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XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018

URBANISMO MODERNO FEMININO: UM OLHAR SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DE ARQUITETAS E URBANISTAS SUL-AMERICANAS, 1934-1962 IDEÁRIOS, URBANISMO E PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO JOSÉ CARLOS HUAPAYA ESPINOZA (UFBA), CLARA DEMETTINO CASTRO VASCONCELOS (UFBA), NEDDA MARÍA ALEJANDRA NOEL TAPIA (UFBA), PRISCILA MONIQUE DA SILVA SANTOS (UFBA), SABRINA RACHEL RUBIO (UFBA)

RESUMO

Nos últimos anos uma série de trabalhos pioneiros na América do Sul foram desenvolvidos dando ênfase a discussões em torno a temas como arquitetura e gênero, além da visibilidade da produção de arquitetas no campo profissional. O presente artigo parte do seguinte questionamento: é possível pensar que as diferentes condições enfrentadas pelas profissionais mulheres, em relação às dos homens, como aponta Lima (2014), produziu um eventual urbanismo feminino? Para tal, tomamos como base a identificação e análise de um conjunto de artigos de profissionais mulheres publicados entre 1934 e 1962 em algumas das principais revistas especializadas sul-americanas: a argentina Revista de Arquitectura, as brasileiras Revista Municipal de Engenharia e Acrópole, a peruana El Arquitecto Peruano e a colombiana Proa. Alguns dos resultados mostram-nos de um lado, a forte influência do ideário modernista na produção e pensamento urbanístico dessas profissionais e; do outro, evidenciam alguns aspectos que nos dão indícios de “soluções femininas” nas propostas por elas desenvolvidas. Com isto buscamos trazer à luz um capítulo ainda pouco explorado e bastante negligenciado na história da arquitetura e do urbanismo do continente: a contribuição de arquitetas e urbanistas sul-americanas na consolidação do campo profissional na região.

PALAVRAS-CHAVE: Profissionais mulheres; Urbanismo Moderno; América do Sul.

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URBANISMO MODERNO FEMENINO: UN ENFOQUE A TRAVÉS DE LA CONTRIBUCIÓN DE ARQUITECTAS Y URBANISTAS SUDAMERICANAS, 1934-1962

RESUMEN

En los últimos años una serie trabajos pioneros en América del Sul han sido desarrollados dando énfasis a discusiones sobre temas como arquitectura y género, además de la visibilidad de la producción de arquitectas en el campo profesional. El presente artículo parte de la siguiente pregunta: ¿Es posible pensar que las diferentes condiciones enfrentadas por las profesionales mujeres, en relación a la de los hombres, como defiende Lima (2014), produjo un eventual urbanismo femenino? Para tal, tomamos como base la identificación y análisis de un conjunto de artículos de profesionales mujeres publicados entre 1934 y 1962 en algunas de las principales revistas especializadas sudamericanas: la argentina Revista de Arquitectura, las brasileñas Revista Municipal de Engenharia y Acrópole, la peruana El Arquitecto Peruano y la colombiana Proa. Algunos de los resultados nos muestran de un lado, la fuerte influencia del ideario modernista en la producción y pensamiento urbanístico de esas profesionales y; del otro, evidencian algunos aspectos que nos dan indicios de “soluciones femeninas” en las propuestas desarrolladas por ellas. Con eso buscamos evidenciar un capítulo aun poco conocido y bastante omitido en la historia de la arquitectura y del urbanismo del continente: la contribución de arquitectas y urbanistas sudamericanas en la consolidación del campo profesional en la región. PALABRAS CLAVE: Profesionales mujeres; Urbanismo Moderno; América del Sur.

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APRESENTAÇÃO

Este artigo vincula-se e é resultado da pesquisa “Arquitetas e urbanistas [des]conhecidas: por uma

ampliação da história da arquitetura e do urbanismo modernos na América do Sul, 1929-1960”1, a qual

tem por finalidade expandir as discussões sobre um capítulo ainda pouco explorado e bastante

negligenciado na história da arquitetura e do urbanismo do continente: a contribuição das arquitetas e

urbanistas sul-americanas para a consolidação do campo profissional na região.

Nos últimos oito anos uma série de trabalhos pioneiros na América do Sul foram desenvolvidos dando

ênfase a discussões em torno a temas como arquitetura e gênero, além da visibilidade da produção de

arquitetas no campo profissional, como os casos de Sá (2010), Velásquez (2011), Lima (2014) e Quinta

(2016)2. O primeiro destes não só identifica e analisa a obra de arquitetas paulistas, mas também

mostra os desafios enfrentados por elas na inserção no campo laboral; os dois últimos centram-se,

respectivamente, no Peru e na Argentina, e mostram a importância da trajetória profissional delas em

seus respectivos países.

O segundo desses trabalhos, o de Lima (2014), identifica a atuação profissional de algumas arquitetas

na América Latina do século XX balizando as suas contribuições em determinados campos, dentre eles

o da habitação. Numa das conclusões a autora lançou o seguinte questionamento: “Será que as

mulheres, devido a sua condição, que lhe diferencia historicamente, culturalmente e socialmente do

homem produz uma arquitetura diferente?” (p.100). Coincidentemente, ao longo da nossa pesquisa nos

deparamos com o depoimento da arquiteta argentina Carmem Renard em relação a uma reunião com

o professor Carl Feiss3, marcada logo após a sua chegada aos EUA com o propósito de cursar uma

pós-graduação em Urbanismo na Universidade de Columbia. Ela relatava que: “Concurrí a ella [à

reunião] pensando encontrarme con uno de aquellos profesores de edad más que madura, muy

posesionados de su cargo y con un dejo de superioridad para la pobre alumna, mujer y extranjera para

colmo, que se acerca para pedir consejo” (RENARD, 1940a, p. 623).

