionaram são as mais
conhecidas e antigas no meio da medicina popular.
Os entrevistados citaram um total de 21 espécies de plantas medicinais utilizadas em
forma de chá, infuso, sumo e lambedor. Estas espécies pertencem a 12 famílias botânicas,
sendo a mais representativa, em número de espécies citadas, a família Lamiaceae (23,80%),
seguida pelas famílias Apiaceae, Asteraceae, Myrtaceae, Rutaceae e Theaceae (Gráfico 1).
Gráfico 1: Distribuição das plantas medicinais, em famílias, citadas pelas idosas e jovens do
município de Parari-PB.
No que se refere à frequência de uso das plantas medicinais todos afirmaram que só
fazem uso de alguma erva, quando estão doentes. Os referentes não possuem o hábito de
consumir por prazer ou como forma de prevenção, utilizando-se dos chás, apenas, no caso de
doenças mais simples como inflamação, cólicas, gripe e quando adoecem costumam procurar
o posto de saúde, fazendo uso de remédios alopáticos. Segundo Matos (2002), é recomendada
uma frequência de uso até quatro vezes ao dia dos chás, no máximo, em intervalos bem
separados, tomando uma xícara de cada vez. Resende 2003 afirma que, o mesmo preparado
não deve ser utilizado continuamente por mais de trinta dias, já que o organismo humano
tende a responder ao tratamento cada vez menos, ou então com doses cada vez mais elevadas,
o que pode trazer um risco de toxicidade para determinadas plantas.
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O chá ainda é a forma de uso das plantas mais comum entre os grupos, que por muitas
vezes é coletado diretamente de uma horta bem cultivada nas residências, sendo as mais
encontradas erva cidreira, hortelã da folha miúda, hortelã da folha graúda, o capim santo e a
romã. Tais resultados refletem a necessidade da população para o tratamento das doenças
relacionadas ao sistema nervoso e digestório cuja incidência não reflete nas condições sócio-
econômicas da população, por se tratar de uma comunidade bem assistida. A agricultura ainda
é o meio de subsistência mais utilizado por essas pessoas. Com isso o número de plantas
relatadas foi menor que o esperado, visto que o município de Parari-PB é uma cidade bem
arborizada e que está inserida no interior do cariri.
Com relação às partes das plantas utilizadas para fins terapêuticos foram: a folha
(76,20%), a casca (14,28%) e a semente (9,52%) (Gráfico 2). Neste ponto, os dados deste
trabalho estão de acordo com muitos outros como em Viçosa, MG (ALMEIDA et al., 2009).
O que chama a atenção é que todos os entrevistados preparam o chá de forma correta, na
forma de infuso, fervendo a água, colocando sobre a folha e flores para uso imediato,
confirmando o que diz Pinto (2006).
Gráfico 2: Partes das plantas utilizadas para fins terapêuticos, citadas pelas idosas e jovens do
município de Parari-PB.
Verifica-se que 80% das idosas aprenderam a utilizar as plantas medicinas com a
família e 20% com os vizinhos. Já entre os jovens 93% mencionaram a família e 7 % os
vizinhos (Gráfico 3), chamando a atenção para o fato de que ninguém relatou utilizar as
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plantas por meio de orientação médica. Com isso, vemos a necessidade de se resgatar de
maneira mais efetiva e segura o conhecimento popular das plantas medicinais, com cartilhas
distribuídas nos postos de saúde e nas escolas para que se perpetue esse conhecimento tão
importante e benéfico, uma padronização quanto à dosagem, forma de preparo, contra
indicações e a sua serventia.
Gráfico 3: Indicação das plantas medicinais citadas pelas idosas e jovens do
município de Parari-PB. 2014.
Oliveira; Gonçalves (2006) relataram que o surgimento do conceito de “natural” em
muito contribuiu para o aumento do uso das plantas medicinais nas últimas décadas, mas que
isto se torna de certa forma perigoso, visto que muitas pessoas imaginam que esses
medicamentos não apresentam nenhum efeito nocivo. Segundo Matos (1989) dentre os
principais riscos no uso de plantas medicinais estão: o uso descuidado de plantas tóxicas, a
utilização de plantas que contenham substâncias tóxicas de ação retardada, o uso de plantas
mofadas por terem sido mal preparadas e mantidas em recipientes e locais impróprios e o uso
de plantas indicadas ou adquiridas erradamente. Nestes casos tanto a conservação e preparo
do material, quanto à certeza de que realmente é a espécie correta, só podem ser garantidas
com base no conhecimento da literatura.
A maioria dos medicamentos alopáticos utilizada pelas idosas está relacionada ao
tratamento da hipertensão e diabetes. O uso das ervas medicinais ocorre geralmente sem o
conhecimento dos profissionais de saúde, já que eles não indicam, fazendo com que a
população se recinta de comunicar o fato. Fato esse de grande importância, pois o boldo, uma
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das seis ervas mais citadas, não deve ser usado em casos de hipertensão e gravidez
(ANDREATINI, 2000). A evolução da indústria química e farmacêutica fez com que a
medicina passasse a preferir substâncias puras e sintéticas, com isso parte da cultura popular
foi depreciada, havendo descrédito sobre a terapêutica caseira com plantas e desestimulando a
pesquisa necessária nessa linha (ANNICHINO et al., 1986). Andreatini (2000) relatou ainda,
que a resistência absoluta de profissionais quanto à prescrição de plantas medicinais com ação
comprovada, pode privar determinado paciente de uma medicação eficaz, enquanto, a
descrença destes profissionais pode gerar prescrições de plantas medicinais que podem
apresentar importantes efeitos adversos, assim como a possibilidade de interações
medicamentosas. Porém o risco de haver alguma contra indicação no uso das plantas
medicinais com medicamentos farmacológicos nessa comunidade não foi verificado, visto que
as plantas são comumente usadas em alguns casos mais simples como calmantes. Já os
jovens não tomam remédios alopáticos com frequência.
CONCLUSÕES
As espécies vegetais, de uso medicinal, mais utilizadas pelas idosas e jovens do
município de Parari-PB, foram principalmente as da família Lamiaceae, a exemplo de Peumus
boldus Molina (Boldo), Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr. (hortelã graúda) e Mentha
spicata L. (hortelã miúda), seguidas por Apiaceae, representada por Lippia alba Cham (erva
cidreira), a Poaceae pela Cymbopogon citratus (DC) Stapf. (Capim santo) e Lythraceae com a
Punica granatum L. (romã).
O conhecimento dos participantes da pesquisa, para a forma de utilização e fins
terapêuticos, é coerente quando comparadas com a literatura, porém seu uso está sendo
perdido ao longo das gerações, pois os pararienses preferem uma assistência médica, fazendo,
assim, uso de medicamentos alopáticos.
A maior parte das ervas medicinais é utilizada por via oral, na forma de chá (infuso),
sendo a folha fresca a parte vegetal usada com maior frequência pelos participantes da
pesquisa, para enfermidades simples como gripe, insônia, nervosismo e cólica.
A indicação das plantas utilizadas pelos participantes da pesquisa do município de
Parari-PB, foi unânime entre os dois grupos, no qual relataram que a família foi a grande
responsável pelas indicações seguida pelos vizinhos.
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É importante manter o conhecimento popular sobre as plantas medicinais, através de
cartilhas com a implantação de medidas de informação e educação que contribuam para o uso
consciente dessas ervas tanto no que diz respeito a sua indicação como a sua contra indicação,
sensibilizando a nova geração sobre o uso das mesmas, que tem se perdido ao longo das
décadas, devido, em parte ao avanço da medicina.
REFERÊNCIAS
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