Uso de geoprocessamento para mapeamento do uso e ocupação da terra com ênfase ao
planejamento ambiental: estudo de caso da bacia hidrográfica Campo Triste-Três
Lagoas/MS/Brasil
César Cardoso Ferreira a*, Franciele Gonçalves b, Patrícia Helena Mirandola Avelino b
a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Três Lagoas - MS, Brasil.
b Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Presidente
Prudente/SP, Brasil. [email protected]
* Autor para correspondência: +55 67 99457911. [email protected]
Palavras chave: Imagens orbitais, Geoprocessamento, Alterações ambientais.
Título Abreviado: Mapeamento com ênfase ao planejamento ambiental.
ABSTRACT
This research aimed to apply the procedures for thematic mapping using Geographic
Information Systems GIS, scale 1:100,000, in order to support decision making in
environmental planning of Watershed of the Campo Triste River. Operating procedures
for the processing of orbital data, cadastral and thematic were conducted in an
environment of systems for acquisition, storage, manipulation, analysis and presentation
of georeferenced data, in addition to understanding the basin with a system of input and
output of energy. Whereas in the still there is no planning policy in the watershed
provided the methodology employed in the quantification of these uses which will assist
in future environmental planning of the area.
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo aplicar os procedimentos de mapeamentos
temáticos com uso de Sistema de Informação Geográfico SIG, em escala 1:100.000,
com vistas a subsidiar tomada de decisões no planejamento ambiental da Bacia
Hidrográfica Campo Triste/ MS. Os procedimentos operacionais para os
processamentos dos dados orbitais, cadastrais e temáticos foram realizados em um
ambiente de sistemas destinados à aquisição, armazenamento, manipulação, análise e
apresentação de dados georreferenciados, além de entender a bacia hidrográfica com um
sistema de entrada e saída de energia. Considerando que no Estado ainda não existe
nenhuma política de planejamento de Bacias Hidrografias a metodologia empregada nos
proporcionou a quantificação desses usos o que irá auxiliar num futuro planejamento
ambiental da área.
INTRODUÇÃO
A tecnologia dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) vem se impondo como uma
ferramenta de rotina para a visualização e análise da informação espacial, sendo usada
extensivamente em aplicações como a cartografia de uso do solo, análise e
planejamento de transportes, análise geodemográfica, cartografia de redes de infra-
estruturas e em múltiplas aplicações de gestão de recursos naturais.
Com a crescente necessidade de a Ciência Geográfica utilizar ferramentas que lhe
possibilitem um melhor conhecimento das dinâmicas espaciais, aliadas à possibilidade
de cartografar, monitorar e interpretar o espaço, o SIG constitui um dos mais modernos
pilares para a operacionalização e interpretação da geografia, o que contribui para
subsidiar consideráveis avanços na análise espacial e o planejamento ambiental.
O planejamento ambiental configura-se em ações e planos que visam minimizar
quaisquer alterações de propriedades físicas, químicas e biológicas do ambiente
causadas por qualquer matéria ou energia. CONAMA (1986)
De acordo com Mendonça (1997), a identificação da ocupação e uso da terra constitui-
se em importantíssimo elemento num estudo ligado à temática ambiental, pois o mais
atualizado sobre uma determinada localidade auxiliará, dentre outros, a identificação e
localização dos agentes responsáveis pelas condições ambientais da área, com o intuito
de se propor um planejamento.
Para que o planejamento ambiental seja aplicado de forma eficaz, é recomendado que se
estabeleçam unidades básicas hidrográficas de planejamento, no que tange aos
parâmetros ambientais. Para Assad e Sano (1993) as bacias hidrográficas são unidades
de estudos e planejamento. Nesse sentido delimitou-se a área de estudo.
O estudo proposto faz uma análise do uso e ocupação da terra na Bacia Hidrográfica
Campo Triste, analisando através das quantificações dos tipos de uso da terra que
atualmente se apresenta nessa região.
A área do presente estudo está localizada na porção leste do Estado de Mato Grosso do
Sul, entre as coordenadas geográficas 51º 15’ 36’’ a 52º 47’ 56’’ W e 20º 30’ 47’’ a 20º
49’ 00’’ S, no município de Três Lagoas. Tendo em vista a abordagem sistêmica que
aqui fora tomada a Bacia Hidrográfica Campo Triste faz parte de um sistema maior no
qual se denomina Bacia do Rio Paraná, que tem como afluente a Bacia do rio Sucuriú,
sistema onde deságua o sub-sistema Córrego Campo Triste. (Figura 1)
Figura 1: Localização sistêmica da Bacia Hidrográfica Campo Triste.