Seguindo esse raciocínio seria então possível pensar que as diferentes condições enfrentadas pelas

profissionais mulheres, em relação às dos homens, produziu um eventual urbanismo feminino?

Responder a esta pergunta constitui o objetivo deste artigo. Para tal, tomamos como base a

identificação e análise de um conjunto de artigos de arquitetas e urbanistas publicados em algumas

das principais revistas especializadas sul-americanas: a Revista de Arquitectura, fundada em 1915, na

Argentina; a Revista Municipal de Engenharia (PDF), criada em 1932 pela engenheira civil e urbanista

Carmen Portinho e a revista Acrópole publicada a partir de 1938, ambas no Brasil; El Arquitecto

Peruano (EAP), criada em 1937 no Peru e; Proa, em circulação na Colômbia a partir de 19464. O

levantamento desses escritos foi realizado entre os anos 1920 e 1969, não obstante, o primeiro foi

identificado em 1934 e o último em 1962, isto explica o recorte temporal aqui proposto.

1 Essa pesquisa vem sendo viabilizada com bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2 Ainda, podemos citar o coletivo Arquitetas Invisíveis em atividade desde 2014. 3 Feiss (1928-1991) foi um dos pioneiros na discussão sobre planejamento urbano e preservação urbana nos EUA. 4 Também foram feitos levantamentos nas revistas Nuestra Arquitectura (Argentina), Arquitectura (Uruguai) e Taller, Punto e Integral (Venezuela), porém, não foram encontrados dados relevantes. Posteriormente, pretendem-se ampliar os casos incorporando outras revistas especializadas da América Latina como as do México e Cuba.

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URBANISMO: ENTRE TEORIA, ENSINO E TÉCNICA

Dentre as profissionais sul-americanas que escreveram sobre urbanismo, em especial, com foco na

teoria (definição), ensino (influências) e técnica (aplicação) destacamos as brasileiras Carmen Portinho,

Francisca Franco da Rocha e Maria Portugal Milward, as argentinas Carmen Renard e Itala Fulvia Villa

e, a peruana Bertha Zegarra Russo5. É interessante notar, como veremos mais adiante, que podem ser

identificados vários pontos em comum em relação a determinadas questões e à própria trajetória

profissional.

Uma das primeiras observações que pode ser mencionada é a forte vinculação delas com as

vanguardas locais em arquitetura e urbanismo. É já bastante conhecida a relação de Portinho com a

chamada Escola Carioca, nesse sentido, algo similar aconteceu com Villa e Austral (LIERNUR e

ALIATA, 2004; QUINTA, 2016) e, Zegarra com Espacio (VELÁSQUEZ, 2011). No caso de Rocha, sabe-

se que ela teve um papel de destaque local em São Paulo, em especial a partir do viés crítico (FICHER,

2005); Milward apesar de não ter vinculação direta com a área, aproximou-se do Urbanismo a partir da

sua contribuição como crítica de arte; Renard, por outro lado, teve uma destacada atuação vinculada à

Dirección General de Arquitectura do Ministerio de Obras Públicas argentino (AZPIAZU, 2017).

Este, aliás, é outro ponto em comum, Portinho foi Diretora do Departamento de Habitação Popular da

então Prefeitura do Distrito Federal entre 1946 e 1960, Zegarra trabalhou em meados da década de

1940 no Ministerio de Vivienda e no Ministerio de Obras Públicas do Peru (VELÁSQUEZ, 2011) e; Villa,

em 1946, assumiu a División de Información Urbana da Secretaría General de Obras Públicas de

Buenos Aires (QUINTA, 2016). Este panorama vai de encontro com a “evolução” e visão das

profissionais femininas como aponta Lima (2014) em relação à “abertura de oportunidades” e ao

trabalho delas no “setor público”.

Outro aspecto similar foi o eventual impacto e repercussão das viagens fora dos países de origem por

motivos de estudo ou pesquisa. Em 1930 Portinho cogitou a possibilidade de se inscrever no curso de

City Planning na Universidade de Harvard; apesar de essa viagem não ter acontecido, sua posterior

visita à Inglaterra em 1945 mudaria significativamente sua visão da habitação popular (NASCIMENTO,

2007). Em 1940 Renard ganhou uma bolsa de estudos do Instituto Cultural Argentino-Norteamericano

para cursar uma pós-graduação em urbanismo na Universidade de Columbia. Também nesse mesmo

ano, Rocha voltou dos EUA após ter visitado o Beaux-Arts Institute of Design de Nova Iorque (FICHER,

2005). Zegarra, viajou para a Itália em 1952 para participar do IV Congresso dell’Istituto Nazionale di

Urbanistica realizado em Veneza.

O artigo “O critério científico no urbanismo” (1934a) de Portinho pode ser entendido a partir de um olhar

continental, mais especificamente, a partir das discussões realizadas nos Congressos Pan-Americanos

de Arquitetos. Apesar de que a discussão sobre o Urbanismo apareceu ainda no III Congresso em

Buenos Aires (1927), somente no IV Congresso realizado no Rio de Janeiro (1930) este tornou-se ponto

central na medida em que se acreditava que poderia ajudar a resolver os problemas do crescimento

das cidades da região (GUTIÉRREZ et al., 2007); assim, uma das conclusões do evento trazia como

5 Todas elas, a exceção de Villa, tiveram artigos publicados sobre esses assuntos nas revistas especializadas estudadas. No entanto, optamos por mencioná-la aqui em vista da sua importância no campo do urbanismo na Argentina.

