Uso do gesso na agricultura
Bernardo van Raij1
1. Introdução
Gesso na agricultura é assunto de relevância em grandes áreas cultivadas do
Brasil, principalmente as situadas na parte central do país. O assunto tem sido objeto de
amplas discussões, que estão disponíveis em forma de publicações de revisão do estado
da arte (Ibrafos, 1986; Raij, 1988; Shainberg et al., 1989; Ibrafos, 1992; Alcordo &
Rechcigl, 1993; Sumner, 1993; Ritchey & Sousa, 1997). Além disso, deverá ser
publicado neste ano o livro “Uso do gesso na agricultura: fundamentos e aplicação”
(Raij, 2007). Assim, tendo em vista essa disponibilidade de informações sobre o uso de
gesso na agricultura, optou-se por tratar de alguns aspectos práticos para entender o
comportamento e a ação do gesso em solos agrícolas ácidos e para culturas.
Por outro lado, o escopo do trabalho não perde de vista o objetivo maior deste
simpósio, que é o de tratar de informações recentes para otimização da produção
agrícola. Parte-se do princípio que já não se discute mais a necessidade de correção da
acidez e calagem do solo e da adubação das culturas, mas que se parte de uma situação
de adequado uso da tecnologia disponível, para buscar informações que permitam novos
incrementos na produção da agricultura. Também já se considera o plantio direto a
forma de agricultura a ser implementada, devendo-se sempre ter isso em vista, mesmo
que os resultados experimentais refiram-se ao plantio convencional. Nesse contexto, o
uso agrícola do gesso é ainda um assunto a ser melhor conhecido e explorado para o
aumento da produtividade, principalmente naqueles aspectos que afetam o sistema
radicular das plantas. Ressalte-se que o uso de gesso em solos sódicos não será
discutido e nem tampouco os aspectos comuns de cálcio e enxofre como nutrientes.
Não se espera do gesso, como melhorador do ambiente radicular dos solos,
efeitos espetaculares, como os da calagem e adubação, mas efeitos, embora modestos
em cada ano, persistentes e cumulativos ao longo do tempo. Entra-se, assim, em um
campo de incrementos de produção moderados, que requerem abordagem estatística
adequada, para assegurar que os efeitos observados não se escondam na forma de
diferenças não significativas, com os aumentos de produção não se manifestando pelo
erro experimental excessivo ou pelo planejamento inadequado.
1 Instituto Agronômico, Caixa postal 28, 13001-970 Campinas, SP
Serão apresentados resultados experimentais de milho, cana-de-açúcar e soja,
para ilustrar conceitos.
2. Barreiras químicas no solos
Segundo Marschner (2002), os principais impedimentos que restringem a
penetração de raízes no subsolo, prejudicando a absorção de água e nutrientes, são
aeração deficiente, impedimentos mecânicos e acidez. No caso da acidez, os principais
fatores são deficiência de cálcio e o excesso tóxico de alumínio, muito mais
generalizado que a deficiência de cálcio.
O alumínio, elemento que ocorre de forma generalizada em solos ácidos, é o
principal fator de acidez do solo a prejudicar as culturas. O alumínio trocável ocorre de
forma generalizada em solos ácidos. Sua ação se faz sentir nas raízes das plantas, que se
alongam mais lentamente. Mais tarde elas engrossam e não se ramificam normalmente;
as pontas das raízes desintegram e adquirem cor marrom. As raízes adventícias
proliferam enquanto a coroa da planta estiver viva (Reid, 1976). Em estágios mais
avançados da toxidez, a parte aérea também é danificada, existindo correlação estreita
entre o peso das raízes e o peso da parte aérea das plantas.
No Brasil a toxidez de alumínio é de grande importância, sendo de ocorrência
generalizada na maior parte dos solos (Olmos e Camargo, 1976). A calagem pode
resolver o problema na camada superficial do solo, mas dificilmente promoverá
correção no subsolo, dentro das atuais aplicações praticadas no plantio direto.
Para os solos do Sudeste dos Estados Unidos, Adams e Lund (1966) ressaltaram
que o desenvolvimento limitado de raízes no subsolo, naquela região, foi devida
principalmente ao efeito detrimental do alumínio. Comparando solos contendo caulinita,
vermiculita ou montmorilonita, três minerais de argila bastante distintos, os autores
constataram relações diferentes entre a penetração de raízes do algodoeiro e valores
críticos de pH, alumínio trocável ou saturação por alumínio dos solos. Contudo, todos
os subsolos apresentaram uma relação comum entre a penetração de raízes e a atividade
molar de Al na solução do solo.
O papel do cálcio no desenvolvimento radicular em solos está bem estabelecido
(Marschner, 2002). Em valores de pH abaixo de 5, muitas vezes a inibição ao
alongamento radicular deve-se a formas monoméricas de alumínio. Por outro lado, o
cálcio protege as raízes do estresse causado pelo pH baixo. O fato do cálcio ser imóvel
2
no floema, não se translocando das partes aéreas para as partes mais novas das raízes em
desenvolvimento faz com que o cálcio requerido para o crescimento de raízes deva ser
absorvido da solução externa nas zonas apicais. Marschener (2002) ressalta que mesmo
quando uma quantidade adequada de calcário é misturada apenas ao solo superficial, as
raízes são severamente restringidas em sua capacidade de penetrar em subsolos ácidos.
Para as condições brasileiras, Ritchey et al. (1982) relataram que em alguns
solos altamente intemperizados do Planalto Central do Brasil, os níveis de cálcio do
subsolo foram insuficientes para proporcionar crescimento normal de raízes de trigo,
soja e milho. Em outro trabalho, Ritchey et al. (1983), utilizando um método biológico,
mostraram que severas restrições ao crescimento radicular das plantas foram observadas
quando o teor no solo se situava nos limites da faixa de 0,2 a 0,5 mmolc/dm3. Os autores
mostraram que 1,0 a 1,5 mmolc/kg de Ca no solo, como cloreto, fosfato ou carbonato,
normalizavam o crescimento de raízes.
Como lembrança histórica, ressalte-se que Ritchey e outros (1980) foram os
primeiros a realizar trabalho que não só demonstrou a existência de barreira química
para a penetração das raízes de milho no subsolo, como também apontou para uma
maneira de eliminá-la, através do uso degesso. Na Tabela 1 são mostrados alguns dados
que ilustram a problemática em discussão. Os resultados foram obtidos após cerca de
duas semanas de severa seca de um ensaio de fosfatos e o efeito positivo nas raíses foi
promovido pelo gesso do superfosfato simples (SS), em comparação com o superfosfato
triplo (ST).
Tabela 1. Efeito de superfosfato triplo (ST) e superfosfato simples na saturação de alumínio, ocorrência de raízes e teor de água no solo, em experimento com fosfatos em um Oxisol de Planaltina (DF)
Profun-didade
Saturação por alumínio Presença de raízes Teor de águaST* SS ST SS ST SS
cm % Sim ou não %0-15 1 14 sim sim 13,6 16,615-30 12 30 sim sim 18,1 19,930-45 47 21 sim sim 20,2 21,745-60 61 12 sim sim 22,7 20,660-75 62 17 não sim 23,6 20,875-90 73 18 não sim 24,3 23,390-105 90 22 não sim 25,0 23,2105-120 74 8 não sim 25,3 24,1
Fonte: Ritchey e outros (1980).*SS- Superfosfato simples; ST – Superfosfato triplo.
Os resultados da Tabela indicam que maior saturação por alumínio estava
associada ao menor aprofundamento do sistema radicular e menor absorção de água, o
que causou a murcha das plantas. Note-se que o efeito foi observado até 120 cm e que
3
na camada de 105-120 cm houve expressiva redução da saturação por alumínio, de 74%
no tratamento 01 para apenas 8% no tratamento 02.
3. Calcário e gesso: diferentes reações no solo
Para calcário, a referência que serve para comparações é o carbonato de cálcio,
CaCO3. Para gessagem, o principal componente é o sulfato de cálcio dihidratado,
CaSO4.2H2O. Na Tabela 2 são dados números teóricos das quantidades aplicadas ao
solo por esses dois sais, nas quatro representações mais comuns. Esses números
facilitam comparações e fornecem ordens de grandeza das quantidades envolvidas na
calagem e gessagem e os efeitos teóricos esperados em resultados de análise de solo. Os
valores mostram o que se pode esperar. Na prática nenhum dos dois materiais
considerados tem 100% de pureza, parte dos produtos pode não dissolver, a aplicação
não é totalmente uniforme, aumentando o erro de amostragem e, além disso tudo, há
deslocamento de íons para camadas mais profundas do solo e recuperação apenas
parcial dos elementos pela análise de solo. Por essas razões, é bastante razoável não
esperar recuperação, pela análise de solo, de muito mais do que 50% do que foi
aplicado.
Tabela 2. Composição teórica de carbonato de cálcio, de carbonato duplo de cálcio e magnésio e de sulfato de cálcio di-hidratado e efeito máximo esperado de 1 t/ha em resultados de análise de solo da camada superficial, de 20 cm de espessura.