METODOLOGIA
A base teórica metodológica adotada foi baseada em planejamento, técnicas de
geoprocessamento e sensoriamento remoto, além de analisar a Bacia Hidrográfica como
um sistema, conforme proposto por Christofoletti (1999).
Para o presente trabalho utilizou-se a imagem de satélite LANDSAT-5 disponibilizada
gratuitamente pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
bandas 3, 4 e 5, do dia 30 de maio de 2009 e imagem de radar SRTM 2000
(georeferenciada). Além de um GPS Garmin eletronic Map, software SPRING 5.0.5,
Atlas Multirreferencial, carta topográfica DSG (Folha Três Lagoas MS - SF.22-V-B-V)
que está na projeção UTM (Universal Transversa Mercator), escala 1:100.000.
Segundo Christofoletti (1999) “Na atualidade, os SIGs incorporam muito princípios
relacionados com o manejo de banco de dados relacionais, algoritmos gráficos
poderosos, interplotação, zoneamento e análise de redes simplificadas”.
Os procedimentos operacionais para os processamentos dos dados orbitais, cadastrais e
temáticos foram realizados em um ambiente de sistemas destinados à aquisição,
armazenamento, manipulação, análise e apresentação de dados georreferenciados, ou
seja, SIG, no qual foram executadas as seguintes etapas: elaboração da melhor
composição colorida e realce; registro (georreferenciamento); segmentação;
classificação supervisionada; elaboração dos mapas temáticos e quantificação das
classes de uso e ocupação da terra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para atingir o objetivo geral da pesquisa, as delimitações preliminares geográficas foram
realizadas inicialmente com a caracterização geoambiental da região, tais como:
formação geológica, geomorfológica, climatológica, pedológica e aptidão agrícola.
Procedeu-se a coleta e organização dos dados dos trabalhos existentes para a realização
da pesquisa, já citado em materiais e procedimentos operacionais.
A caracterização da área de estudo foi feita por meio da utilização do documento
pertencente à Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato
Grosso do Sul (SEPLAN), o Atlas Multirreferencial (1990).
Em uma localização sistêmica o Córrego Campo Triste pertence à Bacia do Rio
Sucuriú, cujo rio deságua no Rio Paraná, que, segundo o documento supracitado insere-
se geologicamente ao Grupo Bauru (formada no período histórico do Mesozóico da era
do Cretáceo) na Formação Santo Anastácio e Formação Serra Geral, no seu baixo curso.
Encontra-se na Região Geomorfológica dos Planaltos Areníticos-Basálticos Interiores
sobre os Divisores Tabulares dos Rios Verde e Pardo.
O solo predominante é o Latossolo vermelho-escuro, o qual caracteriza-se como um
solo mineral, não hidromórfico, altamente intemperizado e apresenta horizonte B
latossólico. Em geral são profundos, bem drenados, friáveis e bastante porosos, e
encontrados em áreas mais aplanadas. Há presença de solo Podzólico Vermelho Escuro
no alto curso.
Quanto ao potencial geo-ambiental esta é uma Região de Planaltos Rampeados –
caracteriza-se pela homogeneidade da morfoestrutura. A altimetria varia entre 300 e
700m.
A topografia predominante é levemente ondulada, as áreas onduladas, planas e
acidentadas ocorrem em menores proporções.
No que tange a avaliação do potencial dos recursos naturais, segundo o documento
Atlas Multireferencial, a agricultura nesta região é restrita para os manejos A, B e C por
possuir regular reserva de nutrientes disponíveis às plantas e livres de sais tóxicos,
capacidade de retenção da umidade dos solos e apresentarem predisposição à erosão
moderada e forte, porém estas podem ser controladas com práticas conservacionistas
simples.
No que diz respeito à variação mesoclimática, a área está inserida nos climas regionais -
úmidos a sub-úmidos. Sendo que o período de chuvas se estende de setembro a março,
com maior intensidade de novembro a fevereiro. Possui período seco bem definido
(com índice pluviométrico abaixo de 60mm), que geralmente acontece com mais
intensidade de junho a agosto.