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proposta a criação da disciplina do Urbanismo nas universidades do continente. Além disso se julgava

que:

[...] o urbanismo exige um campo de conhecimentos por demais vasto para ser por um só profissional tratado com a precisão scientifica e perfeição artística requeridas [...] ademais, que presentemente, não existem no Brasil, nem em outros paizes da América, cursos de especialização, quer de architectos, quer de engenheiros, quer de hygienistas taes que a quaisquer deles deem, alfim, títulos de urbanistas (ABREU, 1930, p. 17).

Ainda se solicitava a todos os profissionais que “sejam divulgados os princípios geraes do urbanismo

mediante artigos, livros, conferências, etc.” (ABREU, 1930). De fato, essas orientações foram

difundidas de forma significativa nos meios profissionais respectivos. No caso peruano, por exemplo,

podemos lembrar a proposta do Proyecto de Ampliación y Reforma de la Enseñanza de la Arquitectura

(1930) para a Escuela Nacional de Ingenieros do arquiteto Emilio Harth-Terré onde se propunha a

incorporação da disciplina de Urbanismo (HUAPAYA, 2014), além da publicação de uma série de

artigos, de sua autoria, como o “Concepto del urbanismo. Un ensayo de definición y acción del

urbanismo” publicado, em setembro de 1932, na Revista de Arquitectura.

Assim, em sincronia com muitos profissionais do continente, Portinho deixa perceber em seu artigo as

dificuldades sobre a recepção e aceitação dessa nova disciplina no meio profissional brasileiro. Ela

trouxe à tona várias questões interessantes: a defesa de que o Urbanismo era também ciência e não

“apenas um extravagante passa-tempo muito do sabor dos maníacos” (p. 16), nesse sentido ela

afirmava que como tal, o urbanista devia “possuir qualidades de cientista, de analista” (p. 15); explicava

que o campo de atuação do urbanista era também diversificado, segundo Portinho “alguns dedicam-se

exclusivamente à parte artística, outros preferem a parte técnica, doutrinária, a parte geral da história

e desenvolvimento do urbanismo, outros ainda dedicam-se ao traçado e higiene das cidades, às

questões práticas tais como as de transporte, de estatística, de zoneamento” (p. 16) e; as limitações

das propostas realizadas por profissionais estrangeiros em contextos diferentes, por exemplo, o

europeu. Em relação a este último ponto, chama a atenção que, pelo menos, dois urbanistas anos

antes haviam tido aproximação com o Rio de Janeiro: Alfred Agache (1927-30) e Le Corbusier (1929).

Outra questão abordada por Portinho e que também vai aparecer, posteriormente, no artigo

“Pavimentação de passeios” (1943) de Milward foi a discussão de que o Urbanismo era arte e ciência.

Para Milward “um detalhe de urbanismo” (p. 341) havia sido esquecido pelos técnicos: a estética;

segundo ela, o “detalhe [...] ressalta e valoriza a obra” (p. 341). Nas cidades contemporâneas essa

problemática podia ser percebida nas calçadas que se apresentavam, ao seu olhar, confusas por causa

dos diversos materiais e desenhos empregados. Sua proposta era a de criar uma “sistematização de

bases para padronização” a partir dos princípios de “necessidade-útil” e “necessidade-belo”. Nesse

sentido é relevante sua posição em relação aos desenhos que deveriam ser usados nas calçadas; para

ela era necessário valorizar a “tradição de nosso povo”, assim, defendia que estes fossem inspirados,

por exemplo, na decoração da cerâmica indígena brasileira6.

Como mencionado anteriormente, uma das estratégias para a divulgação do Urbanismo levou em

consideração a sua institucionalização no meio profissional. Nesse sentido, um dos grandes desafios

6 Portinho (1999, p. 78) tinha, também, interesse especial nas vanguardas na Arte. Esta pode ter sido a razão para possibilitar a publicação de artigos de Milward na revista PDF. Ainda nessa linha, ver: Milward, 1942.

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esteve relacionado à própria estrutura e ensino do mesmo. Na medida em que na América Latina não

existiam ainda, no início da década de 1930, cursos específicos, coube aos profissionais interessados

em debater a forma em que o Urbanismo era ensinado no estrangeiro.

Em “O ensino do urbanismo” (1934b) Portinho analisou alguns cursos em várias partes do mundo. No

caso dos EUA ela chamava a atenção para o fato de que essa disciplina já estava presente inclusive

no ensino médio, porém, fazia uma ressalva relevante: naquele momento o único curso que outorgava

o título de “Master in City Planning” era o da Universidade de Harvard, porém, somente homens

poderiam se matricular (p. 50). Apesar disso, ela explicava que “a obra mais completa de informações

sobre Urbanismo e Zoneamento, até hoje, é de autoria de duas americanas: Theodora Kimball e

Katherine MacNamara” (p. 50). No caso Europeu (tomando como exemplos a Alemanha, França,

Inglaterra, Suíça e Itália), mostrava como o curso era bastante complexo e que em cada país recebia

uma denominação diferente. Em seguida, ela vai se centrar no caso latino-americano, especificamente,

no Argentino, para depois chegar até o Brasil afirmando que o único centro de estudos onde o

Urbanismo tinha alguma relevância era na Escola Politécnica de São Paulo. De fato, somente em 1936,

seria criado o primeiro curso de Urbanismo no âmbito da pós-graduação na então Universidade do

Distrito Federal, no Rio de Janeiro (PORTINHO, 1999).