Variável CaCO3 CaSO4.2H2OCa – g/kg ou kg/t no produto 400 294Ca – mg/dm3 no solo 200 147Ca – mmolc/dm3 no solo 10 7,4Poder de neutralização, % de CaCO3 100 0S – mmolc/dm3 no solo 0 7,4
Alguns comentários sobre os cálculos que produziram os números da Tabela 2,
começando com informações sobre as unidades de representação empregadas. Os que
atuam há mais tempo em solos, certamente lembram-se do miliequivalente, e as
representações em meq/100 cm3 de solos (ou meq/100 g de solos, no caso de
pedologia). Basicamente duas coisas ocorreram com a atualização dessas unidades: (1)
o miliequivalente apenas mudou de nome, passando a chamar-se milimol de carga, ou
mmolc; (2) a base de referência mudou, de 100 cm3 (ou 100 g) para 1 dm3 (ou 1 kg) e,
portanto, os resultados são 10 vezes maiores. Ao aplicar 1 t/ha de CaCO 3 ao solo, essa
quantidade equivale a 200 mg/dm3 ou 10 mmolc/dm3. Isso equivale a 1 meq/100 cm3, na
unidade antiga. Lembra-se que o poder de neutralização de calcários é dado em
4
equivalente carbonato de cálcio. O sulfato de cálcio, com 294 g/kg de Ca, supre o
equivalente a 7,4 mmolc/dm3 de Ca2+ ao solo, mas o poder de neutralização é zero. Da
mesma forma, é suprida uma quantidade de 235 g/ka de S, também equivalente a 7,4
mmolc/dm3 de SO42-.
É comum existir uma certa confusão entre o papel do calcário e do gesso na
“correção” do solo. Pela discussão deve ficar claro que os dois produtos são muito
diferentes. Além disso, o calcário tem uso universal em qualquer solo ácido, enquanto
que o gesso é de uso restrito a alguns solos ácidos do mundo, embora sejam os que
predominam no Brasil Central. Por outro lado, o gesso é largamente usado em regiões
de climas semi-árido ou áridos, para a remoção de excesso de sódio do solo.
O carbonato de cálcio é um sal básico e, como tal, reage com qualquer ácido,
quer seja droga de laboratório, quer seja acidez do solo. Para facilidade de
representação, a reação será mostrada com ácido simbólico HA. A reação é esta:
CaCO3 + 2HA = Ca2+ + 2A- + H2O + CO2↑
Pela reação o carbonato de cálcio neutraliza a acidez do solo, com a formação do
sal CaA2, água e o e gás carbônico. No caso solo acontece a mesma coisa, ficando as
cargas negativas expostas (correspondentes ao A-) contrabalançadas pelo Ca2+. O
importante, no caso, é o papel do íon carbonato de “receptor de prótons” ou, em outras
palavras, de íons hidrogênio, que perde seu caráter ácido ao ser incorporado em
molécula de água.
A mesma reação, com sulfato de cálcio, pode ser assim representada:
CaSO4 + 2HA = Ca2+ + SO42- + 2H+ + 2A-
Neste caso o gesso, como sal neutro, não tem ação sobre a acidez. O ânion
sulfato permanece como tal e não atua como “receptor de prótons”. Assim, o gesso não
neutraliza a acidez.
Dessa forma, a reação do gesso na camada superficial do solo, é tão somente a
de troca de cátions. O sulfato em geral não é retido na camada superficial de solos. O
ânion SO42- é lixiviado, carreando perfil abaixo quantidade equivalente de cátions. A
principal reação de gesso em solos, nessas condições, é a troca de cátions.
4. Calagem: o seu papel na correção de solos mudou?
Com o advento e disseminação do plantio direto, há uma tendência em amostrar
o solo na profundidade de 0-10 cm, ao invés de 0-20 cm, e calcular as necessidades de
calagem para neutralizar apenas essa camada. Isso esta coerente com as baixas respostas
5
à calagem que vem sendo obtidas em diferentes situações. Por outro lado, isso contrasta
com a ampla experimentação de calagem realizada em sistemas de cultivo
convencional.
Neste trabalho não se dará resposta a isso, mas serão mostrados resultados para
conduzir à reflexão sobre um assunto, calagem e gessagem, que na visão deste autor,
precisam de uma ampla revisão, dentro do espírito de otimização da produção agrícola.
A calagem é a forma mais tradicional e disseminada de corrigir a acidez dos
solos. Lembra-se que a ação esperada da calagem é a correção da acidez do solo e que
essa ação se manifesta onde o calcário, material insolúvel em água, se faz presente.
Assim, aplicações isoladas de calcário, por exemplo em sulcos de plantio, mesmo que
apresentando efeito na produção de culturas, não deve ser comparada com a calagem
tradicional, que consiste em neutralizar uma camada definida de solo através da mistura
do corretivo.
Muitos trabalhos tem mostrado que a calagem, quanto mais profunda e bem
incorporada no solo, melhor ação terá sobre a acidez do solo.
O trabalho de Gonzáles-Erico et al. (1979), realizado no cerrado do Distrito
Federal, ilustra a importância prática da incorporação de calcário (Tabela 3). É marcante
o efeito de uma incorporação mais profunda do calcário no solo. No caso foram
avaliados três cultivos apenas, mas percebe-se que o efeito da incorporação mais
profunda do calcário sobre a produção acentua-se com o tempo. Oito toneladas por
hectare de calcário incorporado a 0-15 cm, que é uma profundidade próxima da usada
em plantio convencional, têm aproximadamente o mesmo efeito na produção do que
apenas 1 t/ha de calcário aplicado de 0 a 30 cm. Note-se que aqui não se está lidando
com grandes profundidades no perfil do solo e, mesmo assim, as respostas são altas.
Contudo, a dificuldade de incorporação profunda de calcário, que sempre
existiu, torna-se mais evidente em situações de manejo em que o revolvimento do solo
não á praticado, como é o caso do plantio direto. A questão, nesse caso, é saber até que
ponto a acidez subsuperficial do solo representará uma limitação permanente da
produtividade e até que ponto calcário aplicado na superfície poderá contornar o
problema. No caso do plantio direto, uma situação como essa da Tabela 3 precisaria ser
avaliada, não só em termos de incorporação profunda, mas também de usar gesso como
uma alternativa de ação complementar.
As informações na literatura sobre o aprofundamento do efeito da calagem são
controvertidas e há muitos casos em que foi demonstrado efeito da calagem no
6
aprofundamento do sistema radicular. Como o tema aqui não é calagem, a discussão
não será aprofundada.
Tabela 3. Influência da profundidade de incorporação do corretivo na eficiência da calagem para milho. Ensaio realizado em Latossolo Vermelho Escuro de cerrado, em Planaltina, DF.
Calcário, t/há Produção de grãos, kg/ha Índice, %1o cultivo 2o cultivo 3o cultivo Média
Testemunha sem calcário0 2.115 4.569 880 2.521 100
Calcário incorporado a 0-15 cm de profundidade1 3.423 5.281 1.474 3.397 1352 3.531 5.689 1.863 3.694 1464 4.004 5.903 2.265 4.057 1618 3.723 5.960 2.052 3.912 155
Calcário incorporado a 0-30 cm de profundidade1 4.019 5.684 2.086 3.930 1552 4.341 5.858 2.573 4.257 1694 4.797 6.682 3.058 4.846 1928 4.792 7.266 3.601 5.220 207
Fonte: Gonzáles-Erico (1979).
5. Cargas elétricas no solo explicam a “adsorção” de gesso
Trocadores de íons são materiais insolúveis que contém, adsorvidos em cargas
elétricas superficiais, íons de carga oposta à da superfície, que podem ser trocados por
outros íons de mesma carga.
Solos em geral são considerados trocadores de cátions. A troca de ânions não é
considerada como algo importante, principalmente na parte mais superficial dos solos,
com teores mais elevados de matéria orgânica. Entenda-se aqui ânions como nitrato ou
cloreto e até sulfato. A adsorção de fosfato em solos ocorre por outros mecanismos que
não troca iônica.
O excesso de carga elétrica negativa é contrabalançado por cátions trocáveis,
também denominados contra-íons, existentes da solução do solo em quantidade
estequiometricamente equivalente à carga superficial. Além dos contra-íons, podem
ocorrer ânions em solução, ou seja, íons com carga elétrica igual à da superfície. Esses
íons são denominados co-íons, que nada mais são do que os ânions de sais livres
existentes na solução do solo e, portanto, eles são acompanhados de quantidades
equivalentes de cátions em solução, além dos cátions trocáveis.
A troca de cátions em solos implica na existência de substâncias com a
propriedade de troca de íons. Solos são sistemas complexos e, como regra, diversos
7
componentes orgânicos e minerais estão presentes nas frações finas, mais ativas.
Portanto, a propriedade de troca de íons, com ampla predominância da troca de cátions
na camada superficial, é resultante das propriedades individuais e interações dos
componentes isolados.
Os principais materiais que possuem a propriedade de troca de íons em solos são
a matéria orgânica, os minerais de argila, os óxidos de ferro e alumínio e os silicatos de
alumínio amorfos, conhecidos como alofanas.
No solo o efeito desses diferentes componentes na CTC não é aditiva. Isso
porque há fortes interações entre matéria orgânica e minerais de argila, ou de óxidos
com minerais de argila e, ainda, o bloqueio físico de cargas elétricas dos componentes
por agregação. Além disso, a distância entre cargas elétricas nas partículas do solo é
suficientemente grande para permitir a adsorção simultânea da cátions e ânions, se a
composição mineralógica o permitir.
A matéria orgânica é um fator importante para o comportamento do gesso em
solos. Como ela tem elevada capacidade de troca de cátions e é fortemente
eletronegativa, cria um ambiente de repulsão do ânion SO42-, que é, por essa razão,
menos retido no horizonte superficial, mais rico em matéria orgânica, como será
mostrado posteriormente.