A realização dos estudos de análise ambiental, considerando as transformações
possíveis em função dos projetos de uso do solo, nas suas diversas categorias, é
exigência que se encaixa como medida preliminar em face da política de
desenvolvimento sustentável. Christofoletti (1999)
A partir de imagens de satélite foi elaborado o mapeamento de uso e ocupação da terra
da unidade estudada, o que tornou possível localizar e quantificar não somente os tipos
de uso e ocupação da terra, mas também identificar alterações ambientais, como
ausência de vegetação ciliar, processos erosivos e assoreamento. Acredita-se que tais
processos de identificação e investigação poderá posteriormente subsidiar o
planejamento ambiental da área.
O mapeamento dos diferentes tipos de uso da terra, através do processamento de
imagens orbitais disponibilizadas gratuitamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais. Após tratamento e processamento da imagem no software SPRING 5.0.5
obteve-se um mapeamento temático da Bacia estudada, onde na classificação foram
detectadas as classes temáicas: água, pastagem, vegetação natural e eucalipto. (Figura
2).
Figura 2: Mapeamento de uso e ocupação da terra na Bacia hidrográfica Campo Triste
Os dados temáticos foram quantificados e a partir disso fora feito a análise estatística.
Neste contexto, a Bacia Hidrográfica Campo Triste possui uma área total de 936,53
km², cujas classes temáticas subdividem em: Água (4,82km²), Pastagem (634,24 km²),
Vegetação natural (215,17 km²) e Eucalipto (82,74km²). (Tabela 1)
CLASSES ÁREA (Km²) %
Água 4,82 0,51
Pastagem 634,24 67,66
Vegetação Natural 215,17 22,97
Eucalipto 82,74 8,83
TOTAL 936,97 100
Tabela 1: Uso e ocupação da terra na Bacia Hidrográfica Campo Triste
O gráfico abaixo facilita a leitura e interpretação da atual situação ambiental da Bacia
Hidrográfica Campo Triste, a qual em sua maioria é ocupada pelo uso de pastagem.
(Gráfico 1)
Gráfico 1: Uso e ocupação da terra na Bacia Hidrográfica Campo Triste
A classe de pastagem ocupa cerca de 67% da área em relação a área total da Bacia,
evidenciando que as alterações ao meio ambiente, tais como: voçoroca, assoreamento
e ravinas, se manifestam principalmente pelo pisoteio do gado, devido a
predominância da agropecuária na Bacia Hidrográfica Campo Triste. Embora a classe
eucalipto esteja em expansão no município devido à implantação da fábrica de papel e
celulose, essa classe apresentou apenas 8% da área estudada, afirmando a veracidade
dos dados que comprovam a predominância da agropecuária na Bacia estudada. No
que diz respeito, a classe de uso vegetação natural, essa ainda se faz presente de forma
regular principalmente nas margens do córrego Campo Triste e seus afluentes, além
das áreas de reserva legal presentes na Bacia.
CONCLUSÕES
Nos estudos das condições ambientais e de uso e ocupação da terra da Bacia
Hidrográfica do Córrego Campo Triste constataram-se a predominância da classe
temática pastagem e a presença de alterações significantes, como erosão e
voçorocamento, principalmente próximo dos cursos d'água.
Como recomendação, no que tange a erosão e assoreamento do Córrego Campo Triste,
propõe-se curvas de nível na forma circular ou de meia lua, para a contenção dos
sedimentos. A respeito das voçorocas e ravinas recomenda-se que sejam planejadas
ações em relação ao desmatamento das matas ciliares, à circulação de gado ao longo
das vertentes das drenagens, à falta de obras de disciplinamento das águas pluviais; e
que se planeje a contenção de taludes ao longo da malha viária, pois, esses processos
de voçorocamento e ravinamento são causados pela ausência de práticas de
conservação dos solos nas áreas agrícolas.
É de suma importância que os órgãos e/ou instituições ligados ao planejamento
(Prefeitura, Incra, IBAMA) se empenhem em planejar as formas de uso e ocupação de
Bacias Hidrográficas.
A partir deste estudo embrionário, pretendemos contribuir para que o Estado de Mato
Grosso do Sul possibilite a implantação do Comitê de Bacias Hidrográficas, para que
se possa ter um planejamento adequado das várias Bacias que compõem os recursos
hídricos do Estado e que a Bacia Hidrográfica seja adotada como unidade físico-
territorial de planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos. Além disso é
importante frisar que. A aplicação da metodologia revelou-se importante e adequada
para mapeamento de uso e ocupação da terra.
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