Posteriormente, Renard em “La enseñanza del urbanismo en las universidades de los Estados Unidos”

(1940a) explicava que somente quatro universidades tinham uma “sección especial de Urbanismo” (p.

622). Fazendo uma análise detalhada dos cursos nesse país ela chegava à primeira observação

afirmando que o Urbanismo era enfocado/entendido a partir de quatro perspectivas: o planejamento

das cidades, o estudo da moradia popular, o estudo regional e o estudo rural. Assim, cada uma das

universidades tinha um perfil específico: na Universidade de Harvard, o primeiro curso foi criado em

1926 e se dava maior ênfase ao planejamento regional7; no MIT e na Universidade de Columbia os

cursos específicos tinham sido criados em 1933 e 1936, respectivamente, e neles se dava maior ênfase

ao “urbanismo de ciudades” (p. 622) e, mais especificamente, à habitação popular; finalmente, na

Universidade de Cornell, que teve seu primeiro curso criado em 1938, os estudos se voltavam para o

planejamento regional e rural.

A importância do artigo de Renard deve-se ao fato de ter servido como base, certamente, para a

proposta desse tipo de cursos na América Latina uma vez que a Revista de Arquitectura era uma das

principais referências nos meios profissionais do continente como pode ser notado, por exemplo, em

EAP. Na revista peruana o artigo de Renard não só foi reeditado (maio 1941), mas, foi importante,

como aponta Huapaya (2014), para a proposta de criação do futuro Instituto de Urbanismo del Perú.

Em relação à aplicação do urbanismo o que pode ser observado é que três temas foram recorrentes:

os desafios e problemática da expansão urbana, as possibilidades do planejamento (urbano e regional)

e as reformas urbanas. Em “Los pueblos Greenbelt en los Estados Unidos” (1940b), Renard explicava

como a ação realizada pela Resettlement Administration criada em 1935 e a quem coube “reorganizar

las tierras, las viviendas y sus habitantes en beneficio de la estructura económica y social” (p. 675)

havia resultado em processos e projetos de descentralização urbana, dentre eles o Greenbelt, o

Greenhills e o Greendale. Apesar de que ela afirmava que essas propostas haviam sido inspiradas nos

7 Lembremos que foi neste curso que Portinho havia pensado estudar.

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“exitosos ejemplos de las ciudades-jardín de Letchworth y Welwyn […] y en Radburn” (p. 676) ela se

questionava se poderiam ou não ser “exageradas” referindo-se ao isolamento do “mundo exterior” e à

aparente sensação de “seguridad y bonanza en los habitantes” (p.679); só o tempo, para ela, poderia

dar a resposta8.

Ao que parece as cidades-jardins, naquele momento se haviam convertido em um modelo aceito, mas

também bastante questionado pelos urbanistas. Zegarra em seu artigo sobre “El Congreso Nacional

de Urbanismo” (1953) informava sobre a premiação do concurso para L’idea della città giardino: sua

attualità e suoi sviluppi organizado nesse evento pelo Istituto Nazionale di Urbanistica. Outro tema

abordado com grande ênfase por ela foi a técnica dos planos regionais e territoriais desenvolvidos

nesse país9.

Já Rocha em “O Rio arquitetônico” (1950) trazia em discussão a necessidade de elaboração de planos

de intervenção urbana “para quadras completas, com espaçosas áreas internas” (p. 230) ao contrário

da construção de edifícios isolados que, na sua visão, provocavam problemas de iluminação e

ventilação nas áreas internas dos mesmos. Ela explicava como este princípio estava sendo aplicado

na Praça Pio X (Rio de Janeiro) e no projeto para a Praça do Patriarca (São Paulo). Segundo ela, a

“arquitetura urbanística faria bem de uniformizar ao menos cada bloco. Digo ao menos, pois vi na

Inglaterra ruas inteiramente uniformizadas” (p. 229). Um dos benefícios apontados na elaboração de

projetos de quadras inteiras seria, por exemplo, a possibilidade de incorporação de “galerias tão úteis

quão embelezadoras” (p. 231) que seriam usadas como abrigo para pedestres e aproveitadas pelo

comércio local. Ou seja, da mesma forma que Milward, Rocha apontava para o melhor aproveitamento

e racionalização do espaço urbano.

HABITAÇÃO SOCIAL E PROJETOS URBANOS: OLHARES FEMININOS

O levantamento e análise das revistas especializadas nos permitiu identificar, mesmo que de forma

limitada, o envolvimento e participação (em alguns casos pontuais) de profissionais mulheres em uma

série de projetos na escala urbana, muitos deles voltados para propostas de habitação social.