As cargas elétricas são responsáveis por propriedades únicas dos solos, que
proporcionam interação peculiar com o gesso. Ressalte-se que não se trata de
propriedade geral dos solos, mas de algo que ocorre principalmente em solos dos
trópicos úmidos. Por esta razão, a ação do gesso em solos ácidos não é tema tratado nos
melhores livros internacionais de fertilidade do solo.
O fator principal de variação de cargas elétricas em solos é o pH. As cargas
elétricas negativas do solo, muito conhecidas, avaliadas que são pela capacidade de
troca de cátions, ou simplesmente CTC, aumentam com elevação do pH, conforme se
sabe da prática da calagem, em que reduz-se a acidez do solo aumentando espaço para
cátions trocáveis, como Ca2+ e Mg2+. Já as cargas positivas, quando existem condições
para seu aparecimento, variam em sentido inverso, ou seja, aumentam com a diminuição
do pH do solo.
Uma maneira de determinar as cargas elétricas é saturando os solos com
soluções de diversas concentrações de sais, ajustando a solução de equilíbrio a diversos
valores de pH e avaliando a retenção de íons. Na Tabela 4 são apresentados resultados
8
de cargas elétricas nos horizontes B2 de um de uma Terra Roxa Estruturada eutrófica
(TE) e de um Latossolo Roxo ácrico (LR).
Tabela.4. Valores de cargas elétricas, em dois valores de pH e duas concentrações de equilíbrio de MgSO4, em amostras do horizonte do horizonte B2 de uma Terra Roxa Estruturada (TE) e um Latossolo Roxo (LR
Solo Concentração de MgSO4 – molc /L
pH Potencial de superfície –.
mV
Cargas elétricas do solo, mmolc/kgNegativa Positiva Líquida Líquida
teóricaTE-B2 0,01 6,0 -148 87 16 -71 -84
5,0 -89 67 27 -40 -440,001 6,0 -148 73 08 -65 -62
5,0 -90 50 17 -33 -26LR-B2 0,01 6,0 18 18 28 10 4
5,0 77 7 38 31 220,001 6,0 19 13 21 8 1
5,0 88 6 30 24 11Fonte: (valores interpolados dos originais de Raij e Peech, 1972).
Há vários pontos que merecem atenção: (1) as cargas negativas aumentam com o
aumento do pH; (2) as cargas positivas aumentam com a diminuição do pH; (3) há
retenção simultânea de cátions e ânions; (4) a retenção da cátions e ânions diminui com
a redução da concentração ou força iônica da solução de equilíbrio;
Esses resultados ilustram um ponto importante, que é a possibilidade de
adsorção simultânea de cátions e ânions em solos. Em solos que só apresentam cargas
negativas, o sulfato não é adsorvido ao solo, pelo contrário, é repelido pela carga
negativa, ficando assim disponível à lixiviação, que sempre se dá com o
acompanhamento de quantidade equivalente de cátions, para manter a eletroneutralidade
do sistema.
Na Tabela 5 é ilustrado um outro aspecto importante, que é o da distribuição de
cargas elétricas ao longo do perfil. As determinação foram feitas em solução de cloreto
de sódio. Os dois íons envolvidos, Na+ e Cl-, por serem monovalentes, são menos
adsorvidos que os íons divalentes mostrados no exemplo anterior. Contudo, o exemplo
servirá para ilustrar alguns aspectos importantes.
Tabela 5. Valores de cargas elétricas, a dois valores de pH, de amostras superficiais e do horizonte B2, determinados em NaCl 0,2N, para um ma Terra Roxa Estruturada eutrófica e um Latossolo Roxo ácrico.
Amostra de solo pH
Cargas elétricas do solo, mmolc/kgNegativa Positiva Líquida Líquida
teórica*TE-Ap 6,0 88 -9** -96 -80
5,0 64 -3 -67 -60
9
TE-B2 6,0 65 -1 -66 -645,0 52 6 -46 -45
LR-Ap 6,0 49 -4 53 -545,0 34 5 29 -33
LR-B2 6,0 12 10 2 05,0 6 18 12 12
Fonte: (valores interpolados dos originais Raij e Peech, 1972).*Valor calculado pela teoria da dupla camada elétrica.** Os valores negativos de cargas positivas devem-se à exclusão de ânions, não corrigida no caso.
Os dois solos não tem apreciável gradiente textural e admite-se que a
mineralogia seja bastante constante ao longo do perfil. Assim, atribui-se à matéria
orgânica um importante efeito em tornar o solo mais eletronegativo, conforme pode ser
concluído comparando as cargas negativas do horizonte Ap com o horizonte B2 para os
dois solos. Os resultados negativos de cargas positivas refletem a repulsão do ânions
pela carga elétrica superficial do solo. Note-se que só o solo LR é muito mais
eletropositivo do que o solo TE, e que esse caráter é mais pronunciado no horizonte B2 e
a valores de pH mais baixo. Este exemplo ilustra um fato observado experimentalmente,
que é a menor adsorção de SO42- na camada superficial do solo e maior adsorção em
profundidade. Além disso, a elevação do pH pela calagem, reduz a adsorção de sulfato.
6. Gesso em solos: relações com alumínio
Para os solos do Sudeste dos Estados Unidos, Adams e Lund (1966) ressaltaram
que o desenvolvimento limitado de raízes no subsolo, naquela região, foi devida
principalmente ao efeito detrimental do alumínio. Comparando solos contendo caulinita,
vermiculita ou montmorilonita, três minerais de argila bastante distintos, os autores
constataram relações diferentes entre a penetração de raízes do algodoeiro e valores
críticos de pH, alumínio trocável ou saturação por alumínio dos solos. Contudo, todos
os subsolos apresentaram uma relação comum entre a penetração de raízes e a atividade
molar de Al na solução do solo.
Pavan e Bingham (1982) mostraram que a atividade do Al3+ livre em solução é o
indicador mais consistente da toxicidade do alumínio em soluções de solo (Tabela 6)
confirmando a observação de Adams e Lund (1966). Por outro lado, a determinação da
atividade molar na solução do solo é muito complexa e não pode ser feita
rotineiramente. Por essa razão, a saturação por alumínio, embora não tão consistente, é
uma determinação preferível na prática, que pode ser facilmente obtida em laboratórios
de rotina de análise de solo.
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Tabela 6. Limites críticos de Al estabelecidos por diferentes critérios, para café crescendo em Oxisols e Ultisols tratados com CaCO3.
Relação considerada
Solos usados no estudo
1 2 3 4 5 6
Al3+ trocável, mmolc/kg 7,0 13,0 3,0 10,0 1,9 10,6
Conc. Al total, μmol/L 14,8 15,0 44,0 14,8 18,4 18,6
Conc. Al3+, μmol/L 8,4 7,9 12,7 8,3 7,0 10,1
Atividade Al3+, μmol/L 4,4 3,8 4,1 4,3 4,2 4,6
Saturação de Al, % 12 25 15 20 3 15
Fonte: Pavan e Bingham (1982)
O ânion SO42- é importante na redução da atividade de Al3+ e isso afeta o
desenvolvimento radicular. Pavan (1983) apresentou dados de crescimento radicular de
cafeeiro em solo, equilibrado com soluções de CaCl2 0,01mol/L e CaSO4. 0,01 mol/L,
obtendo os resultados mostrados na Tabela 7. Os dados mostram que o sulfato de cálcio
promoveu a redução do alumínio livre em solução e o maior desenvolvimento de raízes.
Já o ânion cloreto, nas condições do experimento, não se associou com alumínio.
Tabela 7. Espécies químicas de alumínio e crescimento de raízes do cafeeiro cultivado em soluções de CaCl2 0,01 mol/L e CaSO4 0,01 mol/L em equilíbrio com dois solos.
Avaliação Solo 1 Solo 2CaSO4 CaCl2 CaSO4 CaCl2
Espécies de alumínioAl total, μmol/L 604 564 255 214 Al3+, μmol/L 223 550 93 200 AlOH2+, μmol/L - -14 7 14 AlSO4
+, μmol/L 338 - 155 - AlCl2+, μmol/L - - - -
Desenvolvimento das raízesPeso das raízes, g/planta 78 32 142 80
Fonte: Pavan (1983).
O gesso, ou sulfato de cálcio, além dos efeitos em solos, envolvendo troca de
íons, troca de ligantes e solubilidade, tem reações que influenciam a atividade de
alumínio em solução e, como conseqüência, a toxicidade do elemento para as raízes.
Na prática, saturação de alumínio e deficiência de cálcio são os dois indicadores
usados para diagnosticar a barreira química em subsolos, para tomada de decisão sobre
aplicar ou não gesso.
A interpretação dos resultados da análise de solo para cálcio e alumínio em solos
no Brasil, para diagnóstico de barreira química em solos, é bastante consistente entre
regiões. Para analisar o assunto serão comparadas as informações para São Paulo (Raij
et al., 1996), Minas Gerais (Ribeiro et al., 1999) e cerrados (Sousa e Lobato, 2002).
11
Começando com a recomendação mais recente, exatamente para a região dos
cerrados (Sousa e Lobato, 2002b), ela se baseia em dois momentos. O primeiro é o do
diagnóstico, que define se o gesso deve ou não ser usado. Assim, os autores afirmam
haver grande probabilidade de resposta ao gesso se, nas camadas de 0-20 e 20-40 cm,
ou de 30 a 50 cm, a saturação por alumínio for menor do que 20% e o teor de cálcio for
menor do que 5 mmolc/dm3. Nesses casos, são feitas as seguintes recomendações:
Culturas anuais: NG = 5 x argila
Culturas perenes: NG = 7,5 x argila
A necessidade de gesso, NG, é dada em kg/ha e a argila expressa em g/kg.
Os autores informam que as doses recomendadas de gesso tem efeito residual de
no mínimo 5 anos, podendo estender-se por 15 anos, dependendo do solo, não havendo,
então necessidade de reaplicação nesses períodos.
Para São Paulo há uma fórmula única:
NG = 6 x argila
A fórmula se aplica quando, na camada de solo de 20-40 cm, os teores de Ca2+
são inferiores a 4 mmolc/dm3 e a saturação por alumínio é maior do que 40%. Contudo,
a recomendação explícita está apenas nas tabelas de adubação de café e cana-de-açúcar,
o que mostra uma incerteza, na época da publicação das recomendações (Raij et al.,
1996), sobre a conveniência de se aplicar gesso.
Para Minas Gerais (Ribeiro e outros, 1999), o gesso deve ser aplicado quando a
camada subsuperficial (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentar Ca2+ inferior a 5
mmolc/dm3 e/ou Al3+ maior do que 5 mmolc/dm3 e ou, ainda, quando a saturação de
alumínio for maior do que 30%. As quantidades a aplicar, ou necessidade de gesso
(NG), para uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura, são as seguintes:
————————————————Argila, g/kg NG, kg/ha————————————————0 a 150 0,0 a 0,4150 a 350 0,4 a 0,8350 a 600 0,8 a 1,2600 a 1000 1,2 a 1,6————————————————Fonte: Ribeiro e outros (1999).
12
No critério de diagnose, os três procedimentos têm em comum a consideração
dos teores de cálcio e de saturação por alumínio, embora com pequenas diferenças nos
limites de interpretação. Em Minas Gerais o teor de alumínio é também considerado.
Na quantificação de doses a aplicar, os três procedimentos têm em comum o uso
da argila. Minas Gerais introduz a profundidade a ser atingida como um critério mas,
por outro lado, recomenda pouco gesso para cada camada de 20 cm. .
Deve-se ressaltar que as quantidades recomendadas de gesso, nos três casos, não
são elevadas, considerando as curvas de respostas de diversos experimentos. Elas são
conservadoras e levam em consideração, não tanto a economia da gessagem, mas a
preocupação de não impor gastos elevados aos produtores e evitar perdas de K e Mg por
lixiviação. Por outro lado, não contemplam um maior aprofundamento do efeito do
gesso. Deve-se lembrar que no experimento relatado por Ritchey e outros (1980, com
resultados reproduzidos nas Tabelas 2.1 e 8.3, o tratamento sem gesso (superfosfato
triplo, no caso), apresentava raízes até 60 cm, enquanto o tratamento com gesso
(superfosfato simples), tinha raízes até a profundidade avaliada de 120 cm.
Na Tabela 8 é feita uma comparação entre as doses que seriam recomendadas
para os solos de 11 experimentos de campo com várias culturas. Foram realizados os
cálculos de necessidade de calagem e de gessagem preconizadas para o Estado de São
Paulo (Raij et al, 1996), com metas de saturação por bases para a calagem de 60% para
a cana-de-açúcar e a soja e de 70% para milho e algodão. As dosagens para produção
máxima são mais elevadas do que as quantidades recomendadas.
Tabela 8. Confronto entre doses recomendadas de calcário e gesso e as quantidades associadas com produções máximas, para 11 experimentos de campo cujos resultados foram apresentados nas tabelas indicadas. O teor de argila, saturação por alumínio (m) e o teor de cálcio referem-se ao subsolo; a saturação por bases à camada superficial.
CulturaTabela e especifi-
cação
Argila, g/kg
Ca,mmolc/dm3
m, %
V, %
Calcário, t/ha Gesso, t/haRecom. Prod.
máx.Recom
.Prod. máx.
Milho 10.6 500* 7 62 36 3,8 12 3,0 8Cana 11.5 160 1,2 59 15 1,6 6 1,0 6Cana 11.7-LVEa 160 1,2 76 15 1,6 4 1,0 2
13
Cana 11.7-LVA9 230 0,5 87 3 4,1 4 1,4 5Cana 11.7-LR-2 760 9,1 40 19 3,0 3 4.6 6Cana 11.7-LVA11 140 6,3 18 33 1,1 1,5 0,8 6Cana 11.7-LVA-9 190 0,5 79 31 0,9 1,8 1,1 4,8Cana 11.7-LVE-3 590 1,9 81 5 5,1 10 3,5 10Soja 12.2. 500* 11 25 33 1,6 9 3,0 6Soja 12.3 700* 2 55 11 4,6 8,1 4,2 6,4Algodão
12.7 700* 5 17 32 2,5 3 3,0 6,0
* Valores estimados.
Faltam informações sobre diversos aspectos para uma recomendação de gesso,
destacando-se a adsorção de sulfato, profundidade a ser atingida pela gessagem, valores
críticos de saturação por alumínio entre espécies e variedades, influência de avanço de
“onda” de sais de cálcio com ânions monovalentes, como nitrato e cloreto adiante da
“onda” de sulfato, etc. Além disso, as perdas de Mg e K devem ser compreendidas para
que possam ser minimizadas.
7. Uma novo possibilidade para produtividade: água profunda
A questão de absorção de água pelas plantas de camadas mais profundas do solo
é conhecido, mas pouco discutida. No caso do plantio direto, em que a camada de palha
reduz a evaporação e aumenta a inflitração de água, os ganhos em relação ao plantio
convencional parece que reduziram ainda mais o interesse pelo enraizamento profundo
das plantas.
Mesno assim, há informações na literatura que merecem atenção.
Algumas plantas apresentam sistemas radiculares extensos e profundos, o que
aumenta consideravelmente o volume explorado de solo e, assim, é maior a
possibilidade de absorver água, principalmente em períodos de déficit hídrico. Merrill e
outros (2002), para o centro norte dos Estados Unidos avaliou a profundidade de raízes
de várias plantas cultivadas sob plantio direto. A profundidade máxima atingida pelas
raízes foi de 145 cm para girassol, 113 cm para canola e 99 cm para soja.
Timlin e outros (2001), estudando o problema de água na produção de milho,
identificaram 70 áreas com diferentes profundidades do solo, em plantação de milho do
Estado de New York, variando de 20 cm a 100 cm. Cada uma dessas áreas foi dividida
em duas subáreas pareadas, que receberam ou não irrigação. A irrigação resultou em
aumentos significativos de produção de milho, com maiores aumentos em partes mais
rasas do solo, de menos de 50 cm de profundidade. Com irrigação não houve diferença
14
entre as diversas áreas, mostrando que quando a profundidade do solo decrescia,
aumentava a importância da água como fator limitante da produtividade.
Fiorin e outros (1997), em solo Podzólico Vermelho Amarelo de Santa Maria
(RS), verificaram relação direta entre o armazenamento de água no horizonte A e a
produção de grãos. As áreas com horizonte A profundo, nos dois anos agrícolas do
estudo, apresentaram maior quantidade de água armazenada, correspondendo aos
maiores valores de produção de matéria seca e de grãos.
Quando o solo apresenta impedimentos físicos ou químicos à penetração de
raízes, a água existente nas camadas abaixo desses impedimentos fica inacessível para
as plantas, reduzindo assim a capacidade do solo em suprir água, pela diminuição do
volume de solo explorado pelas raízes. É um assunto importante em solos ácidos, em
que a ocorrência de alumínio trocável ou a deficiência de cálcio no subsolo constituem
“barreiras químicas” que impedem o aprofundamento do sistema radicular
O suprimento de água é mais importante em certos períodos das culturas.
Rosolem (2005) indica as seguintes exigências hídricas da soja, em milímetros por dia,
paras diversos estádios de desenvolvimento da cultura:
Semeadura – emergência 2,2
Emergência – início do florescimento 5,1
Início do florescimento – surgimento de vagens 7,4
Surgimento de vagens – 50% de folhas marelas 6,6
50% de folhas amarelas – maturação 3,7
O mesmo autor cita haver trabalhos indicando que a produtividade máxima da
soja só é obtido se o sistema radicular atingir até 1 m de profundidade. Uma curva
mostrada indica que, se as raízes atingirem apenas 60 cm, a produção de soja será de
70% do máximo.
Wild (1988, p. 369-372) apresentam duas informações importantes. Um refere-
se a plantio direto. Em ano seco, nesse sistema de produção, um solo argiloso sob
plantio direto armazenou 10% a mais de água do que sob plantio convencional. Isso
especialmente abaixo de 50 cm de profundidade, o que permitiu ao trigo obter 22 mm a
mais de água de solo não perturbado. Outro resultado mostra que em trigo de inverno,
em período seco, raízes a mais de 1 m de profundidade, representando apenas 3% do
peso total de raízes, foram responsáveis pelo suprimento de cerca de 20% da água
usada.