Um dos exemplos mais significativos foi a Urbanización del Bajo de Flores dos arquitetos Itala Villa e

Horacio Nazar, em Buenos Aires (Figura 1). Este projeto foi premiado por ter ocupado o primeiro lugar

no IV Salón Nacional de Arquitectura em 1945. Ocupado desde o início do século XIX por populações

de baixa renda, na década de 1940 Bajo de Flores apresentava graves problemas de organização

espacial e saneamento (AZPIAZU, 2017). Dessa forma, o projeto propunha uma série de medidas de

reordenamento espacial, através da criação de novas vias para tráfego de veículos, zoneamento para

usos específicos, além de uma proposta para a melhoria das condições de saneamento e controle das

águas pluviais. A proposta do novo bairro foi elaborada segundo os princípios urbanísticos dos CIAM,

mais especificamente, aqueles defendidos na Carta de Atenas. Essa solução pode ser entendida como

resultado da participação de Villa no grupo Austral, principal vanguarda e difusor do pensamento

corbusiano na Argentina (LIERNUR e ALIATA, 2004).

8 Esta reflexão se antecipa aos problemas gerados pelos contemporâneos “condomínios fechados”. 9 O Ministério de Obras Públicas italiano havia elaborado um total de 380 planos reguladores levando em consideração critérios de distribuição, legislação e financiamento.

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Figura 1. Urbanización del Bajo de Flores, setor de habitação: em primeiro plano o centro cívico e atrás, a zona industrial. Fonte: Villa; Nazar, 1945. Segundo a proposta, as habitações seriam divididas em 7 tipologias, dependendo da quantidade de

pessoas que integrassem as famílias10. Cada quarteirão devia ser autônomo, para isso foram previstas

zonas de comércio, lazer e habitação. Apesar das grandes intenções do governo argentino na

implantação da proposta, o projeto não foi executado. Algumas razões apontam para a grande

quantidade de expropriações de terras que seriam necessárias (QUINTA, 2016).

Esses problemas enfrentados pelo poder público e em especial aqueles voltados para o déficit

habitacional, à época, chamaram bastante o interesse dos profissionais. Nessa linha, podemos citar o

artigo "La Administración Federal de los Alojamentos en los Estados Unidos" (1941) de Carmen Renard

no qual faz uma análise do novo projeto de lei que seria implementado na cidade de Nova Iorque e que

garantiria melhorias na habitação social. Em muitos de seus artigos, Renard deixa evidente seu

interesse pelas soluções dadas nesse país aos problemas da população de baixa renda norte-

americana, assim como sua intenção de trazer algumas dessas experiências para seu país.

Outros dois casos, ainda na discussão sobre habitação social, foram os de Francisca Rocha e Luz

Amorocho. No artigo "Grandiosa solução do problema da vivenda econômica" (1951), a arquiteta Rocha

fez uma análise de um projeto habitacional que visitou em uma de suas viagens para Nova Iorque. Ela

destacava a organização, assim como o padrão arquitetônico de “torres individuais” adotado para

residências de baixo custo. Sua intenção era demonstrar que um bom planejamento administrativo e

financeiro permitiria elaborar grandes projetos urbanos com soluções acessíveis a todas as classes

sociais. Ela também se centrava na forma como eram ocupados os lotes, geralmente entorno dos 20%,

sendo o restante destinado a áreas de lazer ou equipamentos públicos11. Outras questões levantadas

10 Os edifícios tinham 400 metros de extensão e 36,60 metros de altura. A implantação destes permitia que todos os apartamentos possuíssem boas condições de iluminação e ventilação direta. Além disso, duas entradas principais facilitariam as circulações de entrada e saída dos moradores. 11 Esta discussão se aproxima de seu artigo “O Rio arquitetônico” como vimos no capítulo anterior.

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por ela foram as fontes de investimentos e as regras que regiam os concursos públicos para cada novo

projeto de habitação. Segundo ela, os impostos dos terrenos utilizados para a construção desses

grandes conjuntos habitacionais não deveriam ser alterados. Da mesma forma, caso a empresa que

assumiu a construção do projeto entrasse em falência, haveria um fundo no banco do governo que

garantiria que este fosse concluído. Todos os projetos dever-se-iam adequar às regras estabelecidas

pela New York City Housing Authority, que escolheria o terreno e definiria um orçamento bruto.

Posteriormente, estes seriam aprovados pela Comissão de Urbanismo Municipal e pela Comissão de

Orçamento e estariam em consonância com as diretrizes do Plano Regulador da cidade. Em "Um novo

Organismo Municipal" (1952), Rocha fez uma breve descrição sobre o processo do governo

novayorquino para a produção de habitações econômicas no pós-guerra. Em sua análise, ela buscou

demonstrar o método utilizado para o planejamento e a construção das novas habitações, dando ênfase

à importância da função social do estado norte-americano. Em suas conclusões, ela deixa claro que

esta solução não resolveria a problemática dos “bairros anti-higiênicos” que existiam na época, porém

ressaltava a importância da iniciativa pública em promover e cumprir o seu papel com a população mais

carente.

Já em “Las habitaciones colectivas en Bogotá” (1950), Amorocho em parceria com outros arquitetos,

caracterizavam de “antigos y anti-higiénicos” os bairros onde se encontravam os melhores imóveis da

cidade. Estes setores eram, naquele momento, áreas que possuíam um número significativo de

habitações que eram alugadas mesmo apresentando condições precárias. Como forma de dar solução

a esse cenário, elaboraram a proposta para a “Reurbanización de la Plaza Central de Mercado”, a qual

contemplou amplas zonas livres para jardins, espaço de jogos e a construção de edifícios em altura

para moradias coletivas12.

Contrariamente ao que era defendido por Amorocho em relação à proposta de habitação coletiva em

Bogotá, as arquitetas peruanas Bertha Zegarra e Eliana Castro propuseram uma solução diferente.