15
Um dos primeiros trabalhos mais detalhados sobre gesso para soja foi realizado
por Hammel et al. (1985) em solo Typic Hapludult (Argilossolo) no Estado da Geórgia,
Estados Unidos. O solo era muito ácido, de 015 a 1,05 cm de profundidade, com cálcio
muito baixo, menos de 4 mmolc/kg abaixo de 60 cm de profundidade, alumínio de mais
de 20 mmolc/kg e saturação por alumínio de mais de 80%. Os tratamentos foram
testemunha, 35 t/ha de gesso incorporado de 0-15 cm, revolvimento do solo para reduzir
descompactação e mistura com solo com calcário, na base de 4 a 6 t/ha por camada de
0-15 cm. Amostragens de solo realizadas no terceiro ano mostraram redução de
alumínio de cerca de 2 a 10 mmolc/kg e elevação de cálcio a cerca de 30 mmolc/kg O
gesso proporcionou aumentos de produção, mas que foram ainda menores do que a
incorporação profunda de calcário. Em 1983 ocorreu forte veranico e foi avaliado o
efeito na absorção de água. Na Tabela 9 são apresentados dados de produção e de
remoção de água de 15 a 105 cm de profundidade. Os resultados apontam para o efeito
do gesso, mas, em comparação com o tratamento com mistura de calcário com o solo,
apenas parte do efeito da acidez do subsolo foi atenuada.
Tabela 9. Efeito de modificações físicas e químicas do perfil de solos em produções de soja e milho silagem e na remoção de água em veranico, na profundidade do solo de 15 a 105 cm.
Produções, em kg/ha Água removida em
veranico - mmSoja, 1981 Soja, 1982 Milho silagem,
1983Testemunha 941 1.283 26.200 6Gesso 1.216 1.613 35.400 27Mistura do solo 1.183 0.861 26.000 6Mistura do solo com calcário 1.761 2.007 41.000 48
Fonte: Hammel e outros (1985).
Esses trabalhos levam a uma reflexão sobre qual seria a profundidade de
correção de barreira química de solos que se deve almejar com a gessagem. Além disso,
quando se trata de aplicação de gesso para melhor aproveitamento de água do solo, em
geral menciona-se que isso seria importante para períodos de veranicos, na época de
maior desenvolvimento das culturas. Em geral não se lembra da segunda cultura, ou
“safrinha”, tão difícil de conduzir a bom termo em vastas áreas do Brasil Central, onde
ocorrem seca prolongadas e severas no inverno e um “prolongamento” do ciclo
proporcionado pela água das camadas mais profundas do subsolo poderia ser desejável..
16
Pesquisadores da Embrapa Cerrados já apontavam para a importância para
profundidades de raízes de algumas culturas cultivadas no cerrado há bastante tempo
(Luchiari Júnior et al., 1986). Os autores indicam profundidades possíveis, se não
existirem fatores impeditivos, de até 2 m para milho e 1,5 m para soja e feijão.
Informações da CSIRO (2005) demonstraram a importância da absorção de água entre
130-170 cm de profundidade, que levou a aumento de produção de 67 kg/ha de trigo por
mililitro de água usada, ou uma tonelada a mais de trigo por 15 mm de água absorvida
de camadas profundas.
Esses resultados apontam para a necessidade de maiores conhecimentos sobre a
importância da água de camadas mais profundas do solo para a produtividade das
culturas.
A água do solo é o veículo de transferência de elementos químicos, nutrientes e
outros elementos do solo para as raízes. Na realidade, não se trata de água pura, mas sim
de solução: a solução do solo. A água do solo, ao percolar através do perfil do solo, leva
em solução nutrientes que, se deslocados abaixo do alcance das raízes, são perdidos. A
isso se chama de lixiviação. Em solos com menor capacidade de retenção de água, as
perdas por lixiviação são maiores.
8. Resultados experimentais com milho
Um experimento realizado em Tatuí, com produções médias apresentadas na
Tabela 10, indicou que a tolerância de variedades de milho também é fator importante a
ser levado em conta. Os valores médios de produção para o tratamento sem calcário e
sem gesso foi de 4.300 kg/ha de milho para cultivar tolerante e de 4.229 kg/ha para o
cultivar sensível, ou seja, praticamente iguais. Em termos de resposta, o cultivar
sensível deu respostas bem mais acentuadas. Note-se que, tanto calcário como gesso,
deram resultados significativos até as maiores doses aplicadas dos dois insumos, mas
não houve efeito de interação, ou seja, parece haver alguma independência nas respostas
a calagem e a gesso, o que está de acordo com a idéia de que o calcário atua mais
próximo da superfície e o gesso em profundidade. Ressalte-se, também, a importante
resposta da calagem, se forem comparadas as aplicações de 12 t/ha em relação a 6 t/ha.
Também houve resposta a gesso se comparadas as doses de 8 t/ha em relação a 4 t/ha.
Detalhe importante é que não se obtêm, seja com calcário, seja com gesso, a produção
máxima obtida com a combinação dos dois insumos.
17
Tabela 10. Produção média de quatro anos de dois cultivares de milho, tolerante e sensível a alumínio, para três doses de calcário e três doses de gesso.
Calcário, t/ha Gesso, t/ha0 4 8Cultivar tolerante a alumínio
0 4.300 4.360 4.7936 4.663 4.943 5.06312 5.331 5.398 5.695
Cultivar sensível a alumínio0 4.229 4.552 4.7936 5.041 5.619 5.81712 5.536 5.927 6.041
Fonte: Calculado a partir de resultados de Raij et al. (1998).
Na Tabela 11 são mostrados alguns resultados de análise de solo do
experimento. Percebe-se que, na amostra superficial, o calcário afetou os teores de
cálcio, de magnésio e de alumínio, além de aumentar a saturação por bases e reduzir a
saturação por alumínio. Note-se, também, o efeito do calcário em reduzir o teor de
sulfato na camada arável, o que se deve pela elevação da carga negativa do solo. Mesmo
com a quantidade bastante elevada de gesso aplicado ao solo, esse insumo não alterou,
de forma estatisticamente significativa, nenhum resultado de análise de solo na amostra
da camada superficial de solo, nem mesmo K e Mg. Todos os efeitos observados
devem-se ao calcário.
Tabela 11. Efeito de calcário e gesso na análise de solo de amostras de 0-20, 20-40, 40-60 e 60-80 cm de profundidade, em experimento com milho em Tatuí, em solo Latossolo Vermelho Escuro álico, textura argilosa, 41 meses após a aplicação dos corretivos.
Tratamento Cátions trocáveis SO42- V m
Calcário Gesso Ca2+ Mg2+ K+ Al3+
--------t/ha-------- --------------------mmolc/dm3-------------------- ---------%---------Profundidade de 0-20 cm
0 0 19 b 6 b 4,5 a 19 a 4 a 23 b 39 a0 8 21 b 5 b 4,0 a 16 a 4 a 16 b 35 a12 0 41 a 20 a 3,8 a 2 b 1 b 64 a 3 b12 8 41 a 19 a 4,0 a 2 b 2 b 63 a 3 b
Profundidade de 20-40 cm0 0 7 a 5 b 3,6 a 24 a 11 b 10 a 62 a0 8 10 a 3 c 2,8 a 25 a 16 a 11 a 60 a12 0 8 a 7 a 2,6 a 22 a 13 ab 13 a 56 a12 8 8 a 6 a 2,4 a 23 a 15 a 10 a 59 a
Profundidade de 40-60 cm0 0 10 b 4 c 2,2 a 22 a 11 b 12 a 58 a0 8 13 ab 5 bc 1,6 a 19 ab 17 a 14 a 49 ab12 0 11 ab 7 ab 2,0 a 19 ab 13 b 15 a 50 ab12 8 14 a 8 a 2,1 a 17 b 16 a 18 a 41 b
Profundidade de 60-80 cm
18
0 0 6 b 3 b 1,7 a 21 ab 6 b 8 a 61 a 0 8 10 a 5 ab 1,3 a 18 b 14 a 13 a 52 a12 0 7 b 5 ab 1,4 a 22 ab 7 b 11 a 62 a12 8 11 a 7a 1,6 a 23 a 16 a 14 a 54 a
Fonte: Raij et al. (1998).
Em solos com teores elevados de alumínio, como este caso, os efeitos do gesso
nas propriedades químicas do subsolo podem não ser tão relevantes, como mostram os
resultados da Tabela 11. De forma geral, houve pequenos aumentos de Ca e Mg, o K
teve pequena redução que não atingiu significância estatística, o Al sofreu apenas
pequena redução e o sulfato aumentou um pouco com a gessagem. As alterações foram
muito modestas considerando as quantidades aplicadas de calcário e gesso e o grau de
acidez do solo.
De certa forma esses resultados surpreendem. O solo não tem deficiência de
cálcio e a saturação por alumínio em profundidade foi bastante elevada, da ordem de 50
a 60% e pouco afetada pelo gesso. Por outro lado, mesmo que tenha havido resposta, a
elevada saturação por alumínio pode ser responsável pelo limite relativamente baixo de
produtividade do experimento, da ordem de 6 t/ha de milho (Tabela 8.6).
9. Resultados experimentais com cana-de-açúcar
Diversos experimentos de calagem e gessagem para cana-de-açúcar foram
realizados pelo Planalsucar, todos com quatro cortes de cana.
Morelli et al. (1992) publicaram um deles, consistindo em experimento fatorial
com doses crescentes de calcário e de gesso, mostrando resultados de análises químicas
ao longo de perfil de solo e de quatro cortes de produção de cana-de-açúcar. Os
resultados ajudarão a ilustrar diversos aspectos da aplicação do gesso para cana. O
experimento foi realizado no município de Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho
Escuro álico, com 120 g/kg de argila na camada de 0-25 cm e 160 g/kg na camada de
25-50 cm. O solo tinha uma CTC de 35 mmolc/dm3 e saturação por bases de 15% na
camada de 0-25 cm. Na camada de 25-50 cm, considerada na diagnose da necessidade
de aplicação de gesso, os teores de Ca e de Al, respectivamente de 1,2 e 6,5 mmolc/dm3,
além da saturação de alumínio de 76%, indicavam tratar-se de solo em que se poderia
esperar resposta a calcário e gesso, segundo critérios para São Paulo (Raij et al., 1996).