Nas suas propostas para casas econômicas premiadas no “Concurso de la casa barata”13, elas

defendiam que estas deveriam ser pensadas de forma individual e não coletiva (Figura 2). Em relação

à solução apresentada:

Los planos son muy cómodos y directos, asegurando una privacidad plenamente satisfactoria en la vida

familiar. Presenta la muy valiosa contribución de variantes del sistema TSD, estudiadas especialmente

para la casa barata (BELAUNDE, 1954).

As propostas de habitação foram desenvolvidas a partir de formas geométricas básicas, com variações

de adição e subtração. Como descrito acima, as plantas das casas são simples e foram pensadas para

famílias com 2 e 4 filhos, como estipulado no edital do concurso. A área de convivência (salas de estar

e jantar) se ligava à cozinha e a um corredor que levava a dois quartos e a um único banheiro.

Considerando a solicitação do concurso, o baixo custo pensado para as moradias, pode ser

visivelmente constatado nas fachadas simples e nos materiais construtivos propostos.

12 Essa proposta também está presente no artigo “Bogotá puede ser una ciudad moderna” (1946), de coautoria de Amorocho, e será discutida no próximo capitulo. 13 Elas obtiveram o 3º lugar e foi o único apresentado por arquitetas mulheres.

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Figura 2. Projeto para casas de dois dormitórios. Fonte: Zegarra; Castro, 1954.

Ainda nessa linha, Carmem Portinho em "A habitação - O homem" (1942) deixava claros seus

pensamentos e opiniões fazendo uma análise de como a ideia de habitar um local (fixo) estava ligado

diretamente com o sentimento de lar criado pelo homem e como essa questão estava presente nas

diversas civilizações ao longo da história da humanidade. Em meio à descrição das residências das

civilizações da antiguidade, Portinho deixa evidente a preocupação que estas sociedades possuíam

com o conforto e a construção de suas residências; para ela estas questões se haviam perdido com o

passar do tempo. Ao chegar no homem moderno, a urbanista aponta o estado das residências do

século XX ainda presas na ideia de beleza em detrimento da qualidade e do conforto das mesmas. Em

suas conclusões, Portinho propõe que o “morar” não mais seja visto dessa forma, e sim como uma

máquina produzida, proporcionando conforto e qualidade. Apesar disso, ela revela uma aproximação

com o urbanismo modernista ao se referir à produção em massa, com o intuito de proporcionar

qualidade para todos os cidadãos, sem importar a condição econômica ou social.

Em 1962, Maria Carlota de Macedo Soares em “A urbanização do aterro Glória-Flamengo” centra-se

em um dos projetos de modernização do Rio de Janeiro. Os 930mil m², localizados em uma posição

estratégica iriam, inicialmente, dar espaço a 16 pistas de alta velocidade para automóveis. Essa ideia

começou a ser colocada em prática, uma vez que 2 pistas chegaram a ser construídas no meio do

terreno. No entanto, houve uma mudança na concepção do projeto o qual passou a suprir a

necessidade que a cidade tinha de jardins e espaços públicos. Alguns aspectos foram importantes

nessa obra de grande porte: a preocupação pela economia e a durabilidade dos materiais além da

integração com a baia. Na Figura 3 é possível verificar que a faixa do antigo aterro é comprida e estreita,

e mesmo assim foi viável propor espaços para diversas atividades como as de lazer e esporte. Levando

em consideração o foco deste artigo, é importante destacar que dentre o grupo de profissionais

atuantes desse projeto, encontra-se a brasileira Berta Chnaiderman Leitchic, que não só foi a única

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engenheira da equipe, mas também projetou em 1947 o Túnel do Pasmado no Rio de Janeiro, o

primeiro do mundo a ser feito por uma mulher (ASSIS, 2014)14.

Figura 3. Projeto da urbanização do aterro Glória-Flamengo. Fonte: Soares, 1962.

PLANOS URBANOS SUL-AMERICANOS: CONTRIBUIÇÕES FEMININAS

O pouco número de profissionais mulheres identificadas nas revistas especializadas, envolvidas na

elaboração de planos urbanos, pode demostrar a dificuldade delas em se inserirem neste campo de

atuação profissional. Isto pode estar relacionado com a afirmação de Lima (2014) quando diz que

“aspectos como credibilidade, conhecimento científico e prestígio, características importantes na

arquitetura de espaços coletivos, não eram qualidades associadas ao sexo feminino, mas sim ao

masculino”. Ainda nessa mesma linha, Otondo (2016) afirma que “à natureza feminina atribuía-se

competência para fazer projetos mulheris, delicados, ornamentais, com ênfase no detalhe, etc. Uma

arquitetura doméstica. À natureza masculina cabia a competência de fazer uma arquitetura viril,

heroica, suprema”.

Apesar desse panorama, podemos citar os planos urbanos de Bogotá, Tumaco e Brasília; nos dois

primeiros Luz Amorocho foi coautora, já o último foi elaborado por Carmem Portinho como resultado

de sua tese para a obtenção do diploma de urbanista.

O plano de renovação urbana proposto para o centro de Bogotá foi idealizado em 1946 e publicado na

revista Proa, sob o título "Bogotá puede ser una ciudad moderna", antecipando assim o posterior Plano

Diretor de Bogotá elaborado por Le Corbusier em 194715 (Figura 4). Essa proposta foi elaborada por

Luz Amorocho, Enrique García, José Angulo e Carlos Martínez16 e teve como objetivos a valorização

do solo urbano e a melhoria das condições ambientais e higiênicas através do alargamento de avenidas

14 Leitchic também publicou na PDF o artigo “O problema de saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas” (1954), no qual discursa especificamente sobre questões técnicas, os quais fogem ao objetivo deste artigo. 15 É importante ressaltar que foram elaboradas mais duas propostas de renovação urbana preparadas antes da chegada de Le Corbusier em 1944 e 1945 (SALDARRIAGA, 2010). 16 À época, Martínez era o diretor da revista Proa.