As aplicações, tanto de calcário, como de gesso, foram de 0, 2, 4 e 6 t/ha em um
esquema fatorial 4 x 4. Foram realizados quatro cortes de cana.
19
Os resultados de produção médias de quatro anos, são apresentados na Tabela
12. É importante observar é que nem com calcário e nem com gesso se obtém a
produção máxima, que é obtida com a combinação dos dois. Como não foi feito ajuste
de função de resposta aos resultados, ao escolher-se pontos isolados carrega-se um
pouco do erro experimental. Contudo, como as diferenças são bastante grandes, isso não
deve atrapalhar o raciocínio. O aumento máximo de produção, para os quatro anos,
somente com calcário, foi de 54,4 t/ha para 4 t/ha de calcário; para 6 t/ha de gesso, foi
de 51,6 t/ha de colmos. Com a combinação dessas duas quantidades, o aumento foi de
76,8 t/ha para o uso desses dois insumos.
Tabela 12. Aumentos acumulados de produção em quatro cortes de cana-de-açúcar no experimento de calagem e gessagem, conduzido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho Escuro álico.
Doses de calcário, t/ha
Aumento de de produção de cana, em t/ha, para doses de gesso, em t/ha0 2 4 6
0 99,1 106,3 111,4 112,02 110,3 114,0 117,3 114,44 112,7 121,4 117,7 118,36 110,4 117,4 113,7 118,4
Fonte: Valores calculados com base nos resultados de Morelli et al. (1992).
Esse experimento, publicado por Morelli et al. (1992) teve o solo amostrado ao
longo do perfil aos 18 e 27 meses após o plantio, que foi realizado em 16/12/86.
Na Tabela 13 são mostrados resultados de Ca2+, Mg2+ e de SO42-, em duas épocas
de amostragem, considerando apenas as dosagens extremas, de 0 e 6 t/ha de cada
insumo. Note-se que a aplicação somente de calcário teve efeito nos teores da cálcio até
a camada mais profunda amostrada. O mesmo aconteceu com o magnésio, em grau mais
acentuado. Com a adição de gesso os teores de cálcio aumentaram muito, distribuindo-
se ao longo do perfil amostrado e o magnésio foi deslocado para camadas mais
profundas.
Tabela 13. Teores de cálcio e magnésio em experimento de calagem e gessagem de cana-de-açúcar, conduzido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho Escuro álico.
Profun-didade
cm
Ca2+, mmolc/dm3 Mg2+, mmolc/do3
Gesso, 0 t/ha Gesso, 6 t/ha Gesso, 0 t/ha Gesso, 6 t/ha18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m
Calcário, 0 t/ha0-25 4,0 3,5 11,2 7,9 1,7 0,9 0,6 0,825-50 1,7 2,0 6,9 4,9 0,6 0,5 0,5 0,650-75 1,3 1,1 6,7 4,6 0,6 0,5 0,8 (0,6)75-100 1,0 0,8 6,0 4,3 0,3 0,5 1,4 0,8
20
100-125 0,8 0,6 4,2 4,4 0,2 0,5 1,3 0,7Calcário, 6 t/ha
0-25 12,3 13,0 20,5 23,4 8,9 9,3 5,6 6,125-50 2,2 4,4 7,5 9,5 1,3 2,8 1,9 2,150-75 1,3 2,0 5,9 5,2 0,7 1,1 1,9 1,175-100 1,4 1,6 6,8 5,0 0,8 0,8 3,1 1,2100-125 1,8 1,4 6,2 5,1 1,0 0,7 3,8 1,4
Fonte: Morelli et al (1992).
O sulfato distribuiu-se ao longo do perfil de solo, já estando presente mesmo
sem a aplicação de gesso, em teores baixos, mas bastante uniformes (Tabela 14). Com a
aplicação do gesso, houve aumento, mas percebe-se, também, uma expressiva
diminuição para a amostragem de 27 meses em relação a 18 meses. É possível que os
teores encontrados aos 27 meses já indiquem um certo equilíbrio com o solo, que seria
então da ordem de pouco mais de 4 mmolc/dm3 de SO42-, talvez mais elevado em
camadas mais profundas.
Tabela 14. Teores de sulfato e alumínio no experimento de calagem e gessagem, de cana-de-açúcar conduzido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho Escuro álico.
1Profun-didade
cm
SO42-, mmolc/dm3 Al3+, mmolc/dm3
Gesso, 0 t/ha Gesso, 6 t/ha Gesso, 0 t/ha Gesso, 6 t/ha18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m
Calcário, 0 t/ha0-25 0,6 0,8 5,3 2,4 7,3 9,2 7,8 7,825-50 0,6 0,9 5,3 2,6 7,4 8,4 8,2 7,850-75 0,5 0,8 6,6 3,4 7,1 7,3 7,3 7,375-100 0,7 0,7 7,3 4,1 6,4 6,8 6,5 6,7100-125 0,6 0,7 4,3 4,4 6,7 7,1 6,4 6,4
Calcário, 6 t/ha0-25 0,7 0,3 3,8 2,8 1,3 1,1 0,7 0,525-50 0,8 0,8 4,5 2,9 6,8 4,5 5,2 3,550-75 0,9 0,8 5,5 3,6 6,5 6,2 5,6 5,775-100 0,7 0,9 8,0 4,7 5,8 5,7 5,0 5,0100-125 0,7 0,8 7,1 4,7 5,5 6,0 5,4 4,6
Fonte: Morelli et al (1992).
Na ausência da calagem, o alumínio praticamente não variou, para as duas
amostragens, nos tratamentos com e sem gesso. Já com a adição de calcário, houve
redução acentuada do Al3+ na camada de 0-25 cm, com um efeito importante na camada
de 25-50 cm. O calcário sozinho reduziu o alumínio ao longo de todo o perfil, com
efeito mais acentuado na superfície do solo. Mas deve-se lembrar que a quantidade de
calcário é muito elevada para solo com apenas 160 g/kg de argila. A combinação de
calcário com gesso acentuou a redução de alumínio em todas as camadas amostradas,
21
principalmente na amostragem de 27 meses. Este é um aspecto importante que indica
um fato que merece ser mais observado. Ou seja, o gesso sozinho não reduziu o teor de
alumínio mas, em presença do calcário, essa redução ocorreu.
Até aqui foram discutidos parâmetros de solos conhecidos como “fator
quantidade”, um termo bastante usado para espécies químicas em solo, especialmente
para acidez, fósforo e potássio. Na tabela 15 são mostrados os resultados de fatores
intensidade, ou seja, o pH, a saturação por bases e a saturação por alumínio. Esses três
fatores são importante por permitirem comparações entre solos com valores de
capacidade de troca diferentes.
Tabela 15. Valores de pH em CaCl2, saturação por bases e saturação por alumínio experimento de calagem e gessagem de cana-de-açúcar, conduzido em Lençóis Paulista em Latossolo Vermelho Escuro álico.
Profun-didadeCm
pH-CaCl2 V, % m, %G, 0 t/ha G, 6 t/ha G, 0 t/ha G, 6 t/ha G, 0 t/ha G, 6 t/ha18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m 18 m 27 m
Calagem, 0 t/ha0-25 4,0 3,9 4,0 4,1 16 9 21 17 57 68 41 4725-50 4,0 4,0 4,0 4,1 7 8 19 11 76 77 53 5950-75 4,0 4,1 4,0 4,1 7 7 22 18 79 91 49 5375-100 4,1 4,0 4,0 4,1 7 6 24 15 83 84 47 57100-125 4,3 4,1 4,1 4,1 5 4 20 17 87 88 54 56
Calagem, 6 t/ha0-25 4,5 5,2 5,0 5,3 47 52 55 59 6 7 3 225-50 4,3 4,3 4,2 4,5 11 23 27 32 66 38 36 2350-75 4,0 4,1 4,2 4,2 9 13 25 20 76 67 42 4875-100 4,1 4,1 4,2 4,3 11 12 32 22 73 70 34 45100-125 4,1 4,1 4,3 4,3 13 10 34 23 66 55 50 41
Fonte: Morelli et al (1992).
O pH em CaCl2 variou até 75 cm pela aplicação de calcário. A aplicação de 6
t/ha de gesso não teve efeito no pH. Em presença da calagem, o gesso acentuou o
aumento do pH, o que está coerente com a observação feita para o alumínio. Note-se
que o efeito no pH foi de 0,2 unidades, ao se comparar resultados aos 27 meses.
A saturação por bases foi afetada de forma considerável pelo gesso, mesmo na
ausência da calagem, o que se explica pela lixiviação de sais decorrentes da aplicação
do gesso que, por serem sais neutros, não afetam o pH. Note-se que aos 27 meses, parte
desse efeito já tinha desaparecido. Nos tratamentos com calcário, houve efeito na
saturação por bases com a calagem isolada, com aumentos de saturação por bases
coerentes com a previsão de 4 unidades de V para cada 0,1 unidade de pH. Isso
admitindo os valores aproximados de pH em CaCl2 na faixa de 4 a 6,5 e a saturação por
bases de 0 a 100%. Com a calagem e o efeito combinado do gesso, os valores de
22
saturação por bases aumentaram bastante, embora com uma redução acentuada aos 27
meses, em comparação aos 18 meses. Interessante é que os valores de V diminuem a
50-75 cm e depois aumentam de novo, o que é reflexo da calagem nas camadas
superiores e do gesso penetrando nas camadas mais profundas.