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e da presença de amplos jardins (SALAMANCA, 2016). A área de intervenção localizava-se em um

setor do centro da cidade conhecido como a Plaza de Mercado, o qual se caracterizava pelas ruas

estreitas e terrenos vazios.

O plano foi influenciado pelo ideário da cidade funcional, em especial, fazendo uso da racionalidade e

do estudo científico; segundo os autores, isto possibilitaria a transformação física e social da capital

colombiana. Assim, observam-se, em especial, duas características: o alargamento, ordem e uso

racional do espaço urbano privilegiando o automóvel e; a ruptura com o padrão colonial propondo uma

nova forma urbana (ARANGO, 1993).

Figura 4. Proposta de remodelação do centro de Bogotá. Fonte: Amorocho, 1946.

Parte dessas transformações centravam-se na sustiuição da casa tradicional por edifícios residenciais

em altura de 6 ou 7 andares, com superfícies lisas e geometria simples nos quais era priorizada a

funcionalidade. Isto, possibilitaria grandes áreas livres que ajudariam no melhor aproveitamento da

iluminação e ventilação. No entanto, não foram levadas em consideração questões ligadas à escala

humana e ao diálogo com a paisagem existente.

Em 1948, a Sección de Edificios Nacionales do Ministerio de Obras Públicas da Colômbia (SEN-MOP)

encomendou ao escritório Town Planning Associates (TPA) o Plano Piloto para a nova cidade de

Tumaco, que havia sido devastada por um incêndio em outubro de 1947 (AMOROCHO, 1948a;

SENCIAL e AMOROCHO, 1999). A TPA dos arquitetos José Luis Sert e Paul Lester Wiener contou

com a colaboração dos arquitetos Jorge Gaitán Cortés e Jorge Arango, diretores da SEN-MOP, e a

Comisión para los Estudios de Planificación de la Reconstrucción de la Ciudad Puerto de Tumaco

composta pelos arquitetos Gonzalo Samper, Fernando Martínez Sanabria, Eduardo Mejía, Edgar

Burbano, Hernán Vieco e Luz Amorocho, que se havia vinculado à SEN-MOP a partir de 1947 (ROCA,

2016).

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A proposta foi resultado de múltiplas investigações na região que levaram em consideração as

condições socioculturais e as características climáticas da floresta tropical úmida existente. Dessa

forma, os profissionais colombianos decidiram transferir a cidade para a ilha de El Morro (Figura 5).

O projeto é estruturado em dois eixos perpendiculares, o eixo Norte-Sul é formado pelo paseo17 que

liga o porto à praia, na sua extensão se localizou o centro cívico que concentrava equipamentos

educacionais, religiosos, administrativos, comerciais e turísticos; já o eixo Leste-Oeste é constituído

pelo parque central que ligava a pista do aeroporto às proximidades do morro, dividindo a cidade em

duas áreas: a residencial e industrial, nesta última foi proposta também moradia para operários

(AMOROCHO, 1948a).

A Unidad Vecinal foi projetada a partir da ideia da supermanzana, e foi conformada por seis ou oito

casas unifamiliares enfileiradas. Essa distribuição possibilitava a criação de uma rua interna restrita aos

moradores e permitia economizar despesas decorrentes da rede elétrica e de esgotos. Uma das

caraterísticas mais interessantes de Tumaco foi a solução arquitetônica para as casas, a qual levou em

consideração os hábitos e características dos habitantes, os materiais disponíveis na área e o sistema

construtivo do lugar. Exemplo disso foi a proposta do atelier ou loja, que permitiria a coexistência das

funções de morar e trabalhar (AMOROCHO, 1948b).

Figura 5. Plano para Tumaco. Fonte: Amorocho, 1948b.

O artigo “Ante-projeto para a futura capital do Brasil no Planalto Central” (1939) de Carmen Portinho foi

dividido em duas partes, a primeira apresenta os estudos da região escolhida para a localização da

capital e a segunda parte contém a proposta propriamente dita.

Portinho (1939a) utilizou como base para sua proposta os estudos realizados pela “Comissão

Exploradora do Planalto Central” voltados para o meio ambiente, vegetação e condições climáticas,

devido à sua impossibilidade de viajar até o local. Dessa forma, ela propôs que a nova capital brasileira

17 Via ampla de dois sentidos com um canteiro central.

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estivesse localizada entre os Rios Torto e Gama; posteriormente, essa mesma área foi considerada

durante o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, em 1956 (PORTINHO, 1999).

A solução final da proposta de Lucio Costa, segundo Portinho (1999), assemelha-se àquela que ela

desenvolvera uma vez que ambas partiram das mesmas pesquisas.

Para além dessas semelhanças é necessário ressaltar que ela sempre esteve à frente do seu tempo.

Segundo Caixeta (1999) “se o plano de Lúcio Costa para Brasília tem méritos inegáveis, devemos

reconhecer em Carmen Portinho a primeira pessoa que definidamente se propôs a enfrentar o problema

da construção da nova capital do país”. Como precursora do plano para a capital, ela seguiu os

princípios da “cidade contemporânea” estabelecidos por Le Corbusier (PORTINHO, 1939b).

O anteprojeto abrange ideias para habitação, circulação, centro de negócios, cívico e cultural, pois

segundo ela (1939b) abordar estes assuntos satisfariam as “quatro funções do urbanismo: Habitação,

trabalho, transporte e recreio” (Figura 6). Assim como a “Ville Radieuse”, a cidade pensada por Portinho

se constituiria como um imenso parque onde a habitação seria o elemento central do projeto, sendo

subordinados a ela as funções de trabalho e lazer, ligados por trajetos e transportes eficientes.

Portinho (1939b) afirmava que “um sistema eficiente de circulação aumenta a riqueza pública’’, por isso

em seu projeto estavam previstos e detalhados os cruzamentos de veículos, locais para

estacionamentos, passagens subterrâneas para pedestres, estação de transbordo e classificação de

autoestradas. Para diferenciar o tráfego, esse sistema de autoestradas garantiria a separação efetiva

entre pedestres e automóveis. Ela acreditava que o trolley bus, movido a eletricidade, seria a melhor

solução econômica para o transporte. A “morte da rua” como um dos princípios modernos também foi

aplicada em seu projeto propondo a extinção de ruas ladeadas por casas. Todas essas estratégias são

definidas para a obtenção de um sistema de circulação eficiente, evitando congestionamentos e

remodelações dispendiosas e difíceis.

Figura 6. Proposta para a nova capital brasileira elaborada por Carmen Portinho. Fonte: Portinho, 1939b.

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No que tange à habitação, ponto central da sua proposta, Portinho (1939b) a idealizou como uma célula

isolada, “insonorizada’ dentro do edifício. Segurança, economia e bem-estar, são também

características definidas para o setor residencial, dentro da nova concepção de urbanismo moderno

(Figura 7). As “áreas residenciais dispostas em unidades de vizinhança, temas debatidos nas décadas

de 20 e 30, nos Estados Unidos, e na Europa, e que ecoaram no Brasil” (Nascimento, 2007) estão

situadas nas proximidades do trabalho, serviços e áreas livres.

Figura 7. Setor residencial da proposta para a nova capital brasileira. Fonte: Portinho, 1939b.

Em relação às caraterísticas das moradias do século XX, Portinho (1942) afirmava que estas “fizeram

da mulher uma escrava doméstica, sempre preocupada com sua limpeza e conservação”. Em

contrapartida na sua proposta, ela preocupou-se com o bem-estar e racionalização dos espaços

internos; ao respeito, Nascimento (2007) afirma que “os equipamentos que poderiam ser de uso comum

saíam do interior e passavam para o exterior da morada”. No projeto para as habitações, o primeiro

andar, foi reservado para os serviços comuns; segundo Portinho (1939b), “a organização desses

serviços será o único meio de evitar fadigas improdutivas e perdas infrutíferas de tempo à dona de

casa”. Além disso, a limpeza dos apartamentos, lavagem de roupas e demais serviços necessários ao

lar seriam feitos por terceiros, cabendo às empregadas domésticas o cuidado das crianças além de

pequenos serviços.

Chama a atenção que no âmbito doméstico ela observava uma diferenciação no trato dos espaços

utilizados pelas mulheres, a exemplo da lavanderia coletiva. Para Silva (2017) “a visão de Carmen

Portinho sobre habitação social está intimamente ligada à sua visão feminista”. Ainda segundo Silva

(2017) a preocupação com o bem-estar das mulheres na habitação passava pela necessidade de dotá-

la “de equipamentos de serviços e lazer como forma de facilitar a vida da mulher que trabalha fora e,

desta forma, estimular cada vez mais as possibilidades de inserções destas no mercado de trabalho”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contribuição das profissionais mulheres no campo do urbanismo, como visto ao longo deste trabalho,

pode ser entendida, no mínimo, a partir de duas frentes. A primeira relaciona-se ao campo teórico, no

qual, percebe-se maior “liberdade” e posicionamento crítico em relação à disciplina e à produção

urbanística; isto, pode ser resultado do conhecimento da problemática real pelo qual passavam as

cidades sul-americanas, uma vez que muitas delas atuaram nas diversas escalas do poder público,

mais especificamente, nas dependências encarregadas do urbanismo e do planejamento urbano em

suas respectivas cidades.

A outra frente diz respeito à prática do urbanismo. Nota-se nos projetos identificados nas revistas

especializadas que a atuação delas foi garantida a partir de parcerias com profissionais homens como

foram os casos de Luz Amorocho e Berta Chnaiderman Leitchic. Isto nos leva a questionar sobre quais

foram as limitações desses trabalhos em equipes e até que ponto elas tiveram ou não papel decisivo

nessas propostas. Apesar disso, percebe-se, mesmo que de forma individual, que a produção delas

esteve influenciada categoricamente pelo ideário modernista como aconteceu, por exemplo, com

Bertha Zegarra, Itala Fulvia Villa e Carmen Portinho.

Em relação à engenheira e urbanista brasileira, e retomando a questão inicial deste artigo, ao analisar

o plano para sua futura capital brasileira, observa-se que as soluções propostas no projeto, como os

espaços de serviços comuns, foram pensadas e definidas devido à sua condição de mulher na

sociedade. Essa nova concepção de organização do espaço em prol do bem-estar, otimização do

tempo nas tarefas domésticas e outras atividades que dão autonomia e independência para a mulher

configuram-se como um projetar diferenciado, um urbanismo feminino.

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