O melhor indicador do efeito de calcário e gesso no solo, principalmente para
inferir sobre a toxicidade de alumínio para as plantas é, sem dúvida, a saturação por
alumínio, conforme foi discutido em 5.4. A saturação por alumínio reflete, ao mesmo
tempo, a diminuição de Al3+ no solo e a aumento de bases. Avaliando os resultados
dessa maneira, ressalta o grande efeito dos insumos, já importante para calcário e muito
mais acentuado pela gessagem. Valores de m de mais de 80% são reduzidos, conforme
mostram os resultados da Tabela 15, a valores da ordem de 40%, o que é altamente
significativo do ponto de vista prático. Note-se que a redução da saturação por alumínio
se dá em todo o perfil. Comparando as duas camadas de 0-25 e 25-50 cm, nos
tratamento com calcário, com e sem gesso, a saturação por alumínio diminui com o
tempo, o que se deve à dissolução das partículas mais grosseiras do calcário no solo.
Nas camadas mais profundas, a saturação por alumínio aumenta com o tempo,o que se
deve à perda de bases do solo por lixiviação.
Ao comparar os resultados, dois aspectos devem ser observados. O primeiro é se
a quantidade adicionada foi refletida nos aumentos; em segundo, a tendência de perdas
entre uma amostragem e outra. No tratamento só com gesso, os valores de Ca2+ e o
SO42-, na primeira amostragem, praticamente refletiram o que foi adicionado; na
segunda amostragem, o sulfato diminuiu bem mais que o cálcio, possivelmente pela
correção da acidez proporcionada pela calagem, reduzindo assim a capacidade do solo
de reter sulfato. No tratamento só com calcário, os valores de Ca2+ e de Mg2+ estão bem
abaixo do esperado na primeira amostragem, o que se deveu à dissolução incompleta do
calcário; a segunda amostragem, os maiores valores de Ca2+ e de Mg2+ aumentando
indicam maior dissolução do calcário. Finalmente, o tratamento com os dois insumos,
revelou valores bastante próximos do esperado para Ca 2+ e Mg2+ na primeira
amostragem; na segunda amostragem ainda houve aumento de Ca2+, mas o Mg2+
diminuiu, pela lixiviação promovida pelo gesso.
Em seis experimentos realizados pelo Planalsucar (Penatti & Forti, 1993), chama
à atenção as produtividades relativamente elevadas obtidas em solos com teores muito
baixos de bases e saturações de alumínio muito elevadas.
23
Esse conjunto de seis experimentos, conduzidos por 4 anos em solos ácidos, é
único para estudos de calcário e gesso. Não há nada parecido para nenhuma outra
cultura. Os resultados são importantes para avaliar se as aplicações de calcário e gesso
são econômicas. Na Tabela 16 são apresentadas diversas informações que permitem
apreciar essa questão. Como informações básicas, são fornecidos os valores do PRNT
dos calcários e os valores da necessidade de calagem (NC) e necessidade de gessagem
dos solos, de acordo com os critérios vigentes segundo o Instituto Agronômico
(Spironello e outros, 1996). Em seguida são indicadas duas colunas do que se chamou
de dose adequada, que consiste na melhor combinação de calcário e gesso. Finalmente,
é indicado o aumento de produção de cana-de-açúcar proporcionado pelas doses
adequadas de calcário e gesso e o custo dos corretivos. A “moeda” no caso é a produção
de cana-de-açúcar, tendo-se considerado tanto calcário como gesso custando 2 t/ha de
colmos, o que é um valor provavelmente exagerado, calculado arredondado para cima
com base em considerações econômicas bem detalhadas para os experimentos feitas por
Penatti e Forti (1993). O resultado econômico é altamente positivo para todos os casos,
isso sem contar cortes subseqüentes de cana-de-açúcar. Um ponto importante é que as
necessidades de calcário e de gesso, determinadas pelos métodos oficiais, apresentadas
na Tabela 16, estão subestimadas.
Tabela 16. Necessidades de calagem e gesso das seis áreas, doses adequadas retiradas dos dados experimentais, aumento de produção correspondente e custo da aquisição, transporte e aplicação dos insumos.
Solo
PRNT do calcário, % de CaCO3 NC, t/ha NG, t/ha
Dose adequada, kg/ha Aumento de produção em 4 anos
Custo dos corretivos aplicados(1)Calcário Gesso
Em t/ha de colmosLVEa 63 2,5 1,0 4 2 76 12LVA-9 77 5,3 1,4 10 6 72 32LR-2 73 4,1 0 0 0 12 0LVA-11 69 1,6 0 3 4 44 14LVA-9 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13LVE-3 52 9,8 3,5 10 10 76 40
(1) Considerando o custo de 1 t de calcário ou 1 t de gesso em 2 t de colmo.
10. Resultados experimentais com soja
Outro experimento de doses de calcário e gesso foi realizado em um solo
Latossolo Roxo distrófico de Ribeirão Preto (Raij et al., 1994). O solo tinha saturação
por bases de 11% na camada de solo de 0-20 cm. Na camada de 20-40 cm a saturação
por bases era de 6%, o teor de Ca2 de 2 mmolc/dm3 e o pH em CaCl2 de 4,0. A área
24
experimental havia sido cultivada por muito tempo com café, tendo recebido adubações
constantes de sulfato de amônio e de superfosfato simples ao longo de tempo. Portanto,
a intensa acidificação do solo, originalmente fértil, foi promovida pela adubação
nitrogenada não devidamente complementada pela calagem.
Na Tabela 17 são apresentados as doses aplicadas dos corretivos. O experimento
foi um fatorial 5x5 e as doses foram aplicadas em quantidades proporcionais à raiz
quadrada das quantidades aplicadas em quilogramas por hectare. São apresentadas
também, na Tabela 17, as produções médias de três anos, calculadas pela função de
resposta que permite calcular as produções (Y, em kg/ha) em função das quantidades
aplicadas de calcário e de gesso (C e G, em t/ha):
Y = 1761 + 167,3C – 7C2 + 90,8G – 5G2 – 2CG R2 = 0,811
Tabela 17. Produções médias estimadas pela função de resposta, para três anos de produção de soja em Latossolo Roxo distrófico de Ribeirão Preto (SP), em função de quantidades aplicadas de calcário e gesso.
Quantidade de calcário – t/há
Produções de soja (kg/ha) para quantidades de gesso (t/ha) de0,4 1,6 3,6 6,4 10,0
0,9 1.941 2.036 2.162 2.271 2.2962,5 2.169 2.260 2.380 2.480 2.3944,9 2.444 2.530 2.640 2.726 2.7238,1 2.686 2.763 2.861 2.930 2.90312,1 2.786 2.854 2.935 2.982 2.926
Fonte: Raij e outros (1994).
Ressalte-se que esse tipo de polinômio é de grande interesse para o cálculo das
doses mais econômicas, melhores alternativas de quantidades de calcário ou de gesso e
retornos esperados. Trata-se, portanto, de ferramenta essencial para o planejamento da
calagem e da gessagem.
Durante os três anos foram constatados efeitos significativos de calcário
e gesso (Raij e outros, 1994), mas para o presente caso basta a função de resposta para
ilustrar a maneira de utilizar os resultados para estabelece as melhores combinações de
calcário e gesso. Para isso devem ser calculadas as doses mais econômicas, o que é feito
pela fórmula (Raij, 1991, p. 305-309):
Xe = (a1 – c/v)/[2(-a2)]
Xe é a dose mais econômica; a1 e a2 são os coeficientes do polinômio do segundo
grau; c/v é a relação de preços entre o custo do insumo e o valor do produto. Para o
cálculos dividiu-se o termo de interação, a12 do polinômio entre os termos do segundo
25
grau para calcário e gesso, obtendo-se assim curvas independentes para os dois insumos.
A relação c/v foi considerada como 120, ou seja, 120 kg/ha de soja para pagar uma
tonelada de calcário ou de gesso. Os cálculos foram feitos para o polinômio
representando as produções médias de três anos e, portanto, considerou-se nos cálculos
um valor de c/v de 40. Com isso, as doses mais econômicas foram de 8.0 t/ha de
calcário e 4,2 t/ha de gesso. Como foram aplicadas doses mínima de 0,9 t/ha de calcário
e 0,4 t/ha de gesso, os valores seriam mais favoráveis à calagem e à gessagem se a
referência de aplicação dos insumos fosse zero.
Foi feita análise de solo da camada de 0-20 cm de profundidade, em
amostragens de dezembro de 1987 e de fevereiro de 1991, portanto 38 meses após a
aplicação dos corretivos no segundo caso. Os resultados apresentados na Tabela 18,
referem-se aos tratamentos 11, 14, 41 e 44, que envolvem aplicação de 0,9 e 8,1 t/ha de
calcário e de 0,4 e 6,4 t/ha de gesso, respectivamente.
Tabela 18. Resultados de análise de solos do experimento de calagem e gessagem em solo Latossolo Roxo distrófico de Ribeirão Preto (SP), amostragens de 1987 e de 1991 da camada de 0-20 cm de profundidade.
Trata-mento
SO42- Ca2+ Mg2+ K+ Al3+ CTC CTCef pHCaCl V m
-------------------------------- mmolc/dm+ ----------------------- ------- % ------Amostragem de 1987
11 12 9 4,4 3,5 2,8 95 20 4,18 18 1414 37 32 3,7 3,3 3,6 112 43 4,41 35 841 15 31 12,0 3,0 0,8 89 47 5,13 52 244 35 47 11,8 2,8 0,9 108 63 5,14 57 1
Amostragem de 199111 16 2 1,0 1,9 11,7 105 17 3,84 5 7014 11 12 2,7 1,4 8,5 101 25 4,15 16 3541 11 15 5,5 1,7 3,6 86 26 4,57 26 1444 12 25 6,4 2,2 1,8 83 28 4,70 31 6
Fonte: Raij et al. (1994).
O efeito esperado da calagem no pH e nos teores de cálcio, magnésio, acidez
total e alumínio se fez sentir já na amostragem de 1987. O gesso, como esperado, afetou
os teores de sulfato e de cálcio. O aumento verificado no teor de sulfato, da ordem de 25
mmolc/dm3, pode ser considerado dentro das expectativas, levando em conta que seriam
esperados aumentos de cerca de 32 mmolc/dm3 de solo, para as 6,4 t/ha de gesso
aplicadas, que nem todo o sulfato é recuperado na análise e que parte pode ter lixiviado
para fora da parte de solo amostrada. Ressalte-se a elevada quantidade de sulfato já
existente no solo no tratamento sem aplicação de gesso.
26
Em 1991, 38 meses após a aplicação dos corretivos, persistiram os efeitos
significativos de calcário sobre os parâmetros de acidez, pH e Al. O gesso também
contribuiu na redução da saturação por alumínio e no aumento da saturação por bases. O
teor de potássio foi reduzido no tratamento de gesso sem calagem. Além disso, houve
uma redução geral em 1991, em relação a 1987, indicando possíveis perdas por
lixiviação, já que as adubações acrescentaram quantidades suficientes do nutriente para
reposição das remoções pela cultura.
Na Tabela 19 são apresentados os resultados de amostragem do subsolos,
realizada em 1991, nas profundidades de 20-40, 40-60 e 60-80 cm de profundidade. O
gesso reduziu a acidez em todo o intervalo avaliado, com efeitos significativos na
redução do alumínio e aumento do pH em CaCl2, da saturação por bases e da saturação
por alumínio. O mesmo efeito foi observado para a calagem.
Tabela 19. Resultados de análise de solos do experimento de calagem e gessagem em solo Latossolo Roxo Distrófico de Ribeirão Preto (SP), amostragens de 1991 das camadas de 20-40, 40-60 e 60-80 cm de profundidade.
Trata-mento
SO42- Ca2+ Mg2+ K+ Al3+ CTC CTCef pHCaCl V m
-------------------------------- mmolc/dm+ ----------------------- ------- % ------Profundidade de 20-40 cm
11 30 6 3,1 0,9 6,1 100 17 3,97 11 3614 26 15 2,1 0,8 3,9 93 22 4,17 19 1841 30 10 4,3 0,7 4,7 93 20 4,12 16 2444 29 15 3,3 0,6 3,3 87 22 4,23 22 15
Profundidade de 40-60 cm11 20 4 1,2 1,7 7,1 70 14 4,25 10 5114 22 18 2,5 1,6 4,2 78 26 4,48 28 1641 20 11 3,3 1,0 3,6 68 19 4,47 22 1944 18 19 3,9 0,9 3,1 80 27 4,53 30 12
Profundidade de 60-80 cm11 9 6 1,0 1,4 3,1 58 12 4,42 14 2714 15 16 2,5 1,4 1,2 63 21 4,71 32 641 13 9 2,5 1,2 2,5 59 15 4,53 22 1644 20 17 4,5 1,2 1,3 62 20 4,77 37 5
Fonte: Raij et al. (1994).
Os resultados de sulfato merecem discussão à parte, pelas implicações não-
corriqueiras que envolvem esse solo, que tem características peculiares impostas por
adubações anteriores com muito sulfato aplicado, além de características de acentuada
capacidade de adsorção de sulfato. Na camada de 20-40 cm, os teores torno de 30
mmolc/dm3 foram pouco afetados pela solução de sulfato que atravessou o solo,
indicando saturação do solo com o ânion. Essa situação persiste ainda na camada de 40
a 60 cm de profundidade, embora com valores mais baixos de SO42- da ordem de 20
mmolc/dm3. Apenas na camada de 60 a 80 cm o efeito do gesso começa a aparecer.
27
Outro aspecto que chama à atenção é a desproporção entre sulfato e a soma de
bases, com ampla vantagem para o primeiro. O solo deste trabalho, denominado
unidade Quadras no levantamento da Estação Experimental, onde foi realizado o
experimento (Oliveira e Muniz, 1975) apresenta, para um perfil da unidade de solo
descrito, relação sílica:alumina, ou ki, 0,9, evidenciando a presença de gibbsita, um
óxido hidratado de alumínio. O teor de óxidos de ferro também é elevado, da ordem de
30%, embora nem tudo esteja na fração argila. De qualquer forma, a condição
mineralógica do solo é favorável a alta adsorção de SO42-. Em Latossolo Roxo ácrico da
mesma região, com ki de 0,6, Raij e Peech (1972) determinaram retenção de sulfato, no
horizonte B, de 30 mmolc/dm3, um valor obtido em laboratório similar ao resultado de
campo do experimento em discussão.
Os resultados apresentados têm diversas implicações conceituais para a Ciência
do Solo. Uma implicação é que o sulfato retido em excesso sobre as bases, na realidade
representa acidez e portanto é considerada na determinação da necessidade de calagem,
o que já foi aventado por Mehlich (1964), que usou a expressão “acidez devida a
sulfato”. Coleman&Thomas (1967) reconheceram que, em casos como este,
consideráveis quantidades do corretivo são consumidas para produzir CaSO4 e MgSO4.
Fica a dúvida de como eliminar esse tipo de acidez do subsolo pela calagem. Os
resultados da Tabela 12.5 mostram que isso não é fácil e que houve apenas pequena
correção. Além disso fica a questão do conceito de “bases trocáveis” ou retenção de
cátions, ou ainda, CTC efetiva, nesse tipo de situação, já que parte dos cátions não é a
rigor trocável, já que contrabalança os ânions retidos no solo.
11. Considerações finais
Em se tratando de calagem no plantio direto, a expectativa é de movimentação
lenta de uma “onda alcalinizante” decorrente do calcário aplicado na superfície do solo.
A maior parte dos trabalhos analisados de calagem em plantio direto, mostram uma
movimentação limitada de bases para camadas mais profundas do solo, especialmente
para quantidades mais baixas. Nessas condições, o efeito do calcário é, em grande parte,
limitado até na camada superficial, definida até 20 cm de profundidade, mas com os
maiores teores de cálcio e magnésio a 0-5 ou 0-10 cm de profundidade. Dessa forma,
28
tem-se um problema, se forem considerados válidos os resultados experimentais que
indicam que a incorporação mais profunda de calcário ou o efeito de doses elevadas
incorporadas no solo, afetam de forma favorável o desenvolvimento radicular do
subsolo. “Fechar” solos com subsolos muito ácidos através do plantio direto, e aplicar
pouco calcário, seria uma maneira de perpetuar a limitação da acidez do subsolo para o
desenvolvimento das culturas?
A expectativa, com a irreversível difusão das técnicas de agricultura de
conservação, que preconizam não revolver o solo e mantê-lo coberto, é que o gesso, por
ser um sal solúvel que penetra livremente no solo, possa contribuir para aliviar os
problemas da acidez do subsolo, reduzindo a toxicidade do alumínio e suprindo cálcio
para as raízes.
Contudo, deve-se ter em conta que calcário e gesso atuam em partes diferentes
do solo e que a calagem introduz alcalinidade ao solo, reduzindo a acidez dos solos a
partir da superfície, admitindo a aplicação superficial. Assim, a redução da acidez do
solo continua sendo uma necessidade e não é possível substituir calcário por gesso.
Além disso, resultados de diversos experimentos que comparam doses de
calcário e de gesso, mostraram que produções máximas não podem ser obtidos com os
insumos isoladamente, mas sim com combinação dos dois.
A região que, em princípio, tem os solos mais prováveis de responderem à
gessagem, é a chamada região do cerrados. Embora com mais de 200 milhões de
hectares, a aplicação do gesso fica limitada à distância econômica de transporte do
insumo. Um livro recente descreve, com base em experiência na região, a correção do
solo e adubação na região do cerrado (Sousa e Lobato, 2002). Segundo os autores, ao se
tratar de melhoria do subsolo, diversos fatores devem ser considerados e, ao que tudo
indica, as atuais recomendações de aplicação de gesso são no mínimo insuficientes.
De tudo que se disse até este ponto, parece claro que faltam informações sobre
diversos aspectos para a de gesso, principalmente para o plantio direto, destacando-se a
adsorção de sulfato, profundidade a ser atingida pela gessagem, valores críticos de
saturação por alumínio entre espécies e variedades, influência de avanço de “onda” de
sais de cálcio com ânions monovalentes, como nitrato e cloreto adiante da “onda” de
sulfato, etc. E tudo isso e outros problemas, apresentados em Raij (2007) precisam ser
melhor compreendidos para uso adequado de calcário e gesso na agricultura
conservacionista.
29
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